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caderno especial A
partir desta edição
Economia Solidária
Região ensina o que fazer
pelos excluídos do crédito
R$ 9,90
Pouchain
exílio.” Betinho, sociólogo
Metade da humanidade não
come; e a outra metade não dorme, “O Josué, nunca vi
com medo da que não come” tamanha desgraça.
Quanto mais miséria
tem, mais o urubu
“Sou fascinado por ameaça...”
Josué de Castro “...tem que saber
como pelos profetas, seguir o leito, tem
especialmente que estar informado,
Jeremias. Devo a ele tem que saber quem
o conceito de que é é Josué´de Castro,...
um crime contra a humanidade ver gente passando rapaz!””
fome. Josué tinha a cabeça lúcida e o coração Chico Science, músico e compositor
generoso. Foi às raízes da fome e apontou as soluções”
Dom Mauro Morelli, bispo emérito de Duque de Caxias (RJ)
“Josué é uma das pessoas que
“Um dos traços fundamentais de Josué eu mais admirei. Eu digo
de Castro era a sua clarividência. A mesmo que Josué é o homem
clarividência é uma virtude que se mais inteligente e mais
adquire pela intuição, mas sobretudo brilhante que eu conheci.”
pelo estudo. É tentar ver a parte do
“... o diabo é que me dava
presente que se projeta no futuro.”
Milton Santos, Geógrafo
uma inveja enorme - Josué
era brilhante em todas as
línguas... Incrível!” “... mas,
“Antes de qualquer um de isso, do intelectual mais
nós falar em fome, ele já
dizia que era preciso criar
eminente do país, a figura
uma política de renda mais importante do território
mínima para garantirmos brasileiro, a mais visível...
que todos tivessem o direito esse, ser levado à morte em
de comer e de sobreviver” tristeza, querendo vir...”
Lula Darcy Ribeiro, antropólogo
Junho/2009 5
Nordeste VinteUm
Carta do Editor
Sumário
CiêNCia&TeCNol
CaderNo esPeC ogia
a ParTir desTaial
Economia Soli
ediçã
P
or séculos, o fado nordestino tem sido sonhar Em dois meses, uma verdadeira aragem de vitalidade
com prosperidade e acordar atarantado pelos e ousadia. Em plena saudação. A transcender as cenas
espectros da sua própria miséria. Eterna parece jornalísticas local e regional. Afinal, já fazemos sucesso
Cultura
Mangabeira Ung
er:
32
Josué de Cast
ser a luta da região na tarefa de se equilibrar das verti- em Brasília e até em São Paulo. E, porque não mencio-
“Nordeste precis
se rebelar!”
a Persistência onde ro e Fome:
mais falta educa
nordeSte, Século
ção
42
gens do seu arraigado subdesenvolvimento. nar, até o talo de orgulho, como fomos tratados ao nível Sonho e deSpertar XXi
Embora a gente do lugar nunca se quede em defini- da “grata surpresa”, atestada e manifestada por quem Sem fim pelo deSenvolvi
mento
tivo ante as forças do atraso, um certo complexo de in- faz o cotidiano do pensamento sobre o Nordeste? José Cruz_Abr/Centro Josué de Castro
ferioridade e derrotismo, às vezes, quer se aplacar sobre Assim, aconteceu nas dezenas de e-mails, cartas, Caatinga A reforma de
consciências empreendedoras menos providas de capa- entrevistas, telefonemas, editoriais e notas de jornais,
cidade financial. rádio e televisão, bem como nos contatos, visitas téc- Conheça o bioma um mecenato
Isso acontece de maneira contumaz naqueles nichos nicas, institucionais e de cortesia em órgãos como brasileiro em risco desigual
de capitanias que não deram tão certo. Aonde iniciati- universidades, faculdades, autarquias, empresas pú- de desertificação
vas, projetos e negócios inovadores acabam vindo à luz blicas e privadas, centros de pesquisa, parlamentos Seções
natimortos, porque prevalecem de pancada o inexorável estaduais e municipais.
ceticismo político, a desconfianças dos regionalismos Estreamos com a coragem e a cara de quem acredita 20. Caleidoscópio
exclusivistas e o “pobrismo” das idéias.
Expressões conceituais como “perspectivas de de-
que confiar em si mesmo é o primeiro segredo do êxi-
to, da sobrevivência. Assim como o sertanejo, órfão das
50. Saberes&Sabores
senvolvimento sustentável”, por exemplo, ainda pas-
sam longe da semântica anacrônica de setores cujo úni-
políticas de Estado e de governo, que nem por isso dei-
xa de empreender e inovar. Ser antes de tudo um forte,
62. Ateliê Fome Projeto
co dialeto possível é o da “naturalização de misérias”.
Da perpétua negação de vez e voz a quem nasce pobre.
como descreveram Euclides da Cunha, em Os Sertões,
e Graciliano Ramos, em Vidas Secas. Resistindo e mor-
Nordeste
Sem dinheiro para bancar as primeiras “letras”.
Aqui, entre nós: é revoltante, porém inegável a persis-
tência de mitos e verdades, ora em mistura, ora em alter-
nância implacável, na conspiração pelo malogro de um
rendo, morrendo e resistindo, como o Rio Jaguaribe. Do
Ceará, de Demócrito Rocha.
Agradecidos, inclusive para quem duvidou em al-
gum instante, temos o prazer de levar às suas mãos
Artigos
39. Sobre a “feiúra”
da Caatinga
08
Josué de Castro
22
Mangabeira Unger
novo veículo de comunicação nessas bandas do Brasil. o segundo número da nossa revista. É da cepa deste Maria Tereza Jorge Pádua flagelo persiste por desenvolvimentismo
Em nosso meio, o exíguo lastro regional na forma- bando de filhos de retirantes do interior cearense e falta de educação volta a marcar passo
ção de competências técnico-profissionais e a ausência até de Toledo, no Paraná e Caçador, Santa Catarina. 48. A descaracterização do
de políticas públicas em conjunções sócio-econômicas Todos metidos a jornalistas, designers e administra- mecenato e a regionalização
e culturais favoráveis a qualquer surto de atrevimen- dores, mas com valentia talento e honestidade de de recursos
to empreendedor, por exemplo, ainda teimam em soar propósitos. Aptos a desvendar-lhes nesta edição: a Ubiratan Aguiar
como critérios de pronto descrédito e exclusão. exuberância da caatinga, os “sonhos insurrecionais”
Tudo a perpassar e prejudicar nossos ambientes já de Mangabeira Unger, a atualidade do cientista per- 60. Ruídos no Andar de cima
tão castigados pelas hostilidades do clima e do tempo, nambucano Josué de Castro, os desequilíbrios da Luiz Carlos Antero
pelos descasos da história. Mas, isso são outros 500 política cultural brasileira, as lições de economia
anos. E, na contramão do conteúdo dessas leituras de solidária do Nordeste, os avanços da ciência e da Instante
contextos, eis que surgiu em nosso mercado gráfico- tecnologia na região e muito mais. Confira e cresça
40 52
editorial a Nordeste VinteUm. junto com a Nordeste VinteUm.
Fome Persiste.
assunto. Não à toa. Até porque quase 850 milhões de pessoas – 16,6% (FAO-
2005) da população mundial – ainda passam fome e 27,3% delas estão no Brasil.
Embora os atuais métodos e contextos de análise sócio-antropológica, econômica
e tecnológica guardem radicais transformações dos abordados pelo pesquisador, o
fato é que o flagelo ainda permanece como um dos grandes dilemas do Nordeste.
Um fenômeno social implacável que não tolera a lentidão das políticas públicas.
E agora, Josué?
Afinal, “quem tem fome tem pressa”, ensinava o sociólogo Herbert de Sousa, o
saudoso “Betinho”. Diante disso, resta a dúvida sobre quais fundamentos Josué
de Castro elegeria hoje, como principais motivadores dessa face da miséria no
país e, principalmente, nas terras nordestinas. As desigualdades regionais do
acesso à educação certamente seriam o ponto de partida para se desvendar esse
enigma. Sobre a crucialidade desse enfoque, confira nessa reportagem como nem
todo mundo cala diante do irrefutável.
Por Lucílio Lessa
redacao@nordestevinteum.com.br
Q
uando se fala em fome no Brasil é e políticas. Mais ainda: o país estava dividido em
comum associar o tema a região Nor- cinco regiões, das quais três seriam de fome.
deste. Palco dos piores índices de sub- No recorte geográfico realizado por Josué de
desenvolvimento do país, esse mesmo Castro, o Centro-Oeste e o Extremo Sul ocupa-
Nordeste, não por coincidência, tam- vam uma posição privilegiada, estando fora da
bém é berço de uma figura emble- zona de fome permanente. Na contra-mão dessa
mática sobre o assunto: o médico, realidade, estavam a área amazônica e o Nordes-
escritor, político, geógrafo, cien- te. Este era divido ainda em duas sub-regiões, a
tista social e professor Josué de açucareira e a do sertão. As diferenças não eram
Castro. Nascido em uma família pobre do Recife, o apenas geográficas, e sim biológicas, culturais,
cientista tornou-se uma celebridade mundial ao rom- ecológicas, geológicas e sociais. No entanto, em
per com o que ele classificava como “conspiração do uma coisa elas comungavam: a má administra-
silêncio” e, finalmente, denunciar a fome, suas verda- ção dos governantes, que levavam essas regiões à
deiras causas e consequências. fome e à miséria.
Como fenômeno social, a desmistificação do as- Defensor de uma reforma agrária que con-
sunto é um processo que tem data de início: 1946, templasse não apenas a posse da terra, mas a pro-
quando ele escreveu o livro Geografia da Fome. moção da agricultura familiar e o apoio ao seu de-
Considerada um raio X da realidade alimentar do senvolvimento, Josué potencializava a fome como
país, a obra desarticulou a idéia de que a fome es- resultado da exploração colonialista, associando o
tava associada à raça. “Dizia-se que problema à deficiência do consumo ali-
o Brasil era um país de indolentes, mentar resultante desse período.
mestiços, de gente de cor e que, por Ao explicar um tema tabu para a
isso, a fome deveria fazer parte do sociedade da época, ele jogou holo-
dia-a-dia do brasileiro”, comenta a fotes sobre a má distribuição das ri-
professora universitária Ana Maria quezas de um país ainda fortemente
Castro, filha de Josué. agrícola, e que hoje apresenta um perfil
Na verdade, o Brasil surgido das bem mais industrializado. Diante dessa
pesquisas do cientista mostrava que nova realidade, o que será que Josué de
não existiam causas naturais para o Castro elegeria como principal causa
problema, mas econômicas, sociais para a fome hoje no país?
8 Junho/2009 Junho/2009 9
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Dilemas e descompensações
É a educação, cara pálida!
10,9%
ma forma que as pesquisas sobre
analfabetismo e desemprego confir- Nordeste 25.772 23.647 2.125 8,25% NORTE -
CENTRO-OESTE 4,7%
mem a desvantagem da região nor- Sudeste 42.785 38.917 3.868 9,04% Sérgio Buarque destaca em suas palestras, que os
destina, outro estudo apresentado programas apresentados pelo governo hoje, são
Sul 15.704 14.792 912 5,81%
pelo Ibge denuncie que, na compara-
ção das prevalências de insegurança Centro-Oeste 7.285 6.696 589 8,09%
meramente compensatórios, e que ao invés de
ser focada simplesmente a transferência de
SUDESTE 3,8%
Fontes: IBGE / Ministério do Desenvolvimento
alimentar grave, os piores resultados Ceará 4.145 3.859 286 6,90% renda, deveria haver uma projeção maior para a Social e Combate à Fome (MDS) / Centro Josué
também ficaram com o Nordeste. Fontes: IBGE / Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) transferência de conhecimentos de Castro / pesquisador Sérgio Buarque
/ Centro Josué de Castro / pesquisador Sérgio Buarque
10 Junho/2009 Junho/2009 11
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Ensino secundário x fome
NÚMEROS DA MISÉRIA
Sem choque de ciência e tecnologia 840 milhões de pessoas hoje, passam da população brasileira não tem
fome no mundo / 27,3% estão no
escola média é o elo fraco da rede pública Brasil
renda suficiente para garantir
uma alimentação satisfatória. Isso
A fome atingia 2/3 da população representa 38,6 milhões de pessoas.
brasileira em 1946. Eram 31,2
Josué de Castro certamente estaria hoje debruçado so-
bre o ensaio da mais recente tentativa do poder público de De acordo com o Plano Plurianual (PPA) 2008-
sair do discurso e ir à prática na elaboração de um novo
milhões de pessoas. 2011, os investimentos do programa Fome
Em 1946, eram 03 as áreas geográficas Zero alcançarão R$ 80,4 bilhões,
projeto desenvolvimentista voltado para o Nordeste.
O ex-ministro de Assuntos Estratégicos da Presidência
12 Junho/2009
Fonte: FAO Statistics Division, Fao Statistics Yearboo 2004 Vol.1
Junho/2009 13
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Josué de Castro
14 Junho/2009 Junho/2009 15
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Obra antecipa temas como ecologia, Três indicações ao Prêmio Nobel,
chamada globalização, na qual a vida JOSUÉ DE CASTRO:
econômica é comandada pelas empre- Contexto profissional de suas obras
sas, representando os Estados como 1908 Nasce em Recife no dia 5 de
Considerado pelo escritor fran- variável independente, mas sujeito 1952 Presidente do Conselho da FAO
Do exercício do “método geográfico” (Escola
Francesa de Geografia - Possibilismo) à cês André Malraux como uma das a fatores políticos e econômicos e (até 1956)
• Consolidação do “método geográfico” na obra do autor. à dinâmica da conjuntura social. A
A Alimentação Brasileira à Luz da Geografia sintetização dos princípios da geografia; quatro celebridades mundiais que 1956 Deputado Federal pelo Estado de
• Divisão regional do Brasil conforme os hábitos alimentares.
