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RESUMO ………………………………………………………………………………...11
ABSTRACT …………………………………………………………………………….. 12
ÍNDICE DE FIGURAS ………………………………………………………………… 19
ÍNDICE DE QUADROS ……………………………………………………………….. 19
1. INTRODUÇÃO ……………………………………………………………………… 21
1.1 Apresentação ……………………………………………………………………….... 21
1.2 Objectivos ………………………………………………………………………….… 23
1.3 Metodologia ………………………………………………………………………..… 25
1.4 Justificação ………………………………………………………………………….. 27
1.5 Limite ………………………………………………………………………….......... 29
1.6 Estrutura …………………………………………………………………………….. 31
2. COR ……………...………………………………………………………………….... 33
2.1 Introdução às Prioridades da Cor ………………………………………………….… 33
2.2 Visão Cromática ……………………………………………………………………... 33
2.2.1 Proveniência da Visão Cromática ………………………………………….. 33
2.2.2 Teorias Fisiológicas da Visão Cromática ………………………………...... 36
2.3 Sistemas de Identificação Cromática …………………………………………………39
2.3.1 Atributos da Cor …………………………………………………………… 39
2.3.2 Sistemas Baseados na Mistura Cromática ……………………………….… 41
2.3.2.1 Síntese Aditiva …………………………………………………… 41
2.3.2.2 Síntese Subtractiva ……………………………………………….. 42
2.3.3 Sistemas Baseados na Percepção Cromática ………………………………. 43
2.3.3.1 Sistema Cromático de Munsell ………………………………….. 43
2.3.3.2 Sistema Cromático Natural ………………………………………. 44
2.3.4 Sistemas Baseados na Identidade Cromática ……………………………… 45
2.3.4.1 Sistema CIE ……………………………………………………… 46
2.4 Percepção Cromática ……………………………………………………………….... 48
15
2.4.1 Fenómenos da Percepção Cromática ……………………………….……… 48
2.4.2 Legado Histórico ………………………………………………………...… 50
3. CONSUMIDOR ……………………………………………………………………… 53
3.1 Influências sobre o Processo Mental: Emoção e Razão …………………...… 55
3.2 Os Novos Paradigmas do Marketing ……………………………………….... 60
3.2.1 A fundamentação do pensamento ……...…………………………... 62
3.2.2 Os Processos Mentais ………………….….……………………….. 63
3.2.3 A Mente, o Cérebro, o Corpo e o Contexto Cultural e Social …..… 64
3.2.4 As Lembranças Representam as suas Experiências ……………….. 64
3.2.5 Os Consumidores Pensam por Palavras ………………………….…65
3.2.6 Os Consumidores interpretam “injecções” ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,.… 66
3.3. As três fazes do Capitalismo de Consumo ………………………………..… 66
3.3.1 A Nova Sociedade ……………………………………………….… 69
3.3.2 Novos Métodos de Consumo ……………………………………… 70
4. DESIGN ………………………………………………………………………………. 73
4.1 Design Gráfico ……………………………………………………………….. 74
4.1.1 Papel do Design Gráfico ………………………………………….... 77
4.1.1.1 Agente de Comunicação …………………………………. 81
4.1.2 Identidade Visual Corporativa ……………………………….….…. 82
5. MARKETING ……………………………………………………………………..….87
5.1 Papel do Marketing …………………………………………………………... 90
6. E A PUBLICIDADE!? …………………………………………………….………… 97
7. BRANDING ……………………………………………………………..…………… 99
7.1 Origens do Branding ……………………………………………………….... 99
7.1.1 As Primeiras Marcas ……………………………………………… 101
7.2 Conceito de Branding ………………………………………………………. 102
7.2.1 Identidade de Marca …………………………………………….... 104
16
7.2.2 Identidade Cromática …...……………………………………….... 105
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ÍNDICE DE FIGURAS
ÍNDICE DE QUADROS
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1. INTRODUÇÃO
1.1 APRESENTAÇÃO
Cada vez que o consumidor opta por determinada marca, fá-lo influenciado por
diversas razões, das quais, nem todas são tangíveis. As marcas têm a capacidade de
estabelecer ligações com o consumidor que, muitas das vezes, nem o próprio consegue
entender. Do ponto de vista de branding, uma boa utilização da cor, é preponderante no
sucesso das marcas. A cor está presente em todo o lado e tem uma influência constante no
nosso comportamento. Independentemente da actividade a ser desempenhada, a cor,
influencia constantemente o nosso estado de espírito, por exemplo, uma divisão toda
vermelha aumenta a temperatura percepcionada, parecendo muito mais quente.
1
Consultora internacional de branding que anualmente define um ranking das cem marcas mais valiosas.
http://www.interbrand.com
21
22
1.2 OBJECTIVOS
OBJECTIVO GERAL:
Perceber a razão da preponderância de marcas vermelhas entre as cem marcas mais
valiosas do ranking da Interbrand.
OBJECTIVOS ESPECIFICOS:
Aprofundar com base na literatura da área, as especificidades das Teorias da Cor;
Analisar o papel de cada um dos intervenientes do processo de branding;
Analisar o papel da cor no processo de branding;
Analisar a simbologia do vermelho.
23
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1.3 METODOLOGIA
25
26
1.4 JUSTIFICAÇÃO
Branding tem sido estudado por vários autores sem que nunca tenham conseguido
esgotar as possibilidades de abordagem. É uma prática relativamente recente que ainda
procura afirmar-se no mercado e precisa de ser entendida para poder ser aplicada com
sucesso.
27
28
1.5 LIMITE
29
30
1.6 ESTRUTURA
31
No oitavo capítulo constata-se uma grande superioridade de marcas vermelhas no
ranking da Interbrand e realiza-se um estudo intensivo sobre o vermelho e as suas
associações e simbologias, precedendo a abordagem às marcas mais valiosas do mercado
internacional e a sua congénere portuguesa, ambas vermelhas.
32
2. COR
2.1 INTRODUÇÃO ÀS PROPRIEDADES DA COR
De cada vez que o ser humano acorda das profundezas do seu sono e desperta
novamente os sentidos, é de imediato confrontado com uma imensidão de estímulos
visuais. A sua percepção da realidade é transmitida em 87% pela visão, face à proporção
incomparavelmente menor oferecida por sentidos como a audição, o paladar ou o tacto
(GOLDMAN, 1964). Ao mesmo tempo, falar de estímulos visuais é falar de luz e também
de cor, uma vez que “a luz é o mais comum dos estímulos ou causa das sensações de
cores” (GOLDMAN, 1964: p. 81).
O Sol constitui uma fonte da vida, pois é dele a proveniência da luz, no caso
natural, contributo essencial para criar a sensação de cor. Goldman (1964) destaca que o
Sol, não é apenas fonte de luz, projecta essencialmente radiações1, compostas por ondas
1
“Há inúmeras formas de energia radiante. Desde os infinitamente pequenos raios cósmicos, raios X, até os
raios de calor, raios de televisão, de rádio – enfim, tôdas estas emanações constituem ondas de energia
eletromagnética, com uma freqüência extremamente rápida, isto é, de muitos bilhões de vibrações por
COR 33
electromagnéticas, que por sua vez constituem o espectro radiante (figura 1). Este espectro
é constituído por sessenta oitavas de energia electromagnética, das quais apenas as quinze
centrais são provenientes do Sol. Destas, nove são infra-vermelhas, cinco ultra-violetas e
apenas uma corresponde a energia solar visível, o espectro colorido2.
segundo e diferentes entre si. Por tal motivo não conseguimos enxergar todos os tipos de ondas.”
(GOLDMAN, 1964, p. 81)
2
“A física newtoniana especifica da seguinte forma as cores espectrais: Violeta 380 a 436 nm; anil 436 a 480
nm; azul 480 a 495 nm; verde de 495 a 566 nm; amarelo de 566 a 589 nm; laranja de 589 a 627 nm e
vermelho de 627 a 760 nm.” (GONÇALVES, 2004, p. 91)
34 COR
Jordan (1993, p. 218) inclui um terceiro elemento neste binómio entre luz e cor. O
autor evidencia a importância da matéria na constituição de imagens, pois na sua óptica só
é possível identificar cor quando esta interage com a luz:
“Geralmente se diz que sem luz não há cor. Melhor seria dizer: sem imagem
não há cor. Luz e imagem são duas coisas diferentes. A luz, enquanto energia
invisível, existe independente da imagem. A imagem é que depende da presença da
luz e da matéria. É fundamental lembrar que, para nós, o mundo não existe
visualmente a partir somente da luz, mas, sim, a partir da interação entre luz e
matéria em todas as suas temperaturas, densidades, transparências. Essa interação é
que forma o claro-escuro, ou seja, a imagem visual do nosso mundo.”
É assim, através da luz reflectida pelos objectos à superfície da Terra que o olho
humano é sensibilizado para a cor, como, de resto, fica ilustrado pela Teoria Corpuscular
da Luz de Issac Newton (figura 2).
COR 35
Tal “como todas as formas de energia, a luz pode ser transformada, mas nunca
criada ou destruída” (GOLDMAN, 1964: p. 87). A coloração dos corpos ou objectos
resulta da diferença entre as ondas de energia electromagnéticas do espectro colorido
reflectidas e absorvidas3.“As diferentes côres da luz, a exemplo dos sons musicais, são
produzidas por ondas de diferentes comprimentos.” (GOLDMAN, 1964, p. 83). Tanto o
sentido da visão como o da audição, funcionam assim enquanto receptores de determinadas
ondas electromagnéticas e, “nesta relação entre luz e som, convém ressaltar que a nossa
audição está capacitada para distinguir onze oitavas de som, mas somente conseguimos ver
uma oitava de luz” (GOLDMAN, 1964, p. 83). O espectro radiante é constituído por ondas
electromagnéticas idênticas em quase todos os aspectos, “ (…) excluídas naturalmente suas
freqüências de oscilação, velocidades e comprimentos.” (GOLDMAN, 1964, p. 81).
