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Educomunicação no

Parna Descobrimento e Resex Corumbau

Produto 5
Relatório final

Projeto para a Conservação e


Manejo dos Ecossistemas Brasileiros (PROECOS)
Projeto PNUD BRA/00/009
Edital 02/09 – cód. 327

Débora Menezes
Jornalista e educomunicadora
(73) 9922-4691
debieco@uol.com.br

Prado, Bahia, 2009


Agradecimentos

Às comunidades de Pontinha, Riacho das Ostras, Primeiro de Abril,


Cumuruxatiba, Imbassuaba, Veleiro, Barra Velha, Corumbau, Caraíva, Nova
Caraíva, que participaram direta ou indiretamente da construção desse
trabalho. Especialmente às lideranças Dureis (Cumuruxatiba), Albino Santana
Neves (Imbassuaba), Zeca do Veleiro (Veleiro), Iracema da Conceição
(Corumbau), Cacique Romildo (Barra Velha) e Zé Marreco (Caraíva), pelas
preciosas informações sobre a região.

Aos professores da rede pública das escolas Anísio Teixeira e Homero Pires,
em Prado (BA), pelas informações adicionais sobre as escolas municipais
locais.

À Amabele Aguiar, coordenadora do curso de jornalismo da Faculdade do Sul


da Bahia (FASB), pela parceria. Aos comunicadores locais, que publicaram
informações sobre o projeto, especialmente sobre o lançamento dos jornais.

Às secretarias de Cultura e Turismo, Meio Ambiente e Educação, Ministério


Público e Instituto do Meio Ambiente da Bahia (IMA), pelas informações,
materiais e oportunidades oferecidas ao grupo de repórteres comunitários dos
jornais O OITI e Tanara. À Raquel Galvão, da Secretaria Estadual de Cultura,
em Teixeira de Freitas (BA), que levou nossos repórteres a Conferência
Territorial de Cultura.

A Jaco Galdino, colega do jornal O Timoneiro, pelas dicas e informações


sobre a cultura local e a proposta do jornal comunitário.

Aos colaboradores do ICMBio, Eurípedes Pontes Junior e Ronaldo Oliveira,


em Prado, pelo apoio, e Flávia Rossi e Iara Carneiro, duas das responsáveis
pela Estratégia Nacional de Comunicação e Educação (ENCEA) no ICMBio-
Brasília (DF).

Aos vigilantes do ICMBio em Prado, Carlos Mendes Jesus da Silva e Luziano Mendes
da Silva, ao colaborador eventual Afonso Rogério Müller Guimarães e a toda a equipe
do Parna Descobrimento, pelo apoio logístico. E à consultora Jandaíra Moscal, pelo
apoio na estruturação do projeto e pelo carinho.

2
ÍNDICE

Introdução ________________________________________________________4

Educomunicação e Educação Ambiental _________________________________ 5

Apresentação das UCs e das comunidades trabalhadas do entorno_____________9

Resumo das oficinas: a percepção das comunidades sobre o seu pedaço ______ 19

O processo de produção dos jornais____________________________________40

Avaliação coletiva do processo de educomunicação________________________52

Propostas para a continuidade dos processos de educomunicação____________ 62

Comentários sobre a atuação das UCs e a consultoria _____________________ 70

Bibliografia _______________________________________________________71

Anexos __________________________________________________________72

3
INTRODUÇÃO

Este relatório apresenta um resumo da consultoria de educomunicação, realizada


entre julho e novembro de 2009 junto a 20 participantes de três comunidades do
entorno do Parque do Descobrimento (Pontinha, Riacho das Ostras e Primeiro de
Abril), e 17 participantes das comunidades do entorno da Reserva Extrativista Marinha
do Corumbau (com representantes de Cumuruxatiba, Imbassuaba, Veleiro, Corumbau
e Barra Velha). São unidades de conservação vizinhas, que formam um corredor no
litoral entre Prado e Porto Seguro, no Extremo Sul da Bahia.

Por meio de oficinas de formação em jornalismo comunitário e cidadania, com


carga horária de 20 horas, os dois grupos debateram sobre o acesso a informação,
cultura, meio ambiente, saúde e muitos outros temas. Após as oficinas, realizadas
entre agosto e setembro de 2009, foram produzidos os jornais comunitários O OITI e
Tanara, com textos e fotografias feitos pelos próprios alunos.

Os grupos mantém, ainda, os blogs (páginas na internet que podem ser mantidas
pelos próprios autores) www.jornaltanara.blogspot.com e www.ooiti.blogspot.com,
atualizados com conteúdo sobre o que construíram a partir das oficinas, e sobre a
região onde vivem.

O objetivo deste material é oferecer subsídios para a gestão de processos de


educação ambiental em unidades de conservação, onde a comunicação cumpre
importante função no entendimento sobre as UCs, as questões socioambientais e o
papel de cada morador do entorno na conservação. Propõe, ainda, sugestões para a
elaboração de novos processos de educomunicação, adequados a realidade da região
dessa consultoria ou ainda em outras localidades.

4
EDUCOMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

“A educação ambiental requer a democratização dos meios de comunicação e seu


comprometimento com os interesses de todos os setores da sociedade. A
comunicação é um direito inalienável e os meios de comunicação de massa devem ser
transformados em um canal privilegiado de educação, não somente disseminando
informações em bases igualitárias, mas também promovendo intercâmbio de
experiências, métodos e valores”
(Tratado de Educação Ambiental Para Sociedades Sustentáveis e
Responsabilidade Global)

O QUE É EDUCOMUNICAÇÃO

A educação ambiental pode e deve formar “um sujeito capaz de ‘ler’ seu ambiente e
interpretar as relações, os conflitos e os problemas aí presentes” 1. Nesse processo de
formação, a comunicação tem muito a contribuir, desde que se avance no
entendimento sobre o que é comunicação – que vai além da divulgação e propagação
de informações por meio de folhetos ou reportagens na imprensa, por exemplo.

A educomunicação é um campo de estudos e de práticas metodológicas onde a


comunicação exerce um papel diferenciado nos processos educativos. Os educandos
que participam de formações e outros trabalhos educomunicativos são convidados a
refletir sobre a mídia e a produzir conteúdo socioambiental, favorecendo a troca de
saberes e o protagonismo. Ao escrever, filmar, fotografar e gravar áudios na forma de
entrevistas, jornais, radionovelas e vídeos, entre outras produções midiáticas, esses
participantes podem ter acesso a um conhecimento que não teriam com tanta
facilidade, aprendem a pesquisar sobre os temas, despertam a curiosidade e se
mobilizam a partir do conteúdo que buscaram.

O Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), política pública que norteia


as ações de educação ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Ministério
da Educação (MEC), mantém um subprograma de Educomunicação Socioambiental,
lançado em 2008. Esse subprograma oferece subsídios para a elaboração e
sistematização de experiências que relacionam a educação ambiental e a
comunicação, e ressalta que educomunicação “não é marketing institucional da
educação ambiental, porque se constrói no diálogo e na participação democrática;

1
CARVALHO, Isabel. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. 2ª edição. São Paulo: Editora Cortez,
2004.
5
portanto, não se trata apenas de divulgar políticas ou projetos de educação
ambiental”2.

Esse subprograma ainda recomenda alguns princípios que a interface entre


educação ambiental e comunicação deve proporcionar:

• Compromisso com o diálogo permanente e continuado, onde deve ser


promovida a valorização de novos atores e perspectivas dentro dos processos
educativos;
• Compromisso com a interatividade e a produção participativa de
conteúdos, que deve “ser aberta e participada sem domínio de tecnologia e de
saberes especializados que imponham suas competências por mérito
acadêmico” – entendendo aqui, que a educomunicação não é papel de
jornalistas, por exemplo, mas de todo cidadão que tome para si a interface
comunicação e educação pela sustentabilidade;
• Compromisso com a transversalidade, evitando discursos cientificistas
e/ou especializados em ecologia, mas que associe esse campo do saber a
outros envolvidos na questão socioambiental – o social, histórico, pedagógico,
econômico, entre outros;
• Encontro e diálogo de saberes, fortalecendo a “comunicação
mobilizadora” por meio de redes sociais, entre outros;
• Compromisso com a proteção e a valorização do conhecimento tradicional
e popular, respeitando as identidades das comunidades tradicionais e indígenas
e defendendo o direito do “acesso auto-gestionado das expressões culturais dos
povos indígenas e comunidades tradicionais junto aos meios de comunicação de
massa”;
• Compromisso com a democratização da comunicação e com a
acessibilidade à informação socioambiental;
• Compromisso com o direito à comunicação, reconhecendo-a como um
direito fundamental;
• Compromisso com a não-discriminação e o respeito à diversidade
humana, que se reflete na preocupação com uma “linguagem inclusiva” em
todos os meios utilizados para se promover a educação ambiental.

Esses princípios são o resumo norteador de como é possível ter uma interface entre
comunicação e educação ambiental, que contribua para os desafios de uma educação
positivamente transformadora.

2
Ministério do Meio Ambiente (MMA). Educomunicação Socioambiental – Comunicação Popular e Educação
Ambiental. Brasília, DF: MMA/Departamento de Educação Ambiental, 2008.
6
A ENCEA E A EDUCOMUNICAÇÃO NAS UCS

A Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental (ENCEA), no âmbito


do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) é um documento que está
sendo construído no Instituto Chico Mendes para a Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), apontando “princípios, diretrizes, objetivos e propostas de ações
necessárias a execução de políticas públicas, programas e atividades de educação
ambiental e comunicação voltadas ao (re) conhecimento, valorização, criação,
implementação, gestão e defesa das unidades de conservação, por todos e para
todos” 3.

Essa estratégia está prevista dentro do Plano Estratégico Nacional de Áreas


Protegidas (PNAP), que indica como um de seus objetivos o fortalecimento da
comunicação, da educação e da sensibilização pública para a participação e controle
social sobre o SNUC, lei que regulamenta a gestão das UCs no Brasil. O ponto de
partida para a construção do documento norteador da ENCEA foi um diagnóstico
realizado a partir de questionários respondidos por gestores de unidades de
conservação sobre ações de educação ambiental e de comunicação desenvolvidas
nessas localidades.

A ENCEA recomenda que, para garantir a participação e o controle social nos


processos de criação, implantação e gestão de UCs, é preciso, entre outros:

• Incentivar e fortalecer programas e projetos que incorporem a


educação ambiental e a comunicação nos processos de criação,
implementação e gestão das UCs;

• Estimular processos formativos voltados a mobilização e ao


empoderamento de atores sociais que atuam no âmbito do SNUC, para
intervenção crítica e transformadora da realidade, para o enfrentamento
dos desafios socioambientais e participação qualificada nas tomadas de
decisão;

• Incentivar e incrementar o diálogo, a cooperação e o trabalho em


rede entre os órgãos gestores do SNUC, as secretarias estaduais e
municipais de educação, as comunidades escolares e os demais sujeitos
sociais que atuam em comunicação e educação ambiental em UCs;

3
ICMBio/MEC/MMA. Documento Inicial: Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental no
Âmbito do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Brasília, DF: maio de 2009.
7
• Incentivar a apropriação dos meios de comunicação e produção de
informação pelas comunidades e instituições envolvidas e afetadas pela
criação, implementação e gestão de UCs;

• Promover a criação de estruturas de produção e gestão popular de


comunicação que possibilitem a reflexão acerca das questões emergentes
da criação e implementação de UCs, ampliando o alcance e as
possibilidades de diálogo.

Dessa forma, o foco dessa consultoria, em optar pela construção de jornais


comunitários para promover educação ambiental e mobilização, é uma das
ferramentas da educomunicação, que se utiliza de metodologias participativas e
coletivas para a apropriação de um repertório de informações e reflexões que
contribuem para que a população seja inserida na gestão social das UCs. Para os
gestores das unidades, esses trabalhos educomunicativos são um importante
referencial de diálogo com as comunidades do entorno, que nem sempre são incluídas
de forma adequada na difusão de informações sobre a importância do lugar onde
vivem.

8
APRESENTAÇÃO DAS UCs E DAS COMUNIDADES

TRABALHADAS DO ENTORNO

CONTEXTO DA REGIÃO

Localizados no Extremo Sul da Bahia, o Parna Descobrimento e a Resex Corumbau


foram criados entre 1999 e 2000, em uma região cuja ocupação era esparsa há pouco
mais de 50 anos – embora seja conhecida desde a chegada de Pedro Álvares Cabral
ao Brasil (o rio Cahy, no litoral entre Cumuruxatiba e Ponta do Corumbau, foi o
primeiro ponto de fundeio da armada de Cabral antes de seguir para a região de Porto
Seguro e Santa Cruz Cabrália, em 1.500).

Fazendas de cacau, banana e café, ocupações indígenas pataxós e pequenos


núcleos de pescadores tradicionais próximo das praias e dos rios faziam parte da
região que, aos poucos, ganharam um novo contorno após a construção da rodovia
BR-101, na década de 1970. A costa ficou praticamente “esquecida”, enquanto o
interior, próximo a rodovia, expandiu-se com propriedades que exploravam a
pecuária, a extração de madeira. As vilas as suas margens tornaram-se municípios,
como Eunápolis e Teixeira de Freitas. Surgiram assentamentos de reforma agrária,
plantações de eucalipto e culturas diversas, especialmente a de mamão e maracujá.

Atualmente, convivem nessa região que forma o Extremo Sul da Bahia, unidades de
conservação de uso sustentável e de proteção integral que protegem as últimas áreas
de Mata Atlântica desse trecho do Estado, aldeias indígenas que foram formadas a
partir de etnias que originaram os chamados pataxós, assentamentos de reforma
agrária, na maioria ligados ao Movimento dos Sem Terra - MST, pescadores
tradicionais e esparsos empreendimentos de turismo. E entre os problemas
socioambientais vividos na região, estão os conflitos da disputa pela terra, o uso
intensivo de recursos hídricos e de agrotóxicos em culturas como a do mamão, a falta
de conhecimento dos locais sobre as conseqüências da monocultura do eucalipto.

A região ainda apresenta um mosaico de unidades de conservação muito próximas.


Além do Parna Descobrimento e da Resex Corumbau, A área abriga ainda o Parque
Nacional de Monte Pascoal, além dos territórios indígenas de Barra Velha,
Corumbauzinho e Águas Belas.

9
Figura 1: mapa da região do Parna Descobrimento e Resex Corumbau.
Fonte: Conservação Internacional

PARQUE NACIONAL DO DESCOBRIMENTO

Criado em 1.999 a partir das terras de uma empresa madeireira que existia na
região – a Brasil Holanda, o Parque Nacional do Descobrimento tem 21.129 hectares,
protege uma das maiores porções de Mata Atlântica que restaram no Extremo Sul da
Bahia e nascentes de alguns dos importantes rios do município de Prado, como o
Imbassuaba. O plano de manejo ainda está sendo construído e deve ser apresentado
em 2.010.

A unidade de conservação é cercada por propriedades rurais, plantações de


eucalipto, assentamentos de reforma agrária, e passa por conflitos com comunidades
indígenas que surgiram no interior do Parque em abril de 2.003.

10
Parte das breves informações que seguem abaixo constam do Relatório Técnico da
equipe responsável pelo plano de manejo do Parque4. Também há informações
obtidas junto aos participantes das oficinas de educomunicação, que fazem parte das
comunidades descritas5, e ainda alguns dados sobre as escolas presentes nessas
comunidades, informadas pela Secretaria Municipal de Educação – importantes para
a compreensão do processo de apropriação e de produção dos jornais comunitários,
pois o nível de escolaridade influencia esse processo e interfere nas iniciativas de
continuidade de projetos de educomunicação.

No próximo capítulo deste relatório, Resumo das Oficinas: a Percepção das


Comunidades Sobre o seu Pedaço, haverá uma descrição mais detalhada sobre o
que os participantes consideram importante no lugar onde vivem, sua relação com o
meio ambiente e as instituições presentes na região. E nos anexos, o jornal O OITI
apresenta a história destas comunidades pelos próprios moradores.

As comunidades que participaram do trabalho de educomunicação – Riacho das


Ostras, Primeiro de Abril e Pontinha – são fundamentalmente rurais, apesar da
proximidade de uma delas, a Primeiro de Abril, do município de Prado (22 km).
Riacho e Primeiro de Abril surgiram há pouco mais de 20 anos, a partir de
acampamentos iniciados pelo Movimento dos Sem Terra (MST), e reúnem pessoas
nascidas na região (Itamaraju, Prado) e em outras localidades (Ilhéus, na Bahia,
Espírito Santo). Já a comunidade da Pontinha, que se desenvolveu a partir da
metade do século 20, o isolamento com relação ao município de Prado é maior. Ainda
assim, muitos alunos de Ensino Médio estudam na cidade.

