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Jornal Valor Econômico - CAD B - EMPRESAS - 4/2/2009 (20:10) - Página 2- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW
Enxerto
Empresas | Tecnologia&Comunicações
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salas 3D] foi quatro vezes maior”, não Premoniç
Celso Carvalho vai pouco ao ci- compara Luciano Silva, gerente definida Personagem
nema por causa da falta de tem- de tecnologia do Cinemark. A do filme
po, mas o que ele viu na semana empresa, que inaugurou a pri- Bolt - Supercão,
passada, numa sala de exibição meira sala 3D do Brasil em 2006, da Walt Disney
em São Paulo, pode fazer com que hoje opera nove salas com a tec- Pictures
abra mais espaço para os filmes nologia e pretende inaugurar
em tela grande no futuro. Acom- mais nove este ano.
panhado do neto, Carvalho, de 56 “O ingresso é mais caro e
anos de idade, assistiu à animação a frequência é maior porque
“Bolt - Supercão”, numa versão em o filme pode ficar em cartaz
3D. Foi sua primeira experiência mais tempo [devido à curio-
com a tecnologia e a recepção não sidade do público]”, diz Luiz
poderia ser melhor. “A impressão Gonzaga de Luca, diretor de rela-
é de que você está dentro do fil- ções institucionais do grupo Seve-
me, participando da ação. Sempre riano Ribeiro, ao qual pertence a
que tiver oportunidade, vou assis- rede de cinemas Kinoplex. Com milhões
tir a um filme em 3D”, diz ele. duas salas 3D — uma no Rio de Ja- no ano passado.
É exatamente esse tipo de efei- neiro e outra em Goiânia — o Kino- Nos mesmos cinco
to que a indústria do cinema — plex cobra R$ 4 a mais nas sessões anos, a bilheteria dimi-
incluindo estúdios, distribuido- em terceira dimensão. Neste ano, a nuiu de R$ 784,5 milhões
ras e exibidores — quer obter previsão é de que 8 a 10 salas do para R$ 727, 8 milhões, segundo
com o novo 3D, uma evolução da grupo sejam adaptadas à nova tec- dados do site Filme B, especiali-
técnica rudimentar dos anos 50 e nologia, afirma De Luca. zado em cinema.
a principal aposta do setor para Para muita gente, a volta do 3D Como a base não aumenta, o
reativar a venda de ingressos. é vista como um movimento ine- faturamento do setor vem de-
A previsão é de que, até o fim do vitável de sobrevivência. Durante pendendo dos reajustes de in-
ano, o número de salas preparadas décadas, as salas de exibição gressos para se manter.
para os filmes em 3D cresça mais atraíram o público com a pro- Nesse cenário, que se repete em companhia foi a primeira a trazer
de três vezes, das atuais 25 para
cerca de 80. O combustível para
messa de oferecer imagem de
qualidade e sistemas de som ca-
vários países, o 3D é visto como
estratégico porque voltaria a dar
para o Brasil uma sala de projeção
Imax, que tem tela bem maior que
Novo sistema evita
sensação de mal-estar
acelerar esse movimento está a ca- pazes de envolver o espectador. ao cinema uma vantagem de cer- as comuns e pode exibir tanto con-
minho: Hollywood promete entre- Mais recentemente, porém, os fa- ca de 10 anos até que a tecnologia teúdo convencional como em 3D.
gar pelo menos 12 produções em bricantes de produtos eletrôni- migrasse para o entretenimento Na PlayArte, que atua como
terceira dimensão nos próximos cos se encarregaram de levar par- doméstico. Isso é ainda mais im- distribuidora e exibidora de fil- De São Paulo mesma cena duas vezes, na pri-
meses e há 50 longas na fila para os te desses atrativos para a sala de portante quando se considera mes, os executivos se surpreen- meira com uma coloração mais
próximos anos. E ao contrário do estar, com os aparelhos de home que com a popularização dos fil- deram com o interesse que a tec- “Um milagre de nossa era: um para o azul e a segunda puxando
que ocorreu há cinco décadas, theater e telas de cristal líquido. mes via internet, a tendência é de nologia despertou no público. leão no seu colo, um amante em para o vermelho. Depois disso, as
quando as telas 3D eram ocupadas Com tanta inovação em casa, por que mais gente fique em casa. No ano passado, a empresa lan- seus braços”: foi com essa campa- imagens eram sobrepostas em
por porcarias divertidas e baratas, que o espectador abandonaria o “O 3D é o ingrediente que falta- çou o “remake” de “Viagem ao nha que os publicitários de Hol- um trabalho de edição.
