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Relatório final
Débora Menezes
Jornalista e educomunicadora
(73) 9922-4691
debieco@uol.com.br
Aos professores da rede pública das escolas Anísio Teixeira e Homero Pires,
em Prado (BA), pelas informações adicionais sobre as escolas municipais
locais.
Aos vigilantes do ICMBio em Prado, Carlos Mendes Jesus da Silva e Luziano Mendes
da Silva, ao colaborador eventual Afonso Rogério Müller Guimarães e a toda a equipe
do Parna Descobrimento, pelo apoio logístico. E à consultora Jandaíra Moscal, pelo
apoio na estruturação do projeto e pelo carinho.
2
ÍNDICE
Introdução ________________________________________________________4
Resumo das oficinas: a percepção das comunidades sobre o seu pedaço ______ 19
Bibliografia _______________________________________________________71
Anexos __________________________________________________________72
3
INTRODUÇÃO
Os grupos mantém, ainda, os blogs (páginas na internet que podem ser mantidas
pelos próprios autores) www.jornaltanara.blogspot.com e www.ooiti.blogspot.com,
atualizados com conteúdo sobre o que construíram a partir das oficinas, e sobre a
região onde vivem.
4
EDUCOMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
O QUE É EDUCOMUNICAÇÃO
A educação ambiental pode e deve formar “um sujeito capaz de ‘ler’ seu ambiente e
interpretar as relações, os conflitos e os problemas aí presentes” 1. Nesse processo de
formação, a comunicação tem muito a contribuir, desde que se avance no
entendimento sobre o que é comunicação – que vai além da divulgação e propagação
de informações por meio de folhetos ou reportagens na imprensa, por exemplo.
1
CARVALHO, Isabel. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. 2ª edição. São Paulo: Editora Cortez,
2004.
5
portanto, não se trata apenas de divulgar políticas ou projetos de educação
ambiental”2.
Esses princípios são o resumo norteador de como é possível ter uma interface entre
comunicação e educação ambiental, que contribua para os desafios de uma educação
positivamente transformadora.
2
Ministério do Meio Ambiente (MMA). Educomunicação Socioambiental – Comunicação Popular e Educação
Ambiental. Brasília, DF: MMA/Departamento de Educação Ambiental, 2008.
6
A ENCEA E A EDUCOMUNICAÇÃO NAS UCS
3
ICMBio/MEC/MMA. Documento Inicial: Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental no
Âmbito do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Brasília, DF: maio de 2009.
7
• Incentivar a apropriação dos meios de comunicação e produção de
informação pelas comunidades e instituições envolvidas e afetadas pela
criação, implementação e gestão de UCs;
8
APRESENTAÇÃO DAS UCs E DAS COMUNIDADES
TRABALHADAS DO ENTORNO
CONTEXTO DA REGIÃO
Atualmente, convivem nessa região que forma o Extremo Sul da Bahia, unidades de
conservação de uso sustentável e de proteção integral que protegem as últimas áreas
de Mata Atlântica desse trecho do Estado, aldeias indígenas que foram formadas a
partir de etnias que originaram os chamados pataxós, assentamentos de reforma
agrária, na maioria ligados ao Movimento dos Sem Terra - MST, pescadores
tradicionais e esparsos empreendimentos de turismo. E entre os problemas
socioambientais vividos na região, estão os conflitos da disputa pela terra, o uso
intensivo de recursos hídricos e de agrotóxicos em culturas como a do mamão, a falta
de conhecimento dos locais sobre as conseqüências da monocultura do eucalipto.
9
Figura 1: mapa da região do Parna Descobrimento e Resex Corumbau.
Fonte: Conservação Internacional
Criado em 1.999 a partir das terras de uma empresa madeireira que existia na
região – a Brasil Holanda, o Parque Nacional do Descobrimento tem 21.129 hectares,
protege uma das maiores porções de Mata Atlântica que restaram no Extremo Sul da
Bahia e nascentes de alguns dos importantes rios do município de Prado, como o
Imbassuaba. O plano de manejo ainda está sendo construído e deve ser apresentado
em 2.010.
10
Parte das breves informações que seguem abaixo constam do Relatório Técnico da
equipe responsável pelo plano de manejo do Parque4. Também há informações
obtidas junto aos participantes das oficinas de educomunicação, que fazem parte das
comunidades descritas5, e ainda alguns dados sobre as escolas presentes nessas
comunidades, informadas pela Secretaria Municipal de Educação – importantes para
a compreensão do processo de apropriação e de produção dos jornais comunitários,
pois o nível de escolaridade influencia esse processo e interfere nas iniciativas de
continuidade de projetos de educomunicação.
4
Biodiversitas/IESB. Relatório Técnico – Etapa 1 – Reuniões Diagnósticos nas Comunidades do Entorno do Parque
Nacional do Descobrimento. Agosto de 2009. Não publicado.
5
Os números oscilam. As comunidades fornecem números variados as equipes que realizam consultorias na região.
Para o plano de manejo e para o jornal comunitário, o variação de famílias é bem diferente. Números mais exatos
podem ser conseguidos com o Programa Saúde da Família (PSF), da Prefeitura Municipal de Prado.
11
(MST) em 1.987. A área do assentamento, legalizado em 1.991 pelo Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), tem 2.010 hectares e vivem na localidade
87 famílias voltadas para a agricultura familiar com plantações de maracujá,
mandioca e cana. Um alambique comunitário deve ser reativado até o final de 2.009.
Pontinha I e II
12
Há fazendas no entorno e pequenos proprietários
rurais, que vivem praticamente da produção de leite,
mandioca, maracujá e outros produtos. Mas a principal
atividade econômica apontada pelos locais é a produção
de beiju, uma espécie de biscoito produzido a partir da
goma da mandioca. Há cerca de 40 farinheiras em
atividade, com 250 pessoas participando da fabricação do
beiju, vendido para a região e outros Estados.
Primeiro de Abril
13
A Primeiro de Abril foi criada a partir de um acampamento de pessoas ligadas ao
MST, em 1.988. Hoje vivem 43 famílias basicamente da agricultura familiar. A
produção de maracujá é forte na comunidade.
