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A Vida e Os Mistérios
A Vida e Os Mistérios
a vida
e os mistérios
A vida e os mistérios
Companhia da Palavra
dapalavra.wordpress.com
Imagens
Capa: © Yanik Chauvin - FOTOLIA
Última: © Stephen Coburn - FOTOLIA
Janeiro de 2008
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A Vida e os Mistérios A Companhia da Palavra
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A Vida e os Mistérios A Companhia da Palavra
Explicação de um Projecto
Este livro digital A Vida e os Mistérios tem como causa primeira e primária a paixão do
editor pela leitura. Depois, de uma vontade imensa de partilhar. Acho que é dessa massa
básica que se fazem, aliás, todos os editores. Pelo menos os que o fazem por paixão: um pra-
zer imenso de divulgar letras e ideias de outros, de espalhar a palavra. De dar a conhecer
beleza e saber. A Vida e os Mistérios, acreditamos, reúne pensamentos de pessoas que têm
algo realmente importante para nos transmitir a todos, testemunhos alguns contraditórios,
apontando para diferentes caminhos mas todos preciosos. Ficaríamos felizes, por outras
palavras, se qualquer destes excertos levasse ao aprofundamento de pelo menos um dos
autores. São esses os termos de “livro cumprido” para esta edição. O que estas pessoas têm
para dizer é suposto vislumbrar-se nos pedaços que recortámos, por isso, por favor, não se
fique por aqui, vá à procura de mais. Estes 50 pedaços são apenas pequenas pérolas que vou
apanhando na net mas escondem tesouros maiores.
O critério editorial dos autores é estritamente pessoal e subjectivo e só posso esperar
que acrescente algo positivo à vossa vida. Desde logo que acrescente mais leituras, pois é
também essa função deste e-book: abrir portas, desbravar caminhos de leitura, dar a conhe-
cer pedaços de gente que vale a pena conhecer melhor. Pistas para outros livros. Todos os
que aqui estão citados nesta edição, aliás, têm em comum o facto de terem obra, por vezes
vasta, publicada. Sendo um livro de citações, eventualmente mais extensas do que é normal
nesse tipo de livro, esta publicação de distribuição livre e aconselhada constitui também o
primeiro lançamento de um projecto denominado A Companhia da Palavra. Trabalhamos
com palavras, textos e edições, sobretudo na área da memória (biografias, histórias de famí-
lias, memória empresarial, etc.). E além da vertente comercial e eventualmente lucrativa,
inventamos, idealizamos e fazemos livros para toda a gente, gratuitos, em meio digital (pdf).
Os nossos livros digitais são produzidos para serem reenviados e republicados, via
email, linkados em sites ou blogs, o que quiserem: em relação a leituras apaixonadas, somos
totalmente libertários. Só não podem ser comercializados, de resto, exortamos todos os
nossos leitores que gostem, a espalhar também a palavra e a aproveitar esta extraordinária
circunstância de sermos milhões em rede para retransmitir estas reflexões sem data nem
geografia de gente que continua viva nas suas palavras. Ou deve continuar, acreditamos
nós, que acima de tudo somos humanistas e prezamos a liberdade. Os nossos livros preten-
dem e procurarão reflectir a diversidade e a qualidade do pensamento humano, ideias de
valor intemporal e universal. O nosso filtro é vasto e o nosso critério é global, não temos
fronteiras, nem ideologia, nem religião. Acima de tudo: livre pensar.
