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PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

TEORIA GERAL
Procedimento – Definição e Classificação

 Forma de realização de um conjunto de atos processuais, a partir


de uma combinação lógica e interdependente, que definem o
procedimento.

 Classificação: Procedimento Comum (Ordinário e Sumário –


art.272, CPC). Procedimento Especial (De jurisdição voluntária e
de jurisdição contenciosa – Art.272, § único, CPC).

 A adequação do procedimento ao tipo de conflito, tomando por


base as especificidades do direito substancial reclamado
(adequação rito/pretensão). A preocupação do legislador em
reger situações especiais a partir de soluções processuais
também especiais, como forma de garantir uma solução
adequada aos conflitos incomuns, nem sempre tomando por
inspiração a questão do tempo na prestação jurisdicional.
Ser Especial – Por que e Para que


“Contudo, haverá sempre algum detalhe da mecânica do
direito material que, eventualmente, reclamará forma
especial de exercício do processo. O processo como
disciplina formal não pode ignorar essas exigências de
origem substancial, porque é da própria natureza das coisas
que a forma se ajuste e se harmonize à
substância.”(Theodoro Júnior)

 “É sabido que a especialidade resulta ou de uma


peculiaridade ligada à relação jurídica material subjacente à
processual, ou da necessidade de uma providência
jurisdicional mais rápida ou, até, de circunstâncias
meramente históricas.” (Antonio Carlos Marcato)
Ser Especial – Por que e Para que

 “...a especialidade não resulta do encurtamento do seu rito,


mas das próprias características do litígio submetido à
apreciação jurisdicional e das exigências das pretensões
nele contidas, pois o conflito de interesses a ser dirimido
apresenta particularidades que escapam ao alcance de um
tratamento processual comum. E os procedimentos especiais
ajustam-se às peculiaridades das exigências das relações
jurídicas neles deduzidas,tornando mais aparente a relação
existente entre o direito e o processo.” (Marcato)

 “Cada processo especial serve, nos termos da lei, para se


apresentar em juízo determinado pedido, tendente ao
exercício de certo direito; o quesito a pôr, quando se trata
de averiguar se o emprego foi correto, é este: o pedido
formulado pelo autor correspondente ao pedido para que o
processo foi instituído?”(Alberto dos Reis)
Finalidades do Procedimento Especial

 Simplificação e agilização dos trâmites


processuais, por meio de expedientes
específicos, com prazos adequados,
eliminando atos desnecessários.
 Delimitação do tema que se pode deduzir na
inicial e na contestação, e, por conseguinte,
na própria sentença.
 Explicitações dos requisitos materiais e
processuais para que o procedimento
especial seja eficazmente utilizado.
Requisitos Para Aplicação Eficaz do
Procedimento Especial
 Requisitos materiais: a pretensão tem de situar-se no plano de
direito material a que corresponde o rito, devendo a
inexistência ou a não comprovação do suporte substancial
conduzir à improcedência do pedido.

 Requisitos processuais: os dados formais do procedimento


especial costumam ser ligados a requisitos que condicionam a
forma e o desenvolvimento válido do processo até o
julgamento do mérito. A falta desses requisitos conduz à
ineficácia da relação processual e à sua extinção prematura.
(Ex. ação de consignação em que o autor não promove o
depósito determinado pelo juiz).
Aspectos Preponderantes
 A eventual incidência da dicotomia entre o processo de cognição e o
processo de execução no âmbito dos procedimentos especiais (Ex. de
ações que não comportam essa dicotomia: ações possessórias, de
depósito, dos embargos de terceiros, de nunciação de obra nova, etc).

 A baixa incidência de disposições codificadas incidentes sobre as ações de


procedimento especial atrai a subsidiariedade das disposições previstas
para o procedimento comum ordinário, visto como procedimento geral. A
autorização se encontra no art.272, do CPC e exige as seguintes
circunstâncias: (I) existência de omissão legislativa no compartimento dos
procedimentos especiais; (II) desde que a aplicação suplementar não
afronte a essência das normas do procedimento especial.

