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Microbiologia Ambiental - Professor Marcos de Paula Júnior 1

Utilização de microorganismos para fins ambientais

Os microorganismos são os grandes recicladores da natureza,


transformando a matéria morta ou em decomposição em Matéria que pode
ser utilizada na síntese de novas substancias pelas plantas (adubo) e
estas servem de alimento para os animais. Aproveitando essa
característica dos microorganismos podemos aproveita-los em vários
processos para fins ambientais. Veremos alguns durante nosso estudo em
Microbiologia Aplicada.
Esses seres são capazes de limpar o solo, a água e até áreas
contaminadas por radiação, através de seus processos biofisioquímicos.

Microorganismos e o aquecimento global

Um dos maiores desafios dos séculos XXI e XXII será o


aquecimento global devido a grande quantidade de gases provocantes de
efeito estufa lançado na atmosfera, principalmente CO2 ou dióxido de
carbono.
As algas podem nos ajudar a combater esse efeito devido a sua
grande produção fotossintetizante, ou seja, elas são capazes de
absorver grandes quantidades de CO2 da atmosfera além de serem
empregadas na produção de biocombustível, alimentos e outros produtos
úteis aos seres humanos.
Certas espécies de fungos podem produzir Hidrocarbonetos como se
diz na reportagem abaixo:

Cientistas americanos identificaram na Patagônia um fungo capaz de


produzir hidrocarbonetos da Biomassa

O fungo poderia ser potencialmente uma nova fonte de energia


limpa, segundo o artigo publicado na revista científica Microbiology.
O fungo, conhecido como Gliocladium roseum, foi identificado em uma
árvore ulmo (Eucryphia cordifolia) por cientistas da universidade do
Estado de Montana, nos Estados Unidos. No Brasil há relatos de
ocorrencia do fungo Gliocladium roseum em solos de São paulo. O
Gliocladium roseum gera várias moléculas diferentes que produzem
hidrogênio e carbono, e que são também encontradas no óleo diesel. Os
cientistas trabalham agora em criar o que chamam de "mycodiesel", um
combustível limpo a partir da nova descoberta.

"Este é o único organismo que demonstrou ser capaz de produzir


esta combinação importante de substâncias combustíveis", disse o
professor Gary Strobel, que conduziu a pesquisa.

"O fungo pode inclusive produzir estes combustíveis de diesel a


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partir da celulose, que poderia ser uma melhor fonte de


biocombustível que qualquer uma das que se usa atualmente", opina o
cientista.

Hidrocarbonetos

Muitos tipos de micróbios podem produzir hidrocarbonetos, que


são compostos formados de hidrogênio e carbono. Os fungos que crescem
na madeira parecem produzir uma série de compostos potencialmente
explosivos.

"Quando examinamos a composição do Gliocladium roseum, ficamos


totalmente surpreendidos de ver que ele estava produzindo uma
variedade de hidrocarbonetos e derivados de hidrocarbonetos", disse
Strobel. "Os resultados foram totalmente inesperados".

Posteriormente, quando os investigadores cultivaram o fungo em


laboratório, ele foi capaz de produzir um combustível que, segundo
eles, é muito similar ao óleo diesel usada em automóveis e caminhões.
Outra vantagem potencial do combustível, segundo Strobel, é que ele
pode ser produzido diretamente da celulose, o principal composto das
plantas e do papel. Quando se utiliza plantas para produzir
biocombustíveis, elas precisam primeiro ser processadas para depois
serem convertidas em compostos úteis, como a celulose. Mas no caso do
Gliocladium roseum, ele pode produzir o "mycodiesel" diretamente da
celulose."Isso significa que o fungo pode produzir combustível
saltando-se um grande passo no processo de produção", diz Strobel.

Julho de 2008
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Compostagem

Como compostar o lixo orgânico, mesmo em pequenos apartamentos

A compostagem é uma técnica milenar, praticada pelos chineses há


mais de cinco mil anos. Nada muito diferente do que natureza faz há
bilhões de anos desde que surgiram os primeiros microorganismos
decompositores. Seguindo o exemplo da floresta, onde observamos que
cada resíduo, seja ele de origem animal ou vegetal, é reaproveitado
pelo ecossistema como fonte de nutrientes para as plantas que, em
última análise, são o sustentáculo da vida terrestre. Pois bem, quando
procedemos com a compostagem estamos seguindo as regras da natureza e
destinando corretamente nossos resíduos.