Humana (1937), Geografia Humana (1939) - princípio da casualidade - Humboldt; demarcaram as idéias e os movi- visão de Malthus ignora ou rebaixa
• Combate ao determinismo geográfico que apontava o clima como Pernambuco reeleito em 1960
finalidades didáticas princípio da extensão - Ratzel;
responsável pela má alimentação da população
princípio da coordenação - Ritter e La Blache; mentos sociais do século XX, Josué os benefícios da industrialização ou (até 1962)
princípio da conexidade - La Blache de Castro era figura freqüente em do progresso tecnológico, que pro- 1957 Funda a Associação Mundial de
“Documentário do Nordeste” (1937) - seleção de contos homenagens pelo mundo. Delas, varam que o crescimento da produ- Luta Contra a Fome (Ascofam)
• Dos problemas da alimentação ao fenômeno da fome coletiva (endêmica Regionalização da fome no Brasil: do mapa destaca-se o recebimento do Prêmio ção de alimentos pode acompanhar 1962 Embaixador do Brasil na ONU, em
Geografia da Fome (1946) o crescimento da população.
ou epidêmica, total ou parcial – oculta). das áreas alimentares ao mapa da fome. Internacional da Paz, além de duas Genebra (até 1964)
• Superação do “tabu” que cerca o tema da fome. indicações ao Prêmio Nobel da Paz, A contribuição de Josué, por- 1964 Após o golpe militar de 31 de
• Fundamentação do fenômeno da fome enquanto fenômeno social e não tanto, está em convencer o mundo
e uma indicação ao Prêmio Nobel março, através do Ato Institucional
Fase Crítica
natural.
• Fundamentos econômicos do fenômeno da fome; monoculturas; Regionalização da fome no mundo. de Medicina. sobre a desnaturalização das cau- nº 1, tem cassados seus direitos
latifúndios; esturturar de ocupação. Geopolítica da Fome (1951) Da geografia às teses malthusianas e a Injustiça maior que o fato sas da fome, polemizando com os políticos
• Denúncia do papel exercido pelas grandes potências mundiais no concepção de desenvolvimento de não ter sido premiado neo-malthusianos ao tratar 1965 Fundador e presidente do
crescimento da fome no mundo. Centro Internacional para o
• Indicação para a necessidade de uma economia humanizada. nessas ocasiões, ape- o fenômeno como o pro-
Desenvolvimento (até 1973)
• Início do embate com as teses malthusianas nas a da cassação de duto das relações sócio
1968 Professor estrangeiro associado ao
O Livro Negro da Fome (1957) seus direitos polí- econômicas, e não da
• Identificação do fenômeno da fome com o Centro Experimental de Vincennes,
Desenvolvimentista
subdesenvolvimento econômico.
Ensaios de Geografia Humana(1957) ticos pelo regime acelerada explosão Universidade de Paris (até 1973)
Ensaios de Biologia Social (1957) militar, em 1964. demográfica.
• Propostas para a construção de uma “economia humanizada”. Interlocução com uma Geografia do 1973 Falece em Paris no dia 24 de
A Explosão Demográfica e a Fome no Mundo
Fase
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (USP), sob orientação da Professora Doutora Amélia Luisa Damiani.
fundou e coordenou anos de existência Fonte: IHU ON-LINE, Revista do Instituto Humanistas Unisinos./
Fonte: IHU ON-LINE, Revista do Instituto Humanistas Unisinos./ José Raimundo Sousa Ribeiro Junior José Raimundo Sousa Ribeiro Junior
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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Centro Josué de Castro SEMI-ÁRIDO E BOLSA FAMÍLIA
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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Caleidoscópio
Saiba mais sobre o Programa
Empreendedor Individual
>> Contribuição mensal R$ 51,15 (11% do SM) +
R$ 1 (se comércio ou indústria) ou + R$ 5 (se for
prestador de serviços)
redacao@nordestevinteum.com.br
>> Públicos Empreendedores de mais de 170
ocupações, como borracheiro, doceiro, pipoqueiro,
José Guimarães quer criar Rocha Magalhães e contra a informalidade >> Direitos Aposentadoria por idade (180
contribuições), aposentadoria por invalidez (12),
Fundo de Defesa Civil o alerta da Icid+18 O ministro da Previdência, José Pimentel, cumpre exten-
so périplo de audiências públicas pelo Brasil para divulgar a
salário-maternidade (10) e auxílio-doença (12).
Família fica protegida por pensão por morte e
O deputado federal José importância do Programa Empreendedor Individual. Desde auxílio-reclusão
Guimarães (PT-CE) apresen- Os problemas das regiões ári- o dia 1º de julho, quando o sistema entrou em operação no
tou projeto de lei que cria o das e semiáridas do planeta Distrito Federal, a contagem é regressiva e a meta, audacio- >> Como se inscrever Com acesso único ao Portal
Fundo Especial para Ações se agudizam e muitos ainda sa: tirar da informalidade, em 12 meses, mais de 1 milhão de do Empreendedor (www.portaldoempreendedor.
Emergenciais de Defesa não tem soluções claras. brasileiros. Piauí e Maranhão serão os primeiros estados do gov.br), o trabalhador já sai com o seu CNPJ, sua
Civil (Fundec). O objetivo Isso se aplica ao interior Nordeste na agenda do ministro, para quem o Empreende- inscrição na Junta Comercial, no INSS e um alvará
é oferecer o pronto atendi- do Nordeste do Brasil, não dor Individual “será o grande debate do Brasil nos próximos de funcionamento, que precisará ser validado pela
mento aos municípios que anos”. À medida que os estados forem entrando na rede, cada prefeitura, de acordo com as regras do município.
obstante 150 anos de po-
decretarem estado de emer- líticas contra as secas e de vez mais trabalhadores poderão se formalizar. Segundo o mi-
gência ou calamidade públi- nistro, o país só atingirá a meta inicial se todos os entes do Fonte: www.portaldoempreendedor.gov.br
experiências de promoção
ca. A proposta visa também pacto federativo e as entidades de classe envolvidas trabalha-
do desenvolvimento regio- rem unidos. Prefeitos dos 5.561 municípios e governadores
acabar com a burocracia nas
sobre cangaço do país primeira gerou bons Moradia da Organização das Nações Unidas (ONU). Sem
resultados, precisa- meias palavras, Raquel Rolnik, arquiteta e O Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e a Associação Nacional de
mos ir mais adiante urbanista da Universidade de São Paulo Pós-graduação em Economia (Anpec), abriram, desde o último dia 1º
O Cariri cearense, a partir das cidades de Crato, Juazeiro do Norte e (USP), condena a política habitacional do
agora. É preciso de julho, as inscrições para o Fórum BNB de Desenvolvimento 2009 /
Barbalha irá receber no mês de setembro de 2009 o I Seminário Cariri governo Lula. Para ela, o Ministério das
Cangaço. Pesquisadores, historiadores, escritores, documentaristas e cineas- chamar a atenção Cidades, onde trabalhou de 2003 a 2007,
XIV Encontro Regional de Economia) a ser realizado entre os dias 16 e
tas estarão no triângulo do Crajubar, discutindo um dos fenômenos mais con- do mundo; gerar age de forma esquizofrênica e só pensa 17 deste mês, no Centro Administrativo do BNB (Av. Pedro Ramalho,
troversos da história do Nordeste brasileiro e suas implicações e ligações com mais conhecimentos em resultados rápidos e quantitativos. A 5700 – Passaré), em Fortaleza. O evento dará ênfase aos 20 anos do
a história de nossa gente. O evento é sem dúvida uma das primeiras iniciativas e colocá-los à dispo- qualidade, como no plano Minha Casa Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE). Segundo o
rumo à consolidação do conceito de uma Região Metro- sição dos tomadores Minha Vida, foi totalmente descartada. superintendente do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nor-
politana. Equipes de trabalho foram formadas de decisão; unir “Corre-se o risco de se criar guetos deste (Etene/BNB), José Sydrião de Alencar, o objetivo é mobilizar
os pesquisadores, de pobres, com violência e sem
pelas três prefeituras e em conjunto com a acesso ao trabalho e à educação”. a comunidade acadêmica e política em torno de questões relevantes
Universidade Regional do Cariri (Urca), estudiosos e outros
A alternativa que ela defende é a para o desenvolvimento regional. Na programação, acontecem os
Instituto Cultural do Cariri (ICC) interessados, através de redes de comunicação e
de intercâmbio; influenciar as instituições interna- criação de um modelo de gestão painéis “Bolsa Família e Crediamigo: inserção produtiva”, “Cenários
e grupo técnico da Sociedade democrática para além dos requi- para o Nordeste no novo contexto nacional e internacional” e “Desen-
Brasileira de Estudos do Canga- cionais, os governos e a sociedade local para que
sitos formais. O objetivo é incor- volvimento do Nordeste como Projeto Nacional”. O Etene participa
ço (SBEC) trabalham firme na tomem as medidas certas para o desenvolvimento porar a totalidade dos habitantes
sustentável dessas regiões”, afirma. com a sessão especial de “Instrumentos de intervenção no Nordeste” e
realização do maior evento do e moradores em uma condição de
gênero já realizado no país. cidadania. com as mesas sobre avaliação do FNE e estudos regionais.
20 Junho/2009 Junho/2009 21
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
ENTREVISTA
Elza Fiúza/abr
Mangabeira Unger
22 Junho/2009
Nordeste VinteUm
o caminho. Luz e calor” 50 anos. De resto, apenas iniciativas pontuais que não fo- Nordeste VinteUm – De imediato, nas últi- cunstâncias tão favoráveis como essa.
A partir de janeiro último, Mangabeira iniciou viagens ram adiante. mas incursões pela região, o que o senhor enxer- Mas, o tempo fica muito curto, muito
pelo Nordeste para explicar e divulgar o projeto, formatado Em 740 dias de governo, Mangabeira variou com su- gou e sentiu no Nordeste de hoje? escasso. Nós só temos agora 2009 para
em visitas anteriores à região. A agenda incluiu municípios, gestões entre ambiente, educação, trabalho e defesa na- Mangabeira Unger – Eu andei no inte- consolidar uma dinâmica de ações con-
projetos e iniciativas, encontros com parlamentares, gover- cional. É do ministro a iniciativa que regularizou cerca de rior do interior de todos os nove esta- cretas que encarnem, e prefigurem o
nadores e entidades classistas. Delegada a missão de pen- 400 mil propriedades rurais na Amazônia, também conhe- dos. E o que eu vi, antes de mais nada, caminho que queremos trilhar. E que
sar ações de longo prazo, tentou enfrentar o ceticismo que cida como MP da Grilagem. Hoje, a secretaria trabalha na é uma versão concentrada do enigma transformem esse projeto num projeto
permeou as expectativas sobre a efetividade do que a pas- elaboração de propostas para mudar as relações entre em- brasileiro. Um enorme dinamismo, do Estado brasileiro, e não apenas num
ta sob seu comando poderia significar. Afinal, o Nordeste presas e trabalhadores, com a criação de uma legislação um turbilhão, uma criatividade, que se plano do governo Lula. O que eu quero
padece há pelo menos meio século de projetos capazes de para proteger terceirizados e autônomos. A vitrina de Man- manifesta por meio das duas grandes é que ele seja capaz de sobreviver ao
subverter sua condição de subdesenvolvimento. De rumo gabeira, contudo, foi o Plano Nacional da Amazônia Susten- forças construtivas no Nordeste hoje. governo Lula, de se impor ao futuro
sério e aprumado, apenas um foi traçado em Uma política tável, com 16 compromissos assumidos pelo governo em A primeira é um empreendedorismo governo e ajudar a pautar o debate na
de desenvolvimento para o Nordeste, por Celso Furtado, há maio do ano passado para desenvolver a região. emergente, sobretudo no Semi-árido. E sucessão presidencial. Eu tenho dito
a segunda é uma inventividade tecno- que o Nordeste não se deve dar de ba-
lógica popular, difusa, porém desequi- rato às forças em embate na sucessão
24 Junho/2009 Junho/2009 25
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
financiar programas sociais. Essa foi Pernambuco, na área do pólo de con- a Zona da Mata, o Semi-Árido, o Cerra- mente. Sempre quando se tenta mudar jeto econômico forte, constrói-se uma
uma estratégia básica. Agora, o país fecções de Caruaru e Toritama, milha- do do Oeste da Bahia, do Sul do Piauí o mundo, duas tarefas são prioritárias. sociedade de garçons alienados. E há
quer mais do que isso. Quer trans- res de empreendimentos familiares, e do Sul do Maranhão, que é a parte A primeira tarefa é construir um ide- países que eu não vou nomear, que
formar a ampliação de oportunidades em diferentes escalas. Como se ali co- do Brasil que mais cresce nos últimos ário que demarque um caminho. O caíram nesse abismo de dependência
para aprender, trabalhar e produzir no existissem todas as etapas do capitalis- anos, e a pré-Amazônia. Há uma gran- pensamento programático e a política desse dinheiro.
motor do crescimento. Com isso, anco- mo europeu do século XVII ao século de tentação de focar o desenvolvimento transformadora tem a ver com conse-
rar o social na maneira de organizar o XX. Um imenso fervor de dinamismo no litoral e no Cerrado, e abandonar o qüências, não com planilha. São mú- NVU – Nós temos, no caso de Fortaleza, para
econômico. E eu entendo que o lugar empreendedor, carente de quase todos Semi árido, para iniciativas de pequena sica, não são arquitetura. E a segunda citar um caso mais concreto, nos anos 1970 ela
para começar, avançar em muitas fren- os instrumentos. escala. Eu acho que seria uma calami- tarefa é definir com precisão os primei- tinha uma população de 800 mil habitantes.
