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Psicologia da Personalidade

Frederick S. Perls
e a Gestalt-Terapia

Orientação: Profª. Ms. Marjane Bernardy Souza


Alunos: Ezequiel da Rosa, Jessica Machado,
Juliana Roza Ribeiro
Frederick Perls, New York City, 1955
Psicologia da Gestalt

GESTALT, o sentido geral é de uma disposição ou


configuração – uma organização específica de partes que
constitui um todo particular.

O princípio mais importante é o de propor que uma análise


das partes nunca pode proporcionar uma compreensão do
todo, uma vez que o todo é definido pelas interações e
interdependências das partes.

As partes de uma gestalt não mantém sua identidade


quando estão separadas de sua função e lugar no todo.
“Uma gestalt é um fenômeno irredutível. É uma essência
que aí está e que desaparece se o todo é fragmentado em
seus componentes (Perls, 1969b, p.63)

1969
EXISTENCIALISMO E FENOMENOLOGIA

• Perls descreveu a Gestalt-terapia como uma terapia existencial.

• Insistiu que o mundo vivencial de um indivíduo só pode ser compreendido por


meio da descrição direta que o próprio indivíduo faz de sua situação única.

• Sustentou que o encontro do terapeuta com um paciente constitui um encontro


existencial entre duas pessoas

• Acreditava que as pessoas criam e constituem seus próprios mundos; o mundo


existe para um dado indivíduo como sua própria descoberta do mundo.

• A mente ou consciência é entendida como INTENÇÃO e não pode ser


compreendida à parte do que é pensado ou pretendido. Todo ato psíquico é
intenção, e toda intenção deve ser compreendida em seus próprios termos e
não em termos de um ato psíquico “básico”

• A experiência do nada e o medo da morte são dois temas importantes em sua


teoria sobre funcionamento psicológico.

• Todas as ações implicam escolhas, todos os critérios de escolha são eles


próprios selecionados e explanações causais não são suficientes para justificar
as escolhas ou ações de alguém.
“Meu rompimento com os freudianos
aconteceu alguns anos mais tarde
(após meu encontro com Freud),
mas o fantasma nunca foi
completamente tranqüilizado...

Tentei tornar a psicanálise


meu lar espiritual,
minha religião...
Sobreveio então a revelação...

Eu mesmo tinha
que me responsabilizar
pela minha existência
(Perls, 1969b, pp. 59-60,
parênteses acrescentados)
PERLS X FREUD
1. Visão holística do funcionamento do 1. Falta de visão holística
organismo 2. Ênfase no material profundamente
2. Ênfase particular no material óbvio reprimido
3. Importância do exame da situação 3. Investigação das causas passadas
da pessoa no presente 4. Compreensão do PORQUÊ de um
4. Consciência do COMO a pessoa se determinado comportamento
comporta a cada momento 5. Instinto básico
5. Múltiplos instintos 6. Importância da resistência (ênfase no
6. Ênfase na fuga da conscientização de conteúdo específico da fuga – O QUE
qualquer tipo, acentuando-se a estou evitando na consciência
FORMA da fuga – COMO estou 7. Relação transferencial (do paciente
evitando a consciência para o terapeuta) como sendo central
7. Não considera o trabalho através da no processo terapêutico
transferência de importância 8. Tarefa terapêutica: liberação de
fundamental repressões
8. Tarefa terapêutica: assimilação do
próprio processo de existir
As divergências entre Perls e Freud estavam
relacionadas principalmente com os métodos de
tratamento psicoterápico de Freud, mais do que
com suas exposições teóricas sobre a
importância das motivações inconscientes, a
dinâmica da personalidade, padrões de
relacionamentos humanos e assim por diante.

“Não as descobertas de Freud, mas sua filosofia


e técnica, tornam-se obscuras”
Fenômeno Figura-Fundo

A escola gestáltica estendeu o fenômeno


representado por essa imagem para descrever a
maneira pela qual um organismo seleciona o que é
de seu interesse num dado momento.

Para um homem sedento, um copo de água


colocado entre seus pratos favoritos emerge como
figura contra o fundo constituído pela comida; sua
percepção adapta-se, capacitando-o, assim, a
satisfazer suas necessidades.