Nas palavras de Goldman (1964, p. 94) pode-se concluir que a cor é uma “sensação
resultante da impressão produzida no órgão visual pelos raios de luz decomposta e
3
“Tanto a energia radiante visível, como a invisível, ao ser absorvida, ordinàriamente é transformada em
calor, que é devolvido à atmosfera por irradiação; excluídas naturalmente as substâncias como certas tintas
luminosas, que têm a propriedade de transformar a energia recebida e devolvê-la em forma de luz
(fluorescência ou fosforescência). A luz transmitida por quase todos os focos luminosos constitui uma
radiação térmica.” (GOLDMAN, 1964, p. 87)
36 COR
refletida.” Essa impressão ocorre na retina4, que absorve os impulsos electromagnéticos e
posteriormente os transmite para o cérebro onde são interpretados. Ao longo dos últimos
séculos foram várias as teorias elaboradas a respeito da visão da cor, com as leis mais
antigas a servirem de base aos postulados mais recentes, ritual que edificou a história da
cor, tal como é reconhecida nos dias de hoje.
4
“Existem, na retina, dois tipos de células foto-receptoras: os cones, em número de sete milhões, que
identificam as côres, e os bastonetes, em número de cento e trinta milhões em cada ôlho, e que possibilitam a
visão de luz e sombra, claros e escuros, e a sensação de profundidade.” (Goldman, 1964, p. 110)
5
Físico e linguista inglês (1773-1829)
6
Fisiologista e físico alemão (1821-1894)
COR 37
Nas palavras de Gonçalves (2004, p. 93):
“Cada conjunto de cones não tem uma conexão individual com o cérebro.
Portanto, formam-se campos de recepção, em que os sinais de cones podem ser
enviados juntos ou ser subtraídos por outros. Assim, assume-se que existem três
tipos de campos de recepção de cor, chamados de canais oponentes, a saber: o canal
preto-branco canal de luminância (ou canal acromático), que apresenta alta
resolução espacial; o campo vermelho-verde cuja resolução espacial é mais baixa
que a do canal de luminância; e o canal amarelo-azul, com baixa resolução
espacial.”
Já no século XIX, Ewald Hering7 (1878), defendia que a teoria tricromática não
conseguia explicar como a combinação de luzes de comprimento de onda vermelho e verde
poderiam formar amarelo, ou que pessoas com deficiência visual confundam,
exclusivamente, vermelho e verde ou amarelo e azul. Para provar este raciocínio elaborou
uma teoria que “mostra que os processos oponentes funcionam num nível superior ao dos
receptores. O verde e o vermelho trabalham em oposição; outras classes de células opõem
azul e amarelo e outras classes, ainda, manejam o canal preto e branco.” (GONÇALVES,
2004, p. 94)
Estes autores descobriram que a aparência das cores depende em larga medida da
intervenção dos canais acromáticos e cromáticos. Leo Hurvich e Dorothéa Jameson, em
1957, concluíram que nunca o ser humano havia experimentado uma cor resultante do
contacto entre vermelho e verde, por um lado, e amarelo e azul, por outro, já que nestes
contactos os canais cromáticos não poderiam indicar ambas as cores simultaneamente. Os
processos oponentes mostraram igualmente a existência de alguns matizes únicos e mesmo
outros binários. Disso constituem exemplo: O verde único, visualizado quando o canal
vermelho-verde revela verde e o canal amarelo-azul está desactivado; o laranja, cor de
matiz binário, resultante da sinalização do vermelho no canal vermelho-verde, assim como
do amarelo no canal amarelo-azul (VARELA et al, 2003).
7
Fisiologista alemão (1834-1918)
38 COR
Sekuler e Blake (2002), reunindo os ingredientes válidos em cada uma das teorias,
formularam uma outra teoria assente em dois estágios distintos. De acordo com estes
autores, três canais são passiveis de receber os sinais identificados pelos três tipos de
cones. O canal acromático combina a actividade dos cones de comprimento de onda médio
e longo. Já o canal azul-amarelo representa, por um lado, as diferenças entre a soma dos
cones de comprimento de onda médio e longo e, por outro, os cones de comprimento de
onda curto, sendo que a direcção da diferença determina se o azul ou o amarelo é visto. Por
fim, o canal vermelho-verde representa a diferença entre os níveis de actividade nos cones
de comprimento de onda médio e longo, com a direcção da diferença a determinar uma vez
mais qual das duas cores é percebida.
Ainda assim, nenhuma das teorias é aceite de forma harmoniosa pela comunidade
científica, uma vez que surgiram novas hipóteses referentes à constância da cor que
continuam em aberto. Uma coisa é certa, os cones têm um papel preponderante na
distinção das cores e os bastonetes no que diz respeito às formas. Estes são os princípios
básicos em que se assentam todas as teorias da visão cromática.
8
Pintor e professor de arte norte-americano (1858-1918).
COR 39
Valor ou Luminosidade: qualidade que distingue uma cor luminosa de uma outra
mais escura. A luminosidade da cor depende da percentagem de luz que é reflectida.
Diferentes cores podem ter o mesmo valor quando reflectem a mesma quantidade de
luz. Munsell dividiu a escala de cinzas em dez etapas de valor, sendo cores neutras não
lhes é reconhecido valor;
Saturação: força ou intensidade da cor. Cores intensas têm alto croma. Cores cinzentas
ou neutras têm baixa saturação (figura 4).
Como referido por Guimarães (2000), os parâmetros da cor têm sido objecto de
interpretações distintas por parte de diferentes autores, com repercussões ao nível do
dialecto científico. A diversidade de termos utilizados na literatura da especialidade
(quadro 1) está na origem de equivocos frequentes na identificação e manipulação dos
atributos da cor.
40 COR
2.3.2 SISTEMAS BASEADOS NA MISTURA CROMÁTICA
COR 41
2.3.2.2 SÍNTESE SUBTRACTIVA
Para Pedrosa (1982), a mescla subtractiva é referente a pigmentos (figura 6). A cor-
pigmento é uma substância material que, conforme a sua natureza, absorve, refracta ou
reflecte os raios luminosos.
42 COR
design gráfico. Estes sistemas permitem uma grande proximidade entre cores luz e cores
pigmento, invariavelmente o projecto resulta enriquecido.
O Munsell System foi desenvolvido por este autor em 1905, com o propósito de
criar uma ferramenta didáctica para a academia (BERNS, 2000). Nas palavras de
Gonçalves (2004), esta ferramenta consiste num sistema numérico que serve de exemplo
físico da disposição dos intervalos visuais e do comportamento das cores.
Munsell baseou-se nos atributos da cor9 para estabelecer uma divisao entre os
intervalos cromáticos. A sua preferência por uma classificação numérica, baseada no
sistema decimal, resultou em 10 matizes principais e 10 graus de valor. A constante
subdivisão facilitada pelo sistema decimal permite que cada um dos matizes principais seja
dividido em dez sub-matizes. Quando comparado a sistemas baseados nos quatro matizes
9
Classificandos como Munsell hue (matiz), Munsell value (valor) e Munsell chroma (saturação).
COR 43
principais de vermelho, verde, amarelo e azul, esta tipologia proporciona uma maior
igualdade visual entre matizes vizinhos (figura 7) (GONÇALVES, 2004).
O Natural Color System (NCS) foi baseado nos estudos de Hering, autor que
considerou seis cores elementares, incluindo quatro cores naturais: preto (S), branco (W),
amarelo (Y), vermelho (R), azul (B) e verde (G)10. Ja na década de 1930, e com base nos
preceitos de Hering, Johansson procedeu à sua reformulação11 (JOHANSSON, 1937 apud
BERNS, 2000).
10
Conforme se destacou na teoria dos processos oponentes, a fisiologia do olho gera canais opostos de preto-
branco, vermelho-amarelo e amarelo.azul.
11
Hesselgren (investigador sueco do século XX) foi responsável por inúmeras experiências com as quais
pretendia exemplificar o sistema de cores naturais de Johansson, as quais resultaram na criação do
Hesselgren Color Atlas em 1952. Posteriormente, em 1964 foi fundada a Swedish Color Center Foundation,
que encontrou algumas irregularidades visuais nesse atlas, provavelmente devido a limitações das
experiências visuais e ao envelhecimento das amostras. Portanto reviu o trabalho de Hesselgren através da
44 COR
No modelo NCS, cada a cor é classificada em função da sua semelhança com as
cores elementares estabelecidas por Hering, sendo essa semelhança medida em
percentagem (figura 8). Essas cores elementares podem ser dispostas num hexágono, cujas
combinações traduzem teorias divergentes com a de Hering (GONÇALVES, 2004).
Ainda de acordo com Gonçalves (2004), a ambiguidade das cores pode ser
solucionada recorrendo a sistemas baseados na identidade cromática. Assim, a cor
reproduzida deve ser idêntica à de uma amostra visualizada sob as mesmas condições
específicas. Por exemplo, quando comparado o resultado de uma cor observada através de
realização de novas experiências visuais desta vez sujeitas a instrumentos de medição e especificações
cromáticas.
COR 45
um monitor com a sua impressão em papel. Apesar de ambas terem sido resultado de
processos distintos – sendo no monitor RGB (mistura aditiva) e a sua impressão CMYK
(mistura subtractiva) – devem sofrer alterações mínimas, praticamente indescritíveis.
12
Colorimetria: combinação de duas palavras, color (cor) e metria (medir), é a ciência que realiza a medição
das cores.
46 COR
anos 20, quando as cores da sinalização rodoviária – vermelho, verde e amarelo – foram
pela primeira vez utilizadas, e adoptadas posteriormente para controlo de tráfego
(HOLMES, 1981).
Ainda de acordo com o sistema CIE, cada cor surge posicionada em funcao do seu
cumprimento de onda. As três cores teóricas, que adoptam o papel de cores primárias,
denominadas de valores triestímulo X, Y e Z são próximas ao magenta, verde e azul-
violeta, quando misturadas em ordens e proporções diversas estas cores dão origem a todas
as outras (figura 9).
Este sistema parte do pressuposto que dois estímulos têm cores idênticas, quando se
obtêm respostas iguais por parte dos cones retinianos. No entanto, enquanto a colorimetria
estava a ser desenvolvido nas primeiras décadas do século XX, um sistema padronizado de
identidade entre cores oferecia a única solução viável. Em resposta às questões do
presente, o CIE tem procurado desenvolver um sistema assente em mecanismos
psicológicos (BOYNTON 1986; SCHANDA 1998 apud BERNS, 2000). O eventual
sucesso da investigação em curso poderá abrir novas pistas para a compreensão da
identidade entre cores, assim como aumentar o leque de condições de visualização e
iluminação para as quais lhes é permitido fazer especificações colorimétricas à data
(GONÇALVES, 2004).
