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EDUCAÇÃO UNIVERSITÁRIA E DESENVOLVIMENTO HUMANO*

Márcia Cristiane Almeida Labiak


Joelma Feier
Isaura Figueiredo da Silva

RESUMO
Este trabalho aborda a universidade brasileira, e sua contribuição para o
desenvolvimento humano, a sua importância como agente de transformação
social. A analise trata do homem, a cultura e a educação, fato este que requer a
emancipação, ou melhor a liberdade pelo esclarecimento como a necessidade da
educação que promove o homem e desmistifica a barbárie.

Palavras Chaves: Universidade, Desenvolvimento humano, educação, ensino


superior.

INTRODUÇÃO

Este artigo discorrerá sobre o ensino universitário no contexto de


desenvolvimento humano, onde será destacado os principais desafios para a
Universidade no contexto atual, aproveitando a oportunidade para refletir sobre o
homem no seu conjunto, destacando cultura e educação. Mais adiante será
enfocada a alienação que vem ocorrendo por meio da desumanização do
trabalho, fato este que demanda emancipação humana, acredita-se que tal
emancipação pode ser dada pela via da liberdade pelo esclarecimento; ou seja,
utilizarmos a razão instrumental para desmistificar a barbárie, enfocando por
último a educação como forma de promoção humana.
Trata-se de um trabalho de cunho bibliográfico, onde buscou-se utilizar
diversas obras atualizadas para bem embasar e contextualizar a temática
proposta.

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*Artigo apresentado pelas autoras como parte da avaliação final do curso de
Especialização em Prática Docente do Ensino Superior promovido pelas Faculdades
Integradas Campo Real.
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CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO SUPERIOR


O ensino superior brasileiro atual, nas modalidades pública e privada, se
estrutura através de duas formas de sociabilidade distintas, muito embora
complementares e quase nunca excludentes uma em relação à outra.
Na universidade pública o que une os relacionamentos entre docentes,
servidores e alunos, muito mais profundamente do que a formalidade das regras
institucionais, é a relação de troca de favores. O favor gera a dependência da
pessoa, que passa a ter suas atitudes toleradas como exceções à regra que
atendem ao interesse mútuo e se completa com a cumplicidade entre os agentes.
Na universidade pública o favor está presente em todas as instâncias, mesmo que
combinado com o mérito acadêmico. É o “toma-lá-dá-cá” do cotidiano, quase
sempre disfarçado. É assim que se criam as identidades dos grupos de pressão e
de interesse que tornam privado o que apenas formalmente é público. Alguém se
recorda de uma atividade política ou acadêmica relevante que tenha ocorrido no
interior das nossas universidades sem resultar do compadrio, do conluio, em
suma, da troca de favor?
Max Weber (citado por Lazarte, 1996) em sua conferência “A ciência
como vocação”, proferida no já distante ano de 1918, alertava para o fato de que
“nenhum professor universitário gosta que lhe recordem as discussões sobre
nomeação, pois raramente são agradáveis.”(p. 38)
A troca de favores é um traço característico da sociabilidade entre os
brasileiros, como nos ensina Roberto Schwarz citado por Lazarte (1996) no
descortinador ensaio:

As idéias fora do lugar, que serviu para lembrar-nos de que ...com mil formas e nomes, o
favor afetou no conjunto a existência nacional... Esteve presente por toda parte,
combinando-se às mais variadas atividades, mais e menos afins dele, como
administração, política, indústria, comércio, vida urbana, Corte etc. Mesmo profissões
liberais, como a medicina, ou qualificações operárias, como a tipografia, que, na acepção
européia, não devia nada a ninguém, entre nós eram governadas por ele. E assim como
o profissional dependia do favor para o exercício de sua profissão, o pequeno
proprietário depende dele para a segurança de sua propriedade e o funcionário para o
seu posto. (p. 56)