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João P. Cruz
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Fernando Pessoa
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A respeitabilidade, a regularidade, a
rotina - toda a disciplina de ferro
forjada na moderna sociedade industrial - atro-
rar a própria felicidade em lugar de provocar a
desgraça alheia. Não se trata de moral impossi-
velmente austera, e no entanto a sua adopção
fiaram o impulso artístico e aprisionaram o transformaria o planeta num paraíso.
amor de forma tal que não mais pode ser gene-
roso, livre e criador, tendo de ser ou furtivo ou
pedante. Aplicou-se controle às coisas que mais
deveriam ser livres, enquanto a inveja, a cruel-
dade e o ódio se espraiam à vontade com as ben-
çãos de quase toda a bisparia. O nosso equipa-
mento instintivo consiste em duas partes - uma
que tende a beneficiar a nossa própria vida e a
dos nossos descendentes, e outra que tende a
atrapalhar a vida dos supostos rivais. Na pri-
meira incluem-se a alegria de viver, o amor e a
arte, que psicologicamente é uma consequência
do amor. A segunda inclui competição, patrio-
tismo e guerra. A moral convencional tudo faz
para suprimir a primeira e incentivar a segunda.
A moral verdadeira faria exactamente o contrá-
rio.
As nossas relações com os que amamos
podem ser perfeitamente confiadas ao instinto;
são as nossas relações com aqueles que detesta-
mos que deveriam ser postas sob o controle da
razão. No mundo moderno, aqueles que de facto
detestamos são grupos distantes, especialmente
nações estrangeiras. Concebemo-las no abstrac-
to e engodamo-nos para crer que os nossos
actos (na verdade manifestações de ódio) são
cometidos por amor à justiça ou outro motivo
elevado. Apenas uma forte dose de cepticismo
pode rasgar os véus que nos ocultam essa verda-
de. Uma vez que o consigamos, poderíamos
começar a construir uma nova moral, não basea-
da na inveja e na restrição, mas no desejo de
uma vida pródiga e a percepção de que outros
seres humanos são um auxílio e não um obstá-
culo, uma vez curada a loucura da inveja. Não é
uma esperança utópica; foi parcialmente reali-
zada na Inglaterra isabelina. Poderia ser realiza- Bertrand Russell, in 'Ensaios Cépticos: Do Valor
da amanhã se os homens aprendessem a procu- do Cepticismo'
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1 . prietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.
Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar. Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para 4.
cima. Ou será que
Nem um pedaço de carvão sairia das minas Governar só é assim tão difícil porque a exploração
Se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o e a mentira
ministro da Propaganda São coisas que custam a aprender?
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o
ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra. E atrever-se ia a nascer
o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.
2.
E também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam
de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses:
quem,
De outro modo, poderia falar-lhes na existência de
arados? E que
Seria da propriedade rural sem o proprietário
rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio
onde já havia batatas.
3.
Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclareci-
dos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de
uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de pro- Bertolt Brecht
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A nossa vida, como repertório de pos- tâncias são o dilema, sempre novo, ante o qual
sibilidades, é magnífica, exuberante, temos de nos decidir. Mas quem decide é o nos-
superior a todas as historicamente conhecidas. so carácter.
Mas assim como o seu formato é maior, trans-
bordou todos os caminhos, princípios, normas e
ideais legados pela tradição. É mais vida que
todas as vidas, e por isso mesmo mais proble-
mática. Não pode orientar-se no pretérito. Tem
de inventar o seu próprio destino.
Mas agora é preciso completar o diagnós-
tico. A vida, que é, antes de tudo, o que pode-
mos ser, vida possível, é também, e por isso
mesmo, decidir entre as possibilidades o que em
efeito vamos ser. Circunstâncias e decisão são
os dois elementos radicais de que se compõe a
vida. A circunstância – as possibilidades – é o
que da nossa vida nos é dado e imposto. Isso
constitui o que chamamos o mundo. A vida não
elege o seu mundo, mas viver é encontrar-se,
imediatamente, em um mundo determinado e
insubstituível: neste de agora. O nosso mundo é
a dimensão de fatalidade que integra a nossa
vida.
