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ciência&Tecnologia

caderno especial A
partir desta edição

Economia Solidária
Região ensina o que fazer
pelos excluídos do crédito

R$ 9,90

Mangabeira Unger: Josué de Castro e Fome:


“Nordeste precisa Persistência onde
se rebelar!” mais falta educação

Nordeste, século XXI


Sonho e despertar sem fim pelo desenvolvimento
Não importa a distância.
Não importa a dificuldade.
A gente não mede esforços para levar
desenvolvimento a cada canto do Nordeste.

Desenvolvimento é financiar cadeias produtivas, gerar emprego e oportunidades.


É mudar a vida das pessoas. Aumentar sua auto-estima e recuperar sua dignidade.
Cliente Consulta | Ouvidoria: 0800 728 3030 - www.bnb.gov.br Desenvolvimento é fazer o Nordeste crescer. E ser do tamanho do seu povo.
Insigths
Josué de Castro (1908 - 1973). Visão de mundo “Acho que foi ele que disse: - existe
fome no Brasil. Ele que deu à
O que divide os homens não são fome o estatuto político e científico
as coisas, são as ideias que eles têm quando levantou essa questão.”
das coisas, e as ideias dos ricos são “... este é um crime político que a
ditadura militar tem que debitar na
bem diferentes das ideias dos pobres sua imensa conta. A morte dele no

Pouchain
exílio.” Betinho, sociólogo
Metade da humanidade não
come; e a outra metade não dorme, “O Josué, nunca vi
com medo da que não come” tamanha desgraça.
Quanto mais miséria
tem, mais o urubu
“Sou fascinado por ameaça...”
Josué de Castro “...tem que saber
como pelos profetas, seguir o leito, tem
especialmente que estar informado,
Jeremias. Devo a ele tem que saber quem
o conceito de que é é Josué´de Castro,...
um crime contra a humanidade ver gente passando rapaz!””
fome. Josué tinha a cabeça lúcida e o coração Chico Science, músico e compositor
generoso. Foi às raízes da fome e apontou as soluções”
Dom Mauro Morelli, bispo emérito de Duque de Caxias (RJ)
“Josué é uma das pessoas que
“Um dos traços fundamentais de Josué eu mais admirei. Eu digo
de Castro era a sua clarividência. A mesmo que Josué é o homem
clarividência é uma virtude que se mais inteligente e mais
adquire pela intuição, mas sobretudo brilhante que eu conheci.”
pelo estudo. É tentar ver a parte do
“... o diabo é que me dava
presente que se projeta no futuro.”
Milton Santos, Geógrafo
uma inveja enorme - Josué
era brilhante em todas as
línguas... Incrível!” “... mas,
“Antes de qualquer um de isso, do intelectual mais
nós falar em fome, ele já
dizia que era preciso criar
eminente do país, a figura
uma política de renda mais importante do território
mínima para garantirmos brasileiro, a mais visível...
que todos tivessem o direito esse, ser levado à morte em
de comer e de sobreviver” tristeza, querendo vir...”
Lula Darcy Ribeiro, antropólogo

Junho/2009 5
Nordeste VinteUm
Carta do Editor
Sumário
CiêNCia&TeCNol
CaderNo esPeC ogia
a ParTir desTaial

Economia Soli
ediçã

Região ensina dária


o
Edição Nº 02
pelos excluídoso que fazer
do crédito
Ano I — Junho/2009

“Criar é viver duas vezes”


Revista Nordeste VinteUm
R$ 9,90

Política, Economia, Cultura


Albert Camus
www.revistanordestevinteum.com.br

P
or séculos, o fado nordestino tem sido sonhar Em dois meses, uma verdadeira aragem de vitalidade
com prosperidade e acordar atarantado pelos e ousadia. Em plena saudação. A transcender as cenas
espectros da sua própria miséria. Eterna parece jornalísticas local e regional. Afinal, já fazemos sucesso
Cultura
Mangabeira Ung
er:

32
Josué de Cast
ser a luta da região na tarefa de se equilibrar das verti- em Brasília e até em São Paulo. E, porque não mencio-
“Nordeste precis
se rebelar!”
a Persistência onde ro e Fome:
mais falta educa

nordeSte, Século
ção

42
gens do seu arraigado subdesenvolvimento. nar, até o talo de orgulho, como fomos tratados ao nível Sonho e deSpertar XXi
Embora a gente do lugar nunca se quede em defini- da “grata surpresa”, atestada e manifestada por quem Sem fim pelo deSenvolvi
mento

tivo ante as forças do atraso, um certo complexo de in- faz o cotidiano do pensamento sobre o Nordeste? José Cruz_Abr/Centro Josué de Castro
ferioridade e derrotismo, às vezes, quer se aplacar sobre Assim, aconteceu nas dezenas de e-mails, cartas, Caatinga A reforma de
consciências empreendedoras menos providas de capa- entrevistas, telefonemas, editoriais e notas de jornais,
cidade financial. rádio e televisão, bem como nos contatos, visitas téc- Conheça o bioma um mecenato
Isso acontece de maneira contumaz naqueles nichos nicas, institucionais e de cortesia em órgãos como brasileiro em risco desigual
de capitanias que não deram tão certo. Aonde iniciati- universidades, faculdades, autarquias, empresas pú- de desertificação
vas, projetos e negócios inovadores acabam vindo à luz blicas e privadas, centros de pesquisa, parlamentos Seções
natimortos, porque prevalecem de pancada o inexorável estaduais e municipais.
ceticismo político, a desconfianças dos regionalismos Estreamos com a coragem e a cara de quem acredita 20. Caleidoscópio
exclusivistas e o “pobrismo” das idéias.
Expressões conceituais como “perspectivas de de-
que confiar em si mesmo é o primeiro segredo do êxi-
to, da sobrevivência. Assim como o sertanejo, órfão das
50. Saberes&Sabores
senvolvimento sustentável”, por exemplo, ainda pas-
sam longe da semântica anacrônica de setores cujo úni-
políticas de Estado e de governo, que nem por isso dei-
xa de empreender e inovar. Ser antes de tudo um forte,
62. Ateliê Fome Projeto
co dialeto possível é o da “naturalização de misérias”.
Da perpétua negação de vez e voz a quem nasce pobre.
como descreveram Euclides da Cunha, em Os Sertões,
e Graciliano Ramos, em Vidas Secas. Resistindo e mor-
Nordeste
Sem dinheiro para bancar as primeiras “letras”.
Aqui, entre nós: é revoltante, porém inegável a persis-
tência de mitos e verdades, ora em mistura, ora em alter-
nância implacável, na conspiração pelo malogro de um
rendo, morrendo e resistindo, como o Rio Jaguaribe. Do
Ceará, de Demócrito Rocha.
Agradecidos, inclusive para quem duvidou em al-
gum instante, temos o prazer de levar às suas mãos
Artigos
39. Sobre a “feiúra”
da Caatinga
08
Josué de Castro
22
Mangabeira Unger
novo veículo de comunicação nessas bandas do Brasil. o segundo número da nossa revista. É da cepa deste Maria Tereza Jorge Pádua flagelo persiste por desenvolvimentismo
Em nosso meio, o exíguo lastro regional na forma- bando de filhos de retirantes do interior cearense e falta de educação volta a marcar passo
ção de competências técnico-profissionais e a ausência até de Toledo, no Paraná e Caçador, Santa Catarina. 48. A descaracterização do
de políticas públicas em conjunções sócio-econômicas Todos metidos a jornalistas, designers e administra- mecenato e a regionalização
e culturais favoráveis a qualquer surto de atrevimen- dores, mas com valentia talento e honestidade de de recursos
to empreendedor, por exemplo, ainda teimam em soar propósitos. Aptos a desvendar-lhes nesta edição: a Ubiratan Aguiar
como critérios de pronto descrédito e exclusão. exuberância da caatinga, os “sonhos insurrecionais”
Tudo a perpassar e prejudicar nossos ambientes já de Mangabeira Unger, a atualidade do cientista per- 60. Ruídos no Andar de cima
tão castigados pelas hostilidades do clima e do tempo, nambucano Josué de Castro, os desequilíbrios da Luiz Carlos Antero
pelos descasos da história. Mas, isso são outros 500 política cultural brasileira, as lições de economia
anos. E, na contramão do conteúdo dessas leituras de solidária do Nordeste, os avanços da ciência e da Instante
contextos, eis que surgiu em nosso mercado gráfico- tecnologia na região e muito mais. Confira e cresça

40 52
editorial a Nordeste VinteUm. junto com a Nordeste VinteUm.

QUEM SOMOS Editora Assaré Ltda ME


A Nordeste VinteUm nasceu do know- Rua Waldery Uchôa, 567 A n Benfica
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Economia
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Junho/2009 3 Junho/2009
Nordeste VinteUm
6 Nordeste VinteUm
CARLINHOS ALCÂNTARA
ESPECIAL
Seis décadas após a publicação do seu mais famoso livro, Geografia da Fome,
Conspiração do silêncio o cientista pernambucano Josué de Castro ainda é a grande referência sobre o

Fome Persiste.
assunto. Não à toa. Até porque quase 850 milhões de pessoas – 16,6% (FAO-
2005) da população mundial – ainda passam fome e 27,3% delas estão no Brasil.
Embora os atuais métodos e contextos de análise sócio-antropológica, econômica
e tecnológica guardem radicais transformações dos abordados pelo pesquisador, o
fato é que o flagelo ainda permanece como um dos grandes dilemas do Nordeste.
Um fenômeno social implacável que não tolera a lentidão das políticas públicas.

E agora, Josué?
Afinal, “quem tem fome tem pressa”, ensinava o sociólogo Herbert de Sousa, o
saudoso “Betinho”. Diante disso, resta a dúvida sobre quais fundamentos Josué
de Castro elegeria hoje, como principais motivadores dessa face da miséria no
país e, principalmente, nas terras nordestinas. As desigualdades regionais do
acesso à educação certamente seriam o ponto de partida para se desvendar esse
enigma. Sobre a crucialidade desse enfoque, confira nessa reportagem como nem
todo mundo cala diante do irrefutável.
Por Lucílio Lessa
redacao@nordestevinteum.com.br

Q
uando se fala em fome no Brasil é e políticas. Mais ainda: o país estava dividido em
comum associar o tema a região Nor- cinco regiões, das quais três seriam de fome.
deste. Palco dos piores índices de sub- No recorte geográfico realizado por Josué de
desenvolvimento do país, esse mesmo Castro, o Centro-Oeste e o Extremo Sul ocupa-
Nordeste, não por coincidência, tam- vam uma posição privilegiada, estando fora da
bém é berço de uma figura emble- zona de fome permanente. Na contra-mão dessa
mática sobre o assunto: o ­médico, realidade, estavam a área amazônica e o Nordes-
­escritor, político, geógrafo, cien- te. Este era divido ainda em duas sub-regiões, a
tista social e professor Josué de açucareira e a do sertão. As diferenças não eram
Castro. Nascido em uma família pobre do Recife, o apenas geográficas, e sim biológicas, culturais,
cientista tornou-se uma celebridade mundial ao rom- ecológicas, geológicas e sociais. No entanto, em
per com o que ele classificava como “conspiração do uma coisa elas comungavam: a má administra-
silêncio” e, finalmente, denunciar a fome, suas verda- ção dos governantes, que levavam essas regiões à
deiras causas e consequências. fome e à miséria.
Como fenômeno social, a desmistificação do as- Defensor de uma reforma agrária que con-
sunto é um processo que tem data de início: 1946, templasse não apenas a posse da terra, mas a pro-
quando ele escreveu o livro Geografia da Fome. moção da agricultura familiar e o apoio ao seu de-
Considerada um raio X da realidade alimentar do senvolvimento, Josué potencializava a fome como
país, a obra desarticulou a idéia de que a fome es- resultado da exploração colonialista, associando o
tava associada à raça. “Dizia-se que problema à deficiência do consumo ali-
o Brasil era um país de indolentes, mentar resultante desse período.
mestiços, de gente de cor e que, por Ao explicar um tema tabu para a
isso, a fome deveria fazer parte do sociedade da época, ele jogou holo-
dia-a-dia do brasileiro”, comenta a fotes sobre a má distribuição das ri-
professora universitária Ana Maria quezas de um país ainda fortemente
Castro, filha de Josué. agrícola, e que hoje apresenta um perfil
Na verdade, o Brasil surgido das bem mais industrializado. Diante dessa
pesquisas do cientista mostrava que nova realidade, o que será que Josué de
não existiam causas naturais para o Castro elegeria como principal causa
problema, mas econômicas, sociais para a fome hoje no país?

8 Junho/2009 Junho/2009 9
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Dilemas e descompensações
É a educação, cara pálida!

Índices mais graves convergem para “Aço ou pão”/


zonas de analfabetismo e desemprego “Pão ou educação” PERFIL DA
Para o economista e sócio-funda- Enquanto a insegurança alimentar todas as regiões. Das 840 milhões de Sérgio Buarque argumenta que o dilema do Brasil para Josué de Castro SEGURANÇA
dor do Centro Josué de Castro, em
Recife, Sérgio Buarque, tendo em
grave ocorre em 3,5% dos domicílios
da região Sul, o Nordeste apresenta
pessoas que passam fome no mundo,
27,3% estão no Brasil.
era o descompasso entre o processo de industrialização e a modernização agrí-
cola (sub-título da Geografia da Fome). Ou seja, em uma síntese de sentido ALIMENTAR
vista o quanto a economia do Brasil
já avançou nas últimas décadas, a
um índice de 12,4%. O maior entre figurado: “aço ou pão”. Hoje, o dilema é ver o país entre o imediatismo do
Fome Zero e o atraso na oferta de educação de qualidade para a população de TRAÇADO PELO
resposta ao enigma de persistência
da fome no país é simples: a desigual-
baixa renda. Ou seja: “pão ou educação”.
Em palestras que realiza pelo país, com o tema “O pensamento de Josué IBGE EM 2004
dade do acesso à educação. “O ponto de Castro e os problemas do novo milênio”, Sérgio Buarque destaca que os
Em 65,2% dos 51,8
central da discussão da fome hoje é a Pessoas de programas apresentados pelo governo, hoje, são meramente compensatórios,
5 anos ou mais
educação. É só ver, os piores índices e que ao invés de ser focada simplesmente a transferência de renda, deveria
de analfabetismo e desemprego do haver uma projeção maior para a transferência de conhecimentos. Isso quer milhões de domicílios
país estão nas regiões onde a fome é dizer apostar na redução da desigualdade via distribuição do ativo conheci-
mais grave”, avalia Sérgio Buarque. mento. “O que deveria haver também é uma distribuição de recursos de acor- particulares brasileiros, havia
Números ilustram a opinião do do com as carências. Se o Nordeste tem os piores índices, deve ser tratado
segurança alimentar.
18 milhões
economista. Segundo pesquisa di- diferente, com prioridade”, acrescenta.
vulgada pelo Instituto Brasileiro de O economista amplia a esteira dos dilemas ao lembrar que fome pede Dentre os
Geografia e Estatística (Ibge), foca- urgência e se reduz rapidamente com assistência. Mas, embora desejável, sua
da no público a partir de 5 anos de eliminação não é sustentável apenas com isso. Já a educação pede urgência com insegurança alimentar,
idade, 11,75% da população brasilei-
ra são analfabetos. Destes, 21% es-
(jovens ociosos e despreparados), são requeridos anos para gerar resultados
(elevação da escolaridade e democratização de conhecimento) e o investimen-
3,4 milhões foram
tão no Nordeste. Em segundo lugar, to tem grande impacto transformador da sociedade, oferecendo sustentabili- classificados
vem o Norte do país, com 14%. O
Sul está em último, com 7%. Agora,
dade ao processo de redução da pobreza e da fome.
Do ponto de vista do secretário Nacional de Segurança Alimentar e Nutri- em situação de
insegurança
% de analfabetos
se focarmos no público acima de 15 de 15 anos ou mais cional do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS),

alimentar grave e 1,6


anos, a média de analfabetos na po- de idade por regiao Crispim Moreira, é verdade que o Brasil precisa produzir políticas que reco-
pulação brasileira é de 10%. Destes, nheçam a diversidade sócio-territorial, mas isso não quer dizer que programas
19,9% estão no Nordeste, seguido do
Norte, com 10,8%.
como o Fome Zero não estejam no caminho certo. “A proposta do Bolsa Fa-
mília é a universalização. Ele é um programa massivo. Este ano, 12 milhões e milhão destes domicílios
Em termos econômicos, as esta- 400 mil famílias de todo o Brasil serão atendidas. Agora, no caso das políticas
estavam no Nordeste.
tísticas desfavoráveis para a terra de não universais, devemos de fato criar fatores que protejam determinadas po-
Josué de Castro avançam no mesmo pulações, corrigindo distorções”, avaliou o secretário.
levantamento. Pesquisa do Ibge, Sobre a questão da difusão do conhecimento, Crispim considera impor-
que compara a taxa de desocupados tante que todos tenham acesso à educação formal, mas ressalta a necessida- QUADRO DE INSEGURANÇA
com a das pessoas economicamen-
te ativas, denuncia que o Nordes- Desempregados no Brasil
de de serem respeitados os valores e a cultura de
cada lugar. “Os pais rurais sabem o mal que ALIMENTAR GRAVE
te possui 8,25% de sua população
desempregada. O Sudeste aparece Milhões de
População
População População Taxa de desocupação em %
faz uma escola urbana para a reprodução do
seu modo de vida e do conhecimento po-
NO BRASIL
Economicamente
NORDESTE - 12,4%
(pessoas desocupadas/pessoas
com 9,04%, mas possui quase o do- pessoas Ocupada Desocupada economicamente ativas) pular. Na distribuição do conhecimento, é
Ativa(PFA)
bro de habitantes. Brasil 98.846 90.781 8.065 8,16% imprescindível que uma cultura não se so-
Não é de espantar que, da mes-
Norte 7.302 6.735 567 7,76%
breponha a outra”, disse ele.
SUL 3, 5% -

10,9%
ma forma que as pesquisas sobre
analfabetismo e desemprego confir- Nordeste 25.772 23.647 2.125 8,25% NORTE -

CENTRO-OESTE 4,7%
mem a desvantagem da região nor- Sudeste 42.785 38.917 3.868 9,04% Sérgio Buarque destaca em suas palestras, que os
destina, outro estudo apresentado programas apresentados pelo governo hoje, são
Sul 15.704 14.792 912 5,81%
pelo Ibge denuncie que, na compara-
ção das prevalências de insegurança Centro-Oeste 7.285 6.696 589 8,09%
meramente compensatórios, e que ao invés de
ser focada simplesmente a transferência de
SUDESTE 3,8%
Fontes: IBGE / Ministério do Desenvolvimento
alimentar grave, os piores resultados Ceará 4.145 3.859 286 6,90% renda, deveria haver uma projeção maior para a Social e Combate à Fome (MDS) / Centro Josué
também ficaram com o Nordeste. Fontes: IBGE / Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) transferência de conhecimentos de Castro / pesquisador Sérgio Buarque
/ Centro Josué de Castro / pesquisador Sérgio Buarque

10 Junho/2009 Junho/2009 11
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Ensino secundário x fome
NÚMEROS DA MISÉRIA
Sem choque de ciência e tecnologia 840 milhões de pessoas hoje, passam da população brasileira não tem
fome no mundo / 27,3% estão no
escola média é o elo fraco da rede pública Brasil
renda suficiente para garantir
uma alimentação satisfatória. Isso
A fome atingia 2/3 da população representa 38,6 milhões de pessoas.
brasileira em 1946. Eram 31,2
Josué de Castro certamente estaria hoje debruçado so-
bre o ensaio da mais recente tentativa do poder público de De acordo com o Plano Plurianual (PPA) 2008-
sair do discurso e ir à prática na elaboração de um novo
milhões de pessoas. 2011, os investimentos do programa Fome
Em 1946, eram 03 as áreas geográficas Zero alcançarão R$ 80,4 bilhões,
projeto desenvolvimentista voltado para o Nordeste.
O ex-ministro de Assuntos Estratégicos da Presidência

com mais de 50% da população em beneficiando anualmente mais de 45


da República, Mangabeira Unger, até que tentou emplacar
uma proposta de governo com ares de “Projeto de Estado”,
mas viu malograr seus esforços num suspiro. Pior para o estado de fome: Norte, Sertão e Zona da milhões de pessoas. Em 2009, serão
Nordeste e seu ensino secundário.
Mata do Nordeste (permanente e endêmica na R$ 18,5 bilhões.
Entre as 11 principais propostas Zona da Mata, cíclica e epidêmica no Sertão) 12% da população brasileira são
elencadas por Mangabeira, estão 11,75% da população brasileira miseráveis, segundo IPEA, o que eqüivale a
1. Criação de uma nova escola média, a partir dos
institutos federais de educação, ciência e tecnologia. Para hoje, são de analfabetos / 21% estão na 21,7 milhões de pessoas
o ministro, a educação média é o elo fraco da educação pública no região Nordeste 17,6% era o índice de desnutrição
Em 1975, seriam 46,5 milhões de
país. A proposta é ampliar o acesso e mudar o seu enfoque, com-
binando o ensino geral com o técnico. Capacitar os nordestinos, crônica de crianças que viviam no Semi-
providenciar um choque de ciência e de tecnologia, dar meios e
pessoas com déficit alimentar (cerca árido em 1996, segundo a Universidade de São
de 50% da população)
oportunidades à inventividade tecnológica popular.
2. Esta nova escola reuniria novo tipo de ensino Paulo (USP). Hoje, esse número gira em
geral e nova espécie de ensino técnico. “O geral substituirá o
enciclopedismo informativo superficial – a ‘decoreba’ – por ensino O Fome Zero estima que, hoje, 27,3% torno de 6,6%.
analítico e capacitador. Usará a informação, de maneira seletiva e Fontes: IBGE / Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) / Centro Josué de Castro / pesquisador Sérgio Buarque
aprofundada, como instrumento de capacitação analítica. Ao man-
ter o foco no básico, de análise numérica e verbal, ficará longe dos
modismos pedagógicos”, assinalava Mangabeira em seu projeto. NOVA GEOGRAFIA DA FOME
3. O Projeto Nordeste aponta dois caminhos para alcance
de resultado. O caminho curto: ampliar as escolas técnicas
federais para que se transformem nessas novas escolas mé-
dias. E mesmo que a rede dessas escolas alcance toda a dimen-
são desejada, elas não ocuparão mais do que 10% do universo de
matrículas na população de estudantes secundários. “Daí, tam-
bém, a necessidade de trilhar o caminho longo: apoio aos governos
estaduais, bem como trabalho em comum entre eles para trans-
formar, progressivamente, a natureza das escolas médias estaduais
pré-existentes”, sugeriu o ex-ministro.
4. Para Mangabeira, ao governo federal caberia não só
preparar materiais de ensino, mas também organizar, a
partir do ciclo secundário, a carreira nacional de professo-
res. Em resumo, ele acredita que não basta reformar a educação.
É preciso providenciar um choque de ciência e de tecnolo-
gia no Nordeste. “Ainda hoje continua o Nordeste a cair muito
abaixo da média nacional em matéria de uso dos fundos setoriais
de ciência e de tecnologia. A política industrial voltada para redes
de pequenas e médias empresas industriais, e tanto para a agri-
cultura irrigada como para a de sequeiro, são provocações naturais
para mobilizar ciência e tecnologia”.

12 Junho/2009
Fonte: FAO Statistics Division, Fao Statistics Yearboo 2004 Vol.1
Junho/2009 13
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Josué de Castro

CENTRO JOSUÉ DE CASTRO


Gosto de buscar
razões históricas
e situações que A desnaturalização da fome por
demonstram porque
as coisas acontecem um nordestino cidadão do mundo
Figura brasileira emblemáti- e criar uma estratégia peda-
ca, com seu legado sobre estra- gógica para promover hábitos
Não se morre tégias para o desenvolvimento alimentares saudáveis.
apenas de enfarte, humano, o nordestino Josué de Entre os méritos de Josué,
Castro nasceu no Recife, em 5 há ainda o fato de ter fundado a
ou de g­ lomero- de setembro de 1908. Formado Comissão Nacional de Alimen-
em Medicina pela então Univer- tação, da qual surgiu o atual
nefrite crônica... sidade do Brasil, hoje Universi- Conselho Nacional de Segu-
Morre-se também dade Federal do Rio de Janeiro rança Alimentar, e de ter criado
(UFRJ), em 1929, o cientista an- o primeiro curso de
de saudade tecipou em décadas teorias que nutricionis-
focavam não apenas a visão sobre tas do país,
as milhões de pessoas vítimas da na antiga
fome, mas sobretudo a realidade Universida-
social em torno do assunto. de do Brasil.
Além de médico, era professor, Na carreira
geógrafo, sociólogo e político. Seu internacional,
trabalho científico foi pautado na o cientista fi-
multidisciplinaridade e inserido gurou por duas
em um contexto econômico, so- vezes como
cial e ambiental, que oportunizou Conselheiro
para realizar com grande acuidade Deliberativo
o primeiro inquérito de consumo da Organização
alimentar do país. Homens e Caranguejos, romance de josué de Castro história de das Nações Uni-
Intitulado Condições de Vida um menino em meio à miséria dos mangues. das para Agricul-
das Classes Operárias do Recife, o tura e Alimentação (FAO).
trabalho serviu de base para a instituição do salário mí- Na ocasião, fundou com os chamados “20 cidadãos
nimo no Brasil. A idéia era destacar a necessidade de au- do mundo”, a Associação Mundial de Combate à Fome
mento da renda do trabalhador. (Ascofam). O objetivo principal era prestar ajuda rá-
Não por acaso, também foi a partir de iniciativas pida aos países em situação de crise de abastecimen-
suas que surgiram programas como os restaurantes po- to alimentar, entre outras providências amparadas na
pulares, da Previdência Social, e a merenda escolar – mesma concepção de solidariedade.
modelo de sucesso na assistência alimentar não só do Das 22 obras de Josué de Castro, traduzidas para 25
Brasil, mas da América Latina. idiomas e recomendadas pela FAO, estão, além da cé-
Segundo pesquisador Malaquias Batista Filho, a lebre Geografia da Fome, os livros Geopolítica da Fome,
verdade é que Josué sabia dos problemas decorrentes da que traz uma análise panorâmica da fome no mundo, e
má nutrição nas crianças. Com a merenda escolar, foi o romance Homens e Caranguejos, que conta a história
possível corrigir as deficiências do cardápio doméstico de um menino em meio à miséria dos mangues.

Em 2008, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome


(MDS) criou o Prêmio Josué de Castro de Boas Práticas em Gestâo de
Projetos de Segurança Alimentar e Nutricional. O objetivo foi comemorar
o centenário de nascimento do pesquisador.