6
Essa linha delimita a área de Marinha que é de propriedade da União e ainda não foi demarcada na região, sendo uma
competência da Secretaria do Patrimônio da União (SPU). A linha marca também o limite Oeste da Resex.
7
LOBÃO, Ronaldo. Relatório Parcial – Projeto: Fortalecimento da Gestão Participativa do Uso dos Recursos
Pesqueiros na Resex Marinha de Corumbau. Prado, BA: junho, 2005.
14
maracujá influenciam a paisagem. Somados a estas questões, ainda existe forte
especulação imobiliária, influenciada pelo turismo cada vez mais freqüente em quase
todas as localidades da Resex.
Parte das breves informações que seguem abaixo constam do Relatório Parcial do
consultor Ronaldo Lobão e também há informações obtidas junto aos participantes
das oficinas de educomunicação, que fazem parte das comunidades descritas, e
ainda alguns dados sobre as escolas presentes nessas comunidades, conseguidos nas
Secretarias de Educação. Assim como para com as comunidades trabalhadas em
Prado, esses dados são importantes para a compreensão do processo de apropriação
e de produção dos jornais comunitários, pois o nível de escolaridade influencia esse
processo e interfere nas iniciativas de continuidade de projetos envolvendo
educomunicação.
15
No próximo capítulo deste relatório, Resumo das Oficinas: a Percepção das
Comunidades Sobre o seu Pedaço, haverá uma descrição mais detalhada sobre o
que os participantes consideram importante no lugar onde vivem, sua relação com o
meio ambiente e as instituições presentes na região.
Cumuruxatiba
36 km separam Prado do
distrito de Cumuruxatiba, vila de
pescadores que no final do século
19 teve suas areias monazíticas
exploradas até a década de
1.970. Desse período há um
marco na paisagem da praia
próxima a vila, as ruínas de um
píer que serviu de apoio para a
exportação de areia. Figura 5: pescador na praia de Cumuruxatiba
Foto: Carol Neves, moradora de Cumuruxatiba
Aproximadamente cinco mil
pessoas espalham-se pela parte baixa (o centrinho), parte alta (Morro da Fumaça e
Cantagalo e rural, onde vivem agricultores e índios pataxós – alguns deles dentro da
área do Parque do Descobrimento. Ainda há pescadores, mas também pousadas,
restaurantes, bares e um pequeno comércio local, e a vila fica bastante movimentada
no verão e muitos moradores ocupam-se em trabalhos temporários.
16
Vizinho a Cumuruxatiba, Imbassuaba é um pequeno núcleo próximo a
Cumuruxatiba, com pescadores representados na Associação dos Pescadores
Artesanais e Amigos da Costa do Descobrimento (APAACD). Parte da comunidade
também sobrevive da agricultura familiar. Próximo está a barra do Rio Cahy, lugar
onde a esquadra de Cabral. Não há escola no local e seus estudantes dirigem-se a
escolas em Cumuruxatiba e no assentamento Dois Irmãos.
Veleiro
Corumbau
A 10 km de Veleiro chega-se a
Corumbau e Ponta do Corumbau, que
reúne um tradicional vilarejo de
pescadores que dividem as praias com
turistas de alto poder aquisitivo, que se
hospedam nas poucas, mas
sofisticadas pousadas desse trecho do
Barra Velha
A escola local atende cerca de 700 alunos do Ensino Infantil ao Ensino Médio, com
direito a disciplina de língua patxohã (de origem pataxó). Na escola há um laboratório
de informática e um funcionário para ensinar os passos básicos no computador e na
internet. Na aldeia ainda está sendo estruturado um ponto de cultura. A cultura
indígena, aliás, é valorizada em apresentações de dança e música, dentro e fora da
aldeia, em ocasiões especiais como festas.
18
RESUMO DAS OFICINAS: A PERCEPÇÃO DAS
MOBILIZAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Parna Descobrimento
19
A partir dessas reuniões o formato da oficina foi definido - cinco encontros de oito
horas, às quartas-feiras, com visitas guiadas pelas comunidades onde as oficinas
seriam realizadas, para que todos tivessem a oportunidade de conhecer um pouco de
cada uma delas. Essa sugestão fez a diferença para o grupo, que pode conhecer
realidades diferentes, e ainda influenciou a produção de pauta dos primeiros jornais
comunitários.
Nessas reuniões também ficou acordada a logística de transporte dos grupos para
cada local de realização de oficinas, o qual foi disponibilizado pelo Parque.
20
Problemas de comunicação Propostas de solução
O fluxo de informações dentro de Cada liderança precisa ter mais
cada comunidade é ruim. compromisso com a comunicação do
que acontece para sua comunidade.
E ter o hábito de reuniões regulares,
pelo menos há cada 15 dias – o
mesmo vale para o grupo que quiser
garantir a continuidade do processo
de fazer jornal.
Resex Corumbau
Foram realizadas duas reuniões entre julho e agosto de 2009, sendo que na
primeira, o grupo seria responsável por indicar participantes. Nas comunidades mais
distantes não houve reunião, apenas conversas com algumas lideranças em Veleiro e
Corumbau. Na segunda reunião, lideranças de Corumbau e Caraíva questionaram
porque havia preferência para Cumuruxatiba.
8
Em 2006, junto a uma equipe do jornal O Timoneiro, de Caravelas.
21
A mobilização para essas oficinas foi problemática por causa de conflitos internos
da comunidade e da falta de entendimento sobre os objetivos da produção de um
jornal comunitário. Provavelmente porque a Resex sempre foi focada na mobilização
de pescadores, a consultoria de educomunicação foi muito questionada sobre o
público das oficinas não ser o de pescadores ou de ter “não-nativos” participando das
mesmas. Esses conflitos internos entre os comunitários de Cumuruxatiba são comuns
nos processos de mobilização para reuniões, formações oferecidas pela Resex e outras
instituições.
