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ensinar a saber wer a arguitetura, por uma clareza nada, nos pr ia de uma nova atitude critica — ni-lo ~ nJo é mencionada pela ginas, A parte as intuicdes dos prec de método, Esta ¢ parece supérfluo afi primeira vez nestas criticos ¢ historiadores antigos, de Lao Tse a Vischer, de Vasari a Goethe, de Schopenhauer a Milizia ¢ a Wolilin, pode-se dizer que todos 0s livros de critica arquitetOnica pelo menos um trecho que diz respeito a esta Na producio critica dos tltimos anos, estas la vez mais freqientes; alguns Ke, © de Pevsner, abriram 0 caminho. A presente contribuicao nao constitui, por isso, uma nova descobei esclarecer os resultados criticos mais rec Pressupsem todo o imenso trabalho desenvolvido pelos estudiosos anteriores, € retinem tudo aquilo que, com le, foi por eles ser j ssa6 0641.2 tt ———! 3! ie ool Ea A a 5 = i) < 3 SABER VER A ARQUITETURA Bruno Zevi re i oppright © by Bruno Zev en is CS Paulo, 1984, para a presente edicdo 5 etigin sexed e199 “Traducio Moria Vee! Caspar Gatton Merins de Olivera Reno da rade, ‘Pier Luigi Cabra Producto erafica Geraldo Aes PaginagdeFotltor tutto 3 Desenvolvimento Edoril ‘Capa Suzana Lasb aes oe eee ame rea) Fee al et cra a is PE opts | Bees Za estos bere shel cape ours Onan Pa: tines Yom (cag) Biningrai. ISON AS 396-0541-2 1, Argtetan 2 Angier Hira. Tl Série 96307 epp-720 Indices para catatogo sstemstio: Tdos os direitos para a lingua portaguese ‘reserados a Livaria Martins Fomies Edtora Lida. ‘ua Conseheio Raraaho, 330/340 0125-000 Sdo Paulo SP Brasil Telefone 239-1677 INDICE Capitulo 1 A ignorancia da arquitetura Capitulo? O espaco, protagonista da arquitetura Caphulo 3 A representasao do espaco ‘Capitulo 4 As varias idades do espaco A escala humana dos gregos O espago estético da antiga Roma A ditetriz humana do espago cristio A aceleragio direcional ¢ a dilatagio de Bizancio A barbarica interrupao dos ritmos A métrica romanica Os contrastes dimensionais e a continuidade espacial do gético As leis e as medidas do espago do século XV Volumetria e plistica do século XVI O movimento e a interpenetracio no espago barroco O espago urbanistico do século XIX A “planta livre” e 0 espago orgdnico da idade modema 33 56 or 70 4 7 aw 9S 101 113 118 121 Capitulo 5 A ‘As interpretagdes da arquitetura interpretago politica A interpretacao cientifi A interpretagiio econémico-social Interpretagdes materialistas Avinterpretagio técnica As interpretagdes fisiopsi A interpretagio formalista Da interpretacdo espacial Capital 6 f Para uma hist6ria moderna da arquitetura Notas Bibliografia Tice dos lugares e monumentos citados Indice das figuras Indice dos quadros 137 142 143 144 150 152 175 195 219 231 207 277 279 CAPITULO 1 A IGNORANCIA DA ARQUITETURA E quase uma praxe iniciar um estudo de eritica ou de hist6ria da arquitetura com uma censura ao pablico, Dezenove livros em cada vinte dentre os citados na bibliografia comegam com diatri- bese apologias: ~ Opiiblico interessa-se por pintura e misica, por escultura e literatura, mas ndo por arquitetura. O intelectual que se envergo- nharia de ndo conhecer um pintor do nivel de Sebastiano del Piombo e empalideceria se 0 acusassem de ignorar um quadro de Matisse ou uma poesia de Eluard, sente-se perfeitamente & von- tade ao confessar nao saber quem é Buontalenti ou Neutra. ~ Os jornais dedicam colunas inteiras a um novo livro de Koestler ou a uma exposigio de Buri, mas ignoram a edificago de um novo palicio, ainda que seja obra de um famoso arquiteto, E, se todos os jomais que se prezam tm um noticiério sistemAti- Co de miisica, de teatro, de cinema ¢ pelo menos uma coluna se- manal sobre as artes, a arquitetura continua a ser a grande esque- ccida pela imprensi ~ Assim como nilo existe uma propaganda adequada para difundir a boa arquitetura, também nao existem instrumentos cficazes para impedir a realizacao de edificios horriveis, A cen- Sura funciona para os filmes ¢ para a literatura, mas nao para evi- {ar escindalos urbanisticos e arquiteténicos, cujas consequén- 2 SABER VER A ARQUTETUTA cias sio bem mais graves e mais prolongadas do que as da publi- cago de um romance pornografico. ~ Todavia (c aqui comegam as apologias), qualquer um pode desligar o ridio e abandonar os concertos, ndo gostar de cinema € de teatro e nao ler um livro, mas