14 Junho/2009 Junho/2009 15
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Obra antecipa temas como ecologia, Três indicações ao Prêmio Nobel,
chamada globalização, na qual a vida JOSUÉ DE CASTRO:
econômica é comandada pelas empre- Contexto profissional de suas obras
sas, representando os Estados como 1908 Nasce em Recife no dia 5 de

globalização e subdesenvolvimento meros executores da política territorial e


econômica das mesmas. Processo que exílio e morte em Paris 1929
setembro
Forma-se na Faculdade de
Medicina do Rio de janeiro
aumenta a concentração geográfica e 1932 Livre-docente de Fisiologia da
acentua as diferenças regionais, contra- o Centro Internacional do Desen- Faculdade de Medicina do Recife
riando o desenvolvimento humano. volvimento. Jamais pôde voltar ao 1933 Professor Catedrático de Geografia
A escolha da fomecomo temática Brasil, tendo falecido em 1973, de- Humana da Faculdade de Filosofia
central de sua obra tem expressividade primido, antes de receber oficial e e Ciências Sociais do Recife (até
tanto científica como política. Aparece nominalmente a anistia. 1935)
em toda sua obra como principal gan- 1935 Professor Catedrático de
cho da crítica ou denúncia das relações SUPERPOPULAÇÃO E FOME – Em Antropologia da Universidade do
sociais existentes. Josué de Castro, a tese de maior po- Distrito Federal (até 1938)
Sua fase mais crítica estende-se lêmica trata da relação entre fome 1936 Membro da “Comissão de
até a publicação de O Livro Negro da e o fenômeno da “superpopulação”. Inquérito para Estudo da
Pelo princípio de causalidade, ele Alimentação do Povo Brasileiro”
Fome (1957), onde adota uma inter-
realizado pelo Departamento
pretação do fenômeno atrelada aos entendia que “superpopulação” não
Nacional de Saúde
conceitos de subdesenvolvimento. É é a causa da fome, e sim o inver-
1940 Professor Catedrático de Geografia
nesse período que aflora mais clara- so. É imprescindível destacar esse Humana da Faculdade Nacional
Professora titular da UFRJ, doutora ambiente e colocou-se como um com- mente a influência da atividade políti- debate que ele trava com o pensa- de Filosofia da Universidade do
em Sociologia Aplicada e filha de Josué batente ecológico, em tempos em que ca que Josué de Castro desempenhou mento malthusiano (Thomas Robert Brasil (até 1964)
de Castro, Anna Maria de Castro, até a expressão ainda era novidade”. de 1952 a 1955 na FAO e de 1956 até Malthus(1766–1766) economista 1942 Presidente da Sociedade Brasileira
diz que seu pai“ percebeu, prematura- Ela também destaca que o cientis- 1962 como deputado federal pelo Es- britânico que apontava o excesso po- de Alimentação (até 1944)
mente, as agressões que sofria o meio ta foi capaz de prever a ampliação da tado de Pernambuco. pulacional como causa de dos males 1946 Idealizador e diretor do Instituto de
da sociedade – “população cresce em Nutrição da Universidade do Brasil
AS CONTINUIDADES E DESCONTINUIDADES DA OBRA DE JOSUÉ DE CASTRO progressão geométrica e alimentos em 1947 Delegado do Brasil na
FASES TEMAS PUBLICAÇÕES RELAÇÃO COM A GEOGRAFIA progressão aritmética”), principal- “Conferência de Alimentação e
O Problema Fisiológico da Alimentação no mente após 1948. Agricultura da Nações Unidas”,
Estudo da alimentação da população brasileira através da medicina, Brasil(1932), Condições de Vida das Classes Superação da leitura médica no estudo da convocada pela FAO; Membro do “
Josué de Castro não via o cres-
sociologia e antropologia: os problemas da alimentação. Operárias do Recife (1932), Alimentação e alimentação Comitê Consultivo Permanente de
Raça (1935)
cimento da população como uma Nutrição” da FAO
Fase Explicativa

Considerado pelo escritor fran- variável independente, mas sujeito 1952 Presidente do Conselho da FAO
Do exercício do “método geográfico” (Escola
Francesa de Geografia - Possibilismo) à cês André Malraux como uma das a fatores políticos e econômicos e (até 1956)
• Consolidação do “método geográfico” na obra do autor. à dinâmica da conjuntura social. A
A Alimentação Brasileira à Luz da Geografia sintetização dos princípios da geografia; quatro celebridades mundiais que 1956 Deputado Federal pelo Estado de
• Divisão regional do Brasil conforme os hábitos alimentares.
Humana (1937), Geografia Humana (1939) - princípio da casualidade - Humboldt; demarcaram as idéias e os movi- visão de Malthus ignora ou rebaixa
• Combate ao determinismo geográfico que apontava o clima como Pernambuco reeleito em 1960
finalidades didáticas princípio da extensão - Ratzel;
responsável pela má alimentação da população
princípio da coordenação - Ritter e La Blache; mentos sociais do século XX, Josué os benefícios da industrialização ou (até 1962)
princípio da conexidade - La Blache de Castro era figura freqüente em do progresso tecnológico, que pro- 1957 Funda a Associação Mundial de
“Documentário do Nordeste” (1937) - seleção de contos homenagens pelo mundo. Delas, varam que o crescimento da produ- Luta Contra a Fome (Ascofam)
• Dos problemas da alimentação ao fenômeno da fome coletiva (endêmica Regionalização da fome no Brasil: do mapa destaca-se o recebimento do Prêmio ção de alimentos pode acompanhar 1962 Embaixador do Brasil na ONU, em
Geografia da Fome (1946) o crescimento da população.
ou epidêmica, total ou parcial – oculta). das áreas alimentares ao mapa da fome. Internacional da Paz, além de duas Genebra (até 1964)
• Superação do “tabu” que cerca o tema da fome. indicações ao Prêmio Nobel da Paz, A contribuição de Josué, por- 1964 Após o golpe militar de 31 de
• Fundamentação do fenômeno da fome enquanto fenômeno social e não tanto, está em convencer o mundo
e uma indicação ao Prêmio Nobel março, através do Ato Institucional
Fase Crítica

natural.
• Fundamentos econômicos do fenômeno da fome; monoculturas; Regionalização da fome no mundo. de Medicina. sobre a desnaturalização das cau- nº 1, tem cassados seus direitos
latifúndios; esturturar de ocupação. Geopolítica da Fome (1951) Da geografia às teses malthusianas e a Injustiça maior que o fato sas da fome, polemizando com os políticos
• Denúncia do papel exercido pelas grandes potências mundiais no concepção de desenvolvimento de não ter sido premiado neo-malthusianos ao tratar 1965 Fundador e presidente do
crescimento da fome no mundo. Centro Internacional para o
• Indicação para a necessidade de uma economia humanizada. nessas ocasiões, ape- o fenômeno como o pro-
Desenvolvimento (até 1973)
• Início do embate com as teses malthusianas nas a da cassação de duto das relações sócio
1968 Professor estrangeiro associado ao
O Livro Negro da Fome (1957) seus direitos polí- econômicas, e não da
• Identificação do fenômeno da fome com o Centro Experimental de Vincennes,
Desenvolvimentista

subdesenvolvimento econômico.
Ensaios de Geografia Humana(1957) ticos pelo regime acelerada explosão Universidade de Paris (até 1973)
Ensaios de Biologia Social (1957) militar, em 1964. demográfica.
• Propostas para a construção de uma “economia humanizada”. Interlocução com uma Geografia do 1973 Falece em Paris no dia 24 de
A Explosão Demográfica e a Fome no Mundo
Fase

• Fortalecimento do embate com as teses malthusianas. Subdesenvolvimento. Motivo que o setembro


(1968)
• Mudança conceitual: do “desenvolvimento econômico” ao obrigou a exilar-
A Estratégia do Desenvolvimento (1971) se em Paris, onde * Pesquisa desenvolvida através do programa de bolsas de
“desenvolvimento humano”. iniciação científica CNPQ-PIBIC no Departamento de Geografia
passou a lecionar Obras. Josué de Castro da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP), sob
Sete Palmos de Terra e um Caixão (1965) e Homens e Caranguejos (1967) - romances
* Pesquisa desenvolvida através do programa de bolsas de iniciação científica CNPQ-PIBIC no Departamento de Geografia da na Sorbone. Lá, deixou várias obras em 65 orientação da Professora Doutora Amélia Luisa Damiani.

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP), sob orientação da Professora Doutora Amélia Luisa Damiani.
fundou e coordenou anos de existência Fonte: IHU ON-LINE, Revista do Instituto Humanistas Unisinos./
Fonte: IHU ON-LINE, Revista do Instituto Humanistas Unisinos./ José Raimundo Sousa Ribeiro Junior José Raimundo Sousa Ribeiro Junior

16 Junho/2009 Junho/2009 17
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Centro Josué de Castro SEMI-ÁRIDO E BOLSA FAMÍLIA

Memória preservada no Recife inspira Resultados comprovam progresso


pesquisa, políticas públicas e cidadania
www.mds.gov.br
no país. Um estudo recente do Ins-
tituto de Pesquisa Econômica Apli-
cada (Ipea) também aponta nessa
Na falta de um novo Josué, sobrou para direção, ao constatar que a taxa de
o Centro de Estudos e Pesquisas Josué de pobreza no Brasil caiu de 42,7% para
Castro, em Recife, dar continuidade a proje- 30,7%, entre 2004 e março de 2009.
tos inspirados na obra do cientista. Fundado De acordo com a Fundação Ge-
em 1979 por pesquisadores pernambucanos túlio Vargas (FGV), nos últimos cin-
– alguns exilados pela ditadura, o centro é co anos, a taxa de pobreza no Brasil
uma entidade de direito privado sem fins lu- caiu bem mais que nos 10 anteriores.
crativos, que contribui para a construção e Ao todo, 35% contra 24%. A pesquisa
fortalecimento da democracia e da cidadania destaca ainda que o Bolsa Família foi
através da pesquisa e da intervenção social. responsável por 21% da queda da de-
Nos últimos 30 anos, o CJC influiu na sigualdade no país. Quanto ao índice
elaboração de políticas públicas e na mobili- de desnutrição crônica de crianças
zação da sociedade para a conquista de direi- que vivem no Semi-árido, a Universi-
tos. Destaque para o apoio aos movimentos dade de São Paulo (USP) afirma que
populares voltados a questões como planeja- em 1996 esse número era de 17,6%.
mento participativo e gestão do meio ambien- Hoje, ele gira em torno de 6,6%.
te, entre outros. Em pesquisa da Universidade Fe-
As linhas de pesquisa e atuação do centro são segurança alimentar e nutricio- deral Fluminense, 94% das crianças e
nal, descentralização de políticas públicas, geração de trabalho e renda, educação 82% dos adultos beneficiários do Bolsa
e inclusão social. Um projeto de destaque é o de apoio à pesca artesanal. Desde a
fundação, o centro mantém um grupo de apoio à melhoria de gestão da tecnologia
A presidente do Centro Josué de
Castro, Teresa Sales, é uma defen-
A taxa de freqüência Família fazem três ou mais refeições
por dia. Segundo 87% das famílias, o
de pesca no litoral de Pernambuco e Nordeste brasileiro. Inicialmente voltado para sora do projeto Fome Zero. Para ela,
há também um trabalho panfletário
escolar no país entre gasto com a alimentação é o principal
destino do recurso. Em segundo lugar
a capacitação e inovação tecnológica da pesca artesanal, abrange o conceito de se-
gurança alimentar dentro da concepção de Josué de Castro. negativo sobre o assunto atrelado à o público de 7 a 14 vem o material escolar (46%), vestuá-
rio (37%) e remédios (22%).
O centro ainda possui todo o acervo pessoal de Josué de Castro, doado em 1987 pela incontestável permanência da pro-
família do pesquisador. São revistas, diplomas, fotografias, mapas, cartas, anotações, ob- blemática da fome. “A transformação anos atendido pelo Conforme o Ibge, entre os be-
jetos pessoais e recortes de jornais. Ao todo, cerca de 6 mil livros e 600 periódicos. foi imensa. O Bolsa Família de fato neficiários do Bolsa, o índice de pes-
mudou as estatísticas de fome no Bolsa é 3,6% acima soas trabalhando é de 77%. Os não
beneficiários na mesma condição
país”, assegura.
Na educação, os números re- do que se observa são 73%. De acordo com o Instituto
fletem esse progresso. Segundo o
Cento de Desenvolvimento e Plane-
no conjunto dos não Brasileiro de Análises Sociais e Eco-
nômicas (Ibase), 99,5% dos benefi-
jamento Regional (Cedeplar/Ibge),
a taxa de freqüência escolar no país
beneficiários. No NE, ciários do programa não deixaram
de fazer algum tipo de trabalho após
entre o público de 7 a 14 anos aten- ela é de 7,1% passarem a receber o recurso.
dido pelo Bolsa é 3,6% acima do
que se observa no conjunto dos não Bolsa Família
beneficiários. No Nordeste, a taxa % famílias
é ainda maior, 7,1%. Em relação à Municípios
Região Famílias R$ pobres
taxa de abandono da escola, entre Atendidos atendidas
os alunos beneficiários do Bolsa, a CENTRO-OESTE 466 612.775 48.703.611,00 77,66
de evasão chega a 2,1% menor no NORDESTE 1.793 5.840.085 525.875.153,00 95,77
conjunto das crianças em situação NORTE 449 1.171.916 112.483.260,00 91,33
de extrema pobreza.
O Ministério do Desenvolvimen- SUDESTE 1.668 2.952.442 236.725.562,00 82,88
to Social e Combate à Fome (MDS) SUL 1.188 984.352 76.962.270,00 77,96
Acervo. Estante com livros de Josué publicados no estrangeiro, sua mesa de reunião e mesa de trabalho que pertenceu a Josué de Castro. considera a iniciativa um divisor de Total Geral 5.564 11.561.570 1.000.749.856,00 88,97
águas no alívio da pobreza e da fome Fonte:

18 Junho/2009 Junho/2009 19
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Caleidoscópio
Saiba mais sobre o Programa
Empreendedor Individual
>> Contribuição mensal R$ 51,15 (11% do SM) +
R$ 1 (se comércio ou indústria) ou + R$ 5 (se for
prestador de serviços)
redacao@nordestevinteum.com.br
>> Públicos Empreendedores de mais de 170
ocupações, como borracheiro, doceiro, pipoqueiro,

Pimentel e a força-tarefa artesão, caminhoneiro, costureira, jardineiro, lavador de


carros, vassoureiro, verdureiro, vidraceiro e rendeira

José Guimarães quer criar Rocha Magalhães e contra a informalidade >> Direitos Aposentadoria por idade (180
contribuições), aposentadoria por invalidez (12),
Fundo de Defesa Civil o alerta da Icid+18 O ministro da Previdência, José Pimentel, cumpre exten-
so périplo de audiências públicas pelo Brasil para divulgar a
salário-maternidade (10) e auxílio-doença (12).
Família fica protegida por pensão por morte e
O deputado federal José importância do Programa Empreendedor Individual. Desde auxílio-reclusão
Guimarães (PT-CE) apresen- Os problemas das regiões ári- o dia 1º de julho, quando o sistema entrou em operação no
tou projeto de lei que cria o das e semiáridas do planeta Distrito Federal, a contagem é regressiva e a meta, audacio- >> Como se inscrever Com acesso único ao Portal
Fundo Especial para Ações se agudizam e muitos ainda sa: tirar da informalidade, em 12 meses, mais de 1 milhão de do Empreendedor (www.portaldoempreendedor.
Emergenciais de Defesa não tem soluções claras. brasileiros. Piauí e Maranhão serão os primeiros estados do gov.br), o trabalhador já sai com o seu CNPJ, sua
Civil (Fundec). O objetivo Isso se aplica ao interior Nordeste na agenda do ministro, para quem o Empreende- inscrição na Junta Comercial, no INSS e um alvará
é oferecer o pronto atendi- do Nordeste do Brasil, não dor Individual “será o grande debate do Brasil nos próximos de funcionamento, que precisará ser validado pela
mento aos municípios que anos”. À medida que os estados forem entrando na rede, cada prefeitura, de acordo com as regras do município.
obstante 150 anos de po-
decretarem estado de emer- líticas contra as secas e de vez mais trabalhadores poderão se formalizar. Segundo o mi-
gência ou calamidade públi- nistro, o país só atingirá a meta inicial se todos os entes do Fonte: www.portaldoempreendedor.gov.br
experiências de promoção
ca. A proposta visa também pacto federativo e as entidades de classe envolvidas trabalha-
do desenvolvimento regio- rem unidos. Prefeitos dos 5.561 municípios e governadores
acabar com a burocracia nas

20 anos do FNE em debate no BNB


esferas federal, estadual e muni- nal. É ainda mais válido para receberam correspondências do Ministério para que se en-
cipal no socorro a municípios atingi- longas extensões da África sub- gajem no mutirão de formalização. As agências da Previdên-
dos por enchentes ou estiagens, entre outras ocorrências. sahariana, bem como do sul e do sudeste asiáticos. cia já distribuem cartilhas de bolso com informações, e para
“Não podem os municípios ficarem neste corredor infernal Estes alertas são do diretor da Icid + 18 (Conferên- este segundo semestre será veiculada campanha publicitá-
da burocracia estatal, que leva, muitas vezes, até dois anos cia Internacional sobre Impactos de Variações Cli- ria dirigida aos empreendedores, com explicações sobre os
para liberar os recursos”, afirma Guimarães. O Fundec máticas e Desenvolvimento Sustentável), Antônio benefícios da formalização. No Brasil, 11 milhões de pessoas
seria alimentado por recursos da União, que deverão ser Rocha Magalhães, em artigo publicado pelo jornal trabalham na informalidade.
aportados durante a construção da Proposta Orçamentária. O Povo (16/6/2009). O evento, lançado em 17 de
O fundo poderá receber ainda doações nacionais e interna- junho último, terá Fortaleza como sede em agosto
cionais. De acordo com o parlamentar, o fundo dispensaria
ainda a edição de medidas provisórias (MPs), que em geral
de 2010 e deverá reunir 2 mil pessoas de 50 países,
18 anos depois da primeira edição. Magalhães lem-
Raquel Rolnik critica
bem recebidas no Congresso Nacional.
bra que essas regiões concentram a maior parte
da pobreza e da degradação ambiental no mundo,
Minha Casa, Minha Vida
Cariri sede do maior evento com todas as suas consequências – inclusive a pres-
são migratória para o mundo desenvolvido. “Se a
Ela é uma das maiores autoridades mundiais em mora-
dia. Tanto que se tornou relatora especial para o Direito à

sobre cangaço do país primeira gerou bons Moradia da Organização das Nações Unidas (ONU). Sem
resultados, precisa- meias palavras, Raquel Rolnik, arquiteta e O Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e a Associação Nacional de
mos ir mais adiante urbanista da Universidade de São Paulo Pós-graduação em Economia (Anpec), abriram, desde o último dia 1º
O Cariri cearense, a partir das cidades de Crato, Juazeiro do Norte e (USP), condena a política habitacional do
agora. É preciso de julho, as inscrições para o Fórum BNB de Desenvolvimento 2009 /
Barbalha irá receber no mês de setembro de 2009 o I Seminário Cariri governo Lula. Para ela, o Ministério das
Cangaço. Pesquisadores, historiadores, escritores, documentaristas e cineas- chamar a atenção Cidades, onde trabalhou de 2003 a 2007,
XIV Encontro Regional de Economia) a ser realizado entre os dias 16 e
tas estarão no triângulo do Crajubar, discutindo um dos fenômenos mais con- do mundo; gerar age de forma esquizofrênica e só pensa 17 deste mês, no Centro Administrativo do BNB (Av. Pedro Ramalho,
troversos da história do Nordeste brasileiro e suas implicações e ligações com mais conhecimentos em resultados rápidos e quantitativos. A 5700 – Passaré), em Fortaleza. O evento dará ênfase aos 20 anos do
a história de nossa gente. O evento é sem dúvida uma das primeiras iniciativas e colocá-los à dispo- qualidade, como no plano Minha Casa Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). Segundo o
rumo à consolidação do conceito de uma Região Metro- sição dos tomadores Minha Vida, foi totalmente descartada. superintendente do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nor-
politana. Equipes de trabalho foram formadas de decisão; unir “Corre-se o risco de se criar guetos deste (Etene/BNB), José Sydrião de Alencar, o objetivo é mobilizar
os pesquisadores, de pobres, com violência e sem
pelas três prefeituras e em conjunto com a acesso ao trabalho e à educação”. a comunidade acadêmica e política em torno de questões relevantes
Universidade Regional do Cariri (Urca), estudiosos e outros
A alternativa que ela defende é a para o desenvolvimento regional. Na programação, acontecem os
Instituto Cultural do Cariri (ICC) interessados, através de redes de comunicação e
de intercâmbio; influenciar as instituições interna- criação de um modelo de gestão painéis “Bolsa Família e Crediamigo: inserção produtiva”, “Cenários
e grupo técnico da Sociedade democrática para além dos requi- para o Nordeste no novo contexto nacional e internacional” e “Desen-
Brasileira de Estudos do Canga- cionais, os governos e a sociedade local para que
sitos formais. O objetivo é incor- volvimento do Nordeste como Projeto Nacional”. O Etene participa
ço (SBEC) trabalham firme na tomem as medidas certas para o desenvolvimento porar a totalidade dos habitantes
sustentável dessas regiões”, afirma. com a sessão especial de “Instrumentos de intervenção no Nordeste” e
realização do maior evento do e moradores em uma condição de
gênero já realizado no país. cidadania. com as mesas sobre avaliação do FNE e estudos regionais.

20 Junho/2009 Junho/2009 21
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
ENTREVISTA

Elza Fiúza/abr
Mangabeira Unger

Bye Bye, Nordeste!


desenvolvimentismo
a marcar passo
Desta vez, o acaso não favoreceu uma mente mais preparada.
Involuntariamente, ao citar o filósofo, físico e matemático francês Henri
Poincaré, nessa entrevista exclusiva concedida à NE VinteUm, no início de
junho, Mangabeira Unger parecia prever seu futuro à frente da Secretaria
Nacional de Assuntos Estratégicos. Na época, ainda ministro aguardava
incidentes políticos capazes de lhe abrir mais portas em seu quixotesco périplo
pela construção de um novo projeto desenvolvimentista no Nordeste.
Talvez tenha esbarrado em históricas circunstâncias sempre suscetíveis e
prontas a afastar qualquer um da materialização do intento já ensaiado, de
maneira científica, há mais de meio século, por Celso Furtado. Com ele fora do
governo, mais dúvidas do que certezas continuam a rondar o futuro de uma
região que já não pode mais esperar, a cada surto de debates e projetos, por
infindáveis desconfianças políticas e ponderações legítimas ou não, sob o risco
de continuarmos atolados no imobilismo das idéias.
Por Marcel Bezerra, com entrevista a Francisco Bezerra
redacao@nordestevinteum.com.br

D Depois de dois anos à frente da Secretaria de Assuntos


Estratégicos da Presidência da República, Roberto Manga-
beira Unger deixou o cargo no final do mês de junho. Ofi-
cialmente, o motivo até pareceu plausível. A Universidade
de Harvard, nos Estados Unidos, teria negado a prorroga-
ção de sua licença de professor titular da escola de Direito
da instituição, onde leciona há 37 anos. Segundo fonte do
pelo anúncio de um pacote de medidas econômicas e pela
confirmação de que o ministro deixaria a pasta.
Quando de sua última passagem pelo Ceará, em junho
deste ano, Mangabeira se dizia “aflito” em relação à neces-
sidade de deslanchar o projeto ainda este ano. Afinal, uma
iniciativa do gênero é alvo fácil de literal atropelamento
pelo embate sucessório à Presidência. Para ele, caso o Pro-
próprio ministério, a equipe já trabalhava há alguns meses jeto Nordeste se afirmasse a partir de 2009, ajudaria inclusi-
com essa possibilidade. Outras versões davam conta da de- ve a pautar o debate eleitoral em 2010. Nesse caso, arrema-
terminância de componentes políticos para o fato. tava, “as campanhas lhe servirão como instrumento em vez
Ilações à parte, a notícia da saída de Mangabeira seria de o ameaçarem como interrupção”.
Falta um projeto para o Nordeste logo esquecida pelo noticiário político, não fosse a premên-
cia das grandes questões do Nordeste e do país por uma
Do presidente e dos chefes de executivos estaduais,
o cientista dizia esperar uma “decisão política”. Ao final de
capaz de instrumentalizar esse luz no futuro globalizado. O adeus do ministro acabou por uma das entrevistas, deixou uma frase que talvez sirva
assomar desconfianças, e acima de tudo incertezas. Havia como pista na busca por explicações para sua saída: “A mi-
dinamismo, essa vitalidade alguns meses, Unger dedicara grande parte do seu tempo nha tarefa não é a de alocar recursos”. Noutro momento, fi-
a construir as bases do documento intitulado O Desenvol- losofava sobre sua ambiciosa visão: “Como em tudo neces-
desmesurada, esse capital social, vimento do Nordeste como Projeto Nacional, cuja discussão sário ao casamento entre audácia e imaginação, precisa ter
que é a identidade cultural forte prevista com o presidente e governadores foi substituída calor, que é a vontade política, e luz, que é a clareza sobre

22 Junho/2009
Nordeste VinteUm
o caminho. Luz e calor” 50 anos. De resto, apenas iniciativas pontuais que não fo- Nordeste VinteUm – De imediato, nas últi- cunstâncias tão favoráveis como essa.
A partir de janeiro último, Mangabeira iniciou viagens ram adiante. mas incursões pela região, o que o senhor enxer- Mas, o tempo fica muito curto, muito
pelo Nordeste para explicar e divulgar o projeto, formatado Em 740 dias de governo, Mangabeira variou com su- gou e sentiu no Nordeste de hoje? escasso. Nós só temos agora 2009 para
em visitas anteriores à região. A agenda incluiu municípios, gestões entre ambiente, educação, trabalho e defesa na- Mangabeira Unger – Eu andei no inte- consolidar uma dinâmica de ações con-
projetos e iniciativas, encontros com parlamentares, gover- cional. É do ministro a iniciativa que regularizou cerca de rior do interior de todos os nove esta- cretas que encarnem, e prefigurem o
nadores e entidades classistas. Delegada a missão de pen- 400 mil propriedades rurais na Amazônia, também conhe- dos. E o que eu vi, antes de mais nada, caminho que queremos trilhar. E que
sar ações de longo prazo, tentou enfrentar o ceticismo que cida como MP da Grilagem. Hoje, a secretaria trabalha na é uma versão concentrada do enigma transformem esse projeto num projeto
permeou as expectativas sobre a efetividade do que a pas- elaboração de propostas para mudar as relações entre em- brasileiro. Um enorme dinamismo, do Estado brasileiro, e não apenas num
ta sob seu comando poderia significar. Afinal, o Nordeste presas e trabalhadores, com a criação de uma legislação um turbilhão, uma criatividade, que se plano do governo Lula. O que eu quero
padece há pelo menos meio século de projetos capazes de para proteger terceirizados e autônomos. A vitrina de Man- manifesta por meio das duas grandes é que ele seja capaz de sobreviver ao
subverter sua condição de subdesenvolvimento. De rumo gabeira, contudo, foi o Plano Nacional da Amazônia Susten- forças construtivas no Nordeste hoje. governo Lula, de se impor ao futuro
sério e aprumado, apenas um foi traçado em Uma política tável, com 16 compromissos assumidos pelo governo em A primeira é um empreendedorismo governo e ajudar a pautar o debate na
de desenvolvimento para o Nordeste, por Celso Furtado, há maio do ano passado para desenvolver a região. emergente, sobretudo no Semi-árido. E sucessão presidencial. Eu tenho dito
a segunda é uma inventividade tecno- que o Nordeste não se deve dar de ba-
lógica popular, difusa, porém desequi- rato às forças em embate na sucessão