Nas três comunidades o trabalho na agricultura familiar é prioritário. Pouquíssimos


têm emprego – e esses poucos trabalham para a Prefeitura (duas professoras na
Pontinha, por exemplo). Poucos também possuem computador, que só agora está
chegando a algumas escolas rurais (já foram instalados, mas os laboratórios só
entram em funcionamento a partir do ano que vem). Os jovens estudantes que vêm
a cidade aproveitam para acessar ORKUT e MSN em lan-houses.

Riacho das Ostras

A 22 km do município de Prado, em direção ao distrito de Cumuruxatiba, essa


comunidade surgiu a partir de um grupo de acampados do Movimento dos Sem Terra

4
Biodiversitas/IESB. Relatório Técnico – Etapa 1 – Reuniões Diagnósticos nas Comunidades do Entorno do Parque
Nacional do Descobrimento. Agosto de 2009. Não publicado.
5
Os números oscilam. As comunidades fornecem números variados as equipes que realizam consultorias na região.
Para o plano de manejo e para o jornal comunitário, o variação de famílias é bem diferente. Números mais exatos
podem ser conseguidos com o Programa Saúde da Família (PSF), da Prefeitura Municipal de Prado.
11
(MST) em 1.987. A área do assentamento, legalizado em 1.991 pelo Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), tem 2.010 hectares e vivem na localidade
87 famílias voltadas para a agricultura familiar com plantações de maracujá,
mandioca e cana. Um alambique comunitário deve ser reativado até o final de 2.009.

Com um histórico de conflitos na disputa pela terra, durante as reuniões do plano


de manejo as lideranças que participaram afirmaram que o assentamento não ficou
sabendo da criação do Parna Descobrimento, em 1.999, e que já desmataram por
“falta de informação”. Atualmente as lideranças se
relacionam com a UC por meio da participação de
representantes do Riacho das Ostras no conselho do
Parna.

Há duas escolas na localidade, atualmente dividida


pelos locais em Riacho I e II, com classes
multisseriadas (onde o professor trabalha com alunos
de vários níveis/séries na mesma sala de aula. Essa
modalidade é comum na zona rural). Os alunos mais
velhos, que estão no Ensino Médio ou no Ensino de
Jovens e Adultos (EJA), estudam em Prado.
Computadores chegaram a uma das escolas no
segundo semestre de 2.009, mas o laboratório de
informática será implantado em 2.010. Figura 2: rio Japara corta comunidade
Foto: Débora Menezes
Total de participantes da comunidade nas
oficinas: seis.

Pontinha I e II

A 20 km de Prado, a comunidade de Pontinha I e II (se fala também em Pontinha


III, cada uma com sua própria associação de moradores) espalham-se pelos dois
lados da estrada que liga o município a Itamaraju. De um lado está o vale do rio
Jucuruçu; do outro, algumas propriedades fazem divisa com o Parna Descobrimento.
Fala-se que a localidade existe desde o início do século XX, mas foi a partir de um
morador denominado “Caboco de Ozéas” (Eurípedes de França Oliva) é que a
comunidade passou a se desenvolver – parte dos comunitários atuais descende da
família Oliva. Vivem aproximadamente 586 pessoas nas duas comunidades.

12
Há fazendas no entorno e pequenos proprietários
rurais, que vivem praticamente da produção de leite,
mandioca, maracujá e outros produtos. Mas a principal
atividade econômica apontada pelos locais é a produção
de beiju, uma espécie de biscoito produzido a partir da
goma da mandioca. Há cerca de 40 farinheiras em
atividade, com 250 pessoas participando da fabricação do
beiju, vendido para a região e outros Estados.

A produção de beiju é uma das atividades que causam


impacto ao Parque, segundo os próprios comunitários,
Figura 3: Produção do beiju pois necessita madeira para o funcionamento dos fornos.
Foto: Débora Menezes
O costume da caça é menos impactante atualmente,
garantem. A comunidade também está representada no conselho da UC.

Há duas escolas na localidade, em Pontinha I e Pontinha II, de ensino


multisseriado. Os alunos mais velhos, que estão no Ensino Médio ou no Ensino de
Jovens e Adultos (EJA), estudam em Prado, sendo que há uma turma de EJA em
Pontinha II. Computadores chegaram a uma das escolas no segundo semestre de
2.009, mas o laboratório de informática será implantado apenas em 2.010.

Total de participantes da comunidade nas oficinas: oito.

Primeiro de Abril

A comunidade a 22 km de Prado, com


acesso pela estrada para Cumuruxatiba,
tem 2.200 hectares de área e está no
entorno do Parna Descobrimento. Sua
participação nas oficinas de
educomunicação deu-se pela liderança que
a comunidade exerce entre os
Figura 4: Centro Comunitário de Primeiro de Abril assentamentos em todo o Prado – bem
Foto: Derni Alves, morador de Riacho das Ostras
próxima a outra comunidade indicada pelo
Parque, a do Riacho das Ostras, e pelo bom relacionamento com a gestão do Parque e
afinidade histórica e política com os comunitários de Riacho das Ostras. Além disso, a
comunidade oferece estrutura propícia para a realização de cursos em um centro
comunitário próprio, que foi utilizado em duas das oficinas.

13
A Primeiro de Abril foi criada a partir de um acampamento de pessoas ligadas ao
MST, em 1.988. Hoje vivem 43 famílias basicamente da agricultura familiar. A
produção de maracujá é forte na comunidade.

Há uma escola na localidade, com classes multisseriadas (várias séries na mesma


turma). Os alunos mais velhos, que estão no Ensino Médio ou no Ensino de Jovens e
Adultos (EJA), estudam em Prado. Não há computadores nessa escola. O Centro
Comunitário de Formação Carlos Mariguella, que servia a uma parceria com a
Universidade Estadual da Bahia (UNEB) para cursos de Pedagogia e Letras a
estudantes de assentamentos da região, passa por um período de transição e
disponibiliza pouco a estrutura para a comunidade de Primeiro de Abril.

Total de participantes da comunidade nas oficinas: seis.

RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DE CORUMBAU

A Resex Corumbau foi criada em 2.000 e abrange uma área de aproximadamente


89 mil hectares entre a ponta do Espelho, município de Porto Seguro, e a barra do
Riacho das Ostras, em Prado. Por se tratar de uma reserva marinha, essa área
protegida vai desde a Linha de Preamar Média6, e avança oito milhas náuticas numa
extensão de 65 km de costa. Manguezais, bancos de corais e importantes
ecossistemas marinhos estão protegidos na reserva, que está no grupo das unidades
de conservação de uso sustentável – cuja orientação é o uso adequado dos recursos
naturais pela própria comunidade, modelo diferente do que ocorre nas unidades de
proteção integral como os parques.

A demanda para a criação da Reserva surgiu dos próprios pescadores. Segundo


7
relatos levantados pelo consultor em processos associativistas Ronaldo Lobão ,
pescadores da Ponta do Corumbau começaram a se mobilizar para a proteção de sua
área de pesca de camarão, em 1.998, pois era grande a presença de barcos “de
fora”. Com o apoio de instituições locais, a Reserva foi criada dois anos depois.

O litoral da Resex é diversificado e os moradores do entorno são influenciados


pelas questões socioambientais do panorama existente no entorno do Parna
Descobrimento, como as plantações de eucalipto, assentamentos de reforma agrária,
territórios indígemas, uso intenso de agrotóxicos nas monoculturas de mamão e

6
Essa linha delimita a área de Marinha que é de propriedade da União e ainda não foi demarcada na região, sendo uma
competência da Secretaria do Patrimônio da União (SPU). A linha marca também o limite Oeste da Resex.
7
LOBÃO, Ronaldo. Relatório Parcial – Projeto: Fortalecimento da Gestão Participativa do Uso dos Recursos
Pesqueiros na Resex Marinha de Corumbau. Prado, BA: junho, 2005.

14
maracujá influenciam a paisagem. Somados a estas questões, ainda existe forte
especulação imobiliária, influenciada pelo turismo cada vez mais freqüente em quase
todas as localidades da Resex.

A diversidade cultural no entorno da Resex Corumbau é diferente em relação as


comunidades rurais trabalhadas no entorno do Parna Descobrimento. Apesar das
atividades relacionadas a pesca e coleta de mariscos ainda serem marcantes – a
Resex têm atualmente 420 extrativistas cadastrados – nem todos os filhos de
pescadores trabalham nessa atividade. E praticamente todas as comunidades do
entorno (com exceção da aldeia indígena Bugigão, Nova Caraíva e Curuípe/Espelho)
possuem representatividade no Conselho Deliberativo da Resex.

Em Cumuruxatiba, Corumbau, Caraíva e Espelho/Curuípe, o turismo é fonte de


renda direta, especialmente no verão, quando é grande o fluxo de turistas em
pousadas e restaurantes e muitos moradores trabalham nessa atividade. Mesmo
quem vive da pesca, no verão tem outras fontes de renda, alugando casas, por
exemplo.

Além disso, é forte a presença de pessoas “de fora”, principalmente mineiros,


capixabas e paulistas, não só como proprietários de empreendimentos, mas com
presença em cargos públicos, como professores e diretores da rede pública.

Computadores com acesso a internet começam a chegar aos poucos nessas


localidades. Cumuruxatiba recebeu um infocentro (com computadores gratuitos para
a população acessar a internet) no segundo semestre de 2.009 e Barra Velha possui
um laboratório de informática estruturado na escola da aldeia, com um funcionário
ensinando os alunos diariamente. Já as escolas municipais de Veleiro, Corumbau e
Caraíva receberam computadores, ainda não instalados pelas Prefeituras (a previsão
é a de que isso ocorra em 2.010). Lan-houses existem em Cumuruxatiba e Caraíva.

Parte das breves informações que seguem abaixo constam do Relatório Parcial do
consultor Ronaldo Lobão e também há informações obtidas junto aos participantes
das oficinas de educomunicação, que fazem parte das comunidades descritas, e
ainda alguns dados sobre as escolas presentes nessas comunidades, conseguidos nas
Secretarias de Educação. Assim como para com as comunidades trabalhadas em
Prado, esses dados são importantes para a compreensão do processo de apropriação
e de produção dos jornais comunitários, pois o nível de escolaridade influencia esse
processo e interfere nas iniciativas de continuidade de projetos envolvendo
educomunicação.

15
No próximo capítulo deste relatório, Resumo das Oficinas: a Percepção das
Comunidades Sobre o seu Pedaço, haverá uma descrição mais detalhada sobre o
que os participantes consideram importante no lugar onde vivem, sua relação com o
meio ambiente e as instituições presentes na região.

Cumuruxatiba

36 km separam Prado do
distrito de Cumuruxatiba, vila de
pescadores que no final do século
19 teve suas areias monazíticas
exploradas até a década de
1.970. Desse período há um
marco na paisagem da praia
próxima a vila, as ruínas de um
píer que serviu de apoio para a
exportação de areia. Figura 5: pescador na praia de Cumuruxatiba
Foto: Carol Neves, moradora de Cumuruxatiba
Aproximadamente cinco mil
pessoas espalham-se pela parte baixa (o centrinho), parte alta (Morro da Fumaça e
Cantagalo e rural, onde vivem agricultores e índios pataxós – alguns deles dentro da
área do Parque do Descobrimento. Ainda há pescadores, mas também pousadas,
restaurantes, bares e um pequeno comércio local, e a vila fica bastante movimentada
no verão e muitos moradores ocupam-se em trabalhos temporários.

Em Cumuruxatiba há três escolas públicas municipais de nível razoável em relação


a média das escolas no município – duas delas, a Antonio Climério (1ª a 4ª séries) e a
Algeziro Moura (5ª a 8ª e Ensino Médio), estão entre as escolas de Prado que
receberam as maiores notas nas provas do Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (IDEB), criado pelo Governo Federal para avaliar o ensino brasileiro.

A vila ainda abriga um cursinho pré-vestibular mantido pela Universidade Estadual


da Bahia. Há também uma certa movimentação cultural em relação a outras
localidades da Resex, com grupos de capoeira, dança afro-indígena e percussão. A
localidade ainda possui uma lan-house e um infocentro (com computadores gratuitos
para a população acessar a internet) recém inaugurado.

Total de participantes da comunidade nas oficinas: 10.

16
Vizinho a Cumuruxatiba, Imbassuaba é um pequeno núcleo próximo a
Cumuruxatiba, com pescadores representados na Associação dos Pescadores
Artesanais e Amigos da Costa do Descobrimento (APAACD). Parte da comunidade
também sobrevive da agricultura familiar. Próximo está a barra do Rio Cahy, lugar
onde a esquadra de Cabral. Não há escola no local e seus estudantes dirigem-se a
escolas em Cumuruxatiba e no assentamento Dois Irmãos.

Total de participantes da comunidade nas oficinas: 1.

Veleiro

A 40 km de Cumuruxatiba, a vila está distante da praia a partir de uma caminhada


de 10 minutos. Cercada por fazendas, tem aproximadamente 200 pessoas que vivem
da pesca, do trabalho nas propriedades locais e da agricultura familiar. Próximo há
também uma aldeia indígena pataxó denominada Tauá.

No local existe uma escola municipal de 5ª a 8ª séries e EJA, em uma bem


estruturada construção que também conta com laboratório de informática. Alunos de
Corumbau também vem estudar nessa construção, erguida por um proprietário rural
local.

Total de participantes da comunidade nas oficinas: 2.

Corumbau

A 10 km de Veleiro chega-se a
Corumbau e Ponta do Corumbau, que
reúne um tradicional vilarejo de
pescadores que dividem as praias com
turistas de alto poder aquisitivo, que se
hospedam nas poucas, mas
sofisticadas pousadas desse trecho do

Figura 6: Barco na Ponta do Corumbau litoral. Grande parte de seus


Foto: Débora Menezes moradores são descendentes de índios
pataxós, que residem na aldeia vizinha de Barra Velha e ajudaram a formar a vila do
Corumbau na década de 1950 – quando um massacre na aldeia indígena levou vários
pataxós a fugirem e se estabelecerem em outros trechos desse litoral.

Corumbau é conhecida por suas lideranças que ajudaram a criar a Reserva


Extrativista. A pesca é focada principalmente no camarão. A pequena escola municipal
17
local atende alunos de 1ª a 4ª séries e recebeu computadores este ano, mas o
laboratório só será instalado em 2.010.

Total de participantes da comunidade nas oficinas: 2.

Barra Velha

Atravessando o rio Corumbau, a 6 km fica o


Território Indígena de Barra Velha, dentro do Parque
Nacional de Monte Pascoal e no entorno da Resex.
Contando com as aldeias de Barra Velha, Bugigão,
Pará, Campo do Boi, Porto do Boi e Meio da Mata,
vivem nessa área de 8.627 hectares aproximada-
mente três mil pessoas. Barra Velha é considerada a
“aldeia-mãe” do grupo.

Grande parte de seus habitantes vive da produção


de artesanato com sementes, vendidos aos turistas
de Prado a Porto Seguro e para os turistas que

Figura 7: entrada de Barra Velha visitam o local a partir de Corumbau ou Caraíva.


Foto: Débora Menezes Quem mora mais distante da vila central, em
pequenos sítios, pesca e mantém pequenas roças de mandioca, além de árvores
frutíferas.

A escola local atende cerca de 700 alunos do Ensino Infantil ao Ensino Médio, com
direito a disciplina de língua patxohã (de origem pataxó). Na escola há um laboratório
de informática e um funcionário para ensinar os passos básicos no computador e na
internet. Na aldeia ainda está sendo estruturado um ponto de cultura. A cultura
indígena, aliás, é valorizada em apresentações de dança e música, dentro e fora da
aldeia, em ocasiões especiais como festas.

Total de participantes da comunidade nas oficinas: 2.

18
RESUMO DAS OFICINAS: A PERCEPÇÃO DAS

COMUNIDADES SOBRE O SEU PEDAÇO

A metodologia para a mobilização e desenvolvimento das oficinas já foi descrita em


relatório anterior. Entretanto, para compreender e avaliar como o significado do
processo de produzir jornal comunitário para os participantes, alguns pontos
importantes precisam ser destacados novamente.

MOBILIZAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Parna Descobrimento

A orientação do gestor da UC foi a de


procurar algumas lideranças locais que
mantêm contato constante com a
instituição Parque Nacional do
Descobrimento, para iniciar o
planejamento coletivo das oficinas, e
propôr a eles um trabalho de mobilização
para trazer participantes. Basicamente,
são lideranças das associações de
moradores/produtores rurais das
comunidades de Pontinha I, Pontinha II e
Riacho das Ostras. Primeiro de Abril
entrou posteriormente, embora não
esteje na divisa com o Parque está
relativamente próximo, tem Figura 8: cartaz com as decisões sobre as oficinas,
estrutura
em reunião realizada no Riacho das Ostras
para a realização de oficinas e sua Foto: Débora Menezes
liderança era próxima ao gestor.

O processo de busca de participantes foi por meio de três reuniões realizadas em


julho e início de agosto de 2009, para explicar os objetivos das oficinas, pensar
formas de mobilizar participantes e formatar como as oficinas seriam realizadas. Uma
das lideranças do Riacho das Ostras, Dernivaldo de Sousa Alves, chegou a imprimir
convites para distribuir entre os jovens de sua comunidade.