O ensaísta se refere ao nosso século XIX, mas alguém pode se levantar


para dizer que a interpretação acima não se refere à docência universitária na
atualidade, tanto no ensino público quanto no privado?
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As idéias continuam fora do lugar. Enquanto abraçamos as idéias que


propõem as formas mais generosas de sociabilidade, continuamos com a prática
do “aos amigos tudo, aos inimigos a lei”. Cabe aqui recordar ao leitor um editorial
do jornal Folha de São Paulo (13/10/1997):

Sabe-se que, em alguns cursos, muitas defesas de tese são rituais meramente formais,
viciados por práticas de favores, compadrio e corporativismo. Hoje, a composição da
banca de examinadores é uma atribuição do orientador, que escolhe aqueles que
deverão julgar seu orientado. Trabalhos acadêmicos, que deveriam ser apreciados
segundo critérios de impessoalidade e mérito, podem continuar subordinados a
interesses de grupos e panelas.(FRIGOTTO, 1997)

É preciso lembrar que no ensino privado as indicações, imprescindíveis


para o exercício da profissão, e os conluios internos devem estar submetidos ao
resultado do caixa. Quem ingressa no ensino privado, como aluno, professor ou
empresário, sabe que está entrando numa relação de compra e venda de serviços
educacionais. Esta relação de troca mercantil de equivalentes é que torna
possível a atividade de ensino no seu interior.
Levando-se em consideração que a autonomia da pessoa, a
universalidade da lei, a cultura desinteressada e a remuneração objetiva não
estão entre as opções realmente existentes, o que é melhor, troca de favores ou
de equivalentes monetários?
Trocar favores pode parecer uma opção mais atraente, ainda mais
porque é uma forma de sociabilidade que está presente no nosso inconsciente
colonial. As relações mercantis, como nos ensina Marx (1993), transformam os
relacionamentos humanos em simples troca de mercadorias.
Entre o céu da proteção do grupo e o inferno da competição do mercado
pode haver muito mais do que vã sociologia. Pode haver a respeitabilidade
apenas aparente daquele que faz parte do grupo dos escolhidos para ingressar
na universidade bem pouco pública; ou a alegria passageira daquele que se
entrega ao canto das sereias do sucesso no mercado educacional. Muito melhor
seria a superação de ambas as formas de sociabilidade, ou pelo menos da
hipocrisia que nos faz agarrar a uma ou à outra como tábua de salvação e única
verdade.
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DESAFIOS PARA A UNIVERSIDADE NO CONTEXTO ATUAL


A história da educação no Brasil não é a história da educação do Brasil.
Temos acumulado reproduções de modelos e essas reproduções nos têm
afastado, historicamente, da realidade, anulando potencialmente o
desenvolvimento da capacidade de criar.
Sabemos, contudo que as Diretrizes Curriculares do ensino superior
sempre foram alvo de inúmeras discussões no meio acadêmico, muita coisa foi
sendo modificada, conquistada, avançada; porém não podemos nos dar por
satisfeitos, pois temos um longo caminho a percorrer na práxis de Diretrizes
Curriculares para com o Ensino de Graduação.
Portanto, não devemos acatar as normas/regras como algo pronto e
acabado, mas temos de inovar e buscarmos constante aperfeiçoamento, pois o
momento histórico em que vivemos, em uma sociedade capitalista neoliberal, no
contexto de uma Aldeia Global, que por sua vez exige cada vez mais capacitação,
informações dos cidadãos, onde o mundo caminha velozmente, daí a escola
como um todo e principalmente a universidade não podem alienar-se, mas sim
questionar constantemente sua prática pedagógica, a fim de verificar se a escola
tem atendido às constantes exigências do mundo moderno, caso contrário se
permanecer apática, certamente não estará cumprindo seu papel.
O currículo, entendido como a totalidade das experiências a que os jovens
são submetidos nas universidades, está no centro da experiência educacional. É
a sessão ampla de todas as experiências, e não apenas a relação de temas a
serem tratados. Ele é aquilo que se faz. Não é uma pedra inerte. Aquilo que se
faz com os conteúdos, aquilo que se faz com as questões .
Acreditamos que na maioria das vezes o currículo utilizado pelas
universidades não reflete a sociedade.
A política neoliberal é a agenda educacional do momento, pelo
privilegiamento do ponto de vista empresarial, da lógica da produtividade, da
eficiência economicista. Certamente, vai colonizar a educação e vai colonizar o
currículo. Então existe todo um campo de luta cultural, uma batalha cultural a ser
empreendida em torno do que constitui uma experiência educacional.
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Na elaboração do currículo, a universidade sofre uma série de pressões,