A orfandade da política de Estado e as pada. Ambas manifestações da mesma


coisa, que é essa vitalidade desme-
O que eu quero é
presidencial. O Nordeste é o maior
órfão do modelo de desenvolvimen-

pretensões de um amparo intelectual


surada, o atributo mais salien- to construído no país no último
te do Brasil. E no Nordeste, que ele [Projeto Nordeste] meio século, e não convém ao
como em todo o Brasil, esta Brasil que se contente com
Antonio Cruz/abr vitalidade está enclausura- seja capaz de sobreviver concessões pontuais. Uma
“O Nordeste é o maior órfão telectuais dominantes e pela da numa camisa de força ao governo Lula, de se impor estrada ali, um hospital
do modelo de desenvolvimen- imaginação de alternativas ins- de instituições, de práticas, acolá, uma transposição de
titucionais para as sociedades
ao futuro governo e ajudar a
to concebido há meio século”, de idéias que a suprimem, água. O Nordeste tem que se
Com essa frase, Mangabeira pode contemporâneas”. Esse lastro em vez de instrumentalizá-la. pautar o debate na sucessão rebelar.
até ter “chovido no molhado”, mas de erudição, ele trouxe para a Esse é meu sentimento maior presidencial
começou a desanuviar a percep- concepção do Projeto Nordeste sobre o Nordeste. Como exemplo NVU – O senhor considera o Bolsa Família isso?
ção de premissas que levam a uma que, não se pode negar, tem o desse paradoxo brasileiro. Mas, no Se- MU – Não. Há muitas ações positi-
lógica consensual: “não há solução seu DNA e vinha até angariando mi-árido, eu vejo outra coisa que não é vas, inclusive os programas de trans-
para o Brasil sem solução para o apoios, incluindo um pretenso tão comum no Brasil. Um grande acú- preendente, apesar das fraturas que, de ferência como o Bolsa Família. E eu
Nordeste.” Para ele, fundamental- estímulo presidencial. mulo de vínculos associativos, daquilo fato, existem entre o litoral e o interior, proponho um desdobramento desses
mente, falta hoje, ‘projeto’ para a re- O cientista exaltava em suas que os cientistas sociais chamam o ca- entre estados maiores e menores. E há programas, um próximo passo. Mas,
gião, e sua iniciativa acabava tendo palestras a ambiência políti- pital social. Que por sua vez se baseia grandes obras de infra estrutura em eles não se juntaram, não convergi-
o mérito de construir e sistematizar ca extremamente favorável ao num sentimento de si, numa identida- curso que vão unificando o Nordeste ram, não se cristalizaram num projeto
uma proposta sóbria, sem a pre- Nordeste de hoje, com a popu- de cultural muito forte. E eu entendo pela primeira vez. Apesar de tudo isso, abrangente. E este não pode ser um
tensão de soluções milagrosas ou laridade presidencial e as gran- que essa identidade foi formada histo- porém, o Nordeste não tem tido um projeto visto como compensação para
obtusas reduções. des obras estruturantes. Numa ricamente numa sociedade de homens projeto abrangente e orientador do seu uma região pobre. O Nordeste não
A chamada “grande mídia” na- região historicamente marca- e mulheres pobres, porém livres, que desenvolvimento há meio século. deve aparecer para o imaginário do
cional trata com certo desdém a da pela fratura litoral/interior e se manteve relativamente incólume Brasil como uma região pedindo favo-
figura de Mangabeira, a começar a falta de unidade política en- dentro da ordem escravocrata em voga. NVU – O senhor atribui isso à elite política? res e compensações. Ele deve apare-
pelo seu sotaque de gringo, passan- tre os Estados - vide guerra fis- Isto é uma imensa força que o Nordes- MU – Eu atribuo isso a um malogro que cer aos olhos do país como uma van-
do pelas críticas de primeira hora cal e a falta de consenso entre te tem, mas que só conseguirá poten- não é só do Nordeste, mas do Brasil. guarda potencial na reconstrução do
desferidas ao governo Lula em plena crise política. Por outro governadores sobre a constituição do fundo de desenvol- cializar se construir um projeto capaz Nada substitui as idéias. Não basta ter nosso modelo de desenvolvimento.
lado, não se pode desmerecer sua credibilidade acadêmica, vimento da região a ser administrado pela Sudene, recria- de instrumentalizar esse dinamismo. condições favoráveis, se não são mobi-
principalmente em âmbito internacional. Formado na Facul- da em 2003 – tentava driblar certas desconfianças quanto lizadas por um projeto claro e contun- NVU – Em que aspecto o Nordeste pode ser
dade Nacional de Direito, obteve o doutorado na Universida- a qualquer projeto que diga respeito ao “desenvolvimento NVU – No documento, está dito que talvez o úni- dente. E sinto que isto tem faltado. E vanguarda?
de de Harvard. Lá, começou a lecionar aos 24 anos. Em pouco do Nordeste”. co grande projeto para o Nordeste tenha partido que esse é momento para fazer isso. MU – O que o Brasil busca hoje é um
tempo, tornou-se um dos professores titulares mais jovens na Ao reconhecer o forte capital social, o empreendedo- da lavra ou do conhecimento de Celso Furtado. Há uma concatenação de circunstân- novo modelo de desenvolvimento ba-
história de Harvard. Foi eleito membro vitalício da Academia rismo emergente e uma inventividade tecnológica popular, Ele foi a realmente a última grande proposta? cias singularmente favorável. Porque seado em ampliação de oportunidades
de Artes e Ciências dos Estados Unidos. Sua obra de pensa- aliada às grandes obras estruturantes em curso e a uma ambi- MU – O Nordeste fervilha de iniciativa a todas essas mudanças a que eu me econômicas e educativas. Historica-
mento político, econômico, jurídico e filosófico é publicada e ência política favorável, ele erigiu na instrumentalização dessa empreendedora e cultural. Tem pen- referi, há um presidente vindo do Nor- mente, o Brasil cresce a partir dos se-
discutida em todo o mundo, traduzida para várias línguas. vitalidade nordestina o esboço de um projeto abrangente e sadores vivos de primeira ordem. Vive deste, que tem um grande respaldo po- tores favorecidos e internacionalizados
Para Mangabeira, seu trabalho se caracteriza pela “pro- orientador do desenvolvimento regional. Para Mangabeira, é uma renovação de sua cultura política. pular no país. Passará muito tempo até em sua economia. Eles geram um
posta de métodos e de idéias contrárias às concepções in- hora de rebeldia, conforme mostra a entrevista a seguir. Até demonstra uma coesão política sur- que se repita uma combinação de cir- excedente, e parte dele é usado para

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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
financiar ­programas sociais. Essa foi Pernambuco, na área do pólo de con- a Zona da Mata, o Semi-Árido, o Cerra- mente. Sempre quando se tenta mudar jeto econômico forte, constrói-se uma
uma estratégia básica. Agora, o país fecções de Caruaru e Toritama, milha- do do Oeste da Bahia, do Sul do Piauí o mundo, duas tarefas são prioritárias. sociedade de garçons alienados. E há
quer mais do que isso. Quer trans- res de empreendimentos familiares, e do Sul do Maranhão, que é a parte A primeira tarefa é construir um ide- países que eu não vou nomear, que
formar a ampliação de oportunidades em diferentes escalas. Como se ali co- do Brasil que mais cresce nos últimos ário que demarque um caminho. O caíram nesse abismo de dependência
para aprender, trabalhar e produzir no existissem todas as etapas do capitalis- anos, e a pré-Amazônia. Há uma gran- pensamento programático e a política desse dinheiro.
motor do crescimento. Com isso, anco- mo europeu do século XVII ao século de tentação de focar o desenvolvimento transformadora tem a ver com conse-
rar o social na maneira de organizar o XX. Um imenso fervor de dinamismo no litoral e no Cerrado, e abandonar o qüências, não com planilha. São mú- NVU – Nós temos, no caso de Fortaleza, para
econômico. E eu entendo que o lugar empreendedor, carente de quase todos Semi árido, para iniciativas de pequena sica, não são arquitetura. E a segunda citar um caso mais concreto, nos anos 1970 ela
para começar, avançar em muitas fren- os instrumentos. escala. Eu acho que seria uma calami- tarefa é definir com precisão os primei- tinha uma população de 800 mil habitantes.
tes simultaneamente, por inovações dade. Metade da população vive ali. Se ros passos que vão nos colocar naquele Hoje, quase três décadas depois, estamos com
institucionais que encarnem a demo- NVU – O senhor acha que o Nordeste deve fazer a não se soerguer o Semi árido, tudo que caminho. O possível que conta é o pos- 2,5 milhões. A Região Metropolitana chega a 3,5
cratização dessa economia de merca- sua revolução industrial? se fizer na Zona da Mata e no Cerra- sível adjacente, é o que fazer amanhã. milhões. Um inchaço, porque os governos não
do, é o Nordeste. Em todo lugar tenho MU – Mas com o cuidado de fazê-la de do será contaminado por forças con- O único longo prazo que vale é o longo priorizaram o setor primário. O senhor pensa em
repetido um refrão, que o Nordeste é uma forma que seja original, que apon- centradoras da renda, da riqueza e do prazo que começa a curto prazo. refluxo dessa população?
a nossa China, e que pode ser a nossa te o caminho do futuro. Não de uma poder. Terceiro desvio: no Semi-árido, MU – Está ligado ao projeto agrícola no
China no bom ou no mau sentido. No forma que caia sob o fascínio hipnótico focar só as ações que eu chamo de “po- NVU – O senhor fala num novo projeto de indus- Nordeste. Tanto a agricultura irrigada
mau sentido, se for apenas um manan- do modelo industrial do Sudeste do sé- bristas”. Ações de pequena escala, es- trialização, sem cair no “fordismo”, remetendo- como a agricultura de sequeiro. Eu
cial de trabalho barato. E num bom culo passado. Isso é o que eu chamo de cala artesanal, em vez de organizar as se ainda à questão da educação. Uma educação entendo o soerguimento da agricultu-
sentido, se virar uma grande fábrica sãopaulismo. Os grandes projetos in- pequenas e médias empresas, que são que prepare e qualifique as pessoas. Agora, o ra de sequeiro e a definição do modelo
de engenho e de inovação. Para isso, dustriais, nas indústrias de base como a parte potencialmente mais rica, mais que o senhor pensa sobre o turismo? institucional da agricultura irrigada no
o Nordeste não se deve contentar ape- as siderurgias e as refinarias são úteis vanguardista, e levantá-las. Quarto des- MU – Primeiro, isso (o projeto Nordest Nordeste como uma ponta de lança do
nas com incentivos, subsídios pontu- e até indispensáveis, mas elas só sur- vio: entrar na cantilena de que o Nor- ) não trata de todos os problemas, de projeto estratégico da agricultura brasi-
ais, ainda que eles sejam necessários, tirão o seu efeito transformador se, em deste não tem potencial agrícola. Não todas as possibilidades do Nordeste.
e não deve procurar ser uma versão primeiro lugar, atenderem a dois requi- é verdade. Há um imenso potencial de Isso aqui é uma escolha draconiana
encolhida e tardia da São Paulo de me- sitos. O primeiro é que não se cinjam a agricultura irrigada e de agricultura de do caminho para avançar. Não é uma
O projeto Nordeste
ados do século passado. uma lógica de enclave, mas que sejam sequeiro. Agricultura de sequeiro como enciclopédia de políticas públicas. So- não trata de todos os
concebidos e incrementados de ma- agricultura tecnificada, não como agri- bre o turismo, eu penso, em essência: problemas, de todas
NVU – O que o senhor chama de sãopaulismo... neira a transformar a vida econômica cultura de subsistência. Lembramos é uma vocação evidente do Nordeste.
MU – Isso. O Nordeste não é para ser e social em volta. E o segundo requi- que no Mato Grosso, hoje, talvez o nos- Ao contrário de muitas coisas discu- as possibilidades
isto. É para ser algo diferente, que sito é que sejam escolhidos pelo crité- so maior celeiro, toda a lavoura ocorre tidas nesse texto. O turismo em geral do Nordeste. Isso
ajude a apontar caminho para o país. rio de uma vantagem comparativa que em 7,8% do seu território. Quinto des- no mundo, como tenho dito nas dis-
Para desbravar o caminho rumo a esse não seja apenas a disponibilidade de vio: cair sob o fascínio dos megaproje- cussões no Nordeste, é uma maravilha aqui é uma escolha
novo modelo de desenvolvimento que trabalho barato. Se a única vantagem tos industriais, entendidos sob a ótica como complemento a um projeto eco- draconiana do caminho
o Brasil todo está buscando. E a ma- comparativa que justifique for que tra- da lógica de enclave, não sob a ótica da nômico e social forte, mas pode ser um
neira de iniciar isto é dar braços, asas e balho no Nordeste é mais barato que transformação da vida circundante por desastre como alternativa. O turismo
para avançar. Não é
olhos àquelas duas forças construtivas o trabalho em São Paulo, arriscamos um conjunto de vínculos. atrai porque pode gerar muito dinheiro uma enciclopédia de
que eu descubro no Nordeste hoje. O construir no Nordeste um paradigma em pouco tempo de uma forma fácil, políticas públicas
empreendedorismo emergente e a in- de produção viciado em trabalho bara- NVU – O calendário eleitoral pode frustrar o mas se é usado para substituir um pro-
ventividade tecnológica popular. to e desqualificado. novo projeto?
MU – Esse é o maior problema. Foi isso
NVU – O que diferencia essa inventividade do NVU – Isso pode ser o grande inimigo do Nor- que eu disse lá em Natal, que eu es-
restante do país? deste? tou ao mesmo tempo entusiasmado e
MU – Não é que ela não exista no resto MU – Vamos enumerar um rol de males, aflito. Entusiasmado porque eu identi-
do Brasil. Mas, aparece numa forma de equívocos, de desvios. Primeiro des- fico nesse projeto um grande potencial
muito concentrada no Nordeste, in- vio: os incentivos e subsídios, instru- de reimaginação, de reorganização do
clusive por conta dessa identidade cul- mentos indispensáveis, porém meios, e país. É um projeto de construção na-
tural muito forte e desse acúmulo de não fins, viram fins. Eles não são fins, cional. Não é um projeto de compen-
capital social. E aparece também de eles são apenas meios de um projeto sações para o Nordeste. Mas eu estou
uma forma muito dramática, porque estratégico. Na falta do fim, degeneram ao mesmo tempo aflito, porque a janela
a originalidade e a natureza surpreen- num pontilhismo político, cada Estado de oportunidades temporal ficou mui-
dente dessa ação ressaltam em meio à e cada setor busca o seu. Segundo des- to estreita, e nós temos que correr. E
pobreza. Eu digo, por exemplo, aludin- vio: focar o desenvolvimento do Nor- veja como a concepção básica que eu
do a uma das minhas viagens, quando deste na Zona da Mata e no Cerrado. tenho não é a de uma planilha tecno-
fiquei sacudido de ver no interior de O Nordeste tem quatro macrorregiões: crática que se vá executar sistematica-

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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
leira. É um projeto desse nível por três MU – Os movimentos sociais existem, Eu estou pregando rebeldia. É isso noritário, que é o discurso dos grandes isso sem inovar nas instituições. Por
alvos entrelaçados. Primeiro é começar porque nós, historicamente, não cum- que tenho dito. empresários, é o discurso da quebra isso, seria um contra-senso o Nordeste
a superar o contraste meramente ide- primos essa tarefa no Brasil. Nós não das amarras. Menos imposto e menos se contentar com meras transferên-
ológico entre agricultura empresarial e criamos uma em geral, apesar de exce- NVU – O senhor é um insurreto? regulação para poder produzir. A maio- cias apaziguadoras, em vez de insistir
agricultura familiar. Ao assegurar atri- ções como as cooperativas do Paraná MU – Não só sou, mas quero que os ria do povo brasileiro descarta esse se- numa reconstrução institucional auda-
butos empresariais para a agricultura que eu visitei recentemente. Em geral, outros sejam também. Quero compa- gundo discurso como um pretexto para ciosa. Ao mesmo tempo, também não
familiar. O segundo alvo é aprofundar a nós não criamos uma agricultura que nhia (risos). servir aos interesses do grande capital. se deve satisfazer só com obras físicas.
industrialização rural, um conjunto de seja democratizada e vanguardista ao Há um imenso espaço vazio na vida Nós temos uma tendência no Brasil
formas de agregação de valor no cam- mesmo tempo. E é isso que em geral NVU – É uma lógica perversa, mas que do pon- pública brasileira para um terceiro dis- ao fascínio pelo fisicalismo. As coisas
po para evitar o contraste entre cidade nós queremos, um produtivismo de- to de vista político, o senhor não acha que o seu curso, que é o Estado usar seus pode- são mais fáceis de entender do que as
cheia e campo vazio. E o terceiro alvo mocratizante, uma democratização da projeto está no éter, não? res e recursos para instrumentalizar a estruturas. Há grandes obras em curso
é construir em todo o país, não apenas economia de mercado. Esse é um dos MU – Não. Isso não é uma proposta tec- energia empreendedora e criativa que no Nordeste. Essas obras estão uni-
no Sul, uma classe média rural forte, temas subjacentes, uma das premissas nocrática. Esse é um movimento, ao surge de baixo. ficando a região pela primeira vez na
como vanguarda de uma massa de dessa proposta. Não está explicitada mesmo tempo doutrinário e político, e história do Brasil, fisicamente. Mas a
agricultores mais pobres que avançará ali, mas é fundamental. A premissa é: eu disse muito claramente na Paraíba, NVU – Isso seria a terceira via que num passado unificação física é apenas o palco, não
atrás dela. não basta regular a economia de mer- que o governo sabe que a bandeira diz recente o senhor trabalhou com o Ciro Gomes? é mais do que o palco. É o palco para
cado, não basta contrabalançar as de- “nego”. E eu disse o que eu sinto em MU – Não vamos chamar isso de ter- uma agenda institucional revolucioná-
NVU – E qual seria o papel, por exemplo, de um sigualdades geradas no mercado, recor- relação a todo o Nordeste: nunca foi ceira via, não. Porque não há terceira ria. E agora o nosso foco precisa passar O Nordeste é a nossa
Movimento dos Sem Terra (MST), para participar rendo a políticas sociais. É necessário mais importante para o Brasil do que é via, isso é uma segunda via. Em geral, das obras para a agenda das mudanças China. E pode ser a
ou contribuir com a construção de um projeto reorganizar o mercado para torná-lo hoje, que a Paraíba diga “nego”. Nego, o que se chama no mundo de terceira institucionais.
agrícola que seja includente? mais includente por meio dessas alter- nego, nego. E é isso que eu proponho via é a primeira via com açúcar, que é nossa China no bom
nativas industriais, agrícolas e educa- ao Nordeste, que diga “nego”. E que o açúcar da humanização, e isso não é NVU – Como o senhor vê a questão da religiosi- ou no mau sentido.
tivas. No vocabulário contemporâneo não fique joelhos, que não se satisfa- comigo. O leitmotiv da política brasilei- dade nordestina. Há, por exemplo, um fenôme-
Há uma grande nós descreveríamos como baseada na ça com migalhas, que não se dêem de ra é a humanização do inevitável. Que no chamado Padre Cícero, que mobiliza a região. No mau sentido, se for
tentação de focar o coordenação estratégica descentraliza- barato às forças políticas em embate, o Nordeste não caia nessa. O povo bra- Isso é uma coisa positiva do imaginário popular apenas um manancial
desenvolvimento do da entre os governos e os agricultores mas que insista em liderar um proces- sileiro não quer humanizar o inevitável, ou pode servir como um entrave?
e na concorrência cooperativa entre so que não será só para si, mas para o quer reconstruir o existente. O Brasil é MU – É uma característica geral do de trabalho barato.
Nordeste no litoral e no os produtores. Quer dizer, eles podem país, de reconstrução do nosso modelo um país caracterizado pela sua impa- Brasil. E esse, aliás é um dos muitos E num bom sentido,
Cerrado, e abandonar competir entre si e cooperar ao mesmo de desenvolvimento. ciência, pelo seu dinamismo, pela sua pontos de analogia entre o Brasil e os
tempo, ganhando por meio da coopera- vitalidade. Não é para colocar panos Estados Unidos. Duas sociedades mui- se virar uma grande
o Semi-Árido, para NVU – Eu perguntava ao senhor se o projeto quentes e humanizar o inexistente. É to desiguais, multiétnicas e religiosas,
ção, acesso à economia. fábrica de engenho e de
iniciativas de pequena não poderia ficar no éter, porque isso depende para começar uma reconstrução insti- nas quais a maior parte das pessoas
NVU – O senhor está consciente de que está me- de uma decisão política. Como se situar para tucional progressiva que afirme a pri- comuns continua a julgar que tudo inovação
escala. Eu acho que tendo a mão num vespeiro? Quer dizer, há uma fazer com que, independente de quem esteja no mazia dos interesses do trabalho e da é possível. São sociedades cheias de
seria uma calamidade. lógica montada nesse país, historicamente con- governo, não se invertam as prioridades ou se produção sobre os interesses do dinhei- aventureiros, de peregrinos, de pesso-
Metade da população tra o Nordeste... desvirtue o projeto? ro vadio, e que dê instrumentos a esse as que estão em busca de algo e nós
MU – ... contra o Nordeste, contra a MU – O assunto do projeto Nordeste fervor que vem de baixo, um fervor que nos metemos numa camisa de força
nordestina vive no Amazônia, contra o Centro-Oeste. não é um assunto do Nordeste, é um está encarnado hoje numa nova classe inteiramente inapropriada a essa natu- E eu entendo
Semi-árido assunto do Brasil. O que está em jogo média. reza. Nós temos que romper a camisa
é o futuro do Brasil. As soluções para o de força e dar instrumentos a essa in- que o lugar para
Nordeste, para serem soluções para o NVU – E onde entra esse projeto de desconcen- quietude construtiva. E esse deve ser o começar, avançar
Nordeste, terão que ser soluções para tração de renda, já que a concentração é um gra- espírito desse Nordeste.
o Brasil. Uma relação recíproca. No ve problema do Brasil? em muitas frentes
Brasil em geral, sobram partidos, mas MU – É uma democratização das opor- NVU – O que há de Celso Furtado nesse projeto? simultaneamente,
faltam alternativas. A rigor, nós só te- tunidades econômicas e educativas. MU – A situação histórica é muito dife-
mos no Brasil dois discursos políticos Esse é o ponto essencial. As transferên- rente, a proposta é diferente, o método por inovações
consolidados. O discurso dominante é cias fiscais e os programas sociais são é diferente. O Celso Furtado era um institucionais
o do Estado que conduz, que por meio úteis e são secundários. O que impor- apaixonado pelo Nordeste. Ele enten-
dos bancos públicos se alia às grandes ta mesmo na democratização da renda, dia intuitivamente que o Nordeste po- que encarnem a
empresas, aliás com o dinheiro do tra- na redistribuição progressiva de renda deria exercer este papel de desbravar democratização dessa
balhador brasileiro, e que por meio dos é a democratização das oportunidades um caminho para o país. Mas, ao mes-
programas sociais atenua os efeitos da econômicas e educativas. Das oportu- mo tempo, era um homem fascinado economia de mercado,
pobreza e da desigualdade. Esse é o nidades para trabalhar, para produzir pelas idéias daquela época. Inclusive é o Nordeste
discurso hegemônico. O discurso mi- e para aprender. E não se consegue pelo modelo de industrialização que se

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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
O turismo em geral implantara no Sudeste do país, e espe- Se alguém deposita dinheiro num gran- NVU – O presidente Lula enxerga no senhor Eu não acredito que o Nós vamos ter que mudar não só o
cialmente em São Paulo em meados de banco privado no Piauí, é muito pro- uma espécie de novo Antônio Conselheiro, se re- conteúdo, mas também o método.
no mundo é uma do século XX. Então, essa proposta em vável que aquele dinheiro seja investido belando contra as estruturas do Nordeste, mas Estado brasileiro, ainda
maravilha como nenhum sentido é uma repetição das no Sudeste do país. Nós, ao contrário sem o misticismo? dominado pelas forças NVU – O senhor é um social-democrata convicto?
complemento idéias de Celso Furtado. Nós temos dos EUA, nunca tivemos o sistema ban- MU – O presidente estimulou muito MU – Social-democrata não. Não sou
que aprender com as lições e experi- cário verdadeiramente descentralizado. essa ação no Nordeste. E, recentemen-
sediadas nas partes mais social-democrata, nem social liberal,
a um projeto ências dos últimos cinqüenta anos no Lembre-se que os EUA, por mais de te, levei a ele a última versão [do projeto ricas do país, vá dar de porque associo a essas palavras aquilo
econômico e social Brasil e no mundo. E por outro lado, o cem anos, proibiram os bancos nacio- Nordeste]. Nós, inicialmente, pensáva-
presente ao Nordeste que eu condenava, que é o culto do
método que eu proponho é um méto- nais e organizaram um sistema de cré- mos que a reunião com os governadores açúcar. Eu não estou interessado em
forte, mas pode do que, mais ainda do que na ação de dito mais descentralizado na história do sobre o projeto seria em Salvador, mas os instrumentos para açúcar, eu não quero dourar a pílula.
ser um desastre Celso Furtado, aposta no movimento mundo. Isso não se faz de um dia para o teve de ser remarcada por questão de uma grande rebeldia Eu quero reconstruir o existente, mas
endógeno do Nordeste, na força que outro. Mas o que nós poderemos fazer agenda, pois coincidia com a reunião ele pode ser reconstruído de uma ma-
como alternativa. vem de dentro, na força que vem de é introduzir mudanças regulatórias, na com o presidente Chávez. Mas, eu es- inovadora. Não neira experimentalista, um método que
O turismo atrai baixo, um movimento político. Eu regulação dos bancos, que assegurem tou convicto de que o presidente vai, haverá um atalho. O é gradativo e pode ter um desfecho que
porque pode gerar não acredito que o Estado brasileiro, que, pelo menos, parte do dinheiro de- com a intuição dele, entender o signi- resulta numa transformação profunda.
ainda dominado pelas forças sediadas positado lá, seja investido lá. Enquan- ficado desse projeto como um instru-
Nordeste vai ter que se
muito dinheiro em nas partes mais ricas do país, vá dar de to isso, esses bancos, a começar pelo mento para a construção do futuro na- organizar, vai ter que NVU – Em que pensamento doutrinário-filosófi-
pouco tempo de presente ao Nordeste os instrumentos BNB, podem ser as maiores fontes de cional. Eu conto com o apoio dele.
se movimentar, vai ter co o senhor se enquadraria?
para uma grande rebeldia inovadora. financiamento. Banco do Brasil, Caixa MU – Aí, eu não posso responder. É a
uma forma fácil, Não haverá um atalho. E nós temos Econômica, Bndes. Para uma política NVU – E por que o senhor, como um homem de que lutar por um outro primeira das suas perguntas que eu te-
mas se é usado agora grandes incidentes na vida po- industrial focada nas pequenas e mé- visão, professor de Harvard, enxergou no Nor- caminho nho que deixar sem resposta.
lítica do país que vão oferecer uma dias empresas e para a política agrícola deste essa fresta para que o Brasil mude essas
para substituir um ocasião muito propícia para o exercício capaz de organizar a agricultura irrigada estruturas? NVU – Esse sonho pode esbarrar em 2010 ou o
projeto econômico dessa rebeldia. Inclusive a sucessão e soerguer a de sequeiro. MU – Eu sempre tendo a acreditar que senhor pode dar um substrato para enriquecer
forte, constrói-se presidencial vindoura. as soluções para a humanidade não no Nordeste esse enigma brasileiro e ainda mais o debate no ano que vem?
vem do centro, da capital do sistema. essa esperança. MU – Sabe o que disse o grande físico
uma sociedade de NVU – E o papel da Sudene? Vem da periferia, dos outsiders, dos e matemático Henri Poincaré? Ele
garçons alienados MU – A Sudene não deve ser nem a Essa proposta em órfãos. Então, eu empatizo com eles NVU – O senhor quer fazer revolução a partir do disse: “O acaso favorece as mentes
dispensadora de projetos genéricos. O nenhum sentido é uma não por uma lógica de caridade, mas Nordeste sem um tiro, sem um confronto, sem preparadas” (risos). Eu estou espe-
papel da Sudene não é construir o Pro- por uma lógica de transformação. Um uma sublevação. É possível isso? rando que esses incidentes políticos
jeto Nordeste. Ele tem que ser uma
repetição das idéias grande poeta alemão, [Friedrich] Höl- MU – Eu não disse que eu sou contra abram mais portas.
construção coletiva, não de técnicos. de Celso Furtado. Nós derlin, escreveu que quem pensa com sublevações. A questão é qual a for-
Tem que ser de toda a sociedade nor- mais profundidade, ama o que tem ma da sublevação. Eu me considero NVU – E o senhor estará de qual lado?
Elevador Lacerda,
destina, com engajamento nacional.
temos que aprender mais vida. A vitalidade é a característi- um revolucionário, mas por tempe- MU – Na minha posição atual, em que
em Salvador (BA)
Mas, ao mesmo tempo, não deve cair com as lições e ca mais importante do Brasil, e aparece ramento e por convicção. Mas, eu eu cuido de um projeto de Estado, não
num varejo de ações pontuais. En- experiências dos últimos de maneira concentrada no Nordeste. entendo que as revoluções do sécu- posso tratar de sucessões presiden-
tão, o papel da Sudene é ser o grande Isto atrai, e ainda que não tenha me lo XXI não podem assumir a forma ciais, tenho que me manter fora da
agente coordenador das ações neces- cinqüenta anos no Brasil formado dentro do Nordeste, eu intuo que assumiram em séculos passados. política partidária.
sárias para implementar esse projeto. e no mundo. E por
Coordenador em dois sentidos. Em
primeiro lugar, por uma coordenação
outro lado, o método Wellington Dias: oficial, no último dia 7 de julho, após confir- Poder Público fica refém do setor privado,
horizontal, dentro do governo federal. que eu proponho é um Projeto Nordeste no mação do subchefe executivo da Secretaria que pede a concessão de uma área para a
E, em segundo lugar, por uma coor-
método que, mais ainda segundo semestre de 2009 de Assuntos Estratégicos da Presidência da realização de pesquisa e não a implanta,
denação vertical, dentro da federação. República, Daniel Barcelos Vargas, em ficando anos e anos com reserva de mer-
Coordenar as ações dos três níveis da do que na ação de Celso Brasília. Ainda conforme o site, uma cado. Por isso, defendo que o Brasil precisa
O projeto de desenvolvimento
Federação no Nordeste. Furtado, aposta no estratégico e integrado da
equipe da Secretaria de Assuntos de uma Petrobras da mineração”, declarou
Estratégicos da Presidência vai visi- o governador. O Estado do Piauí tem uma
NVU – E o papel que o senhor vislumbra para o movimento endógeno região Nordeste será lançado
tar o Piauí, visando implantar proje- grande reserva mineral de ferro, fósforo, ní-
Banco do Nordeste, com o FNE? do Nordeste, na força pelo Governo Federal no
tos de inclusão social. O governador quel, mármore, calcário, diamante e opala.
MU – Ser a fonte de financiamento, o segundo semestre deste ano.
braço financeiro inclusive para operar
que vem de dentro, na A notícia é do governador
manifestou a necessidade de criação “Essa riqueza precisa ser transformada em
de uma empresa de capital público e renda sustentável para as pessoas dessas
como antídoto a uma situação grave: o força que vem de baixo, do Piauí, ­Wellington Dias,
privado para a área da mineração, a regiões, que muito precisam”, ressaltou
Nordeste é um exportador líquido de publicada através do site
capital. Mais capital sai do que entra.
um movimento político exemplo da Petrobras. “Muitas vezes o Wellington Dias

