Você está na página 1de 14

A Performance Drag, as

linhas de fuga e
heterotopias de resistência

Projeto de Doutorado de Bruno de Mattos Almeida


Porto Alegre, 04 de Setembro de 2018
UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Tema e Problema de Pesquisa
• Tema: Os processos de criação de linhas de fuga que levam a
composição de um personagem drag queen ou drag king e os
espaços onde esse processo ocorre e se manifesta
publicamente, os bares específicos onde ocorrem as
performances artísticas.

• Problema de Pesquisa: Analisar de que forma o processo


individual de traçar para si uma linha de fuga na performance
drag engendra um movimento de resistência que se constitui
na materialidade pela criação de espaços de heterotopia.
Justificativa
• A performance drag e o transformismo
através das eras: teatro grego antigo,
Europa (século XVI) e
contemporaneidade.

• Baixa produção acadêmica no Brasil e


internacionalmente sobre o tema.

• O drag como exemplo de resistência: as


conexões entre a heteronormatividade e a
Violet Chachki, participante da sétima
produção do corpo útil e participativo na temporada do programa RuPaul’s Drag Race
contemporaneidade.
Objetivos
• Objetivo Geral: Construir uma genealogia das relações estabelecidas pela convivência
de drag queens e drag kings na criação de espaços de heterotopia de resistência, a
partir de seus movimentos convergentes de linha de fuga em um espaço coletivo.

• Objetivos Específicos:
1. Observar um espaço de convivência de sujeitos “desviantes” e analisar a construção
de uma heterotopia de resistência no contexto do capitalismo contemporâneo
(Workroom bar em Porto Alegre).
2. Contextualizar as peculiaridades específicas da performance drag no contexto
brasileiro, em comparação com o cenário nos Estados Unidos.
3. Analisar de que forma a experiência da performance drag permite uma apreensão
mais complexa do gênero na materialidade.
Fundamentação Teórica
• Cuidado de si e relação ética com a vida: criação de uma estética de
existência como resposta ética.

• Subjetividade: duplo movimento entre processo individual e relação com o


outro x conjunto de normas sociais como ponto de referência e grade de
inteligibilidade.

• Violência Ética em Judith Butler.

• Heteronormatividade e produção das inscrições de gênero sobre os corpos.


Fundamentação Teórica
• A performance drag: “brincadeiras ontológicas” queer em face a
heteronormatividade em Paul B. Preciado.

• Lineamentos imanentes em Gilles Deleuze e Félix Guattari: as linhas de


fuga como vida no “entre”, produção da diferença no indivíduo e no campo
social investido pelo desejo.

• Simulacros, reversão platônica e o “falso como potência”: o drag não


como cópia, mas como produção de uma resistência à
heteronormatividade.
Fundamentação Teórica
• Caráter inerentemente social do processo: linhas de fuga,
produção da diferença e retorno à coletividade.

• Heterotopia e “contraespaços” em Foucault.

• Formação de relações de parentesco (kinship) queer: casas e


famílias drag, bastidores de bares e casas de show, internet.
Revisão Bibliográfica
• Foucault: cuidado de si, ética e confissão.

• Butler: confissão, exomologesis, poiesis e assujettissement.

• Construção social de padrões morais de reconhecibilidade que


afetam a aparição de si para o outro.

• Violência ética na experiência queer x estética da existência.


Revisão Bibliográfica
• O Drag como conhecemos hoje: de Stonewall
e Paris is Burning, passando pelos
transformistas e “palhaços de festa”, até
RuPaul, a televisão e o instagram no Brasil e
nos Estados Unidos.

• A performance drag: exemplo da contingência


dos padrões discursivos tradicionais de
gênero (Judith Butler) ou construção de um
corpo em processos de resistência à
heteronormatividade?