19
A partir dessas reuniões o formato da oficina foi definido - cinco encontros de oito
horas, às quartas-feiras, com visitas guiadas pelas comunidades onde as oficinas
seriam realizadas, para que todos tivessem a oportunidade de conhecer um pouco de
cada uma delas. Essa sugestão fez a diferença para o grupo, que pode conhecer
realidades diferentes, e ainda influenciou a produção de pauta dos primeiros jornais
comunitários.

Durante essas reuniões, a falta de apoio financeiro para a alimentação do grupo


durante o curso foi questionada. A crítica geral era a de que “o Parque está dando um
curso mas nós é que temos que pagar para participar”. Após muita negociação foi
entendido que a idéia era que o próprio grupo se organizasse para a alimentação,
como exercício de mobilização comunitária, e ficou combinado que as compras de
cada dia seriam divididas pelo grupo que estaria recepcionando as oficinas –
utilizamos espaço do Primeiro Abril para o primeiro e último dias, de Pontinha na
segunda e quarta oficina, e de Riacho das Ostras na quinta oficina.

Nessas reuniões também ficou acordada a logística de transporte dos grupos para
cada local de realização de oficinas, o qual foi disponibilizado pelo Parque.

Vale destacar, também, que muitos comunitários não entenderam os objetivos


reais de “participar uma oficina para fazer jornal sem impressão garantida”, mesmo
sabendo que o processo de articulação para garantir esse apoio financeiro seria
estimulado durante o curso. Ainda assim, o grupo de participantes inicial se manteve
praticamente até o final da capacitação. Um total de 25 pessoas participou da
primeira oficina, sendo que até o final do curso restaram 19 participantes.

Comunicação – O processo de mobilização para as oficinas trouxe a tona uma


questão interessante para o grupo de participantes, grande parte deles lideranças em
suas comunidades: como trazer pessoas que estão fora dos processos participativos?
É importante destacar que praticamente as mesmas pessoas participam das
formações oferecidas pela UC, das reuniões do plano de manejo, entre outros, e todo
esse universo circula a um número muito reduzido de pessoas.

Para refletir sobre isso, os participantes sistematizaram problemas e soluções


envolvendo a questão da comunicação:

20
Problemas de comunicação Propostas de solução
O fluxo de informações dentro de Cada liderança precisa ter mais
cada comunidade é ruim. compromisso com a comunicação do
que acontece para sua comunidade.
E ter o hábito de reuniões regulares,
pelo menos há cada 15 dias – o
mesmo vale para o grupo que quiser
garantir a continuidade do processo
de fazer jornal.

O curso foi mal divulgado. Produzir folhetos sobre os próximos


cursos para distribuir. Usar rádio e
cartazes nos ônibus escolares para
chamar os jovens.

Os jovens das comunidades estão A partir do primeiro número do


afastados dos processos de jornal a expectativa é a de que os
mobilização e de oportunidades jovens entendam a iniciativa de
como as do curso. mobilização, produção coletiva e
melhora da auto-estima.
Falta de continuidade de atividades. Melhor organização coletiva e
compromisso.

Resex Corumbau

Assim como no Parna Descobrimento, o gestor da Resex indicou lideranças locais


para iniciar o planejamento das oficinas e o processo de chamar participantes. A
princípio, o foco das oficinas seria em Cumuruxatiba, por questões de logística e
porque um grupo local já havia participado de uma pequena formação em jornal
comunitário8.

Foram realizadas duas reuniões entre julho e agosto de 2009, sendo que na
primeira, o grupo seria responsável por indicar participantes. Nas comunidades mais
distantes não houve reunião, apenas conversas com algumas lideranças em Veleiro e
Corumbau. Na segunda reunião, lideranças de Corumbau e Caraíva questionaram
porque havia preferência para Cumuruxatiba.

8
Em 2006, junto a uma equipe do jornal O Timoneiro, de Caravelas.
21
A mobilização para essas oficinas foi problemática por causa de conflitos internos
da comunidade e da falta de entendimento sobre os objetivos da produção de um
jornal comunitário. Provavelmente porque a Resex sempre foi focada na mobilização
de pescadores, a consultoria de educomunicação foi muito questionada sobre o
público das oficinas não ser o de pescadores ou de ter “não-nativos” participando das
mesmas. Esses conflitos internos entre os comunitários de Cumuruxatiba são comuns
nos processos de mobilização para reuniões, formações oferecidas pela Resex e outras
instituições.

Durante essas reuniões foi definida a formatação do curso, em três finais de


semana. O grupo também combinou a hospedagem (por conta da localidade que
receberia a oficina), a alimentação (paga por pessoa) e o transporte (apoio da Resex
para os participantes de Corumbau e Veleiro até Cumuruxatiba). Não foi possível
realizar oficinas em Corumbau, pois o período de oficinas coincidiu com uma época de
chuvas fortes e a estrada é bem precária. E assim como aconteceu com o Parna, a
instituição Resex foi questionada sobre a falta de apoio para a alimentação durante o
curso.

Ao todo, participaram das oficinas 16 pessoas.

É importante destacar que a primeira oficina teve apoio da Resex Corumbau no


fornecimento de itens de alimentação para o grupo, que não conseguiu se mobilizar
para isso nesse primeiro momento.

22
Figura 9: Primeira oficina do Parna Descobrimento, na comunidade de Primeiro de Abril. Ao lado, a
primeira oficina da Resex Corumbau, em Cumuruxatiba. Abaixo, momentos de dinâmicas nas duas
oficinas, respectivamente – os participantes Antonio (Riacho das Ostras) e Erinelza (Pontinha), e Sérgio
(Veleiro) e Renata (Barra Velha) se apresentam.
Foto: Débora Menezes

Comunicação – Na primeira oficina o grupo debateu sobre a mobilização para o


curso e a comunicação em geral, o que ela representa paras as lideranças e as
comunidades. Assim como ocorre com o entorno do Parna Descobrimento, aqui
também as mesmas pessoas participam das formações oferecidas pela UC, das
reuniões do plano de manejo, entre outros, e todo esse universo circula a um número
muito reduzido de pessoas.

Para refletir sobre isso, os participantes sistematizaram problemas e soluções


envolvendo a questão da comunicação. E apontaram pontos interessantes, como a
presença de “filtros” para selecionar pessoas. Outro ponto a destacar é que as
comunidades do entorno da Resex receberam rádios transmissores para se
comunicarem, mas esses rádios “ficam na mão” de poucos, que nem sempre
compartilham seu uso.

A Resex também foi bastante comentada no quesito comunicação. Reclamam que


informações e pesquisas feitas na região não circulam de forma apropriada entre as

23
comunidades. Comentaram sobre a presença de pesquisadores e consultores, e sobre
promessas de instituições que prometeram melhorias, mas nunca retornaram para as
comunidades trazendo os resultados de forma concreta.

É importante destacar que todos os problemas levantados existiram durante as


oficinas e durante o processo de produção do jornal. Colocá-los no papel ajudou o
grupo a perceber como é possível trabalhar esses problemas para melhorá-los,
embora a maioria deles tenha raízes mais profundas, nas relações sociais que se
estabelecem nas comunidades da Resex e que já foram apontadas por consultores
anteriores.

A seguir, os problemas e soluções apontados pelo grupo:

Problemas de comunicação Propostas de solução


Faltou compartilhar o rádio. Manter o rádio ligado 24 horas em
local acessível.
Rádio não é usado como deveria. Usar várias formas de comunicação
para divulgar novos cursos
(telefone, impressos, cartazes).
Falta de compromisso dos Maior compromisso dos envolvidos.
envolvidos.
Falta de articulação. Filtro como Encontrar formas de agregar mais
instrumento de seleção.
pessoas aos grupos de mobilização.
Falta de informação. Jornal como forma de
conscientização da comunidade.
Não há retorno dos trabalhos de Propôr para os pesquisadores
pesquisa realizados na Resex. formas de envolver a comunidade
em seus trabalhos. Exemplo: um
grupo da comunidade poderia ser
convidado a participar da pesquisa.

BIOMAPA – (RE) CONHECENDO O MEU PEDAÇO

Parna Descobrimento

Essa etapa foi uma das mais importantes dentro da propostas das oficinas. É por
meio do desenho de um mapa da comunidade, feito coletivamente e com referências
importantes apontadas pelo grupo (rios, pessoas, igrejas, curiosidades, pontos
negativos e pontos positivos), que se inicia o processo de despertar sobre o que é

24
importante destacar e melhorar nas comunidades – e que geram temas para a
produção dos jornais.

Os grupos se dividiram em três mapas, o de Primeiro de Abril, o de Riacho das


Ostras e o da Pontinha. As referências limitaram-se ao entorno de onde o grupo
presente vivia. O grupo do Riacho, por exemplo, apontou mais o que estava em volta
do centro do assentamento, que é grande. A Pontinha mostrou a divisão entre os dois
lados da estrada que segue de Prado e Itamaraju e divide a comunidade. Já os
presentes de Primeiro de Abril limitaram-se a mostrar mais a região do centro
comunitário. Todos apontaram a história e a memória como pontos positivos
importantes.

Curiosamente, há locais dentro do assentamento que nem parte dos próprios


assentados conhece – é o caso de uma represa, a qual conhecemos na última oficina,
durante uma saída fotográfica.

Os grupos de Riacho das Ostras e de Pontinha apontaram pouquíssimos aspectos


negativos de sua comunidade nesse primeiro exercício. Só posteriormente, durante
visita guiada realizada no Riacho (quarta oficina) é que o grupo apontou como
negativo o desmatamento excessivo da área quando da chegada dos assentados, no
final da década de 1980. Durante visita realizada na Pontinha (segunda oficina), o
grupo conheceu a produção do beiju e os problemas decorrentes dessa produção –
falta de higiene, despejo de resíduos de maneira incorreta, entre outros.

Pontinha
Pontos Negativos Pontos positivos
• Só apontaram a localização da • Encontro Anual de Pescadores no
estrada dividindo a comunidade e vale do Jucuruçu.
a falta de segurança na circulação
• Paisagem do Vale do Jucuruçu.
das pessoas em decorrência disso.
• Moradoras antigas como Tia Lica,
• que são a memória viva.
• Projeto Balde Cheio, iniciativa da
Embrapa Pecuária para geração de
• renda a produtores de leite.
• O beiju como patrimônio local.
• A história de “Caboclo de Oséas”,
fundador da comunidade.
• Farinheira Modelo.

Riacho das Ostras

25
Pontos Negativos Pontos positivos
• Alambique comunitário desativado • Seu Almiro, morador mais antigo.
e abandonado.
• Mudança da cultura da mandioca
• Solo enfraquecido. para a do maracujá.
• Lote de um dos moradores
vizinhos ao Parque , bom para o
turismo.
• Fabricação de iogurte e de queijo
por alguns comunitários.
• Agricultura orgânica de algumas
roças locais.

Primeiro de Abril
Pontos Negativos Pontos positivos
• Plantações de eucalipto no entorno • Histórico de resistência dos
afetam a qualidade das águas comunitários.
locais.
• Centro de Formação Comunitária.
• Plantações de mamão no entorno
• Agricultores que investiram na
afetam a qualidade das águas
agricultura orgânica como
locais.
Agnaldo, que trabalha com biogel.
• Planejamento da comunidade
• Jaqueira – ponto histórico.
preocupa – haverá lugar para
filhos e netos de assentados no
futuro?

Figura 10: Horta orgânica na comunidade de Primeiro de Abril e biomapa da Pontinha


Fotos: Débora Menezes

26
Resex Corumbau

A experiência do biomapa foi importante para o grupo presente nas oficinas da


Resex. Não foi possível por questões de logística visitar todas as comunidades
representadas além de Cumuruxatiba (Veleiro, Corumbau, Barra Velha), mas por meio
do levantamento do negativo e positivo em cada comunidade, foi possível identificar
pontos em comum – principalmente a identidade pataxó e os problemas
socioambientais.

Foram realizados dois mapas, um de Cumuruxatiba e Imbassuaba e outro


agregando Veleiro, Corumbau e Barra Velha. O mapa de Cumuruxatiba foi o mais
elaborado de ambas as turmas, Parna e Resex, pois apontaram não apenas o núcleo
principal de suas comunidades, mas um espaço geográfico que incluiu o entorno e
suas relações: as plantações de eucalipto, a cultura do mamão, os rios, as aldeias
indígenas, o Parna Descobrimento, a parte alta e a parte baixa da comunidade e o
assentamento vizinho a Imbassuaba (Modelo).

Cumuruxatiba
Pontos Negativos Pontos positivos
• Monocultura de eucalipto e sua • Meninas do bordado na Areia Preta
relação com os rios e o solo.
• Espaço cultural informal na vila.
• Ponte do Japara Grande – estrada
• Seu Odemir no Cantagalo.
Cumuru a Prado.
• Dona Zabelê Pataxó, na Aldeia Tibá.
• Especulação imobiliária na Areia
Preta/privatização da praia. • Aldeia Pequi.
• Contaminação da represa pela • Memória dos trabalhadores da
cultura do mamão. Comsempe.
• Poluição do rio da Barrinha e • Morro da Fumaça com mata de
desmatamento da Mata Ciliar, no mussurunga (muita biriba pra fazer
centro da vila. berimbau).
• Extração de areia e desmatamento • Cocadas de dona Lucinha e dona
provocado pela Comsempe. Neuza.
• Desmatamento e especulação • Nema Cumuru.
imobiliária no Morro da Fumaça. • Seu Cosme, morador antigo.
• Falta de planejamento territorial
• Baleias.
para o crescimento da vila.
• Associação de Pescadores em
• Lixão que vai mudando de lugar. Imbassuaba.
• Desmatamento do mangue na
• Assentamento Modelo.
Pousada Rio do Peixe.
• Dona Jovita da Aldeia Cahy.
• Privatização do acesso às praias –
problema da Barra do Cahy.
• Rio Imbassuaba poluído pela
monocultura do eucalipto.

27
Corumbau
Pontos Negativos Pontos positivos
• Especulação imobiliária. • Posto de saúde construído por um
empresário local.
• Expulsão dos moradores do
Bugigão. • Casa do Poeta Honorato.
• Defumador de camarão cuja
fumaça incomoda moradores em
volta (um deles está doente).
• Esgoto no mangue.

Barra Velha
Pontos Negativos Pontos positivos
• Biblioteca queimada e ainda não • Uso da biblioteca ainda ativa.
reconstruída.
• Centro Cultural Indígena, que atua
• Viveiro do Sebrae abandonado. como ponto de cultura.
• Lideranças locais (Pajé, Romildo). • Turismo organizado pelos locais.

Veleiro
Pontos Negativos Pontos positivos
• Igrejas evangélicas muitas vezes • Presença de igrejas evangélicas.
desmobilizam a luta comunitária.
• Resex como fator de
• Falta de fiscalização. empoderamento.
• Tráfico de animais silvestres. • Pesca artesanal a vela.
• Desmatamento do Parque do • Aldeia Tauá.
• Descobrimento próximo dali e das • Mobilização das comunidades
aldeias com problemas atrapalha a indígenas.
identidade indígena.
• Sede da associação e escola.
• Falta de preparo para receber a
energia elétrica que chegará.
• Privatização das praias – falta de
acesso fechado por fazendas.

Figura 11: Ao lado, trecho do biomapa de Cumuruxatiba. 28


Acima, biomapa de Barra Velha, Veleiro e Corumbau.
CANAIS DE INFORMAÇÃO: A RELAÇÃO COM AS INSTITUIÇÕES LOCAIS

Essa ferramenta utilizada em atividades de Diagnóstico Rural Participativo (DRP) foi


adaptada para as oficinas de educomunicação, com o objetivo de fazer com que o
grupo reconhecesse as relações entre os atores sociais, as comunidades e as
instituições que fazem parte de seu meio.

Foi proposto aos participantes que inicialmente apontassem as instituições que


conheciam e que tinham relações com a comunidade; que indicassem o grau de
importância dessas instituições e o desenhassem em bolas de cartolina. O grau de
importância seria definido por pequeno, médio e grande. Em seguida, deveriam
apontar a distância dessas instituições em relação ao Nós, isto é, no que diz respeito
ao acesso a informações dessas instituições e a proximidade delas com as
comunidades.

O reconhecimento das instituições e da falta de comunicação entre elas e as


comunidades apontou caminhos para a pauta dos jornais comunitários das duas UCs –
muitos dos assuntos abordados nos biomapas têm a ver com essa rede de relações,
que precisa ser construída tanto pelos comunitários – como cidadãos em busca do
direito de acesso a informação – quanto pelas instituições – que tem o dever de
informar/esclarecer as pessoas sobre o seu papel.