desta vez o arsenal conta com pro- sofá para ir ao cinema? va para aumentar o número de es- Centro da Terra” nas opções 2D e lywood decidiram chamar a aten- A tecnologia usada atualmen-
duções de grosso calibre. A produ- A bilheteria tem refletido o de- pectadores”, afirma Ademar Oli- 3D. “Tivemos um milhão de es- ção do público para “Bwana Devil”, te nos filmes 3D é chamada de es-
ção mais esperada — “Avatar”, do sânimo do público. No Brasil, o nú- veira, diretor de programação do pectadores nas salas convencio- considerado o primeiro filme em tereoscópica. Nesse modelo, uma
diretor do “Titanic” James Came- mero de espectadores caiu de grupo Espaço Unibanco Arteplex, nais e 310 mil nas digitais”, diz 3D colorido do cinema americano. câmera faz a dupla captação de
ron — tem orçamento estimado 117,4 milhões em 2004 para 89,5 que conta com duas salas 3D. A Otelo Bettin Coltro, vice-presi- Lançado em 1952 — e batiza- imagens, simultaneamente. Na
em US$ 200 milhões. DAVILYM DOURADO/VALOR
dente executivo do grupo. Pare- do no Brasil de “Bwana, o demô- verdade, são duas câmeras den-
O custo da produção não é o ce um resultado ruim para a no- nio” —, o filme despertou o inte- tro de uma. “Cada uma delas re-
único desafio. Montar uma sala va tecnologia, mas trata-se de resse do espectador com sua his- presenta um olho. Elas ficam po-
3D também não é barato porque uma grande vitória quando se tória de leões devoradores de sicionadas lado a lado, represen-
requer equipamentos específi- considera que o filme foi exibi- gente na África e abriu espaço tando a distância entre o olho es-
cos. Um projetor 3D sai por do em 9 salas 3D versus 207 con- para outros títulos com apelo ju- querdo e o direito. A ideia é
US$ 70 mil, em média, mais que o vencionais. A diferença do valor venil, também exibidos em 3D, filmar como se fosse uma pessoa
dobro de um aparelho conven- do ingresso na PlayArte é de R$ 4 como “A Casa de Cera” e “O observando aquela cena”, explica
cional. Somando isso aos custos adicionais, em média, nas salas Monstro da Lagoa Negra”. Luciano Silva, gerente de tecno-
com óculos e licenças de softwa- com terceira dimensão. “Bwana” não figura em nenhu- logia da rede Cinemark.
re, todo o sistema pode custar até Apesar do entusiasmo do se- ma retrospectiva importante do Depois da captação, o proces-
R$ 600 mil. Para efeito de compa- tor, no entanto, o 3D não chega cinema mundial, mas inaugurou so é o mesmo — uma imagem de-
ração, a montagem de uma sala a ser considerado uma tábua de o ciclo dos filmes 3D, que fez ba- ve ser sobreposta à outra. Os ócu-
tradicional completa, com 300 salvação ou uma transição radi- rulho nos Estados Unidos até los usados pelo público fazem o
lugares e o espaço para vender pi- cal, como foi a passagem do ci- 1952. O problema é que o públi- trabalho de despolarização, ou
poca e doces, custa R$ 1,2 milhão. nema mudo para o sonoro ou o co entrava nas salas de exibição seja, identificam qual imagem
Se o exibidor quiser instalar advento da cor. Em parte, por disposto a tomar sustos em ter- deve ser vista por cada olho e ga-
uma tela gigante Imax, a conta so- causa do próprio conteúdo. ceira dimensão, mas saia recla- rantem que o espectador só en-
be à estratosfera. O Espaço Uni- Ver dinossauros e vilões sal- mando dos óculos que tinham xergue uma de cada vez.
banco Pompeia, em São Paulo, in- tando da tela pode ser bem di- de ser usados para o efeito dar Para arrematar, o segredo está
vestiu R$ 6 milhões em uma sala vertido, mas não se sabe como a certo. A sensação, para muita na projeção digital, que impede a
desse tipo, inaugurada recente- experiência do 3D aumentaria o gente, era de enjoo e mal-estar. duplicidade de imagens, elimi-
mente. Com esse dinheiro, é possí- poder de atração de um drama Agora, para não repetir os er- nando a antiga sensação de mal-
vel montar seis salas tradicionais. denso, por exemplo. ros do passado, um novo méto- estar. Um projetor tradicional exi-
A expectativa da indústria, no Uma boa parte do público sa- do de captação de imagens em be o filme a uma velocidade de 24
entanto, é de que o retorno vai be disso. “Para criança, o 3D é 3D foi adotado pelos estúdios e quadros por segundo, já o digital
compensar os gastos mais pesa- muito interessante, mas eu não produtoras de Hollywood. Câ- alcança 144 quadros por segundo.
dos. É o que mostram algumas veria um filme só por contar com meras, óculos e projetores evo- De acordo com Silva, a veloci-
experiências feitas até agora. Na a tecnologia”, diz Laura Campos, luíram tecnologicamente para dade resulta em uma qualidade
rede Cinemark, as salas 3D que de 50 anos, que já viu um filme garantir que ninguém passe mal muito superior. “A sequência de
exibiram o filme “A Família do em 3D nos EUA e na semana pas- depois da sessão de cinema. quadros é tão rápida que engana
Futuro”, lançado em 2007, atraí- sada acompanhava os filhos nu- Há cinquenta anos, a produ- o cérebro humano, que acaba in-
ram duas vezes mais público que ma sessão do filme “Bolt”. “Teria ção de um filme em 3D era feita terpretando aquilo como se fosse
as convencionais. Isso apesar de Luciano Silva, gerente de tecnologia do Cinemark: duas vezes mais público que ter um tema interessante.” de seguinte forma: filmava-se a apenas uma imagem”, diz. (MR)