22
Figura 9: Primeira oficina do Parna Descobrimento, na comunidade de Primeiro de Abril. Ao lado, a
primeira oficina da Resex Corumbau, em Cumuruxatiba. Abaixo, momentos de dinâmicas nas duas
oficinas, respectivamente – os participantes Antonio (Riacho das Ostras) e Erinelza (Pontinha), e Sérgio
(Veleiro) e Renata (Barra Velha) se apresentam.
Foto: Débora Menezes
23
comunidades. Comentaram sobre a presença de pesquisadores e consultores, e sobre
promessas de instituições que prometeram melhorias, mas nunca retornaram para as
comunidades trazendo os resultados de forma concreta.
Parna Descobrimento
Essa etapa foi uma das mais importantes dentro da propostas das oficinas. É por
meio do desenho de um mapa da comunidade, feito coletivamente e com referências
importantes apontadas pelo grupo (rios, pessoas, igrejas, curiosidades, pontos
negativos e pontos positivos), que se inicia o processo de despertar sobre o que é
24
importante destacar e melhorar nas comunidades – e que geram temas para a
produção dos jornais.
Pontinha
Pontos Negativos Pontos positivos
• Só apontaram a localização da • Encontro Anual de Pescadores no
estrada dividindo a comunidade e vale do Jucuruçu.
a falta de segurança na circulação
• Paisagem do Vale do Jucuruçu.
das pessoas em decorrência disso.
• Moradoras antigas como Tia Lica,
• que são a memória viva.
• Projeto Balde Cheio, iniciativa da
Embrapa Pecuária para geração de
• renda a produtores de leite.
• O beiju como patrimônio local.
• A história de “Caboclo de Oséas”,
fundador da comunidade.
• Farinheira Modelo.
25
Pontos Negativos Pontos positivos
• Alambique comunitário desativado • Seu Almiro, morador mais antigo.
e abandonado.
• Mudança da cultura da mandioca
• Solo enfraquecido. para a do maracujá.
• Lote de um dos moradores
vizinhos ao Parque , bom para o
turismo.
• Fabricação de iogurte e de queijo
por alguns comunitários.
• Agricultura orgânica de algumas
roças locais.
Primeiro de Abril
Pontos Negativos Pontos positivos
• Plantações de eucalipto no entorno • Histórico de resistência dos
afetam a qualidade das águas comunitários.
locais.
• Centro de Formação Comunitária.
• Plantações de mamão no entorno
• Agricultores que investiram na
afetam a qualidade das águas
agricultura orgânica como
locais.
Agnaldo, que trabalha com biogel.
• Planejamento da comunidade
• Jaqueira – ponto histórico.
preocupa – haverá lugar para
filhos e netos de assentados no
futuro?
26
Resex Corumbau
Cumuruxatiba
Pontos Negativos Pontos positivos
• Monocultura de eucalipto e sua • Meninas do bordado na Areia Preta
relação com os rios e o solo.
• Espaço cultural informal na vila.
• Ponte do Japara Grande – estrada
• Seu Odemir no Cantagalo.
Cumuru a Prado.
• Dona Zabelê Pataxó, na Aldeia Tibá.
• Especulação imobiliária na Areia
Preta/privatização da praia. • Aldeia Pequi.
• Contaminação da represa pela • Memória dos trabalhadores da
cultura do mamão. Comsempe.
• Poluição do rio da Barrinha e • Morro da Fumaça com mata de
desmatamento da Mata Ciliar, no mussurunga (muita biriba pra fazer
centro da vila. berimbau).
• Extração de areia e desmatamento • Cocadas de dona Lucinha e dona
provocado pela Comsempe. Neuza.
• Desmatamento e especulação • Nema Cumuru.
imobiliária no Morro da Fumaça. • Seu Cosme, morador antigo.
• Falta de planejamento territorial
• Baleias.
para o crescimento da vila.
• Associação de Pescadores em
• Lixão que vai mudando de lugar. Imbassuaba.
• Desmatamento do mangue na
• Assentamento Modelo.
Pousada Rio do Peixe.
• Dona Jovita da Aldeia Cahy.
• Privatização do acesso às praias –
problema da Barra do Cahy.
• Rio Imbassuaba poluído pela
monocultura do eucalipto.
27
Corumbau
Pontos Negativos Pontos positivos
• Especulação imobiliária. • Posto de saúde construído por um
empresário local.
• Expulsão dos moradores do
Bugigão. • Casa do Poeta Honorato.
• Defumador de camarão cuja
fumaça incomoda moradores em
volta (um deles está doente).
• Esgoto no mangue.
Barra Velha
Pontos Negativos Pontos positivos
• Biblioteca queimada e ainda não • Uso da biblioteca ainda ativa.
reconstruída.
• Centro Cultural Indígena, que atua
• Viveiro do Sebrae abandonado. como ponto de cultura.
• Lideranças locais (Pajé, Romildo). • Turismo organizado pelos locais.
Veleiro
Pontos Negativos Pontos positivos
• Igrejas evangélicas muitas vezes • Presença de igrejas evangélicas.
desmobilizam a luta comunitária.
• Resex como fator de
• Falta de fiscalização. empoderamento.
• Tráfico de animais silvestres. • Pesca artesanal a vela.
• Desmatamento do Parque do • Aldeia Tauá.
• Descobrimento próximo dali e das • Mobilização das comunidades
aldeias com problemas atrapalha a indígenas.
identidade indígena.
• Sede da associação e escola.
• Falta de preparo para receber a
energia elétrica que chegará.
• Privatização das praias – falta de
acesso fechado por fazendas.
Embora o papel de cada órgão ainda seja confuso para a maioria dos participantes,
a possibilidade de conhecer sua atuação e apontá-la nos jornais mostrou-se uma
ferramenta atraente para os comunitários. Sem esse conhecimento/acesso a
informação sobre o que fazem esses órgãos, a mobilização – e por conseqüência os
processos de educação ambiental – ficam mais difíceis.