COR 47
2.4 PERCEPÇÃO CROMÁTICA
Os efeitos causados pelo contraste simultâneo de uma cor revelam que a mesma
sofre alterações quando em contacto com outra ja que, como observado anteriormente na
teoria dos processos oponentes, a visao humana tende a procurar cores complementares.
A constância da cor, por seu turno, indica que a matiz de um objecto tende a ser
percepcionada de forma constante, independentemente das alterações no comprimento de
onda. Nesse sentido, os objectos sao associados a uma mesma cor, quer sejam observados
durante o dia, sob luz natural, quer sejam observados durante a noite, sob luz artificial
(Edwin Land13, 1977 apud FOLEY & MATLIN, 1996).
O fenómeno da adaptação cromática foi teorizado em 1905 por Von Kries14, que
demonstrou serem os receptores da retina – cones e bastonetes – a adaptarem-se a
diferentes condições de iluminação, o que exerce uma influência decisiva na percepção da
luz reflectida (FOLEY & MATLIN, 1996). Este princípio assenta, de algum modo, em
fundamentos empíricos, já que a iluminação incidente nos objectos é identica àquela
13
Físico e inventor norte-americano (1909-1991).
14
Psicólogo e fisiologista alemão (1853-1928).
48 COR
percepcionada pela retina, que a interpreta de forma proporcional aos comprimentos de
onda presentes na fonte luminosa.
15
“Exemplos de cores subjetivas foram explorados pela Pop Art e Op Art, movimentos artísticos
desenvolvidos na década de sessenta, sobretudo nos EUA e Europa. Eles pretendiam criar uma arte
estritamente óptica, assim enfatizavam as experiências perceptivas. Muitas obras desse período contêm linhas
pretas finas em desenhos geométricos sobre um fundo branco, e tendem a vibrar e produzir visões de cores
em tom pastel” (GONÇALVES, 2004, p. 124).
16
“O disco de Benhamn, mostra como figuras acromáticas podem produzir cores subjetivas. Quando o disco
roda a uma freqüência de umas 10 revoluções por segundo, cores não saturadas aparecem ao longo das linhas
curvas” (GONÇALVES, 2004, p. 123).
17
“Johann Purkinje, físico checoslovaco, foi o primeiro a descrever este fenômeno, em 1825”
(GONÇALVES, 2004, p. 125). (1787-1869).
COR 49
situações fotópicas a tendencia é para recepcionar os matizes de comprimento de onda
mais alto. Em condições de penumbra, o matiz azul apresenta-se mais brilhante que o
vermelho.
De acordo com Pastoreau (1997), a história da cor nas sociedades ocidentais pode
ser dividida em três fases distintas. Tudo começa na fase final da Idade Média (séculos X –
XII), quando se verifica o abandono da organização ternária18, seguida por uma nova
ordem das cores. Assim, branco, preto, vermelho, azul, verde e amarelo, proporcionaram
novas combinações e contribuiram para a refundação do imaginário cromático.
Com o final da Idade Média, o autor sustenta que esta realidade foi bruscamente
alterada no período de aproximadamente um século (1450 – 1550). A reforma protestante e
sobretudo o advento da imprensa e da imagem gravada revelaram-se factores
determinantes na retirada do preto e do branco da ordem das cores vigente. Esta evolução
proporcionou as condições ideais para as experiências desencadeadas por Newton e para a
valorização do espectro solar, até à data desconhecido.
50 COR
consideravelmente mais vasto, o que significou não apenas uma evolução do ponto de vista
técnico, como uma revolução a nível cultural.
Gage (1993), por outro lado, destaca o legado da Antiguidade Clássica na história
da cor. A paleta cromática de pintores como Apeles, Accaio, Melantio e Nicómaco estava
reduzida a quatro cores – vermelho, branco, amarelo e preto – que por sua vez estariam
relacionadas com as chamadas doutrinas hipocráticas dos quatro humores19. Uma das
vantagens desta teoria residia na possibilidade de aumentar o reduzido número de
pigmentos através de mesclas, que segundo um erudito do século XVII, poderiam atingir
as 800 variações. “Contudo, os gregos não utilizavam as mesclas intercromáticas e sim
efeitos clareadores e escurecedores na cor.” (GONÇALVES, 2004, p. 127)
A presença da cor em textos antigos ocupa, porém, uma posição de certo modo
ambígua. Tanto serve uma função meramente decorativa, como é responsável pela vida e
credibilidade da pintura. Para os filósofos gregos a arte deveria ter a finalidade de
reproduzir a natureza e a cor desempenharia um papel pela sua capacidade de enriquecer a
reprodução do real (GAGE, 1993). Durante o século XV, Alberti relaciona de forma
pioneira as cores com os quatro elementos da natureza (vermelho, o fogo; azul, o ar; verde,
a água; e o cinza, a terra), sem que no entanto a tradição grega tenha sido revista. Alguns
anos mais tarde será Leonardo da Vinci, inspirado nas ideias de Alberti, a identificar o
amarelo com a terra e reabilitar o branco e o preto como cores.
19
Segundo esta teoria existem no corpo quatro humores (o sangue, a linfa, a bílis amarela e a bílis preta).
Através de uma associação entre estes quatro humores, os quatro elementos (terra, água, ar e fogo) e as
quatro qualidades (calor, secura, frio e humidade), Hipócrates fundamentava que seriam os responsáveis pelo
equilíbrio do organismo humano.
COR 51
Ainda no contexto da pintura, as referências existentes à origem histórica das cores
primárias não é muito clara, ao que parece os pintores resistiam ao uso de mesclas. Como
tal, no século XVII, mais concretamente em 1664, o químico irlandês Robert Boyle
debruçou-se sobre a fundamentação para uma nova realidade na pintura e da cor em geral,
reflectindo a respeito das cores primárias.
52 COR
3. CONSUMIDOR
Nas palavras de Dias (2008), assim como acontece com as pessoas, entre
consumidores e marcas também se criam laços. Existe um processo de atracção, que chega
mesmo a ser paixão. O primeiro impulso é de atracção, o segundo de experimentação, daí,
resulta uma rotina de convívio entre o consumidor e a marca. Parafraseando Lipovetsky
(2010) vivemos numa época em que já não basta criar produtos: é necessário criar uma
identidade ou uma cultura de marca através do marketing, do investimento publicitário
maciço e da hipertrofia comunicacional.
CONSUMIDOR 53
religiosos, Marcondes (2003) adianta que o consumidor contemporâneo também mantém
com as suas marcas de preferência uma relação de crença muito especial.
Esta dificuldade por parte dos agentes de mercado em decifrar o pensamento dos
consumidores, pesquisa após pesquisa, desagua na conclusão de que os consumidores não
sabem o que querem. O que, na verdade, não é assim tão simples, como poderemos
comprovar com a próxima imagem (figura 10).
1
Artista, designer e ilustrador Inglês (1905 - 1944).
54 CONSUMIDOR
É provável que veja ou um pato ou um coelho. De seguida mostre a outras pessoas.
Será que chegou a um resultado consensual? Este exercício, adiantado por Zaltman (2003),
apenas pretende ilustrar um ponto essencial para esta discussão: cada observador pode
interpretar os mesmos dados de maneira totalmente distinta. Naturalmente concluímos
deste ponto que cada vez mais é importante praticar uma abordagem interdisciplinar. É
necessário compreender a dinâmica consciente e, principalmente, inconsciente dos
processos mentais dos consumidores. As novidades tecnológicas chegaram e prometem
revolucionar todos os mercados, um por um.
Segundo Cardoso (2009) a teoria mais consensual, principalmente pela sua vertente
simplista, baseia-se num modelo tradicional que defende que a consciência emocional só
actua depois da intervenção da razão. De acordo com esta corrente o modelo da tomada de
decisão por parte do consumidor obedece a um paradigma designado, em português, por
“C-A-C”, que defende que a Cognição (C) determina o Afecto (A), de que resulta o
Comportamento (C). Na prática, o consumidor começa por analisar intelectualmente uma
situação de compra, ou seja, observa as suas qualidades e performances, que desencadeará
afectos (aceitação ou rejeição) e, consequentemente, materializa-se na sua aquisição ou
não.
CONSUMIDOR 55
Pelas palavras de Cardoso (2009), contrariamente a esta corrente, a partir da década
de 80 do século XX surgiu uma nova linha de pensamento. Zajonc (1980) propõe a
independência das emoções e ainda que os julgamentos emocionais, inconscientes, podem
preceder os julgamentos racionais. Caracterizando da seguinte forma a componente
afectiva:
- Os afectos são primários: geram a nossa primeira resposta ao meio e determinam
as relações subsequentes com ele. A decisão é tomada na base de “eu gosto disto”;
depois podemos arranjar razões para a nossa decisão, mas a opção decisiva foi
afectiva;
- Os afectos são básicos: as respostas afectivas são universais entre as espécies
animais, independentemente da linguagem ou da razão. Os afectos existem antes da
linguagem e das capacidades racionais;
- Os afectos são incontroláveis: é pequeno o nosso controlo sobre a ocorrência das
experiências afectivas;
- Os afectos são irreparáveis: uma avaliação formada com base nos afectos não é
facilmente revogada;
- Os afectos implicam o “eu”: identificam o estado da pessoa em relação ao
objecto;
- Os afectos são difíceis de verbalizar: a comunicação dos afectos processa-se,
essencialmente, pelos canais não verbais;
- Os afectos podem manter-se mesmo depois de separados dos conteúdos: por
exemplo, os sentimentos causados por um livro ou por um filme mantêm-se,
frequentemente, acessíveis, apesar de os conteúdos poderem ter sido esquecidos.
Zaltman (2003) nas suas considerações afirma que a maioria dos métodos de
pesquisa de mercado, erradamente, enfatizam a razão em detrimento da emoção. São
poucos os técnicos de marketing que questionariam a importância das emoções nos seus
próprios processos de decisão, muito menos no dos consumidores. Esta abordagem pode
ser responsável por produzir dados não confiáveis, pois os consumidores limitam-se a
revelar os pensamentos lógicos das suas decisões, por ser esse o objecto das perguntas
elaboradas pelos profissionais.