30 Junho/2009 Junho/2009 31
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Muito prazer,
meio ambiente

www.conpam.ce.gov.br
A
secular concepção de que a partiu para levantar o uso e ocupação que prevê uma série de estratégias de
Caatinga seja o “primo po- do solo, o Plano de Monitoramento, comunicação para tornar esse bioma
bre” dos biomas brasileiros de responsabilidade da Secretaria de mais valorizado pela sociedade.
está com os dias contados. É o que Biodiversidade e Floresta do MMA, “Ele é o ecossistema menos co-
tentam provar duas iniciativas do Mi- já monitora as áreas de vegetação. nhecido do país, simplesmente por-

caatinga
nistério do Meio Ambiente (MMA), Os primeiros resultados serão di- que não tem mídia. Ainda não tem
prioritariamente direcionadas a con- vulgados pelo Instituto Brasileiro do uma importância nacional reconhe-
servar esta vegetação do Semi-árido: Meio Ambiente e Recursos Naturais cida, como possui a Mata Atlântica,
o monitoramento, por satélite, das Renováveis (Ibama) em novembro embora seja o único exclusivamente
áreas desmatadas, e o Zoneamento deste ano. O governo prevê que as brasileiro”, avalia o coordenador do

O “paraíso” de Euclides
Ecológico-Econômico do Nordeste. estatísticas tenham piorado. Os últi- núcleo Caatinga do MMA, João Ar-
Aqui, a Caatinga é soberana, ao mos estudos sobre os remanescentes thur Soccer Seyffarth.
ocupar originalmente 53% do territó- da Caatinga foram feitos em 2007, A realidade que surge das pes-
rio. O objetivo das duas providências com base em dados de 2000. quisas comprova a declaração. Da-
governamentais é saber o quanto a Inicialmente restrito à Amazô- dos do ministério mostram que os
devastação desse bioma evoluiu nos nia, o monitoramento foi estendido centros de pesquisa no Brasil ainda
últimos anos. Hoje, ele está entre os pela primeira vez a outros biomas do estão concentrados em sua maioria
quatro mais devastados, com 36% da Brasil. Na pauta das discussões do nas regiões Sul e Sudeste. Na Região
sua vegetação modificada. MMA sobre devastação, a Caatinga Nordeste, o número de estudos e
Divulgados durante as comemo- divide as ações de monitoramento pesquisadores é bem inferior, o que
rações ao Dia Nacional da Caatinga, com o Cerrado e a Mata Atlântica. esclarece a pouca quantidade relati-
Por Lucílio Lessa
28 de abril, os projetos já foram postos Entre outras iniciativas, consta um va e a forma esparsa de publicações
redacao@nordestevinteum.com.br
em prática. Enquanto o zoneamento Plano de Divulgação da Caatinga, científicas sobre a Caatinga.
Único ecossistema exclusivamente brasileiro, a Caatinga começa a receber do
poder público providências tardias, porém decisivas para a sua preservação.
Ações inovadoras do Ministério do Meio Ambiente querem tirá-la de uma
espécie de anonimato. Consagrado pelo escritor Euclides da Cunha como
“paraíso”, na sua obra Os Sertões, o bioma finalmente ensaia a despedida
de uma condição de quase abandono e parece figurar como prioridade na
elaboração de políticas públicas

32 Junho/2009 Junho/2009 33
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Recuperação de solo degradado
Exuberância, biocombutíveis e insustentabilidade

Maior biodiversidade entre semi-aridos Fiscalizacao e novas tecnicas


do planeta espreitada pela desertificacao de manejo para pecuaria
Embora se deva reconhecer 510 tipos de aves, 44 espécies de rép- ocupadas pela Caatinga. Na contramão da insustentabili- para atividades de manejo da Caa-
que a Mata Atlântica tenha a vegeta- teis, 17 tipos de anfíbios e 148 espécies A região convive com a caça pre- dade dos biocombustíveis, o MMA, tinga, 60% são destinados para rale-
ção nativa mais devastada (restam de mamíferos – 19 exclusivos. Em sua datória, o pouco aproveitamento dos em parceria com o Ibama, finaliza amentos.
apenas 27%) e os demais biomas flora, estão registradas 932 espécies de seus potenciais econômicos e um novo esse semestre o Plano de Fiscaliza- A técnica consiste em abrir a área
brasileiros continuem a gerar preo- plantas, mas esse número pode che- fantasma: a exploração dos biocom- ção. As áreas e ações prioritárias já para permitir a luz do sol e, com isso,
cupação, o despertar em relação à gar a 2 mil ou até 3 mil tipos. Estima-se bustíveis de forma não sustentável. O foram selecionadas a fim de inverter produzir um rico extrato herbáceo.
Caatinga merece ainda maior des- que 40% da flora encontrada na Caa- pesquisador da Universidade de Feira o quadro de perdas. Quanto a exem- Com o corte de algumas árvores, cal-
taque pelo fato de ela ocupar 11% tinga sejam endêmicos do local. de Santana (UEFS), na Bahia, Washing- plos de boas práticas em favor do culadas em espaçamentos que visam João Arthur Soccer, coordenador
do território nacional (884.453 km) Não fosse o estrago ao qual esse ton Rocha, defende que o crescimento bioma, João Arthur destaca um mo- o controle seletivo das espécimes e do Núcleo Caatinga do MMA
e ser o bioma extra-amazônico com bioma está submetido, tais informa- da produção de álcool no Nordeste delo de manejo para pecuária, que da preservação de 300 a 400 árvores
maior contribuição para a economia ções mostrariam apenas uma região em função dos biocombustíveis, por nasceu em Sobral (CE), desenvolvi- por hectare, há também o plantio de
e alimentação da população habi- de grandes potenciais. Mas, um fato exemplo, continua como forte amea- do pela Embrapa Caprinos (Empresa gramíneas. Grande parte é compos- para a ovino caprinocultura.
tante. De toda a energia consumida irrefutável gerado não somente pelas ça. E para garantir a preservação desse Brasileira de Pesquisa Agropecuária) ta de tipos bem adaptados ao clima O projeto contempla ainda a pre-
pelos nordestinos, 40% são prove- pressões antrópicas, representa uma ecossistema, o MMA fez um acordo e implantado em quase todos os es- e aos longos períodos de estiagem. servação das nascentes e matas cilia-
nientes da Caatinga. ameaça permanente: 62% das áreas com a Fundação Joaquim Nabuco, de tados do Nordeste e até no Norte de A gliricídia e a leucema (exóticas), res, bem como o armazenamento de
Presente no Maranhão, Piauí, suscetíveis à desertificação no país Pernambuco, para estudos socioeconô- Minas Gerais. por exemplo, permanecem verdes e nutrientes da biomassa no solo, que
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraí- estão situadas em zonas originalmente micos e ambientais do bioma, contem- A mecânica é simples. Após o intactas, mesmo com fortes períodos completam esse processo de manejo
ba, Pernambuco, plando a questão proprietário destinar parte do terreno de seca, e servem como pastagem para a recuperação do Semi-árido.
Alagoas e Sergipe, dos biocombustíveis
além do norte de e seus impactos.
Minas Gerais, a A preocupação
Caatinga possui demonstra que o
uma população de principal vilão da
28 milhões de ha- Caatinga continua
bitantes – em seus sendo a degradação
ainda restantes 520 a partir do extrativis-
mil quilômetros mo. “Se a Caatinga
quadrados. Trata-se fosse bem manejada,
do bioma semi-ári- não existiriam tantos
do mais biodiverso problemas”, defende
do mundo. o coordenador João
Retratada Arthur. As áreas com
como “paraíso” maiores índices de Sem parques, estações ou reservas
pelo escritor Eucli- desertificação no
des da Cunha, na
sua obra Os Ser-
tões - Campanha
Semi-árido ficam na
Região do Seridó
(RN), Cabrobró (PE),
Apenas 1 da Caatinga
de Canudos, ela
possui riquíssimas
fauna e flora. São
Gilbués (PI) e Irauçu-
ba (CE). tem protecao integral
A dimensão do esforço em criar estratégias para preservar a Caatinga é justificada pelos
seus números desfavoráveis. De apenas 7% das áreas preservadas em unidades de conservação
federais, estaduais e terras indígenas, míseros 1% são protegidos por unidades de proteção inte-
gral, ou seja, de uso mais restritivo, como parques, estações ecológicas e reservas biológicas.
Na dianteira desta estatística, está Minas Gerais, com pouco mais de 4% de seu territó-
rio protegido através de seis unidades de proteção integral. A Paraíba está em último lugar,
com apenas 2.316 hectares protegidos, embora fique na frente de Sergipe em unidades de
preservação. Tem sete contra apenas duas. Já em relação às Áreas de Proteção Ambiental
(APAs), destacam-se o Piauí, com 9%, e Bahia, com 7,5%.

34 Junho/2009 Junho/2009 35
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Segundo o MMA, de todos os mesmo índice das terras indígenas vestimentos já existentes. Para isso, lhos estaduais, que só abordam gran-
estados, apenas Alagoas não pos- distribuídas em pequenas áreas de teríamos que calcular a distribuição des empreendimentos. O Conpam
suía unidades de conservação, mas seis estados. da população da Caatinga em cada é mais amplo, pois também trabalha
agora conta com uma unidade fe- Diante das informações, a “des- Estado”, comenta o coordenador políticas com menos impacto”, avalia a
deral, o Monumento Natural do coberta” da Caatinga revela um longo João Arthur. presidente Tereza Farias.
São Francisco, criado em junho e caminho a ser percorrido. Nesse des- Outro destaque é a mobilização O Conpam possui as mesmas
que tem áreas ainda em Sergipe e bravamento, a elaboração do Progra- para que seja aprovada uma propos- funções de uma secretaria de estado
Bahia. Alagoas possui ainda duas ma de Conservação e Uso Sustentável ta de emenda constitucional que in- e permite uma instância colegiada
pequenas Reservas Privadas do Pa- da Caatinga talvez seja o passo mais clui a Caatinga e o Cerrado como entre os órgãos de governo, repre-
trimônio Natural (RPPNs). importante. Idealizado pelo MMA e patrimônios nacionais na Constitui- sentantes de classes e sociedade civil.
Em relação às RPPNs do país, parceiros multilaterais, o programa ção Federal. Além disso, define políticas estratégi-
34 ao todo, apenas 1,2% da Caatin- promete ser um marco referencial na A proposta está no plenário da cas. Para auxiliar os projetos, o con-
ga é contemplada com o benefício. gestão desse ecossistema. Câmara dos Deputados, pronta para selho criou dois escritórios regionais,
Coincidentemente ou não, Minas “Através dele, poderemos ar- ser votada. A perspectiva é de que que funcionam de segunda a sexta-
Gerais novamente se destaca, com ticular melhor as ações em anda- isso ocorra logo, com boas chances feira, para o atendimento das comu-
0,37%, seguida do Piauí, com 0,24%, mento, completando lacunas de in- de ser aprovada. nidades que desejam criar planos de
Tereza Farias. Presidente do Conpam no Ceará conservação da Caatinga e sua ges-
tão sustentável. Dos 40 projetos ana-
Bird envia consultores para avaliar os lisados pelos técnicos do Bird, apenas
Mata Branca se destaca como Modelo no Ceara e Bahia resultados e discutir o que será feito
nos seis meses seguintes.
18 tiveram execução aprovada por
estarem dentro dos níveis técnicos
O projeto é estruturado em com- de proteção ao bioma.
ponentes como o apoio a instituições Quanto ao Mata Branca da Bahia,
e políticas públicas para a gestão in- a Secretaria do Meio Ambiente des-
tegrada do ecossistema; subprojetos taca projetos que atendem as locali-
e demonstrativos de promoção de dades de Curaçá, Jeremoabo, Itatim
práticas de gestão integrada do ecos- e Contendas do Sincorá. Mas, assim
sistema; e monitoramento e avalia- como no Ceará, as iniciativas ainda
ção, disseminação e gestão. estão em busca de resultados mais
quatro, os recursos são divididos igua- No Ceará, o órgão que coordena o expressivos. Em 2008, nenhuma das
litariamente, já que a área territorial da Mata Branca é o Conselho de Políticas propostas de subprojetos ainda ha-
Bahia é ainda maior. A vantagem é que e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), via sido implementada. Para o Pla-

Euclides da Cunha
os estados trocam experiências e co- entidade até então sem similar no país. no Operativo Anual de 2009, vão ser
nhecimentos tanto na área ambiental “A visão do conselho é inovadora. Os apresentados 30 subprojetos. Destes,
como na científica. Semestralmente, o outros estados trabalham com conse- 23 compunham o relatório anterior.

A beleza da Caatinga pelo autor de “Os Sertões”


“...E ao tornar da travessia o viajante, pasmo, não vê mais o deserto.
Sobre o solo, que as amarílis atapetam, ressurge triunfalmente a flora tropical.
É uma mutação de apoteose. Os mulungus rotundos, à borda das cacimbas cheias, estadeiam a púrpura
Antes de o ministério elaborar as pode ultrapassar limites geográficos. para o Meio Ambiente (GEF). As ações das largas folhas vermelhas, sem esperar pelas folhas; as caraíbas e baraúnas altas refrondescem à margem dos
propostas, o bioma já contava com A proposta é recuperar áreas degra- tiveram início em janeiro de 2008 e ribeirões refertos; ramalham, ressoantes, os marizeiros esgalhados, à passagem das virações suaves; assomam,
apoio de dezenas de associações, dadas e provar que a política não é só têm prazo de cinco anos para conclu-
vivazes, amortecendo as truncaduras das quebradas, as quixabeiras de folhas pequeninas e frutos que
ONGs, e até do poder público em al- de proteção, mas de uso sustentável. são. Os recursos são da ordem de R$
lembram contas de ônix; mais virentes, adensam-se os icozeiros pelas várzeas, sob o ondular fes-
guns pontos do país. Entre os projetos Aprovado em 2007, após ter sido 23 milhões. Destes, R$ 10 milhões são
de destaque está o Mata Branca, tra- submetido a uma concorrência in- do Bird, através do GEF. O restante é tivo das copas dos ouricuris: ondeiam, móveis, avivando a paisagem, acamando-se nos plai-
dução de Caatinga no tupi-guarani. ternacional em que foram habilita- a contrapartida dos estados através nos, arredondando as encostas, as moitas floridas do alecrim-dos-tabuleiros, de caules finos
Realizado nos estados da Bahia e Ce- dos projetos de apenas sete países, o dos projetos desenvolvidos. e flexíveis; as umburanas perfumam os ares, filtrando-os nas frondes enfolhadas, e – domi-
ará, locais onde há grande degrada- Mata Branca é financiado pelo Banco Embora o Ceará possua 68 muni- nando a revivescência geral – não já pela altura senão pelo gracioso do porte, os umbuzeiros
ção, é um exemplo de que a gestão Mundial (Bird) e pelo Fundo Global cípios participantes, e a Bahia apenas alevantam dois metros sobre o chão, irradiantes em círculo, os galhos numerosos.

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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
O umbuzeiro
Em Tese
Maria Tereza Jorge Pá
dua* --------

Sobre a “feiúra”
da Caatinga
É a árvore sagrada do sertão. Sócia fiel das rápidas
horas felizes e longos dias amargos dos vaqueiros. Repre-
senta o mais frisante exemplo de adaptação da flora ser-
taneja. Foi, talvez, de talhe mais vigoroso e alto – e veio

C
descaindo, pouco a pouco, numa interdecadência de
omo milhares de brasileiros, eu gosto de zônia, da Mata Atlântica ou do Pantanal. Já sensibi-
estios flamívomos e invernos torrenciais, modificando-se ler as pouco alegres colunas de Diogo Mai- lizá-las para a Caatinga é quase impossível. Quantas
à feição do meio, desinvoluindo, até se preparar para a nardi. Às vezes, também, gosto de assis- vezes lemos em O Eco* notícias sobre o desespero de
resistência e reagindo, por fim, desafiando as secas dura- tir ao programa Manhattan Connection. Niède Guidon tentando salvar o Parque Nacional da
douras, sustentando-se nas quadras miseráveis mercê da redes bamboantes. E ao chegarem os tempos felizes Vendo um deles esses dias fiquei furiosa quando Serra da Capivara no estado do Piauí, talvez o que era
energia vital que economiza nas estações benéficas das dá-lhe os frutos de sabor esquisito para o preparo da Lucas Mendes perguntou a Mainardi se ele gostava mais bem manejado no país, graças principalmente à
reservas guardadas em grande cópia nas raízes. umbuzada tradicional. mais do deserto ou da caatinga e Diogo respondeu luta e à perseverança da própria Niède? Porque Dio-
algo assim: “Conheço pouco da caatinga. Só estive go Mainardi não foi até lá? Ou no Parque Nacional
E reparte-as com o homem. Se não existisse o um- O gado, mesmo nos dias de abastança, cobiça o
uma vez por lá, mas é muito feia”, insinuando, tal- de Sete Cidades no Piauí? Ou no Parque Nacional de
buzeiro aquele trato de sertão, tão estéril que nele escas- sumo acidulado das suas folhas. Realça-se-lhe, então, vez, que não pretende voltar. Ubajara, no Ceará?
seiam os carnaubais tão providencialmente dispersos nos
que o convizinham até ao Ceará, estaria despovoado. O
o porte, levantada, em recorte firme, a copa arredonda-
da, num plano perfeito sobre o chão, à altura atingida
Melhor assim, se vai repetir Descobrir a riqueza Porque não foi ver as ara-
no ar de um canal de televisão rinhas azuis praticamente ex-
umbu é para o infeliz matuto que ali vive o mesmo que a
mauritia para os garaunos dos llanos.
pelos bois mais altos, ao modo de plantas ornamentais
entregues à solicitude de práticos jardineiros. Assim de-
conhecido, uma afirmação que
pode induzir a alguns a nada do Cerrado e da tintas na Estação Ecológica do
Raso da Catarina, aquele mes-

A jurema
Alimenta-o e mitiga-lhe a sede. Abre-lhe o seio cotadas semelham grandes calotas esféricas. Dominam fazer para a proteção ou conhe- mo lugar que se situa perto de
acariciador e amigo, onde os ramos recurvos e entrela- a flora sertaneja nos tempos felizes, como os cereus me- cimento de um bioma já tão ol- Caatinga é quase Canudos e que também pre-
vidado e muito degradado. serva as mesmas paisagens,
çados parecem de propósito feitos para a armação das lancólicos nos paroxismos estivais.
Citando jornalistas não
privilégio de cientistas flora e fauna vistas e descri-

O sertão é
comparáveis, gostaria de lem- tas por Euclides da Cunha, no
brar (ver páginas 37 e 38 da livro mencionado Os Sertões?
e ambientalistas

um paraiso...
Nordeste VinteUM) só uma O Raso da Catarina foi ainda
página do livro “Os Sertões um dos esconderijos de Lam-
– Campanha de Canudos” do ferrenhos. Sensibilizar pião e do seu bando. Porque

E o sertão é
nosso famoso escritor e, tam- não foi à Estação Ecológica
bém, engenheiro Euclides da de Aiuaba, no Ceará, ou Ita-
Autoridades é quase
um paraíso...
Cunha. Uma página que des- baiana, em Sergipe, e Seridó,
creve como reagem as plantas no estado de Paraíba, antes de
a uma chuva no Nordeste bra- impossível expressar seu desagrado pela
sileiro, em plena Caatinga. feiúra da Caatinga?
Só quem possui muita sensibilidade e paciência Estou segura que se ele tivesse feito um pequeno
para procurar e ver pode encontrar muita beleza na esforço para conhecer melhor a Caatinga teria gos-
Caatinga e no Cerrado, dois biomas muito degrada- tado e muito. Embora suas colunas deixem transpa-
os marizeiros raros -- misteriosas árvores que pressagiam
dos e quase extintos, na sua forma natural, no país, recer que é um homem irascível, também se percebe
a volta das chuvas e das épocas aneladas do “verde” e e que vem sendo tratados como lixo. Afinal, nós que, no fundo, é um personagem sensível. O ponto
o termo da “magrém” -- quando, em pleno flagelar da possuímos a Mata Atlântica, o Pantanal, a Amazô- principal de minha revolta é o fato de se dizer isso
seca, Ihes porejam na casca ressequida dos troncos nia, biomas luxuriantes, que além de abrigarem far- na televisão. Ele tem todo o direito de achar a Caa-
algumas gotas d’água; reverdecem os angicos; lourejam tas flora e fauna silvestres, apresentam paisagens tinga feia, mas bem poderia ter mantido sua prefe-
os juás em moitas, e as baraúnas de flores em cachos, e magníficas. Já descobrir a riqueza do Cerrado e da rência por outras plagas em seu círculo familiar ou
As juremas, prediletas dos caboclos -- o seu haxixe os araticuns à ourela dos banhados... mas, destacando- Caatinga é quase privilégio de cientistas e ambien- de amigos. Por isso, após esta reclamação de uma
capitoso, fornecendo-lhes, grátis, inestimável bebera- se, esparsos pelas chapadas, ou no bolear dos cerros, os talistas ferrenhos. admiradora, espero que Mainardi volte para o Nor-
gem, que os revigora depois das caminhadas longas, É muito mais fácil convencer autoridades a agi- deste e olhe melhor a Caatinga para descobrir quão
umbuzeiros, estrelando flores alvíssimas, abrolhando em
extinguindo-lhes as fadigas em momentos, feito um rem em prol da natureza, quando se trata da Ama- bela ela sabe ser.
folhas, que passam em fugitivos cambiantes de um verde
Fundação
filtro mágico -- derramam-se em sebes, impenetráveis pálido ao róseo vivo dos rebentos novos, atraem melhor o a da Funatura, membro do Conselho da
(*) Maria Tereza Jorge Pádua é fundador is da UICN.
tranqueiras disfarçadas em folhas diminutas; refrondam comissão mundial de Parques Naciona
O Boticário de Proteção à Natureza e da
olhar, são a nota mais feliz do cenário deslumbrante.
Publicado em 10/03/2008, no site Eco
38 Junho/2009 Junho/2009 39
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
S
Instante e no princípio era o verbo, essa palavra
devia ser falada ou cantada.

Voz, letra e
As inscrições vieram muito depois. São
encontradas nas ruínas dos templos, nas lá-
pides dos túmulos e nos monumentos.
As inscrições nas paredes das cavernas são, ainda
hoje, objeto das pesquisas de muitos cientistas.
Os primeiros donos da nossa terra se comunicavam

Nordeste
pela voz. Também muitos africanos sujeitos às longas
travessias e ao trabalho escravo. O colonizador portu-
guês veio com a força autoritária da escrita.
O cordel foi essa poesia da voz que ganhou o impres-
so à medida que as tipografias iam se tornando obsole-
tas para os grandes centros e se interiorizaram.
Cordel e cantoria são a mesma manifestação. São
narrativas contadas/ cantadas por poetas e improvisa-
dores, nas feiras, nos adros das igrejas, nos terreiros das
fazendas, nas longas noites do sertão.
Pode-se dizer que a cantoria tem regras mais rígidas
e opõem competidores que usam a palavra como arma.
Aqui se está diante de um torneio verbal e argumen-
tativo, como os que trovadores, jograis e goliardos espa-
lhavam pela Europa. Nos mesmos ventos que sopravam
histórias de encantamento de princesas, que aqui se
tornaram filhas dos donos das fazendas, de heróis que
passaram a ser nossos cangaceiros, e dos santos que se
metamorfosearam nos nossos beatos.
Juntando, outra vez, mitos indígenas e tradições afri-
canas, teremos um caldo maior para o tempero dessas
manifestações multiculturais.
A voz é essencial. A voz é tudo. A voz é sempre. Ape-
sar da efemeridade, levada que é pelo vento, ela deixa
marcas indeléveis, como cicatrizes.
A oralidade se fez presente em todo o Brasil. Está
nos causos gauchescos, nos mitos amazônicos, nas nar-
rativas do centro-oeste e nas catiras, nos ponteios das
violas e nas tradições mineiras, paulistas e fluminenses.
No Nordeste, talvez, a voz tenha se tornado mais
forte. Talvez porque a região, ainda chamada de Norte,
perdeu parte de sua importância política e econômica
no final do século XIX. Talvez porque as migrações eu-
ropéias e orientais tenham vindo em fluxos menores que
para outras regiões brasileiras. Talvez porque sejamos
mesmos mais conservadores.
Certo é que mantivemos a prevalência da voz. A pa-
lavra dada tem (ou tinha) força de lei e a expressão “ho-
mem (ou mulher) de palavra” foi sempre valorativa.
Hoje, a voz continua referencial, apesar das mídias
ou por isso mesmo, como na segmentação do rádio ou
na recepção “calorosa” da televisão, das tecnologias de
ponta (vide a febre do MSN) e das novas formas de so-
ciabilidade. E assim caminha a Humanidade...