É importante destacar ainda que na região trabalhada, muitos desses órgãos (caso
do próprio IMA e da FUNAI) ficam em cidades vizinhas ao município de Prado. A
distância entre as comunidades e esses órgãos é ainda maior por esse fator. Soma-se
a isso o fato de que internet ainda não é realidade, especialmente nas comunidades
29
rurais – e o esforço de comunicação de determinados órgãos em disponibilizar
informações pela rede virtual não é válido como única ferramenta para garantir o
acesso a informação.
Terminado o diagrama, foi comentado pela consultora sobre as instituições que não
apareceram e iniciado um pequeno debate sobre como essa proximidade poderia ser
melhorada, e qual a relação entre esse diagrama e a questão dos direitos e deveres
da oficina anterior. A experiência serviu para que as comunidades ainda
compartilhassem problemas comuns.
30
Figura 12: Diagrama de Venn realizado pela Pontinha, Primeiro de Abril e Riacho das Ostras
A maioria dos órgãos federais e estaduais foram apontados como distantes, mas de
grande importância - caso do ICMBio, FUNAI, Funasa e INCRA. Os participantes
também não sabiam a função de muitos desses órgãos, como o IMA, e a diferença
entre eles. Algumas lideranças lembraram, ainda, que embora existam aldeias
indígenas na região e ainda conflitos de terra envolvendo-as, a FUNAI é um órgão
distante, de difícil comunicação com as comunidades. E tanto na Resex, quanto no
Parna, ainda se confunde os nomes e as funções do ICMBio e IBAMA.
31
Também apontaram a ong NEMA (Núcleos de Estudos do Meio Ambiente de
Cumuruxatiba) como órgão importante, mas ela está temporariamente desativada.
Figura 13: Diagrama de Venn realizado por Cumuruxatiba, Imbassuaba, Veleiro, Corumbau e Barra Velha.
32
PLANEJAMENTO DOS JORNAIS COMUNITÁRIOS
A última etapa das oficinas foi dedicada ao planejamento dos jornais e reflete todas
os debates e reflexões propostos ao longo dos cursos. Reflete, também, os anseios
pessoais e coletivos de cada comunitário.
Figura 14: Fazendo a leitura crítica de jornais da região, nas oficinas da Resex e do Parna.
Fotos: Débora Menezes
Já a escolha das pautas iniciais espelha o que importa para cada comunidade
participante. O grupo de Primeiro de Abril indicou os temas “história do Primeiro de
Abril”, e “biogel – adubo orgânico”. O grupo da Pontinha indicou a “história do beiju” e
“memória de Caboclo de Oséas”, fundador da comunidade. Já o grupo de Riacho das
Ostras sinalizou interesse em escrever sobre agricultura orgânica e o fato de gerar
“saúde para quem consome e dinheiro para quem produz”, e outra matéria sobre a
questão da saúde no bairro onde moram – um dos postos de saúde foi fechado e o
agente comunitário de saúde não passa com frequência na casa dos moradores.
34
PLANEJAMENTO JORNAL O OITI
Data de lançamento
17 de outubro.
Porque/ para que (objetivos do jornal)
As três comunidades locais – Pontinha, Riacho das Ostras, Primeiro de Abril – e outras
comunidades rurais.
35
Recursos que temos para produzir o jornal/como buscar
Impressão do jornal:
Rifa da Pontinha;
Riacho das Ostras vai verificar possibilidade de usar resíduos do eucalipto e contato com
pousadas em Prado.
Diagramação e impressão.
Idéia de pensar um “valor-caixa” mensal para despesas com transporte, alimentação,
materiais (pilha para a máquina, por exemplo), etc.
36
Após as decisões sobre como o impresso seria feito, os grupos se dividiram para
produzir as pautas do jornal. A divisão foi feita pelas pessoas que ficariam
responsáveis por cada matéria ou tema sugerido. Esse foi um dos momentos mais
importantes das oficinas, embora nem todo o grupo do primeiro dia tenha participado.
O debate sobre a aproximação com as instituições e a preocupação em informar as
comunidades com qualidade e valorizar o seu espaço já se refletiram nos objetivos
propostos pelo grupo para o jornal, e transpareceram ainda mais no detalhamento da
pauta abaixo.
Esse exercício de reflexão e de debate sobre cada uma das pautas foi um dos
pontos positivos das oficinas. Conversando, negociando, o grupo entendeu que o
jornal comunitário é um trabalho coletivo, de posicionamento e de fortalecimento de
representantes da comunidade preocupados com a qualidade de vida, a cultura e o
ambiente locais, e que preocupações como a citada acima podem ser superadas pela
união do grupo.
Figura 16: grupo se organiza para planejar o jornal Tanara; à direita, detalhe da pauta produzida pelas
participantes de Barra Velha. Fotos: Débora Menezes
37
PLANEJAMENTO JORNAL TANARA
Conteúdo
Página 1 – Capa.
Página 11 – A decidir.
Página 12 – A decidir.
38
Lideranças das comunidades se comunicarão por rádio para organizar a distribuição ao
longo da costa a partir de Cumuruxatiba (contato em Cumuru: Bete).
Máquina fotográfica: ICMBio/Resex (solicitar – está com Débora); Bete (Cumuru), Veleiro
(Zeca), Corumbau (Içara). Meninas de Barra Velha solicitarão ao cacique.
Ecrever ofício para solicitar o uso do infocentro para o curso e entregar para a Prefeitura.
Escrever ofício solicitando a presença dos instrutores a uma universidade local (Débora).
Impressão do jornal
Escrever ofício solicitando apoio para a impressão de 500 a 1000 exemplares do jornal e
50 jornais-murais, seguindo o descritivo acima, avisando que o jornal terá espaço para
anúncio da gráfica e de anunciantes que derem o apoio.
Escrever ofício contando sobre a produção do jornal, sua importância para a educação
ambiental, estimativa de valor necessário para a impressão, etc.,
para levar a reunião do Conselho Municipal do Meio Ambiente (Condema) esta semana,
via representante de Cumuru (Nema).
Diagramação e impressão.