Uma vez satisfeita a sede, sua percepção do que é


figura e do que é fundo provavelmente se
modificará de acordo com uma mudança nos
interesses e necessidades dominantes.
CONCEITOS PRINCIPAIS

O ORGANISMO COMO UM TODO:

1. Essa noção é central na teoria de Perls.

2. Definia atividade mental simplesmente como atividade da pessoa toda que se


desenvolve num nível mais baixo de energia que a atividade física. Assim, na
terapia, o que o paciente FAZ – como ele se movimenta, fala, etc – fornece
tanta informação a seu respeito quanto o que ele ou ela pensa e diz.

3. O organismo age e reage a seu meio com maior ou menor intensidade; à


medida que diminui a intensidade, o comportamento físico se transforma em
comportamento mental. Quando a intensidade aumenta, o comportamento
mental torna-se comportamento físico. (Perls, 1973, p. 28 na ed. bras.)
LIMITES DO INDIVÍDUO E SEU MEIO:

Perls acentuou a importância do fato de considerar o indivíduo como parte


perene de um campo mais amplo que inclui o organismo e seu meio.

Os efeitos causais de um são inseparáveis dos efeitos causais do outro.


Há, no entanto, um limite de contato entre o indivíduo e seu meio; é esse
limite que define a relação entre eles.

INDIVÍDUO SAUDÁVEL INDIVÍDUO NEURÓTICO

• Limite é fluido sempre permitindo • As funções de contato e


contato e depois afastamento do afastamento são perturbadas
meio. • Ele se encontra frente a um
• Contatar constitui a formação de aglomerado de gestalten que estão
uma gestalt; afastar-se representa de alguma forma inacabadas.
seu fechamento.
•As pistas para este ritmo de contato e afastamento são
ditadas por uma HIERARQUIA DE NECESSIDADES.

•As necessidades dominantes emergem como primeiro


plano ou figura contra o fundo da personalidade total.

•A ação efetiva é dirigida para a satisfação de uma


necessidade dominante.

•Os neuróticos são freqüentemente incapazes ou de


perceber quais de suas necessidades são dominantes ou de
definir sua relação com o meio de forma a satisfazer tais
necessidades.

•Assim, a neurose acarreta processos disfuncionais de


contato e afastamento que causam uma distorção na
existência do indivíduo enquanto organismo unificado.
ÊNFASE NO AQUI E AGORA

•A Gestalt-terapia não investiga o passado com a finalidade de procurar


traumas ou situações inacabadas.

•Convida o paciente simplesmente a se concentrar para tornar-se consciente de


sua experiência presente.

•Pressupõe que os fragmentos de situações inacabadas e problemas não


resolvidos do passado emergirão inevitavelmente como parte desta experiência
presente.

•À medida que estas situações inacabadas aparecem, pede-se ao paciente que


as represente e experimente de novo, a fim de completá-las e assimilá-las no
presente.

•Esse enfoque deriva da noção psicanalítica de que o passado é TRANSFERIDO


de forma neurótica para o presente. Assim, tanto no trabalho psicanalítico
quanto no gestáltico, a pessoa tenta “complexar”, no presente, situações
inacabadas no passado.
PROPONDERÂNCIA DO “COMO” SOBRE O “PORQUÊ”

•Segundo Perls, o PORQUÊ da ação é irrelevante para qualquer compreensão


plena da mesma.

•Toda ação tem causas múltiplas, assim como toda causa tem causas múltiplas,
e as explicações de tais causas nos distanciam mais e mais da compreensão do
ato em si.

•Assim, na prática da Gestalt-terapia, a ênfase está em ampliar constantemente


a consciência da maneira como a pessoa se comporta e não em esforçar-se para
analisar a razão pela qual a pessoa se comporta de tal forma.
CONSCIENTIZAÇÃO

1.É o ponto central de sua abordagem terapêutica

2.“Eu acredito que esta é a grande coisa a ser compreendida: a tomada de consciência em
si – e de si mesmo – pode ter efeito de cura (Perls, 1969a, p.34 na ed. bras.).

3.Considerava o indivíduo maduro e saudável um indivíduo auto-regulador e auto-


apoiador.

4.Sugeriu que o princípio da hierarquia de necessidades está sempre operando na


pessoa. A necessidade mais urgente, a situação inacabada mais importante, sempre
emerge se a pessoa estiver simplesmente CONSCIENTE da experiência de si mesma a
todo o momento.