como por exemplo à tradição que faz o currículo de hoje ser semelhante ao de 30
anos atrás.
O papel dos professores universitários é de conceder o máximo de
oportunidades aos estudantes e não fazer do currículo escolar mais um fator de
desigualdade. Não existe uma receita pronta para o currículo. Isso está por ser
inventado. É necessário politizar o currículo e todas as disciplinas. Não existe
nenhuma disciplina neutra e sua utilização também não é neutra.
Pensar o currículo escolar é extremamente importante porque envolve a
vida da universidade. Porém, não é uma questão de discussão pública, ampla.
Constata-se que para os professores também não é uma questão central. Por
isso a urgência de pensar o assunto.
No que se refere à relação ensino-pesquisa notamos que há um
pensamento universal da necessidade de integrar ensino e pesquisa, daí
dependendo da concepção que se tenha de um e de outro, essa integração
adquirirá contornos diferentes.
Nota-se, no entanto, no caso específico de Brasil que a ênfase maior é
dada à formação profissional, deixando à margem as atividades de pesquisa,
tornando esta integração desafiante. Parece que não há vontade política acerca
do ensino e pesquisa.
Ultimamente devido à competição acirrada imposta pela globalização, dá-
se muita importância às ciências exatas e naturais, ao domínio de novas técnicas
para bem competir no sistema vigente. Porém, a universidade não deve se deter
apenas nisso, mas buscar integrar as várias ciências. O ensino deve balancear
as exigências profissionais de caráter utilitarista-profissionalismo, e ir além
impulsionado pela pesquisa. Com apoio do Estado, é preciso uma política global
de avaliação que rompa a centralização e rigidez hoje tão presentes no ensino
universitário no Brasil.
O ensino e a pesquisa devem manter padrões elevados de competência,
seriedade e qualidade, que são testados sempre em função de sua relevância
social. Uma política de ensino superior deve considerar a complementaridade
indispensável da política de ensino do país, a política cultural num sentido amplo,
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que discrimine outras prioridades básicas e permita outras alternativas de


formação geral e profissional.
Temos consciência da dificuldade que há acerca de desenvolver o ensino e
a pesquisa com qualidade. A falta de verbas deixa cada vez mais escasso os
recursos da educação. A grande maioria não possui poder aquisitivo para
ingressar e permanecer no ensino privado e nem tampouco consegue vagas nas
Universidades Públicas.
O professor universitário deve estar atento e usar todos os recursos que
estiver ao alcance a fim de viabilizar, mesmo com poucos recursos, maior
flexibilidade nas atividades educacionais e de pesquisa. Os responsáveis pelo
planejamento governamental necessitam acreditar mais na educação e liberar os
recursos que ela requer, se hoje ela pode representar um custo alto, num futuro
não muito longínquo seu retorno será garantido. Um exemplo disso é o Japão,
país que não possui quase nada de recursos naturais, e que se viu arrasado após
o término da II Guerra Mundial. Porém ele investiu maciçamente em educação e
hoje, cerca de cinqüenta anos depois, é um país próspero e respeitado
internacionalmente.
Observa-se, entretanto, que no Brasil, a ênfase é dada à formação
profissional, deixando à margem as atividades de pesquisa, tornando esta
integração desafiante.
Efetuando um trabalho de extensão condizente, o ensino superior deve
balancear as exigências profissionais de caráter utilitarista/profissionalismo e
impulsionado pela pesquisa, com apoio estatal, visando uma política global de
avaliação que rompa a centralização e rigidez hoje tão presente no ensino
universitário no Brasil.
É destacada também a fragilidade com que as Universidades realizam sua
função social. Tais fragilidades levam, a Universidade a buscar na extensão sua
redenção. Esta atividade é o braço que irá justificar politicamente sua função
social mal realizada.
Júlio César P. Duarte deixa bem claro que o papel da Universidade não é
assistencial; não é substituir as ações do poder público, nem tampouco pensar
pela sociedade, reforçando a noção de cidadania. Sua função reside em produzir
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e disponibilizar conhecimento qualificado, num diálogo permanente com a