39
O PROCESSO DE PRODUÇÃO DOS JORNAIS
A produção dos jornais comunitários O OITI e Tanara ocorreu nas semanas que se
seguiram após a realização da última oficina em cada grupo de comunidades. O
planejamento proposto no capítulo anterior incluiu um cronograma, que não pode ser
seguido 100% porque os participantes já estavam ocupados com outras atividades.
Além disso, ter que ir atrás de parceiros para financiar o primeiro jornal prejudicou
um pouco o andamento da produção de reportagens.
40
Figura 17: Dois momentos de produção do jornal: entrevistando o promotor Wallace Carvalho de Mesquita de Barros, e
fechando as matérias do jornal. Fotos: Débora Menezes.
TANARA
A maioria das matérias foram produções coletivas, sendo que a maior parte dos
textos foi finalizada pela professora Eliane Brandão, que é coordenadora pedagógica
em uma escola local. A maioria dos participantes, no entanto, ajudou a construir os
textos, assim como as entrevistas e o levantamento das informações. Para escrever a
reportagem sobre a Resex, houve um extenso debate entre os comunitários de
Cumuruxatiba para se chegar ao texto final.
O grupo observou nessa reportagem que as instituições citadas não foram ouvidas
– só a Prefeitura, mas não o Ibama – e entendeu que seria necessário conversar com
todos os envolvidos para saber mais sobre o assunto, e entrevistou o representante
do ICMBio, o promotor público local, o secretário de Obras, além dos moradores que
utilizam as estradas.
9
Prado/Cumuruxatiba: por falta de manutenção em ponte, estrada poderá ser interditada. Notícia publicada no site Sul
Bahia News em 12/8/2009, disponível em http://www.sulbahianews.com.br/ler.php?doc=3897.
41
Zeca do Veleiro conversou com o secretário de Obras do município, Luis Ramos,
para saber porque a estrada que liga Prado a Cumuruxatiba ainda não foi arrumada.
E em visita ao Ministério Público, Emerson Nascimento Matos Neves e Eliane Brandão,
de Cumuruxatiba entrevistam o promotor Wallace Carvalho Mesquita de Barros, que
informou a necessidade da população utilizar esse órgão para fazer denúncias e
acompanhar o que acontece na cidade – no caso das obras de melhoria das estradas,
por exemplo.
10
As festas da Resex são geridas pelas comunidades. Este ano, a responsabilidade foi de Corumbau. A idéia de colocar
os patrocinadores da festa no jornal foi decidida durante a produção da pauta na última oficina.
42
ser voz, informando, dando a oportunidade de pensarmos juntos sobre os anseios e
necessidades de uma comunidade dona de uma reserva extrativista”.
11
Um trecho da letra lida durante a Festa da Resex : “não adianta olhar pro céu com muita fé e pouca luta/Levanta aí
que você tem muito protesto pra fazer e muita greve/Você pode e você deve, pode crer/Não adianta olhar pro chão, virar
a cara pra não ver/Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu/Num quer dizer que você tenha que
sofrer/Até quando você vai ficar usando rédea/Rindo da própria tragédia?/Até quando você vai ficar usando rédea/
Pobre, rico ou classe média?/Até quando você vai levar cascudo mudo?/Muda, muda essa postura/Até quando você vai
ficando mudo? Muda que o medo é um modo de fazer censura”
43
apresentação, Elisabete manifestou sua insatisfação, de forma agressiva, pelo fato de
não ter participado da produção do jornal e nem do lançamento, dizendo que “não há
filhos de pescadores participando do jornal” e que “só tinha gente da Prefeitura
participando do jornal”.
Esse lamentável episódio serviu de alerta ao grupo para que consigam incluir mais
pessoas no processo de produção que envolve o jornal, respeitando a diversidade de
pessoas que compõem as comunidades – pescadores, seus descendentes que não
necessariamente também atuam como pescadores, pessoas que vêm de fora e
contribuem com o local, preocupando com a qualidade de vida e com o coletivo. E que
é preciso avançar nas relações comunitárias melhorando os canais de comunicação –
necessidade apontada desde a primeira oficina e durante todo o tempo, por todos os
participantes.
Muitas comunidades não ficaram satisfeitas com o fato do jornal ser “de” e “para a”
Resex, e não ter a participação de pessoas de outras comunidades além de
Cumuruxatiba. É o grande desafio do grupo de comunicadores comunitários, que já
está planejando o lançamento do segundo número de Tanara em dezembro de 2.009,
com a participação de novos repórteres, incluindo mais comunidades e enfim, fazer o
papel de voz dos moradores do entorno da reserva.
Figura 19: Jackson entrevista a beijuzeira Tia Lica, na Pontinha. À esquera, Antonio, Mara e Bruno escrevem para o
jornal na comunidade do Riacho das Ostras.
O OITI
44
para a cultura das comunidades rurais, a Secretaria Municipal de Cultura cedeu
espaço ao grupo para o lançamento.
Diferente do que ocorreu com o grupo da Resex, para facilitar o trabalho do jornal
as comunidades dividiram as páginas e as matérias que produziriam. Cada uma das
comunidades também se responsabilizou por conseguir o recurso para a impressão –
R$ 600, 1.000 exemplares – e manter contato com o restante do grupo para saber o
que conseguiriam obter.
Riacho das Ostras ficou responsável por um texto sobre agricultura orgânica. Foi
entrevistada a família de um agricultor que trabalha nesse ramo de atividade, e a
matéria também procurou estimular os agricultores em geral a procurarem formação
sobre o tema. Além disso, um comunitário também produziu um texto sobre
agrofloresta, após participar de uma formação oferecida por uma consultora a
comunidades de Unidos Para Vencer e Modelo13, questionando os leitores sobre o
12
Na época (outubro/2009), Eurípedes Pontes Junior.
13
A consultoria “Estímulo a Geração de Renda Para Pequenos Agricultores na Zona de Amortecimento do Parque
Nacional do Descobrimento” foi realizada pela engenheira florestal Jandaíra Moscal. A formação foi voltada para as
comunidades de Unidos Para Vencer e Modelo, mas um dos alunos das oficinas de educomunicação, Antonio Francisco
Dias (Riacho das Ostras), participou como ouvinte.