ninguém pode fechar os olhos diante das construgdes que constituem o palco da vida citadina e trazem a marca do homem no campo e na paisagem. O desinteresse do piiblico pela arquitetura no pode, contudo, ser considerado fatal e inerente & natureza humana’ ou & natureza da produgiio de edificios’, de tal forma que tenhamos de nos Timitar a constaté-lo, Existem sem diivida dificuldades objetivas, € uma incapacidade por parte dos arquiteios, dos historiadores da arquitetura e dos eriticos de arte para se fazerem portadores da mensagem arquitet6nica, para difundir 0 amor pela arquitetu- a, pelo menos entre a maioria das pessoas cultas. HG, antes de mais nada, a impossibilidade material de trans- portar edificios para um determinado local e de com eles fazer luma exposigtio, como se faz com os quadros. E necessétrio jé ter interesse por este tema e estar munido de notével boa vontade para ver a arquitetura com uma certa ordem c inteligéncia. O homem médio que visita uma cidade monumental e sente 0 dever de admirar seus edificios desloca-se segundo critérios meramente préticos de localizago: hoje, visita uma igreja barro- ‘ca num determinado bairro, depois uma ruina romana, depois uma praga moderna ¢ uma basilica protocrista. Em seguida, Passa para outro setor urbano e, no “segundo dia” do guia de turismo, volta a se deparar com a mesma mistura de exemplares arquitetOnicos estranhos e diferentes'. Quantos turistas se pro- poem visitar hoje todas as igrejas bizantinas, amanha todos os monumentos renascentistas, depois de amanhi as obras moder- nas? Qual de n6s resiste 3 tentagio de niio seguir esta ordem de contemplagio para admirar aquela torre romiinica que se ergue a0 fundo de uma igreja barroca, ou para entrar mais uma vez no Pantedo que est4 logo ali, ao lado das pedras géticas de Santa Maria sopra Minerva? E possivel reunir em toda a Europa os. ‘quadros de Ticiano ou de Brueghel e revelar as suas personalida~ des em grandes exposi¢des; também é possfvel executar as obras AIGNORANCIA DA ARQUTETURA 3 de Bach ou de Mozart em concertos unitérios; mas cada um tera de criar com 0 préprio esforco fisico moral — que pressupoe uma paixdo pela arquitetura — uma exposigaio de Francesco di Giorgio ou de Neumann. Esta paixio no existe. A obstinagio ¢ a dedicagao dos ar- uedlogos, merecedores de toda a admiragio no campo filol6gi- co, dificilmente se elevam a esse plano de sintética reevocagio que tem um eco exaltante no piblico, Os arquitetos profissionais que, para suportarem os problemas da arte de edificar contempo- Finea, nutrem uma profunda paixdo pela arquitetura no sentido vivo da palavra, nao tém hoje, em sua grande maioria, uma cul- tura que Ihes permita entrar de uma forma, digamos, legitima no debate histérico e eritico. A cultura dos arquitetos modernos esta muito frequentemente ligada 4 sua crdnica polémica. Lutando contra o academismo enganoso ¢ voliado a um simples trabalho de c6pia, eles tém declarado muitas vezes, ainda que inconscien- temente, o seu desinteresse pelas obras auténticas do passado, e renunciaram desta forma a cxtrair delas 0 elemento condutor Vital e perene sem 0 qual nenhuma nova posigao de vanguarda se desenvolve numa cultura. Nao falamos apenas de F, LI. Wright ¢ de sua hostilidade para com 0 Renascimento italiano; a um genio tudo € permitido e, particularmente, a falta de objetividade criti- ca. Referimo-nos também ao culturalismo de Le Corbusier; este Seu rogar superficialmente e julgar por impresses as €pocas his- 6ricas da arquitetura‘ constitui antes um elegante e brilhante exereicio intelectual do que uma fecunda contribuigao de reno- vagao critica. “Les yeux qui ne voient pas”, 0s olhos que nio viam a beleza das formas puristas hoje ndo véem nem entendem as ligdes da arquitetura tradicional. HA, portanto, muito o que fazer. E tarefa da segunda geragio de arquitetos modemos, uma vez superada a ruptura psicolégica do ato de gestagio do movimento funcionalista, restabelecer uma ordem cultural. Passado tempo da ostentagiio de novida- des e dos manifestos de vanguarda, a arquitetura moderna inse- Te-se na cultura arquiteténica, propondo antes de mais nada uma revisio critica dessa mesma cultura. E evidente que uma cultura orgiinica, no seu esforgo por dar uma base ¢ uma historia a0

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