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A Sociologia e método sociológico de Durkheim

Durkheim não desenvolveu métodos pedagógicos, mas suas ideias


ajudaram a compreender o significado social do trabalho do
professor, tirando a educação escolar da perspectiva individualista.

"Segundo Durkheim, o papel da ação educativa é formar um cidadão


que tomará parte do espaço público, não somente o
desenvolvimento individual do aluno",
Nas palavras de Durkheim

"a educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança


estados físicos e morais que são requeridos pela sociedade política
no seu conjunto".

Tais exigências, com forte influência no processo de ensino, estão


relacionadas à religião, às normas e sanções, à ação política, ao
grau de desenvolvimento das ciências e até mesmo ao estado de
progresso da indústria local.
Durkheim acreditava que a sociedade seria mais beneficiada pelo
processo educativo.

Para ele, "a educação é uma socialização da jovem geração pela


geração adulta".

E quanto mais eficiente for o processo, melhor será o desenvolvimento


da comunidade em que a escola esteja inserida.
"A construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a
assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios -
sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento - que baliza a
conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador
da sociedade, é um produto dela"
Émile Durkheim (1858-1917), partindo do positivismo comteano,
produz uma reflexão decisiva para a constituição e a
institucionalização da Sociologia como ciência da sociedade.

É o responsável direto pela criação da disciplina de Sociologia na


Universidade de Sorbonne, em 1910.

Além da elaboração de uma teoria sobre a sociedade industrial,


Durkheim produz uma importante contribuição sobre o método
sociológico, isto é, sobre o objeto da Sociologia e as regras
necessárias para conduzir o processo de investigação dos fatos
sociais.
O objeto da Sociologia é constituído pelos fatos sociais.

Estes são as manifestações humanas, regulares ou não, que existem


de forma autónoma e independente das manifestações individuais
e exercem uma coerção exterior sobre os indivíduos.

Durkheim leva ao limite o conceito de fato social, como núcleo


definidor da sociabilidade humana, quando afirma que “um fato
social não pode ser explicado senão por um outro fato social”.
Como os fatos sociais são realidades objetivas, prega a primeira
regra do método sociológico que se deve tratá-los como coisas, no
sentido que são realidades desconhecidas, que não podem ser
naturalmente penetráveis pela inteligência humana, mas apenas
pela observação e experimentação,

“passando progressivamente dos caracteres mais externos e mais


imediatamente acessíveis aos menos visíveis e aos mais
profundos”.

Para dar conta desse processo exige-se que o sociólogo se coloque


em relação aos fatos sociais com o mesmo estado de espírito com
que se colocam os físicos, químicos ou biólogos diante dos seus
objetos de investigação.
Durkheim parte da ideia de que o indivíduo é produto da sociedade.
Como cita Aron, “[...] o indivíduo nasce da sociedade, e não a
sociedade nasce do indivíduo” (2003, p. 464).
Logo, a sociedade tem precedente lógico sobre o indivíduo.

Durkheim definiu como objetivo da sociologia o fato social, e entende


como fato social, “[...] todos os fenómenos que se dão no interior da
sociedade, por menos que apresentem, com certa generalidade,
algum interesse social”
As sociedades – ou as espécies sociais – podem ser identificadas
por duas formas distintas de relações sociais, denominadas de
solidariedade mecânica e solidariedade orgânica.

Essas duas formas de solidariedade estão vinculadas entre si, de


modo que o crescimento de uma implica o decréscimo da outra.
Diz Durkheim que
“existem em nós duas consciências: uma contém os estados que
são pessoais a cada um de nós e que nos caracterizam, enquanto
os estados que abrangem a outra são comuns a toda a sociedade”
A solidariedade mecânica representa o tipo coletivo, que se
caracteriza pelo “conjunto de crenças e de sentimentos comuns
dos membros de uma mesma sociedade”
A consciência coletiva ou comum expressa uma solidariedade sui
generis que, originada das semelhanças, liga o indivíduo
diretamente à sociedade, de modo que objetos semelhantes
produzem sempre efeitos semelhantes.
A rigor, na solidariedade mecânica não existem indivíduos
relativamente independentes da sociedade; eles são a própria
sociedade.
A solidariedade orgânica expressa relações sociais inteiramente
diversas. A presença de indivíduos com esferas particulares de
ação, portanto diferentes, origina outra forma de solidariedade, que
pode ser caracterizada como um “sistema de funções diferentes
e especiais que unem relações definidas”.