Ao longo do processo de produção dos jornais comunitários, parte dos participantes


visitou algumas instituições para conhecer melhor o que fazem, como o Ministério
Público, o ICMBio – Parna Descobrimento, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
o Instituto de Meio Ambiente da Bahia (IMA). Muitos desses visitantes desconheciam
alguns desses órgãos e nem mesmo apontaram alguns deles no diagrama comentado
abaixo – caso do IMA. Também desconheciam o Fundo Municipal de Meio Ambiente,
mantido pela secretaria municipal de meio ambiente para o fomento de projetos de
educação ambiental locais.

Embora o papel de cada órgão ainda seja confuso para a maioria dos participantes,
a possibilidade de conhecer sua atuação e apontá-la nos jornais mostrou-se uma
ferramenta atraente para os comunitários. Sem esse conhecimento/acesso a
informação sobre o que fazem esses órgãos, a mobilização – e por conseqüência os
processos de educação ambiental – ficam mais difíceis.

É importante destacar ainda que na região trabalhada, muitos desses órgãos (caso
do próprio IMA e da FUNAI) ficam em cidades vizinhas ao município de Prado. A
distância entre as comunidades e esses órgãos é ainda maior por esse fator. Soma-se
a isso o fato de que internet ainda não é realidade, especialmente nas comunidades

29
rurais – e o esforço de comunicação de determinados órgãos em disponibilizar
informações pela rede virtual não é válido como única ferramenta para garantir o
acesso a informação.

Diagrama - Parna Descobrimento

A construção do diagrama nas oficinas do Parna foi um trabalho demorado e que


gerou muito debate entre os presentes, principalmente por que duas das comunidades
tem forte ligação com o MST e outras não. Como o diagrama era para ser elaborado
entre as três comunidades, tiveram que chegar em consenso. Os próprios
simpatizantes e participantes do MST também lembraram que o Movimento não está
tão próximo assim das comunidades, embora tenha sua importância histórica.

A maioria dos participantes apontou como mais próximas as instituições que


prestam serviços diretos a suas comunidades, ou que fazem propaganda na televisão.
E não apontaram o ICMBio, apenas o Ibama, inicialmente, quando alguém lembrou
que os carros agora têm adesivo do ICMBio. Não citaram órgãos públicos importantes
para a realidade local, como o Ministério Público, e IMA.

Terminado o diagrama, foi comentado pela consultora sobre as instituições que não
apareceram e iniciado um pequeno debate sobre como essa proximidade poderia ser
melhorada, e qual a relação entre esse diagrama e a questão dos direitos e deveres
da oficina anterior. A experiência serviu para que as comunidades ainda
compartilhassem problemas comuns.

30
Figura 12: Diagrama de Venn realizado pela Pontinha, Primeiro de Abril e Riacho das Ostras

Diagrama - Resex Corumbau

Como o grupo maior de participantes é de Cumuruxatiba, surgiram como


importantes e próximas à comunidade as instituições culturais locais, que não
necessariamente estão próximas das outras comunidades presentes na Resex – caso
da Acaic, por exemplo. Também apontaram que algumas instituições, como a Aspav,
só parece próxima às comunidades porque seu representante, Zeca do Veleiro, é ativo
no grupo.

A maioria dos órgãos federais e estaduais foram apontados como distantes, mas de
grande importância - caso do ICMBio, FUNAI, Funasa e INCRA. Os participantes
também não sabiam a função de muitos desses órgãos, como o IMA, e a diferença
entre eles. Algumas lideranças lembraram, ainda, que embora existam aldeias
indígenas na região e ainda conflitos de terra envolvendo-as, a FUNAI é um órgão
distante, de difícil comunicação com as comunidades. E tanto na Resex, quanto no
Parna, ainda se confunde os nomes e as funções do ICMBio e IBAMA.

31
Também apontaram a ong NEMA (Núcleos de Estudos do Meio Ambiente de
Cumuruxatiba) como órgão importante, mas ela está temporariamente desativada.

Figura 13: Diagrama de Venn realizado por Cumuruxatiba, Imbassuaba, Veleiro, Corumbau e Barra Velha.

32
PLANEJAMENTO DOS JORNAIS COMUNITÁRIOS

A última etapa das oficinas foi dedicada ao planejamento dos jornais e reflete todas
os debates e reflexões propostos ao longo dos cursos. Reflete, também, os anseios
pessoais e coletivos de cada comunitário.

É importante destacar que o momento de se pensar “porque e para que serve o


jornal”, tanto o grupo do Parna quanto o grupo da Resex preocuparam-se em indicar
a valorização da cultura local e do acesso a informações.

O município de Prado não possui nenhum jornal impresso em circulação. Os poucos


jornais que aparecem por aqui são das cidades vizinhas de Teixeira de Freitas e
Itamaraju, que dizem abordar “toda a região do Extremo Sul” e acabam abordando
muito pouco sobre o litoral, priorizando reportagens sobre política e boletins policiais.
Também há sites com noticiário sobre a região na internet, que sofrem da mesma
limitação.

Os participantes das oficinas de educomunicação fizeram exercícios de análise


crítica de alguns desses veículos de comunicação locais e constaram que o espaço que
se dá a cultura das comunidades rurais e de pescadores é “pouco ou nulo”. Daí a
preocupação em abordar esse universo em seus jornais comunitários, para mostrar a
população coisas positivas que não aparecem nos veículos da região.

Figura 14: Fazendo a leitura crítica de jornais da região, nas oficinas da Resex e do Parna.
Fotos: Débora Menezes

Planejamento do jornal - Parna Descobrimento

Iniciamos o processo de planejamento convidando os participantes a refletirem:


para que serviria um jornal? Quem seria o público? Os alunos demonstraram especial
interesse em levar o jornal para além dos limites da comunidade, afirmando que as
33
pessoas da cidade não conhecem o que fazem as comunidades rurais e têm
preconceito em relação as pessoas que vêm dessas localidades.

É curioso como a preocupação do grupo estava mais em mostrar o jornal para o


município do Prado do que para as comunidades do entorno. Dernivaldo explicou que
“existe muito preconceito e pouco entendimento sobre quem mora no meio rural”, e
muitos alunos do interior da cidade estudam nas escolas da zona urbana. Para
Dernivaldo, o jornal traria auto-estima a quem pertence a zona rural.

Curiosamente, na hora de escolher um nome para o jornal o grupo priorizou títulos


mais “urbanos” e termos em inglês – News, Diário. Só depois de muito debate
chegaram ao nome O OITI, uma fruta típica da região, encontrada nas três
comunidades, que simbolizaria o que elas têm em comum. O aluno Tiago dos Santos
se responsabilizou pelo desenho-logotipo do jornal comunitário, e além da fruta,
acrescentou formigas levando folhas a um formigueiro – indicando o trabalho coletivo
do grupo que estava fazendo o jornal.

Já a escolha das pautas iniciais espelha o que importa para cada comunidade
participante. O grupo de Primeiro de Abril indicou os temas “história do Primeiro de
Abril”, e “biogel – adubo orgânico”. O grupo da Pontinha indicou a “história do beiju” e
“memória de Caboclo de Oséas”, fundador da comunidade. Já o grupo de Riacho das
Ostras sinalizou interesse em escrever sobre agricultura orgânica e o fato de gerar
“saúde para quem consome e dinheiro para quem produz”, e outra matéria sobre a
questão da saúde no bairro onde moram – um dos postos de saúde foi fechado e o
agente comunitário de saúde não passa com frequência na casa dos moradores.

Para esse levantamento de


pauta, os grupos foram
orientados a escolher o tema,
os objetivos dessa matéria,
pessoas que poderiam ser
entrevistadas, fontes de
pesquisa, formato/gênero da
matéria. Percebe-se a
dificuldade em indicar fontes
para além das próprias
comunidades, pois muitos
Figura 15: Construindo o jornal comunitário no Parna
Foto: Débora Menezes desconhecem os canais e as
instituições responsáveis que poderiam contribuir com suas matérias.

34
PLANEJAMENTO JORNAL O OITI
Data de lançamento

17 de outubro.
Porque/ para que (objetivos do jornal)

Mostrar a realidade local de forma diferente do que a mídia normalmente mostra.

Divulgar os produtos locais feitos pelas comunidades rurais.

Expôr problemas locais e apontar soluções.


Facilitar o acesso da comunidade às instituições locais, chamando a atenção dos leitores
para seus direitos e seus deveres.

O que é (descrição do jornal)

Jornal no formato A4 (papel jornal), 6 a 8 páginas.

Textos, fotos e desenhos (quadrinhos, charges) sobre temas importantes.

Número de exemplares: 1.000.


Página 1 – Capa.

Página 2 – Expediente, editorial, charge.

Página 3 – Assuntos da cidade: saúde, educação. Apresentação de uma instituição local


para a comunidade.
Página 4 – Reportagem Especial. Receitas.

Páginas 6 – História das comunidades. Ficha da Planta – Curiosidades e informações sobre


plantas que existem nas comunidades.
Página 7 – Entretenimento: história em quadrinhos, caça-palavras, memória de
personagem local.

Página 8 – Reportagens sobre agricultura.

Para quem (público leitor do jornal)

As três comunidades locais – Pontinha, Riacho das Ostras, Primeiro de Abril – e outras
comunidades rurais.

Meio urbano – Prado, Itamaraju, Teixeira de Freitas.

Como o jornal será distribuído

Reuniões e assembléias das associações comunitárias.

Reunião do conselho de agricultura.

Igrejas e escolas (deixando como arquivo).

Pontos estratégicos em Teixeira de Freitas e Itamaraju – feiras.

Instituições em Prado: prefeitura, ongs, associações, Câmara dos Vereadores.

Durante reunião da Conferência Municipal de Cultura (dia 17).

35
Recursos que temos para produzir o jornal/como buscar

Diagramação do jornal: computador Débora e do Sindicato dos Produtores Rurais (Tiana


vai solicitar apoio para 5 a 7 de outubro).

Máquina fotográfica: uma emprestada do Parque com Dernivaldo (Riacho),


Erinelza/Jackson (Pontinha)

Impressão do jornal:

Conversa com o proprietário da gráfica em Teixeira, para conseguir desconto;

Rifa da Pontinha;

Pessoal da Pontinha irá tentar os fazendeiros da região;

Riacho das Ostras vai verificar possibilidade de usar resíduos do eucalipto e contato com
pousadas em Prado.

Sr. Pimentel/Imobiliária ao lado Prefeitura.


Para os contatos, grupo vai levar um folheto para conseguir apoio junto a comerciantes e
fazendeiros. Em troca do apoio, haverá espaço no jornal para a logomarca do apoiador.

Para o futuro... recursos que precisaremos para viabilizar os próximos jornais


Tinta para impressora e papel sulfite.

Apoio do telecentro para a produção do jornal.

Máquina fotográfica para o grupo.

Transporte para a produção de reportagens, idas a gráficas, etc. Na forma de passagem


de ônibus ou ajuda com combustível.

Alimentação para a ida de produção de matérias.

Diagramação e impressão.
Idéia de pensar um “valor-caixa” mensal para despesas com transporte, alimentação,
materiais (pilha para a máquina, por exemplo), etc.

Planejamento do jornal – Resex Corumbau

O planejamento do jornal foi bem objetivo. O grupo escolheu o nome do impresso


(Tanara, que significa natureza em língua patxohã, dos pataxós), e decidiu
coletivamente como seria o jornal, quais seus objetivos, como seria distribuído, e para
quem, que recursos seriam necessários para sua produção. Durante todo o tempo, os
participantes acordaram que o público principal do jornal seriam os próprios
comunitários. Mostraram preocupação de que o jornal não fosse voltado para turistas
– embora necessitem de apoio financeiro que pode vir por meio das pousadas,
acreditam que o impresso é importante não para divulgar atrações turísticas, mas
focar na educação ambiental dos freqüentadores da região.

36
Após as decisões sobre como o impresso seria feito, os grupos se dividiram para
produzir as pautas do jornal. A divisão foi feita pelas pessoas que ficariam
responsáveis por cada matéria ou tema sugerido. Esse foi um dos momentos mais
importantes das oficinas, embora nem todo o grupo do primeiro dia tenha participado.
O debate sobre a aproximação com as instituições e a preocupação em informar as
comunidades com qualidade e valorizar o seu espaço já se refletiram nos objetivos
propostos pelo grupo para o jornal, e transpareceram ainda mais no detalhamento da
pauta abaixo.

É interessante destacar que os conflitos relacionados a articulação e mobilização do


grupo que apareceram desde as primeiras reuniões também pontuaram as conversas
sobre as pautas. Quando um grupo sugeriu falar da situação das estradas de terra
que ligam Prado a Cumuruxatiba e essa a Corumbau, denunciando o descaso das
instituições públicas, parte do grupo manifestou preocupação em abordar o assunto
criticando a Prefeitura, por receio de contrariar interesses e criar problemas pessoais.

Esse exercício de reflexão e de debate sobre cada uma das pautas foi um dos
pontos positivos das oficinas. Conversando, negociando, o grupo entendeu que o
jornal comunitário é um trabalho coletivo, de posicionamento e de fortalecimento de
representantes da comunidade preocupados com a qualidade de vida, a cultura e o
ambiente locais, e que preocupações como a citada acima podem ser superadas pela
união do grupo.

Figura 16: grupo se organiza para planejar o jornal Tanara; à direita, detalhe da pauta produzida pelas
participantes de Barra Velha. Fotos: Débora Menezes

37
PLANEJAMENTO JORNAL TANARA

O que é (descrição do jornal)

Jornal no formato A4 (papel comum), dobrado ao meio, com 12 páginas, colorido.

Jornal-mural no formato A3, colorido, com o resumo do jornal maior.

Textos, fotos e desenhos (quadrinhos, charges) sobre temas importantes

para as comunidades da Resex.

Número de exemplares: 500 inicialmente

Conteúdo

Página 1 – Capa.

Página 2 – Expediente, editorial, charge.

Página 3 – Meio Ambiente (dicas de educação ambiental, quadrinhos).

Página 4 – Denúncias e Reclamações.

Páginas 5 e 6 – Reportagem Principal.

Página 7 – Complemento da Reportagem Principal/outros.

Página 8 – Eventos culturais.

Página 9 – Voz da Comunidade – Perfil com a memória de um morador antigo.

Página 10 – Cultura Pataxó.

Página 11 – A decidir.

Página 12 – A decidir.

Para quem (público leitor do jornal)

Comunidades da Resex – de Cumuruxatiba a Caraíva.

Comunidades do entorno (rurais, indígenas).


Turistas que frequentam a região da Resex (em geral, e mergulhadores que não
permanecem muito tempo e não interagem com a comunidade).

Frequentadores de Teixeira e Itamaraju

Porque/ para que (objetivos do jornal)

Fortalecer a comunicação/o fluxo de informações entre as comunidades.

Conscientizar para o exercício da cidadania.

Esclarecer o papel da Resex.

Como o jornal será distribuído

Festa da Resex – 19 e 20 de setembro.

38
Lideranças das comunidades se comunicarão por rádio para organizar a distribuição ao
longo da costa a partir de Cumuruxatiba (contato em Cumuru: Bete).

Escunas de passeio podem levar a Corumbau e distribuir aos turistas e as comunidades.

Exemplares em pousadas e restaurantes de Cumuruxatiba e Corumbau.

Pontos estratégicos em Teixeira de Freitas e Itamaraju.

Instituições (ongs, governo).

Recursos que temos para produzir o jornal/como buscar

Máquina fotográfica: ICMBio/Resex (solicitar – está com Débora); Bete (Cumuru), Veleiro
(Zeca), Corumbau (Içara). Meninas de Barra Velha solicitarão ao cacique.

Computadores para digitação dos textos: em Cumuru, há um no Jandinho, outro no


Nema, e ainda na escola (precisa de autorização). Não há computador em Corumbau
(precisa combinar com as meninas usar quando vierem a Prado ou a Cumuru na semana
da diagramação). Em Barra Velha as meninas precisam de autorização.

Para viabilizar um curso de diagramação

Ecrever ofício para solicitar o uso do infocentro para o curso e entregar para a Prefeitura.

Verificar local para hospedagem dos dois instrutores do curso e alimentação;

Escrever ofício solicitando a presença dos instrutores a uma universidade local (Débora).

Impressão do jornal
Escrever ofício solicitando apoio para a impressão de 500 a 1000 exemplares do jornal e
50 jornais-murais, seguindo o descritivo acima, avisando que o jornal terá espaço para
anúncio da gráfica e de anunciantes que derem o apoio.

Escrever ofício contando sobre a produção do jornal, sua importância para a educação
ambiental, estimativa de valor necessário para a impressão, etc.,

para levar a reunião do Conselho Municipal do Meio Ambiente (Condema) esta semana,
via representante de Cumuru (Nema).

Checar junto ao MP a possibilidade de usar recurso de transação penal para a produção do


jornal (terá que ter uma associação comunitária parceira).

Para o futuro... recursos necessários para viabilizar os próximos jornais

Tinta para impressora e papel sulfite.