tes simultaneamente, por inovações dade. Metade da população vive ali. Se ros passos que vão nos colocar naquele Hoje, quase três décadas depois, estamos com
institucionais que encarnem a demo- NVU – O senhor acha que o Nordeste deve fazer a não se soerguer o Semi árido, tudo que caminho. O possível que conta é o pos- 2,5 milhões. A Região Metropolitana chega a 3,5
cratização dessa economia de merca- sua revolução industrial? se fizer na Zona da Mata e no Cerra- sível adjacente, é o que fazer amanhã. milhões. Um inchaço, porque os governos não
do, é o Nordeste. Em todo lugar tenho MU – Mas com o cuidado de fazê-la de do será contaminado por forças con- O único longo prazo que vale é o longo priorizaram o setor primário. O senhor pensa em
repetido um refrão, que o Nordeste é uma forma que seja original, que apon- centradoras da renda, da riqueza e do prazo que começa a curto prazo. refluxo dessa população?
a nossa China, e que pode ser a nossa te o caminho do futuro. Não de uma poder. Terceiro desvio: no Semi-árido, MU – Está ligado ao projeto agrícola no
China no bom ou no mau sentido. No forma que caia sob o fascínio hipnótico focar só as ações que eu chamo de “po- NVU – O senhor fala num novo projeto de indus- Nordeste. Tanto a agricultura irrigada
mau sentido, se for apenas um manan- do modelo industrial do Sudeste do sé- bristas”. Ações de pequena escala, es- trialização, sem cair no “fordismo”, remetendo- como a agricultura de sequeiro. Eu
cial de trabalho barato. E num bom culo passado. Isso é o que eu chamo de cala artesanal, em vez de organizar as se ainda à questão da educação. Uma educação entendo o soerguimento da agricultu-
sentido, se virar uma grande fábrica sãopaulismo. Os grandes projetos in- pequenas e médias empresas, que são que prepare e qualifique as pessoas. Agora, o ra de sequeiro e a definição do modelo
de engenho e de inovação. Para isso, dustriais, nas indústrias de base como a parte potencialmente mais rica, mais que o senhor pensa sobre o turismo? institucional da agricultura irrigada no
o Nordeste não se deve contentar ape- as siderurgias e as refinarias são úteis vanguardista, e levantá-las. Quarto des- MU – Primeiro, isso (o projeto Nordest Nordeste como uma ponta de lança do
nas com incentivos, subsídios pontu- e até indispensáveis, mas elas só sur- vio: entrar na cantilena de que o Nor- ) não trata de todos os problemas, de projeto estratégico da agricultura brasi-
ais, ainda que eles sejam necessários, tirão o seu efeito transformador se, em deste não tem potencial agrícola. Não todas as possibilidades do Nordeste.
e não deve procurar ser uma versão primeiro lugar, atenderem a dois requi- é verdade. Há um imenso potencial de Isso aqui é uma escolha draconiana
encolhida e tardia da São Paulo de me- sitos. O primeiro é que não se cinjam a agricultura irrigada e de agricultura de do caminho para avançar. Não é uma
O projeto Nordeste
ados do século passado. uma lógica de enclave, mas que sejam sequeiro. Agricultura de sequeiro como enciclopédia de políticas públicas. So- não trata de todos os
concebidos e incrementados de ma- agricultura tecnificada, não como agri- bre o turismo, eu penso, em essência: problemas, de todas
NVU – O que o senhor chama de sãopaulismo... neira a transformar a vida econômica cultura de subsistência. Lembramos é uma vocação evidente do Nordeste.
MU – Isso. O Nordeste não é para ser e social em volta. E o segundo requi- que no Mato Grosso, hoje, talvez o nos- Ao contrário de muitas coisas discu- as possibilidades
isto. É para ser algo diferente, que sito é que sejam escolhidos pelo crité- so maior celeiro, toda a lavoura ocorre tidas nesse texto. O turismo em geral do Nordeste. Isso
ajude a apontar caminho para o país. rio de uma vantagem comparativa que em 7,8% do seu território. Quinto des- no mundo, como tenho dito nas dis-
Para desbravar o caminho rumo a esse não seja apenas a disponibilidade de vio: cair sob o fascínio dos megaproje- cussões no Nordeste, é uma maravilha aqui é uma escolha
novo modelo de desenvolvimento que trabalho barato. Se a única vantagem tos industriais, entendidos sob a ótica como complemento a um projeto eco- draconiana do caminho
o Brasil todo está buscando. E a ma- comparativa que justifique for que tra- da lógica de enclave, não sob a ótica da nômico e social forte, mas pode ser um
neira de iniciar isto é dar braços, asas e balho no Nordeste é mais barato que transformação da vida circundante por desastre como alternativa. O turismo
para avançar. Não é
olhos àquelas duas forças construtivas o trabalho em São Paulo, arriscamos um conjunto de vínculos. atrai porque pode gerar muito dinheiro uma enciclopédia de
que eu descubro no Nordeste hoje. O construir no Nordeste um paradigma em pouco tempo de uma forma fácil, políticas públicas
empreendedorismo emergente e a in- de produção viciado em trabalho bara- NVU – O calendário eleitoral pode frustrar o mas se é usado para substituir um pro-
ventividade tecnológica popular. to e desqualificado. novo projeto?
MU – Esse é o maior problema. Foi isso
NVU – O que diferencia essa inventividade do NVU – Isso pode ser o grande inimigo do Nor- que eu disse lá em Natal, que eu es-
restante do país? deste? tou ao mesmo tempo entusiasmado e
MU – Não é que ela não exista no resto MU – Vamos enumerar um rol de males, aflito. Entusiasmado porque eu identi-
do Brasil. Mas, aparece numa forma de equívocos, de desvios. Primeiro des- fico nesse projeto um grande potencial
muito concentrada no Nordeste, in- vio: os incentivos e subsídios, instru- de reimaginação, de reorganização do
clusive por conta dessa identidade cul- mentos indispensáveis, porém meios, e país. É um projeto de construção na-
tural muito forte e desse acúmulo de não fins, viram fins. Eles não são fins, cional. Não é um projeto de compen-
capital social. E aparece também de eles são apenas meios de um projeto sações para o Nordeste. Mas eu estou
uma forma muito dramática, porque estratégico. Na falta do fim, degeneram ao mesmo tempo aflito, porque a janela
a originalidade e a natureza surpreen- num pontilhismo político, cada Estado de oportunidades temporal ficou mui-
dente dessa ação ressaltam em meio à e cada setor busca o seu. Segundo des- to estreita, e nós temos que correr. E
pobreza. Eu digo, por exemplo, aludin- vio: focar o desenvolvimento do Nor- veja como a concepção básica que eu
do a uma das minhas viagens, quando deste na Zona da Mata e no Cerrado. tenho não é a de uma planilha tecno-
fiquei sacudido de ver no interior de O Nordeste tem quatro macrorregiões: crática que se vá executar sistematica-
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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
leira. É um projeto desse nível por três MU – Os movimentos sociais existem, Eu estou pregando rebeldia. É isso noritário, que é o discurso dos grandes isso sem inovar nas instituições. Por
alvos entrelaçados. Primeiro é começar porque nós, historicamente, não cum- que tenho dito. empresários, é o discurso da quebra isso, seria um contra-senso o Nordeste
a superar o contraste meramente ide- primos essa tarefa no Brasil. Nós não das amarras. Menos imposto e menos se contentar com meras transferên-
ológico entre agricultura empresarial e criamos uma em geral, apesar de exce- NVU – O senhor é um insurreto? regulação para poder produzir. A maio- cias apaziguadoras, em vez de insistir
agricultura familiar. Ao assegurar atri- ções como as cooperativas do Paraná MU – Não só sou, mas quero que os ria do povo brasileiro descarta esse se- numa reconstrução institucional auda-
butos empresariais para a agricultura que eu visitei recentemente. Em geral, outros sejam também. Quero compa- gundo discurso como um pretexto para ciosa. Ao mesmo tempo, também não
familiar. O segundo alvo é aprofundar a nós não criamos uma agricultura que nhia (risos). servir aos interesses do grande capital. se deve satisfazer só com obras físicas.
industrialização rural, um conjunto de seja democratizada e vanguardista ao Há um imenso espaço vazio na vida Nós temos uma tendência no Brasil
formas de agregação de valor no cam- mesmo tempo. E é isso que em geral NVU – É uma lógica perversa, mas que do pon- pública brasileira para um terceiro dis- ao fascínio pelo fisicalismo. As coisas
po para evitar o contraste entre cidade nós queremos, um produtivismo de- to de vista político, o senhor não acha que o seu curso, que é o Estado usar seus pode- são mais fáceis de entender do que as
cheia e campo vazio. E o terceiro alvo mocratizante, uma democratização da projeto está no éter, não? res e recursos para instrumentalizar a estruturas. Há grandes obras em curso
é construir em todo o país, não apenas economia de mercado. Esse é um dos MU – Não. Isso não é uma proposta tec- energia empreendedora e criativa que no Nordeste. Essas obras estão uni-
no Sul, uma classe média rural forte, temas subjacentes, uma das premissas nocrática. Esse é um movimento, ao surge de baixo. ficando a região pela primeira vez na
como vanguarda de uma massa de dessa proposta. Não está explicitada mesmo tempo doutrinário e político, e história do Brasil, fisicamente. Mas a
agricultores mais pobres que avançará ali, mas é fundamental. A premissa é: eu disse muito claramente na Paraíba, NVU – Isso seria a terceira via que num passado unificação física é apenas o palco, não
atrás dela. não basta regular a economia de mer- que o governo sabe que a bandeira diz recente o senhor trabalhou com o Ciro Gomes? é mais do que o palco. É o palco para
cado, não basta contrabalançar as de- “nego”. E eu disse o que eu sinto em MU – Não vamos chamar isso de ter- uma agenda institucional revolucioná-
NVU – E qual seria o papel, por exemplo, de um sigualdades geradas no mercado, recor- relação a todo o Nordeste: nunca foi ceira via, não. Porque não há terceira ria. E agora o nosso foco precisa passar O Nordeste é a nossa
Movimento dos Sem Terra (MST), para participar rendo a políticas sociais. É necessário mais importante para o Brasil do que é via, isso é uma segunda via. Em geral, das obras para a agenda das mudanças China. E pode ser a
ou contribuir com a construção de um projeto reorganizar o mercado para torná-lo hoje, que a Paraíba diga “nego”. Nego, o que se chama no mundo de terceira institucionais.
agrícola que seja includente? mais includente por meio dessas alter- nego, nego. E é isso que eu proponho via é a primeira via com açúcar, que é nossa China no bom
nativas industriais, agrícolas e educa- ao Nordeste, que diga “nego”. E que o açúcar da humanização, e isso não é NVU – Como o senhor vê a questão da religiosi- ou no mau sentido.
tivas. No vocabulário contemporâneo não fique joelhos, que não se satisfa- comigo. O leitmotiv da política brasilei- dade nordestina. Há, por exemplo, um fenôme-
Há uma grande nós descreveríamos como baseada na ça com migalhas, que não se dêem de ra é a humanização do inevitável. Que no chamado Padre Cícero, que mobiliza a região. No mau sentido, se for
tentação de focar o coordenação estratégica descentraliza- barato às forças políticas em embate, o Nordeste não caia nessa. O povo bra- Isso é uma coisa positiva do imaginário popular apenas um manancial
desenvolvimento do da entre os governos e os agricultores mas que insista em liderar um proces- sileiro não quer humanizar o inevitável, ou pode servir como um entrave?
e na concorrência cooperativa entre so que não será só para si, mas para o quer reconstruir o existente. O Brasil é MU – É uma característica geral do de trabalho barato.