sociedade.
Experiências têm revelado que a aproximação da universidade com
segmentos da sociedade detentores do saber popular tem aberto novos campos
de investigação em várias áreas do conhecimento. Estas novas investigações
possibilitam ampliar o campo de intervenção da universidade, principalmente em
áreas fundamentais para a preservação da vida humana. Mudanças aconteceram
também com os parceiros da universidade, pois na sociedade há setores,
principalmente no universo do trabalho em que o acesso aos conhecimentos
científicos e técnicos resultou em novas formas de luta no enfrentamento da
relação trabalho-capital, principalmente quando essas lutas ocorrem em um
cenário de consolidação dos valores democráticos. A importância da
aproximação dos trabalhadores com o conhecimento científico e técnico é
ressaltada por Antônio Lettieri, o qual é citado por Delors (2000):

O esforço dos trabalhadores para terem poder sobre o processo de trabalho esbarra com
a rápida obsolescência do seu saber técnico e com a insuficiência dos conhecimentos
obtidos. Daí a necessidade que tem o movimento operário de recuperar e transformar a
função da escola e da ciência. (1999, p. 43)

Sabe-se que o setor privado também tem crescido muito nos últimos anos,
mas a grande maioria que se encontra na faixa etária para ingressar no ensino
superior não possui poder aquisitivo suficiente para freqüentá-la.
Finalmente nos últimos tempos a universidade pública tem deixado de ser
elitista e seu acesso tem se tornado mais democrático a todas as classes sociais
e etnias, como índios e negros que possuem um número de vagas garantidas.
Evidentemente que isto representa um grande passo, mas não é tudo, pois temos
muito que avançar para que a universidade cumpra seu papel como mola
propulsora do conhecimento no meio social. Assim ela poderá contribuir para o
desenvolvimento da sociedade, pois é de dentro da universidade que saem os
profissionais qualificados, as lideranças empresariais e políticas que irão interagir
diretamente com os meios de produção dinamizando a sociedade. Eis então o
seu grande desafio neste contexto turbulento, frenético e competitivo de aldeia
global em que convivemos.
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EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DO SER HUMANO


O homem é um animal racional que transforma a natureza através do seu
trabalho para adquirir bens materiais, melhorar a sua condição de vida e ter mais
conforto.
Na vida em sociedade, o homem estabelece os seus valores ético-morais
e estéticos, sempre na busca do belo e do novo. Ele é um ser dotado de
inteligência, a qual ajuda-o a compreender melhor as coisas; possui consciência
dos seus atos e expressa sua subjetividade através de seus bens espirituais e
mentais.
Ao longo de sua existência, o homem transforma a informação em
conhecimento, adquire experiências e adapta seu comportamento às expectativas
e exigências do meio social em que se encontra.
A educação é visualizada como um processo contínuo que ocorre pela
vida inteira. Só ela é capaz de elevar a condição humana e fazer com que o
homem melhore sua relação com o meio em que está inserido. Educação e
cultura são inseparáveis e fazem parte da vida do homem.
Partindo desta constatação, pode-se afirmar que na realidade o homem
está sempre na busca do modelo, de encontrar a sua essência, e, nessa busca
vai deixando marcas pelo tempo, imprimindo a sua cultura e fazendo sua história.
Como há muitos caminhos bons para cada pessoa, não existindo fórmulas
mágicas para localizá-los, a responsabilidade de uma escolha acertada cabe a
cada um. É preciso firmar os pés no chão, abrir os olhos para os defeitos,
facilidades e colocar as aspirações à altura das suas possibilidades.
A pessoa deve alcançar a consciência dos próprios talentos e limitações,
assumindo-os sem depender da interferência dos outros. Para tornar-se pessoa
segura por dentro, como uma casa construída sobre uma base sólida é preciso
estabelecer uma relação segura com a realidade Parece que as pessoas que
pedem as “escoras” (pais, comunidade, etc) prematuramente, adquirem mais
segurança para tomar decisões e resolver os problemas. Vivem com profundidade
sem deixar-se levar pelas aparências da superficialidade. Convivem na solidão e
consigo mesmo, sem precisar de fugas, distrações ou prazeres alienantes. São
pessoas sólidas, fortes, marcantes, capazes de grandes ideais sabem relacionar-
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se bem como os outros pois a vida comunitária, pode desestruturar pessoas