Gilmar de Carvalho
Pesquisador, jornalista, publicitário e escritor

Foto Francisco Sousa


40 Junho/2009 Junho/2009 41
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
nal de Cultura, principal mecanismo tavam 51% da dotação global da Cultura, financiou diversos projetos
Cultura x Lei Rouanet de financiamento que possibilita pasta. Em 2008, esta relação passou culturais, conseguiu atingir a marca
ao MinC investir diretamente nos a ser de apenas 32%. Antes, para de 100 filmes por ano e aumentou

Idas e vindas
projetos culturais mediante a cele- cada R$ 1 investido, R$ 1,50 iam em 500% o atendimento aos mu-
bração de convênios e outros ins- para o custeio. Em 2008, a relação seus. Também conseguiu ampliar
trumentos similares, cresceu consi- passou de R$ 1 para R$ 0,78. Através cinco vezes o volume de dinheiro da
deravelmente nos últimos seis anos. da melhoria da qualidade do gasto área no Nordeste e Sul, 11 vezes no
Conforme o site Contas Abertas, do FNC, por exemplo, o governo Norte, três no Centro-Oeste e duas
em 2003, foram pagos por meio do investiu no aumento dos Pontos de no Sudeste.

de um Mecenato em eterno desequilíbrio fundo cerca de R$ 38,4 milhões. Já


em 2008, foram desembolsados R$
170,9 milhões, ou seja, 345% a mais
Desde os tempos de Getúlio Vargas, o desenvolvimento de políticas culturais no Brasil tem
sido marcado por um padrão cíclico, onde o Estado alterna com a iniciativa privada períodos em termos reais. Modelo concentrador e desigual
Se o percentual do FNC mostra
de maior presença no fomento ao setor. Hoje, em meio à revisão da Lei Rouanet – maior
instrumento financiador da produção cultural brasileira nos últimos anos – novamente o País
se vê diante da necessidade de uma brusca correção de rumos. No cerne da questão, um
robustez, o salto foi bem maior em
relação à renúncia fiscal. “Do orça-
mento, o que o MinC tem para gas-
Nordeste fica com
problema que afeta diretamente o Nordeste: a necessidade de reduzir a concentração dos
recursos na região Sudeste
tar no processo cultural é só 20%. No
cômputo de tudo que é disponibili-
apenas 6% dos recursos.
Por Marcel Bezerra
redacao@nordestevinteum.com.br
zado a produtores artistas e demais
atores culturais, os outros 80% são Sudeste e Sul levam 80%

O
recursos via renúncia fiscal”, afirma
Juca Ferreira. Por outro lado, é no mecenato que ra durante sua existência.
s números escancaram o tamanho riquezas produzidas no país, aproxi- como ficou conhecida, criou três for- Com os recursos próprios, o reside o “xis da questão” da cultura no O problema é que o mode-
do desafio brasileiro na área cultu- madamente R$ 2,9 trilhões. mas possíveis de incentivo à cultura MinC fez a sua parte e tem hoje a Brasil. O projeto idealizado pelo então lo concebido com a Lei Rouanet
ral. Dados do Ministério da Cultura E não foi só isso. A Lei Federal de no país: o Fundo Nacional de Cultura melhor execução orçamentária en- ministro Sérgio Paulo Rouanet teve o gerou imensas distorções, como
(MinC), apontam que, hoje, somen- Incentivo à Cultura 8.313, de 1991, (FNC), os Fundos de Investimento tre todos os ministérios – média de mérito de ter sido o responsável pela concentração, desigualdade, bai-
te 14% dos cerca de 190 milhões de que oportuniza a empresas e pesso- Cultural e Artístico (Ficart) e Incenti- 98%. Internamente, com o aumento retomada da produção cultural após xa participação de empresas, baixa
habitantes país vão ao cinema, pelo as físicas que apóiam atividades cul- vo a Projetos Culturais por meio de acentuado das despesas correntes a extinção do Ministério da Cultura, percepção da aplicação de recursos
menos, uma vez por mês. Enquanto turais aplicar parcelas do Imposto de renúncia fiscal (Mecenato). e dos investimentos, a estrutura que havia sido rebaixado ao status públicos, alto custo operacional e
92% não freqüentam museus, 93% Renda a título de doação ou patrocí- De fato, a soma de recursos in- dos gastos do ministério alterou- de secretaria no Governo Collor. Além elevado tempo de espera. De 2003
nunca vão a exposições de arte e nio, se transformou nas duas últimas vestidos tem evoluído, apesar de se significativamente de 2003 para disso, injetou, de forma indireta pela a 2007, apenas 3% dos proponentes
78% nunca assistiram a espetáculos décadas no maior indutor do desen- ainda insuficiente, na visão do mi- 2008. Há seis anos, as despesas com
via da renúncia fiscal, seu principal concentraram 50% do volume de
de dança. Dos 5.561 municípios do volvimento econômico da área cultu- nistro Juca Ferreira. O volume de pessoal e encargos sociais represen-
País, 90% não tem cinema, teatro, ral brasileira. A Lei Rouanet, recursos do Fundo Nacio- instrumento, R$ 8 bilhões na cultura recursos captados.
museus ou espaços multiuso. Um brasilei- Há dois anos, as regiões Sudes-
dos menores índices de leitura no te e Sul ficaram com 80% da ver-
mundo está no Brasil, com 1,7 livro ba captada, contra 6% do
per capita/ano. Nordeste, 11% do Centro-
No âmbito da máquina estatal, Oeste e 3% do Norte. No
para um país que sem- ano passado, somente o
pre reclamou da falta Sudeste abarcou 79%
de investimentos na dos investimentos
área, o cenário nos via renúncia,
últimos seis anos até que melhorou. restan-
Entre 2003 e 2008, o orçamento do do 11%
MinC que inclui pagamento de pes- (Sul), 6%
soal, despesas correntes (água, luz, (Nordeste), 3% (Centro-
telefone, etc.) e investimentos (exe- Oeste) e 1% (Norte) às ou-
cução de obras e compra de equipa- tras regiões. De cada R$ 10
mentos), saltou de R$ 359,7 milhões captados, R$ 9 são por meio
para R$ 869,5 milhões, com previ-
do mecenato e apenas R$ 1 é
são de R$ 1 bilhão para este ano.
dinheiro privado. Poucas vezes, o
O aumento da verba no ministério
cidadão tem conhecimento da ativi-
fez crescer a participação da Cultura
no Produto Interno Bruto (PIB), de dade cultural que foi realizada com
0,015% para 0,030% da soma das 100% de dinheiro público.

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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Afora esses problemas, Nova le de fomento à cultura
há o fato de que nem todos Recursos O que muda
os projetos aprovados pelo
ministério conseguiram cap-
Orçamento e renúncia Proposta prevê novas >> FNC – O Fundo Nacional de
Cultura já existe na atual Rouanet,
tação com as empresas, caso mas permite apenas doação de
de menos de 50% das inicia-
tivas. Em 2007, mais de três mil projetos em tendências opostas formas de fomento 80% do valor do projeto, com
20% de contrapartida. Com a
passaram pelo sistema de avaliação, con- Nova Rouanet, o FNC poderá
sumindo tempo de trabalho dos funcio- Quanto à distribuição per capita dos recursos da Cultura nas Kleber fragoso/minc
fazer empréstimos, associar-se a
nários do MinC e tempo de espera dos regiões do Brasil, a desigualdade se evidencia ainda mais quando projetos culturais e fazer repasse
produtores, sem que chegassem a um para fundos municipais e estadu-
o assunto são os valores renunciados. Em cinco anos (2003-2007),
fim com sucesso. ais. A idéia é torná-lo mais atra-
“A renúncia é uma proposta de parce- ao passo que o governo procurou redistribuir melhor o bolo do tivo para produtores culturais e
ria público-privada para aumentar recur- dinheiro orçamentário, a tendência se inverteu na renúncia fiscal. transformá-lo em alternativa para
sos para a cultura. Teoricamente, em toda quem não conseguem captar
parceria, dois entes ou mais se juntam para
Dois anos atrás, o Sudeste subiu sua participação financiamento via renúncia.
atingir um objetivo comum. Nesses 18 anos de 55% para 60% do total e o Sul de 17% para 20%,
de lei, 90% do dinheiro é o imposto que em detrimento das regiões Centro-Oeste (18% – 11%) >> Renúncia fiscal – O meca-
deveria ser pago e deixa de ser pago para nismo continua existindo, assim
ser aplicado na cultura. Ou seja, é dinheiro e Norte (4% – 3%), ficando o Nordeste estacionado em como a CNIC (Comissão Nacio-
público. E dos 10% que teoricamente são 6% do dinheiro do mecenato. Por aqui, no ano de 2008, embora nal de Incentivo à Cultura), que
contribuição das empresas, boa parte é das os investimentos orçamentários e via renúncia tenham analisa os projetos. A única mu-
empresas estatais” coloca o ministro. dança é que, em vez de apenas
No atual modelo, o Estado entra com o subido desde 2003, saltando de R$ 11,5 milhões para ter duas faixas de renúncia - de
dinheiro e a empresa privada decide como R$ 14,8 milhões no primeiro, e de R$ 30,2 milhões para 30% e 100% -, passa a ter mais
usar”, critica. Isso acontece porque, muitas
vezes, as empresas preferem priorizar pro-
R$ 54,6 milhões no segundo, este último concentrou quase quatro - 60%, 70%, 80% e 90%. A
lei vai definir quais critérios serão
jetos com alto retorno de imagem e ênfase 80% do que foi aplicado pelo MinC na região. usados pela CNIC, que, além de
no marketing, o que acaba por não fortale- De seis anos para cá, todas as regiões passaram a enviar Juca Ferreira analisa contribuições ao projeto da nova lei com a equipe do Minc analisar aspectos orçamentários
mais projetos para o MinC, o que elevou a aprovação destes
cer a sustentabilidade e nem democratizar do projeto, vai obserar em qual
o acesso. Na visão de Juca Ferreira, o atual As distorções geradas no atual mo- dirigismo cultural com a nova Lei. faixa ele se encaixa. O objetivo da
sistema não tem controle social. Para se ter no país para percentuais sempre acima de 71%. Contudo, delo de financiamento da cultura vêm “Essa acusação foi tão frágil que pa- mudança é permitir uma maior
uma idéia do peso das empresas estatais, quando se compara os valores dos projetos, essa distribuição sendo discutidas há algum tempo. receu leite em pó, se dissolveu sem contribuição das empresas
entre 2002 e 2008, a Petrobras respondeu Com o objetivo de tentar mudar essa precisar bater. Na verdade, estamos
se concentra. Somente em 2008, por exemplo, Sudeste e realidade, o MinC apre- aumentando o con-
por R$ 1 bilhão da captação, seguida de >> Ficart – O Fundo de Investi-
Sul apresentaram 66% e 16% dos projetos, com captação sentou no final de maio trole social sobre as
Eletrobrás (R$ 204 milhões), Banco do Brasil
(R$ 139 milhões) e Bndes (R$ 75 milhões). de 80% e 12% do total de investimentos realizados. O
a proposta de uma Nova “Evidente políticas públicas de
mento Cultural e Artístico tam-
bém já existe. No entanto, nunca
Lei de Fomento à Cultu- cultura”, rebate Juca
Para o MinC, outra visão da inadequa-
Nordeste, com 10% dos projetos, ficou com 6% dos ra. Depois de 45 dias sob que qualquer Ferreira. “Evidente
saiu do papel, por falta de interes-
ção da renúncia está na insuficiência em se das empresas. A Nova Rouanet
dar conta da diversidade de demandas da recursos. Por último, ficaram Centro-Oeste (6% dos
consulta pública, quando
recebeu mais de duas mil
movimento que qualquer mo-
vimento igualitário quer aumentar a atratividade,
sociedade brasileira para a produção cultu- projetos, 2% de captação), e com maior dedução fiscal, para
ral. Na balança, os quatro
sugestões, e após percor- igualitário no no Brasil, tem gente
que seja uma alternativa atrativa
Norte (2% dos projetos, rer todo o país em deba- que vai se opor, por-
maiores segmentos –
Artes Integradas, Tea- 1% de captação). Desde
tes, no início de julho o Brasil, tem que aqui, privilégio para projetos com grandes chan-
ces de retorno financeiro.
ministro Juca Ferreira e a parece direito adqui-
tro, Edição de Livros e 2002, a região Sudeste equipe da pasta se reuni- gente que rido”, avalia.
Música Erudita – abo- ram para avaliar as con- Segundo o Go- >> Vale-Cultura – novidade
canham uma fatia teve 23 mil projetos e R$ tribuições recebidas e vai se opor, verno, a nova pro- do projeto, o vale de R$ 50 para
de 44% do dinheiro, 3 bilhões captados; toda sistematizadas, antes de
porque aqui, posta foi formatada trabalhadores pretende facilitar o
contra 14% dos 30 a região Norte teve 786 encaminhar o projeto ao para ampliar a capa- consumo de bens culturais para
segmentos cultu-
projetos aprovados e R$
Congresso Nacional.
Durante o processo
privilégio cidade de fomento à
cultura e aumentar
12 milhões de trabalhadores e
rais menores, como injetar, pelo menos, R$ 7,2 bilhões
Ópera, Circo, Cultu- 40 milhões. de discussões, os críti- parece direito as formas como o por ano, mais de seis vezes o
ra Popular, Folclore cos acusaram o MinC produtor pode aces- montante atual da Rouanet.
e Artesanato. de querer implantar um adquirido” sar os recursos.

44 Junho/2009 Junho/2009 45
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
A CENTRALIZAÇÃO PIONEIRISMO DA LEI COLLOR E ROUANET
História,
Breve histórico das DOS MILITARES / SARNEY Em 1990, o governo Collor
cultura,
políticas culturais no Brasil ­MINISTÉRIO SÓ EM
1985
A primeira Lei Federal visan-
do propiciar meios de incen-
suspendeu os benefícios da Lei
Sarney, assim como outros incenti- natureza
vos fiscais em vigor. O mecanismo
A política cultural brasileira, sob a forma de Lei Federal, surgiu apenas
O regime militar foi
tivo foi a chamada Lei Sarney
(Lei nº 7.505, de 2 de julho de
de apoio às atividades culturais foi e esportes
na década de 80 do século passado. Forma de fomento bastante restabelecido com a Lei nº 8.313,
questionada no contexto atual, o mecenato sempre desempenhou
marcado por idas e vindas
da política cultural, quan-
1986), instituída no ano seguin-
te à criação do Ministério da
de 23 de dezembro de 1991 (Lei radicais
papel importante na cultura nacional do se observa um viés Rouanet), que criou o Progra-
Cultura, então já desvinculado
centralizador, com uma “re- ma Nacional de Apoio a Cultura
da pasta da Educação. Essa lei
nacionalização” do fomen- (Pronac). Com isso, retirou-se o
pioneira criou a ‘era’ do Mecena-
to às artes. A Embrafilme produtor como elemento central e
to no país.
nasce em 1969, seguida do em seu lugar colocou-se o projeto
Naquele primeiro momento,
Departamento de Assun- cultural, que passou a ser analisado
as empresas puderam finan-
REPÚBLICA VELHA GETÚLIO, CAPANEMA O PÓS-GUERRA DA tos Culturais, em 1972 e do ciar ações culturais por meio
pelo Ministério da Cultura como
passível de captação de recursos
De acordo com Júlio
E OS ARTISTAS ELITE PAULISTA Programa de Ação Cultural da renúncia fiscal, desde que
aptos à renúncia fiscal. Nas esferas
(PAC), no ano seguinte. tais ações fossem levadas a
Lucchesi Moraes, da Ney Braga assume o Mi- estadual e municipal, as Secreta-
A Era Vargas represen- Com a Segunda Guerra, cabo por produtores artístico-
Faculdade de Econo- nistério da Educação em rias de Cultura, com base nas suas
tou uma grande inflexão houve uma diminuição culturais, tanto públicos quanto
mia, Administração e 1974, e a política cultural próprias legislações, seguiram o
na política cultural brasi- do dinamismo estatal privados. As entidades culturais
Contabilidade da Uni- passa por nova inflexão. mesmo critério. (Fonte: Marcos
leira, com a assunção de no mundo artístico. Isso deveriam comprovar junto
versidade de São Paulo Mesmo assim, em 1975 dá- Agostinho – MinC)
Gustavo Capanema ao fez emergir na São Paulo ao Ministério seu objetivo de
(FEA-USP), na época se a criação da Fundação produzir e difundir a Cultura
Ministério da Educação do pós-guerra um novo
da República Velha, Nacional da Arte (Funarte) para então obter um registro no
e Saúde Pública, órgão padrão de fomento cul-
mediante a utilização para “promover, estimular Cadastro Nacional de Pessoas
que cuidava dos assuntos tural. “Tanto o vertiginoso
de seu poder político e e desenvolver artes cul- Jurídicas de Natureza Cultural
culturais. Assessorado crescimento paulistano
social, a figura do mece- turais no Brasil”. Foi con- (CNPC), sob o controle do MinC
por artistas e intelectuais no começo dos anos 1950
nas controlava o campo siderada a abertura para e da Secretaria da Receita Fede-
como Mário de Andrade e quanto a ascensão da
intelectual e a ‘arte ofi- um dos mais importantes ral do Ministério da Fazenda.
Cândido Portinari, Carlos elite cultural fizeram da
cial’ com a distribuição momentos da política cul- Dentro dessa perspectiva, o
Drummond de Andrade cidade um grande palco
de auxílio financeiro tural brasileira: a fundação produtor era o elemento central,
(chefe de gabinete) e de efervescência cultural.
ou apoio institucional do Ministério da Cultura, pois as ações de captação de
Heitor Villa-Lobos, teve na Surgiram diversos cinemas
a um grupo de artistas em 1985, cujo primeiro recursos e de produção artístico-
música uma importante e teatros pela cidade, a
privilegiados. Eram os ministro foi o economista cultural ficavam a seu encargo.
influência no plano de Cinelândia Paulistana, o Te-
chamados “barões da paraibano Celso Furtado. Após recebido o aporte de
formação da identidade atro Brasileiro de Comédia,
cultura”, elite oriunda recursos, a título de doação ou
política e cultural do Brasil o Museu de Arte de São
das famílias cafeiculto- patrocínio, a entidade cultural
naqueles anos. Paulo (Masp), o Museu de
ras de então. deveria prestar contas à Receita
Arte Moderna e a Compa-
nhia Cinematográfica Vera Federal e ao Ministério da Cultu-
Cruz, em 1949. Tempos da ra sobre a sua correta aplicação.
influência dos Matarazzo.

Esse é o roteiro de Pacatuba.


Um cartão postal no
sopé da serra.
Um paraíso bem perto da
capital cearense .
Visite-nos.
www.pacatuba.ce.gov.br
46 Junho/2009
Nordeste VinteUm
Em Tese
Ubiratan Aguiar* -------- Em 2008, o problema ainda não tinha sido resol- Oeste cerca de 3% e ao Norte menos de 1%, sendo que

A descaracterização
vido. Ao contrário, agravou-se. Esse cenário fica ainda em Roraima sequer houve captação. A desigualdade tor-
mais preocupante pelo fato de as empresas estatais fi- na-se mais evidente com a notícia de que a captação em
gurarem como as principais incentivadoras dos pro- 17 estados, naquele exercício, foi inferior a 1%.
jetos culturais, uma vez que, em 2006 e 2008, contri- Em 2007, o Minc atribuiu a distorção à pequena de-

do mecenato e a
buíram com cerca de 36% e 31%, respectivamente, do manda proveniente das regiões Norte, Nordeste e Cen-
valor total captado. tro-Oeste, que decorreria da falta de informação sobre os
O quadro demonstra a descaracterização do instru- procedimentos e possibilidades de apoio.

regionalização de recursos
mento do Mecenato, mediante a prevalência do financia- Já em 2008, o órgão alegou que o problema derivaria
mento público das atividades culturais. O mecenas é o do modelo instituído pela Lei Rouanet, que privilegiaria
“patrocinador generoso, protetor das letras, ciências e a a renúncia fiscal como mecanismo de financiamento,
artes, ou dos artistas e sábios” e como tal não se conce- acarretando “concentração de recursos em projetos de
redacao@nordestevinteum.com.br be a pessoa física ou jurídica que efetua patrocínios ou maior visibilidade, em regiões de maior concentração de
doações, mas com o benefício de abater do Imposto de população e renda”.

A
Renda que deveria pagar o total do valor despendido. Para atacar a situação, o MinC noticiou, a adoção
Constituição de 1988 estabelece que cabe ao Es- centivos, os quais têm sido, nos últimos anos, superiores
Críticas já foram tecidas a res- de medidas para fortalecer as redes de produto-
tado garantir a todos o pleno exercício dos direi- aos aplicados por meio do Orçamento da área da Cultura,
peito do ponto na análise das ci- res com o programa Pontos de Cultu-
tos culturais e acesso às fontes da cultura nacio- os dados indicam que a redução das desigualdades nessa
nal, apoiar e incentivar a valorização e a difusão área não tem sido alcançada, assim como o financiamento
tadas contas governamentais do Esse cenário ra, implementar o sistema SalicWeb
exercício de 2006, a partir do ra- e contemplar a questão em proposta
das manifestações culturais. Também prevê a necessidade das ações culturais tem ocorrido primordialmente por par-
de o Plano Nacional de Cultura contemplar a valorização te do Poder Público.
ciocínio de que este mecanismo fica ainda mais de projeto de lei que visa substituir a
de gasto tributário via renúncia Lei Rouanet, mediante a instituição
da diversidade étnica e regional, de a lei estabelecer incen- Os recursos de patrocínios e doações previstos na Lei
tivos para a produção e o conhecimento de bens e valo- Rouanet tem natureza jurídica de “verba pública”, conso-
integral de receita pública tem a
característica de despesa públi-
preocupante pelo do Programa Nacional de Fomento e
Incentivo à Cultura (Profic).
res culturais e de haver demonstração na lei orçamentária ante já assentado na jurisprudência do TCU. Quanto ao fi-
ca, executada fora do Orçamento
anual do efeito regionalizado dos benefícios tributários. nanciamento das ações culturais por parte do Poder Públi-
público federal, caracterizando a
fato de as empresas que Essas informações demonstram
o órgão não está inerte. Em do-
No intento de atender parte des- co, observou-se, nas contas do
sas disposições, a Lei Rouanet ou Lei ... a redução das
existência de vinculação de recei- cumento intitulado Nova Lei de Fo-
Governo do exercício de 2006,
ta, em desacordo com o princípio estatais figurarem mento à Cultura, disponível no site
do Mecenato, instituiu o Programa que “a totalidade do valor cap-
da não-vinculação de impostos. do MinC, apontou-se que a renúncia
Nacional de Apoio à Cultura – Pronac, desigualdades nessa tado pelos projetos culturais como as principais
Outro inconveniente ressalta- fiscal não tem sido capaz de dar con-
com a finalidade de captar e canalizar não deveria, a princípio, se tor-
do foi o fato de provocar concen- ta da diversidade cultural, haja vis-
recursos para o setor de forma a, en- área não tem sido nar efetiva renúncia fiscal, ou
tre outros objetivos, facilitar a todos seja, um gasto tributário (gasto
tração dos recursos recebidos nos incentivadoras dos ta que se revela como instrumento
segmentos culturais relacionados concentrador e desigual e apresenta
os meios para o livre acesso às fontes alcançada, assim governamental indireto de na-
da cultura e o pleno exercício dos di- tureza tributária)”.
no artigo 18 da Lei Rouanet, ques- projetos culturais baixa participação das empresas, pe-
tionando-se a adequação do proce- quena percepção da aplicação de re-
reitos culturais, promover e estimu- O que se verifica, todavia,
lar a regionalização da produção cul-
como o financiamento é que, nos últimos anos, tem
dimento, diante da grande diver- cursos públicos e alto custo operacio-
sidade e da elevada quantidade de projetos fomentados nal e tempo de espera.
tural e artística, com valorização de havido predominância do fi-
recursos humanos e conteúdos locais, das ações culturais
com base no dispositivo. Estão em debate alternativas para melhorar a ges-
nanciamento estatal (renúncia
Relativamente ao aspecto negativo da concentra- tão dos recursos na área, entre as quais se destacam as
e proteger as expressões culturais dos efetiva) sobre o privado (dife-
grupos formadores da sociedade brasi- tem ocorrido
ção dos financiamentos dos projetos culturais, extrai- que buscam fortalecer o FNC, associar empreendimen-
rença entre o valor investido e o re-
se que ocorre basicamente na região Sudeste do país, tos, aumentar a participação da Comissão Nacional de
leira e responsáveis pelo pluralismo da nunciado pelo incentivador). De fato,
a qual foi contemplada, no ano de 2006, com 83% dos Incentivo à Cultura, transferir recursos para estados,
cultura nacional. primordialmente por a renúncia efetiva correspondia a recursos, considerando especialmente que as empre- municípios e o Distrito Federal e conferir maior flexibili-
Entre os mecanismos utilizados 30% dos recursos captados em 1993,
sas estatais federais responsáveis pelos investimentos dade de cotas de isenção.
estão o Fundo Nacional da Cultura parte do Poder Público alcançando cerca de 53% em 1999 e
estavam sediadas nos estados do Rio de Janeiro, São Não se concebe viver sob a forma de uma Federa-
(FNC) e os incentivos a projetos cul- de 89% em 2006 e 2007 e quase 91%
Paulo e Minas Gerais. ção enquanto houver desigualdades nas dimensões das
turais. O FNC é de natureza contábil em 2008. Ou seja, nesse último ano,
Essa situação vai de encontro à finalidade do Pro- citadas. O Brasil é um país com uma diversidade cultu-
que propicia o apoio a projetos de instituições públicas ou apenas aproxima- damente 9% da captação partiu de re-
nac, o que propiciou ao TCU recomendar ao MinC que ral que o destaca além de suas fronteiras, considerando
privadas sem fins lucrativos a fundo perdido ou mediante cursos da iniciativa privada.
adotasse “providências no sentido de reduzir as desi- que a variedade e a qualidade da produção artística as-
financiamentos reembolsáveis. Entre seus fins, está o es- Essa alteração do cenário pode ser explicada especial-
gualdades regionais mediante a aplicação do montan- sumem papel relevante para conhecimento do país no
tímulo à distribuição regional eqüitativa dos recursos em mente pela possibilidade de dedução integral do incentivo
te de recursos captados por meio da renúncia fiscal cenário internacional.
projetos culturais e artísticos e o favorecimento à visão in- propiciada pela alteração do artigo 18 da Lei Rouanet, in-
(Mecenato) de forma desconcentrada e proporcional Neste momento em que se buscam, além de suplan-
terestadual, estimulando aqueles que explorem propostas troduzida originalmente pela Medida Provisória nº 1.589,
à população”. tar a crise internacional, o alcance de maior nível de
culturais conjuntas, de enfoque regional. de 24/09/1997. Conforme relatado no exame das contas
Não obstante isso, a situação ainda não foi suficien- crescimento e a diminuição das desigualdades criadas
Os incentivos, por sua vez, constituem-se em instru- de 2006, a “alteração legal possibilitou ao particular uma
temente alterada. Em 2008, a região Sudeste continuou por anos de subdesenvolvimento, é imperativo atuar
mento que possibilitam às pessoas físicas ou jurídicas auto-promoção, por meio do patrocínio de ações culturais
responsável por cerca de 80% da captação total, desta- também para que a cultura seja acessível a todos de for-
abater do Imposto de Renda devido valores destinados a que, na verdade, são totalmente arcadas pela União”. Hou-
cando-se São Paulo, com 40% do montante. À região Sul ma igualitária, o que só será possível com a integração
doações ou patrocínios de projetos culturais. Contudo, pas- ve, em essência, um estímulo a “uma maior participação
coube 10% do total captado, ao Nordeste 6%, ao Centro- da sociedade, e não só do Estado.
sadas quase duas décadas da edição da lei, com acentuado dos entes privados no patrocínio de ações culturais, sem
aumento no volume de recursos captados por meio de in- que estes efetivamente disponibilizem recursos próprios”.
unal de Contas da União ( TCU )
(*) Ubiratan Aguiar é presidente do Trib