Apoio do telecentro para a produção do jornal.

Máquina fotográfica para o grupo.


Transporte para a produção de reportagens, idas a gráficas, etc. Na forma de passagem
de ônibus ou ajuda com combustível.

Alimentação para a ida de produção de matérias.

Diagramação e impressão.

Observação: quando escreverem um projeto para o jornal, pensar um “valor-caixa”


mensal para despesas com transporte, alimentação, materiais, (pilha para a máquina, por
exemplo), etc.

39
O PROCESSO DE PRODUÇÃO DOS JORNAIS

Comentários gerais sobre o processo

A produção dos jornais comunitários O OITI e Tanara ocorreu nas semanas que se
seguiram após a realização da última oficina em cada grupo de comunidades. O
planejamento proposto no capítulo anterior incluiu um cronograma, que não pode ser
seguido 100% porque os participantes já estavam ocupados com outras atividades.
Além disso, ter que ir atrás de parceiros para financiar o primeiro jornal prejudicou
um pouco o andamento da produção de reportagens.

Embora tenha tido seus atropelos – falta de participação de todos, de organização


do grupo (principalmente de comunicação entre os que se propuseram a fazer o
trabalho), de preparo para escrever textos e de falta de equipamentos para a
produção (gravador, computador, máquina fotográfica), foi possível realizar os jornais
a tempo de serem lançados nos prazos previstos pelos próprios grupos – dia 20 de
setembro, quando foi lançado o Tanara, e 17 de outubro, com O OITI.

O conhecimento que os grupos adquiriram para produzir as reportagens foi o fator


mais importante do processo de educomunicação. Eles tiveram acesso a informações
e instituições que não conheciam ou que não compreendiam, fizeram entrevistas com
a postura de comunitários, e não de meros repórteres, observando e absorvendo os
temas trabalhados para seu cotidiano, perderam a timidez para conversar com os
entrevistados, entenderam a necessidade de várias visões sobre o mesmo assunto,
despertaram para a importância de se “cobrar corretamente” das instituições a
melhoria de sua qualidade de vida, refletiram sobre o papel da mobilização
comunitária para essa melhoria.

Por terem sido processos com características diferentes para as comunidades


ligadas a Resex e ao Parna, serão descritas abaixo e separadamente:

40
Figura 17: Dois momentos de produção do jornal: entrevistando o promotor Wallace Carvalho de Mesquita de Barros, e
fechando as matérias do jornal. Fotos: Débora Menezes.
TANARA

O jornal das comunidades no entorno da Resex foi produzido e lançado antes do


grupo ligado ao Parna. O grupo preferiu concentrar as oficinas em menos tempo,
realizando-as aos finais de semana concentrando aos sábados e domingos, para que o
jornal fosse lançado no dia 20 de setembro – data da festa de comemoração dos nove
anos da Resex. Esse evento é um marco para as comunidades, e o grupo optou por
“correr” com o processo para lançar o jornal durante a festa, realizada em Corumbau.

O grupo só teve duas semanas para a produção do jornal, e abandonou a idéia


inicial de fazer um jornal-mural, por falta de tempo. Foi combinado com os
participantes das comunidades distantes que enviassem materiais escritos a mão,
caso não pudessem contar com e-mail. O grupo de Cumuruxatiba, com mais
participantes, mais recursos (computador, máquina fotográfica) e mais próximo de
Prado, se responsabilizou pela maioria das reportagens. Um dos participantes, Marciel,
chegou a ir de moto até Barra Velha para buscar informações, fotografias e ajudar as
participantes de lá em uma reportagem sobre o artesanato pataxó.

A maioria das matérias foram produções coletivas, sendo que a maior parte dos
textos foi finalizada pela professora Eliane Brandão, que é coordenadora pedagógica
em uma escola local. A maioria dos participantes, no entanto, ajudou a construir os
textos, assim como as entrevistas e o levantamento das informações. Para escrever a
reportagem sobre a Resex, houve um extenso debate entre os comunitários de
Cumuruxatiba para se chegar ao texto final.

As reportagens mais trabalhosas levaram dois representantes do grupo a Prado,


para a realização de entrevistas. Uma delas foi sobre as péssimas condições das
estradas de terra que ligam Prado a Cumuruxatiba, e Cumuruxatiba a Corumbau.
Antes de realizar as entrevistas, o grupo teve acesso a uma notícia de um site local9
sobre o mesmo tema, informando que a obra de conserto de uma ponte na estrada,
que é responsabilidade da Prefeitura, ficou impossibilitada por que a obra foi
embargada pelo Ibama.

O grupo observou nessa reportagem que as instituições citadas não foram ouvidas
– só a Prefeitura, mas não o Ibama – e entendeu que seria necessário conversar com
todos os envolvidos para saber mais sobre o assunto, e entrevistou o representante
do ICMBio, o promotor público local, o secretário de Obras, além dos moradores que
utilizam as estradas.

9
Prado/Cumuruxatiba: por falta de manutenção em ponte, estrada poderá ser interditada. Notícia publicada no site Sul
Bahia News em 12/8/2009, disponível em http://www.sulbahianews.com.br/ler.php?doc=3897.
41
Zeca do Veleiro conversou com o secretário de Obras do município, Luis Ramos,
para saber porque a estrada que liga Prado a Cumuruxatiba ainda não foi arrumada.
E em visita ao Ministério Público, Emerson Nascimento Matos Neves e Eliane Brandão,
de Cumuruxatiba entrevistam o promotor Wallace Carvalho Mesquita de Barros, que
informou a necessidade da população utilizar esse órgão para fazer denúncias e
acompanhar o que acontece na cidade – no caso das obras de melhoria das estradas,
por exemplo.

Interessante destacar que a estrada que liga Cumuruxatiba a Corumbau está em


situação muito mais precária, e o promotor orientou o grupo a registrar os problemas
dessa estrada e encaminhar ofício de reclamação ao MP, para que sejam tomadas as
devidas providências. Todas essas informações entraram na reportagem de forma
clara e objetiva.

Essa visita ainda teve acompanhamento de dois repórteres comunitários do grupo


ligado ao Parna, e um deles não conhecia o MP e sequer sabia a função do órgão.

A reportagem de capa do jornal teve a Resex Corumbau como destaque. Por


questões de organização, não foi possível abranger outras comunidades que fazem
parte da reserva, ficando as entrevistas restritas a Cumuruxatiba. Entretanto, o
resultado também foi positivo e reflete os anseios em relação a Resex de uma forma
geral – afinal, a reserva criada para proteger o patrimônio dos pescadores é tema
comum a todas as comunidades do entorno. A matéria tenta mostrar para que serve
uma reserva, como a Resex Corumbau foi criada, como cada cidadão que mora no
entorno deve fazer para a Resex se tornar realidade. “Não se pode ter vergonha de
falar, de conhecer e brigar pelos seus direitos. Aquele que se cala está fadado a ser
explorado e ficar com o que sobra”, lembra um dos textos. Na medida do possível, a
matéria também tenta explicar um pouco sobre o que é uma unidade de conservação,
o que é um plano de manejo, a função do conselho deliberativo.

O primeiro número tem outros destaques. Foram descritas as principais festas


tradicionais da aldeia Barra Velha; a forma como o artesanato da aldeia, principal
fonte de renda das tribos pataxós, é produzido; um histórico das festas da Resex com
espaço para agradecimento aos patrocinadores da nona edição10; e uma matéria com
a experiência de um morador de Cumuruxatiba que recolhe óleo para transformar em
sabão. Também houve espaço para charges e histórias em quadrinhos, além de um
editorial que cita a chegada do jornal como “a voz da Resex”: “Tanara chegou para

10
As festas da Resex são geridas pelas comunidades. Este ano, a responsabilidade foi de Corumbau. A idéia de colocar
os patrocinadores da festa no jornal foi decidida durante a produção da pauta na última oficina.
42
ser voz, informando, dando a oportunidade de pensarmos juntos sobre os anseios e
necessidades de uma comunidade dona de uma reserva extrativista”.

A impressão de 500 exemplares do jornal seria de R$ 400 – ou R$ 600, caso


fossem mil exemplares. Somente às vésperas do envio do arquivo para a gráfica é
que dois participantes conseguiram apoio dos comerciantes de Cumuruxatiba para
garantir a verba para a impressão de 500 exemplares. Não foi possível conseguir
arrecadar mais fundos, não só porque tudo foi feito “em cima da hora”, mas porque
muitos comerciantes não estavam confiantes quanto ao lançamento, preferindo
investir a partir do segundo ou terceiro números.

Para o fechamento do jornal, foram utilizados os computadores pessoais de duas


participantes do grupo, além de computadores da ong NEMA-Cumuru, disponibilizado
pela participante Juliana Sagakawa. O impresso foi feito na gráfica Benegraf, enviado
pela consultora em arquivo fechado (PDF), e os jornais impressos foram levados a
Corumbau “de carona” com uma VAN que estava a serviço da Festa da Resex.

Lançamento do TANARA – Apenas uma pessoa entre os participantes das


oficinas de Cumuruxatiba, a liderança Elisabete da Cruz, não participou da produção
do jornal em nenhuma etapa, alegando falta de tempo e de recursos para ir a Prado
realizar entrevistas. Por problemas de comunicação internos do grupo, ela não foi
envolvida no planejamento do lançamento do jornal durante a festa, elaborado pelos
próprios participantes, e não pela
consultora.

Esses participantes escolheram a letra


de música Até Quando, de Gabriel o
Pensador, para promover o lançamento
na festa. A letra tem a ver com o
propósito do jornal, de dar voz as
comunidades. No dia 20 de setembro, o
grupo, incluindo participantes de
Corumbau e do Veleiro, fez uma espécie
Figura 18: Jaqueline, de Corumbau, e Zeca do Veleiro,
lançam o jornal Tanara no palco da Festa da Resex de “jogral” com a música11. Após a
Foto: Débora Menezes

11
Um trecho da letra lida durante a Festa da Resex : “não adianta olhar pro céu com muita fé e pouca luta/Levanta aí
que você tem muito protesto pra fazer e muita greve/Você pode e você deve, pode crer/Não adianta olhar pro chão, virar
a cara pra não ver/Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu/Num quer dizer que você tenha que
sofrer/Até quando você vai ficar usando rédea/Rindo da própria tragédia?/Até quando você vai ficar usando rédea/
Pobre, rico ou classe média?/Até quando você vai levar cascudo mudo?/Muda, muda essa postura/Até quando você vai
ficando mudo? Muda que o medo é um modo de fazer censura”

43
apresentação, Elisabete manifestou sua insatisfação, de forma agressiva, pelo fato de
não ter participado da produção do jornal e nem do lançamento, dizendo que “não há
filhos de pescadores participando do jornal” e que “só tinha gente da Prefeitura
participando do jornal”.

Esse lamentável episódio serviu de alerta ao grupo para que consigam incluir mais
pessoas no processo de produção que envolve o jornal, respeitando a diversidade de
pessoas que compõem as comunidades – pescadores, seus descendentes que não
necessariamente também atuam como pescadores, pessoas que vêm de fora e
contribuem com o local, preocupando com a qualidade de vida e com o coletivo. E que
é preciso avançar nas relações comunitárias melhorando os canais de comunicação –
necessidade apontada desde a primeira oficina e durante todo o tempo, por todos os
participantes.

Muitas comunidades não ficaram satisfeitas com o fato do jornal ser “de” e “para a”
Resex, e não ter a participação de pessoas de outras comunidades além de
Cumuruxatiba. É o grande desafio do grupo de comunicadores comunitários, que já
está planejando o lançamento do segundo número de Tanara em dezembro de 2.009,
com a participação de novos repórteres, incluindo mais comunidades e enfim, fazer o
papel de voz dos moradores do entorno da reserva.

Figura 19: Jackson entrevista a beijuzeira Tia Lica, na Pontinha. À esquera, Antonio, Mara e Bruno escrevem para o
jornal na comunidade do Riacho das Ostras.

O OITI

Os participantes das três comunidades no entorno do Parna Descobrimento tiveram


três semanas para produzir o jornal, que seria lançado durante a Conferência
Municipal de Cultura de Prado, no dia 17 de novembro. A ocasião foi escolhida por se
tratar de um evento que debateria a cultura no município; sendo o jornal uma “voz”

44
para a cultura das comunidades rurais, a Secretaria Municipal de Cultura cedeu
espaço ao grupo para o lançamento.

Diferente do que ocorreu com o grupo da Resex, para facilitar o trabalho do jornal
as comunidades dividiram as páginas e as matérias que produziriam. Cada uma das
comunidades também se responsabilizou por conseguir o recurso para a impressão –
R$ 600, 1.000 exemplares – e manter contato com o restante do grupo para saber o
que conseguiriam obter.

O planejamento inicial da pauta mudou um pouco, conforme o processo de


produção foi avançando. Três comunicadores da Pontinha, após uma pequena palestra
do gestor12 do ICMBio na última oficina, decidiram entrevistá-lo para esclarecer
melhor o papel do ICMBio. Uma das pautas sobre saúde – para esclarecer sobre a
falta de médicos e de agentes de saúde mais atuantes em Riacho das Ostras -
também não foi finalizada. No entanto, a participante Marailde Abaeté, conseguiu
acesso a responsável pelo Programa Saúde da Família (PSF) para obter
esclarecimentos sobre como a comunidade pode “vigiar” o trabalho dos agentes de
saúde, repassando a informação posteriormente, em reuniões da associação de
moradores de sua comunidade.

Todos os textos foram produzidos de forma a “conversar” primeiramente com os


moradores da zona rural, para que se reconhecessem, valorizassem a memória local,
lessem sobre o que importa para seu cotidiano e refletissem sobre soluções para suas
comunidades. A reportagem de capa foi sobre o beiju da Pontinha, elaborada por
moradores dessa comunidade, uma iguaria muito apreciada na região, que precisa,
segundo os comunitários, ser mais valorizada tanto pelos moradores e pelo poder
público local – que precisaria incentivar a produção e a divulgação – quanto pelos
próprios produtores. Embora a matéria não tenha envolvido muitas entrevistas e
pesquisas, chama atenção por apontar soluções para que o beiju seja valorizado.

Riacho das Ostras ficou responsável por um texto sobre agricultura orgânica. Foi
entrevistada a família de um agricultor que trabalha nesse ramo de atividade, e a
matéria também procurou estimular os agricultores em geral a procurarem formação
sobre o tema. Além disso, um comunitário também produziu um texto sobre
agrofloresta, após participar de uma formação oferecida por uma consultora a
comunidades de Unidos Para Vencer e Modelo13, questionando os leitores sobre o

12
Na época (outubro/2009), Eurípedes Pontes Junior.
13
A consultoria “Estímulo a Geração de Renda Para Pequenos Agricultores na Zona de Amortecimento do Parque
Nacional do Descobrimento” foi realizada pela engenheira florestal Jandaíra Moscal. A formação foi voltada para as
comunidades de Unidos Para Vencer e Modelo, mas um dos alunos das oficinas de educomunicação, Antonio Francisco
Dias (Riacho das Ostras), participou como ouvinte.
45
porque de não se optar pela agrofloresta, “sistema de plantação onde as culturas
agrícolas se unem com as matas”, segundo o texto, que estimula: “seria bom se cada
agricultor experimentasse esse jeito de plantar, para convencer os outros agricultores
a fazer o mesmo. Só que para isso, é preciso ajuda técnica. Procurar os sindicatos
rurais para que consigam essa ajuda é uma boa solução, assim como conhecer os
agricultores da região que trabalham com isso, como Agnaldo Ribeiro, do Primeiro de
Abril”.

O jornal ainda abriu espaço para as histórias das comunidades de Primeiro de Abril
e de Riacho das Ostras, comunidades formadas a partir de acampamentos de pessoas
ligadas ao Movimento dos Sem Terra (MST). É interessante destacar que durante as
oficinas, ambos os grupos afirmaram que existe muito preconceito na região em
relação aos assentados. Colocar no jornal comunitário a memória de como surgiram
essas comunidades, como foi a luta pela terra, é uma forma de se auto-valorizar e de
garantir a história relatada a partir do ponto de vista das próprias comunidades.

Houve também espaço para a memória de um morador da Pontinha conhecido


como Caboco de Ozéas, uma receita culinária, um passatempo elaborado por Lavínia
Oliva – de oito anos, filha de um dos participantes das oficinas, Jackson Oliva – e uma
charge com uma coincidência curiosa. No período de fechamento do jornal houve uma
reunião do Conselho Consultivo do Parna onde foi mostrado um video indicando que o
parque sofre com desmatamentos feitos “as escondidas”, em áreas que a princípio
parecem ter árvores, mas sobrevoando-as a partir de um helicóptero, percebe-se que
estão sendo desmatadas. Pois o participante Tiago dos Santos, da comunidade de
Primeiro de Abril, mesmo sem ter visto o video criou o desenho abaixo, por inspiração
própria. A percepção de um dos problemas ambientais da região foi expressada por
meio da charge:

Figura 20 – Charge de Thiago Santos

46
O grupo teve dificuldade em elaborar os textos. As lideranças, acostumadas a
escrever atas de reuniões, reescreveram seus materiais sobre agricultura orgânica
algumas vezes. Os participantes que são alunos em fase de alfabetização acabaram
não participando de nenhuma reportagem. Muitos estavam ocupados com o trabalho
da lida na roça, e não puderam comparecer ao fechamento na data combinada.