Mas esta fatalidade vital não se parece à
mecânica. Não somos arremessados para a exis-
tência como a bala de um fuzil, cuja trajectória
está absolutamente pré-determinada. A fatali-
dade em que caímos ao cair neste mundo – o
mundo é sempre este, este de agora – consiste
em todo o contrário. Em vez de impor-nos uma
trajectória, impõe-nos várias e, consequente-
mente, força-nos... a eleger. Surpreendente con-
dição a da nossa vida! Viver é sentir-se fatal-
mente forçado a exercitar a liberdade, a decidir
o que vamos ser neste mundo. Nem num só ins-
tante se deixa descansar a nossa actividade de
decisão. Inclusive quando desesperados nos
abandonamos ao que queira vir, decidimos não
decidir.
É, pois, falso dizer que na vida «decidem
as circunstâncias». Pelo contrário: as circuns- Ortega y Gasset, in 'A Rebelião das Massas'
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D esgraçadamente, a humanidade
aprendeu a dominar todas as forças
do mundo exterior, mas sabe tão pouco sobre si
que ser alargadas, as curvas melhoradas, suposta-
mente para aumentar a segurança, mas na verda-
de só para transitar um pouco mais depressa e
própria que está entregue, sem defesa, às conse- portanto mais perigosamente.
quências fatais da seleção intra-específica. Devemos procurar as razões que motivam
(…) os homens mais atingidos na alma: A paixão cega
A competição do homem com o homem pelo dinheiro, ou a pressa febril? Sejam quais
opõe-se diretamente, como nenhum fator bioló- forem, é do interesse dos homens no poder, inde-
gico havia feito anteriormente, à ―Força benévola pendentemente de qualquer orientação política,
e eternamente criadora‖, para destruir com bru- promover e intensificar as motivações que favore-
talidade diabólica a maioria dos valores que ela cem essa dolorosa obrigação de exceder. Que eu
criou, em nome de considerações puramente saiba, a psicologia profunda ainda não sondou
comerciais e em detrimento de todos os valores essas motivações. Mas me parece muito possível
reais. Sob a pressão dessa concorrência entre que, além da paixão de possuir e do desejo de
homens, aquilo que é bom para toda a humanida- avançar, angústia tenha papel preponderante. A
de, e mesmo que é útil e bom para cada um, per- angústia de ser ultrapassado na corrida, a angús-
deu-se completamente de vista. A esmagadora tia de ficar sem dinheiro, angústia de errar numa
maioria dos nossos contemporâneos só dá impor- decisão e de não estar à altura de uma situação
tância ao sucesso, àquilo que permite vencer os esgotante. A angústia, em todas as suas formas,
outros, na dolorosa obrigação de exceder. Todos contribui essencialmente para minar a saúde do
os meios para fingir essa finalidade aparecem, homem moderno e provocar a hipertensão, a
falsamente, como um valor em si. Podemos dizer atrofia dos rins, e enfarte precoce e outros fenó-
que o erro desastroso do ―utilitarismo‖ consiste menos do mesmo tipo. Sempre apressado, o
em confundir o meio com o fim. A princípio, o homem não é tangido somente pela cobiça. As
dinheiro era um meio, como prova a expressão mais poderosas forças de sedução não seriam
corrente: ―Ele tem meios‖. Mas hoje em dia quan- suficientes para incita-los à autodestruição. Ele
tos são capazes de entender que o dinheiro em si só pode ser movido pela angústia.
não é um valor? O mesmo acontece com o tempo;
Time is Money significa que aqueles que dão
valor ao dinheiro, prezam da mesma forma, cada
segundo de tempo economizado.
Havendo possibilidade de construir um
avião capaz de atravessar o atlântico um pouco
mais rapidamente do que os anteriores, ninguém
se pergunta o preço dessa realização. A obrigação
de prolongar a pista, a aceleração da partida e da
aterragem que aumenta os riscos, o aumento do
barulho, etc., não entram em consideração.
Ganhar meia hora parece de tal valor, que
nenhum sacrifício é excessivo para consegui-lo.
As fábricas de automóveis são obrigadas a produ-
Lorenz Konrad in Civilização e Pecado - Os Oito
zir novos modelos mais rápidos. As estradas têm
Erros Capitais do Homem
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Leia e Multiplique:
Espalhe a Palavra
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