45
porque de não se optar pela agrofloresta, “sistema de plantação onde as culturas
agrícolas se unem com as matas”, segundo o texto, que estimula: “seria bom se cada
agricultor experimentasse esse jeito de plantar, para convencer os outros agricultores
a fazer o mesmo. Só que para isso, é preciso ajuda técnica. Procurar os sindicatos
rurais para que consigam essa ajuda é uma boa solução, assim como conhecer os
agricultores da região que trabalham com isso, como Agnaldo Ribeiro, do Primeiro de
Abril”.
O jornal ainda abriu espaço para as histórias das comunidades de Primeiro de Abril
e de Riacho das Ostras, comunidades formadas a partir de acampamentos de pessoas
ligadas ao Movimento dos Sem Terra (MST). É interessante destacar que durante as
oficinas, ambos os grupos afirmaram que existe muito preconceito na região em
relação aos assentados. Colocar no jornal comunitário a memória de como surgiram
essas comunidades, como foi a luta pela terra, é uma forma de se auto-valorizar e de
garantir a história relatada a partir do ponto de vista das próprias comunidades.
46
O grupo teve dificuldade em elaborar os textos. As lideranças, acostumadas a
escrever atas de reuniões, reescreveram seus materiais sobre agricultura orgânica
algumas vezes. Os participantes que são alunos em fase de alfabetização acabaram
não participando de nenhuma reportagem. Muitos estavam ocupados com o trabalho
da lida na roça, e não puderam comparecer ao fechamento na data combinada.
Figura 21: Sebastiana de Jesus apresenta o jornal na conferência. Ao lado, o beiju distribuído como lembrança.
Fotos: Jaco Galdino e Débora Menezes
14
Acordo realizado por intermédio do Parna com produtores de eucalipto permitiu que associações de moradores do
entorno tivessem acesso a cortes dessa madeira para uso próprio e venda, com renda em benefício das comunidades.
47
Lançamento do O OITI – A Conferência Municipal de Cultura de Prado teve o
objetivo de iniciar um processo no Poder Público de incentivo e fomento aos grupos
culturais locais. Foram realizadas palestras sobre temas ligados a questão cultural, o
que e porque precisa ser incentivado, e posteriormente realizadas grupos de
discussão para encaminhar sugestões para a Conferência Territorial de Cultura – que
seria realizada dali uns dias em Porto Seguro, promovido pela Secretaria Estadual de
Cultura.
Já uma professora da rede pública, que não se identificou, durante um debate para
trazer propostas culturais para o município, lembrou da falta de memória e sugeriu o
incentivo de produções coletivas com a história do local contada pelos próprios
moradores, conduzido por professores.
Cidadania é também dar valor a cultura local, e criar mecanismos para se expressar
esse valor, como os meios de comunicação comunitários. Pois cultura não é só
48
comprar livros, ir a shows ao cinema. É também difundir o que importa para o seu
próprio povo e o jornal O OITI cumpriu essa função.
No entanto, como solução para a produção dos próximos impressos, foi feito
contato com a Faculdade do Sul da Bahia (FASB), em Teixeira de Freitas, que resultou
em um mini-curso de diagramação em WORD e Corel Draw, para um grupo de 10
participantes das oficinas de Cumuruxatiba, Pontinha, Primeiro de Abril e Riacho das
Ostras que já tinham noções básicas de computação. Dois professores da FASB
ofereceram noções básicas de diagramação no laboratório de informática da
faculdade, de forma voluntária, fornecendo ainda material didático. A realização do
curso foi possível com a contratação de motorista e VAN e combustível conseguido
pela Resex Corumbau, e a alimentação foi doada, em parte, pelo restaurante Cheiro
Verde, de Teixeira de Freitas.
50
Também foi realizado contato com a jornalista Raquel Galvão, que trabalha na
Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, em Teixeira de Freitas. Ela se disponibilizou
a fechar o próximo jornal Tanara (em dezembro de 2.009) como voluntária. Raquel
conheceu o grupo de comunitários durante a Conferência Municipal de Cultura,
realizada em Prado, quando do lançamento do jornal O OITI.
51
AVALIAÇÃO COLETIVA DO PROCESSO DE
EDUCOMUNICAÇÃO
Essa avaliação está dividida em três partes: a participação dos alunos nas reuniões
de conselho do Parna e da Resex, e nas conferências de cultura; a mobilização para o
processo de avaliação e de evento final, reunindo os grupos ligados às duas Ucs, no
dia 7 de novembro; e a avaliação individual ao final de todo o processo.
Embora a produção dos jornais também possa ser considerada como parte da
avaliação dessa consultoria, optou-se por esses três recortes por mostrarem também
o significado desse trabalho junto as comunidades.
Zeca do Veleiro apontou que o curso foi bom para “abrir nossas mentes para a
comunicação”, enquanto Jaqueline da Conceição, de Corumbau, lembrou que as
oficinas “foram um meio de interagir com outras comunidades”. Sua irmã e também
participante das oficinas, Issara, ainda pediu aos conselheiros que comuniquem sobre
as reuniões, já que nem toda a comunidade pode participar, e explicou sobre a
importância do jornal para esse processo de comunicação.
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O jornal comunitário é uma “boa desculpa” para que os comunitários tenham
acesso a informação e ainda entendam melhor porque é necessário que ela flua. A
reclamação geral de que o curso foi “mal comunicado” é a mesma para a maioria das
ações que envolvem mobilização de pessoas para reuniões dentro do território do
entorno da Resex. Reuniões, cursos, oficinas, viagens que fazem parte do dia-a-dia da
movimentação em torno dessa mobilização não são divulgados as comunidades; essas
informações ficam restritas ao grupo mais próximo da gestão da UC.
Novamente foi lembrado nessa reunião que algumas ongs que atuam com pesquisa
na região da Resex liberam resultados “quando querem e como querem”, tema que foi
apontado no diagnóstico sobre problemas de comunicação, realizado na primeira
oficina. Esse também é um desafio para os repórteres comunitários pensarem: como
interagir melhor com ongs e instituições que trabalham com pesquisas na região, para
entender e contribuir com a gestão das UCs.