Para que essa solidariedade possa desenvolver-se é necessário que a


consciência individual não esteja totalmente submetida à
consciência comum, possibilitando, assim, o desenvolvimento da
divisão do trabalho, o verdadeiro substrato social da solidariedade
orgânica.
Nesse caso produz-se uma relação de dependência
recíproca entre as diversas funções que compõem o todo social.
Durkheim (1858-1917) passa a explicar o indivíduo pelo social, ou pela
sociedade, através da relação causa-efeito, tal como fazem as
ciências da natureza: a partir de uma relação de externalidade.

Durkheim acredita que, com isso, possa obter um conhecimento mais


objetivo e neutro da realidade social, pois, da mesma forma que
nas ciências naturais o objeto independe do sujeito cognoscente,
da mesma forma os fatos sociais independem da sujetivadade do
sujeito que conhece.
Esse modelo ficou conhecido como positivismo.
Comunidade e sociedade, de Tonnies a Mauss

Em comunidade e sociedade (1887), Fernand Tonnies descreve dois


tipos diferentes de agregados humanos.

A premoderna (comunidade) dá progressivamente lugar à mais


avançada (sociedade) devido à maior importância assumida pelos
intercâmbios económicos na vida social.

Isto significa que as relações contratuais, algo que vai de par com a
retirada da religião como referente moral e a emergência da ciência
como principal factor de influência nas condutas individuais.
Tonnies introduz aqui a famosa distinção entre comunidade e
sociedade
“as associações de pensamento que tomam a vontade natural
corresponde á comunidade e aquelas que sugerem a vontade
instrumental correspondem à sociedade”

Uma comunidade é portanto, um conjunto de relações sociais que


existem laços inspirados pelo parentesco, genero ou necessidade. As
pessoas relacionam se em comunidade por um tipo de convivência
intima, privada, intensa e em que apesar de possivel dispersão, existe
uma grande homogeneidade das vontades humanas naturais.
Tonnies concebe pois, a comunidade como um agregado vinculado
por sentimentos reciprocos de que deriva o consenso social e a
coesão.
A existência de consenso social não significa , porém, que não existam
desigualdades.
Frequentemente entende se a noção de comunidade como um todo
homogeneo.
Não é este o pensamento de Tonnies “através do aumento ou
diminuição de direitos e obrigações, existem desigualdades na
comunidade”.
O facto de Tonnies indicar que a vida comunitária se desenvolve em
permanente relação com a terra e o lugar sugere que o autor pensa a
comunidade como comunidade rural, de vida simples, em que as
relações de vizinhança, parentesco e a unidade espiritual são
principios norteadores.
Pelo contrario, a sociedade caracteriza se pela independencia dos
seus membros, pelo seu distanciamento, embora existam relações de
interdependência.

Os individuos em sociedade estão afastados entre si e verifica se um


estado de tensão permanente.

“a sociedade, fruto de convenção, tem de ser entendida como um


conjunto de individuos com vontades próprias e especificas”
“A diferença da comunidade e a sociedade é transitória, superficial
onde não existe propriedade comum nem usufruto de bens comuns”.
Comunidade: é íntima, privada e informal.
Sociedade: é pública e formal.
O termo comunidade, embora já empregue por Aristóteles como
expressão duma totalidade de indivíduos ligados por laços sociais, só
no século XIX, devido aos processos de desagregação das
comunidades tradicionais, se elabora numa conceptualização mais
alargada e aprofundada de comunidade, ainda que polissémica e
suscetível de interpretações diferentes e até contrastantes.
Como já vimos, um dos primeiros mentores do conceito de comunidade foi
Tonnies, que estabelece pela primeira vez a distinção entre comunidade
(Gemeinschaft) e sociedade (Gesellschaft), sendo uma definida em
contraponto da outra.

A comunidade - assente ora no território comum (casa, aldeia, região,


nação), ora na partilha da mesma língua, crença, etnia, corporação
eclesiástica ou profissional - representa uma entidade social de
identidade e interconhecimento, onde os atores sociais são vistos no
seu todo, onde se fundem as vontades e se entrelaçam as relações
sociais primárias face a face, relações estas perpassadas de laços
personalizados de intimidade e emoção, bem como de regras adstritas
de coerção e controlo sociais.
Já, porém, a sociedade, composta por associações de diversa índole,
constitui um agregado social de base racional e voluntária, cuja
adesão pressuporia um ato voluntário e livre dos indivíduos e cujas
relações se definiriam como fragmentárias e segmentárias, impessoais
e secundárias.
A objetividade do conhecimento nas ciências
sociais em Weber

O método compreensivo, defendido por Weber, consiste em entender


o sentido que as ações de um indivíduo contêm e não apenas o
aspecto exterior dessas mesmas ações.

Se, por exemplo, uma pessoa dá a outra um pedaço de papel, esse


fato, em si mesmo, é irrelevante para o cientista social.