56 CONSUMIDOR
Conforme salienta António Damásio (1996, p.15):
“Os níveis mais baixos do edifício neurológico da razão são os mesmos que
regulam o processamento das emoções e dos sentimentos e ainda as funções do
corpo necessárias para a sobrevivência do organismo. Por sua vez, estes níveis mais
baixos mantêm relações directas e mútuas com praticamente todos os órgãos do
corpo, colocando assim o corpo directamente na cadeia de operações que dá origem
aos desempenhos de mais alto nível da razão, da tomada de decisão e, por extensão,
do comportamento social e da capacidade criadora. Todos estes aspectos, emoção,
sentimento e regulação biológica, desempenham um papel na razão humana. As
ordens de nível inferior do nosso organismo fazem parte do mesmo circuito que
assegura o nível superior da razão.”
É baseado neste raciocínio que Shaw (2007) afirma que as emoções figuram nos
ingredientes do ADN da experiência do consumidor. Tal como um indivíduo é constituído
por vinte e três cromossomas provenientes da mãe e outros tantos do pai, uma experiência
é, igualmente, consequência de uma associação. É uma combinação da performance da
marca, dos sentidos estimulados e das emoções evocadas. Fruto da avaliação destes
CONSUMIDOR 57
elementos em comparação com as expectativas do consumidor, ao longo de todos os
momentos do seu contacto com as marcas, resulta uma assinatura emocional.
Este tipo de resultados, nas mãos dos gestores de marcas, poderia ser responsável
por fomentar a lealdade do consumidor e inclusive gerar valor para a marca (Cardoso,
2009). Para optimizar a sua análise Shaw (2007) concebeu um método de os hierarquizar e
traduzir em emoções (figura 11).
58 CONSUMIDOR
Segundo Zaltman (2003) por mais importante que seja a consciência no nosso
processo mental, esta apenas intervém na fase final do mesmo. Acontece que os
sentimentos, ou seja, a experiência consciente das emoções, estão constantemente a ser
substituídos. Cada vez que pretendemos reter novas informações, inevitavelmente vamos
abrir mão das antigas. Uma vez que no marketing, grande parte do processo de decisão dos
consumidores é baseado em análises verbais, portanto está condicionado à análise dessa
pequena parcela correspondente à consciência.
O autor ainda conclui que a parcela do conhecimento inconsciente é tão grande que
dificilmente poderemos ter plena consciência de tudo quanto sabemos. Frequentemente
somos surpreendidos com novas respostas, fruto de raciocínios dedutivos e indutivos.
Esses processos mentais inconscientes usam os dados existentes no nosso subconsciente
para produzir pensamentos conscientes que constituem as novas respostas. Da mesma
maneira que os elementos de um casal, devido à longa convivência íntima, geralmente são
capazes de responder a perguntas de como o parceiro reagiria a determinada situação
inesperada, baseando-se nos comportamentos do passado. Um bom gerente de marca, que
compreenda em pleno os seus consumidores, talvez consiga prever as suas reacções ao
lançamento de um novo produto (ZALTMAN, 2003).
CONSUMIDOR 59
3.2 OS NOVOS PARADIGMAS DO MARKETING
Zaltman (2003, p.33) cita uma das máximas do marketing, no caso, bastante
badalada mas muito pouco aplicada: “Os profissionais de marketing devem compreender a
maneira como seus processos mentais interagem com o dos consumidores”. Argyris
(2000), professor emérito de Educação e Comportamento Organizacional, adianta algumas
considerações esclarecedoras desta realidade, avançando dois conceitos “exposed theory”2
e “theory-in-use”3. Pode acontecer que ambas sejam semelhantes, mas na grande maioria
das vezes é a “theory-in-use” que representa as verdadeiras crenças dos gestores.
2 “Expoused theory” – consiste em tudo o que dizemos acreditar.
3 “Theory‐in‐use” – são as crenças subjacentes à maneira como agimos.
4 Conceito avançado por Lipovetsky (2007), em que o consumidor ocupa o lugar central da economia.
O anterior modelo económico centrado na oferta foi substituído por esta nova realidade centrada na
procura. Este novo consumidor é “hiper‐individualista” e busca a felicidade.
60 CONSUMIDOR
Nas palavras de Argyris (2000) apud Pfeffer & Sutton (2000), importantes
cientistas da gestão, “conhecer mais não significa automaticamente fazer melhor”. Os
maus hábitos entranham-se e tornam-se recorrente, principalmente em contextos
organizacionais em que não se incentiva a correr riscos. Acontece que os gestores ficam
presos aos velhos hábitos e não se informam a respeito dos avanços bem fundamentados
em disciplinas que estudam o comportamento humano.
CONSUMIDOR 61
3.2.1 A FUNDAMENTAÇÃO DO PENSAMENTO
5 O mais antigo dos dois em termos de evolução.
6 “A anatomia das emoções, no caso, refere‐se às muitas qualidades que as caracterizam, permitindo
que assumam diferentes significados em diferentes contextos. Por exemplo, um estudo sobre o
significado de “alegria”, realizado por uma das mais importantes marcas mundiais, identificou mais de
15 elementos dessa emoção básica.” (Zaltman, 2003, p.36)
62 CONSUMIDOR
3.2.2 OS PROCESSOS MENTAIS
Como foi dito por Zaltman (2003), parti do pressuposto que a maior parte do nosso
processo mental ocorre na mente consciente, está errado. A verdade é que apenas temos
consciência de 5% do nosso processo mental, os restantes 95% ocorrem na mente
inconsciente, uma mescla extremamente diversificada de lembranças, emoções,
pensamentos e outros processos cognitivos, dos quais não temos consciência muito menos
a capacidade de os explicar. O autor previne para a ênfase excessiva dada ao papel da
consciência, uma vez que as actividades da memória e das emoções ocorrem abaixo do
limiar da consciência.
“Em vez de efectivamente orientar e controlar os comportamentos, o papel
da consciência parece consistir, sobretudo, em compreendê-los, depois de
consumados” (ZALTMAN, 2003, p.37).
7 Actualmente assim designamos os produtos sem marca, originalmente referia‐se a matérias‐primas.
CONSUMIDOR 63
Parafraseando Zaltman (2003) os questionários não revelarão nem os pensamentos
nem os sentimentos mais importantes dos consumidores. A não ser que previamente estes
tenham sido identificados pelo responsável pelos ditos questionários, penetrando nos
processos mentais inconscientes dos consumidores. Mas a maioria das perguntas
formuladas dirigem-se de uma forma muito superficial ao que os “consumidores acham
que os gerentes acham que os consumidores estão pensando”.
64 CONSUMIDOR
experiência do indivíduo. Zaltman (2003) adiantou que as lembranças são moldadas
através do nosso subconsciente e chegam a adquirir composições bastante criativas. Para
comprovar esta realidade, um “aliado” dos investigadores intrometeu-se no grupo de
controlo sem o conhecimento do moderador. A sua presença foi suficiente para que as
descrições das lembranças fossem diferentes dos relatos originais. Os participantes não
deturparam as suas descrições propositadamente, na verdade, o simples facto de aquele
indivíduo intervir alterando a maneira como se inicia a discussão, de forma positiva ou
negativa, ou fornecendo pistas não verbais, com o franzir da testa, sorrisos entre outros, é
suficiente para interferir nas descrições das lembranças dos verdadeiros participantes.
Quase todos os relatos sofreram alterações e em cerca de metade dos casos algumas das
mudanças foram significativas. Posteriormente, cerca de duas semanas depois, através de
telefonema, a maioria dos participantes ainda descreveu uma terceira versão das suas
lembranças. Os resultados deste estudo revelaram um fenómeno conhecido por “mind
guard”8.
8 “Por meio deste processo, determinada pessoa, com base em acordo tácito com o grupo, torna‐se
protetor de um consenso emergente e muitas vezes impede com rigor que as novas idéias entrem em
discussão” (Zaltman, 2003, p.40).
CONSUMIDOR 65
3.2.6 OS CONSUMIDORES INTERPRETAM “INJECÇÕES”
Contrariando este paradigma, está subjacente que as pessoas têm por hábito criar
significado sobre as mensagens. Quando os consumidores são expostos a conceitos de
produto, a histórias da empresa ou a informações sobre as marcas, não se limitam a
absorver as mensagens. Cada consumidor cria os seus próprios significados ao acrescentar
às informações sobre a marca as suas próprias lembranças, outros estímulos do momento e
metáforas que vão surgindo enquanto pensam sobre a mensagem. Os consumidores
extraem do processo de comunicação uma mensagem que chega a ser totalmente oposta à
originalmente criada pelos marketeers. Além de que o facto de serem capazes de
reproduzir a história por trás da mensagem, não significa que tenha sido, essa mesma
história, que criaram na sua cabeça (ZALTMAN, 2003).
Nos dias que correm, vai-se formando uma nova sociedade que se adapta à nova
economia, denominada por sociedade do hiperconsumo. Este conceito é apresentado por,
Gilles Lipovetsky (2007), filósofo francês, autor da obra A Felicidade Paradoxal: ensaio
sobre a Sociedade do Hiperconsumo. As linhas seguintes serão baseadas nessa obra, que
pretende contextualizar a nova realidade do consumidor contemporâneo, cada vez mais
interessado na busca da felicidade através duma posição muito mais activa no mercado.
66 CONSUMIDOR
Lipovetsky (2007) adianta a hipótese de estarmos a viver uma nova etapa da
história da civilização de consumo. Comprovando esse raciocínio, o autor debruça um
olhar analítico sobre a evolução da história da civilização de consumo dividindo-o em três
grandes momentos. O primeiro momento consiste na estruturação do mercado, em que os
consumidores foram “educados”, esta época contribuiu para o surgimento dos “mercados
de massa”. Num segundo momento deu-se um grande crescimento do poder de compra das
famílias com o aumento dos salários, esta época apresenta-se como o modelo puro da
“sociedade de consumo de massas”.
A primeira fase tem início com os anos 80 do século XIX e só terminou na Segunda
Guerra Mundial. Durante esta época, segundo Lipovetsky (2007), os pequenos mercados
locais foram substituídos por grandes mercados nacionais, proporcionados pelas modernas
infra-estruturas de transporte e comunicação: caminhos-de-ferro, telégrafo e telefone. Com
esta nova realidade, tanto a produção como a distribuição dos produtos, permitiram a
expansão do mercado a uma escala global. Esta fase inseriu no mercado técnicas de fabrico
contínuo, que permitiam produzir em série bens estandardizados. Como tal, Henry Ford
aplicou a montagem em série, que lhe permitiu reduzir em mais de 10 horas o tempo
necessário para montar um chassi do famoso modelo «T». Assim começaram a surgir as
primeiras marcas, bem como a embalagem e a publicidade, devido à optimização da
produção que proporcionou os primeiros stocks.