53
oficinas irem a essa reunião para comentarem sobre sua atuação no jornal, por
questões de logística do Parna.
Marailza foi quem mais falou. Ela comentou que por meio das oficinas, conseguiu
“entender um pouquinho” sobre como algumas instituições funcionam (ela visitou o
Instituto de Meio Ambiente da Bahia e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente), e
que ficou sabendo sobre coisas que não conhecia e que deveriam ser melhor
divulgadas para a comunidade – ela deu exemplo do Fundo Municipal de Meio
Ambiente, que disponibiliza verbas para projetos de educação ambiental.
“Não vou deixar de ser agricultora para virar jornalista”, lembrou Marailza,
complementando que ainda assim o trabalho a ajudará muito em seu dia-a-dia.
Quando perguntada sobre o que ela entendeu das conversas e debates dessa reunião,
ela explicou que é um “universo muito novo” que ela não fazia idéia e nem estava
compreendo tão bem, mas que foi importante sua participação para entender melhor
a função do Parna, as relações com as comunidades do entorno e os problemas
enfrentados pela UC.
54
Participação nas conferências de cultura
conferência (Marailza como Figura 25: Grupo de trabalho discutindo propostas durante a
Conferência Territorial de Cultura, em Porto Seguro. A moradora
suplente de uma delegada que foi de Riacho das Ostras, Marailza Borges, participou como delegada.
Foto: Nanda Azevedo, moradora de Cumuruxatiba
55
eleita e não pôde participar). Além desse grupo, Fernanda Azevedo, de Cumuruxatiba,
também foi a conferência como repórter comunitária.
“Estou numa conferência cultural, como delegada suplente, onde poderemos lutar para que
algum projeto relacionado a cultura seja aprovado.
Hoje, na minha opinião, a nossa cidade que é Prado necessita de um patrimônio cultural
que beneficie a zona rural, no momento e muito carente.
Apesar de eu ser adulta, gostaria muito de ver o meu filho viver o que meus pais viveram,
porque a cultura deles foi educativa, hoje as crianças e jovens vivem no mundo da rebeldia,
das drogas, o que não aconteceu com os meus antepassados. Ter a cultura rural valorizada, e
ainda pessoas de lá capacitadas a falar da memória do lugar, ajudaria nossos jovens a gostar
15
mais do espaço em que vivemos” .
15
Publicado por Marailza Borges em www.ooiti.blogspot.com, no dia 22 de outubro de 2009.
56
Avaliação coletiva – Reunindo os grupos
Figura 26: Sebastião (Riacho das Ostras), Alexsandro (Primeiro Santos. Os participantes de
de Abril, Alecssandra e Welton (Cumuruxatiba) conversam
sobre a mobilização para as oficinas.
Cumuruxatiba ainda organizaram um
Foto: Débora Menezes baile de forró, que teria a renda
revertida para a produção do próximo jornal Tanara. Ao todo, participaram desse
encontro cerca de 30 pessoas, entre as comunidades de Cumuruxatiba, Veleiro,
Riacho das Ostras e Primeiro de Abril, incluindo os integrantes do grupo de maculelê.
Figura 27: Integrantes do grupo de dança Sermovimento, de Cumuruxatiba, se apresentam antes do grupo de maculelê
Os Morcegos, da comunidade de Primeiro de Abril. Ao lado, participantes das comunidades do entorno do Parna
Descobrimento e da Resex Corumbau, na finalização do encontro.
Fotos: Débora Menezes e Carolina Portes
Entretanto os grupos estavam motivados a continuidade dos jornais comunitários e
sugeriram propostas de trabalhos envolvendo as comunidades ligadas as duas UCs,
especialmente no que se refere a busca de parcerias para novas e específicas
formações, como a de um curso mais extenso de diagramação. As sugestões
levantadas formal e informalmente estão sintetizadas no próximo capítulo deste
relatório, denominado Propostas para a continuidade dos processos de
58
educomunicação. Essa motivação também foi um dos pontos fortes na avaliação. Já
os problemas referentes diretamente a formação foram praticamente os mesmos
apontados no relatório anterior sobre as oficinas. A falta de recursos para alimentação
durante o curso, o tempo muito curto para mobilizar as comunidades a participarem e
a falta de material (computadores, equipamentos fotográficos) foram apontados como
os principais problemas.
Avaliação individual
Após o último encontro foi entregue aos participantes uma ficha de avaliação
qualitativa com 13 perguntas – quem não foi ao encontro recebeu posteriormente.
Dos 20 participantes do entorno do Parna, apenas oito entregaram as fichas. Dos 17
participantes do entorno da Resex, 11 entregaram as respostas. As fichas originais
estão no anexo.
59
como complemento para a avaliação proposta nesse relatório, e contém informações
importantes para sinalizar soluções de continuidade e de melhoramento da proposta
de mídias comunitárias.
Uma das principais lideranças em Imbassuaba, Albino Santana Neves é também pai
de uma das participantes das oficinas. Fundou a Associação de Pescadores Artesanais
da Costa do Descobrimento (APAACD) e está acostumado a utilizar os veículos de
comunicação da região para divulgar reuniões e ações de mobilização, principalmente
as rádios.
Para ele, as pessoas precisam de mídias focadas em temas de maneira crítica, para
que possam ter visões diferentes sobre assuntos que as próprias autoridades locais
não sabem abordar. “Como um prefeito da região que diz que o emperra o turismo
são as unidades de conservação”, explica.
16
Não tive acesso a pesquisas de audiência. Mas há lógica em afirmar que a 99 FM é a mais ouvida: ela é transmitida
em todas as comunidades rurais e de pescadores, incluindo alguns trechos de Porto Seguro.
60
Em Corumbau, a visita resumiu-se a levar jornais para a Escola Municipal José
Ramos, com ensino de 1ª a 4ª séries e EJA. A participante das oficinas, Jaqueline da
Conceição, comprometeu-se a visitar as escola e promover leituras do próximo jornal.