 As quatro fases tradicionais do processo comum ordinário (petitória,


ordinatória, instrutória e decisória) e a adaptabilidade nem sempre viável
destas fases no procedimento especial. Notar a possibilidade de fundir-se
no âmbito do procedimento especial medidas de caráter cognitivo, com
outras de natureza executiva e cautelar, muitas vezes com atenuação ou
até inversão do próprio contraditório (ex.:possessórias e monitória).
Especificidades Gerais dos Procedimentos Especiais

 Alteração dos prazos de resposta: os prazos podem ser inferior


(depósito e prestação de contas) ou superiores (divisão e
demarcação de terras particulares) aos quinze dias previstos no rito
comum ordinário.

 Os prazos para contestar definidos nos procedimentos especiais


devem ser levados em consideração para efeito de oferta das demais
modalidades de resposta, guardada, evidentemente, a devida
adaptabilidade e observadas as regras dos arts.188 e 191
(reconvenção, intervenções de terceiros e exceções).

 Regras sobre a legitimação e iniciativa das partes: em determinados


procedimentos a legitimidade (sobretudo passiva) se estende a quem
não figura na relação jurídica material, obrigando a citação, v.g., de
outras pessoas que não apenas o réu. Ou ainda, a lei confere ao juiz
o poder de determinar a instauração do processo ou do procedimento
ex officio (Inventário).
Especificidades Gerais dos Procedimentos Especiais
 Natureza dúplice da ação: consiste na possibilidade de vir o réu a
obter tutela jurisdicional, sem necessidade de valer-se da
reconvenção. Assim, autor e réu assumem ambas posições na base
da relação jurídica processual, podendo este último obter,
independente de pedido expresso – mas sem prejuízo dele – o bem
da vida disputado, como resultado direto da rejeição do pedido do
primeiro (prestação de contas, divisão e demarcação, possessórias).
 Competência: previsão de regras específicas para fixação de
competência territorial em ações que desafiarão o procedimentos
especiais (arts. 891 e 1.142).
 Regras especiais para citação: alguns procedimentos especiais
orientam especificamente pela adoção da citação editalícia (citação
dos réus nas ações divisórias e demarcatórias – art.953, CPC; citação
dos interessados que residem fora da comarca onde tramita o
inventário – art.999, § 1º, parte final, CPC). Ainda quanto a citação, a
sua finalidade em alguns procedimentos especiais pode não ser
apenas dar conhecimento ao réu da existência da ação,
oportunizando o contraditório, pode visar, por exemplo, instar o réu a
levantar o depósito extrajudicial realizado pelo consignante (art.893,
II – consignação em pagamento).
Especificidades dos Procedimentos Especiais

 Flexibilização do princípio da inalterabilidade do pedido: nas ações


possessórias incide a fungibilidade do pedido, podendo o julgador proferir
sentença que condene o réu em objeto diverso do que foi postulado.

 Possibilidade de fusão de providências de natureza cognitiva, cautelar e


executiva. Exemplos:

- Ações possessórias em que há possibilidade de concessão de liminares, que,


se confirmadas pela sentença definitiva, dispensam execução autônoma.
- Nunciação de obra nova: possibilidade de notificação extrajudicial verbal ou
escrita ao construtor, para que pare a obra, confirmando-se dita medida em
juízo para conferir-lhe caráter cautelar, impedindo o andamento da obra e,
uma vez acolhido o pedido nunciatório, tornará definitiva a proteção
anteriormente conferida.
- Venda a crédito com reserva de domínio: em caso de mora, pode-se requerer
liminarmente a reintegração da posse do bem (acautelatória) e, não adotando
o devedor as providências que a lei lhe oferece, satisfaz-se a pretensão pela
confirmação definitiva da posse (executiva satisfativa).
Especificidades dos Procedimentos Especiais

 Possibilidade de concessão de medidas liminares, sem


ouvida da parte contrária (caráter antecipatório e
acautelatório): ações possessórias e ação de nunciação de
obra nova.