• O ato de se montar e a construção da


personagem drag: corpo e mente na criação
da diferença.
Pepper LaBeija, em cena do documentário Paris is
Burning (1990)
Revisão Bibliográfica
• O ato de se apresentar como drag
queen ou drag king: a autoverbalização
de si por meio da performance artística
(roupas e perucas, maquiagem,
dublagens, comédia, dança e canto)

• Os camarins e os bastidores como


espaço privilegiado da coletividade
drag: encontro das linhas de fuga e
produção do parentesco queer de
resistência.

• A coletividade drag: uma heterotopia de


resistência? House of Xtravaganza, 2017
Pressupostos Teóricos
• A performance drag não explicita apenas um desejo individual
de performar com a aparência de outra identidade de gênero,
mas sim anima um campo de intensidades que engendra uma
resistência efetiva à heteronormatividade e à rigidez das
relações binárias homem / mulher e heterossexual /
homossexual.

• A criação de um personagem drag se opera a partir do


movimento de traçar uma linha de fuga que se manifesta como
um simulacro na materialidade.
Procedimentos Metodológicos
• Genealogia de Foucault: examinar as formas de exercício do poder a partir das
técnicas e táticas de formulação dos saberes para fazer emergir os discursos
ocultados no processo; construção de um “saber histórico das lutas”

• Entrevistas de histórias de vida: maior liberdade possível para os entrevistados


no protagonismo de suas próprias histórias. Técnica bola de neve para
estabelecimento dos entrevistados (Amostragem: por volta de 12 a 14
entrevistados na cidade de Porto Alegre)

• Visitas etnográficas aos locais de apresentação de drags: Workroom bar e


possivelmente Vitraux Clube, em Porto Alegre. Observação participativa como
público e manutenção de um diário de observações de pesquisa.
Cronograma
Etapa / Trimestre 2018-3 2018-4 2019-1 2019-2 2019-3 2019-4 2020-1 2020-2 2020-3 2020-4
Pesquisa Bibliográfica, x x x x x x
leituras e fichamentos
Definição final da x x
amostragem e primeiras
entrevistas
Escrita do primeiro x x
capítulo teórico e
continuação das
entrevistas
Finalização do capítulo x x
teórico e do trabalho de
campo, trabalho sobre o
diário de pesquisa e as
entrevistas realizadas

Escrita do texto x x x x
completo
Considerações finais e x
revisão geral
Defesa x
Referências Bibliográficas
BUTLER, J. Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
__________. Relatar a si Mesmo: Crítica da Violência Ética. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.
CHIDIAC, M.; OLTRAMARI, L. “Ser e estar drag queen: um estudo sobre a configuração da identidade queer.” Estudos de Psicologia, 2004. Vol. 9 (3): 471-
478.
DELEUZE, G. Conversações. 2 ed. São Paulo: Ed. 34, 2010.
DELEUZE, G. Lógica do Sentido. São Paulo: Perspectiva, 2011.
DELEUZE, G; GUATTARI, F. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia 2. 2 ed. São Paulo: Editora 34, 2012.
FOUCAULT, M. A Hermenêutica do Sujeito. 3 ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.
_____________. A História da Sexualidade I: A Vontade de Saber. 3 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2015.
_____________. A História da Sexualidade III: O Cuidado de Si. 1 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014.
_____________. “Des Espaces Autres”. Architecture, Mouvement, Continuité, Outubro 1984. n. 5. Pp 46-49.
_____________. The History of Sexuality II: The Use of Pleasure. New York: Vintage Books, 1990.
LAURIE, T.; STARK, H. “Reconsidering Kinship: Beyond the Nuclear Family with Deleuze and Guattari”. Cultural Studies Review, 2012. Vol. 18. n. 1: 19-39.
MASSUMI, B. “Realer than Real: The simulacrum according to Deleuze and Guattari.” Copyright, 1987. Vol. 1: 90-97.
PARIS is Burning. Direção: Jennie Livingston. Miramax Films, 1991. 1 DVD (78 min).
PRECIADO, Paul B. Manifesto Contrassexual: Práticas Subversivas de Identidade Sexual. São Paulo: n-1 edições, 2017.

Você também pode gostar