48 Junho/2009 Junho/2009 49
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
FESTA DO DIVINO O ANO TODO
PARA A ESTANTE
Gilmar de Carvalho e
“LULA NA LITERATURA CEAMARAÍBA: CANTIGAS Ora direis, ouvir rabecas
DE CORDEL” EM FORTALEZA COM SOTAQUE NORDESTINO Rabecas do Ceará, do pesquisador, jornalista, pu-
blicitário e escritor Gilmar de Carvalho, é fruto das
Crispiniano Neto, poeta potiguar, preside a Funda- O CD Cearamaíba é um viagens deste mestre interessado pelas relações entre
ção Cultural José Augusto, de Natal. canto de amor e irresigna- comunicação e cultura pelo interior do Ceará entre
Recentemente, tomou posse na Aca- ção com sotaque de gente os anos de 2004 e 2006. Ele percorreu serras, estradas
demia Brasileira de Literatura de Cordel de casa. São três vozes carroçáveis, trilhas “e até mes-
que há cerca de 30 anos
(ABLC), com sede no Rio de Janeiro, mo, rodovias asfaltadas”, de 40
ecoam por este mundo
cujo atual presidente é o cearense No calendário folclórico do Maranhão, o Centro de Cultura municípios numa aventura que
chamado Nordeste. E vão
­Gonçalo Ferreira da Silva. Amigo de Popular Domingos Vieira Filho deu relevo à Festa do Divino, rendeu entrevistas pelas casas
calar no fundo do coração
uma manifestação folclórica originada em Portugal pela
Lula, o poeta Crispinano não fez por de quantos ainda sabem de cem tocadores e fabricantes
Rainha Dona Isabel, no século XIII, em razão da construção
menos: lançou o livro Lula na Literatura sonhar, mas, sobretudo, de rabecas. O resultado é um
da igreja do Espírito Santo, em Alenquer. A festa chegou ao
de Corde”, uma coletânea apologética que enfeixa 60 fo- sabem alcançar os raios
Brasil no século XVI e popularizou-se em estados do Sul e excelente maço gráfico-editorial
de esperança que descem sobre a nação do povo nor-
lhetos sobre o presidente da República, cuja trajetória Sudeste. Fincou raízes no Maranhão, em Alcântara, onde sobre o instrumento e o dom,
destinado. E nordestino você sabe, caro leitor, parece
desde o limiar da luta sindical vem sendo cantada pe- constitui-se numa bela manifestação que mistura o profano seus contextos e a curiosidade de
ter o dom da ubiqüidade, pois vagueia qual Ashaverus, o
e o religioso, com forte influência africana. Seu surgimento
los vates populares. Apesar de quase todos os folhetos judeu errante, de seca à Meca. Vai de um lugar a outro descobrir sonoridades perdidas.
está provavelmente ligado à frustrada visita de Dom Pedro
que constam da obra terem feição elogiosa, um chama incansavelmente, como um beduíno do deserto. Cea- Destaque também para o trabalho do fotó-
II à cidade, quando os escravos, decepcionados, teriam ido
a atenção por fugir da toada laudatória. “A Chegada de ramaíba é o sonho e a esperança feito arte desses três grafo Francisco Sousa.
em cortejo à igreja, coroando um imperador e “inventando”
caminheiros errantes: o cearense Bernardo Neto; Cacá
Lula ao Inferno” apresenta críticas ao governo lulo-pe- a festa. O tradicional ritual acontece da Quinta-feira de
Farias, do Maranhão; e Marcos Santos, da Paraíba.
tista e fala dos muitos escândalos. O poeta Crispiniano Ascensão do Senhor ao Domingo de Pentecostes. Neste ano,
Parceiros de longa caminhada que carregam na voz o
Neto assegura que depois de Lampião, Padre Cícero e em quase todos os dias de todos os meses há encenações
mistério da boa cantoria e derramam seus versos por
Frei Damião, Lula é o nome que mais inspira os poetas
cordelistas. Crispiniano Neto vai lançar Lula na Literatu-
sobre nossas cabeças, nossos corações.
folclóricas na capital São Luís e outras cidades do Estado.
Cordel e culinária juntas
ra de Cordel em Fortaleza, no dia 24 de julho. Fliporto reúne melhor da “A peleja do alecrim com o coentro e outros
Agenda cultural da Bahia com literatura ibero-americana causos culinários: receitas e cordel”. Com esse
100 CORDÉIS HISTÓRICOS Wagner Moura, em Hamlet
título, a autora Tatiana Damberg mistura as rimas
bem-humoradas da literatura de cordel com a per-
Pernambuco irá sediar a V edição da Festa Literária
Numa iniciativa inédita, a ABLC levou a termo Internacional de Porto de Galinhas (Fliporto 2009), sonalidade forte da culinária nordestina. Assim como
a publicação de cem títulos. O livro 100 Cordéis Os destaques culturais do mês de julho na Bahia são Os entre os dias 5 e 8 de novembro. Em discussão, a as cantorias dos repentistas, as receitas sempre foram
­Históricos é resultado de levantamento feito por de- Salões Regionais de Artes Visuais, com abertura no dia 17, literatura produzida no Brasil, Portugal e Espanha. passadas boca-a-boca. O Cordel foi um meio de
zenas de pesquisadores e poetas populares em todo o na cidade de Valença. Os eventos, que este ano chegam No ano passado, a Fliporto reuniu mais de 150 transportar os repentes para o papel, assim como
também a Juazeiro e Porto Seguro, são um projeto estraté- escritores de 17 Países nas dependências do Hotel os livros de receitas acolhem a história e o passo-a-
Brasil, mas especialmente no valioso acervo da ABLC,
gico da Secretaria de Cultura. Por intermédio da Fundação Armação, palco das discussões. Na edição de
que conta com cerca de 13 mil folhetos, alguns deles passo de almoços memoráveis de famílias e amigos.
Cultural e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico, o
verdadeiras raridades bibliográficas. A obra, com o órgão tem investido na criação de novos espaços exposi-
2009, o evento estará sob a batuta da coordenação As receitas estão divididas entre ‘Rimas de sal e muita
selo da Editora Queima-bucha, é composta de dois tivos e na dinamização da programação de suas galerias e geral do escritor e advogado Antônio Campos pimenta’ para pratos salgados e ‘Rimas de amor e de
museus. Nesta edição da Agenda, o aguardado e a produção executiva a cargo de Eduardo Cortes, açúcar’ para as sobremesas. Ca-
volumes que totalizam 598 páginas e apresenta um rol
espetáculo teatral Hamlet, com o ator baiano fundador da Fliporto. A curadoria literária é do jornalista pernambucano napés de feijão verde com jeri-
de 41 autores, alguns dos quais clássicos da Literatura
Wagner ­Moura; o V Seminário Internacio- Mário Hélio. A conferir, sem dúvida, pois, como disse Fernando Pessoa, mum e cebola roxa caramelada,
de Cordel, como Leandro Gomes de nal de Cinema e Audiovisual; e a estréia da “Damo-nos tão bem um com o outro/ Na companhia de tudo/ Que nunca
Barros, João Martins de Athayde, José nova montagem do Balé do Teatro Castro almôndegas de charque no mo-
pensamos um no outro,/ Mas vivemos juntos e dois/ Com um acordo
Pacheco e Firmino Teixeira do Amaral. Alves, assinada pelo espanhol Victor Navarro. lho de jerimum, arroz de cuxá,
íntimo/ Como a mão direita e a esquerda.”
O trabalho contou também com a Para as crianças, uma opção é o espetáculo cupcake de puba com goiabada,
colaboração da Professora Maria do Do espelho e dos cacos, adaptação da biscoitos mascavados com ca-
fábula A Rainha da Neve, no Teatro cau e até um delicioso sorvete
Rosário F. Pinto, do Centro Nacional
Gamboa Nova. Temos ainda a
de Folclore e Cultura Popular; e de tapioca são apenas algumas
comemoração dos 25 anos do
do Poeta Vidal Santos, presidente Cine Teatro Solar Boa Vista, que das ousadias gastronômicas de
da Academia Brasileira de Cordel. movimenta a cena cultural do Tatiana Damberg.
bairro Engenho Velho de Brotas,
em Salvador. Colaborou: Barros Alves

50 Junho/2009 Junho/2009 51
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Moeda social X sistema financeiro

Crédito para todos.


Bancos comunitários ganham espaço Por Lucílio Lessa
Nordeste
ensina como fazer
cerca de 50% dos clientes já saíram da
redacao@nordestevinteum.com.br linha da pobreza. No Brasil, o primeiro
com 45 unidades em 30 municípios banco comunitário foi o Banco Palmas,
criado em 1998, em Fortaleza.
brasileiros e incluem, em meio à crise, É claro que a realidade dos ban-

A
aquela profusão de CPFs excluídos do despeito da crise mundial e da exclusão de par- cos comunitários brasileiros ainda é
tímida em comparação às estatísticas
mercado financeiro tradicional. te da população brasileira ao sistema financei- do Grameen Bank, mas nem por isso
ro tradicional – 43%, segundo o Banco Mun- menos animadora. Para se ter uma
Saiba mais sobre o segredo idéia, o país já possui cerca de 10 mil
dial, uma alternativa avança a bem da melhoria
dessa proposta de de vida das comunidades carentes: os bancos
pessoas atendidas. Não por coinci-
dência, a grande maioria, 80%, está
economia solidária comunitários. Com a proposta de garantir crédito, sem a localizada nas regiões Norte e Nor-
deste. Esta última obtém 70% dos
que se multiplica formalidade excessiva dos bancos tradicionais e com juros recursos e 33 dos 34 bancos situados
junto aos alijados, menores, esse mercado tem potencial comprovado pelos nas duas regiões. Um reforço impor-
tante, pois a relação de habitantes
para colocá-los cerca de R$ 1,8 milhão movimentados por mês nessa rede por agência tradicional nessas loca-
lidades é três vezes maior que nas
além da linha de atendimento. Um número pródigo e que reflete o bom regiões Sul e Sudeste, onde existe
de pobreza desempenho dos 45 bancos comunitários existentes em 30 maior concentração de atividade pro-
dutiva e, portanto, maior percentual
municípios do país. de acesso a crédito.
A inspiração para o surgimento dos bancos Recente estudo do Instituto de

University of Pennsylvania
comunitários do Brasil vem de uma iniciativa do Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
professor bengalês Muhammad Yunus, que em “Transformação na indústria bancária
1983 criou na região de Bangladesh – uma das brasileira e o cenário da crise”, indica
mais pobres do mundo, o Grameen Bank. Na bri- que a queda da presença do Estado
ga por uma realidade local menos excludente, no mercado financeiro brasileiro, re-
o Grameen disponibiliza crédito com juros duzindo o número de bancos, fomen-
reduzidos aos mais pobres, livrando- tou a desigualdade social nos últimos
os dos agiotas. Lá, após mais 11 anos. Os Estados com menor pre-
de R$ 3 bilhões aplica- sença de agências bancárias são Ma-
dos em empréstimos, ranhão, Piauí, Alagoas, Pará e Ceará.

52 Junho/2009 Junho/2009 53
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Elza Fiúza/ABr Elza Fiúza/ABr Nada de Serasa ou SPC

Pioneirismo do Palmas em área


O presidente do Institu- Singer, que está à frente da Secreta- Benilton Couto da
to, Márcio ­Pochmann, ria Nacional de Economia Solidária Cunha. A parceria
destaca que nos últi- do Ministério do Trabalho e Empre- possibilita serviços co-
mos dez anos houve
transferência de recur-
sos que eram destina-
go (Senaes/MTE).
A existência desse recurso é a
principal diferença entre os bancos
mo o pagamento de
títulos, entre outros.
Para o diretor exe-
inabitável de Fortaleza ganha o mundo
dos ao Norte, Nordeste comunitários e outros projetos de cutivo do Banco Po- Modelo de economia solidária desenvolvido há 11 anos por moradores do Conjunto Palmeiras,
e Centro-Oeste, para o “bancarização” da população caren- pular de Ipatinga, em em Fortaleza, o Banco Palmas prova, a cada dia, que dá certo além-fronteiras. O projeto
Sul e Sudeste. te, como os bancos do povo. Oriun- Minas Gerais, Gustavo serviu de referência para a implantação dos 45 bancos comunitários pelo Brasil e milhares de
Nesse contexto, os dos de ONGs, de iniciativas políticas Madureira, quando o
bancos comunitários estaduais ou municipais, eles são, as- Banco do Brasil trans-
estabelecimentos com os mesmos princípios no exterior
parecem uma saída de sim como os comunitários, Organiza- fere responsabilidades Ao se constatar que dos R$ 2 mi-
Carlos Magno/Agência Sebrae

geração de renda para ções da Sociedade Civil de Interesse para bancos comunitá- lhões movimentados mensalmente pela
pessoas das classes C e D nessas lo- Público (Oscips), e também focam rios e os do Povo, ele tem como foco comunidade, quase tudo escoava para
calidades. O principal destaque da no crédito a juros reduzidos. a redução do seu custo operacional. outros bairros, uma idéia de subversão
iniciativa é uma idéia com berço no Outro projeto que inclui CPFs “Cliente de fila não é correntista, não àquele comportamento de mercado
Brasil e copiada até fora do país: a até então fora do mercado financei- é o objetivo dos grandes bancos”, diz surgiu. Afinal, quase todo fluxo de di-
moeda social. Usada para movimen- ro tradicional, é o Banco Popular do Gustavo. Um detalhe é que embora te- nheiro simplesmente deixava de orbitar
tar o mercado de cada região que pos- Brasil. Subsidiário integral do Banco nha o nome de Banco Popular, a unida- ali, não gerando qualquer benefício à
sua um banco comunitário, a moeda do Brasil, o BPB disponibiliza cré- de de Ipatinga é um modelo de Banco economia local.
tem o mesmo valor do Real e protege dito, produtos e serviços bancários, do Povo. A primeira atitude foi, então, ma-
os comércios locais, impedindo que sendo também parceiro dos bancos Enquanto o Banco Popular do pear a produção e o consumo do Pal-
o dinheiro saia da comunidade. Cada comunitários. “Tanto os bancos co- Brasil é devidamente cadastrado no meiras no ano de 1998. Em seguida,
banco comunitário possui moeda so- munitários como os do Povo podem Banco Central, o mesmo não acontece o objetivo seria fundar um banco cuja
cial própria. ser correspondentes bancários do com as iniciativas da economia solidá- prioridade fosse ajudar a clientela a sair
“Com ela, há uma proteção con- Banco do Brasil, já que trabalham ria. “Até porque eles não são bancos, da pobreza. E com um segredo: traba-
tra a competição externa, ou seja, a com o micro crédito orientado”, in- são Oscips”, lembra a subprocuradora lhar com juros menores.
de grandes empreendimentos capi- forma o gerente executivo de clien- geral do Banco Central, Marusa Vas- Banco Palmas disponibiliza crédito para quem está fora do sistema financeiro
A proposta desafiadora ao cenário
talistas”, comenta o economista Paul tes menor renda do Banco do Brasil,­ concelos Freire. Mas, hoje, está em sócio-econômico do lugar era oferecer A moeda Palma, que tem a mis- pelo banco é o da confiança.
estudo um projeto para a regulamen- linhas de micro crédito aos excluídos do são de fazer o dinheiro circular den- João Joaquim explica: “Não consulta-
tação dessas iniciativas da sociedade sistema financeiro tradicional. O pilar tro do Palmeiras, é aceita em todos os
Elza Fiúza/ABr mos SPC ou Serasa porque grande parte da
civil. “Estamos estudando como acom- da dinâmica do empreendimento era 240 pontos comerciais cadastrados clientela está com o nome sujo na praça. Há
panhar. Isso vai ser feito em parceria a criação de uma moeda exclusiva não no conjunto. Quem opta por ela tem pessoas inclusive com passagem pela polí-
com a Senaes/MTE”, destaca Marusa, oficial: a Palma, que circularia simulta- até direito a descontos dos comer- cia, mas que querem reconstruir suas vidas.
sem definir prazos. neamente ao Real. ciantes e produtores. A vizinhança é quem dá o aval moral”.
O fortalecimento dos bancos co- Nada de Serasa ou SPC (Serviço “É claro que existiam outras ex- Essa “mágica informalidade” da nego-
munitários denuncia não só a dificul- de Proteção ao Crédito). A ficha do periências de bancos comunitários ciação do Palmas ajudou a mudar a vida
dade da população de baixa renda na interessado em crédito seria levantada no mundo, mas operando com essa da comerciante Aurileide Alves Cordeiro,
abertura de uma conta bancária, mas entre os vizinhos. E uma vez por mês perspectiva de duas moedas circulan- uma das primeiras correntistas. Logo após a
um sistema bancário que contribui os “banqueiros” – artesãos, costureiras tes, nós somos os pioneiros”, afirma o inauguração, ela pegou emprestado R$ 400
para a exclusão sócio-econômica. Em e comerciantes – discutiriam a carteira, coordenador do Banco Palmas, João para investir num mercadinho. Livre de bu-
bancos tradicionais, a média de juros taxa de juros, inadimplência. Joaquim de Melo. rocracia, a transação motivou a comerciante
para a pessoa física gira em torno de Dos R$ 2 mil iniciais, distribuídos A boa aceitação é sustentada prin- a pedir mais cinco empréstimos. Todos para
7%. Já nos bancos comunitários, os ju- logo no primeiro dia aos cinco únicos cor- cipalmente pelos métodos informais de compra de mercadoria. Com a evolução do
ros não passam de 2%. rentistas, hoje o banco surpreende com negociação. O banco virou um marco negócio, Aurileide realizou sonhos, como
Em artigo a respeito do Seminário o seguinte salto: 1.600 postos de traba- não apenas do ponto de vista comer- trocar de carro e reformar a casa. “O Palmas
Internacional sobre o Desenvolvimen- lho gerados, sete pequenas empresas cial, mas sobretudo social. Por exem- proporcionou isso. E já penso em pedir ou-
to, ocorrido em março, em Brasília, o criadas, 1.800 associados e R$ plo, para fazer parte da sua carteira de tro empréstimo. Sempre que posso faço a
economista Ladislau Dowbor comenta
divulgação

1,3 milhão em seus cofres. clientes, o princípio básico observado propaganda de lá”, comemora.
que “no Brasil, cobra-se em juros por
mês, o que se cobra anualmente no
Com a moeda social , há uma proteção contra a competição resto do mundo”. Para ele, ao dificultar

externa, ou seja, a de grandes empreendimentos capitalistas


o acesso ao crédito, o sistema financei-
ro tradicional torna-se pró-cíclico, ao
É claro que existiam outras experiências de bancos comunitários no mundo, mas
invés de realizar o desenvolvimento e
reduzir os impactos da crise.
operando com essa perspectiva de duas moedas circulantes, nós somos os pioneiros
Paul Singer, economista e Secretário Nacional de Economia Solidária
João Joaquim de Melo, coordenador do Banco Palmas

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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
História da comunidade propõe criar um car- episódios foi benéfica. Começaram Rede

Antes do Bairro, um pântano tão com o qual as pessoas pudessem


fazer compras. “Ela matou a charada.
a surgir novos recursos em parcerias
com ONGs, instituições locais e até Instituto multiplica
tecnologia pelo país
Decidimos criar o nosso cartão de cré- internacionais. O resultado foi a cria-
dito”, lembra Joaquim Melo. ção da primeira empresa do banco, a
www.bancopalmas.org.br/

Gerenciado pela Associação dos Palmatech, localizada em um galpão


Moradores do Conjunto Palmeiras nos fundos do Palmas. A empresa é
(Asmoconp), o banco iniciou suas responsável por oferecer à população O compartilhamento desse
atividades em 1º de janeiro de 1998. cursos e capacitações voltados ao modelo de banco comunitário com
De imediato, o cartão de crédito Pal- mercado de trabalho. Já passaram outras localidades teve início em
macard foi um sucesso. O pagamento pela Palmatech 1.500 jovens. 2003. Para atravessar fronteiras
sem cobrança de juros era o grande Outra empresa criada na sede do com atuação coordenada, recor-
atrativo. O limite foi estipulado em banco foi a Palmalimpe. Iniciativa de reu-se à criação do Instituto Pal-
100 Palmas per capita. Para os empre- jovens da comunidade, a empresa mas, um ente oficial de difusão da
endedores, o valor chegava a R$ 10 manipula produtos químicos utiliza- tecnologia do empreendimento.
mil, parcelados em até 12 vezes. O dos para produzir material de limpeza Concebido sob a forma jurí-
banco dava os seus primeiros passos. e higiene. Uma pesquisa realizada em dica de Oscip, o Instituto firmou
2007 apontou que a Palmalimpe ficou parcerias com empresas nacio-
em terceiro lugar na preferência dos nais e estrangeiras. Daí, partiu
PERCALÇOS, INTERVENÇÃO moradores. O sucesso já levou os pro- para uma fundamental etapa de
Maracanã.
dutos para venda em outras regiões. expansão: a parceria com a Sena-
DO BANCO CENTRAL E A grife Palma Fashion também es/MTE e o apoio do Banco Popu- O banco Paju implantou a moeda social
lar do Brasil. em Pajuçara com valor equivalente a 1 real.
Conjunto Palmeiras. Localizado na Zona Sul, em Fortaleza, no início nenhuma infra estrutura urbana.
NOVAS EMPRESAS é fruto do Palmas. A empresa opor-
O objetivo era implantar ban-
tuniza ocupação a mulheres, após
Tudo corria bem até que, imagi- um treinamento em corte e costura. cos comunitários em municípios dades oferecidas às populações. Por
Por conta de um projeto de Habitar o Palmeiras ficou bem mais nando tratar-se de um banco nos mol- As máquinas e matéria-prima foram cearenses e de outras regiões, intermédio do Palmas, em parceria
desfavelização da orla marítima de caro. Por exemplo, com a cobrança des do sistema financeiro tradicional, o viabilizadas pelo Palmas. Só que as garantindo serviços financeiros à com o Banco Popular do Brasil, as
Fortaleza, em 1973, surge o Conjunto dos boletos de Imposto Predial e Ter- Banco Central realizou duas interven- costureiras puderam fazer seus pró- comunidade. Os 45 novos esta- comunidades puderam dispor de
Palmeiras, antes um grande pântano, ritorial Urbano (IPTU) e a taxa de ener- ções no empreendimento. A primeira prios investimentos. Conquistaram belecimentos elaboraram nome e pontos de atendimento distantes
sem nenhuma infra-estrutura urbana. gia elétrica. Muitos até começaram a ocorreu com o surgimento do Banco o primeiro lugar num concurso re- moeda próprios a partir da cultura da sede, viabilizando transações
A população morava em barracos e vender suas casas. Palmas. A segunda com a criação da alizado pelo Banco do Brasil. O prê- local e de uma estratégia especí- como pagamento de conta de água
as crianças assistiam aulas em está- Em janeiro de 1997, com o se- moeda Palma. “Hoje, a relação entre mio – R$ 50 mil – foi todo investido fica, já que pela sua própria filo- e recebimento da aposentadoria.
bulos. O transporte nos 22 quilôme- minário “Habitando o Inabitável II”, a gente e o Banco Central é boa. Eles em maquinário. sofia, o banco comunitário não Ou seja, ficou garantida uma
tros até o centro da cidade era feito adota-se a perspectiva de trabalho estudam o modelo e vão regulamen- Dez anos depois, elas fabricam permite filial. base monetária, por menor que
por um caminhão. por cinco anos seguidos num proje- tar” diz, Joaquim Melo. entre duas e três mil peças por mês, As instituições também não seja, à comunidade. E a percep-
No ano de 1980, a comunidade to voltado à geração de emprego e Embora a intervenção do BC além dos serviços terceirizados para possuem relação com a moeda ção do valor desta inciativa cresce
se organiza e inicia a luta por dias renda. Após inúmeros encontros em tenha preocupado, a repercussão grandes magazines. “Com a Palma Palmas. O que liga esses bancos é quando se analisa os quilômetros
melhores em coletividade. Apoiados busca do projeto ideal, uma mulher que o Palmas ganhou na mídia pelos Fashion, muita coisa mudou para o fato de pertencerem à Rede Bra- de distância da sede, o que obri-
pela Igreja, começam a reivindicar ao mim. Melhorei minha casa, minha sileira de Bancos Comunitários, gava moradores a viajar horas em
brasillocalemfotos.blogspot.com
Governo do Estado benefícios como vida, e ainda ensinei uma profissão que tem como critério de atuação cima de caminhões com destino a
água encanada, ônibus, posto de saú- aos meus filhos”, diz a costureira Maria estipular uma carga de princípios e uma agência bancária tradicional.
de e escola para crianças. Darcília de Lima Silva. um código de ética. O presidente do Banco Pajú,
Para entender o processo de No mesmo ramo do Banco Para se cadastrar, por exemplo, no distrito de Pajuçara, no Ceará,
criação do Banco Palmas, voltemos Palmas surgiu ainda a confecção participam de um rigoroso proces- revela que antes era comum as
a janeiro de 1991, quando houve o Palma Calçados, a Palma Arte - que so de formação, culminando no pessoas se deslocarem até a sede,
seminário “Habitando o Inabitável”, trabalha com artesanato, a Palma recebimento de um selo de cer- em Maracanaú, num percurso de
no qual é criada a União das Asso- Natos, especializada em produtos tificação. Um detalhe: todo ban- 10 quilômetros. Após dois anos de
ciações e Grupos Organizados do naturais, e a Palma Limpeza de co comunitário só é considerado funcionamento, o Pajú possui dois
Conjunto Palmeiras. A proposta de ambientes, idealizada por mulheres como tal se tiver a autorização do mil correntistas.
urbanizar o bairro agregou recursos do bairro e atuando na limpeza de Instituto Palmas para funcionar. O “Imagine a importância do ban-
e parcerias comunitárias, inclusive residências e escritórios. estado com maior número de ban- co em uma aldeia indígena, como
com o Governo do Estado, que cul- Através destas iniciativas do Ban- cos no país é o Ceará. Ao todo são o que foi implantado na tribo dos
minaram em pavimentação, sistema co Palmas, 100 mulheres em situação 25 instituições. Todas em parceria Tremembés. Normalmente, esses
de drenagem, esgotamento sanitário, de risco, ou mães solteiras, foram com a Senaes. índios jamais chegariam à condi-
praças e escolas. inseridas no mercado de trabalho e A dimensão da importância de ção de obter crédito, em função da
Junto com o progresso também 350 jovens contratados por empreen- um banco comunitário para os mu- documentação necessária”, avalia o
10 anos. Idealizadores do Banco Palmas cortam bolo de aniversário da instituição. nicípios é mensurada pelas facili- coordenador Joaquim de Melo.
veio o aumento do custo de vida. dimentos na comunidade.