Nordeste no litoral e no os produtores. Quer dizer, eles podem país, de reconstrução do nosso modelo um país caracterizado pela sua impa- Brasil. E esse, aliás é um dos muitos E num bom sentido,
Cerrado, e abandonar competir entre si e cooperar ao mesmo de desenvolvimento. ciência, pelo seu dinamismo, pela sua pontos de analogia entre o Brasil e os
tempo, ganhando por meio da coopera- vitalidade. Não é para colocar panos Estados Unidos. Duas sociedades mui- se virar uma grande
o Semi-Árido, para NVU – Eu perguntava ao senhor se o projeto quentes e humanizar o inexistente. É to desiguais, multiétnicas e religiosas,
ção, acesso à economia. fábrica de engenho e de
iniciativas de pequena não poderia ficar no éter, porque isso depende para começar uma reconstrução insti- nas quais a maior parte das pessoas
NVU – O senhor está consciente de que está me- de uma decisão política. Como se situar para tucional progressiva que afirme a pri- comuns continua a julgar que tudo inovação
escala. Eu acho que tendo a mão num vespeiro? Quer dizer, há uma fazer com que, independente de quem esteja no mazia dos interesses do trabalho e da é possível. São sociedades cheias de
seria uma calamidade. lógica montada nesse país, historicamente con- governo, não se invertam as prioridades ou se produção sobre os interesses do dinhei- aventureiros, de peregrinos, de pesso-
Metade da população tra o Nordeste... desvirtue o projeto? ro vadio, e que dê instrumentos a esse as que estão em busca de algo e nós
MU – ... contra o Nordeste, contra a MU – O assunto do projeto Nordeste fervor que vem de baixo, um fervor que nos metemos numa camisa de força
nordestina vive no Amazônia, contra o Centro-Oeste. não é um assunto do Nordeste, é um está encarnado hoje numa nova classe inteiramente inapropriada a essa natu- E eu entendo
Semi-árido assunto do Brasil. O que está em jogo média. reza. Nós temos que romper a camisa
é o futuro do Brasil. As soluções para o de força e dar instrumentos a essa in- que o lugar para
Nordeste, para serem soluções para o NVU – E onde entra esse projeto de desconcen- quietude construtiva. E esse deve ser o começar, avançar
Nordeste, terão que ser soluções para tração de renda, já que a concentração é um gra- espírito desse Nordeste.
o Brasil. Uma relação recíproca. No ve problema do Brasil? em muitas frentes
Brasil em geral, sobram partidos, mas MU – É uma democratização das opor- NVU – O que há de Celso Furtado nesse projeto? simultaneamente,
faltam alternativas. A rigor, nós só te- tunidades econômicas e educativas. MU – A situação histórica é muito dife-
mos no Brasil dois discursos políticos Esse é o ponto essencial. As transferên- rente, a proposta é diferente, o método por inovações
consolidados. O discurso dominante é cias fiscais e os programas sociais são é diferente. O Celso Furtado era um institucionais
o do Estado que conduz, que por meio úteis e são secundários. O que impor- apaixonado pelo Nordeste. Ele enten-
dos bancos públicos se alia às grandes ta mesmo na democratização da renda, dia intuitivamente que o Nordeste po- que encarnem a
empresas, aliás com o dinheiro do tra- na redistribuição progressiva de renda deria exercer este papel de desbravar democratização dessa
balhador brasileiro, e que por meio dos é a democratização das oportunidades um caminho para o país. Mas, ao mes-
programas sociais atenua os efeitos da econômicas e educativas. Das oportu- mo tempo, era um homem fascinado economia de mercado,
pobreza e da desigualdade. Esse é o nidades para trabalhar, para produzir pelas idéias daquela época. Inclusive é o Nordeste
discurso hegemônico. O discurso mi- e para aprender. E não se consegue pelo modelo de industrialização que se
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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
O turismo em geral implantara no Sudeste do país, e espe- Se alguém deposita dinheiro num gran- NVU – O presidente Lula enxerga no senhor Eu não acredito que o Nós vamos ter que mudar não só o
cialmente em São Paulo em meados de banco privado no Piauí, é muito pro- uma espécie de novo Antônio Conselheiro, se re- conteúdo, mas também o método.
no mundo é uma do século XX. Então, essa proposta em vável que aquele dinheiro seja investido belando contra as estruturas do Nordeste, mas Estado brasileiro, ainda
maravilha como nenhum sentido é uma repetição das no Sudeste do país. Nós, ao contrário sem o misticismo? dominado pelas forças NVU – O senhor é um social-democrata convicto?
complemento idéias de Celso Furtado. Nós temos dos EUA, nunca tivemos o sistema ban- MU – O presidente estimulou muito MU – Social-democrata não. Não sou
que aprender com as lições e experi- cário verdadeiramente descentralizado. essa ação no Nordeste. E, recentemen-
sediadas nas partes mais social-democrata, nem social liberal,
a um projeto ências dos últimos cinqüenta anos no Lembre-se que os EUA, por mais de te, levei a ele a última versão [do projeto ricas do país, vá dar de porque associo a essas palavras aquilo
econômico e social Brasil e no mundo. E por outro lado, o cem anos, proibiram os bancos nacio- Nordeste]. Nós, inicialmente, pensáva-
presente ao Nordeste que eu condenava, que é o culto do
método que eu proponho é um méto- nais e organizaram um sistema de cré- mos que a reunião com os governadores açúcar. Eu não estou interessado em
forte, mas pode do que, mais ainda do que na ação de dito mais descentralizado na história do sobre o projeto seria em Salvador, mas os instrumentos para açúcar, eu não quero dourar a pílula.
ser um desastre Celso Furtado, aposta no movimento mundo. Isso não se faz de um dia para o teve de ser remarcada por questão de uma grande rebeldia Eu quero reconstruir o existente, mas
endógeno do Nordeste, na força que outro. Mas o que nós poderemos fazer agenda, pois coincidia com a reunião ele pode ser reconstruído de uma ma-
como alternativa. vem de dentro, na força que vem de é introduzir mudanças regulatórias, na com o presidente Chávez. Mas, eu es- inovadora. Não neira experimentalista, um método que
O turismo atrai baixo, um movimento político. Eu regulação dos bancos, que assegurem tou convicto de que o presidente vai, haverá um atalho. O é gradativo e pode ter um desfecho que
porque pode gerar não acredito que o Estado brasileiro, que, pelo menos, parte do dinheiro de- com a intuição dele, entender o signi- resulta numa transformação profunda.
ainda dominado pelas forças sediadas positado lá, seja investido lá. Enquan- ficado desse projeto como um instru-
Nordeste vai ter que se
muito dinheiro em nas partes mais ricas do país, vá dar de to isso, esses bancos, a começar pelo mento para a construção do futuro na- organizar, vai ter que NVU – Em que pensamento doutrinário-filosófi-
pouco tempo de presente ao Nordeste os instrumentos BNB, podem ser as maiores fontes de cional. Eu conto com o apoio dele.
se movimentar, vai ter co o senhor se enquadraria?
para uma grande rebeldia inovadora. financiamento. Banco do Brasil, Caixa MU – Aí, eu não posso responder. É a
uma forma fácil, Não haverá um atalho. E nós temos Econômica, Bndes. Para uma política NVU – E por que o senhor, como um homem de que lutar por um outro primeira das suas perguntas que eu te-
mas se é usado agora grandes incidentes na vida po- industrial focada nas pequenas e mé- visão, professor de Harvard, enxergou no Nor- caminho nho que deixar sem resposta.
lítica do país que vão oferecer uma dias empresas e para a política agrícola deste essa fresta para que o Brasil mude essas
para substituir um ocasião muito propícia para o exercício capaz de organizar a agricultura irrigada estruturas? NVU – Esse sonho pode esbarrar em 2010 ou o
projeto econômico dessa rebeldia. Inclusive a sucessão e soerguer a de sequeiro. MU – Eu sempre tendo a acreditar que senhor pode dar um substrato para enriquecer
forte, constrói-se presidencial vindoura. as soluções para a humanidade não no Nordeste esse enigma brasileiro e ainda mais o debate no ano que vem?
vem do centro, da capital do sistema. essa esperança. MU – Sabe o que disse o grande físico
uma sociedade de NVU – E o papel da Sudene? Vem da periferia, dos outsiders, dos e matemático Henri Poincaré? Ele
garçons alienados MU – A Sudene não deve ser nem a Essa proposta em órfãos. Então, eu empatizo com eles NVU – O senhor quer fazer revolução a partir do disse: “O acaso favorece as mentes
dispensadora de projetos genéricos. O nenhum sentido é uma não por uma lógica de caridade, mas Nordeste sem um tiro, sem um confronto, sem preparadas” (risos). Eu estou espe-
papel da Sudene não é construir o Pro- por uma lógica de transformação. Um uma sublevação. É possível isso? rando que esses incidentes políticos
jeto Nordeste. Ele tem que ser uma
repetição das idéias grande poeta alemão, [Friedrich] Höl- MU – Eu não disse que eu sou contra abram mais portas.
construção coletiva, não de técnicos. de Celso Furtado. Nós derlin, escreveu que quem pensa com sublevações. A questão é qual a for-
Tem que ser de toda a sociedade nor- mais profundidade, ama o que tem ma da sublevação. Eu me considero NVU – E o senhor estará de qual lado?
Elevador Lacerda,
destina, com engajamento nacional.
temos que aprender mais vida. A vitalidade é a característi- um revolucionário, mas por tempe- MU – Na minha posição atual, em que
em Salvador (BA)
Mas, ao mesmo tempo, não deve cair com as lições e ca mais importante do Brasil, e aparece ramento e por convicção. Mas, eu eu cuido de um projeto de Estado, não
num varejo de ações pontuais. En- experiências dos últimos de maneira concentrada no Nordeste. entendo que as revoluções do sécu- posso tratar de sucessões presiden-
tão, o papel da Sudene é ser o grande Isto atrai, e ainda que não tenha me lo XXI não podem assumir a forma ciais, tenho que me manter fora da
agente coordenador das ações neces- cinqüenta anos no Brasil formado dentro do Nordeste, eu intuo que assumiram em séculos passados. política partidária.
sárias para implementar esse projeto. e no mundo. E por
Coordenador em dois sentidos. Em
primeiro lugar, por uma coordenação
outro lado, o método Wellington Dias: oficial, no último dia 7 de julho, após confir- Poder Público fica refém do setor privado,
horizontal, dentro do governo federal. que eu proponho é um Projeto Nordeste no mação do subchefe executivo da Secretaria que pede a concessão de uma área para a
E, em segundo lugar, por uma coor-
método que, mais ainda segundo semestre de 2009 de Assuntos Estratégicos da Presidência da realização de pesquisa e não a implanta,
denação vertical, dentro da federação. República, Daniel Barcelos Vargas, em ficando anos e anos com reserva de mer-
Coordenar as ações dos três níveis da do que na ação de Celso Brasília. Ainda conforme o site, uma cado. Por isso, defendo que o Brasil precisa
O projeto de desenvolvimento
Federação no Nordeste. Furtado, aposta no estratégico e integrado da
equipe da Secretaria de Assuntos de uma Petrobras da mineração”, declarou
Estratégicos da Presidência vai visi- o governador. O Estado do Piauí tem uma
NVU – E o papel que o senhor vislumbra para o movimento endógeno região Nordeste será lançado
tar o Piauí, visando implantar proje- grande reserva mineral de ferro, fósforo, ní-
Banco do Nordeste, com o FNE? do Nordeste, na força pelo Governo Federal no
tos de inclusão social. O governador quel, mármore, calcário, diamante e opala.
MU – Ser a fonte de financiamento, o segundo semestre deste ano.
braço financeiro inclusive para operar
que vem de dentro, na A notícia é do governador
manifestou a necessidade de criação “Essa riqueza precisa ser transformada em
de uma empresa de capital público e renda sustentável para as pessoas dessas
como antídoto a uma situação grave: o força que vem de baixo, do Piauí, Wellington Dias,
privado para a área da mineração, a regiões, que muito precisam”, ressaltou
Nordeste é um exportador líquido de publicada através do site
capital. Mais capital sai do que entra.
um movimento político exemplo da Petrobras. “Muitas vezes o Wellington Dias
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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Muito prazer,
meio ambiente
www.conpam.ce.gov.br
A
secular concepção de que a partiu para levantar o uso e ocupação que prevê uma série de estratégias de
Caatinga seja o “primo po- do solo, o Plano de Monitoramento, comunicação para tornar esse bioma
bre” dos biomas brasileiros de responsabilidade da Secretaria de mais valorizado pela sociedade.
está com os dias contados. É o que Biodiversidade e Floresta do MMA, “Ele é o ecossistema menos co-
tentam provar duas iniciativas do Mi- já monitora as áreas de vegetação. nhecido do país, simplesmente por-
caatinga
nistério do Meio Ambiente (MMA), Os primeiros resultados serão di- que não tem mídia. Ainda não tem
prioritariamente direcionadas a con- vulgados pelo Instituto Brasileiro do uma importância nacional reconhe-
servar esta vegetação do Semi-árido: Meio Ambiente e Recursos Naturais cida, como possui a Mata Atlântica,
o monitoramento, por satélite, das Renováveis (Ibama) em novembro embora seja o único exclusivamente
áreas desmatadas, e o Zoneamento deste ano. O governo prevê que as brasileiro”, avalia o coordenador do
O “paraíso” de Euclides
Ecológico-Econômico do Nordeste. estatísticas tenham piorado. Os últi- núcleo Caatinga do MMA, João Ar-
Aqui, a Caatinga é soberana, ao mos estudos sobre os remanescentes thur Soccer Seyffarth.
ocupar originalmente 53% do territó- da Caatinga foram feitos em 2007, A realidade que surge das pes-
rio. O objetivo das duas providências com base em dados de 2000. quisas comprova a declaração. Da-
governamentais é saber o quanto a Inicialmente restrito à Amazô- dos do ministério mostram que os
devastação desse bioma evoluiu nos nia, o monitoramento foi estendido centros de pesquisa no Brasil ainda
últimos anos. Hoje, ele está entre os pela primeira vez a outros biomas do estão concentrados em sua maioria
quatro mais devastados, com 36% da Brasil. Na pauta das discussões do nas regiões Sul e Sudeste. Na Região
sua vegetação modificada. MMA sobre devastação, a Caatinga Nordeste, o número de estudos e
Divulgados durante as comemo- divide as ações de monitoramento pesquisadores é bem inferior, o que
rações ao Dia Nacional da Caatinga, com o Cerrado e a Mata Atlântica. esclarece a pouca quantidade relati-
Por Lucílio Lessa
28 de abril, os projetos já foram postos Entre outras iniciativas, consta um va e a forma esparsa de publicações
redacao@nordestevinteum.com.br
em prática. Enquanto o zoneamento Plano de Divulgação da Caatinga, científicas sobre a Caatinga.
Único ecossistema exclusivamente brasileiro, a Caatinga começa a receber do
poder público providências tardias, porém decisivas para a sua preservação.