A segunda fase teve início por volta de 1950, este novo ciclo histórico das
economias de consumo construiu-se ao longo de três décadas do pós-guerra. Nas palavras
CONSUMIDOR 67
de Lipovetsky (2007) este ciclo dá sequência aos processos inventados na primeira fase,
mas ainda assim, representa uma profunda mutação, de tal forma que originou uma ruptura
cultural. A economia fordiana9, concluiu o processo da democratização da compra de bens
duradouros, colocando à disposição de todos, ou quase todos, os produtos emblemáticos da
sociedade de afluência: automóvel, televisão, aparelhos electrodomésticos. Pela primeira
vez, aquelas coisas características do modo de vida das elites sociais, tais como, férias,
moda, actividades de lazer, bens duradouros, estavam à disposição de todos. As novas
palavras de ordem na organização industrial são: especialização, estandardização,
repetitividade, aumento do volume de produção. A “lógica da quantidade” domina a
sociedade de consumo de massas.
9 A economia fordiana é proporcionada por um fenómeno da primeira fase do capitalismo de consumo,
ficou “marcada por um excepcional crescimento económico, pela subida do nível de produtividade do
trabalho (…) corresponde àquilo que chamámos de «sociedade da abundância».” (Lipovetsky, 2007,
p.28)
10
Conceito adiantando por Lipovetsky (2007) em que considera o culto hedonista e psicológico, a
privatização da vida e a autonomização dos sujeitos face às instituições colectivas factores contribuintes para
a valorização individual do homem.
68 CONSUMIDOR
Parafraseando o autor, desde os finais dos anos 70 do século que passou, no palco
das sociedades desenvolvidas, desenrola-se o terceiro acto das economias de consumo.
Este ciclo que agora começa concluiu o que lhe antecedeu. Vive-se a aventura
individualista e consumista nas sociedades liberais, apresentada como a “sociedade de
consumo” (LIPOVETSKY, 2007).
CONSUMIDOR 69
próprios. A expansão de necessidades continua a existir, acontece que sofreu uma
readaptação a novas significações colectivas e individuais. Agora o consumidor deambula
por gigantes centros comerciais, compra marcas globais, procura produtos light ou
biológicos, exige rótulos de qualidade, navega na Internet, descarrega música par ao
telemóvel, enfim, tornou-se mais requintado. Suavemente, a era do consumo de massa
readaptou-se, entrando numa nova fase da sua história centenária.
Esta nova realidade não é sinónimo de uma mudança histórica, aquilo que
aconteceu foi uma adaptação à nova economia. Esta nova sociedade de consumo de massa
deve ser entendida como uma “ruptura na continuidade”, ou seja, o rumo mudou mas as
bases mantêm-se. Consigo, este sistema pós-fordiano, agrega alterações profundas nos
processos de estimulação da procura, nas fórmulas de venda, até nos comportamentos e
imaginários dos consumidores. Estas transformações são o prolongamento de uma
dinâmica económica iniciada nas últimas décadas do século XIX, que se inscreve na
corrente da civilização individualista da felicidade. Tanto as indústrias como os serviços,
agora, promovem lógicas de opção, estratégias de personalização dos produtos e dos
preços. Na grande distribuição aposta-se em políticas de diferenciação e segmentação, mas
todas estas novidades, têm apenas um fim, alargar a mercantilização dos modos de vida,
alimentar ainda mais o frenesim das necessidades sempre crescentes e incitar à lógica do
“sempre mais, sempre novo”. Este último já não é novidade, uma vez que durante a última
metade do século transacto teve um grande êxito. Nestes termos, devemos pensar o
abandono da sociedade de consumo como uma evolução positiva, afinal podíamos estar
envolvidos numa questão pós-materialista, mas pelo contrário, é o hipermaterialismo que
nos domina (LIPOVETSKY 2007).
70 CONSUMIDOR
necessidades? O que é que faz correr incansavelmente o consumidor?” (Lipovetsky, 2007,
p.33)
Estas questões foram alvo de estudo por parte dos sociólogos críticos das décadas
de 60 e 70 do século XX. Ao desconstruírem a ideologia das necessidades interpretaram o
consumo como uma lógica de diferenciação social. O consumidor procura através do
consumo lidar com as pressões do prestígio e do reconhecimento, do estudo e da
integração social. Não está tão interessado em desfrutar dos bens que adquire, antes exibir
um certo estatuto social (Lipovetsky, 2007).
CONSUMIDOR 71
indivíduo exibe orgulhosamente os objectos como emblemas de estatuto, também as
marcas se preocupam em gabar os seus produtos como símbolo de posição social.
72 CONSUMIDOR
4. DESIGN
Ainda segundo Bürdek (2006) para a maioria das pessoas, a vida já não é mais
possível, sem design. O design está presente em todas as actividades, acompanha-nos de
manhã à noite: em casa, no lazer, na educação, na saúde, no desporto, no trabalho – tudo é
configurado de forma consciente ou inconsciente. O design é de tal maneira ubíquo, que
tanto pode servir para revestir a nossa pele, como é o caso da moda, como para nos
proteger em ambientes adversos, como no caso do uso aeroespacial. “Design ou não
Design – isto já não está mais em questão” (BÜRDEK, 2006, p.11).
Pode-se dizer que o design tem alavancado a evolução do ser humano. A primeira
ferramenta, a primeira pintura rupestre ou ainda a solução encontrada para pintar,
utilizando o sangue dos animais, são situações que partilham de estratégias intelectuais
ainda hoje utilizadas na prática do design. No fundo, o design na sua forma mais pura,
parte do princípio de resolver um determinado problema da esfera social.
1 Artista e engenheiro/construtor romano (cerca de 80 – 10 AC).
DESIGN GRÁFICO 73
Hollis (2000) afirma que o design gráfico, originalmente, surgiu no âmbito de
projectos corporativos, em meados do século XX. Um grupo de profissionais denominados
por “artistas comerciais”2 reclamava reconhecimento por sua profissão e foi ganhando
preponderância num mercado em formação e crescimento.
O design gráfico tem acompanhado a evolução das sociedades e com elas evoluído
também. Panizza (2004), observou essas mudanças conceptuais e profissionais do design
gráfico e, de acordo com o seu estudo de várias teorias de diversos autores a respeito das
teorias do design gráfico, o autor conclui o seguinte:
“Pode-se dizer que o design gráfico é, então, conceito e comunicação: a
organização de sinais e marcas gráficas que expressam formas e mensagens, a partir
de conceitos e do desenvolvimento de soluções passíveis de reprodução seriada e
industrial para o problema proposto, a serem transmitidas a um público-alvo
independente do gosto estético e da individualidade do designer, devendo
comunicar-se com esse público a fim de promover uma idéia, produto ou serviço e
que, tendo normalmente o papel como substrato e a impressão como processo de
produção, é também, geralmente, bi-dimensional, sendo muito importante, porém,
frisar que nem tudo que está impresso é design gráfico e nem todo design gráfico
está impresso.” (PANIZZA, 2004, p.61)
2
“Visualizadores (artistas de layout); tipógrafos que faziam o projecto detalhado da chamada e do texto;
ilustradores; retocadores; letritas.” (PETRELLI, 2008) Fonte: Hollis, 2000
74 DESIGN GRÁFICO
interessante para uma melhor compreensão dessa relação muito importante para este
estudo.
Hoje em dia, o papel do design gráfico está mais direccionado para a comunicação
das empresas, implementando estratégias principalmente visuais na busca da diferenciação
e de um bom posicionamento (STRUNCK, 2007).
3
AIGA - AMERICAN INSTITUTE OF GRAPHICS ARTS. What is graphic design? Disponível em
http://www.aiga.org/content.cfm/what-is-design. Acesso em: 18.01.2010.
DESIGN GRÁFICO 75
Esta declaração é clara a respeito da versatilidade do design gráfico. Além de o
considerar a mais ubíqua de todas as artes, ainda acrescenta considerá-lo uma disciplina
bastante complexa e ambivalente. Seja a cores ou a preto e branco, está em todo o lado,
“vemo-lo em grandes outdoors e em Bíblias”. O design gráfico, na sua essência, comunica,
combinando fotografias, ilustrações, números e palavras, no fundo, combina todos os
elementos visuais para, através deles, materializar ideias. Valendo-se de informações de
várias disciplinas, estimula e transmite emoções visualmente, procurando tornar tangível
um determinado conceito. “Simplificando, é a arte de visualizar ideias”.
4
Esta designação foi a eleita para prestigiar o design quando se fala de identidade visual e o marketing
quando as referências são à identidade corporativa.
76 DESIGN GRÁFICO
4.1.1 PAPEL DO DESIGN GRÁFICO
Segundo o Centro Português de Design (1997, p.34), “os designers gráficos são
especialistas na criação de elementos que permitem uma determinada identificação e
diferenciação dos aspectos visuais da empresa, contribuindo, por meio deles, para a
política e estratégia de comunicação da mesma”. Arcando responsabilidades, acima de
tudo, estratégicas, assume-se como o principal precursor da concepção da identidade de
marca no mercado e na mente dos seus consumidores. Relacionando as funções da marca
(KAPFERER, 2003), as funções do design gráfico (HOLLINS, 2005) e sua área de
actuação (FRASCARA, 1998), denota-se a sua uma estreia ligação entre o design e a
gestão de marca (quadro 2).
DESIGN GRÁFICO 77
tecnológicos e, a sua tarefa derradeira, avaliar eficiência do projecto (FRASCARA, 2005;
FUENTES, 2006).
Sendo assim, é possível concluir que o design gráfico se assume como um dos
principais responsáveis por materializar a comunicação institucional, ou seja, a marca. Cria
ideias, desenvolve estratégias e posteriormente implementa-as sob a alçada da
comunicação. As considerações de Fuentes (2006), confirmam isto mesmo. O autor
reconhece um mundo cada vez mais visual, onde o design gráfico intervém de forma a
criar uma inter-relação entre factores expressivos, tecnológicos e económicos a partir da
indissociável conjuntura emissor/receptor.
78 DESIGN GRÁFICO
suportada por quatro vectores – products, environment, communication e behaviour5
(quadro 3).