fragilizadas mas, sempre fortalece e solidifica pessoas repletas de ideais.
Alerta Habermas (1989) que, é preciso salvar o “mundo da vida” pois a
organização social se mantém e se estrutura através de mecanismos de relação e
de comunicação. Nessa visão, estão entrelaçados o mundo da vida, o
desenvolvimento individual e a evolução social.
Se os homens conseguem avançar e progredir no mundo tecnológico, por
que não podem utilizar sua capacidade racional a serviço de sua evolução
pessoal, do próprio desenvolvimento da auto-reflexão?
Rogers e Maslow (1980) citado por Chiavenato, (1993), colocam como o
ponto mais alto do desenvolvimento humano e como necessidade mais elevada
do ser humano, respectivamente, a auto-superação. E, atingir esse patamar
compreende valorizar mais o interno que o externo, amar a si mesmo para poder
amar o outro com plenitude, ultrapassando o individualismo para alcançar a
individualidade plena, que é ser um com tudo o que existe.
Não há plano e não há objetivo que possam ser cumpridos sem o
envolvimento das pessoas que deveriam se perguntar todo dia o que fizeram para
melhorar seu desempenho e ampliar o seu conhecimento para serem mais
eficazes.
É a melhoria continuada que vai transformar o ensino, garantindo a todos
s alunos as condições ideais para a plena realização de seu potencial.
Enquanto o sistema de educação pública na velha ordem capitalista
estava orientando para a produção de sujeitos disciplinados para a força de
trabalho bem treinada e confiável, a nova economia reclama trabalhadores com
grande capacidade de aprender a aprender, capazes de trabalhar em equipe, não
só de maneira disciplinada mas criativa.
O jogo da vida possui a criatividade infinita, é muito interessante e dá o
que pensar.
“No valor de troca, o vinculo social entre as pessoas se transforma na
relação social entre coisas; a capacidade pessoal em uma capacidade das
coisas” (Marx 1993; 84). Este estranhamento de si próprio e da sua
autopossibilidade, com a transferência do poder para as coisas, os objetos, as
máquinas, etc, qualificam a estrutura básica do processo de alienação humana.
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Evidencia a inversão da relação sujeito e objeto, resultando na obscuridade e


enfraquecimento das relações sociais; esses são fatores que opõe-se a
qualificação humana.
“…O sujeito no processo global do trabalho não está em condições de ver
todos os condicionamentos da própria atividade, nem de todas as suas
conseqüências”. (Duarte, 1999). Mas, tais limitações não impedem que os
homens atuem e se aperfeiçoem, pois se de um lado não é possível dominar o
conjunto das coisas, é na busca da superação possível que o trabalho realiza sua
dimensão em si mesmo.
Assim, cabe perguntar se as atuais transformações tecnológicas têm
contribuído para o aperfeiçoamento do trabalho humano, oportunidade uma
elevação do nível geral e individual de sua qualificação.
E, será que o trabalho humano tem diminuído a relevância na vida das
pessoas e da sociedade? Ou, suas características se renovam em novas formas
de trabalho, bem diferentes das tradicionais?
Sobretudo, quando se admite que a evolução tecnológica traz consigo
novas formas de pensar, de sentir e de agir, nova concepção de vida, novos
níveis de ocupação, novas profissões novas formas de construção das
experiências sociais e da identidade das pessoas, dos grupos e das classes, se
considera que elas até fazem parte de nosso cotidiano ou da cultura.
A dimensão deste avanço é mais extenso e profundo, porque além de
impactar no ato de produzir bens, requerendo novas habilidades, atitudes e
conhecimentos, também afeta os consumidores dos bens. Isto impõe, a formação
de um novo homem, liberto da alienação e que recuse a se colocar como
expectador diante dos outros, do trabalho, dos acontecimentos para atuar sobre
tudo com sentimento, espírito e ação.