56 Junho/2009 Junho/2009 57
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Banco Quilombola. Em Alcântara, no
Municípios Maranhão, usa moeda Guará e conta com mais criação de 10 bancos comunitários com

Implantação simples, parceria de 800 correntistas recursos do Fundo Estadual de Combate


à Pobreza (Fecop).

de Governos e monitoramento
A partir da avaliação favorável, o mu- O coordenador do Palmas informa
nicípio gasta R$ 10 mil em capacitação também sobre um projeto entre o banco
e R$ 30 mil em crédito para instalar o e o Ministério do Trabalho (MTE) para a

brasillocalemfotos.blogspot.com
Tudo acontece porque o Palmas Teoria e prática funcionam igual- serviço. Mas, e se a localidade não possuir criação de mil bancos comunitários até
faz o acompanhamento necessário, ou mente para os bancos comunitários os R$ 30 mil? Simples: poderá usar os dezembro de 2010. Serão necessários R$
seja, monitora, mantém as máquinas provenientes do Instituto. Ainda que recursos do Instituto Palmas, que recebe 10 milhões para a viabilização de crédito,
e controla a inadimplência. Mas essa não possuam empresas próprias, como o valor do Banco Popular do Brasil a 1% fomento e capacitação.
assessoria não vem de graça. De todo as que existem no Banco Palmas, eles de juros e empresta ao município a 1,5%. Outro projeto em tramitação na
o faturamento, 10% vão para o Banco adotam a mesma dinâmica da sua ins- Já no caso dos R$ 10 mil de fomento, o Secretaria Nacional de Economia Soli-
Palmas. Outro dado relevante: dos 45 piradora. Para começar, todos operam ções de oportunizar o surgimento de O estudo dá uma compreensão do jeito é tentar um patrocínio. dária do MTE é a parceria envolvendo o
bancos existente no país, 39 recebem com duas moedas. empresas na região. potencial, da base monetária local. O pró- “O instituto vem conseguindo esse Ministério do Desenvolvimento Social e
recursos do Instituto Palmas. O motivo é que nem tudo o que a Para se instalar um banco comunitá- ximo passo é multiplicar o que a comu- patrocínio para os municípios com o Combate à Fome (MDS). A entrada do
É o caso do Banco Quilombola, em população precisa existe na comunidade. rio em um município, não é complicado. nidade consome pelo preço, e assim ter Ministério do Trabalho ou com a Petro- MDS se justifica pelo fato de muitas famí-
Alcântara, no Maranhão. Inaugurado em “Muitos acham até chique comprar no Após a solicitação da prefeitura, o Insti- uma idéia do que é preciso para satisfazer bras”, diz o coordenador Joaquim. Em lias atendidas pelos bancos comunitários
2007, no Dia da Conscicência Negra, 20 pólo mais próximo”, comenta Joaquim. tuto Palmas faz o estudo “Mapa da Pro- a demanda. “Se eu sei, por exemplo, que 2008, o Governo do Estado possibilitou a serem beneficiárias do Bolsa Família.
de novembro, o banco tem na moeda Mas, é para melhorar a oferta e fazer as dução e do Consumo”. Uma pesquisa de essa comunidade consome 300 quilo-
Guará um forte aliado para o desenvol- pessoas ficarem tentadas a valorizar o mercado a partir da realidade de 10% das gramas de arroz, e sei quanto é o quilo,
vimento local. A instituição já conta com
mais de 800 correntistas.
local onde vivem, que o Palmas empresta
capital. A partir daí, o banco tem condi-
famílias, verificando-se a quantidade e as
marcas dos produtos consumidos.
eu posso multiplicar e ter um valor total”,
afirma Joaquim de Melo. Estudo do Governo via UFC comprova êxito

3.600 bancos

Venezuela adota idéia “Eles chegaram a criar um setor espe- enquadrados como instituições civis,
cífico dentro do Ministério da Econo- sem fins lucrativos, com a tarefa de

como política de governo


mia Popular para esse segmento”, diz fomentar a produção popular e o de-
Joaquim de Melo. senvolvimento econômico local.
Caso um grupo de cinco pessoas A relação entre o Banco Palmas
a cada 200 famílias da Venezuela de- e a Venezuela teve início em 2006.
ABN

cida, pode formar seu próprio banco Uma comissão de 20 técnicos vene-
comunitário. No Brasil, organizações zuelanos veio ao Brasil para conhecer
vem tentando há anos implementar o banco e conferir a metodologia do Em janeiro de 2008, o Ministério do Trabalho enco- projetos sociais em comunidades ligados exclusivamente
essa metodologia, sem sucesso. Um empreendimento. Os dois países con- mendou uma pesquisa de impacto e imagem do Banco à educação, saúde, violência ou habitação. No Palmeiras,
Projeto de Lei da deputada federal solidaram em julho de 2007 um inter- Palmas à Universidade Federal do Ceará (UFC). O a discussão gira em torno da Economia. “Não é comum
Luíza Erundina (PSB/SP), que cria câmbio de experiências através de um estudo foi realizado com 280 moradores do bairro, clientes pobre discutir economia. No máximo, emprego e desem-
o Segmento Nacional de Finanças termo de cooperação. ou não do banco. Os resultados surpreenderam. prego. A nossa associação discute com a comunidade
Populares e Solidárias, tramita desde O acordo foi assinado em Recife Das pessoas entrevistadas, 98% afirmaram que o estratégias do sistema financeiro”, diz Joaquim Melo.
2006. “E ainda deve sofrer retaliação (PE) entre o presidente Lula, o coorde- banco colaborou concretamente com o desenvolvimento O Banco Palmas ainda possui grandes desafios
dos grandes bancos para tudo quanto nador João Joaquim e o presidente da econômico do Conjunto Palmeiras. Para 90%, o Palmas para o futuro. Um deles é causar um choque tecnoló-
é lado”, comenta Joaquim. Venezuela, Hugo Chávez. A Venezuela influenciou diretamente na sua melhoria de vida. Destas, gico no bairro. “A gente precisa se informatizar mais,
Segundo o relator do projeto, o pôde aprender como implantar os ban- 25% dizem que conseguiram um emprego por causa do ter equipamentos e máquinas mais modernos”, diz
deputado federal Eudes Xavier (PT- cos comunitários e, em contrapartida, banco. Outras 25% afirmam que com a ajuda puderam o coordenador. Outro plano da associação é criar um
CE), a matéria foi retirada para análi- o Palmas teve a oportunidade de apren- começar um pequeno negócio. projeto ambiental, provavelmente de reciclagem das
se, a fim de ser evitada a reprovação. der a incentivar a população no desen- A complementação da pesquisa mostra que o energias renováveis ou otimização do uso da água.
O projeto refere-se à elaboração de volvimento de políticas públicas. banco colaborou na realização de projetos de vida como Sobre o assunto, já houve uma reunião com moradores
Intercâmbio de experiências. Venezuela e se Brasil se consolidaram através de um termo de cooperação um sistema alternativo que propor- Outra vantagem para o Brasil construção de uma casa, ou mesmo no contato entre para estudar a possibilidade de reaproveitamento das
cione assessoria técnica ao Segmen- nessa parceria é a proposta de criação pessoas da comunidade e populações vizinhas. águas do poluído Rio Cocó.
Depois de tantos êxitos, a lamentar em decorrência do Palmas. to Nacional de Finanças Populares e de um centro de capacitação no país “Dizer que era do Conjunto Palmeiras gerava muito Realidade que mostra o espírito de luta e empre-
somente o fato de que o Brasil cami- Tudo por que o país de Hugo Chá- aos bancos populares. com recursos da Venezuela. A cada preconceito. Morar aqui era quase um castigo. Quando endimento de pessoas simples, mas com idéias para
nhe a passos ainda lentos na efetivação vez correu na frente e criou um mar- A proposta é de que a União, os seis meses, um dos países envia um algum estabelecimento solicitava dados cadastrais e via a superação de dificuldades econômicas que geram
das iniciativas em economia solidária, co legal para os bancos comunitários. estados e os municípios possam con- grupo técnico. Depois de 15 dias, o que a pessoa era do conjunto, já surgia um empecilho”, a pobreza, a miséria e a exclusão social do bairro. “As
em comparação com outros lugares. A expansão também se deve à criação ceder isenção de cobranças tributá- grupo volta para o local de origem, ressalta Joaquim Melo. grandes transformações não são os governantes que
Prova disso são os 3.600 bancos comu- do Fundo Nacional para o Desenvolvi- rias aos usuários dos serviços do ban- que recebe também um grupo de téc- Outro aspecto a gerar reflexões sobre o fenônemo fazem, vêm da base. E só são sustentáveis dessa forma”,
nitários existentes hoje, na Venezuela, mento. Lá, o banco comunitário é lei. co. Os bancos comunitários seriam nicos para aprendizado. “Palmas”é que, geralmente, toma-se conhecimento de conclui João Joaquim de Melo.

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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Em Tese
Luiz Carlos Antero --------

Ruídos no
(2) da reformulação completa dos seus prin- ráclito Fortes, do DEM, poderia alugar qualquer
cípios e estrutura de funcionamento. fantasia numa loja especializada, menos a de
No primeiro caso, verificar-se-ia como vício “moralizador”, ao exercer sua missão de patru-
incontornável seus defeitos congênitos no berço: lhamento dos pecados alheios, entretanto com a

andar de cima enquanto Câmara Alta — ou seja, espaço exclusivo


das elites bem nascidas —, perderia sentido con-
temporâneo e estaria destinado a um féretro tar-
cauda em chamas.
Naquela mesma lógica, seria elevado ao pan-
teão dos incriminados até mesmo o paladino tu-
dio. No segundo, teria sua existência confirmada cano da renúncia presidencial, senador Arthur
redacao@nordestevinteum.com.br pelas alterações verificadas em sua correlação de Virgílio, que admitiu um aporte de empréstimo
forças interna, desde a referida eleição, aqui ou ao ex-diretor geral do Senado, Agaciel Maia, para
acolá, de senadores atípicos no seu perfil conser- enfrentar uma onerosa temporada parisiense.
falso o atual debate sobre a crise no rém amarga e reimosa, sopa.

É
vador original, condenado entretanto a cortar na Pois, na onda do imponderável, não é exces-
Senado na medida em que é posto so- Mesmo com seus limites na condução da
própria carne, corrigindo estruturalmente seus siva a lembrança de que, em seu período recente
bre os pilares do desespero neoliberal política macroeconômica, ainda submetida no
irreparáveis vícios congênitos, presentes em seu e distintas conjunturas e motivações, a história
— remanescente das forças rejeitadas essencial à gangorra financeira descolada da
nascedouro. do Senado abrigou
popularmente pelas urnas por sua desastrada esfera produtiva que gerou a recente crise, o
De um modo ou de tensos e conturba-
condução do País. Entretanto, como os proble-
mas do Senado estão na sua origem e na tra-
governo Lula nasce dessa insatisfação com a ve-
lha política, pois sua eleição e formação sufra-
outro, cristianizar seu ...cristianizar seu dos episódios como
atual presidente pelos o que envolveu o ex-
dição inoculada por essas mesmas forças — e
sua mídia —, devem sorver
garam uma liderança operária significativa dos
novos tempos. E que, no
vícios monárquicos e re- atual presidente pelos senador Luiz Este-
publicanos da institui- vão, seu primeiro e
um pouco de seu próprio
veneno.
O Senado passou por Congresso Nacional, a
muito custo, conquis-
ção se enquadra no ve- vícios monárquicos e único membro cas-
lho fenômeno inspirado sado; e, noutra oca-
Uma Câmara Alta ins-
tituída para abrigar o lentas transformações,
tou uma base hegemôni-
ca em seu segundo man-
na hipocrisia de quem republicanos da instituição sião, em 2001, o fa-
deseja alterar alguma lecido senador ACM
“andar de cima” (as oli- dato. se enquadra no velho
garquias regionais bra- que tem um perfil Por isso, chamamos
coisa, imolando à mesa
um dos seus comensais,
e José Roberto Ar-
ruda, hoje governa-
sileiras) e acomodar in- de contraditória a época
para que tudo permane- fenômeno inspirado dor do Distrito Fe-
teresses econômicos progressivamente atual, visto que estabe-
ça exatamente como está. deral, acusados de
vinculados a uma depen- lece a convivência entre
E apenas para desgastar na hipocrisia de quem violação do painel
dente pauta primário-ex-
condicionado pela novos e velhos elemen-
e desmontar a base de eletrônico da Casa,
portadora, apenas em sua
recentíssima história ve-
tos da política, oriun-
da de uma transição de
apoio do governo federal, deseja alterar alguma que renunciaram
rificou pontuais e modes- crescente participação ruptura. E são contradi-
evitando que prospere a
coisa, imolando à mesa
aos seus mandatos
coalizão com o PMDB nas na corrida contra a
tas mudanças em seu per- tórios os elementos de
fil. Logrou certa absorção popular na política avaliação dos poderes
eleições de 2010 e suas
repercussões no proces- um dos seus comensais,
cassação.
A única “lim-
de indivíduos de outras republicanos, nos quais
so eleitoral. peza” a se verificar
classes e camadas sociais, descomprometidas
com a agenda da tradicional elite brasileira.
se abrigam, mais ou menos representativa-
mente, as mais variadas correntes de pensa-
No entanto, posta para que tudo permaneça no Senado, além da
como consistente a furio- necessária transpa-
Entre estes, estão os que, recordando um
cantor popular, conspurcam sua sopa.
mento e matizes partidários. É assim no Exe-
cutivo, no Judiciário e no Parlamento.
sa lógica, seria mais ade- exatamente como está rência nos seus atos
quado imolar todos os e responsabilização
Além disso, tanto quanto outras institui- Entretanto, é neste terceiro cenário que se
ocupantes da primeira- dos seus protagonis-
ções republicanas, o Senado passou por lentas concentra agora o foco principal das batalhas
secretaria do Senado, uma simbólica “prefeitu- tas, está na expectativa de uma mudança na sua
transformações, que tem um perfil progressi- que anunciam as eleições de 2010, do mesmo
ra” do ordenamento de despesas da instituição, correlação de forças nas urnas de 2010, quando
vamente condicionado pela crescente participa- modo que o Executivo foi o alvo central da opo-
desde 1993, período no qual foram fomentados o eleitorado terá a oportunidade de renovar dois
ção popular na política. sição PFL (DEM)-PSDB — e de sua mídia — nas
os tais “atos secretos” e outras sinecuras, do terços de sua composição, sufragando candida-
Esta, intuitivamente, exige maior conso- eleições de 2006. Nesse enquadramento de um
PFL (DEM), titular de cinco mandatos nas me- tos de esquerda e colocando em seu devido lugar
nância entre suas aspirações confessas por debate enviesado, o Senado foi posto diante de
sas diretoras no período. as forças conservadoras, de direita, responsá-
mais igualdade e até por uma sociedade mais dois caminhos, apontados pelos que se debru-
Neste caso, seu atual titular, o senador He- veis pelo seu perfil atual.
justa e equânime, ao confrontar o comporta- çam sobre seus dilemas:
mento de seus representantes e de suas casas (1) da sua compulsória extinção por ca-
legislativas, chafurdando mais essa nobre, po- ducidade;
(*) Luiz Carlos Antero é Sociólogo e jornalista

60 Junho/2009 Junho/2009 61
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Caderno especial

Tome Scientia! Lei de


Inovação em foco
02
Cinturão Digital.
Ceará a 10 Gbps
03
Câmara debate vazio na
extensão tecnológica
07
Universidade Aberta
encurta as distâncias
09
Carta do Editor

mais perto da vida do povo


A apropriação das possibi- algo concorrente da ciência de base produzida na academia.
lidades geradas pela ciência A importância da compreensão pública da ciência e tec-
e a tecnologia para a melho- nologia vai além do que está sendo pesquisado nos labora-
ria de vida da população é tórios, ultrapassa os interesses corporativos e deve abarcar
o foco da nossa abordagem os efeitos da aplicação do conhecimento na realidade da po-
desta área do conhecimen- pulação. Ciência e tecnologia são instrumentos de inclusão
to humano, que constitui social, também. Nesta direção, o Ceará tem buscado atalhos
diferencial competitivo no para o desenvolvimento que inclua os excluídos e avance em
desenvolvimento dos países. direção às massas, de modo a dar uma firme contribuição
O exemplo dos índios caetés ,que para reduzir os péssimos indicadores sociais.
devoraram o bispo Sardinha, citado A revista Nordeste VinteUm dá visibilidade às iniciativas
por Oswald de Andrade no , equivale à atitude dos cearenses em curso e lança as atenções sobre os horizontes desta con-
que assimilam e aplicam valores da cultura científica e tec- quista social de dias melhores para os cearenses do interior,
nológica no seu cotidiano de trabalho, porém na paz, como e também da capital, com a expansão da infraestrutura a ser-
ferramentas de afirmação na luta pela sobrevivência. viço da educação e do ensino tecnológico. A apropriação das
O espaço para a educação tecnológica na sociedade bra- ferramentas da ciência e tecnologia pelos cidadãos é um ato
sileira e em específico no Ceará, com a construção e a institu- simples da vontade. O solo é fértil. Pode ser fortalecido por
cionalização de políticas perenes de fortalecimento do setor, políticas honestas que colocam essas conquistas nas mãos
vem sendo ampliado de maneira notável e já consolida um da população, vencendo qualquer inibição externa dos que
caminho irreversível. Somente a visão curta, a preguiça ou a querem concentrar privilégios e distribuir a ignorância.
esperteza egoísta podem querer reduzir esta iniciativa como redacao@nordestevinteum.com.br
Tome scientia! Por Flamínio Araripe Internet
redacao@nordestevinteum.com.br

O Ceará rumo aos 10 Gbps


Lei de Inovação: por regulamentar Memória: metas do
O Ceará foi o sexto estado no país a sancionar a Lei de Inova-
ção, em outubro do ano passado. Depois do Amazonas, em 2006, e
FIT em “DO” de 2004
Consta no Diário Oficial
do Estado (ano 2004) que
Cinturão Digital
apertado na
Mato Grosso, Santa Catarina, Minas Gerais e São Paulo, em 2008. Mas, os recursos do FIT desti-
o passo seguinte que vai permitir que a lei seja aplicada, a regulamenta- nam-se a financiar as ações
ção, ainda não foi dado. Na Secretaria da Ciência, Tecnologia e Edu- de inovação tecnológica no
cação Superior (Secitece), Teresa Mota, secretária adjunta, Estado do Ceará e incenti-

Justiça
informa que o trabalho está sendo tocado pela rede dos var as empresas cearenses
Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) das universida- a realizarem investimentos
des com a assessoria jurídica do órgão. “Está sendo em projetos de pesquisa
científica, tecnológica e
regulamentado o capítulo de subvenção da Lei de
de inovação, com vistas
Inovação, porque a gente pretende dinamizar o ao aumento da competiti-
Fundo de Inovação Tecnológica (FIT) e precisava vidade da economia cea-
disso”, afirma. Da Secitece, a proposta de regula- rense. Compete à Secitece
mentação seguirá para a Assembléia Legislati- coordenar e disponibilizar
va, via Governo do Estado. o suporte ao Cogefit, bem
como operacionalizar o
fundo por meio da Funcap,
e à Secretaria da Fazenda Uma questão legal atrasa a implantação do Cinturão
Cogefit instalado, Mapp de Cid Gomes administrar financeiramen-
te os recursos.
Digital no Estado do Ceará. A infraestrutura de fibra
zero centavo aplicado prioriza investimentos óptica licitada pelo governo estadual já deveria iniciar
operações em maio deste ano, nos municípios de Sobral
O governo Lúcio Alcântara Por gestões da Funcap,
Dinheiro para e Quixadá. Em janeiro, uma liminar do Tribunal de Justiça
(2002-2006) publicou o decre- na administração Cid Go-
do Estado (TJCE) tornou sem efeito a ordem de serviço
to de regulamentação do FIT mes foi criada no orçamento inovar e competir que autorizou o início da instalação da rede.
e implantou seu Conselho de do Estado a rubrica “sub-
A boa novidade é que
Gestão, o Cogefit, ao qual cabe venção econômica”, que
a Secitece quer operar com
gerir os recursos. Foram re- vem respaldar os repasses subvenção à inovação das
alizadas duas reuniões, mas de recursos do FIT direto empresas, por meio de edi-

C
tais do FIT, o que significa dar om velocidade de 10 Gigabits por segundo, a afirma Carvalho.
nunca aplicado um centavo. para as empresas inovado- malha óptica tem por objetivo cobrir as prin- O Governo do Ceará recorreu da decisão no Superior
dinheiro aos projetos compe-
Em portaria de 19 de maio de ras. Dará respaldo também titivos, além de inovadores. cipais cidades do Estado - 82% da popula- Tribunal de Justiça (STJ). Em maio, a corte especial do
2009, o atual governo Cid Go- às operações por meio do O fundo foi aprovado pela ção urbana. Ao ser iluminada, a fibra deverá STJ confirmou a liminar por 7 x 6 votos. Daí, o governo
mes implantou o Programa de Apoio à Pesqui- Assembléia Legislativa em transmitir com a velocidade equivalente a 40 mil vezes apelou ao Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda
Cogefit, que sa nas Pequenas Empresas dezembro de 2004. Previa além do que oferece um link de 256 Kbps ou 10 mil ve- não se pronunciou. “Quando o Ceará recorre à instância
a destinação de pelo menos zes o que dispõe quem navega na internet com 1 Mbps. superior do Judiciário” explica Fernando Carvalho “não
tem a Funcap (Papp), da Financiadora de R$ 6 milhões anuais para A empresa Schahin Engenharia venceu a licitação discute o mérito da ação, só a liminar. A discussão do
como executo- Estudos e Projetos (Finep), pesquisa aplicada ao criar com o preço de R$ 49,2 milhões. Mas, a segunda coloca- mérito vai ser feita no Tribunal de Justiça do Ceará”.
ra da aplicação operado pela Funcap. Outra vínculos de parceria das da, a Procable Engenharia e Telecomunicações, quer R$ Caso não houvesse a briga nos tribunais, em maio o
empresas com os pesquisa-
dos recursos e a sinalização positiva no sen- 56 milhões para fazer o serviço e entrou com um pedido Cinturão já teria chegado a Sobral e Quixadá e aos muni-
dores para gerar negócios.
Secitece como tido do funcionamento do Os recursos são oriundos de liminar. A empresa alega que a concorrente não tem cípios no trajeto — São Gonçalo do Amarante e Caucaia
gestora. O di- fundo de inovação local é sobretudo de 1,5% do retor- experiência na instalação de fibras ópticas. (Porto do Pecém), Itapipoca, Canindé, Pacajus, Morada
no do Fundo de Desenvol- O presidente da Empresa de Tecnologia da Informa- Nova, Horizonte e Quixeramobim. “Já perdemos essa
nheiro hoje está que a operação de subven-
vimento Industrial (FDI), e ção do Ceará (Etice), Fernando Carvalho, responsável oportunidade. A velocidade de 10 Gbps é como se as
escutando a ção foi inserida no rol das serão operados pela Funda- pelo lançamento do edital, argumenta que a Schahin pessoas tivessem realmente a opção de banda larga ili-
conversa. O FIT prioridades de investimen- ção Cearense de Apoio ao apresentou todos os certificados de que lançou parte mitada. É uma tecnologia nova (DWDM, que aumenta a
acumulava R$ 7 milhões até o tos do governo, conhecidas Desenvolvimento Científico dos cabos da Copel, a Companhia Paranaense de Ener- capacidade de transmissão em uma fibra óptica)”, diz o
ano passado, numa conta no pela sigla MAPP (Monitora- e Tecnológico (Funcap), via gia. “A Copel tem uma rede de fibras muito mais comple- presidente da Etice.
editais. xa do que o Cinturão Digital. A segunda colocada colocou “Com a demora, perde o governo e o interesse pú-
Bradesco da Secretaria da Fa- mento de Ações e Projetos
um preço R$ 7,3 milhões acima da empresa vencedora”, blico”, lamenta Fernando Carvalho. “Esse é um recurso
zenda e jamais foi usado. Prioritários).

2 ciência &tecnologia / junho de 2009 junho de 2009 / ciência &tecnologia 3


Internet Internet
financiado pelo Banco Mundial, que tem Serviço público

Malha DIGITAL
metas a serem cumpridas. Se o governo
não cumpre a meta, fica mal posicionado face
ao Banco Mundial, o que é um prejuízo para o Estado
em empréstimos futuros”.

3.500 KMs de fibra. O Cinturão Digital é um dos pro-


jetos elegíveis do Projeto de Crescimento Integrado
vai integrar escolas, fiscalização, segurança,
(SWAp) financiado pelo Banco Mundial já assinado
com o governo do Ceará no total de US$ 240 milhões.
saúde, TVs e telefonia por internet
O desembolso das duas primeiras parcelas de US$
74,09 milhões está previsto para julho. Ensino a distância, televisão digital, TV por internet, telefonia por internet e telemedicina são alguns dos serviços
A demora não arrefeceu o ânimo da Etice, que, a serem possibilitados pelo Cinturão Digital, no Ceará, que vai integrar todas as escolas e órgãos públicos
segundo Carvalho, já está com o projeto pronto para estaduais por banda larga. A malha de fibra óptica terá aplicações no sistema de fiscalização da Secretaria da
ampliar em mais de 500 quilômetros a malha de fibra Fazenda e na inclusão digital, mas também na segurança pública ao conectar os computadores a bordo das
óptica do Cinturão Digital, além dos quase 3 mil quilô-
viaturas policiais do Ronda do Quarteirão. Veja a seguir os benefícios agregados com a tecnologia do cinturão.
metros do projeto inicial. Com a expansão, ele assegura
que a cobertura chegará a 96% da população urbana
do estado. “No Brasil, não existe nenhum Estado com
essa infraestrutura”, assinala.
“Este projeto existe porque o governador Cid Go-
mes tem interesse, conhece e sabe a importância para net). Com isso, o governo terá uma rede própria. Todo
o desenvolvimento. É provado cientificamente que traz serviço de telefonia irá funcionar em cima dessa base.
desenvolvimento”, afirma o titular da Etice ao enfatizar Assim, a ligação de um ramal em Fortaleza para um
que a iniciativa partiu do governador e ninguém preci- celular em Sobral paga uma ligação local de Sobral. A
sou convencê-lo sobre o projeto. voz vai até o município pela rede interna e chega lo-
Ainda este ano e no início de 2010, o governo deci- calmente ao telefone na cidade. Se do mesmo
diu instalar nas maiores cidades um sistema de aces- ramal a pessoa disca para um telefone TIM
so à Internet por onda de rádio (Wimax) com ligações em Sobral, a ligação é tarifada como local
na velocidade de até 70 Mbps. A tecnologia consiste de um número TIM para outro da mesma
na instalação de antenas em ponto alto, que transmi- companhia. O mesmo ocorre com outras
tem o sinal de internet sem fio para um raio de alguns operadoras.
quilômetros em torno na cidade. No exterior, a pessoa pode entrar na rede
(fazer login) e falar com um telefone fixo ou
celular para algum ponto na rede cea-
rense. “Acabou-se conta de DDD,
Investimento público, custeio privado Ensino a distância acabou-se conta de DDI. Todas as
Pelo Cinturão Digital, vai integrar numa mesma aula ligações internas são gratuitas”,
Modelo de negócio é para acesso de todos diversas salas de videoconferência ou alunos em casa,
mesmo que estejam em cidades diferentes. Em tempo
assinala Fernando Carvalho.
A tecnologia vai reduzir em 40% o gas-
O acesso à internet comercial no Brasil, em com- e outros interessados, segundo ele, em agosto serão real, o professor é visto e ouvido, vê e ouve os alunos e to com telefonia do governo — R$ 30 milhões
paração com os países desenvolvidos, é caro e ruim. reunidos num workshop financiado pelo Banco Mundial eles interagem como se estivessem numa sala de aula. por ano — “na pior das hipóteses, sendo pessimista”.
Em Fortaleza, a conectividade privada também se dá a para discutir o modelo de negócio do Cinturão Digital. A ferramenta abre um novo horizonte para qualifica- Para Carvalho, se somar a economia de R$ 12 milhões
preço alto e com velocidade limitada. Mas, no interior A difusão do celular é citada como parâmetro obje- ção e capacitação e oferece oportunidade para ampliar por ano com telefonia com a redução que vai ter no
do Ceará ainda é pior. Tudo irá mudar com a chegada tivo a ser alcançado pelo Cinturão Digital. “Queremos a ação efetiva da educação além do limite hoje posto serviço de dados, o investimento no Cinturão Digital se
da fibra óptica estatal do Cinturão. De acordo com que o preço caia e todos possam comprar”, compara pelo déficit de professores. “O ambiente de sala de aula paga em dois anos.
Fernando Carvalho, através de um leilão, o governo vai Carvalho. A cobertura, todavia, deve ser maior, pois interativa é uma revolução para o Estado do Ceará que
fazer concessão às empresas interessadas em prestar terá de incluir, também, as pessoas que vivem abaixo tem carência de professor. Pode levar o conteúdo para TV Digital
serviço para uso dessas fibras no interior. da faixa de pobreza – acrescenta. qualquer escola do Ceará sem nenhum problema, de As emissoras de TV vão ter no Cinturão Digital uma
“O governo fez o investimento inicial, entrou com ca- altíssima qualidade e com redundância, com confiabi- alternativa ao satélite para transmissão sem o risco de
pital, mas não vai entrar com o custeio. A empresa que Redução nos custos do monopólio lidade. Não é uma coisa que vai ficar caindo todo dia’, perda de qualidade quando fica nublado e o sinal não
quiser prestar o serviço no interior como contrapartida Conforme levantamento da Etice, apenas cinco muni- observa Carvalho. pega muito bem. Por outro lado, a fibra óptica possibili-
vai dar a manutenção da fibra”, observa Carvalho. As cípios do Ceará oferecem internet de banda larga na ta a TV por IP. “Qualquer pessoa pode gerar o seu con-
empresas de telefonia fixa e móvel, os pequenos pro- velocidade de 1 a 2 Mbps. No ambiente de monopólio Telefonia IP teúdo. Pode virar uma estação de TV e gerar para quem
vedores de acesso a Internet, associação de usuários, existente, o custo é alto, é baixa a velocidade de aces- Torna possível fazer transitar voz empacotada digi- quiser pela internet mas com alta definição”, assinala
Associação de municípios e Prefeitos do Ceará (Aprece) so e as tecnologias são ultrapassadas. talmente através da tecnologia de (protocolo de inter- Fernando Carvalho.