Ações inovadoras do Ministério do Meio Ambiente querem tirá-la de uma
espécie de anonimato. Consagrado pelo escritor Euclides da Cunha como
“paraíso”, na sua obra Os Sertões, o bioma finalmente ensaia a despedida
de uma condição de quase abandono e parece figurar como prioridade na
elaboração de políticas públicas
32 Junho/2009 Junho/2009 33
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Recuperação de solo degradado
Exuberância, biocombutíveis e insustentabilidade
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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Segundo o MMA, de todos os mesmo índice das terras indígenas vestimentos já existentes. Para isso, lhos estaduais, que só abordam gran-
estados, apenas Alagoas não pos- distribuídas em pequenas áreas de teríamos que calcular a distribuição des empreendimentos. O Conpam
suía unidades de conservação, mas seis estados. da população da Caatinga em cada é mais amplo, pois também trabalha
agora conta com uma unidade fe- Diante das informações, a “des- Estado”, comenta o coordenador políticas com menos impacto”, avalia a
deral, o Monumento Natural do coberta” da Caatinga revela um longo João Arthur. presidente Tereza Farias.
São Francisco, criado em junho e caminho a ser percorrido. Nesse des- Outro destaque é a mobilização O Conpam possui as mesmas
que tem áreas ainda em Sergipe e bravamento, a elaboração do Progra- para que seja aprovada uma propos- funções de uma secretaria de estado
Bahia. Alagoas possui ainda duas ma de Conservação e Uso Sustentável ta de emenda constitucional que in- e permite uma instância colegiada
pequenas Reservas Privadas do Pa- da Caatinga talvez seja o passo mais clui a Caatinga e o Cerrado como entre os órgãos de governo, repre-
trimônio Natural (RPPNs). importante. Idealizado pelo MMA e patrimônios nacionais na Constitui- sentantes de classes e sociedade civil.
Em relação às RPPNs do país, parceiros multilaterais, o programa ção Federal. Além disso, define políticas estratégi-
34 ao todo, apenas 1,2% da Caatin- promete ser um marco referencial na A proposta está no plenário da cas. Para auxiliar os projetos, o con-
ga é contemplada com o benefício. gestão desse ecossistema. Câmara dos Deputados, pronta para selho criou dois escritórios regionais,
Coincidentemente ou não, Minas “Através dele, poderemos ar- ser votada. A perspectiva é de que que funcionam de segunda a sexta-
Gerais novamente se destaca, com ticular melhor as ações em anda- isso ocorra logo, com boas chances feira, para o atendimento das comu-
0,37%, seguida do Piauí, com 0,24%, mento, completando lacunas de in- de ser aprovada. nidades que desejam criar planos de
Tereza Farias. Presidente do Conpam no Ceará conservação da Caatinga e sua ges-
tão sustentável. Dos 40 projetos ana-
Bird envia consultores para avaliar os lisados pelos técnicos do Bird, apenas
Mata Branca se destaca como Modelo no Ceara e Bahia resultados e discutir o que será feito
nos seis meses seguintes.
18 tiveram execução aprovada por
estarem dentro dos níveis técnicos
O projeto é estruturado em com- de proteção ao bioma.
ponentes como o apoio a instituições Quanto ao Mata Branca da Bahia,
e políticas públicas para a gestão in- a Secretaria do Meio Ambiente des-
tegrada do ecossistema; subprojetos taca projetos que atendem as locali-
e demonstrativos de promoção de dades de Curaçá, Jeremoabo, Itatim
práticas de gestão integrada do ecos- e Contendas do Sincorá. Mas, assim
sistema; e monitoramento e avalia- como no Ceará, as iniciativas ainda
ção, disseminação e gestão. estão em busca de resultados mais
quatro, os recursos são divididos igua- No Ceará, o órgão que coordena o expressivos. Em 2008, nenhuma das
litariamente, já que a área territorial da Mata Branca é o Conselho de Políticas propostas de subprojetos ainda ha-
Bahia é ainda maior. A vantagem é que e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), via sido implementada. Para o Pla-
Euclides da Cunha
os estados trocam experiências e co- entidade até então sem similar no país. no Operativo Anual de 2009, vão ser
nhecimentos tanto na área ambiental “A visão do conselho é inovadora. Os apresentados 30 subprojetos. Destes,
como na científica. Semestralmente, o outros estados trabalham com conse- 23 compunham o relatório anterior.
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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
O umbuzeiro
Em Tese
Maria Tereza Jorge Pá
dua* --------
Sobre a “feiúra”
da Caatinga
É a árvore sagrada do sertão. Sócia fiel das rápidas
horas felizes e longos dias amargos dos vaqueiros. Repre-
senta o mais frisante exemplo de adaptação da flora ser-
taneja. Foi, talvez, de talhe mais vigoroso e alto – e veio
C
descaindo, pouco a pouco, numa interdecadência de
omo milhares de brasileiros, eu gosto de zônia, da Mata Atlântica ou do Pantanal. Já sensibi-
estios flamívomos e invernos torrenciais, modificando-se ler as pouco alegres colunas de Diogo Mai- lizá-las para a Caatinga é quase impossível. Quantas
à feição do meio, desinvoluindo, até se preparar para a nardi. Às vezes, também, gosto de assis- vezes lemos em O Eco* notícias sobre o desespero de
resistência e reagindo, por fim, desafiando as secas dura- tir ao programa Manhattan Connection. Niède Guidon tentando salvar o Parque Nacional da
douras, sustentando-se nas quadras miseráveis mercê da redes bamboantes. E ao chegarem os tempos felizes Vendo um deles esses dias fiquei furiosa quando Serra da Capivara no estado do Piauí, talvez o que era
energia vital que economiza nas estações benéficas das dá-lhe os frutos de sabor esquisito para o preparo da Lucas Mendes perguntou a Mainardi se ele gostava mais bem manejado no país, graças principalmente à
reservas guardadas em grande cópia nas raízes. umbuzada tradicional. mais do deserto ou da caatinga e Diogo respondeu luta e à perseverança da própria Niède? Porque Dio-
algo assim: “Conheço pouco da caatinga. Só estive go Mainardi não foi até lá? Ou no Parque Nacional
E reparte-as com o homem. Se não existisse o um- O gado, mesmo nos dias de abastança, cobiça o
uma vez por lá, mas é muito feia”, insinuando, tal- de Sete Cidades no Piauí? Ou no Parque Nacional de
buzeiro aquele trato de sertão, tão estéril que nele escas- sumo acidulado das suas folhas. Realça-se-lhe, então, vez, que não pretende voltar. Ubajara, no Ceará?
seiam os carnaubais tão providencialmente dispersos nos
que o convizinham até ao Ceará, estaria despovoado. O
o porte, levantada, em recorte firme, a copa arredonda-
da, num plano perfeito sobre o chão, à altura atingida
Melhor assim, se vai repetir Descobrir a riqueza Porque não foi ver as ara-
no ar de um canal de televisão rinhas azuis praticamente ex-
umbu é para o infeliz matuto que ali vive o mesmo que a
mauritia para os garaunos dos llanos.
pelos bois mais altos, ao modo de plantas ornamentais
entregues à solicitude de práticos jardineiros. Assim de-
conhecido, uma afirmação que
pode induzir a alguns a nada do Cerrado e da tintas na Estação Ecológica do
Raso da Catarina, aquele mes-
A jurema
Alimenta-o e mitiga-lhe a sede. Abre-lhe o seio cotadas semelham grandes calotas esféricas. Dominam fazer para a proteção ou conhe- mo lugar que se situa perto de
acariciador e amigo, onde os ramos recurvos e entrela- a flora sertaneja nos tempos felizes, como os cereus me- cimento de um bioma já tão ol- Caatinga é quase Canudos e que também pre-
vidado e muito degradado. serva as mesmas paisagens,
çados parecem de propósito feitos para a armação das lancólicos nos paroxismos estivais.
Citando jornalistas não
privilégio de cientistas flora e fauna vistas e descri-
O sertão é
comparáveis, gostaria de lem- tas por Euclides da Cunha, no
brar (ver páginas 37 e 38 da livro mencionado Os Sertões?
e ambientalistas
um paraiso...
Nordeste VinteUM) só uma O Raso da Catarina foi ainda
página do livro “Os Sertões um dos esconderijos de Lam-
– Campanha de Canudos” do ferrenhos. Sensibilizar pião e do seu bando. Porque
E o sertão é
nosso famoso escritor e, tam- não foi à Estação Ecológica
bém, engenheiro Euclides da de Aiuaba, no Ceará, ou Ita-
Autoridades é quase
um paraíso...
Cunha. Uma página que des- baiana, em Sergipe, e Seridó,
creve como reagem as plantas no estado de Paraíba, antes de
a uma chuva no Nordeste bra- impossível expressar seu desagrado pela
sileiro, em plena Caatinga. feiúra da Caatinga?
Só quem possui muita sensibilidade e paciência Estou segura que se ele tivesse feito um pequeno
para procurar e ver pode encontrar muita beleza na esforço para conhecer melhor a Caatinga teria gos-
Caatinga e no Cerrado, dois biomas muito degrada- tado e muito. Embora suas colunas deixem transpa-
os marizeiros raros -- misteriosas árvores que pressagiam
dos e quase extintos, na sua forma natural, no país, recer que é um homem irascível, também se percebe
a volta das chuvas e das épocas aneladas do “verde” e e que vem sendo tratados como lixo. Afinal, nós que, no fundo, é um personagem sensível. O ponto
o termo da “magrém” -- quando, em pleno flagelar da possuímos a Mata Atlântica, o Pantanal, a Amazô- principal de minha revolta é o fato de se dizer isso
seca, Ihes porejam na casca ressequida dos troncos nia, biomas luxuriantes, que além de abrigarem far- na televisão. Ele tem todo o direito de achar a Caa-
algumas gotas d’água; reverdecem os angicos; lourejam tas flora e fauna silvestres, apresentam paisagens tinga feia, mas bem poderia ter mantido sua prefe-
os juás em moitas, e as baraúnas de flores em cachos, e magníficas. Já descobrir a riqueza do Cerrado e da rência por outras plagas em seu círculo familiar ou
As juremas, prediletas dos caboclos -- o seu haxixe os araticuns à ourela dos banhados... mas, destacando- Caatinga é quase privilégio de cientistas e ambien- de amigos. Por isso, após esta reclamação de uma
capitoso, fornecendo-lhes, grátis, inestimável bebera- se, esparsos pelas chapadas, ou no bolear dos cerros, os talistas ferrenhos. admiradora, espero que Mainardi volte para o Nor-
gem, que os revigora depois das caminhadas longas, É muito mais fácil convencer autoridades a agi- deste e olhe melhor a Caatinga para descobrir quão
umbuzeiros, estrelando flores alvíssimas, abrolhando em
extinguindo-lhes as fadigas em momentos, feito um rem em prol da natureza, quando se trata da Ama- bela ela sabe ser.
folhas, que passam em fugitivos cambiantes de um verde
Fundação
filtro mágico -- derramam-se em sebes, impenetráveis pálido ao róseo vivo dos rebentos novos, atraem melhor o a da Funatura, membro do Conselho da
(*) Maria Tereza Jorge Pádua é fundador is da UICN.
tranqueiras disfarçadas em folhas diminutas; refrondam comissão mundial de Parques Naciona
O Boticário de Proteção à Natureza e da
olhar, são a nota mais feliz do cenário deslumbrante.
Publicado em 10/03/2008, no site Eco
38 Junho/2009 Junho/2009 39
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
S
Instante e no princípio era o verbo, essa palavra
devia ser falada ou cantada.
Voz, letra e
As inscrições vieram muito depois. São
encontradas nas ruínas dos templos, nas lá-
pides dos túmulos e nos monumentos.
As inscrições nas paredes das cavernas são, ainda
hoje, objeto das pesquisas de muitos cientistas.
Os primeiros donos da nossa terra se comunicavam
Nordeste
pela voz. Também muitos africanos sujeitos às longas
travessias e ao trabalho escravo. O colonizador portu-
guês veio com a força autoritária da escrita.
O cordel foi essa poesia da voz que ganhou o impres-
so à medida que as tipografias iam se tornando obsole-
tas para os grandes centros e se interiorizaram.
Cordel e cantoria são a mesma manifestação. São
narrativas contadas/ cantadas por poetas e improvisa-
dores, nas feiras, nos adros das igrejas, nos terreiros das
fazendas, nas longas noites do sertão.
Pode-se dizer que a cantoria tem regras mais rígidas
e opõem competidores que usam a palavra como arma.
Aqui se está diante de um torneio verbal e argumen-
tativo, como os que trovadores, jograis e goliardos espa-
lhavam pela Europa. Nos mesmos ventos que sopravam
histórias de encantamento de princesas, que aqui se
tornaram filhas dos donos das fazendas, de heróis que
passaram a ser nossos cangaceiros, e dos santos que se
metamorfosearam nos nossos beatos.
Juntando, outra vez, mitos indígenas e tradições afri-
canas, teremos um caldo maior para o tempero dessas
manifestações multiculturais.
A voz é essencial. A voz é tudo. A voz é sempre. Ape-
sar da efemeridade, levada que é pelo vento, ela deixa
marcas indeléveis, como cicatrizes.
A oralidade se fez presente em todo o Brasil. Está
nos causos gauchescos, nos mitos amazônicos, nas nar-
rativas do centro-oeste e nas catiras, nos ponteios das
violas e nas tradições mineiras, paulistas e fluminenses.
No Nordeste, talvez, a voz tenha se tornado mais
forte. Talvez porque a região, ainda chamada de Norte,
perdeu parte de sua importância política e econômica
no final do século XIX. Talvez porque as migrações eu-
ropéias e orientais tenham vindo em fluxos menores que
para outras regiões brasileiras. Talvez porque sejamos
mesmos mais conservadores.