Não somos alienistas nem ‘donos do mundo’. Somos educadores que procuram
caminhar na estrada solidária do conhecimento, da afeição. Busco, como bandeirante,
encontrar não nas grandes vias, mas nos pequenos atalhos, as grandes pedras
preciosas da construção de um novo tempo, marcado pelo avanço da ciência e da
tecnologia, dos novos interesses do homem, com seus desejos, emoções e paixões.
(Grinspun, p. 52, 1998)

Aqui está presente a idéia de que o saber do homem é o saber de um ser


ativo, consciente e objetivante, isto é, não só conhece as alternativas existentes,
mas que realiza as soluções escolhidas, reconhecendo-se responsável por elas.
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E, contrariamente ao que pensa a psicologia naturalista, o homem é um ser


biologicamente desadaptado ao meio natural, cuja desadaptação faz dele, ao
mesmo tempo um produtor das próprias condições de existência e um ser
educável. Pois, o homem só adquire a condição humana através da educação no
grupo social, com a apropriação dos saberes, das funções psíquicas e das
habilidades técnicas desenvolvidos pelos homens ao longo da história. História
que traz o resultado do trabalho social dos homens onde que no mesmo tempo
em que transformam a natureza num universo cultural, transformam-se eles
mesmos desenvolvendo as características humanas, como já disse Marx em O
capital.

RAZÃO INSTRUMENTAL E EDUCAÇÃO CONTRA BARBÁRIE


Muitas promessas do iluminismo foram cumpridas, houve o
desenvolvimento das forças produtivas, progressos científicos, avanços na saúde
e na medicina, elevação dos meios de difusão de cultura e informação, a
informática. Entretanto, a modernidade está em débito com as promessas mais
fundamentais, não se fizeram acompanhar de uma maior autonomia do individuo.
Em face dessas vicissitudes e impasses, é que não podemos abandonar
a modernidade, exatamente em nome da humanidade, pois foi ela que criou os
padrões normativos que nos permite comparar o existente com o desejável e
cobrar dela mesma o cumprimento das promessas.
A razão é o instrumento de esclarecimento para vence a ignorância e o
obscurantismo, mas devemos levar em consideração o resgate da autonomia
humana. O homem integral é uma unidade de razão e sensibilidade, para
conhecê-lo só a razão.
A formação global do ser humano continua sendo condição de
humanização e tarefa do professor, em que inclui certamente o desenvolvimento
da razão. Uma racionalidade que resgate a subjetividade, a autonomia da
consciência humana assentada no desenvolvimento das capacidades cognitivas e
afetivas da problematização e apreensão da realidade.
Nesse sentido é preciso cautela ou seja, se o professor for alguém dotado
de racionalidade estritamente instrumental, é incapaz de romper com a barbárie
da modernidade capitalista.
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Na relação docente há uma partilha desigual de poder entre professor-


aluno, porque cabe ao educador intervir efetivamente no processo formativo dos
alunos, uma vez que seu papel é promover mudanças nos alunos a partir de uma
intencionalidade educativa. Ou seja, o professor visto como parceiro pedagógico
pode ajudar o aluno na apropriação racional da realidade sem que isso seja
tomada como racionalidade instrumental.
O descaso dos governos com a educação têm como conseqüência a
baixa qualidade de ensino, pessoas que saem com formação deficitária
provocando desqualificação da educação e desvalorização econômica e social da
profissão, da prática docente e desprestígio da área.
A educação precisa reciclar-se em face de um mundo em transformação e
dos requisitos de humanização, para assumir seu papel como agente de
mudanças, geradora de conhecimento, formadora de sujeitos capacitados a
intervir a atuar na sociedade de forma critica e criativa.
Segundo Habermas (citado por Freitag, 1989; Aragão, 1992):