Tradicionalmente a compostagem é vista como uma prática usual em


propriedades rurais e centrais de reciclagem de resíduos. No primeiro
caso é uma estratégia do agricultor para transformar os resíduos
agrícolas em adubos essenciais para a prática da agricultura orgânica.
No segundo é uma necessidade administrativa, que tem a intenção de
diminuir o volume do material a ser gerenciado além de estabilizar um
material poluente.

No espaço urbano existe a crença de que lixo deve ser recolhido


pela prefeitura e despejado em algum local onde possa feder e sujar a
vontade. Esta realidade perversa está sendo mudada, graças às ações
práticas de alguns municípios e pelos avanços nas leis e normas
ambientais em nosso país. Mas o que nós cidadãos podemos fazer em
nossas casas para colaborar neste processo?

Uma coisa muito boa que podemos fazer em nossas casas e


apartamentos é a compostagem. Diferentemente dos agricultores que
precisam de adubos para os seus cultivos ou das prefeituras que
precisam se livrar desse resíduos; nós em casa podemos começar
simplesmente tentando diminuir a quantidade de lixo orgânico emitido
para a prefeitura. É claro que só é possível isto em casas onde o lixo
é separado.

Entre os muitos modelos de composteira existentes, destacamos os


engradados de pvc (lembra das caixas plásticas usadas em supermercados
para o transporte das compras?). Com dois ou três engradados podemos
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montar uma sistema de compostagem bem eficiente e que não ocupa muito
espaço. Vamos ver isto passo-a-passo:

Como montar a composteira em espaços mínimos (sacadas e áreas de


serviço)

1. Forre por dentro um engradado de pvc (destes que usamos para


carregar as compras no supermercado) com uma camada espessa de
jornal bem úmido, mais ou menos 6 ou 8 folhas. Depois de
acomodar estas folhas de jornal faça furos no fundo.

2. Preencha o fundo deste engradado com composto já pronto e com


minhocas. Faça uma camada de mais ou menos 10 cm de espessura.
Nos supermercados e em floriculturas encontramos um produto
genericamente chamado de húmus de minhoca. Um bom húmus sempre
tem alguns ovos e filhotes de minhoca que sobrevivem ao
peneiramento e à embalagem.

3. Escolha no seu lixo orgânico algumas porções de cascas de frutas


ou folhas de verduras, não muito.

4. Enterre este material no composto. Isto vai servir para avaliar


a quantidade de minhocas que existe neste material, já que elas
serão atraídas pela comida (lixo orgânico).

5. Cubra tudo com mais uma camada de jornal úmido. O jornal tem que
estar sempre úmido, caso contrario roubará água do material que
esta sendo compostado e este não ficará pronto em poucas
semanas.

6. Providencie uma tampa para o seu composto. Isto evitará a


proliferação de moscas e baratas além de servir de barreira para
um eventual rato.

7. Agora uma parte bem importante! Observe por alguns dias quanto
tempo as pequenas minhocas levam para comer uma determinada
quantidade de lixo orgânico. Esta é a capacidade de reciclagem
da sua composteira. À medida que as minhocas vão crescendo e se
reproduzindo o consumo de resíduo orgânico vai aumentando. Uma
minhoca vermelha do composto (Eisenia foetida) pode comer o
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próprio peso em um único dia, além disso com apenas três meses
elas já estão se reproduzindo, podendo depositar um casulo a
cada semana. Cada casulo desses pode gerar de quatro a doze
pequenas minhocas que já nascem prontas para comer muito pelo
resto da vida. Uma composteira doméstica pode ser considerada
eficiente quando os resíduos orgânicos somem totalmente em menos
de duas semanas. Outra técnica muito usada por jardineiros
experientes para avaliar um composto é a quantidade de ruídos
que este pode produzir. Difícil de acreditar? Então experimente,
quando seu composto estiver produzindo um pequeno ruído que
lembra um líquido escorrendo é sinal de que as minhocas estão
trabalhando a todo vapor. Daí para a frente é um processo
contínuo e crescente.