Segundo Olins (2005) a coerência exigida só faz sentido se for fruto de uma
consistência interna, proporcionada por um conceito de marca concreto, desenvolvido para
ser tangível a todos os elementos constituintes da organização. O design gráfico como
agente multidisciplinar de gestão de marca, sob a sua responsabilidade abarca participações
em cada um dos quatro sentidos da marca:
Products – o que a marca fabrica ou vende;
Environment – ambiente associado à marca, como é o caso da sua loja;
Communication – como a marca se dirige às pessoas, como lhe fala sobre si
própria e sobre o que faz;
5 As designações são apresentadas na sua língua original. Traduzido pelo autor para facilitar a
interpretação: produto, ambiente, comunicação e comportamento.
DESIGN GRÁFICO 79
Behaviour – como os funcionários se relacionam entre si, com os clientes e com a
marca.
80 DESIGN GRÁFICO
4.1.1.1 AGENTE DE COMUNICAÇÃO
A linguagem visual foi abordada por Dondis (2000) e Munari (2000) nas suas obras
e segundo estes autores deve ser reconhecida como um recurso intrínseco ao ser humano,
cuja evolução foi acontecendo de forma pura e original, até à capacidade de ler e escrever.
Parafraseando os mesmos autores, de entre todos os meios da comunicação humana este é
o mais genuíno. É o único que não se submete a um conjunto de regras, metodologias, nem
tão pouco tem critérios pré-definidos, tanto na expressão como na interpretação.
DESIGN GRÁFICO 81
transmitidas pela comunicação visual, tendo como uma das suas principais funções traduzir
a identidade visual nos seus atributos essenciais.
Parafraseando Tybout e Calkins, (2006), para criar uma marca e a sua respectiva
aplicabilidade, é essencial avaliar várias situações e decidir a respeito de nomes, cores e
símbolos. O objectivo é somente um, materializar um conceito previamente desenvolvido.
Para tal, o design da marca6, parte integrante da identidade visual corporativa, é essencial
para transformar a descrição dos objectivos e considerações do marketing em conceitos
tangíveis, evidenciando os valores da identidade de marca, previamente elaborada.
Sendo definida pela ADG (2004), como a representação formada a partir das
percepções em relação a uma organização, tanto por parte dos seus consumidores, como
dos seus funcionários, de uma forma geral, do mercado como um todo. A “imagem
6 Etapa entre o desenvolvimento do conceito e a criação da estratégia de comunicação.
Preferencialmente, um documento claro que facilite a implementação da comunicação (TYBOUT E
CALKINS, 2006).
82 DESIGN GRÁFICO
corporativa” é resultado de visões internas e externas em relação a inúmeros aspectos da
empresa, a sua dimensão e objectivos até aos seus métodos de trabalho, produtos e/ou
serviços e sua qualidade, volume de produção e de facturação, rentabilidade e
contemporaneidade.
Nas palavras de Niemeyer (2002, p.30), a identidade visual corporativa pode ser
compreendida como:
“(...) a expressão visual da filosofia, da cultura da empresa, da imagem que
ela pretende estabelecer e enfatizar junto ao seu público-alvo. A identidade
corporativa deve estar consoante com a estratégia de negócios da empresa e refletir
o seu plano de negócios (...) deve comunicar sua cultura e sua filosofia tanto
perante seu público-alvo quanto o seu público interno e aos seus concorrentes”.
DESIGN GRÁFICO 83
Reforçando as considerações dos autores anteriormente citados ADG (2004) define
a identidade visual corporativa como o sistema de elementos gráficos que identificam
visualmente uma organização, um produto ou um evento, personalizando-os. Pode ser
logótipo, símbolo gráfico, determinada tipografia ou cor.
Nesse sentido, Péon (2003, p. 15) define o sistema de identidade visual como um
“(…) sistema de normatização para proporcionar unidade e identidade a todos os itens de
apresentação de um dado objeto, através de seu aspecto visual [...] pode ser uma empresa,
84 DESIGN GRÁFICO
um grupo ou uma instituição, bem como uma ideia, um produto ou um serviço”, desde que
tenha como objectivo principal identificar e fortalecer a memorização do objecto através da
sua apresentação visual. Como objectivos secundários, o autor, apresenta os seguintes:
a) Influenciar a diferenciação visual da organização perante os seus
concorrentes, bem como reflectir com clareza simbólica e subliminarmente a
identidade de marca;
b) Promover um controlo de stock, de património e de pessoal. O
sistema de identidade visual funciona como um carimbo que identifica tudo o
que integra a organização – colaboradores, produtos, bens e património;
c) Persuadir ao enriquecimento da organização. Convencendo o
público-alvo, através da comunicação da identidade visual corporativa, que a
organização atinge os seus objectivos e, com isso, lhes pode trazer benefícios.
DESIGN GRÁFICO 85
5. MARKETING
No estudo desta disciplina Kotler e Keller são autores incontornáveis que se têm
dedicado a polir as bases do marketing contemporâneo. Como tal, são uma referência
obrigatória a todos os que lhe seguem. É certo que as marcas são activos intangíveis e ao
mesmo tempo os mais valiosos das organizações. As próximas considerações terão em
conta os princípios propostos por estes autores, mas seguiram a linha editorial de Lencastre
(2005), autor português que se dedica ao estudo da marca.
MARKETING 87
“A partir do momento em que existem trocas, existe marketing” (LENCASTRE,
2005, p. 28). Adianta o autor, que esta máxima explica a primeira palavra-chave do
marketing “troca”. Essa troca é assumida como vantajosa para todos os intervenientes,
sendo ele caçador, pescador, agricultor ou fazendeiro. Continuando a análise da evolução
histórica do marketing, segue-se a introdução de um terceiro elemento, especialista da
troca, o mercador. Estes são ancestrais profissionais de marketing, era a eles que os
produtores confiavam os seus produtos para os negociarem junto de clientes, longínquos,
aos quais nunca teriam alcance (figura 13).
88 MARKETING
intervenientes. Naturalmente, cada um dos participantes requer uma relação comercial
específica, sejam eles clientes, fornecedores, accionistas, pessoal, etc. (figura 14).
MARKETING 89
novo conceito, o de marketing circular e define-o como a gestão das relações de troca de
uma entidade, seja ela física ou jurídica, com os seus diferentes públicos.
1
Passando à tradução: produto, preço, comunicação e distribuição.
90 MARKETING
definido como um conjunto de ferramentas de marketing táticas e controláveis que a
empresa utiliza para produzir a resposta que deseja no mercado-alvo” (figura 15).
MARKETING 91
“teoria dos 4 Ps” tem sofrido, revelam o desagrado das marcas perante os actuais modelos.
Nessa óptica, alguns autores têm avançado novos conceitos em que acrescentam Ps aos
marketing-mix. Muito recentemente, Londre (2009) apresentou a sua proposta que lhe
acrescenta cinco novos elementos. Este novo modelo, denominado de “teoria dos 9 Ps”,
contém as seguintes variáveis: planning, people, product, price, promotion, place,
partners, presentation e passion2.
Planning: também denominado por processo de marketing. Consiste em delinear as
estratégias para alcançar os objectivos do plano de marketing. Definindo alvos
específicos para cada ferramenta à disposição da organização;
People: é altamente focado no consumidor. Pretende entender o mercado,
segmentá-lo e separá-lo em unidades baseadas em factores demográficos,
geográficos, psicológicos e características de comportamento.
Product: refere-se a bens e serviços, incluindo as tradicionais preocupações a seu
respeito, tais como, variedade, características, design, embalagem, dimensões,
assistência, política de devoluções, etc.
Price: debruça-se sobre todos os aspectos relativos ao preço, principalmente o
preço que os consumidores estão dispostos a pagar.
Promotion: inclui todos os tipos de comunicação, sejam eles verbais ou não-
verbais. Planeia actividades relacionadas com vendas, publicidade, promoções,
materiais de propaganda, marketing directo ou relações públicas.
Place: outra denominação pode ser distribuição. É responsável pelas actividades
que tornam o produto acessível ao consumidor, ou seja, assegura-se que o
escoamento dos produtos é eficiente, que existem vários pontos de venda que o
disponibilizam e que os consumidores o podem adquirir com facilidade.
Partners: Kotler & Amstrong (2005) denomina-as por cadeias de valor. É uma
garantia de rentabilidade no mercado. Consiste em desenvolver parcerias ou
alianças com outras organizações que partilhem interesses, é costume acontecer
com mais do que uma. Na prática, asseguram juridicamente uma cooperação entre
as várias partes com direitos e deveres comuns.
2
Tradução do autor: planeamento, consumidor, produto, preço, comunicação, distribuição, parceiros,
apresentação e paixão.
92 MARKETING
Presentation: assegura a clareza de todos os elementos da estratégia de marketing.
“The acts of presenting any of the 9 P’s to your costumers, suppliers, clients, or
partners”3 (LONDRE, 2009, p.3).
Passion: estabelecem-se contactos afectivos. Distinguem-se as emoções da razão e
explora-as.
Nesse sentido, Lauterborn (1990) talvez tenha sido um visionário, pois apresentou à
comunidade internacional um novo conceito de marketing-mix, na última década do século
XX. O autor colocou o consumidor no centro da estratégia de marketing em detrimento do
produto, essa revolução levou-o a concluir novas variáveis, tais como, consumers wants
and needs, cost to satisfy, convenience to buy e communication5. Esta nova realidade
denomina-se de “teoria dos 4 Cs”.
3
Tradução do autor: “Apresentar qualquer um dos 9 Ps aos seus consumidores, fornecedores, clientes ou
parceiros”.
4
Conceito apresentado por Lipovetsky (2007) em que o ser humano assume uma postura de turboconsumidor
distante, livre das antigas culturas de classes e imprevisível no que toca aos seus gostos.
5
Tradução do autor: “necessidades e desejos do consumidor, custo para satisfazer o consumidor,
conveniência para comprar e comunicação”.
MARKETING 93
Neste sentido, Keller e Machado (2006) constatam que, o novo modelo de negócio
para as marcas é baseado no armazém do princípio do século XX. Onde o dono conhecia
os seus clientes porque eram vizinhos, sabia exactamente a idade dos seus filhos, o que
cada um gostava em relação a todo o tipo de mercadorias e até o que gostavam de fazer nas
horas vagas. Voltou a prática iniciada pelos mercadores, que personalizavam cada uma das
suas relações comerciais. Esta é uma realidade que a internet resgatou, o marketing
personalizado, onde cada consumidor ambiciona celebrar a sua individualidade As marcas,
para se adaptarem ao desejo por personalização do consumidor actual, têm adoptado novos
conceitos de marketing, tais como, marketing de experiência, marketing one-to-one e
marketing de permissão.