“É possível reabilitar a sociedade no âmbito da esfera pública, onde as pessoas


possam participar das decisões, não por imposição, mas por uma disposição de
dialogar e de buscar consenso, à base da racionalidade das ações expressas
em normas jurídicas compartilhadas. A emancipação objetiva de todas as formas
de dominação tornar-se possível se os indivíduos desenvolverem capacidades
de aprendizagem baseada numa prática comunicativa. A escola pode ajudar no
desenvolvimento de competências comunicativas que possibilitarão um diálogo e
um consenso baseados na razão crítica. Para que os indivíduos possam
compartilhar de uma situação comunicativa ideal, recomenda: investimento na
capacidade do individuo em pensar-se na relação com os outros, de estabelecer
relações entre objetos, pessoas, idéias; desenvolvimento da autonomia, isto é
indivíduos, capazes de reconhecer nas regras, e normas sociais o resultado do
acordo mútuo, do respeito ao outro e da reciprocidade; formação de indivíduos
capazes de serem interlocutores competentes; de expressar suas idéias, desejos
e vontades, de forma cognitiva e verbal, incluindo a perspectiva do outro (nível
de informações, intenções) e a capacidade de dialogar”.

EDUCAÇÃO COMO FORMA DA PROMOÇÃO HUMANA


O século XX foi caracterizado pela produção de massa e o século XXI tem
uma forte tendência de se caracterizar pela “sociedade do conhecimento”.
Nesta perspectiva, emerge que o profissional da área da educação, deve
estar em constante aperfeiçoamento, desenvolvendo o seu potencial humano. O
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profissional aperfeiçoado e modernização, expressivo, desenvolto, criativo,


dinâmico, arrojado que, sabe improvisar quando necessário é empreendedor
naquilo que executa. A sua relação com os alunos é a de instigar desafios,
criatividade, diálogo, pesquisa e a reflexão, produzindo conhecimentos
significativos.
O setor político, governante deve captar e destinar recursos que
instrumentalize os meios educacionais para sedimentar ações que provoquem a
formação de cidadãos éticos, humanos e competentes. E, o educador como
elemento articulador desse processo, tem como desafio instigar os aprendizes a
se tornarem cidadão talentosos produtivos e felizes.
Todavia, no âmbito educacional não precisamos de uma escola
meramente reprodutora, mas sim uma escola que seja transformadora da
realidade social, na continua formação de uma sociedade mais humana e justa.

CONCLUSÃO

Pode-se observar que em meio a tantas mudanças, como por exemplo às


novas tecnologias no campo da informática e telecomunicações, o ensino superior
enfrenta um grande desafio, ou seja, formar profissionais competentes
tecnicamente na sua área e também cidadãos críticos e capazes de contribuir
com a transformação da sociedade.
A universidade como organismo interativo precisa estar atenta a estas
rápidas transformações que o contexto atual de Aldeia Global tem imposto a
estrutura organizacional como um todo e principalmente à universidade.
Precisamos contudo, de mais empenho por parte das autoridades competentes,
dos professores, pois urge a necessidade de um ensino de qualidade para fazer
frente as atuais exigências do contexto.
Conclui-se então que a educação universitária precisa avançar
significativamente para ficar à altura das constantes exigências do mercado de
trabalho na atualidade, pois é para lá que irá os alunos/acadêmicos que dela
saem. Eis então o grande desafio, evoluir com poucos recursos.
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