Você está na página 1de 2

A cano do africano

L na mida senzala, Sentado na estreita sala, Junto ao braseiro, no cho, Entoa o escravo o seu canto, E ao cantar correm-lhe em pranto Saudades do seu torro ...

De um lado, uma negra escrava Os olhos no filho crava, Que tem no colo a embalar... E meia voz l responde Ao canto, e o filhinho esconde, Talvez pra no o escutar!

"Minha terra l bem longe, Das bandas de onde o sol vem; Esta terra mais bonita, Mas outra eu quero bem!

"0 sol faz l tudo em fogo, Faz em brasa toda a areia; Ningum sabe como belo Ver de tarde a papa-ceia!

"Aquelas terras to grandes, To compridas como o mar, Com suas poucas palmeiras Do vontade de pensar ...

"L todos vivem felizes, Todos danam no terreiro; A gente l no se vende Como aqui, s por dinheiro".

O escravo calou a fala, Porque na mida sala O fogo estava a apagar; E a escrava acabou seu canto, Pra no acordar com o pranto O seu filhinho a sonhar!

............................

O escravo ento foi deitar-se, Pois tinha de levantar-se Bem antes do sol nascer, E se tardasse, coitado, Teria de ser surrado, Pois bastava escravo ser.

E a cativa desgraada Deita seu filho, calada, E pe-se triste a beij-lo, Talvez temendo que o dono No viesse, em meio do sono, De seus braos arranc-lo!

Você também pode gostar