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Fórum/
Internet Internet Brasília

Tecnologia 3g Segurança pública primeira motivação para o CED a questão da Univer-


No Ronda do Quarteirão, o acesso à viatura policial sidade Aberta do Brasil (UAB). Quer adotar o modelo
A terceira geração de celulares que possibilita o
acesso de dados pelo telefone celular hoje só está dis- que hoje é feito por rádio móvel , vai ser feito por velo- semelhante do Centro de Ciência e Educação Superior Cinturão Digital é o
cidade altíssima. “O Ronda deve ganhar muito quando a Distância do Estado do Rio, o Consórcio Cederj, que
ponível em Fortaleza, Sobral e no Cariri. Não foi coloca-
da em todas as cidades porque requer alto investimento cada viatura se tornar um nó da rede. Quem vai geren- envolve universidades daquele estado em articulação elemento estruturante
das operadoras. Mas com a chegada do Cinturão Digital ciar a rede de viaturas é a própria viatura”, informa Fer- multiinstitucional.
nando Carvalho. O CED terá também o papel de aglutinar, incenti- O CED terá como ponto de partida a unificação das ações em Educa-
nas cidades, as operadoras poderão oferecer em parce- ção a Distância, já desenvolvidas e em desenvolvimento no Ceará.
ria serviço de 3G através da fibra. var, produzir e executar projetos e programas de EAD
orientados para os programas de formação e qualifica- Para efetiva implantação da modalidade na educação profissional
Universalização da telefonia celular e tecnológica, serão aproveitadas a infraestrutura e capacidade já
ção profissional, educação profissional e tecnológica de
Telemedicina e telesaúde Com o Cinturão Digital cairá o custo para fazer che-
nível médio e superior do Instituto Centec e das insti- instalada, tendo como elemento estruturante o Cinturão Digital.
A malha vai poder interligar hospitais, centros de gar o serviço das operadoras em cidades do interior do A iniciativa vai envolver ainda as unidades dos Centros Voca-
Ceará, onde não chega o sinal do celular, pois as em- tuições parceiras. Outros objetivos são preparar cursos
saúde e salas de videoconferência no interior e Forta- cionais Tecnológicos (CVTs), Centros Vocacionais Técnicos (CVTecs),
presas acham que não compensa investir em peque- e materiais didáticos; desenvolver cursos na área de
leza para programas de capacitação e qualificação. A Faculdades Tecnológicas (Fatecs) e Núcleos de Inovação Tecnológica
nos mercados. O governador e o secretariado realizam educação profissional e tecnológica, bem como a ca-
infraestrutura abre espaço para consulta a distância, (NITs) do Centec. No âmbito do IFCE, envolve todos os campi, os 10
encontros do governo itinerante em municípios do inte- pacitação de professores, utilizando as diversas mídias
segunda opinião médica, prontuário eletrônico, monito- núcleos avançados, os Centros de Inclusão Digital (CIDs) e os dois
rior isolados de acesso a celular, drama cotidiano dos (Internet, rádio, TV, videoaulas, material impresso, mul-
ramento de sinais vitais e o envio de exames complexos NITs do IFCE.
moradores. timídia e hipermídia, videoconferência, teleconferência
que podem ser analisados por especialistas em Forta- Além disso, vai interagir com os pólos de apoio presencial
e realidade virtual).
leza. Vai atender o agente de saúde, pessoal auxiliar dos Programas Escola Técnica Aberta do Brasil (e-Tec Brasil) e
Cabe ainda ao CED a geração e recepção de tele e
de enfermagem, enfermeiros, médicos, gestores, todos Fazenda videoconferência; prover estrutura de apoio e suporte Universidade Aberta do Brasil (UAB) e demais instituições públicas
profissionais da saúde. Conforme Carvalho, hoje o Cea- Todos os postos da Secretaria da Fazenda no interior e privadas (Sistema S) que desenvolvem programas de formação e
aos alunos (laboratórios, suporte técnico, tutoria); re-
rá usa uma rede de Minas Gerais para fazer telemedici- vão estar automatizados e conectados à sede pela rede qualificação profissional em diversos níveis na modalidade presencial
alizar planejamentos, operacionalização e capacitação
na porque não tem a sua infraestrutura. de alta velocidade para fazer rastreamento de cargas. e a distância. “O CED exercerá uma função capitalizadora e terá como
das equipes para implantação de sistemas de gestão
de EAD (pedagógica, tecnológica, administrativo-finan- objetivo a produção e difusão de conteúdos e aplicativos em diversas
ceira, recursos humanos). Irá também planejar e execu- mídias”, define o presidente do Instituto Centec, Samuel Brasileiro.

Sobral
tar o marketing e logística de atendimento às unidades De acordo com Brasileiro, o governador Cid Gomes definiu
remotas; implantar a infra-estrutura física, tecnológica, que o CED será vinculado ao Instituto Centec. Com a fibra óptica,
administrativa e pedagógica necessárias; adquirir, ins- Fernando Carvalho observa que onde os colaboradores do CED

Ganha centro de inclusão digital


talar e fazer a manutenção dos equipamentos no CED e estiverem, vão poder contribuir.
nas unidades remotas.

Ensino Tecnológico
U
m Centro de Educação a Distância (CED) será CED — um nó do Cinturão Digital — vai ser a infraestrutu-
construído em Sobral com orçamento de ra encarregada da produção, distribuição e repositório

Vazio da extensão em
R$ 20 milhões no terreno do Campus Ci- de conteúdos, com tecnologia e pessoal especializado,
dao, atrás do Instituto Federal de Educação salas de videoconferência e estúdio de TV. Tem como
(IFCE). O investimento inclui equipamentos, instalações objetivo desenvolver, prover suporte, geração e recep-
e obras. O projeto de arquitetura será concluído em ju-
nho para a licitação da empresa responsável pelos ser-
viços de construção. O Departamento de Edificações e
ção de atividades de Educação a Distância (EAD) para
viabilizar o ensino, a pesquisa e a extensão em todos os
níveis de ensino e áreas do conhecimento.
debate na Câmara Federal
Rodovias (DER) já fez a pré-habilitação das empresas e “Mais importante do que a edificação, é a discus- Ministérios da Educação, Trabalho e Ciência e
no final de junho foram abertos os envelopes. são feita em torno do Centro”, assinala a secretária ad- Tecnologia firmam protocolo de apoio e alocação
A concepção do Centro de Inclusão Digital é de au- junta da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação de recursos para o financiamento
toria do deputado federal Ariosto Holanda (PSB-CE), que Superior do Ceará (Secitece), Teresa Mota. Em parceria
viabilizou recursos por meio de emenda parlamentar. O com a Secretaria de Educação, a Secitece traz como
“h á um vazio muito grande nas ações de
extensão no âmbito dos Institutos Federais”.
A observação é do reitor do Instituto Federal
de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará
(IFCE), Cláudio Ricardo Gomes de Lima. Para ele, existem
iniciativas isoladas e, via de regra, não há mecanismo
de financiamento da extensão. “Há uma carência da
chamada extensão tecnológica, própria de uma rede
Deputado Ariosto Holanda e Reitor do IFCE, Cláudio Ricardo como esta, que atua em todo o país, está presente em

6 ciência &tecnologia / junho de 2009 junho de 2009 / ciência &tecnologia 7


Fórum / Brasília Video
conferências

“O objetivo do
Universidade Aberta
todos os estados e com uma grande e Tecnologia, do Desenvolvimento
capilaridade no interior”, afirma. Social e do Combate à Fome e
Para tratar do assunto, todos Fórum foi chamar do Desenvolvimento Agrário. Eles
os 38 Institutos Federais (IFs) do também participaram do Fórum,
a atenção para
país assumiram compromisso
de participar do Fórum Extensão
Tecnológica dos Institutos Federais
esta falta de
para traçar, com a rede dos Institutos
Federais, um programa de extensão
tecnológica para o país.
encurta distâncias na educação superior
Nordeste concentra maior distribuição da UAB com 177 pólos. Rede nacional é voltada
— O Conhecimento Tecnológico a capacitação Proposto por Ariosto, do Conselho para a pesquisa e novas metodologias de ensino na Educação Superior
Serviço da Cidadania, realizado no
dia 7 de julho, no auditório Nereu
tecnológica da de Altos Estudos e Avaliação
Tecnológica da Casa, o evento da
Ramos, da Câmara Federal. Na população Câmara foi organizado pelo Conselho
ocasião, o ministro Sergio Rezende, das Instituições da Rede Federal
da Ciência e Tecnologia; Carlos Lupi, de Educação, Ciência e Tecnologia
do Trabalho e Eliezer Pacheco, secretário de Educação (Conif) e pelos secretários Joe Valle, de Ciência e
Tecnológica do Ministério da Educação, assinaram o Tecnologia para Inclusão Social, do Ministério da
protocolo de intenção dos três Ministérios que define Ciência e Tecnologia; Eliezer Pacheco, pelo Ministério da
um programa de extensão com compromisso de Educação, e Ezequiel Nascimento, de Políticas Públicas
alocação de recursos. e Emprego do Ministério do Trabalho.
“O objetivo do Fórum foi chamar a atenção para Em paralelo ao encontro, foi realizada na Câmara
esta falta de capacitação tecnológica da população e uma mostra mostra fotográfica do Centenário dos

O
s cursos universitários da Universidade Aberta dobrou o número em 2007 e chegou a 26 pólos em
observar de que modo a extensão tecnológica praticada IFs e mostra discente da Rede Federal de Educação
do Brasil (UAB), do Ministério da Educação, 2008. Todos os pólos da UAB receberam do Ministério
nos IFs pode interferir nesse problema e ajudar, criando Profissional Científica e Tecnológica, organizada
chegam a 13 municípios do Ceará por meio das Comunicações antenas Gesac, que tem conexão de
um grande programa de extensão em nível federal”, diz pelo Ministério da Educação. Para a ocasião, o
das salas de videoconferência dos Centros 2 megabits com a Internet para transmissão do sinal de
Cláudio Ricardo. Ministério da Ciência e Tecnologia organizou um
Vocacionais Tecnológicos (CVTs), ministrados pelas videoconferência.
O reitor acrescenta que existem muitos ministérios Balcão da Inclusão.
Universidades Federal (UFC) e Estadual (Uece) e Instituto As inscrições para o vestibular são feitas on line e
a financiar programas voltados para extensão. “Mas Participaram da abertura do Fórum o presidente da
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE). É o caso as provas realizadas em cada pólo, de modo unificado
esses programas não se comunicam entre si, o que leva Câmara, Michel Temer, o presidente do Conselho de Altos
de Beberibe, Brejo Santo, Jaguaribe, Missão Velha, Piquet para todo o Ceará — 50% da vagas são destinadas a
em algumas situações à superposição de esforços”. Estudos, Inocêncio de Oliveira, a titular da Comissão de
Carneiro, Aracati, São Gonçalo do Amarante, Maranguape, professores da rede pública. A metodologia dos cursos
Diante disso, Cláudio Ricardo lembra que o deputado Educação e Cultura, Maria do Rosário, o presidente da
Jaguaribe, Barbalha, Aracoiaba, Russas e da Faculdade de inclui 20% de aulas na modalidade presencial e 80% via
Ariosto Holanda (PSB-CE) articulou uma reunião Comissão de Ciência e Tecnologia, Eduardo Gomes e o
Tecnologia Centec (Fatec) de Quixeramobim, que têm pólos web, sendo a avaliação feita em 40% por atividades on
com os ministérios da Educação, Trabalho, Ciência reitor Paulo César Pereira, presidente do Conif.
municipais da UAB com cursos de educação superior. line e 60% pelo modo presencial.
Com exceção de Russas, que tem um CVT municipal, A UAB no Ceará também ministra cinco cursos de
os demais pertencem ao Instituto Centro de Ensino pós-graduação: avaliação do aprendizado discente,
Ariosto Holanda Tecnológico (Centec). No Ceará, em 2008, os 13 pólos tecnologias digitais na educação, formação de

PROJETO CRIA FUNDO PARA GARANTIR


da UAB tinham 1.326 alunos, mas já somam 2.441 este professores e técnicos administrativos da escola,
ano. Alguns Pólos de Apoio presencial já não tem espaço técnicas e métodos para favorecer a alfabetização e
para receber novos alunos. Com 177 pólos, o Nordeste é a ensino de ciências e matemática.
CAPACITAÇÃO DO TRABALHADOR região que concentra maior distribuição da UAB, seguida
do Sudeste com 155 unidades, do Sul com 97, do Norte
“A UAB é a melhor estratégia para interiorização da
Educação Superior. Por isso, o MEC está investindo”, diz
com 85 e o Centro-Oeste com 46. o secretário da Ciência, Tecnologia e Educação Superior
O projeto de lei 7394, de autoria do parlamentar A UAB é uma rede nacional voltada para a pesquisa do Ceará (Secitece), René Barreira. Segundo ele, há
cearense, propõe a criação do Fundo de Extensão e novas metodologias de ensino na Educação Superior, carência de professores com licenciatura nas áreas de
da Educação Profissional, para estabelecer um fluxo instituída pelo Decreto 5.800, de 8 de junho de 2006. No ciência, e faltam candidatos nos concursos abertos pela
de recursos estáveis para financiar as atividades Ceará, o primeiro edital em agosto de 2.007 ofertou 24.821 Secretaria de Educação para as áreas de Física, Química,
de capacitação do trabalhador. A matéria já foi vagas da UFC e 6.060 vagas do Cefet, atual IFCE. Pela Biologia e Matemática.
aprovada pela Comissão de Educação e pela modalidade a distância, os alunos cursam bacharelado A Secitece é o órgão mantenedor dos Pólos
Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, e em Administração, licenciaturas em Matemática, Química, Estaduais de Apoio Presencial dos cursos de educação
tramita na Comissão de Finanças e Tributação Letras/Português, Letras/Inglês, Física, Hotelaria, Ciências superior na modalidade a distância, em parceria com
da Casa. O Fundo seria constituído por 5% do Biológicas, Educação Básica e Informática. o Programa da UAB. São instituições certificadoras, a
Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Também recebem cursos da UAB os municípios de UFC, a UECE e o IFCE. “Os pólos estaduais da UFC, UECE
Tecnológico (Fndct) e 1,5% do Fundo de Apoio ao Tauá, Ubajara, Quixadá, Caucaia, Ipueiras, Itapipoca, e IFCE são coordenados pelo Instituto Centec”, informa
Trabalhador (FAT), o que soma cerca de R$ 500 Fortaleza, Meruoca-Sobral, Orós e Quiterianópolis. O Samuel Brasileiro, presidente desta organização social
milhões por ano. programa começou no Ceará com sete pólos em 2006, vinculada à Secitece.

8 ciência &tecnologia / junho de 2009 junho de 2009 / ciência &tecnologia 9


Video Interligação
conferências
IFCE-UAB
20 anos
Estrutura para ensino do futuro e
alunos em progressão geométrica
Sem preconceitos
CURSOS SEMIPRENSENCIAIS
SÃO MELHOR AVALIADOS
Os cursos da UAB são semipresenciais, explica Cláu-
dio Ricardo. Além da parte a distância, o IFCE orga-
niza laboratórios móveis sobre carreta para atividade

CEARÁ PARTIU NA FRENTE COM


prática dos cursos. “Nosso grande diferencial é esse
equilíbrio entre teoria e prática. Na nossa avaliação,
como preconiza o pre-
sidente da Capes, que
é um cientista com INFOVIAS, CVTs, CENTEC
boa visão de futuro,
esse é um dos cami-
Temos no país
Jorge Guimarães, presidente da Capes nhos para o Brasil
criar atalhos neces-
um contingente O reitor do IFCE Claudio Ricardo, avalia que o proje-
to Cinturão Digital vai trazer um grande avanço para os
centralizar o que hoje está concentrado na capital.
O presidente da Capes comentou que muitas gran-

“E ste é o futuro da Educação no Brasil”, disse


o presidente da Coordenação de Aperfeiço-
sários para atender a
essa enorme deman-
de 85 milhões de processos educacionais, a partir da interligação dessa
estrutura com o Centro de Educação a Distância. “É um
des universidades não tem a estrutura do campus do
IFCE em Limoeiro do Norte, que foi absorvido de uma
amento de Pessoal de Nível Superior Capes,
Jorge Guimarães, em recente visita ao nú-
da reprimida”, assina-
la o reitor.
pessoas analfabetas programa revolucionário. O governador faz um grande
centro contíguo ao campus do IFCE em Sobral, que vai
Faculdade de Tecnologia (Fatec) do Instituto Centec,
vinculada ao Governo Estadual, hoje federalizada. Na
cleo da Universidade Aberta do Brasil, em Limoeiro do
Norte, ao posar para fotografia diante da marca institu-
“Temos no país
um contingente de
funcionais. Muitas produzir várias mídias, concentrar pesquisas e esforços
para o desenvolvimento dessa modalidade de ensino
ocasião, os professores manifestaram a Jorge Guima-
rães o desejo de apresentar à Capes uma proposta de
cional. Com o reitor do IFCE, Cláudio Ricardo Gomes de
Lima, o deputado Ariosto Holanda (PSB-CE) e o superin-
85 milhões de pesso-
as analfabetas fun-
delas não tem mais no Estado”, avalia.
Para o reitor, o Ceará há 20 anos partiu na frente
mestrado para o Interior na área de Alimentos, em que
o campus tem expertise, e para fortalecer o pólo de
tendente do Instituto Atlântico, José Eduardo Martins,
ele conheceu também o campus do IFCE no município.
cionais. Muitas delas
não tem mais tempo
tempo de ir para a quando o deputado Ariosto Holanda criou as Infovias do
Desenvolvimento e todo esse sistema de CVTs e Centec,
fruticultura da região do Jaguaribe. “A melhora da for-
mação local dá mais condições de sustentabilidade a
O IFCE participa da UAB com os cursos de nível su-
perior em Matemática e Hotelaria, sendo um dos 10 IFs
de ir para a escola”,
diz Cláudio Ricardo. “A
escola que estavam interligados por meio da videoconferência
numa visão futurística muito aprofundada. “Agora, ela
esses projetos”, raciocina o reitor.

do país e das universidades federais autorizados a admi-


nistrar cursos pela universidade. Na nova estrutura de
educação a distância
é um atalho importan-
está tomando uma dimensão maior que hoje as pesso-
as consideram muito relevante”, acrescenta. 3O MIL PROFESSORES
IFCE, foi criada uma Diretoria Sistêmica de Educação a
Distância. A área cuida da UAB, hoje com cerca de mil
te. Do ponto de vista legal, tem a mesma validade
dos cursos presenciais. Do ponto de vista efetivo, os
Em Limoeiro do Norte, foi pedido a Jorge Guimarães
um programa de bolsas para apoiar o programa de ex- EM CINCO ANOS
alunos atendidos pelo Instituto no Ceará, e com o pro- cursos a distância estão sendo até melhor avaliados tensão do IFCE no contexto da modernização da agên- A parceria da Capes com o IFCE vigora
grama Escola Técnica Aberta do Brasil, a versão da UAB do que os cursos presenciais, compara. cia de fomento, que adota um novo enfoque social, no ainda no atendimento à meta de formar nos
para o ensino técnico, hoje com 800 alunos pelo IFCE. Cláudio Ricardo diz não ver razão para precon- qual a extensão tem um espaço. O presidente da Capes próximos cinco anos 30 mil professores para
Por meio da Escola Técnica Aberta do Brasil, o IFCE ceitos em relação aos cursos a distância. “É uma visitou o CID de Córrego de Areia, que fica ao lado da Es- as áreas de ciência – Física, Química, Biologia
oferece cursos de edificações, eletrotécnica, informáti- vertente que veio para ficar com a contribuição das cola de Ensino Fundamental Antonio de Castro Pereira e Matemática – onde há carência de 330 mil
ca e segurança do trabalho pelo IFCE. “A tendência é novas tecnologias de comunicação, internet, infor- e o NIT de Limoeiro do Norte. professores no país. “Temos o compromisso de
ampliar significativamente os cursos a distância. A pro- mática”. Além de ministrar os cursos na modalida- “O projeto de extensão visa atrair de forma gradual auxiliar como uma política pública na formação
gressão de aumento de alunos é praticamente geomé- de, a estrutura criada no IFCE visa desenvolver tec- jovens dos rincões a ir tomar os primeiros contatos com desses professores. No texto da lei que cria os
trica”, avalia o reitor ao informar que pretende ampliar nologias e pesquisar a melhor forma de ministrar a educação tecnológica, a divulgação da ciência, para IFs, está estabelecido que 20% das vagas serão
a oferta dos cursos da UAB. “O grande foco da UAB é a cursos a distância, com plataforma, material didá- assim poder proporcionar um caráter formativo, a con- destinados à formação de professores para as
formação de professores, uma carência muito grande tico e metodologias, num programa nacional com tinuidade dos estudos com formação técnica, inclusão áreas de ciências”, informa o reitor.
para o país hoje”, observa. pesquisadores nessa área. digital”, diz o reitor. Para ele, esta é uma rota para des-

10 ciência &tecnologia / junho de 2009 junho de 2009 / ciência &tecnologia 11


Desafio Por Cláudio Ricardo
Gomes de Lima
Reitor do Instituto Federal
de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará

Expansão do Ensino
Profissional e Tecnológico
A
ampliação da oferta de vagas, contratação municípios, entrarão em funcionamento os núcleos avan-
e capacitação de profissionais e liberação çados do IFCE, permitindo projeção de 21 mil matrículas
de recursos constituem-se investimentos até 2010.
fundamentais na melhoria do processo edu- Outro aspecto desta expansão remete à criação de
cacional no Brasil. Este desafio vem 39 Centros de Inclusão Digital e dois
sendo enfrentado pelo Governo Fe- Núcleos de Informação Tecnológica,
deral como uma de suas prioridades, Os novos 38 Institutos com o objetivo de proporcionar capaci-
haja vista que o Brasil, na educação, tação para a população de baixa renda,
acumula uma enorme dívida social Federais, organizações além de propiciar a popularização da ci-
com o seu povo, sobretudo com as ência e realização de atividades sócio-
populações mais carentes. inovadoras, principalmente culturais de interesse dos municípios
Notoriamente, a expansão da cearenses e seus distritos.
educação profissional e tecnológica, do ponto de vista político- Desta forma, a criação do IFCE
promovida pelo Governo Federal, em chega no momento em que o Estado
parceria com os Estados e Municí- pedagógico, possibilitarão começa a atrair grandes projetos es-
pios, como a recente implantação truturantes, tais como a implantação
dos Institutos Federais de Educação, a maior expansão da rede da refinaria e da usina siderúrgica, a
Ciência e Tecnologia (IFs), é um exem- exploração das minas em Itataia e a
plo das ações de enfrentamento des- com a expectativa de instalação de usinas de biodiesel. Para
te desafio. a consolidação de tais empreendimen-
Os novos 38 Institutos Federais, atendimento a cerca de tos, a educação profissional e tecnoló-
organizações inovadoras, principal- gica é fator decisivo, bem como para
mente do ponto de vista político- 1 milhão de alunos a sustentabilidade deste processo de
pedagógico, possibilitarão a maior desenvolvimento.
expansão da rede federal de educação profissional e Consequentemente, a criação e expansão do Institu-
tecnológica, com a expectativa de atendimento a cerca to Federal do Ceará ocorrem articuladas a essas e outras
de 1 milhão de alunos nessa modalidade de ensino. políticas públicas, evidenciando sua capacidade de con-
No Ceará, a nova instituição (IFCE) conta, no momen- tribuição com o cenário de desenvolvimento do nosso
to, com nove campi localizados estrategicamente em For- Estado, assegurando sua importância na excelência do
taleza, Cedro, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Limoeiro do ensino e na formação de novos profissionais do mundo
Norte, Sobral, Quixadá, Crato e Iguatu e outros três em do trabalho, fortalecendo o processo de inserção cidadã
implantação (Acaraú, Canindé e Crateús). Em outros dez de milhares de jovens no Nordeste.

Wilton Bezerra Júnior Editor Executivo n editor@editoraassare.com.br n wiltonbezerrajr@hotmail.com- wiltonbezerrajunior@gmail.com


Marcel Bezerra Diretor Editor Adjunto n marcel@editoraassare.com.brFlamínio Araripe Editor Adjunto de Ciência e Tecnologia n editor@editoraassare.com.br

Apoio Técnico Centro de Pesquisa e Qualificação Tecnológica – CPQT


Diretor-Executivo Edson da Silva Almeida
Colaboração Assessoria de Comunicação Social do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFET) / Jornalista Marlen Danúsia

Editora Assaré Ltda ME - Rua Waldery Uchôa, 567 A n Benfica, Fortaleza, Ceará n CEP: 60020-110
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existente ou que venha a ser criado. o caderno de ciência &tecnologia é uma parte integrante da revista Nordeste VinteUm e não pode ser vendido separadamente

12 ciência &tecnologia / junho de 2009


Pintura a óleo sobre tela do artista plástico Mino Castelo Branco
a diferença entre seu veículo
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