 Limitações ou condicionamentos ao exercício do direito de


defesa: ação de consignação em pagamento (art.896) e
ação de anulação e substituição de título ao portador
(art.910).

 Liberdade legal para decidir por equidade, sem observar o


critério da legalidade estrita (art. 1.109, CPC).
Técnicas Legislativas de Construção dos
Procedimentos Especiais
 Alteração de prazos e a seqüência de atos e
suprime atos ou termos (CPC, 938/939)
 Inserção de providências cautelares ou executivas
(possessórias e busca e apreensão decorrente de
alienação fiduciária)
 Alteração da força e dos efeitos das sentenças
(despejo, possessórias)
 Fusão de conhecimento e execução (própria e
imprópria), podendo colocar o primeiro como
eventual (ação de prestação de contas, ação de
consignação em pagamento)
Técnicas Legislativas de Construção dos
Procedimentos Especiais
 Fixação de regras recursais próprias (despejo por falta de
pagamento e Lei 6.830/80)
 Atribuição de natureza dúplice à ação, ou tratamento
excepcional ao princípio da iniciativa da parte (possessórias,
inventário, prestação de contas)
 Alteração da regra geral sobre legitimação ativa ou passiva e
intervenção de terceiros interessados
 Antecipação da ocorrência do interesse processual para o
momento da ameaça de lesão (nunciação de obra nova)
 Condicionamento do exercício da ação a pré-requisitos
especiais, processuais e extraprocessuais(notificação prévia e
justificação prévia)
Técnicas Legislativas de Construção dos
Procedimentos Especiais
 Estabelecimento de regras especiais de
competência
 Autorização do julgamento por equidade,
excepcionando o princípio da atuação por
legalidade estrita
 Atribuição de poderes aos juizes para atuar,
independentemente de outra ação,
diretamente no plano do direito material,
eliminando ações futuras (instituição de
servidão pelo juiz da ação divisória).
Classificação dos Procedimentos Especiais

 Procedimentos diferenciados do ordinário apenas pelo acréscimo de um ato inicial


(normalmente um juízo liminar, como ocorre com as ações possessórias de força
nova, as quais, após a deliberação acerca da medida inicial, deságuam no tratamento
conferido ao procedimento ordinário).

 Procedimentos inicialmente especiais, conversíveis ao ordinário. São marcados por


uma fase inicial de rito específico, seguida de uma tramitação ordinária, normalmente
após a fase postulatória, ou após o encerramento do prazo de contestação (ação de
depósito, demarcação e divisão).

 Procedimentos inicialmente especiais ao das ações cautelares. Seguem o mesmo


caminho da conversibilidade da categoria anterior, no entanto caindo no curso
reservado às ações cautelares (nunciação de obra nova, embargos de terceiro,
restauração de autos, habilitação incidente).

 Procedimentos irredutivelmente especiais. Começam e terminam fieis ao


procedimento especial (ação de prestação de contas, o inventário, o arolamento).
Procedimentos Especiais Regulados Fora do CPC.

 Ação Civil Pública – Lei n. 7.347/85


 Ação de Alimentos – Lei n. 5.478/68
 Ação Popular – Lei n. 4.717/65
 Ações de Defesa dos Direitos do Consumidor – Lei n. 8.078/90
 Ação de Busca e Apreensão de bens em Alienação Fiduciária – Dec. Lei n. 911/69
 Ação de cobrança de cédula de crédito rural – Dec. Lei n. 167/67
 Acidentes de Trabalho – Leis n. 6.367/76 e n. 8.213/91
 Da discriminação de terras públicas – Lei 6.383/76
 Dissolução de sociedade conjugal e do casamento – Lei n. 6.515/77
 Usucapião especial – Lei 6.969/81
 Mandado de Segurança – Lei 1.533/51
 Registros Públicos – Lei n. 6.015/73
 Ações Inquilinárias – Lei n. 8.245/91
 Juizados Especiais – Lei n. 9.099/95
 Investigação de paternidade – Lei n. 8.560/92

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