A diagramação ficou sob responsabilidade da consultora, com apoio da participante


Sebastiana de Jesus, que tem uma escola de informática e disponibilizou seus
equipamentos (computador, scanner e internet) indispensáveis para a produção do
jornal. O Sindicato dos Produtores Rurais, representado pelo comunitário Rogério da
Silva Santos, colaborou disponibilizando telefone fixo e celular para algumas ligações,
e disponibilizando ainda alimentação para alguns integrantes do grupo.

Houve dificuldade também na organização e comunicação para o levantamento dos


recursos financeiros para a impressão. Tudo o que foi planejado pelo grupo – rifas,
conversas com comerciantes – acabou não sendo feito na prática. Houve uma
tentativa de convencer alguns comerciantes de Prado, a anunciarem no jornal, mas a
maioria disse que preferia “esperar” pelo primeiro número. Alguns comunitários, como
Dernivaldo, reclamaram que é grande o preconceito dos moradores locais a respeito
de membros do MST, daí a dificuldade em conseguir apoio.

Às vésperas da entrega do arquivo em PDF na gráfica – que após uma conversa


com um comunitário da Pontinha, cedeu desconto de R$ 100 no orçamento – a
solução encontrada para garantir a impressão de 1.000 exemplares do jornal foi a de
utilizar uma verba disponibilizada com apoio do Parna para a Associação dos Pequenos
Produtores Rurais da Pontinha II14. A verba ainda foi utilizada para pagar as
lembranças distribuídas no lançamento do jornal (150 mini beijus) e para pagar
almoço de participantes em um curso de diagramação posterior ao jornal.

Figura 21: Sebastiana de Jesus apresenta o jornal na conferência. Ao lado, o beiju distribuído como lembrança.
Fotos: Jaco Galdino e Débora Menezes

14
Acordo realizado por intermédio do Parna com produtores de eucalipto permitiu que associações de moradores do
entorno tivessem acesso a cortes dessa madeira para uso próprio e venda, com renda em benefício das comunidades.
47
Lançamento do O OITI – A Conferência Municipal de Cultura de Prado teve o
objetivo de iniciar um processo no Poder Público de incentivo e fomento aos grupos
culturais locais. Foram realizadas palestras sobre temas ligados a questão cultural, o
que e porque precisa ser incentivado, e posteriormente realizadas grupos de
discussão para encaminhar sugestões para a Conferência Territorial de Cultura – que
seria realizada dali uns dias em Porto Seguro, promovido pela Secretaria Estadual de
Cultura.

A Secretaria Municipal de Cultura deu espaço na programação para o lançamento


do jornal, oficialmente na hora do almoço, e buscou participantes das comunidades de
Pontinha e Riacho das Ostras para essa participação. Além disso, a consultora foi
convidada a conduzir o eixo temático de discussão sobre Cultura, Cidade e Cidadania,
no qual foi falado sobre o papel do jornal comunitário para valorizar a memória e a
cultura das comunidades locais.

Além da apresentação dos jornais O OITI e Tanara – cujos participantes estavam


presentes no evento, apresentando os grupos Ser Movimento, Curumim Batuque e
Abada Capoeira – o cineasta e produtor cultural Jacó Galdino, de Caravelas, trouxe a
experiência do jornal comunitário O Timoneiro e o video Não Mangue de Mim,
produzido com a participação de comunidades rurais e ribeirinhas do município
vizinho.

A participação dos repórteres comunitários foi muito positiva, principalmente


porque eles não teriam acesso a esse evento, pois não têm oficialmente grupos
culturais nessas comunidades que garantissem sua inclusão. E os participantes
fizeram contribuições muito interessantes durante todos os debates. Dona Natalice
Oliva, agricultora e moradora da Pontinha, por exemplo, respondeu no microfone a
uma educadora que reclamou da falta de programação cultural nos veículos de
massa: "eu acho que a culpa é nossa. Se a programação está ruim é só desligar a
televisão".

Já uma professora da rede pública, que não se identificou, durante um debate para
trazer propostas culturais para o município, lembrou da falta de memória e sugeriu o
incentivo de produções coletivas com a história do local contada pelos próprios
moradores, conduzido por professores.

Cidadania é também dar valor a cultura local, e criar mecanismos para se expressar
esse valor, como os meios de comunicação comunitários. Pois cultura não é só

48
comprar livros, ir a shows ao cinema. É também difundir o que importa para o seu
próprio povo e o jornal O OITI cumpriu essa função.

Figura 22: momentos da aula de diagramação na faculdade FASB, em Teixeira de Freitas


Fotos: Débora Menezes

Diagramação: a parceria com a FASB

Embora o objetivo principal da educomunicação seja o processo educativo de se


fazer mídia comunitária, o produto final – no caso, jornal – é o resultado concreto do
esforço coletivo de pessoas que participam de oficinas de educomunicação. É a forma
com que o grupo pode apresentar seus anseios, e apresentar a comunidade em geral
o que fizeram. Faz bem a auto-estima ter um jornal impresso bem feito, com “cara de
jornal” (os próprios comunitários descartaram a possibilidade de elaborar jornais
escritos a mão, por exemplo), mostrar a família, ser valorizado em um evento, ou
junto a órgãos públicos.

No entanto, produzir jornal depende de algum conhecimento mínimo sobre


diagramação, que é o procedimento de se fazer o jornal em um computador. Para
enviar o jornal a uma gráfica, é preciso desenhá-lo antes em programas gráficos como
o Corel Draw, o InDesign; é possível também utilizar o programa WORD, para jornais
mais simples. Tudo isso envolve um conhecimento técnico que em oficinas curtas de
educomunicação não é possível trabalhar, ainda mais com um público que nunca teve
contato com essas ferramentas e não está totalmente familiarizado com o uso de
computadores.

A consultora tem experiência em diagramação e preencheu essa lacuna para a


produção dos primeiros jornais, e posterior encaminhamento para uma gráfica em
Teixeira de Freitas. Não foi possível encontrar parceiros locais para essa função. Como
já foi citado anteriormente, o município não tem jornais impressos e nem agências de
49
comunicação especializadas em produção gráfica. Gráficas e agências ficam em
Teixeira de Freitas e em Itamaraju, respectivamente a 78 km e 52 km de Prado.

No entanto, como solução para a produção dos próximos impressos, foi feito
contato com a Faculdade do Sul da Bahia (FASB), em Teixeira de Freitas, que resultou
em um mini-curso de diagramação em WORD e Corel Draw, para um grupo de 10
participantes das oficinas de Cumuruxatiba, Pontinha, Primeiro de Abril e Riacho das
Ostras que já tinham noções básicas de computação. Dois professores da FASB
ofereceram noções básicas de diagramação no laboratório de informática da
faculdade, de forma voluntária, fornecendo ainda material didático. A realização do
curso foi possível com a contratação de motorista e VAN e combustível conseguido
pela Resex Corumbau, e a alimentação foi doada, em parte, pelo restaurante Cheiro
Verde, de Teixeira de Freitas.

A FASB oferece um curso de jornalismo que está na primeira turma e no primeiro


ano (2009). Há 21 alunos matriculados, a maioria já atuando profissionalmente em
jornais, TV e rádios da região. Dois dos alunos são do município de Prado, mas ainda
não trabalham na área de comunicação. Em outubro de 2009, a consultoria fez uma
palestra sobre educomunicação e sobre o projeto que estava sendo desenvolvido em
Prado, convidando os alunos a participarem como voluntários junto ao grupo de
educomunicadores, promovendo oficinas de fotografia, diagramação, divulgando o
trabalho.

A coordenadora do curso, Amabele Aguiar mostrou-se muito interessada em


parcerias mas explicou que o curso de jornalismo é novo e está se estruturando. Os
alunos ainda nem passaram pela disciplina de diagramação, por exemplo, que é
normalmente oferecida no terceiro ano. Também foi conversado sobre a possibilidade
de uma participação mais efetiva do curso de jornalismo, por exemplo, um programa
de extensão, mas por enquanto a faculdade está sem verbas para isso. Entretanto,
explicou que tem interesse em realizar, no primeiro semestre de 2.010, um novo
curso de diagramação, mais extenso,

Os alunos de jornalismo se mostraram dispostos a colaborar, divulgaram as ações


de educomunicação em seus veículos, mas explicaram que infelizmente não têm
tempo para atuar aqui em Prado com grande freqüência.

O curso de diagramação foi positivo, estimulou os alunos a entenderem um pouco


sobre se desenha um jornal. Não foi suficiente para dar 100% de autonomia na
produção, mas incentivou ao grupo a aprender mais sobre o assunto posteriormente.

50
Também foi realizado contato com a jornalista Raquel Galvão, que trabalha na
Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, em Teixeira de Freitas. Ela se disponibilizou
a fechar o próximo jornal Tanara (em dezembro de 2.009) como voluntária. Raquel
conheceu o grupo de comunitários durante a Conferência Municipal de Cultura,
realizada em Prado, quando do lançamento do jornal O OITI.

Entretanto, diagramar jornal dá trabalho e contar com a participação voluntária de


pessoas nesse tipo de produção é complicado. O ideal é que os grupos se organizem,
aprendam a diagramar e busquem contato direto com comunicadores e gráficas para
a realização de seus jornais.

51
AVALIAÇÃO COLETIVA DO PROCESSO DE

EDUCOMUNICAÇÃO

Essa avaliação está dividida em três partes: a participação dos alunos nas reuniões
de conselho do Parna e da Resex, e nas conferências de cultura; a mobilização para o
processo de avaliação e de evento final, reunindo os grupos ligados às duas Ucs, no
dia 7 de novembro; e a avaliação individual ao final de todo o processo.

Embora a produção dos jornais também possa ser considerada como parte da
avaliação dessa consultoria, optou-se por esses três recortes por mostrarem também
o significado desse trabalho junto as comunidades.

Atuando no Conselho da Resex

No dia 29 de agosto, após a


realização da última oficina,
alguns participantes do grupo
de educomunicação se
apresentaram durante a 28ª
reunião do Conselho
Deliberativo da Resex
Corumbau. As impressões dos
participantes foram positivas e
apontaram o que já foi relatado
anteriormente: a comunicação Figura 23: Tetah, de Cumuruxatiba, expõe sobre o jornal no Conselho
Foto: Nanda Azevedo, moradora de Cumuruxatiba
entre as comunidades é um
desafio que precisa ser superado, para que a mobilização em prol da qualidade de
vida dos pescadores na Resex aumente cada vez mais.

Zeca do Veleiro apontou que o curso foi bom para “abrir nossas mentes para a
comunicação”, enquanto Jaqueline da Conceição, de Corumbau, lembrou que as
oficinas “foram um meio de interagir com outras comunidades”. Sua irmã e também
participante das oficinas, Issara, ainda pediu aos conselheiros que comuniquem sobre
as reuniões, já que nem toda a comunidade pode participar, e explicou sobre a
importância do jornal para esse processo de comunicação.

52
O jornal comunitário é uma “boa desculpa” para que os comunitários tenham
acesso a informação e ainda entendam melhor porque é necessário que ela flua. A
reclamação geral de que o curso foi “mal comunicado” é a mesma para a maioria das
ações que envolvem mobilização de pessoas para reuniões dentro do território do
entorno da Resex. Reuniões, cursos, oficinas, viagens que fazem parte do dia-a-dia da
movimentação em torno dessa mobilização não são divulgados as comunidades; essas
informações ficam restritas ao grupo mais próximo da gestão da UC.

O reconhecimento dessa problemática foi o fator mais positivo reconhecido pelos


participantes das oficinas. Mais do que aprender a fazer jornal, entender que é preciso
avançar na comunicação.

Não se trata apenas, como foi citado na reunião do Conselho, contratar um


estagiário responsável por ligações telefônicas aos conselheiros e participantes. Trata-
se, mais ainda, de pensar a comunicação inclusiva, que não deve se preocpar apenas
com a divulgação de informações, mas com a forma e a totalidade que ela deve
atingir nas comunidades.

Na reunião seguinte do Conselho – realizada no dia 14 de novembro – parte do


grupo de atuais repórteres comunitários (sete pessoas ao todo) trouxeram mais duas
colaboradoras da comunidade de Cumuruxatiba que vão atuar no próximo jornal
Tanara, com previsão de lançamento para dezembro de 2009. Distribuíram alguns
exemplares do primeiro número, falaram um pouco sobre as dificuldades de
elaboração do impresso.

Novamente foi lembrado nessa reunião que algumas ongs que atuam com pesquisa
na região da Resex liberam resultados “quando querem e como querem”, tema que foi
apontado no diagnóstico sobre problemas de comunicação, realizado na primeira
oficina. Esse também é um desafio para os repórteres comunitários pensarem: como
interagir melhor com ongs e instituições que trabalham com pesquisas na região, para
entender e contribuir com a gestão das UCs.

Presença no Conselho do Parna

No dia 30 de setembro dois representantes do grupo de participantes das oficinas


foram convidados a falar sobre o trabalho que estavam desenvolvendo – Dernivaldo
Alves, que já faz parte do Conselho, e Marailza Borges. Ambos são da comunidade de
Riacho das Ostras. Infelizmente não houve a possibilidade de mais participantes das

53
oficinas irem a essa reunião para comentarem sobre sua atuação no jornal, por
questões de logística do Parna.

Marailza foi quem mais falou. Ela comentou que por meio das oficinas, conseguiu
“entender um pouquinho” sobre como algumas instituições funcionam (ela visitou o
Instituto de Meio Ambiente da Bahia e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente), e
que ficou sabendo sobre coisas que não conhecia e que deveriam ser melhor
divulgadas para a comunidade – ela deu exemplo do Fundo Municipal de Meio
Ambiente, que disponibiliza verbas para projetos de educação ambiental.

“Não vou deixar de ser agricultora para virar jornalista”, lembrou Marailza,
complementando que ainda assim o trabalho a ajudará muito em seu dia-a-dia.
Quando perguntada sobre o que ela entendeu das conversas e debates dessa reunião,
ela explicou que é um “universo muito novo” que ela não fazia idéia e nem estava
compreendo tão bem, mas que foi importante sua participação para entender melhor
a função do Parna, as relações com as comunidades do entorno e os problemas
enfrentados pela UC.

Assim como aconteceu com os participantes das oficinas da Resex, junto as


comunidades trabalhadas no entorno do Parna a comunicação para a mobilização
também é um desafio, pois muitas informações, mesmo as do Conselho, não são
repassadas as comunidades de maneira adequada.

A participação dos repórteres


comunitários nas reuniões de
conselho podem ser positivas não só
para o grupo, mas ainda para os
próprios conselheiros e gestor da UC.
Essas reuniões são restritas e
precisam ser melhor compreendidas
pela comunidade, até para que se
cobre das UCs e das instituições
Figura 24: Dernivaldo e Marailza, do Riacho das Ostras, se envolvidas e interessadas a respeito
apresentam na reunião do Conselho junto a consultora
Foto: Ernandes Ferreira do que é apresentado. O mesmo vale
para reuniões onde a participação da comunidade é permitida, caso dos conselhos de
Meio Ambiente, Educação, Saúde e Cultura.

54
Participação nas conferências de cultura

Durante a realização da Conferência Municipal de Cultura de Prado, participaram do


lançamento do jornal O OITI 15 alunos das oficinas de educomunicação do Parna
Descobrimento. Três deles participaram dos grupos de trabalho que discutiram
propostas para o tema “cultura e cidadania” – Marailza Borges, Sebastiana Maria de
Jesus, Edinalva de Jesus, Dernivaldo Alves e Bruno Santos, das comunidades Primeiro
de Abril e Riacho das Ostras. O grupo da Pontinha não pode participar dos grupos de
trabalho porque teriam reunião em sua associação de moradores na parte da tarde.

Sebastiana e Ednalva falaram sobre o jornal O OITI durante o Grupo de Trabalho e


sobre a importância dessa ferramenta para mostrar às comunidades rurais que
também produzem cultura, e que faltam mecanismos para mostrar essa cultura que
não é só música ou dança, mas memória, culinária, entre outros. Foi encaminhada
pelo grupo, após essa exposição, a recomendação de que “é preciso incentivar a
produção coletiva pela própria comunidade para difundir cultura”.

Essa participação foi muito positiva. Os comunitários ligados a Resex já estavam


presentes na Conferência porque têm grupos culturais interessados no tema. Já as
comunidades rurais estavam totalmente excluídas do processo.