94 MARKETING
funciona mais no patamar da criação de imagens de marca, construir comunidades de
marca e, inclusive, tirar proveito de uma variedade de sentimentos.
Estas reflexões permitem concluir que a tendência é para uma reformulação das
estratégias de marketing, sem que com isso perca a sua identidade. Pretende-se com isto
dizer, que continuará a ser o principal responsável pela materialização da marca em
produtos ou serviços. O marketing tem vindo a aprimorar-se, em grande escala
impulsionado por este novo tipo de consumidor hiper-exigente.
MARKETING 95
6. E A PUBLICIDADE!?
Estes assuntos são abordados por Rasquilha (2009) que faz uma investigação
transversal a respeito da história e da função da publicidade. O autor considera a sua
divisão em duas grandes áreas, “above the line” (tv/cinema; rádio; imprensa; outdoor;
internet; mobile) e “below the line” (marketing directo; promoções; merchandising;
relações públicas; patrocínios; mecenato; feiras; eventos). Nesse sentido pode-se definir da
seguinte forma: tornar público, transmitir informação ou ideia a outros; técnica de
comunicação de massas, destinada a um público específico e que é especialmente paga e
utilizada com o objectivo de dar a conhecer e valorizar uma marca (produto, serviço ou
instituição), contribuindo para a sua experimentação, consumo, adesão, fidelização
utilização ou apoio.
Parafraseando Rasquilha (2009) a sua origem, como prática intuitiva, é tão remota
quanto a do marketing, está directamente associada à actividade do mercador. De uma
forma mais instituída, surgiu com a invenção da imprensa, por Gutenberg1, e continuou a
sua evolução impulsionada pela descoberta de novos sistemas de comunicação2. A sua
1
Inventor alemão responsável pela introduzindo os tipos móveis (década de 1390-1468). A sua descoberta
permitiu a primeira impressão mecânica e, consequentemente, a difusão da comunicação de massas através
da Bíblia (MEGSS, 2009).
2
Rádio, cinema e televisão.
E PUBLICIDADE!? 97
actualização deve-se ao desenvolvimento das ciências sociais, psicológicas e económicas
que a tornou racional e objectiva.
98 E PUBLICIDADE!?
7. BRANDING
Nas palavras de Cancino e Kolenda (2007) branding é uma actividade que teve
início no norte da Europa durante a idade média (476-1492), onde a economia vigente era a
agrária e os bens de consumo eram extraídos directamente da Natureza. Uma marca
começou por ser, o acto de queimar um determinado símbolo na carne dos animais com o
intuito de identificar o seu proprietário. Os Vikings, originalmente, iniciaram esta prática e
posteriormente foram os grandes responsáveis pela sua divulgação. Durante as suas muitas
passagens por Inglaterra, a palavra foi ganhando espaço no léxico do povo britânico que
posteriormente a integrou no seu dicionário. Mais, a prática dos Vikings ao seu gado era
imitada pelos Ingleses, que a aplicavam nos criminosos que exilavam. Durante o final do
1
Palavra inglesa para marca.
BRANDING 99
século XII e o início do século seguinte, para notificar o estatuto de exilado e identificar
determinada pessoa como não merecedora de confiança, os criminosos eram marcados com
a letra “A”2.
Apesar das primeiras marcas terem sido lançadas no princípio do século XVII só
puderam ser patenteadas a partir de 1790, data em que foi estabelecida a Constituição
Norte Americana. Na Europa esta novidade surgiria em França apenas um ano depois. As
considerações de Cancino e Kolenda (2007) apontam que até ao final da era pré-industrial,
a maioria dos bens provinham da agricultura que era a principal fonte de emprego. Apenas
em 1827, o sentido da palavra brand foi alargado e registado no dicionário como “a
particular make of goods”5.
2
Inicial da designação original abjurers, aquele que renuncia a uma determinada cultura ou religião.
3
Japan Patent Office – History of Industrial Property Rights. Disponível em
http://www.jpo.go.jp/seido_e/rekishi_e/nenpyoe.htm. Acesso em: 03.02.2010
4
Online Etymology Dictionary, © 2001 Douglas Harper. Tradução de autor: marca de identificação cravada
por um ferro quente.
5
Tradução de autor: bens caseiros
100 BRANDING
7.1.1 AS PRIMEIRAS MARCAS
Segundo Olins (2005) durante quase um século, de 1880 a 1970, entre os produtos
publicitados os bens de grande consumo foram os mais importantes e os que mais
influenciaram, consumidores e organizações. Serem os únicos produtos conhecidos por
marcas seria o resultado de uma actuação das organizações a que se chamou de gestão de
marca. Com o tempo a preponderância da marca no imaginário do consumidor foi
crescendo e, frequentemente, dominam as organizações que originalmente as criaram.
BRANDING 101
7.2 CONCEITO DE BRANDING
Para Kotler (2008) branding pretende dotar produtos e serviços com o poder da
identidade de marca através da diferenciação. Para o autor é essencial ensinar aos
consumidores “quem” é determinado produto, identificando-o, sempre com o objectivo de
mostrar ao consumidor “porque” se deve interessar por ele.
102 BRANDING
melhorar a sua relação com a marca. Por outro lado, a organização se aumentar a
eficiência e eficácia dos planos de marketing, promove a lealdade pela marca e,
naturalmente, estabelece vantagens competitivas perante a concorrência. Nesta linha de
raciocínio, os elementos constituintes do brand equity são: lealdade, reconhecimento,
qualidade percebida, associações, posicionamento e, por fim, os restantes activos da
organização.
BRANDING 103
A complexidade do assunto não permite uma definição concreta, uma vez que cada
autor apresenta um ponto de vista parcial do conceito. Nesse sentido conclui-se que
branding é toda e qualquer actividade de gestão e construção de marca, pois tem como
principal propósito aproximar a marca dos seus consumidores.
104 BRANDING
7.2.2 IDENTIDADE CROMÁTICA
6
Diz-se que um signo é transparente quando o observador interpreta automaticamente o seu significado, ao
contrário da sua função habitual de canal de significação.
BRANDING 105
8. COR NO BRANDING
Kandinsky (2007) defendia que, do ponto de vista estritamente físico, o olho sente a
cor. Ao experimentar as suas propriedades é seduzido pela sua beleza, um pouco à
semelhança de uma iguaria que provoca uma alegria penetrante na alma do seu apreciador.
São sensações físicas e, como tal, superficiais e efémeras, isto quando a alma permanece
fechada.
8.1 INTERBRAND
O The Best Global Brands2 é um dos três principais rankings de marcas do mundo,
da autoria da Interbrand. Esta consultora, com toda a legitimidade, elabora um relatório
anual onde classifica as marcas mais valiosas do mundo (figura 16), baseando-se no
1
Interbrand – Creating and Managing Brand Value. Disponível em: http://www.interbrand.com. Acesso
em: 05.02.2010
2
Tradução do autor: As Melhores Marcas do Mundo.
equilíbrio entre o valor financeiro e o valor criativo, para tal, aplica critérios bastante
claros, tais como: a empresa dona da marca tem que ter acções em bolsa; no mínimo, um
terço da sua facturação tem que ser originária de fora do país de origem; a marca deve-se
cingir a um determinado sector de mercado; o valor económico agregado (EVA, na sigla
em inglês) tem que ser positivo e não pode contar com um público exclusivamente
business-to-busines (B2B)3.
3 Universidade Católica de Goiás. Marcas: as melhores do mundo. Disponível em:
http://www.ucg.br/ACAD_WEB/professor/SiteDocente/admin/arquivosUpload/12516/material/Mar
cas%20as%20melhores%20do%20mundo.pdf. Acesso em: 09.02.2010.
8.1.1 RANKING DA INTERBRAND
8.2 VERMELHO
Quantos tons de vermelho são conhecidos? Esta pergunta, feita por Heller (2007),
ainda faz mais sentido depois de se conhecer a sua resposta. Constam cento e cinco tons de
vermelho identificados. Por exemplo, para os artistas existe uma grande diferença entre o
vermelho cádmio e o vermelho carmesim, apesar de os seus matizes serem bastante
parecidos, podem ser distinguidos por um pormenor, o vermelho cádmio cobre
perfeitamente as superfícies enquanto o vermelho carmesim mantém alguma transparência.
Neste sentido, a importância desta cor é cabal. Na sua pesquisa, Pessoa (2004)
concluiu que o vermelho foi a primeira cor a ser denominada, é uma cor sem igual em
termos de história, simbologia ou valor. Normalmente é considerada a cor das cores, pois é
a primeira cor a ser reconhecida pelo homem pelo seu impacto emocional.
Nos seus estudos Kandinsky (2007) percebeu que as cores claras atraem o olhar e
retêm-no, as claras e quentes fixam-no ainda com mais intensidade. Assim como a chama
atrai o homem de uma forma irresistível, também o vermelhão atraia e irrita o olhar.
Quanto mais elaborado é o espírito sobre o qual a cor se aplica, maior e mais profunda é a
emoção que este acto elementar provoca na alma do seu espectador. Quando assim é,
acontece uma acção psíquica secundária, a cor provoca uma vibração psíquica que alcança
a alma (não ficando claro que esta acção seja directa). É legitimo partir do princípio que,
estando a alma ligada ao corpo, qualquer emoção pode despoletar outra. No caso do
vermelho, é perfeitamente possível este desencadear uma vibração interior semelhante à da
chama, até por ser essa a sua cor. A acção do vermelho é excitante, a sua semelhança com
o sangue, pode produzir uma impressão penosa, chegar mesmo a ser dolorosa. Neste caso a
cor desperta a recordação de outro agente psíquico, o qual exerce sobre a alma uma acção
penosa.
No que toca ao pigmento, a sua origem é anterior, Pessoa (2004) refere que
arqueólogos datam as suas primeiras aparições contemporâneas ao período do Homem de
Neanderthal, há sensivelmente cento e cinquenta mil anos. Por esta altura o homem
enterrava os seus mortos em ocre vermelho e pintava os seus ossos da mesma cor,
provavelmente por se ter apercebido que o fluxo vermelho de sangue significava a
diferença entre a vida e a morte e naturalmente consideravam que aquele acto iria devolver
a vida aos seus mortos. Este misticismo em redor do vermelho continuou a acompanhar a
evolução do ser humano, durante o Neolítico os caçadores consideravam esta cor a mais
importante, segundo eles o vermelho estava dotado de poderes protectores contra
influências malignas. Estas características mágicas levavam aqueles homens a marcar tudo
de vermelho, objectos, árvores e até animais, inclusive, os caçadores convencidos que
estavam a dotar as suas armas com poderes para perseguir os seus alvos pintavam-nas de
vermelho. Durante este período a cor vermelha era proveniente do ocre, um pigmento
natural composto por óxido férrico, porém a ciência também revela que a utilização do
sangue dos animais servia os mesmos objectivos.