O que fazer quando a composteira está cheia:

1. O que acontece com as composteiras domésticas é que elas sempre


têm uma quantidade de material pronto, uma parcela de material
em processo de decomposição e uma porção diária de lixo orgânico
ainda fresco. Isto dificulta bastante a coleta do material que
já está pronto para o uso. Para este problema temos uma solução.
Veja a seguir:

2. Um engradado composteira vai sendo lentamente preenchido e as


minhocas vão comendo e reciclando material de baixo para cima.
Bem, um dia nosso engradado estará completamente cheio, com
material já reciclado no fundo e lixo fresco junto à superfície.
Isto é inevitável, mas uma maneira de contornar este problema é
simplesmente forrar as laterais de um novo engradado e empilhar
sobre o primeiro. Assim, dê continuidade ao processo colocando
uma porção do composto cheio de minhocas no fundo do segundo
engradado e siga o processo normalmente. Desta forma as minhocas
continuarão trabalhando no sentido vertical e em algumas semanas
a sua primeira caixa estará completamente reciclada e você terá
mais ou menos 25 Kg de adubo orgânico de primeiríssima
qualidade.
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Onde colocar a composteira

1. A composteira de engradados de pvc não deve ser colocada em


locais sem ventilação. Não devemos desperdiçar locais
ensolarados com a compostagem que dispensa a luz solar; as
plantas sim precisam dela. Os engradados de compostagem devem
ser colocados sobre um suporte que pode ser desde de um simples
e pouco eficiente jornal, até bandejas ou caixas que possam
coletar e canalizar o chorume (líquido que escorre do composto)
completamente. Um bom composto deve produzir muito pouco ou
nenhum chorume. Mas quando regamos o composto no verão isto é
inevitável. Por garantia podemos acomodar nossos engradados
sobre uma bandeja plástica, de metal ou de madeira, de pelo
menos 5 centímetros cheia de brita, cascalho ou areia bem
grossa. O importante é que o composto tenha o mínimo contato com
o chorume.

2. Sofisticando um pouco mais podemos construir um suporte de


concreto ou tijolos e cimento que tenha pelo menos 40
centímetros de altura e onde possamos encaixar os engradados.
Devemos cuidar para tenha um dreno (furo) no fundo e então
podemos preencher metade da altura com carvão vegetal (aquele
que compramos para fazer churrasco) e logo por cima despejamos a
mesma quantidade de brita, e por cima da brita acomodamos os
engradados. Desta forma o eventual chorume escorre pela brita
até a camada de carvão onde é desodorizado e ligeiramente
filtrado. Evitando sujeira na sacada ou na área de serviço. Para
composteiras feitas diretamente na terra este problema
praticamente não existe já que o solo absorve o chorume.

O que pode ser compostado e como usar o composto gerado

1. Praticamente qualquer coisa orgânica é passível de compostagem.


Preferencialmente devemos usar os resíduos orgânicos vegetais
crus gerados em nossa cozinha, os restos de comida podem e devem
ser compostados, porém devemos lembrar que o sal pode diminuir a
qualidade de nosso composto tornando-o mais salino do que o
conveniente. Pensando ecologicamente o certo é não termos restos
de comida, um pouco de organização pode evitar desperdícios e
viabilizar a prática da compostagem domiciliar de forma
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totalmente eficiente. Mas quando não conseguimos comer tudo o


que preparamos o destino é os compartimentos que vão sendo
preenchidos com resíduos orgânicos um de cada vez. Assim, as
minhocas vão reciclando o material a cada compartimento
preenchido, seguindo o mesmo procedimento anterior.
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Aplicação de microorganismos na recuperação de metais