Certo é que mantivemos a prevalência da voz. A pa-
lavra dada tem (ou tinha) força de lei e a expressão “ho-
mem (ou mulher) de palavra” foi sempre valorativa.
Hoje, a voz continua referencial, apesar das mídias
ou por isso mesmo, como na segmentação do rádio ou
na recepção “calorosa” da televisão, das tecnologias de
ponta (vide a febre do MSN) e das novas formas de so-
ciabilidade. E assim caminha a Humanidade...
Gilmar de Carvalho
Pesquisador, jornalista, publicitário e escritor
Idas e vindas
projetos culturais mediante a cele- cada R$ 1 investido, R$ 1,50 iam em 500% o atendimento aos mu-
bração de convênios e outros ins- para o custeio. Em 2008, a relação seus. Também conseguiu ampliar
trumentos similares, cresceu consi- passou de R$ 1 para R$ 0,78. Através cinco vezes o volume de dinheiro da
deravelmente nos últimos seis anos. da melhoria da qualidade do gasto área no Nordeste e Sul, 11 vezes no
Conforme o site Contas Abertas, do FNC, por exemplo, o governo Norte, três no Centro-Oeste e duas
em 2003, foram pagos por meio do investiu no aumento dos Pontos de no Sudeste.
O
recursos via renúncia fiscal”, afirma
Juca Ferreira. Por outro lado, é no mecenato que ra durante sua existência.
s números escancaram o tamanho riquezas produzidas no país, aproxi- como ficou conhecida, criou três for- Com os recursos próprios, o reside o “xis da questão” da cultura no O problema é que o mode-
do desafio brasileiro na área cultu- madamente R$ 2,9 trilhões. mas possíveis de incentivo à cultura MinC fez a sua parte e tem hoje a Brasil. O projeto idealizado pelo então lo concebido com a Lei Rouanet
ral. Dados do Ministério da Cultura E não foi só isso. A Lei Federal de no país: o Fundo Nacional de Cultura melhor execução orçamentária en- ministro Sérgio Paulo Rouanet teve o gerou imensas distorções, como
(MinC), apontam que, hoje, somen- Incentivo à Cultura 8.313, de 1991, (FNC), os Fundos de Investimento tre todos os ministérios – média de mérito de ter sido o responsável pela concentração, desigualdade, bai-
te 14% dos cerca de 190 milhões de que oportuniza a empresas e pesso- Cultural e Artístico (Ficart) e Incenti- 98%. Internamente, com o aumento retomada da produção cultural após xa participação de empresas, baixa
habitantes país vão ao cinema, pelo as físicas que apóiam atividades cul- vo a Projetos Culturais por meio de acentuado das despesas correntes a extinção do Ministério da Cultura, percepção da aplicação de recursos
menos, uma vez por mês. Enquanto turais aplicar parcelas do Imposto de renúncia fiscal (Mecenato). e dos investimentos, a estrutura que havia sido rebaixado ao status públicos, alto custo operacional e
92% não freqüentam museus, 93% Renda a título de doação ou patrocí- De fato, a soma de recursos in- dos gastos do ministério alterou- de secretaria no Governo Collor. Além elevado tempo de espera. De 2003
nunca vão a exposições de arte e nio, se transformou nas duas últimas vestidos tem evoluído, apesar de se significativamente de 2003 para disso, injetou, de forma indireta pela a 2007, apenas 3% dos proponentes
78% nunca assistiram a espetáculos décadas no maior indutor do desen- ainda insuficiente, na visão do mi- 2008. Há seis anos, as despesas com
via da renúncia fiscal, seu principal concentraram 50% do volume de
de dança. Dos 5.561 municípios do volvimento econômico da área cultu- nistro Juca Ferreira. O volume de pessoal e encargos sociais represen-
País, 90% não tem cinema, teatro, ral brasileira. A Lei Rouanet, recursos do Fundo Nacio- instrumento, R$ 8 bilhões na cultura recursos captados.
museus ou espaços multiuso. Um brasilei- Há dois anos, as regiões Sudes-
dos menores índices de leitura no te e Sul ficaram com 80% da ver-
mundo está no Brasil, com 1,7 livro ba captada, contra 6% do
per capita/ano. Nordeste, 11% do Centro-
No âmbito da máquina estatal, Oeste e 3% do Norte. No
para um país que sem- ano passado, somente o
pre reclamou da falta Sudeste abarcou 79%
de investimentos na dos investimentos
área, o cenário nos via renúncia,
últimos seis anos até que melhorou. restan-
Entre 2003 e 2008, o orçamento do do 11%
MinC que inclui pagamento de pes- (Sul), 6%
soal, despesas correntes (água, luz, (Nordeste), 3% (Centro-
telefone, etc.) e investimentos (exe- Oeste) e 1% (Norte) às ou-
cução de obras e compra de equipa- tras regiões. De cada R$ 10
mentos), saltou de R$ 359,7 milhões captados, R$ 9 são por meio
para R$ 869,5 milhões, com previ-
do mecenato e apenas R$ 1 é
são de R$ 1 bilhão para este ano.
dinheiro privado. Poucas vezes, o
O aumento da verba no ministério
cidadão tem conhecimento da ativi-
fez crescer a participação da Cultura
no Produto Interno Bruto (PIB), de dade cultural que foi realizada com
0,015% para 0,030% da soma das 100% de dinheiro público.
42 Junho/2009 Junho/2009 43
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Afora esses problemas, Nova le de fomento à cultura
há o fato de que nem todos Recursos O que muda
os projetos aprovados pelo
ministério conseguiram cap-
Orçamento e renúncia Proposta prevê novas >> FNC – O Fundo Nacional de
Cultura já existe na atual Rouanet,
tação com as empresas, caso mas permite apenas doação de
de menos de 50% das inicia-
tivas. Em 2007, mais de três mil projetos em tendências opostas formas de fomento 80% do valor do projeto, com
20% de contrapartida. Com a
passaram pelo sistema de avaliação, con- Nova Rouanet, o FNC poderá
sumindo tempo de trabalho dos funcio- Quanto à distribuição per capita dos recursos da Cultura nas Kleber fragoso/minc
fazer empréstimos, associar-se a
nários do MinC e tempo de espera dos regiões do Brasil, a desigualdade se evidencia ainda mais quando projetos culturais e fazer repasse
produtores, sem que chegassem a um para fundos municipais e estadu-
o assunto são os valores renunciados. Em cinco anos (2003-2007),
fim com sucesso. ais. A idéia é torná-lo mais atra-
“A renúncia é uma proposta de parce- ao passo que o governo procurou redistribuir melhor o bolo do tivo para produtores culturais e
ria público-privada para aumentar recur- dinheiro orçamentário, a tendência se inverteu na renúncia fiscal. transformá-lo em alternativa para
sos para a cultura. Teoricamente, em toda quem não conseguem captar
parceria, dois entes ou mais se juntam para
Dois anos atrás, o Sudeste subiu sua participação financiamento via renúncia.
atingir um objetivo comum. Nesses 18 anos de 55% para 60% do total e o Sul de 17% para 20%,
de lei, 90% do dinheiro é o imposto que em detrimento das regiões Centro-Oeste (18% – 11%) >> Renúncia fiscal – O meca-
deveria ser pago e deixa de ser pago para nismo continua existindo, assim
ser aplicado na cultura. Ou seja, é dinheiro e Norte (4% – 3%), ficando o Nordeste estacionado em como a CNIC (Comissão Nacio-
público. E dos 10% que teoricamente são 6% do dinheiro do mecenato. Por aqui, no ano de 2008, embora nal de Incentivo à Cultura), que
contribuição das empresas, boa parte é das os investimentos orçamentários e via renúncia tenham analisa os projetos. A única mu-
empresas estatais” coloca o ministro. dança é que, em vez de apenas
No atual modelo, o Estado entra com o subido desde 2003, saltando de R$ 11,5 milhões para ter duas faixas de renúncia - de
dinheiro e a empresa privada decide como R$ 14,8 milhões no primeiro, e de R$ 30,2 milhões para 30% e 100% -, passa a ter mais
usar”, critica. Isso acontece porque, muitas
vezes, as empresas preferem priorizar pro-
R$ 54,6 milhões no segundo, este último concentrou quase quatro - 60%, 70%, 80% e 90%. A
lei vai definir quais critérios serão
jetos com alto retorno de imagem e ênfase 80% do que foi aplicado pelo MinC na região. usados pela CNIC, que, além de
no marketing, o que acaba por não fortale- De seis anos para cá, todas as regiões passaram a enviar Juca Ferreira analisa contribuições ao projeto da nova lei com a equipe do Minc analisar aspectos orçamentários
mais projetos para o MinC, o que elevou a aprovação destes
cer a sustentabilidade e nem democratizar do projeto, vai obserar em qual
o acesso. Na visão de Juca Ferreira, o atual As distorções geradas no atual mo- dirigismo cultural com a nova Lei. faixa ele se encaixa. O objetivo da
sistema não tem controle social. Para se ter no país para percentuais sempre acima de 71%. Contudo, delo de financiamento da cultura vêm “Essa acusação foi tão frágil que pa- mudança é permitir uma maior
uma idéia do peso das empresas estatais, quando se compara os valores dos projetos, essa distribuição sendo discutidas há algum tempo. receu leite em pó, se dissolveu sem contribuição das empresas
entre 2002 e 2008, a Petrobras respondeu Com o objetivo de tentar mudar essa precisar bater. Na verdade, estamos
se concentra. Somente em 2008, por exemplo, Sudeste e realidade, o MinC apre- aumentando o con-
por R$ 1 bilhão da captação, seguida de >> Ficart – O Fundo de Investi-
Sul apresentaram 66% e 16% dos projetos, com captação sentou no final de maio trole social sobre as
Eletrobrás (R$ 204 milhões), Banco do Brasil
(R$ 139 milhões) e Bndes (R$ 75 milhões). de 80% e 12% do total de investimentos realizados. O
a proposta de uma Nova “Evidente políticas públicas de
mento Cultural e Artístico tam-
bém já existe. No entanto, nunca
Lei de Fomento à Cultu- cultura”, rebate Juca
Para o MinC, outra visão da inadequa-
Nordeste, com 10% dos projetos, ficou com 6% dos ra. Depois de 45 dias sob que qualquer Ferreira. “Evidente
saiu do papel, por falta de interes-
ção da renúncia está na insuficiência em se das empresas. A Nova Rouanet
dar conta da diversidade de demandas da recursos. Por último, ficaram Centro-Oeste (6% dos
consulta pública, quando
recebeu mais de duas mil
movimento que qualquer mo-
vimento igualitário quer aumentar a atratividade,
sociedade brasileira para a produção cultu- projetos, 2% de captação), e com maior dedução fiscal, para
ral. Na balança, os quatro
sugestões, e após percor- igualitário no no Brasil, tem gente
que seja uma alternativa atrativa
Norte (2% dos projetos, rer todo o país em deba- que vai se opor, por-
maiores segmentos –
Artes Integradas, Tea- 1% de captação). Desde
tes, no início de julho o Brasil, tem que aqui, privilégio para projetos com grandes chan-
ces de retorno financeiro.
ministro Juca Ferreira e a parece direito adqui-
tro, Edição de Livros e 2002, a região Sudeste equipe da pasta se reuni- gente que rido”, avalia.
Música Erudita – abo- ram para avaliar as con- Segundo o Go- >> Vale-Cultura – novidade
canham uma fatia teve 23 mil projetos e R$ tribuições recebidas e vai se opor, verno, a nova pro- do projeto, o vale de R$ 50 para
de 44% do dinheiro, 3 bilhões captados; toda sistematizadas, antes de
porque aqui, posta foi formatada trabalhadores pretende facilitar o
contra 14% dos 30 a região Norte teve 786 encaminhar o projeto ao para ampliar a capa- consumo de bens culturais para
segmentos cultu-
projetos aprovados e R$
Congresso Nacional.
Durante o processo
privilégio cidade de fomento à
cultura e aumentar
12 milhões de trabalhadores e
rais menores, como injetar, pelo menos, R$ 7,2 bilhões
Ópera, Circo, Cultu- 40 milhões. de discussões, os críti- parece direito as formas como o por ano, mais de seis vezes o
ra Popular, Folclore cos acusaram o MinC produtor pode aces- montante atual da Rouanet.
e Artesanato. de querer implantar um adquirido” sar os recursos.