Na Conferência Municipal foram eleitos delegados representantes do município para


a Conferência Territorial de Cultura, realizada nos dias 22 e 23 de outubro em Porto
Seguro. Nessa conferência, que reuniu representantes de 22 municípios, seriam
discutidas sugestões de propostas do território do Extremo para uma grande
conferência estadual final. A partir dessas sugestões, podem ser definidas políticas
públicas sobre cultura, programas e projetos sobre o tema.

Dois delegados de Cumuruxatiba


foram eleitos, ambos também
repórteres comunitários do Tanara
– Eliane Brandão e Welton Reis de
Souza. Ainda representando o
município, Sebastiana Maria de
Jesus, da comunidade de Primeiro
de Abril, e Marailza Borges, de
Riacho das Ostras, seguiram para a

conferência (Marailza como Figura 25: Grupo de trabalho discutindo propostas durante a
Conferência Territorial de Cultura, em Porto Seguro. A moradora
suplente de uma delegada que foi de Riacho das Ostras, Marailza Borges, participou como delegada.
Foto: Nanda Azevedo, moradora de Cumuruxatiba
55
eleita e não pôde participar). Além desse grupo, Fernanda Azevedo, de Cumuruxatiba,
também foi a conferência como repórter comunitária.

O intercâmbio de experiências foi muito importante para o grupo de comunitários e


permitiu também a troca de idéias entre os participantes das oficinas do Parna e da
Resex. Para os que vieram de comunidades rurais, como Marailza, foi importante
entender um pouco mais sobre políticas públicas, como os cidadãos podem contribuir
com a gestão, e principalmente, refletir sobre o quanto é importante participar de
processos que despertem para que as pessoas sejam incluídas no universo de
informações sobre cultura, meio ambiente, educação – e assim, melhorem sua
qualidade de vida.

Marailza Borges, do Riacho das Ostras, escreveu sobre sua participação na


conferência no blog do grupo. Suas impressões:

“Estou numa conferência cultural, como delegada suplente, onde poderemos lutar para que
algum projeto relacionado a cultura seja aprovado.

Hoje, na minha opinião, a nossa cidade que é Prado necessita de um patrimônio cultural
que beneficie a zona rural, no momento e muito carente.

As crianças nem sabem o que é cultura.

Apesar de eu ser adulta, gostaria muito de ver o meu filho viver o que meus pais viveram,
porque a cultura deles foi educativa, hoje as crianças e jovens vivem no mundo da rebeldia,
das drogas, o que não aconteceu com os meus antepassados. Ter a cultura rural valorizada, e
ainda pessoas de lá capacitadas a falar da memória do lugar, ajudaria nossos jovens a gostar
15
mais do espaço em que vivemos” .

Em tempo: os blogs www.ooiti.blogspot.com e www.jornaltanara.blogspot.com


foram abertos pela consultora em outubro, e a participação disponibilizada a qualquer
repórter comunitário disposto a publicar suas impressões. Como não foi uma
ferramenta com formação prevista para as oficinas, poucas pessoas até o momento
estão participando. Mas a experiência foi positiva e espera-se que os próprios
participantes atuais ensinem outros comunitários a utilizarem o blog para difundir
informações sobre suas comunidades na rede virtual.

15
Publicado por Marailza Borges em www.ooiti.blogspot.com, no dia 22 de outubro de 2009.
56
Avaliação coletiva – Reunindo os grupos

Previsto no Plano de Trabalho elaborado para essa consultoria, o encontro final de


avaliação reuniu os grupos de participantes das oficinas do Parna Descobrimento e da
Resex Corumbau foi realizado no dia 7 de novembro de 2009. A forma do encontro, as
atividades previstas e a data foram decididos em reunião realizada durante a
Conferência Municipal de Cultura, um mês antes, aproveitando que grande parte dos
participantes das oficinas estava presente. A idéia de realizar o evento em
Cumuruxatiba foi de conseguir um local adequado a todos os participantes – na
comunidade de Primeiro de Abril, primeiro lugar pensado, a estrutura do centro
comunitário estava ocupada. Posteriormente foi avisado, por telefone, aos
participantes que não estiveram na conferência, para organizar a questão do
transporte.

A programação foi elaborada para


prever avaliação e confraternização.
Foi combinado que haveriam
apresentações de grupos culturais de
Cumuruxatiba, ao ar livre, com a
participação do grupo de maculelê Os
Morcegos, da comunidade de Primeiro
de Abril – um dos integrantes é o
repórter comunitário Thiago dos

Figura 26: Sebastião (Riacho das Ostras), Alexsandro (Primeiro Santos. Os participantes de
de Abril, Alecssandra e Welton (Cumuruxatiba) conversam
sobre a mobilização para as oficinas.
Cumuruxatiba ainda organizaram um
Foto: Débora Menezes baile de forró, que teria a renda
revertida para a produção do próximo jornal Tanara. Ao todo, participaram desse
encontro cerca de 30 pessoas, entre as comunidades de Cumuruxatiba, Veleiro,
Riacho das Ostras e Primeiro de Abril, incluindo os integrantes do grupo de maculelê.

Para garantir a presença dos comunitários do entorno do Parna Descobrimento em


Cumuruxatiba, a consultoria contou com apoio logístico da Resex Corumbau. O gestor
providenciou o pagamento das refeições do grupo e do transporte de emergência para
os comunitários de Primeiro de Abril e Riacho das Ostras - é que houve um problema
com o motorista do ônibus disponibilizado pela Prefeitura pra buscar os comunitários.
Infelizmente, não foi possível providenciar transporte a tempo para buscar os
participantes da comunidade da Pontinha, pois para a realização desse evento final, a
falta de comunicação entre as duas UCs e a transição de gestores do Parna atrapalhou
a busca de recursos para a realização do encontro. Participaram sete pessoas do
57
entorno do Parna, e oito pessoas de Cumuruxatiba, incluindo o representante de
Veleiro.

O atraso na chegada dos comunitários do entorno do Parna diminuiu a


programação prevista pela metade. Ainda assim, foi possível iniciar uma troca entre
os comunitários do entorno das duas UCs, que se dividiram em grupo para fazer uma
avaliação coletiva com propostas de melhoria em três eixos: mobilização e
participação; organização e planejamento de novas oficinas e jornais; e formação,
busca de parcerias e divulgação da proposta de jornais comunitários.

Todos os eixos tiveram conclusões parecidas, sistematizadas no quadro abaixo. Os


principais problemas apontados foram muito parecidos com o do diagnóstico sobre
comunicação realizada na primeira oficina: teria sido muito mais proveitoso o curso se
houvesse melhor comunicação sobre seus objetivos, para mais pessoas, que teriam
que ter socializado melhor as informações.

Após a produção do jornal, os presentes apontaram também que as oficinas teriam


sido mais bem aproveitadas se todos os participantes tivessem entendido os objetivos
do trabalho – que não era apenas o de produzir um jornal, mas se mobilizar e ter
acesso a informações importantes para contribuir a construção da cidadania. Esse é
um fator positivo na avaliação das oficinas: os grupos finalmente entenderam a
importância do processo de educomunicação.

Figura 27: Integrantes do grupo de dança Sermovimento, de Cumuruxatiba, se apresentam antes do grupo de maculelê
Os Morcegos, da comunidade de Primeiro de Abril. Ao lado, participantes das comunidades do entorno do Parna
Descobrimento e da Resex Corumbau, na finalização do encontro.
Fotos: Débora Menezes e Carolina Portes
Entretanto os grupos estavam motivados a continuidade dos jornais comunitários e
sugeriram propostas de trabalhos envolvendo as comunidades ligadas as duas UCs,
especialmente no que se refere a busca de parcerias para novas e específicas
formações, como a de um curso mais extenso de diagramação. As sugestões
levantadas formal e informalmente estão sintetizadas no próximo capítulo deste
relatório, denominado Propostas para a continuidade dos processos de
58
educomunicação. Essa motivação também foi um dos pontos fortes na avaliação. Já
os problemas referentes diretamente a formação foram praticamente os mesmos
apontados no relatório anterior sobre as oficinas. A falta de recursos para alimentação
durante o curso, o tempo muito curto para mobilizar as comunidades a participarem e
a falta de material (computadores, equipamentos fotográficos) foram apontados como
os principais problemas.

Avaliação individual

Após o último encontro foi entregue aos participantes uma ficha de avaliação
qualitativa com 13 perguntas – quem não foi ao encontro recebeu posteriormente.
Dos 20 participantes do entorno do Parna, apenas oito entregaram as fichas. Dos 17
participantes do entorno da Resex, 11 entregaram as respostas. As fichas originais
estão no anexo.

As avaliações são parecidas. A maioria comenta da falta de material para a


realização do jornal, como máquina fotográfica e computador e do ritmo puxado das
aulas. A escolha em concentrar o tempo das oficinas em dias inteiros contribuiu para o
ritmo um pouco lento, mas apontaram ainda a necessidade de mais dinâmicas, filmes,
entre outros.

Apesar da concentração de tempo, todos praticamente explanaram que o tempo de


oficinas foi curto e que poderia ter sido mais longo, com mais conteúdo. Também
citaram interesse em novas oficinas, sobre jornal comunitário e ainda fotografia, video
e diagramação.

O fator positivo mais citado foi o intercâmbio de comunidades promovido dentro


das oficinas. Embora seja trabalhoso agrupar comunidades para os encontros, isso fez
a diferença para os participantes.

Visita a comunidades da Resex Corumbau

A consultora visitou as comunidades do entorno da Resex: Imbassuaba, Veleiro,


Corumbau, Barra Velha e Caraíva, para conversar com as lideranças locais e algumas
escolas sobre a proposta do jornal TANARA e das oficinas de educomunicação. Foi
uma opção pessoal, não prevista no plano de trabalho, facilitada pelo acesso a pé
para as comunidades, pela praia. A visita a outras comunidades do entorno do Parna
não foi possível, pela distância e falta de estrutura logística. Mas esse relato serve

59
como complemento para a avaliação proposta nesse relatório, e contém informações
importantes para sinalizar soluções de continuidade e de melhoramento da proposta
de mídias comunitárias.

Uma das principais lideranças em Imbassuaba, Albino Santana Neves é também pai
de uma das participantes das oficinas. Fundou a Associação de Pescadores Artesanais
da Costa do Descobrimento (APAACD) e está acostumado a utilizar os veículos de
comunicação da região para divulgar reuniões e ações de mobilização, principalmente
as rádios.

É no rádio que Albino acredita como mídia comunitária em potencial. “Na


comunidade pesqueira, pelo menos 40% das pessoas não sabem ler”, lembra a
liderança. A mais ouvida na região, segundo conversas informais16 é a 99 FM, de
Itamaraju, que mantém um programa na hora do almoço com noticiário que inclui a
região de Prado. Seu Albino enxerga um potencial educativo na rádio. “Não existe
nenhum programa na região que fale de meio ambiente. Pode ajudar a esclarecer
assuntos importantes e contribuir para ampliar o conhecimento”, lembra Albino.

Para ele, as pessoas precisam de mídias focadas em temas de maneira crítica, para
que possam ter visões diferentes sobre assuntos que as próprias autoridades locais
não sabem abordar. “Como um prefeito da região que diz que o emperra o turismo
são as unidades de conservação”, explica.

Na comunidade seguinte, Veleiro, a consultoria visitou a Escola Municipal Santa Rita


de Cássia, com 280 alunos vindos também de Corumbau, Agrovila e Palmares (essas
duas são comunidades rurais). A escola é uma das mais bem estruturadas do litoral
entre Cumuruxatiba e Caraíva, e atende do ensino de educação infantil até 5ª a 8ª
séries, incluindo uma turma de EJA. Junto a esses alunos foi feita uma apresentação
do jornal Tanara e lida, coletivamente, a matéria sobre o que é a Resex Corumbau.

A partir dessa leitura os alunos comentaram sobre o que entenderam, e o que


acham dos meios de comunicação locais. Explicaram que nem sempre os programas
de rádio – a que mais escutam é a 99 FM são interessantes, pois falam de muitas
coisas negativas, principalmente de violência. Citaram outra rádio, a Extremo Sul,
porque oferece um horário de recados interativos, onde a comunidade pode participar
mais. A consultora finalizou a visita comentando que “ler é difícil”, mas a palavra
escrita tem uma força que a rádio não tem, e que o jornal serve de estímulo para a
leitura e para guardar a memória das comunidades.

16
Não tive acesso a pesquisas de audiência. Mas há lógica em afirmar que a 99 FM é a mais ouvida: ela é transmitida
em todas as comunidades rurais e de pescadores, incluindo alguns trechos de Porto Seguro.
60
Em Corumbau, a visita resumiu-se a levar jornais para a Escola Municipal José
Ramos, com ensino de 1ª a 4ª séries e EJA. A participante das oficinas, Jaqueline da
Conceição, comprometeu-se a visitar as escola e promover leituras do próximo jornal.

Em Barra Velha, a Escola Indígena Pataxó Barra Velha também é estruturada e


mantém educação infantil ao Ensino Médio para mais de 700 alunos, que também
vêm de aldeias vizinhas. Já há aulas de informática em um laboratório com um
monitor exclusivo para a função.

A participante das oficinas de


educomunicação Renata Ferreira
Nascimento, que estuda na escola,
apresentou o jornal a três salas de aula de
oitava série e Ensino Médio, e fez a leitura
do texto sobre a Resex Corumbau em uma
delas. A princípio, os alunos acharam o
texto com termos complicados – plano de

Figura 28: Renata faz leitura de texto sobre a Resex. manejo, conselho e unidade de
Foto: Débora Menezes conservação não fazem parte de seu
universo. Ninguém nas classes sabia o que era a Resex Corumbau.

Em Caraíva, a visita foi na Escola Municipal de Caraíva, que atende do ensino


infantil até a 8ª série. As participantes das oficinas de educomunicação Issara da
Conceição e Maria da Penha Braz Bonfim apresentaram o jornal para a turma de EJA,
e falaram da importância da comunicação entre as comunidades, convidando também
os alunos a interagirem com o jornal sugerindo matérias e até escrevendo.

Elas ainda fizeram a leitura do editorial e do texto sobre as péssimas condições das
estradas entre Cumuruxatiba e Corumbau, para a turma de EJA. Apesar da matéria
não ser sobre o lugar onde vivem, se identificaram, pois sofrem do mesmo problema
– a estrada que liga a região de Caraíva a Porto Seguro também é muito ruim – e
descobriram coisas novas. Não sabiam, por exemplo, o que e para que servia o
Ministério Público.

A diretora da escola, Iveliny Maria Brito Amorim Miranda, comprometeu-se com os


alunos de EJA a organizarem-se para escrever um texto sobre a história de Caraíva,
para ser publicada no próximo número do jornal Tanara. Será uma das atividades de
“formatura” da turma. Todo esse retorno mostra que o jornal cumpre uma função
educativa importante, desde que se interaja com as comunidades. E que é possível
utilizar formações com outras mídias comunitárias para atingir objetivos positivos.

61
PROPOSTAS PARA A CONTINUIDADE DOS

PROCESSOS DE EDUCOMUNICAÇÃO

A partir do que foi debatido na avaliação final com o grupo e da percepção de todo
o trabalho desenvolvido em pouco mais de três meses de consultoria, foram
elaboradas propostas de solução para as situações-problema apontadas.

Para que a continuidade seja garantida, é preciso pensar não somente nos jornais
comunitários que foram produzidos, mas ainda incluir novas formações e constante
comunicação entre os participantes do grupo de repórteres comunitários, as
comunidades e a gestão das UCs.

Convergir interesses das duas unidades de conservação que precisam trabalhar em


sinergia garante a continuidade do processo de educomunicação, abrindo espaço para
o diálogo entre os públicos diversos e colaborando para a resolução de conflitos, a
busca de interesses comuns, a ampliação do conhecimento sobre as UCs no
município, envolvendo a todos num amplo processo de educação ambiental.

Comunicação e mobilização comunitária

PROBLEMA SOLUÇÃO

Falta de comunicação entre as Realizar formações específicas de


comunidades prejudica a mobilização comunicação comunitária voltada para a
para reuniões, cursos, ações. mobilização.

Falta de comunicação adequada por Incentivar pesquisas para entender o


parte da gestão das UCs junto as quanto as comunidades sabem sobre as
comunidades. Envolvimento se limita a UCs, o papel do ICMBio, para que serve
lideranças que às vezes não repassam o plano de manejo, o conselho, etc.,
informações para suas comunidades. envolvendo as lideranças. Pensar
propostas dentro dos conselhos para
melhorar a comunicação dentro das
comunidades. Utilizar os jornais
comunitários para se comunicar com as
comunidades.

62
Falta de comunicação entre os públicos Organizar palestras, rodas de conversas
dos gestores com as comunidades uma
da outra UC, com mapa para mostrar a
do entorno das duas UCs e as gestões.
influência de uma UC na outra. Incentivo
a teportagens nos jornais comunitários
sobre as UCs. Participação efetiva dos
repórteres comunitários nas reuniões de
conselho, escrevendo atas e relatando os
trabalhos no blog (para uso de todos os
outros conselheiros).

