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Epístola Às Mamalhudas
Epístola Às Mamalhudas
Ao contrário da maioria dos meus concidadãos não estou grandemente preocupado com
a definição de uma estratégia que permita à nossa selecção vencer em todos os torneios;
conhecimentos de mecânica automóvel num país onde noventa por cento dos
condutores do sexo masculino são peritos na matéria, facto que, suponho, estará
Ora, como passa o seu tempo um funcionário público que não lê jornais desportivos,
não discute política nem argumenta as vantagens dos audi sobre os saab ou vice-versa?
Pois bem. Geralmente – e devo confessar-vos que já fui assíduo praticante deste
Devo admitir, sem falsas modéstias, que fui dos melhores praticantes da modalidade
mas, com o passar dos anos, o catarro persistente da alma despertou-me para a
vacuidade da minha existência pelo que decidi dar novo rumo à minha vida.
Foi assim que inaugurei aquilo a que depois viria a chamar de Método Um Pensamento
por Semana. Sim, um pensamento por semana porque, afinal, não devemos exagerar:
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Ainda me lembro do meu primeiro pensamento por semana: Que rumo para a educação
Foi um desafio do caraças! Iam-se-me queimando as sinapses todas! Tanto assim que
resolvi não pensar mais nesse pensamento ainda a semana ia a meio, pese embora a
O segundo pensamento por semana foi: As asas do avião que se precipitou contra o
pragmática.
E foi assim que dei comigo a interrogar-me sobre questões que podereis rotular de
nossa ilusão de conhecer. Definido o novo rumo, propus-me fazer algo de útil, algo de
para a eliminação de algumas das traças que devoram o nosso tecido social, ao invés de
Por isso aqui estou hoje, de coração nas mãos, ó mamalhudas do meu país!: jovens
shirts de marca mal o verão espreita; moçoilas casadoiras das aldeias, de férteis seios
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matrimónios: a todas vós me dirijo, vítimas injustas da tirania da estética anoréctica;
mamas grandes são um factor de risco sempre desprezado; secundo, porque as mamas
grandes são de uma importância estratégica vital para a independência da nação, como
A minha tia Ofélia a quem a natureza tinha dotado com um formidável par de airbags
a no abismo. Infelizmente para ela o milagre não se repetiu. A santinha devia ter tirado o
dia ou coisa assim e a pobre esborrachou-se que nem um ovo. O tio Salema ainda se
lançou para a frente, em jeito de guarda-redes, para a segurar. Porém, tudo o que
conseguiu foi ficar-lhe com os sapatos nas mãos, seguros pelos saltos. Foi uma pena,
toda a família o reconheceu, pois era um belo par de sapatos de salto alto que acabaram
por ir para o lixo porque o meu tio nunca os quis usar, por ser homem muito avesso a
modernices.
Outro caso bem demonstrativo dos perigos da hipertrofia mamária, mesmo para
terceiros, foi o do Silveirinha Barbeiro a que os jornais deram farta cobertura: homem
um fígado cardinalício aos quais dava muito uso. Certa noite, bem comido e melhor
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bebido, penetra no calor do tálamo e cai imediatamente num profundo sono fadista
sua esposa, meio a dormir, meio acordada, faz uma brusca meia-volta entre os lençóis e
mixórdia que ele tivesse ingerido e só ficou viúva por volta do meio-dia quando foi dar
Mais não direi. Os perigos foram ilustrados. Compete agora às autoridades decidir o que
fazer com essas infelizes criaturas: coagi-las a usar ao pescoço um sinal que poderá ser
solução que julgo ser mais curial, instar as seguradoras a criar uma linha de produtos
mamas/acidente.
Quanto ao segundo ponto, fia mais fino. É por demais evidente que a nossa dependência
energética é dramática: não temos petróleo, não temos carvão, os nossos ventos são
grandes que abanam, que saltitam, que sacolejam, que se contraem e distendem sem
qualquer mais valia para a nação. Ora, era aqui que eu queria chegar.
poderia ser usado por qualquer senhora num daquelas bolsas de cintura, sem incómodo
de maior.
Imaginem agora os meses de maior stress hídrico: a partir de Maio, digamos, período
esse que coincide exactamente com o do pânico das senhoras frente ao espelho, em
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tirânicas dietas, a mortificações das carnes, a exageros de jogging, a sovas de footing, a
para as baterias a energia inutilmente esbanjada pelas penitentes, com alívio notório da
Mesmo à escala modesta das vidas privadas a adopção desta tecnologia poderia via a
vejamos: É dia de final da taça. Pai e filhos assanhados frente ao pequeno ecrã. O jogo
chega ao fim dos noventa minutos empatado três a três. Vai haver recurso a penalties.
Estão todos numa pilha de nervos. De repente, falta a luz. Em vez de sair de casa a
correr para se enfiar no bar mais próximo, o chefe de família chamaria a sub-chefe de
família, ligava o televisor à bolsinha dela e dizia: dá aí uns pulinhos, querida. E assim se
Mas, muito mais importante que isto, seria a dignidade readquirida, o fim dos risos
não diriam, gulosamente: esta gaja é boa como o milho mas, sim, com grata reverência:
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