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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
A CENTRALIZAÇÃO PIONEIRISMO DA LEI COLLOR E ROUANET
História,
Breve histórico das DOS MILITARES / SARNEY Em 1990, o governo Collor
cultura,
políticas culturais no Brasil MINISTÉRIO SÓ EM
1985
A primeira Lei Federal visan-
do propiciar meios de incen-
suspendeu os benefícios da Lei
Sarney, assim como outros incenti- natureza
vos fiscais em vigor. O mecanismo
A política cultural brasileira, sob a forma de Lei Federal, surgiu apenas
O regime militar foi
tivo foi a chamada Lei Sarney
(Lei nº 7.505, de 2 de julho de
de apoio às atividades culturais foi e esportes
na década de 80 do século passado. Forma de fomento bastante restabelecido com a Lei nº 8.313,
questionada no contexto atual, o mecenato sempre desempenhou
marcado por idas e vindas
da política cultural, quan-
1986), instituída no ano seguin-
te à criação do Ministério da
de 23 de dezembro de 1991 (Lei radicais
papel importante na cultura nacional do se observa um viés Rouanet), que criou o Progra-
Cultura, então já desvinculado
centralizador, com uma “re- ma Nacional de Apoio a Cultura
da pasta da Educação. Essa lei
nacionalização” do fomen- (Pronac). Com isso, retirou-se o
pioneira criou a ‘era’ do Mecena-
to às artes. A Embrafilme produtor como elemento central e
to no país.
nasce em 1969, seguida do em seu lugar colocou-se o projeto
Naquele primeiro momento,
Departamento de Assun- cultural, que passou a ser analisado
as empresas puderam finan-
REPÚBLICA VELHA GETÚLIO, CAPANEMA O PÓS-GUERRA DA tos Culturais, em 1972 e do ciar ações culturais por meio
pelo Ministério da Cultura como
passível de captação de recursos
De acordo com Júlio
E OS ARTISTAS ELITE PAULISTA Programa de Ação Cultural da renúncia fiscal, desde que
aptos à renúncia fiscal. Nas esferas
(PAC), no ano seguinte. tais ações fossem levadas a
Lucchesi Moraes, da Ney Braga assume o Mi- estadual e municipal, as Secreta-
A Era Vargas represen- Com a Segunda Guerra, cabo por produtores artístico-
Faculdade de Econo- nistério da Educação em rias de Cultura, com base nas suas
tou uma grande inflexão houve uma diminuição culturais, tanto públicos quanto
mia, Administração e 1974, e a política cultural próprias legislações, seguiram o
na política cultural brasi- do dinamismo estatal privados. As entidades culturais
Contabilidade da Uni- passa por nova inflexão. mesmo critério. (Fonte: Marcos
leira, com a assunção de no mundo artístico. Isso deveriam comprovar junto
versidade de São Paulo Mesmo assim, em 1975 dá- Agostinho – MinC)
Gustavo Capanema ao fez emergir na São Paulo ao Ministério seu objetivo de
(FEA-USP), na época se a criação da Fundação produzir e difundir a Cultura
Ministério da Educação do pós-guerra um novo
da República Velha, Nacional da Arte (Funarte) para então obter um registro no
e Saúde Pública, órgão padrão de fomento cul-
mediante a utilização para “promover, estimular Cadastro Nacional de Pessoas
que cuidava dos assuntos tural. “Tanto o vertiginoso
de seu poder político e e desenvolver artes cul- Jurídicas de Natureza Cultural
culturais. Assessorado crescimento paulistano
social, a figura do mece- turais no Brasil”. Foi con- (CNPC), sob o controle do MinC
por artistas e intelectuais no começo dos anos 1950
nas controlava o campo siderada a abertura para e da Secretaria da Receita Fede-
como Mário de Andrade e quanto a ascensão da
intelectual e a ‘arte ofi- um dos mais importantes ral do Ministério da Fazenda.
Cândido Portinari, Carlos elite cultural fizeram da
cial’ com a distribuição momentos da política cul- Dentro dessa perspectiva, o
Drummond de Andrade cidade um grande palco
de auxílio financeiro tural brasileira: a fundação produtor era o elemento central,
(chefe de gabinete) e de efervescência cultural.
ou apoio institucional do Ministério da Cultura, pois as ações de captação de
Heitor Villa-Lobos, teve na Surgiram diversos cinemas
a um grupo de artistas em 1985, cujo primeiro recursos e de produção artístico-
música uma importante e teatros pela cidade, a
privilegiados. Eram os ministro foi o economista cultural ficavam a seu encargo.
influência no plano de Cinelândia Paulistana, o Te-
chamados “barões da paraibano Celso Furtado. Após recebido o aporte de
formação da identidade atro Brasileiro de Comédia,
cultura”, elite oriunda recursos, a título de doação ou
política e cultural do Brasil o Museu de Arte de São
das famílias cafeiculto- patrocínio, a entidade cultural
naqueles anos. Paulo (Masp), o Museu de
ras de então. deveria prestar contas à Receita
Arte Moderna e a Compa-
nhia Cinematográfica Vera Federal e ao Ministério da Cultu-
Cruz, em 1949. Tempos da ra sobre a sua correta aplicação.
influência dos Matarazzo.
A descaracterização
vido. Ao contrário, agravou-se. Esse cenário fica ainda em Roraima sequer houve captação. A desigualdade tor-
mais preocupante pelo fato de as empresas estatais fi- na-se mais evidente com a notícia de que a captação em
gurarem como as principais incentivadoras dos pro- 17 estados, naquele exercício, foi inferior a 1%.
jetos culturais, uma vez que, em 2006 e 2008, contri- Em 2007, o Minc atribuiu a distorção à pequena de-
do mecenato e a
buíram com cerca de 36% e 31%, respectivamente, do manda proveniente das regiões Norte, Nordeste e Cen-
valor total captado. tro-Oeste, que decorreria da falta de informação sobre os
O quadro demonstra a descaracterização do instru- procedimentos e possibilidades de apoio.
regionalização de recursos
mento do Mecenato, mediante a prevalência do financia- Já em 2008, o órgão alegou que o problema derivaria
mento público das atividades culturais. O mecenas é o do modelo instituído pela Lei Rouanet, que privilegiaria
“patrocinador generoso, protetor das letras, ciências e a a renúncia fiscal como mecanismo de financiamento,
artes, ou dos artistas e sábios” e como tal não se conce- acarretando “concentração de recursos em projetos de
redacao@nordestevinteum.com.br be a pessoa física ou jurídica que efetua patrocínios ou maior visibilidade, em regiões de maior concentração de
doações, mas com o benefício de abater do Imposto de população e renda”.
A
Renda que deveria pagar o total do valor despendido. Para atacar a situação, o MinC noticiou, a adoção
Constituição de 1988 estabelece que cabe ao Es- centivos, os quais têm sido, nos últimos anos, superiores
Críticas já foram tecidas a res- de medidas para fortalecer as redes de produto-
tado garantir a todos o pleno exercício dos direi- aos aplicados por meio do Orçamento da área da Cultura,
peito do ponto na análise das ci- res com o programa Pontos de Cultu-
tos culturais e acesso às fontes da cultura nacio- os dados indicam que a redução das desigualdades nessa
nal, apoiar e incentivar a valorização e a difusão área não tem sido alcançada, assim como o financiamento
tadas contas governamentais do Esse cenário ra, implementar o sistema SalicWeb
exercício de 2006, a partir do ra- e contemplar a questão em proposta
das manifestações culturais. Também prevê a necessidade das ações culturais tem ocorrido primordialmente por par-
de o Plano Nacional de Cultura contemplar a valorização te do Poder Público.
ciocínio de que este mecanismo fica ainda mais de projeto de lei que visa substituir a
de gasto tributário via renúncia Lei Rouanet, mediante a instituição
da diversidade étnica e regional, de a lei estabelecer incen- Os recursos de patrocínios e doações previstos na Lei
tivos para a produção e o conhecimento de bens e valo- Rouanet tem natureza jurídica de “verba pública”, conso-
integral de receita pública tem a
característica de despesa públi-
preocupante pelo do Programa Nacional de Fomento e
Incentivo à Cultura (Profic).
res culturais e de haver demonstração na lei orçamentária ante já assentado na jurisprudência do TCU. Quanto ao fi-
ca, executada fora do Orçamento
anual do efeito regionalizado dos benefícios tributários. nanciamento das ações culturais por parte do Poder Públi-
público federal, caracterizando a
fato de as empresas que Essas informações demonstram
o órgão não está inerte. Em do-
No intento de atender parte des- co, observou-se, nas contas do
sas disposições, a Lei Rouanet ou Lei ... a redução das
existência de vinculação de recei- cumento intitulado Nova Lei de Fo-
Governo do exercício de 2006,
ta, em desacordo com o princípio estatais figurarem mento à Cultura, disponível no site
do Mecenato, instituiu o Programa que “a totalidade do valor cap-
da não-vinculação de impostos. do MinC, apontou-se que a renúncia
Nacional de Apoio à Cultura – Pronac, desigualdades nessa tado pelos projetos culturais como as principais
Outro inconveniente ressalta- fiscal não tem sido capaz de dar con-
com a finalidade de captar e canalizar não deveria, a princípio, se tor-
do foi o fato de provocar concen- ta da diversidade cultural, haja vis-
recursos para o setor de forma a, en- área não tem sido nar efetiva renúncia fiscal, ou
tre outros objetivos, facilitar a todos seja, um gasto tributário (gasto
tração dos recursos recebidos nos incentivadoras dos ta que se revela como instrumento
segmentos culturais relacionados concentrador e desigual e apresenta
os meios para o livre acesso às fontes alcançada, assim governamental indireto de na-
da cultura e o pleno exercício dos di- tureza tributária)”.
no artigo 18 da Lei Rouanet, ques- projetos culturais baixa participação das empresas, pe-
tionando-se a adequação do proce- quena percepção da aplicação de re-
reitos culturais, promover e estimu- O que se verifica, todavia,
lar a regionalização da produção cul-
como o financiamento é que, nos últimos anos, tem
dimento, diante da grande diver- cursos públicos e alto custo operacio-
sidade e da elevada quantidade de projetos fomentados nal e tempo de espera.
tural e artística, com valorização de havido predominância do fi-
recursos humanos e conteúdos locais, das ações culturais
com base no dispositivo. Estão em debate alternativas para melhorar a ges-
nanciamento estatal (renúncia
Relativamente ao aspecto negativo da concentra- tão dos recursos na área, entre as quais se destacam as
e proteger as expressões culturais dos efetiva) sobre o privado (dife-
grupos formadores da sociedade brasi- tem ocorrido
ção dos financiamentos dos projetos culturais, extrai- que buscam fortalecer o FNC, associar empreendimen-
rença entre o valor investido e o re-
se que ocorre basicamente na região Sudeste do país, tos, aumentar a participação da Comissão Nacional de
leira e responsáveis pelo pluralismo da nunciado pelo incentivador). De fato,
a qual foi contemplada, no ano de 2006, com 83% dos Incentivo à Cultura, transferir recursos para estados,
cultura nacional. primordialmente por a renúncia efetiva correspondia a recursos, considerando especialmente que as empre- municípios e o Distrito Federal e conferir maior flexibili-
Entre os mecanismos utilizados 30% dos recursos captados em 1993,
sas estatais federais responsáveis pelos investimentos dade de cotas de isenção.
estão o Fundo Nacional da Cultura parte do Poder Público alcançando cerca de 53% em 1999 e
estavam sediadas nos estados do Rio de Janeiro, São Não se concebe viver sob a forma de uma Federa-
(FNC) e os incentivos a projetos cul- de 89% em 2006 e 2007 e quase 91%
Paulo e Minas Gerais. ção enquanto houver desigualdades nas dimensões das
turais. O FNC é de natureza contábil em 2008. Ou seja, nesse último ano,
Essa situação vai de encontro à finalidade do Pro- citadas. O Brasil é um país com uma diversidade cultu-
que propicia o apoio a projetos de instituições públicas ou apenas aproxima- damente 9% da captação partiu de re-
nac, o que propiciou ao TCU recomendar ao MinC que ral que o destaca além de suas fronteiras, considerando
privadas sem fins lucrativos a fundo perdido ou mediante cursos da iniciativa privada.
adotasse “providências no sentido de reduzir as desi- que a variedade e a qualidade da produção artística as-
financiamentos reembolsáveis. Entre seus fins, está o es- Essa alteração do cenário pode ser explicada especial-
gualdades regionais mediante a aplicação do montan- sumem papel relevante para conhecimento do país no
tímulo à distribuição regional eqüitativa dos recursos em mente pela possibilidade de dedução integral do incentivo
te de recursos captados por meio da renúncia fiscal cenário internacional.
projetos culturais e artísticos e o favorecimento à visão in- propiciada pela alteração do artigo 18 da Lei Rouanet, in-
(Mecenato) de forma desconcentrada e proporcional Neste momento em que se buscam, além de suplan-
terestadual, estimulando aqueles que explorem propostas troduzida originalmente pela Medida Provisória nº 1.589,
à população”. tar a crise internacional, o alcance de maior nível de
culturais conjuntas, de enfoque regional. de 24/09/1997. Conforme relatado no exame das contas
Não obstante isso, a situação ainda não foi suficien- crescimento e a diminuição das desigualdades criadas
Os incentivos, por sua vez, constituem-se em instru- de 2006, a “alteração legal possibilitou ao particular uma
temente alterada. Em 2008, a região Sudeste continuou por anos de subdesenvolvimento, é imperativo atuar
mento que possibilitam às pessoas físicas ou jurídicas auto-promoção, por meio do patrocínio de ações culturais
responsável por cerca de 80% da captação total, desta- também para que a cultura seja acessível a todos de for-
abater do Imposto de Renda devido valores destinados a que, na verdade, são totalmente arcadas pela União”. Hou-
cando-se São Paulo, com 40% do montante. À região Sul ma igualitária, o que só será possível com a integração
doações ou patrocínios de projetos culturais. Contudo, pas- ve, em essência, um estímulo a “uma maior participação
coube 10% do total captado, ao Nordeste 6%, ao Centro- da sociedade, e não só do Estado.
sadas quase duas décadas da edição da lei, com acentuado dos entes privados no patrocínio de ações culturais, sem
aumento no volume de recursos captados por meio de in- que estes efetivamente disponibilizem recursos próprios”.