Acesso a informações necessárias a Grupo de repórteres comunitários podem


mobilização comunitária e a educação incluir na pauta dos jornais mais
ambiental junto a instituições informações sobre o papel das
locais/Poder Público é difícil. instituições. Podem também encaminhar
ofícios a estes órgãos, solicitando
mecanismos de liberação das
informações por meio de palestras,
cartilhas e outras formas de
esclarecimento mais interativas, que a
comunidade possa participar.

No caso de instituições que


disponibilizam informações e serviços
pela internet, poderia haver parcerias
entre Prefeitura e essas instituições para
a formação de cidadãos nos infocentros
que estão sendo inaugurados na região.

Planejamento de novas formações

PROBLEMA SOLUÇÃO

Tempo muito curto para as oficinas. Ampliar as oficinas básicas de formação


em cidadania e comunicação comunitária
em no mínimo 60 horas.

Falta de verba para imprimir o primeiro Oficinas de formação envolvendo jornal


jornal a partir das oficinas. comunitário podem prever uma verba

63
para a produção do primeiro jornal.

Oficinas cansativas, de longa duração. Acrescentar mais dinâmicas e diminuir o


tempo de cada oficina, que durou o dia
inteiro, para meio período – esticando a
duração das formações.

Faltou oficina de diagramação, A Fasb pode oferecer um curso.


imprescindível para garantir a produção Comunitários podem entrar em contato
dos jornais. com a coordenadora do curso de
jornalismo, Amabele Aguiar,
encaminhando ofício de interesse no
curso. O ideal é encaminhar esse ofício
ainda em 2.009, para que a
coordenadora acrescente no
planejamento da faculdade e o curso
possa ser realizado ainda no primeiro
semestre de 2.010.

Outra solução é procurar a Cooperativa


de Informática, no bairro de São
Sebastião, em Prado, que organiza a
participação dos repórteres comunitários
nas reuniões de conselho.

A produção do jornal ficou truncada A contratação de novos consultores deve


dentro das oficinas, teve que ser prever um período de produção do
realizada fora das 40h programadas. jornal, impressão, logística para ir às
Também não houve tempo para a comunidades.
articulação de parcerias.

Algumas pessoas apontaram que o jornal Contratação de consultorias de


comunitário não seria a mídia mais educomunicação com foco em rádio, que
adequada para a região. Grupo mostrou pode se articular com rádios locais para
interesse em trabalhos com rádio. a produção e veiculação de programas
ou criar soluções localizadas em cada
comunidade (rádio-poste, rádio-recreio).

Falta conhecimento específico sobre as Há uma formação em educação


questões ambientais da região, que ambiental gratuita, oferecida pelo
poderia ajudar não só na produção dos Sindicato dos Produtores Rurais em

64
jornais, mas na geração de Prado nas próprias comunidades,
conhecimento. mediante um número mínimo de
pessoas. Os grupos podem se organizar
e encaminhar ofícios ao Sindicato
solicitando o curso.

Participação da comunidade nos jornais

PROBLEMA SOLUÇÃO

As oficinas foram mal divulgadas, Divulgar melhor novas formações,


concentrando as vagas em poucos convidando as escolas (alunos e
participantes professores) a participarem. Envolver as
escolas Anísio Teixeira e Homero Pires,
do município de Prado, em formações,
pois alunos das comunidades rurais
estudam nessas escolas. Divulgar novas
formações em folhetos, cartazes,
programas de rádio.

Muita gente não sabe ler ou não viu os Organizar leituras compartilhadas dos
jornais. jornais, em reuniões de associações,
escolas, entre outros. Apresentar os
próximos jornais durante a Conferência
Municipal de Educação, que será
realizada em fevereiro, para estimular as
escolas a lerem. Distribuir jornais nas
bibliotecas escolares para estimular a
leitura.

Poucos participantes das comunidades Organizar conselhos do jornal, com


na elaboração dos jornais. representantes das comunidades
(associações, escolas, comerciantes,
pescadores, entre outros) fazendo
reuniões regulares (mínimo uma vez por
mês) para conversar sobre o jornal,
propostas de pauta, leitura crítica do
jornal, discutir recursos, entre outros.

Os participantes ainda devem atuar


65
como multiplicadores, buscando trazer
novas pessoas para comporem os
grupos.

As gestões das UCs também poderiam


disponibilizar acesso a materiais
documentados na sede do ICMBio que
interessam a formação ambiental das
comunidades. Para isso, seria importante
disponibilizar também uma lista com
informações básicas sobre os materiais
disponíveis (mapas, cartazes, relatórios,
entre outros).

Continuidade dos jornais comunitários Tanara e O OITI

PROBLEMA SOLUÇÃO

Houve curso de diagramação curto, mas Fazer parcerias com profissionais da


os participantes ainda não têm área, encaminhando ofícios para que
autonomia para produzirem os jornais no atuem como voluntários até os grupos
computador sozinhos. conquistarem também autonomia
financeira. Encaminhar ofícios-convite
para formalizar essas parcerias.
Conseguir apoio de hospedagem e
alimentação a esses parceiros, se forem
de outros municípios.

Os grupos podem encaminhar ofícios a


Prefeitura solicitando cursos pra
aprender a mexer no computador e
utilizar os recursos dos infocentros que
foram instalados na região. Ofícios
também ser produzidos para solicitar a
liberação de uso dos equipamentos de
informática que estão chegando às
escolas da zona rural.

Os grupos ainda não têm autonomia Fazer parcerias com escolas. Isso já
para elaborar textos e pensar o jornal acontece de maneira informal em
66
como um todo. Cumuruxatiba, pois a coordenadora
pedagógica de uma das escolas participa
do grupo; para as comunidades do
entorno do Parna, uma sugestão é
convidar professores das escolas Anísio
Teixeira e Homero Pires, em Prado, para
que incluam em seu planejamento o
apoio a produção dos jornais. As
diretoras de ambas as escolas
mostraram-se dispostas a conversar; é
preciso encaminhar ofícios de solicitação.

Grupos não têm computador, acesso a Conseguir doação de equipamentos


internet, máquina fotográfica, gravador – encaminhando ofício para o Ministério
equipamentos indispensáveis a produção Público e o Conselho Municipal de Meio
dos jornais. Ambiente, explicando o objetivo dos
jornais comunitários e a importância dos
equipamentos. Há outras instituições e
empresas da região que poderiam
também fazer as doações – a gestão das
UCs pode ajudar os grupos a fazer um
levantamento das empresas e
instituições que participam dos
conselhos, e ajudar na facilitação do
contato.

Grupos não conheceram a impressão dos Programar visitas a gráficas para


jornais. conhecer o processo.

Faltam recursos para imprimir os jornais Montar mini-projetos para os jornais


e manter um caixa para o grupo produzir comunitários, ressaltando o foco de
as reportagens e cobrir despesas com educação comunitária a que estes jornais
alimentação, transporte, papel, tinta se propõem, e encaminhar a linhas de
para a impressora, telefone. Só ir atrás financiamento de projetos de educação
de “anunciantes” para o jornal não é ambiental. A gestão das UCs pode
suficiente e nem garante autonomia na colaborar indicando fontes de
produção. Os grupos têm receio de financiamento da região. Para isso, os
solicitar apoio a Prefeitura, a políticos, e grupos precisam se organizar e “eleger”
uma instituição ou associação de

67
perder a autonomia. moradores e pessoas do grupo que irão
se responsabilizar pelos projetos.

Outras alternativas a curto prazo:


solicitar apoio das ongs que atuam na
região, como a CI, em Caravelas, a
APPA, em Prado, entre outras.
Encaminhar ofícios a essas instituições,
solicitando apoio financeiro, dando
espaço a essas instituições para
interagirem com a proposta dos jornais.

Outra proposta, a longo prazo, é que os


participantes dos conselhos se organizem
para financiar a impressão dos jornais.
Essa proposta poderia ser feita nas
próximas reuniões, oficialmente pelos
grupos, por meio de uma apresentação
oficial dos jornais, dos valores envolvidos
para a sua produção, entre outros.

Grupos ainda não têm estrutura para ir Apoio da gestão das UCs por meio de um
atrás de recursos, escrever ofícios, estagiário que poderia interagir com os
utilizar telefone, entre outros. grupos, ajudando nos contatos, no
planejamento a medida do possível.

Falta de acompanhamento de um A curto prazo, um estagiário pode


educomunicador ou educador para a contribuir, mas seria interessante se
produção dos jornais comunitários pode fosse um monitor do próprio grupo de
desmotivar o grupo. repórteres comunitários, que já
passaram pela formação e participam da
produção do jornal.

Uma segunda solução seria efetuar


parceria com o Núcleo de
Educomunicação do Parna Abrolhos, em
Caravelas, para trazer novas formações
em educomunicação e consultores da
área atuando nas três UCs.
Principalmente na articulação de

68
parcerias.

A distância entre as comunidades Propor encontros periódicos do grupo.


atrapalha a comunicação e o Utilizar (no caso da Resex) o rádio para
planejamento para a produção coletiva comunicação. Encaminhar ofício para a
dos jornais. Expresso Brasileiro solicitando liberação
de passagens para o grupo de repórteres
fazerem entrevistas, participarem de
reuniões, entre outros. Encaminhar ofício
a Secretaria de Educação para liberar o
uso do transporte escolar para a visita as
comunidades.

69
COMENTÁRIOS SOBRE A ATUAÇÃO DAS UCS E A

CONSULTORIA

As considerações sobre os problemas logísticos para a realização dessas oficinas já


foram citadas nos relatórios anteriores sobre a metodologia. Entretanto, é importante
fazer novas recomendações, caso as UCs se interessem na contratação de novas
consultorias de educomunicação.

A falta de comunicação entre as duas UCs envolvidas e a saída do gestor


desestabilizaram um pouco o final de trabalho, assim como faltou clareza no Termo de
Referência em relação a logística das oficinas.

Sabe-se também que um dos objetivos desse trabalho é imprimir autonomia as


comunidades, mas foi difícil lidar com a falta de garantia da impressão do primeiro
jornal – ainda mais em um município onde não há parceiros para articular a garantia
da impressão – desmotivou os grupos no início dos trabalhos. Produzir o jornal
comunitário sem recursos deixou o grupo preocupado em tentar dinheiro para a
primeira impressão, atrapalhando o foco educativo da atividade.

Faltou maior tempo, também, para a consultoria articular parcerias. O ideal é que
esse tipo de consultoria seja realizada por no mínimo nove meses, para garantir a
continuidade do processo de educomunicação envolvendo outros atores junto aos
grupos.

É importante também orientar o consultor, quando da contratação, sobre a


utilização de estrutura das UCs para a realização da consultoria. O trabalho de
educomunicação exige uso constante de computador, internet, impressora, e
orientando o consultor com antecedência, este poderá buscar formas de trazer seus
próprios recursos.

Ao final, o saldo foi positivo, acredito, para as duas UCs, que dentro do possível e
apesar de todos os problemas, conseguiram contribuir com o resultado final desse
trabalho, acompanhando-o e resolvendo problemas de logística de última. Espero que
outras consultorias realizadas “casem interesses” das duas unidades vizinhas e
ajudem a ampliar os canais de comunicação entre os gestores. Quem tem a ganhar
são as próprias unidades de conservação – e as comunidades do entorno.

70
BIBLIOGRAFIA

BIODIVERSITAS/IESB. Relatório Técnico – Etapa 1 – Reuniões Diagnósticos nas


Comunidades do Entorno do Parque Nacional do Descobrimento. Agosto de
2009. Não publicado.

CARVALHO, Isabel. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. 2ª


edição. São Paulo: Editora Cortez, 2004.

FREITAS, Alexandra Coraça de. Relatório Circunstanciado das atividades de


campo - Oficinas Comunitárias e Seminário de Integração. Projeto de
Mobilização Social Para Elaboração do Plano de Manejo Participativo da Reserva
Extrativista Marinha do Corumbau. Brasília, DF: ICMBio, 2009.

ICMBio/MEC/MMA. Documento Inicial: Estratégia Nacional de Comunicação e


Educação Ambiental no Âmbito do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação. Brasília, DF: maio de 2009.

LOBÃO, Ronaldo. Relatório Parcial do Projeto Fortalecimento da Gestão


Participativa do Uso dos Recursos Pesqueiros na Resex Marinha de
Corumbau. Prado, BA: 2005.

1
LOBÃO, Ronaldo. Relatório Parcial – Projeto: Fortalecimento da Gestão Participativa do Uso dos Recursos
Pesqueiros na Resex Marinha de Corumbau. Prado, BA: junho, 2005.

Ministério do Meio Ambiente (MMA). Educomunicação Socioambiental –


Comunicação Popular e Educação Ambiental. Brasília, DF: MMA/Departamento de
Educação Ambiental, 2008.

TRATADO de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e


Reponsabilidade Global – Aprovado na Jornada Internacional de Educação/Fórum
Global – Rio 92. Foz do Iguaçu (PR): Itaipu Binacional, 2008.

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ANEXOS

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Anexo 1 – Fichas de avaliação individual

73
Anexo 2 – Lista de participantes das oficinas

Parna Descobrimento

Primeiro de Abril
Nome do participante Telefone e-mail

Tiago do P. Santos (73) 9122-5474 tiago_morcegao1990@hotmail.com

Pauliana de Jesus Bonfim (73) 9121-9579

Sebastiana Maria de Jesus (73) 9948-5073 anaitsere@gmail.com

Ednalva de Jesus (73) 9123-0329

Alexsandro da Paixão Rocha (73) 9198-7543

Agnaldo dos Santos Ribeiro (73) 9951-0702

Riacho das Ostras

Stênio Bruno Oliveira Santos (73) 9961-3240

Marailde Abaeté (73) 9125-3776 marabaete@hotmail.com

Dernivaldo de Souza Alves (73) 9978-7718

Stéfany Oliveira Santos (73) 9961-3240

Sebastião Rodrigues de Sousa (73) 9971-1730

Antonio Francisco Dias (73) 9948-7494

Pontinha II

Gilvan Santos da Costa (73) 9958-7399

Jaqueline Silva de Jesus (73) 9983-0721

Geisa Teles dos Santos (73) 9987-2581

Makuele Bezerra de Oliva (73) 9977-0165

Natalice B. de Oliva Amaral (73) 9985-9877

Jackson Oliva Costa (73) 9964-5752

José Alves Rodrigues (73) 9158-5347

Erinelza Bezerra de Oliva (73) 9986-3169

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Anexo 3 – Lista de participantes das oficinas

Resex Corumbau

Nome do participante Telefone e-mail


Barra Velha

Maria Braz Bonfim

Renata Ferreira Nascimento


Corumbau

Jaqueline Conceição do Carmo (73) 9978-1325 jaqueline-2011@hotmail.com

Issara Conceição do Carmo (73) 9991-7464


Curumuxatiba

Eliane Brandão (73) 8827-9496 inhanecbr@hotmail.com

Marciel Ferreira de Souza (73) 3573-1075 condominiodapreguica@hotmail.com

Ufredes Nascimento (Teta) (73) 8833-1330 surfista_do_abada@hotmail.com

Juliana Sakagawa Prataviera (73) 8817-4089 jujusoccer11@hotmail.com

Welton Reis de Souza (73) 8858-1658 dalepedeserra@hotmail.com

Fernanda Azevedo (73) 8803-7904 nanda_biomar@hotmail.com

Elisabete da Cruz Marinho (73) 8835-2840

Naruan Liro Saraiva Pinto (73) 8858-0767

Pedro Fidel B. Leão Cangussu (73) 8853-3776 delpedronet@hotmail.com

Ana Carolina C. Neves (73) 8809-6424

Alcione Pereira Simão (73) 8827-8986 alcionesima@hotmail.com


Veleiro

Sérgio de Jesus

Zeca do Veleiro (73) 9134-4077 zecadoveleiro@hotmail.com

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Anexo 5 – Clipping eletrônico

http://www.icmbio.gov.br

http://emane-uc.blogspot.com/

www.midiasocial.rejuma.org.br

http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=ascom.exibe&idLink=6940

http://midiaseducacao.blogspot.com/search?q=Parque+do+Descobrimento

http://www.jornalosollo.com.br/noticia.php?id_noticia=2624

http://www.redecep.org.br/noticias_template.php?id=58

http://www.corredoresecologicos.ba.gov.br/index.php?option=com_content&vi
ew=article&id=98:oficina-de-planejamento&catid=10:textos&Itemid=137

http://pib.socioambiental.org/pt/noticias?id=70269

http://www.teixeiranoticias.com.br/noticia.php?id=169

http://www.teixeiranoticias.com.br/noticia.php?id=210

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Anexo 5 – Conteúdo cursos FASB

77
Anexo 6 – Blogs

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Anexo 6 – Jornais Produzidos

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