Estas práticas de extracção da tintura vermelha encareciam o seu valor, por isso a
sua aquisição não estaria ao alcance de todos, tecidos tingidos de vermelho eram um luxo
exclusivo daqueles que tinha dinheiro, poder e estatuto social. Na China, pelo menos até à
Dinastia Sung (960 a 1275), consideravam que as roupas vermelhas eram tingidas com
sangue de dragão. Por essa razão as roupas vermelhas eram significativas de riqueza e
exclusivas às classes mais altas. Nos seus estudos, Pessoa (2004), refere práticas antigas
que contribuíram para o prestígio do vermelho. Tanto na época Medieval como na
Renascentista aristocratas ou oficiais importantes frequentemente eram pintados usando
ricas vestes vermelhas.
4
Mundo das Cores – O Portal das Cores, Tintas e Serviços. A Origem dos Nomes das Cores. Disponível em
http://www.mundocor.com.br/cores/nomescores.asp. Acesso em: 05.02.2010
8.2.1.1 O VERMELHO NA HERÁLDICA
5
Consiste simultaneamente na arte e ciência de descrever brasões de armas.
6
Designação heráldica de cor.
7
No original “negro”.
8
No original “armas”.
e roxo, representam antes os quatro elementos, ar, fogo, água e terra, não são
representativas de armas por não serem perfeitas (figura 17) (DORNELAS, 1931).
8.2.2 A AMBIGUIDADE DO VERMELHO
Sobre os significados das cores, no ponto de vista de Heller (2007), os efeitos das
cores não são inatos, da mesma maneira que a linguagem também não o é. Acontece que as
cores se vão conhecendo ao longo da infância enquanto a linguagem é aprendida, logo os
significados ficam imediatamente interiorizados. Por essa razão parecem inatos.
O autor, Kandinsky (2007) acrescenta que o vermelho claro e quente evoca força,
energia, decisão, alegria e triunfo. “Soa como uma fanfarra em que predomina o som forte,
obstinado e importuno do clarim (KANDINSKY, 2007, p.87).” O vermelho médio
perpetua a intensidade de certos estados de alma, tal como, a paixão incandescente e
regular. É uma cor que contém uma força intrínseca tal, que não se concilia com os tons
frios, pois retiram-lhe significado e ressonância. Em tons claros o vermelho frio ainda
acentua mais o seu carácter corpóreo, emana uma alegria jovial e pura e uma frescura
virginal, “imagem que se exprime musicalmente nos tons elevados, claros e vibrantes do
violino (KANDINSKY, 2007, p.89).”
9
Nas palavras de Kandinsky (2007) qualquer cor pode ser fria e quente. Embora não haja mais nenhuma que
permita contrastes tão grandes.
“Few colours have been so heavily freighted with symbolic resonances as red.
(CAGE, 1999, p.110).” O simbolismo do vermelho comporta associações com vida, morte,
feminilidade, virilidade, violência, alegria, mal, santidade e divindade, luxo, indigência e
euforia. Conforme Pessoa (2004) evidenciou, tanto pode ser o sangue que corre nas nossas
veias como o sangue derramado; pode ser o calor da fogueira que nos aquece numa noite
fria de inverno ou as chamas avassaladoras que destroem tudo por onde passam. Na China
as noivas casam vestidas de vermelho por ser a cor da felicidade, mas também está
relacionada com a propriedade, por isso é usada para atrair a boa sorte. No caso do
ocidente, a cor vermelha é utilizada na sinalização rodoviária assinalando alto risco,
emergências, obrigatoriedade (semáforo vermelho obriga a parar) e proibições. Diferentes
culturas podem ter a sua própria interpretação do vermelho, mas há associações que são
universais. O vermelho estará sempre ligado a calor, sangue, emoções e perigo.
O vermelho é a cor mais frequente das bandeiras, por ser aquela que permite uma
melhor diferenciação de entre as restantes, nesse sentido, proporciona que as suas insígnias
sejam identificadas mais facilmente. Outro motivo é a estabilidade que os tecidos
vermelhos oferecem perante as constantes alterações na iluminação das insígnias,
antigamente, em termos de legibilidade poucas eram as cores que ofereciam tão boas
condições como os vermelhos de granza e de quernes10. Heller (2007) constatou que ao
longo dos últimos séculos a bandeira vermelha, originalmente declarada pelos Jacobinos
10
Tonalidades variáveis que dependiam da origem de que o pigmento era extraído. O vermelho granza
provinha da raiz de um vegetal de nome rubia tinctorum, o vemelho quermes, por sua vez era extraído de
uma espécie de pulgão parasita dos carvalhos.
(1792) de bandeira da liberdade, por ser uma cor tão influente no universo simbólico, foi
sofrendo adaptações consoante a causa que mais interessava defender.
8.2.2.2 O VERMELHO COMO CRENÇA
Por todas essas associações com sangue, Pessoa (2004) conclui que a cor vermelha
também é símbolo de esperança em várias religiões. De acordo com o Decreto Papal, esta
cor simboliza a virtude da caridade e o sangue derramado por mártires. Hoje, usar um laço
vermelho tem duplo significado, tanto simboliza o sofrimento das pessoas com SIDA
como a esperança de encontrar a cura para a doença. A papoila vermelha evoca lembranças
daqueles que perderam a vida na Primeira e na Segunda guerras mundiais. A Operação
Nariz Vermelho reforça essa associação entre cor e a caridade, bem como a Cruz
Vermelha, marca universalmente conhecida que partilha o mesmo princípio da caridade, ao
qual acrescenta irmandade, amor e unidade.
8.2.3 A FORÇA DO VERMELHO
Armado com todos estes atributos para Pessoa (2004) não há dúvidas que o
vermelho não pode ser utilizado de ânimo leve. A sua aplicação de forma inteligente no
caso do design de ambientes, por exemplo, pode provocar reacções subliminares nos
utilizadores do espaço. O vermelho tem tal poder de sugestão que algumas pessoas se
sentem mais quentes quando estão num ambiente vermelho, isto acontece mesmo sem
haver nenhuma alteração na temperatura.
Corroborando as afirmações de Steele (2001), o prestígio do vermelho mantém-se,
apesar da coloração das roupas de vermelho já não ser particularmente dispendiosa, nem a
utilização da cor corresponder a superstições ou objectivos místicos. As referências
anteriores permitem-nos perceber como surgem as origens da simbologia do vermelho,
bem como, os objectivos das suas práticas actuais. Naturalmente com a evolução da
humanidade as conotações a respeito do vermelho cresceram mais diversificadas e
complexas. Este poder do vermelho ajuda a perceber a sua preponderância no universo das
marcas.
8.3 AS MARCAS VERMELHAS
Fonte: o autor
Figura 18: Coca-Cola
Identidade Visual Corporativa.
Mantém-se fiel ao original até hoje.
A cor da Coca-Cola é o vermelho por inspiração da cor dos antigos barris onde
originalmente era vendido o antigo xarope medicinal. Embora sem grande intencionalidade
à época, a marca serviu-se da sua cor para maximizar a sua presença no mercado. É da sua
autoria a caracterização do Pai Natal, símbolo dessa época festiva, vestindo-lhe um fato
11 Coca‐Cola Portugal. Disponível em: http://www.cocacolaportugal.com. Acesso em: 11.02.2010.
vermelho. Resultado de uma acção publicitária levada a cabo nos anos trinta do século
transacto, para tentar aumentar as vendas do seu refrigerante durante o Inverno.
O Continente é a sua congénere nacional, é uma marca cuja história não é tão
recheada de sucessos, mas apenas por uma questão de anos de vida. Com a abertura do
primeiro hiper-mercado em 1985, revolucionou o mercado e afirmou-se como o líder dos
preços baixos e da variedade. É uma marca com bastante notoriedade, fruto da sua
liderança inquestionável.
Fonte: o autor
Figura 19: Continente
Identidade Visual Corporativa.
O recente redesign de que foi alvo a sua identidade visual corporativa contribuiu
para melhorar a sua performance e reforçar a aposta no vermelho como a sua identidade
cromática. Identidade essa que se manifesta bastante presente nas suas lojas o que
influencia os consumidores na hora de comprar, à imagem do sucedido nos casinos em Las
Vegas, e ao mesmo tempo torna o ambiente bastante acolhedor.
9. CONCLUSÕES
9.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo foi bastante aliciante, acima de tudo, pelo seu carácter pioneiro. Não foi
um processo fácil, nem o tempo o suficiente para alcançar todas mas metas. Branding é
uma actividade complexa em construção e, como tal, exigiu esclarecer diversos conceitos
antes da sua abordagem.
125
influenciar através do nosso subconsciente. Os estímulos cromáticos actuam sem
precisarem do nosso consentimento.
Neste sentido, este estudo pretendeu esclarecer que branding é uma actividade que
deve compilar o conhecimento (know how) do design, do marketing e da publicidade e
trabalhar para o consumidor em prol das marcas. Assim todos sairemos a ganhar, no fundo
é mesmo isto que se pretende.
O que começou por ser uma investigação para criar um manual de boas práticas da
cor em branding rendeu-se a uma constatação de que as marcas vermelhas normalmente
são as líderes no que diz respeito às marcas mais valiosas. Naturalmente haverá sectores de
mercado em que o vermelho, pelas suas conotações, é uma cor que não enquadra, mas de
forma geral a sua intensidade, ambição, energia e força contribuem, e de que maneira, para
uma boa relação entre os consumidores e as marcas.
9.2 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Com as considerações aqui concisas, branding deixou de ser tão distante das
actividades com preocupações estéticas. A cor, neste caso o vermelho, proporciona
melhorar o rendimento das marcas e deve ser tido em consideração em cada actividade de
gestão e reconstrução das mesmas.
O vermelho é uma cor muita força no universo das marcas, mas há outras
perspectivas a ter em conta no futuro. O protagonismo do azul parece estar em claro
crescimento, ora aí está um bom assunto.
127
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