Introdução

Com o crescente desenvolvimento tecnológico e industrial há uma


constante preocupação no mundo atual com a liberação de resíduos
industriais metálicos, pois podem causar danos em todo o ecossistema.
Metais como chumbo, arsênio, cromo, zinco, cádmio, cobre e mercúrio
podem causar danos significativos ao ambiente e a saúde humana graças
à facilidade de solubilização e mobilização. A escolha mais apropriada
do método de remediação para solos ou sedimentos depende das
características do local, concentração, tipos de poluentes a serem
removidos e o destino final do meio contaminado. Dentre as tecnologias
empregadas para contornar os problemas gerados pelas áreas impactadas
por metais pesados podem ser citados o isolamento do local, a
imobilização, redução de toxicidade, separação física e extração.
Barreiras físicas feitas de aço, cimento e bentonita, por exemplo,
podem ser usadas para isolar e minimizar a mobilidade dos metais. Por
outro lado, existem processos que promovem a separação das partículas
menores (mais poluídas) das maiores, empregando hidrociclones, leito
fluidizado e flotação. Todavia alguns dos processos de remoção podem
apresentar custo final elevado e/ou causar a liberação de novos
contaminantes. É nesse contexto que surge a necessidade pela busca de
novas tecnologias para a remoção de metais, baseadas no
desenvolvimento de metodologias para aplicação de microrganismos.
Entretanto, técnicas convencionais de remoção de metais tóxicos (ex:
troca iônica, precipitação, e eletroquímica), podem não ser efetivas,
especialmente quando a concentração do metal está abaixo de 100 mg L-1.
Os microorganismos são capazes de afetar a especiação dos
metais, por causa de sua capacidade efetora ou mediadora nos processos
de mobilização ou imobilização, que influenciam no equilíbrio das
espécies metálicas entre as fases solúveis e insolúveis. A capacidade
que os solos têm de atenuar os impactos, através de processos
naturais, biológicos, químicos e físicos, pode ser utilizado como
tratamento na remediação de solos contaminados, e é conhecido com o
nome de atenuação natural. Muitos microorganismos, incluindo
bactérias, algas e fungos, possuem a habilidade para remover metais
pesados do meio ambiente. A capacidade de remoção, assim como os
mecanismos de acumulação, podem variar amplamente de acordo com a
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espécie microbiana, ou até mesmo com a linhagem. Tanto as células,


como os produtos excretados, parede celular e polissacarídeos têm
potencial para remover metais de soluções que os contém. Fatores
externos como pH, temperatura, ausência ou presença de nutrientes e
outros metais também influenciam no mecanismo atuante e,
conseqüentemente, na eficiência e seletividade de acumulação.

Metais, o seu emprego e as suas implicações com a saúde humana

A dissolução de metais pesados que escapam no meio ambiente pode


acarretar sérios problemas de periculosidade. O controle das descargas
de metais pesados e remoção de metais tóxicos de rejeitos líquidos tem
se convertido numa séria preocupação, especialmente para as indústrias
químicas. Os metais pesados compreendem 40 elementos com densidade
superior a 5 g/cm3. Alguns, como ferro, em pequenas quantidades, são
elementos essenciais ao crescimento tanto de organismos procariontes
quanto de eucariontes. No entanto, outros, como o cádmio, não possuem
função biológica conhecida e são extremamente tóxicos, mesmo em
concentrações muito baixas. O controle da emissão de resíduos através
de normas, definidas em Leis e Decretos, resulta da preocupação
mundial com os efeitos nocivos do uso indiscriminado de produtos
químicos tóxicos e de seu descarte para o meio ambiente. Efluentes das
indústrias do setor mineral e metal-mecânico, em particular os
efluentes de plantas de tratamento de superfície, contêm alta
concentração de metais dissolvidos. Os metais que mais preocupam e
representam um risco ambiental são, em ordem de prioridade: cádmio,
chumbo, mercúrio, cromo, cobalto, cobre, níquel, zinco e alumínio.

Remediação

O mecanismo bioquímico microbiano não é o da degradação do átomo


contaminante, mas aquele que produze uma mudança no estado de oxidação
do metal para sua detoxificação. Independente das reações ocorridas,
provavelmente o metal ainda permanecerá no local, pois sabe-se que as
bactérias possuem a capacidade para concentrar ou remover os mesmos,
seja em forma de precipitados ou de substâncias voláteis,
conseqüentemente menos tóxicos e facilmente disponíveis. Em outras
palavras, os microorganismos podem apenas alterar a especiação dos
contaminantes e convertê-los em formas não tóxicas.
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Mecanismo de captação dos metais

Vários são os mecanismos pelos quais os microorganismos interagem com


os metais, conforme resumido na Figura 1:

A parede celular é considerada um complexo trocador de íons,


similar a uma resina. A capacidade de troca iônica depende da presença
de grupos funcionais e da estrutura espacial da própria parede
celular. Dentre os principais grupos funcionais responsáveis por
mecanismos de captação de metais, podemos citar a carboxila, o grupo
amino, sulfato e fosfato, que são responsáveis pela captação de
cátions metálicos, seja por atração eletrostática ou por formação de
ligações. Portanto, essa interação pode ser particularmente
pronunciada no caso de íons metálicos devido às características
aniônicas da parede celular.
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Acúmulo de metais pesados por microorganismos

Materiais de origem biológica como os biossorventes possuem a


capacidade de adsorver e/ou absorver íons metálicos dissolvidos. Entre
estes materiais estão os microorganismos (bactérias, microalgas e
fungos) vegetais macroscópicos (algas, gramíneas, plantas aquáticas).
Partes ou tecidos específicos de vegetais como casca, bagaço, e
sementes também apresentam a capacidade de acumular metais pesados.
Materiais de origem mineral (zeolitas, bentonitas, caulinita,
diatomita, etc.) possuem a capacidade de remover íons metálicos do
meio aquoso podendo ser utilizados no tratamento de águas. Subprodutos
industriais de origem mineral (argilas, pirita, dolomita,
arsenopirita, etc.) também foram avaliados na remoção de íons
metálicos tóxicos de soluções aquosas. A capacidade de remoção, assim
como os mecanismos de acumulação, varia de acordo com a espécies
microbiana, ou até mesmo com a linhagem. As células microbianas têm
potencial para remover metais de soluções, empregando metabólitos
excretados, parede celular e polissacarídeos. Fatores externos como pH
temperatura, ausência ou presença de nutrientes e outros metais também
influenciam no mecanismo atuante conseqüentemente, na eficiência e
seletividade de acumulação.

Mecanismos de captação microbiana para remoção de metais pesados

Biossorção

A acumulação de metais pesados, por mecanismos independentes do


metabolismo celular se dá através de interações fisico-químicas entre
o metal e constituintes da parede celular, de exopolissacarídeos e
outros materiais associados à face externa da membrana celular. A
independência do metabolismo ocorre pelo fato de não ser necessário o
gasto energético por parte da célula microbiana, para que haja
captação dos íons metálicos. A remoção neste caso pode ocorrer tanto
em células vivas quanto em células mortas.

Bioacumulação

O transporte de íons de metais pesados através da membrana


celular e sua acumulação intracelular são dependentes do metabolismo,
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ou seja, ocorrem somente em células vivas, capazes de gerar energia. A


remoção de íons metálicos por este tipo de mecanismos é usualmente
mais lento que o mecanismo de adsorção físico-químico. Em
contrapartida maiores quantidades de metal podem ser acumuladas. A
fonte de energia, presença de inibidores metabólicos, temperatura e
luminosidade são os principais fatores que afeta este tipo de
acumulação. Os mecanismos de transporte envolvidos não acumulação de
metais pesados são pouco conhecidos. Uma das suposições seria a de que
os metais pesado podem ser captados pelos sistemas de transporte de
metais essenciais para o desenvolvimento microbiano . Uma vez dentro
da célula, os íons metálicos podem se localizar em organelas, ou podem
estar ligados a proteínas, deslocando os íons adequados de suas
posições, prejudicando as funções metabólicas. Como uma tecnologia
alternativa, os biosurfactantes produzidos por bactérias e fungos
poderiam ser usadas para a remediação ambiental de metais pesados de
solos, superfícies e águas subterrâneas.

Na figura 2 mostra-se um esquema sobre os mecanismos de interação


entre metais e células microbianas.
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Microorganismos no tratamento de águas residuais

Assim como a água, também o tratamento dos esgotos envolve o


trabalho de vários operários que trabalham dia e noite nas estações de
tratamento, para poder lançar a água com a qualidade no corpo
receptor.

A escolha do processo de tratamento de esgoto depende do grau de


tratamento exigido pelo corpo receptor, ou seja, rios, lagos e outros.
Entre os processos existentes de tratamento de esgoto apresentamos
alguns dos mais utilizados:
1. Pré-tratamento
2. Lagoa de Estabilização
3. Lodos ativados
4. Filtro Biológico.