Figura 28: Renata faz leitura de texto sobre a Resex. manejo, conselho e unidade de
Foto: Débora Menezes conservação não fazem parte de seu
universo. Ninguém nas classes sabia o que era a Resex Corumbau.
Elas ainda fizeram a leitura do editorial e do texto sobre as péssimas condições das
estradas entre Cumuruxatiba e Corumbau, para a turma de EJA. Apesar da matéria
não ser sobre o lugar onde vivem, se identificaram, pois sofrem do mesmo problema
– a estrada que liga a região de Caraíva a Porto Seguro também é muito ruim – e
descobriram coisas novas. Não sabiam, por exemplo, o que e para que servia o
Ministério Público.
61
PROPOSTAS PARA A CONTINUIDADE DOS
PROCESSOS DE EDUCOMUNICAÇÃO
A partir do que foi debatido na avaliação final com o grupo e da percepção de todo
o trabalho desenvolvido em pouco mais de três meses de consultoria, foram
elaboradas propostas de solução para as situações-problema apontadas.
Para que a continuidade seja garantida, é preciso pensar não somente nos jornais
comunitários que foram produzidos, mas ainda incluir novas formações e constante
comunicação entre os participantes do grupo de repórteres comunitários, as
comunidades e a gestão das UCs.
PROBLEMA SOLUÇÃO
62
Falta de comunicação entre os públicos Organizar palestras, rodas de conversas
dos gestores com as comunidades uma
da outra UC, com mapa para mostrar a
do entorno das duas UCs e as gestões.
influência de uma UC na outra. Incentivo
a teportagens nos jornais comunitários
sobre as UCs. Participação efetiva dos
repórteres comunitários nas reuniões de
conselho, escrevendo atas e relatando os
trabalhos no blog (para uso de todos os
outros conselheiros).
PROBLEMA SOLUÇÃO
63
para a produção do primeiro jornal.
64
jornais, mas na geração de Prado nas próprias comunidades,
conhecimento. mediante um número mínimo de
pessoas. Os grupos podem se organizar
e encaminhar ofícios ao Sindicato
solicitando o curso.
PROBLEMA SOLUÇÃO
Muita gente não sabe ler ou não viu os Organizar leituras compartilhadas dos
jornais. jornais, em reuniões de associações,
escolas, entre outros. Apresentar os
próximos jornais durante a Conferência
Municipal de Educação, que será
realizada em fevereiro, para estimular as
escolas a lerem. Distribuir jornais nas
bibliotecas escolares para estimular a
leitura.
PROBLEMA SOLUÇÃO
Os grupos ainda não têm autonomia Fazer parcerias com escolas. Isso já
para elaborar textos e pensar o jornal acontece de maneira informal em
66
como um todo. Cumuruxatiba, pois a coordenadora
pedagógica de uma das escolas participa
do grupo; para as comunidades do
entorno do Parna, uma sugestão é
convidar professores das escolas Anísio
Teixeira e Homero Pires, em Prado, para
que incluam em seu planejamento o
apoio a produção dos jornais. As
diretoras de ambas as escolas
mostraram-se dispostas a conversar; é
preciso encaminhar ofícios de solicitação.
67
perder a autonomia. moradores e pessoas do grupo que irão
se responsabilizar pelos projetos.
Grupos ainda não têm estrutura para ir Apoio da gestão das UCs por meio de um
atrás de recursos, escrever ofícios, estagiário que poderia interagir com os
utilizar telefone, entre outros. grupos, ajudando nos contatos, no
planejamento a medida do possível.
68
parcerias.
69
COMENTÁRIOS SOBRE A ATUAÇÃO DAS UCS E A
CONSULTORIA
Faltou maior tempo, também, para a consultoria articular parcerias. O ideal é que
esse tipo de consultoria seja realizada por no mínimo nove meses, para garantir a
continuidade do processo de educomunicação envolvendo outros atores junto aos
grupos.
Ao final, o saldo foi positivo, acredito, para as duas UCs, que dentro do possível e
apesar de todos os problemas, conseguiram contribuir com o resultado final desse
trabalho, acompanhando-o e resolvendo problemas de logística de última. Espero que
outras consultorias realizadas “casem interesses” das duas unidades vizinhas e
ajudem a ampliar os canais de comunicação entre os gestores. Quem tem a ganhar
são as próprias unidades de conservação – e as comunidades do entorno.
70
BIBLIOGRAFIA
1
LOBÃO, Ronaldo. Relatório Parcial – Projeto: Fortalecimento da Gestão Participativa do Uso dos Recursos
Pesqueiros na Resex Marinha de Corumbau. Prado, BA: junho, 2005.
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ANEXOS
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Anexo 1 – Fichas de avaliação individual
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Anexo 2 – Lista de participantes das oficinas
Parna Descobrimento
Primeiro de Abril
Nome do participante Telefone e-mail
Pontinha II
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Anexo 3 – Lista de participantes das oficinas
Resex Corumbau
Sérgio de Jesus
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Anexo 5 – Clipping eletrônico
http://www.icmbio.gov.br
http://emane-uc.blogspot.com/
www.midiasocial.rejuma.org.br
http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=ascom.exibe&idLink=6940
http://midiaseducacao.blogspot.com/search?q=Parque+do+Descobrimento
http://www.jornalosollo.com.br/noticia.php?id_noticia=2624
http://www.redecep.org.br/noticias_template.php?id=58
http://www.corredoresecologicos.ba.gov.br/index.php?option=com_content&vi
ew=article&id=98:oficina-de-planejamento&catid=10:textos&Itemid=137
http://pib.socioambiental.org/pt/noticias?id=70269
http://www.teixeiranoticias.com.br/noticia.php?id=169
http://www.teixeiranoticias.com.br/noticia.php?id=210
76
Anexo 5 – Conteúdo cursos FASB
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Anexo 6 – Blogs
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Anexo 6 – Jornais Produzidos
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