Somente quando se sabe que a primeira pessoa deu o papel para a


outra como forma de saldar uma dívida (o pedaço de papel é um
cheque) é que se está diante de um fato propriamente humano, ou
seja, de uma ação carregada de sentido.
É importante diferenciar ação social de relação social. No primeiro
caso, a ação é orientada pela conduta do outro. Na segunda a ação é
orientada pelo sentido compartilhado reciprocamente por um grupo de
agentes.
Tipos de ação social:
Ação racional com relação a um objetivo (tem um fim previamente
determinado). Ex: a ação política.
Ação racional com relação a valor (relacionado à moral). Ex: condutas
ligadas às manifestações religiosas.
Ação afetiva ( ditado pelo estado de consciência ou humor do sujeito).
Ex: o ciúme entre os casais.
Ação tradicional (ditado por valores culturais absorvidos pelo sujeito
como naturais, obedecendo a reflexos).
A sociologia weberiana concebe a sociedade como um eterno fluir, um
conjunto inesgotável de acontecimentos que aparecem e
desaparecem, estando sempre em movimento devido a um elemento
básico:
a ação social que implica uma concepção do homem como indivíduo
ativo a partir de um processo de conexão valorativa do homem
visando o real.
Max Weber é o fundador de um modo de pensar a vida social diverso
do positivismo e do marxismo.
A construção do seu método de investigação ocorre num contexto
intelectual marcado pelo debate sobre o estatuto das ciências
humanas ou das ciências do espírito.

Reconhecendo a autonomia das Ciências Humanas em relação às


ciências da natureza, Weber incorpora, deste debate, um conceito
básico para a investigação as ações humanas:
o conceito de compreensão.
O problema da compreensão é inteiramente diferente da explicação
naturalística que procura captar as leis naturais objetivas.

O objetivo da compreensão é captar o sentido subjetivo presente


nas ações humanas.

A Sociologia compreensiva está centrada no indivíduo. Ele é o


fundamento da ação social e das interações sociais.
Conceitos weberianos:

● AÇÃO SOCIAL
● SOCIOLOGIA = CIÊNCIA COMPREENSIVA
● AGIR EM COMUNIDADE
● AGIR EM SOCIEDADE
● ORDEM SOCIAL
● RACIONALIZAÇÃO
● BUROCRACIA
1. Ação social racional com relação a fins

Ação instrumental voltada para um fim utilitário e que implica a


adequação entre fins e meios.
A empresa capitalista que gere seus bens tendo em vista o máximo
lucro, o estrategista militar que organiza o seu exército e seu plano de
batalha, o cientista que faz experiências e procura provas etc.,
funcionam segundo esta lógica.
Ir à escola para se formar e ganhar dinheiro.
2. Ação social racional com relação ao regular / tradicional
Está subordinada ao costume, ao hábito: a maioria das atividades
familiares no dia-a- dia está incluída neste grupo.
Ir à escola porque todos a freqüentam.

3. Ação social afetiva (irracional)


Guiada pelas paixões.
Ir à escola pelos amigos, professores ...
4. Ação social racional com relação a valores

Não é promovida pela tradição ou pelas pulsões, mas por valores de


ordem ética, estética ou religiosa.
O aristocrata que se bate em duelo pela honra, o cavaleiro que parte
para as cruzadas ou o capitão que afunda seu navio agem
racionalmente inspirados por um valor, mesmo que assim tenham de
perder a vida.
Ir à escola porque sua família valoriza a educação (valores
familiares).
● SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA COMPREENSIVA
Refere-se à análise dos comportamentos movidos pela racionalidade dos
sujeitos com relação aos outros.

● AGIR EM COMUNIDADE
Agir que se baseia nas expectativas que temos com relação ao
comportamento dos outros. Comportar-se com base na expectativa de que os
outros também se comportem de um determinado modo (“bom dia”).

● AGIR EM SOCIEDADE
É um agir em comunidade no qual as expectativas se baseiam nos
regulamentos (LEIS) sociais vigentes.
● ORDEM SOCIAL
Quando o universo social está organizado e inteligível pelos atores
sociais, tendo nas regras uma espécie de “condensação de
expectativas recíprocas”.

● RACIONALIZAÇÃO
Uma crescente transformação das associações em instituições
organizadas de maneira racional com relação a fins.
● BUROCRACIA - Estado Moderno
Quadro administrativo hierarquizado e profissional.

Instrumento para se exercer a dominação. Organiza a dominação


racional-legal por meio da superioridade técnica que garante precisão,
velocidade, clareza, unidade, especialização de funções, redução do
atrito, dos custos de material e pessoal, etc.
A organização burocrática é hierárquica, e o recrutamento e a
ascensão se dão com base em concursos e em critérios objetivos.

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