1 – O pré-tratamento

O pré-tratamento é feito já no processo de coleta dos esgotos,


deixando-os livres de materiais grosseiros e areia. Mesmo assim é
comum a utilização de um sistema de grades e caixa de areia no sistema
de esgotos.

2 – Lagoas de estabilização

Processo simples e natural para tratar esgotos domésticos, tendo


como principal objetivo remover matéria orgânica. É indicado para as
condições brasileiras devido ao clima favorável, suficiente
disponibilidade de área, à operação simples e à utilização de poucos
equipamentos.
As lagoas de estabilização podem ser classificadas em três
tipos: lagoas anaeróbias, lagoas facultativas e lagoas de maturação.
 Lagoas anaeróbias: São lagoas com profundidades da ordem de 3 a
5 metros, cujo objetivo é minimizar ao máximo a presença de
oxigênio para que a estabilização da matéria orgânica ocorra
estritamente em condições anaeróbias. A eficiência nesse tipo
de sistema poderá atingir até 60% na remoção de DBO (Demanda
Bioquímica de Oxigênio) dependendo da temperatura.
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 Lagoas facultativas: São lagoas com profundidade de 1,5 a 3


metros. Nesse tipo de lagoa ocorrem 2 processos distintos:
aeróbios e anaeróbios. Na região superficial ocorrem os
processos fotossintéticos, realizados pelas algas, onde há
liberação de oxigênio no meio, favorecendo o processo aeróbico.
No fundo, quando a matéria orgânica tende a sedimentar,
acontecem os processos anaeróbios.
 Lagoas de maturação: São lagoas com profundidades de 0,8 a 1,5 m
e sua principal função é remover patogênicos devido à boa
penetração de radiação solar, elevado pH e elevada concentração
de oxigênio dissolvido.

O arranjo desses três tipos de lagoas são os seguintes:

O sistema funciona em série com uma lagoa anaeróbia seguida de


três lagoas facultativas chicanadas.

A lagoa anaeróbia possui uma superfície relativamente grande com


profundidades úteis médias de 2,60 m junto aos diques e 3,30 na área
restante e a alimentação do esgoto bruto é feita na extensão da lagoa
de um canal ou duto.
As lagoas facultativas possuem profundidade média de 1,70 m, com
cortinas para direcionamento de fluxo.

3 – Lodos ativados
É um processo biológico onde o esgoto afluente, na presença de
oxigênio dissolvido, agitação mecânica e pelo crescimento e atuação de
microorganismos específicos, forma flocos denominados lodo ativado ou
lodo biológico. Essa fase do tratamento objetiva a remoção de matéria
orgânica biodegradável presente nos esgotos. Após essa etapa, a fase
sólida é separada da fase líquida em outra unidade operacional
denominada decantador. O lodo ativado separado retorna para o processo
ou é retirado para tratamento específico ou destino final.

Esse processo de tratamento de esgotos apresenta vantagens e


desvantagens:
Vantagens
 exige pouca área para implantação;
 maior eficiência no tratamento;
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 maior flexibilidade de operação;

Desvantagens
 custo operacional elevado;
 controle laboratorial diário;
 operação mais delicada.

4 – Filtro biológico (Leito percolador)

Filtros biológicos são unidades de tratamento de esgotos


destinados a oxidação biológica da matéria orgânica remanescente de
decantadores.
O efluente do decantador é aspergido continuamente sobre um
leito de pedras justapostas entre os quais o ar pode circular.
O ambiente ecológico desempenhado pelo filtro biológico tem como
condicionantes a matéria orgânica, luz, oxigênio temperatura e pH. O
leito de pedras, atravessado por líquido contendo matéria orgânica e
os outros fatores acima citados, propicia o desenvolvimento de
microorganismos aeróbios. A variabilidade dos fatores de oxigenação
também permite desenvolvimento anaeróbico resultando uma alternância
de condições que permite a predominância de organismos facultativos.
As populações microbianas nos leitos dos filtros biológicos são
principalmente bactérias heterotróficas, são consumidoras da matéria
orgânica predominante e por isso consideradas os principais agentes
primários da purificação.

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