5.CONTINUUM DE CONSCIÊNCIA: estar consciente do que estamos experimentando a


cada instante.

6.Estar consciente é prestar atenção às figuras perpetuamente emergentes de sua própria


percepção. Evitar a tomada de consciência é enrijecer o livre fluir natural do
delineamento figura e fundo.

7.Para cada indivíduo existem três zonas de consciência:


•Consciência de si mesmo
•Consciência do mundo
•Consciência do que está “entre” – um tipo de zona intermediária da fantasia
CRESCIMENTO PSICOLÓGICO (modos para a realização):

1.Completar situações inacabadas ou gestalten inacabadas


2.Passagem através da neurose (estrutura em cinco camadas)
3.Dos clichês ou da existência dos sinais (bom dia, oi, o tempo está bom, não?)
•Dos papéis ou jogos (“como se”; as pessoas fingem que são o que gostariam de ser)
•Do impasse, anti-existência ou evitar fóbico (experiência do nada, do vazio)
•Implosiva, da morte ou medo da morte (paralisia de forças opostas)
•Explosiva (emergência da pessoa autêntica, verdadeiro SELF, da pessoa capaz de
experienciar e expressar suas próprias emoções

Quatro tipos de explosões: Pesar, orgasmo, raiva e joie de vivre

OBSTÁCULOS PARA O CRESCIMENTO

1.Fuga da conscientização e a consequente rigidez da percepção e do comportamento


2.Quatro mecanismos neuróticos básicos – distúrbio de limites – que impedem o
crescimento:
•Introjeção ou engolir tudo
•Projeção
•Confluência
•Retroflexão
1. O INTROJETIVO faz como os outros gostariam que ele fizesse

2. O PROJETIVO faz aos outros aquilo que os acusa de lhe fazerem

3. O homem em CONFLUÊNCIA PATOLÓGICA não sabe quem está


fazendo o que a quem

4. O REFLEXOR faz consigo o que gostaria de fazer aos outros


ESTRUTURA

• CORPO: A atividade mental é simplesmente uma atividade que funciona em nível menos
intenso que a atividade física.

• RELACIONAMENTO PESSOAL: Perls considera o indivíduo como participante de um


campo do qual ele é diferenciado mas inseparável.

• VONTADE: Acentua muito a importância de estar consciente de suas preferências e ser


capaz de agir sobre elas. O conhecimento de suas próprias preferências leva ao
conhecimento de suas necessidades.

• EMOÇÕES: Perls considera a emoção como a força que fornece energia a toda ação.
Emoções são a expressão de nossa excitação básica, as vias e modos de expressar nossas
escolhas, assim como de satisfazer nossas necessidades.

• INTELECTO: Acreditava profundamente no que chamava de sabedoria do organismo,


porém via como sendo um tipo de intuição baseada mais na emoção que no intelecto.

• SELF: Não tinha nenhum interesse em enaltecer o conceito de SELF a fim de incluir
qualquer coisa além do cotidiano, manifestações óbvias de quem somos.

• TERAPEUTA: É uma tela de projeção na qual o paciente vê seu potencial ausente; a tarefa
de terapia é a recuperação deste potencial do paciente.
AVALIAÇÃO

A Gestalt-Terapia é sobretudo uma síntese de abordagens que visa a compreensão


da psicologia e comportamento humanos.

Enquanto síntese, incorporou de forma útil muito da psicologia existencial e


psicanalítica, assim como fragmentos e partes do behaviorismo (a ênfase no
comportamento e no óbvio), psicodrama (a representação de conflitos),
psicoterapia de grupos (trabalho em grupos) e Zen-budismo (mínimo de
intelectualização e enfoque na consciência do presente).

O espírito da Gestalt-terapia é humanista e orientado para o crescimento


A maioria das pessoas acha que explicação é a mesma coisa
que compreensão.

Posso dar-lhes uma porção de sentenças que os ajudarão a


construir um modelo intelectual de como nós funcionamos.
Talvez alguns de vocês sintam a coincidência destas sentenças
e explicações com a sua vida real, e isto é compreensão.

Vocês não aprenderiam a partir de minhas palavras.


Aprendizagem é descoberta.

...E eu espero poder ajudá-los a aprender a descobrirem


alguma coisa sobre si mesmos (Perls, 1969ª, p.46 na ed. bras.)

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