unal de Contas da União ( TCU )
(*) Ubiratan Aguiar é presidente do Trib
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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
FESTA DO DIVINO O ANO TODO
PARA A ESTANTE
Gilmar de Carvalho e
“LULA NA LITERATURA CEAMARAÍBA: CANTIGAS Ora direis, ouvir rabecas
DE CORDEL” EM FORTALEZA COM SOTAQUE NORDESTINO Rabecas do Ceará, do pesquisador, jornalista, pu-
blicitário e escritor Gilmar de Carvalho, é fruto das
Crispiniano Neto, poeta potiguar, preside a Funda- O CD Cearamaíba é um viagens deste mestre interessado pelas relações entre
ção Cultural José Augusto, de Natal. canto de amor e irresigna- comunicação e cultura pelo interior do Ceará entre
Recentemente, tomou posse na Aca- ção com sotaque de gente os anos de 2004 e 2006. Ele percorreu serras, estradas
demia Brasileira de Literatura de Cordel de casa. São três vozes carroçáveis, trilhas “e até mes-
que há cerca de 30 anos
(ABLC), com sede no Rio de Janeiro, mo, rodovias asfaltadas”, de 40
ecoam por este mundo
cujo atual presidente é o cearense No calendário folclórico do Maranhão, o Centro de Cultura municípios numa aventura que
chamado Nordeste. E vão
Gonçalo Ferreira da Silva. Amigo de Popular Domingos Vieira Filho deu relevo à Festa do Divino, rendeu entrevistas pelas casas
calar no fundo do coração
uma manifestação folclórica originada em Portugal pela
Lula, o poeta Crispinano não fez por de quantos ainda sabem de cem tocadores e fabricantes
Rainha Dona Isabel, no século XIII, em razão da construção
menos: lançou o livro Lula na Literatura sonhar, mas, sobretudo, de rabecas. O resultado é um
da igreja do Espírito Santo, em Alenquer. A festa chegou ao
de Corde”, uma coletânea apologética que enfeixa 60 fo- sabem alcançar os raios
Brasil no século XVI e popularizou-se em estados do Sul e excelente maço gráfico-editorial
de esperança que descem sobre a nação do povo nor-
lhetos sobre o presidente da República, cuja trajetória Sudeste. Fincou raízes no Maranhão, em Alcântara, onde sobre o instrumento e o dom,
destinado. E nordestino você sabe, caro leitor, parece
desde o limiar da luta sindical vem sendo cantada pe- constitui-se numa bela manifestação que mistura o profano seus contextos e a curiosidade de
ter o dom da ubiqüidade, pois vagueia qual Ashaverus, o
e o religioso, com forte influência africana. Seu surgimento
los vates populares. Apesar de quase todos os folhetos judeu errante, de seca à Meca. Vai de um lugar a outro descobrir sonoridades perdidas.
está provavelmente ligado à frustrada visita de Dom Pedro
que constam da obra terem feição elogiosa, um chama incansavelmente, como um beduíno do deserto. Cea- Destaque também para o trabalho do fotó-
II à cidade, quando os escravos, decepcionados, teriam ido
a atenção por fugir da toada laudatória. “A Chegada de ramaíba é o sonho e a esperança feito arte desses três grafo Francisco Sousa.
em cortejo à igreja, coroando um imperador e “inventando”
caminheiros errantes: o cearense Bernardo Neto; Cacá
Lula ao Inferno” apresenta críticas ao governo lulo-pe- a festa. O tradicional ritual acontece da Quinta-feira de
Farias, do Maranhão; e Marcos Santos, da Paraíba.
tista e fala dos muitos escândalos. O poeta Crispiniano Ascensão do Senhor ao Domingo de Pentecostes. Neste ano,
Parceiros de longa caminhada que carregam na voz o
Neto assegura que depois de Lampião, Padre Cícero e em quase todos os dias de todos os meses há encenações
mistério da boa cantoria e derramam seus versos por
Frei Damião, Lula é o nome que mais inspira os poetas
cordelistas. Crispiniano Neto vai lançar Lula na Literatu-
sobre nossas cabeças, nossos corações.
folclóricas na capital São Luís e outras cidades do Estado.
Cordel e culinária juntas
ra de Cordel em Fortaleza, no dia 24 de julho. Fliporto reúne melhor da “A peleja do alecrim com o coentro e outros
Agenda cultural da Bahia com literatura ibero-americana causos culinários: receitas e cordel”. Com esse
100 CORDÉIS HISTÓRICOS Wagner Moura, em Hamlet
título, a autora Tatiana Damberg mistura as rimas
bem-humoradas da literatura de cordel com a per-
Pernambuco irá sediar a V edição da Festa Literária
Numa iniciativa inédita, a ABLC levou a termo Internacional de Porto de Galinhas (Fliporto 2009), sonalidade forte da culinária nordestina. Assim como
a publicação de cem títulos. O livro 100 Cordéis Os destaques culturais do mês de julho na Bahia são Os entre os dias 5 e 8 de novembro. Em discussão, a as cantorias dos repentistas, as receitas sempre foram
Históricos é resultado de levantamento feito por de- Salões Regionais de Artes Visuais, com abertura no dia 17, literatura produzida no Brasil, Portugal e Espanha. passadas boca-a-boca. O Cordel foi um meio de
zenas de pesquisadores e poetas populares em todo o na cidade de Valença. Os eventos, que este ano chegam No ano passado, a Fliporto reuniu mais de 150 transportar os repentes para o papel, assim como
também a Juazeiro e Porto Seguro, são um projeto estraté- escritores de 17 Países nas dependências do Hotel os livros de receitas acolhem a história e o passo-a-
Brasil, mas especialmente no valioso acervo da ABLC,
gico da Secretaria de Cultura. Por intermédio da Fundação Armação, palco das discussões. Na edição de
que conta com cerca de 13 mil folhetos, alguns deles passo de almoços memoráveis de famílias e amigos.
Cultural e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico, o
verdadeiras raridades bibliográficas. A obra, com o órgão tem investido na criação de novos espaços exposi-
2009, o evento estará sob a batuta da coordenação As receitas estão divididas entre ‘Rimas de sal e muita
selo da Editora Queima-bucha, é composta de dois tivos e na dinamização da programação de suas galerias e geral do escritor e advogado Antônio Campos pimenta’ para pratos salgados e ‘Rimas de amor e de
museus. Nesta edição da Agenda, o aguardado e a produção executiva a cargo de Eduardo Cortes, açúcar’ para as sobremesas. Ca-
volumes que totalizam 598 páginas e apresenta um rol
espetáculo teatral Hamlet, com o ator baiano fundador da Fliporto. A curadoria literária é do jornalista pernambucano napés de feijão verde com jeri-
de 41 autores, alguns dos quais clássicos da Literatura
Wagner Moura; o V Seminário Internacio- Mário Hélio. A conferir, sem dúvida, pois, como disse Fernando Pessoa, mum e cebola roxa caramelada,
de Cordel, como Leandro Gomes de nal de Cinema e Audiovisual; e a estréia da “Damo-nos tão bem um com o outro/ Na companhia de tudo/ Que nunca
Barros, João Martins de Athayde, José nova montagem do Balé do Teatro Castro almôndegas de charque no mo-
pensamos um no outro,/ Mas vivemos juntos e dois/ Com um acordo
Pacheco e Firmino Teixeira do Amaral. Alves, assinada pelo espanhol Victor Navarro. lho de jerimum, arroz de cuxá,
íntimo/ Como a mão direita e a esquerda.”
O trabalho contou também com a Para as crianças, uma opção é o espetáculo cupcake de puba com goiabada,
colaboração da Professora Maria do Do espelho e dos cacos, adaptação da biscoitos mascavados com ca-
fábula A Rainha da Neve, no Teatro cau e até um delicioso sorvete
Rosário F. Pinto, do Centro Nacional
Gamboa Nova. Temos ainda a
de Folclore e Cultura Popular; e de tapioca são apenas algumas
comemoração dos 25 anos do
do Poeta Vidal Santos, presidente Cine Teatro Solar Boa Vista, que das ousadias gastronômicas de
da Academia Brasileira de Cordel. movimenta a cena cultural do Tatiana Damberg.
bairro Engenho Velho de Brotas,
em Salvador. Colaborou: Barros Alves
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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Moeda social X sistema financeiro
A
aquela profusão de CPFs excluídos do despeito da crise mundial e da exclusão de par- cos comunitários brasileiros ainda é
tímida em comparação às estatísticas
mercado financeiro tradicional. te da população brasileira ao sistema financei- do Grameen Bank, mas nem por isso
ro tradicional – 43%, segundo o Banco Mun- menos animadora. Para se ter uma
Saiba mais sobre o segredo idéia, o país já possui cerca de 10 mil
dial, uma alternativa avança a bem da melhoria
dessa proposta de de vida das comunidades carentes: os bancos
pessoas atendidas. Não por coinci-
dência, a grande maioria, 80%, está
economia solidária comunitários. Com a proposta de garantir crédito, sem a localizada nas regiões Norte e Nor-
deste. Esta última obtém 70% dos
que se multiplica formalidade excessiva dos bancos tradicionais e com juros recursos e 33 dos 34 bancos situados
junto aos alijados, menores, esse mercado tem potencial comprovado pelos nas duas regiões. Um reforço impor-
tante, pois a relação de habitantes
para colocá-los cerca de R$ 1,8 milhão movimentados por mês nessa rede por agência tradicional nessas loca-
lidades é três vezes maior que nas
além da linha de atendimento. Um número pródigo e que reflete o bom regiões Sul e Sudeste, onde existe
de pobreza desempenho dos 45 bancos comunitários existentes em 30 maior concentração de atividade pro-
dutiva e, portanto, maior percentual
municípios do país. de acesso a crédito.
A inspiração para o surgimento dos bancos Recente estudo do Instituto de
University of Pennsylvania
comunitários do Brasil vem de uma iniciativa do Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
professor bengalês Muhammad Yunus, que em “Transformação na indústria bancária
1983 criou na região de Bangladesh – uma das brasileira e o cenário da crise”, indica
mais pobres do mundo, o Grameen Bank. Na bri- que a queda da presença do Estado
ga por uma realidade local menos excludente, no mercado financeiro brasileiro, re-
o Grameen disponibiliza crédito com juros duzindo o número de bancos, fomen-
reduzidos aos mais pobres, livrando- tou a desigualdade social nos últimos
os dos agiotas. Lá, após mais 11 anos. Os Estados com menor pre-
de R$ 3 bilhões aplica- sença de agências bancárias são Ma-
dos em empréstimos, ranhão, Piauí, Alagoas, Pará e Ceará.
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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Elza Fiúza/ABr Elza Fiúza/ABr Nada de Serasa ou SPC
geração de renda para ções da Sociedade Civil de Interesse para bancos comunitá- lhões movimentados mensalmente pela
pessoas das classes C e D nessas lo- Público (Oscips), e também focam rios e os do Povo, ele tem como foco comunidade, quase tudo escoava para
calidades. O principal destaque da no crédito a juros reduzidos. a redução do seu custo operacional. outros bairros, uma idéia de subversão
iniciativa é uma idéia com berço no Outro projeto que inclui CPFs “Cliente de fila não é correntista, não àquele comportamento de mercado
Brasil e copiada até fora do país: a até então fora do mercado financei- é o objetivo dos grandes bancos”, diz surgiu. Afinal, quase todo fluxo de di-
moeda social. Usada para movimen- ro tradicional, é o Banco Popular do Gustavo. Um detalhe é que embora te- nheiro simplesmente deixava de orbitar
tar o mercado de cada região que pos- Brasil. Subsidiário integral do Banco nha o nome de Banco Popular, a unida- ali, não gerando qualquer benefício à
sua um banco comunitário, a moeda do Brasil, o BPB disponibiliza cré- de de Ipatinga é um modelo de Banco economia local.
tem o mesmo valor do Real e protege dito, produtos e serviços bancários, do Povo. A primeira atitude foi, então, ma-
os comércios locais, impedindo que sendo também parceiro dos bancos Enquanto o Banco Popular do pear a produção e o consumo do Pal-
o dinheiro saia da comunidade. Cada comunitários. “Tanto os bancos co- Brasil é devidamente cadastrado no meiras no ano de 1998. Em seguida,
banco comunitário possui moeda so- munitários como os do Povo podem Banco Central, o mesmo não acontece o objetivo seria fundar um banco cuja
cial própria. ser correspondentes bancários do com as iniciativas da economia solidá- prioridade fosse ajudar a clientela a sair
“Com ela, há uma proteção con- Banco do Brasil, já que trabalham ria. “Até porque eles não são bancos, da pobreza. E com um segredo: traba-
tra a competição externa, ou seja, a com o micro crédito orientado”, in- são Oscips”, lembra a subprocuradora lhar com juros menores.
de grandes empreendimentos capi- forma o gerente executivo de clien- geral do Banco Central, Marusa Vas- Banco Palmas disponibiliza crédito para quem está fora do sistema financeiro
A proposta desafiadora ao cenário
talistas”, comenta o economista Paul tes menor renda do Banco do Brasil, concelos Freire. Mas, hoje, está em sócio-econômico do lugar era oferecer A moeda Palma, que tem a mis- pelo banco é o da confiança.
estudo um projeto para a regulamen- linhas de micro crédito aos excluídos do são de fazer o dinheiro circular den- João Joaquim explica: “Não consulta-
tação dessas iniciativas da sociedade sistema financeiro tradicional. O pilar tro do Palmeiras, é aceita em todos os
Elza Fiúza/ABr mos SPC ou Serasa porque grande parte da
civil. “Estamos estudando como acom- da dinâmica do empreendimento era 240 pontos comerciais cadastrados clientela está com o nome sujo na praça. Há
panhar. Isso vai ser feito em parceria a criação de uma moeda exclusiva não no conjunto. Quem opta por ela tem pessoas inclusive com passagem pela polí-
com a Senaes/MTE”, destaca Marusa, oficial: a Palma, que circularia simulta- até direito a descontos dos comer- cia, mas que querem reconstruir suas vidas.
sem definir prazos. neamente ao Real. ciantes e produtores. A vizinhança é quem dá o aval moral”.
O fortalecimento dos bancos co- Nada de Serasa ou SPC (Serviço “É claro que existiam outras ex- Essa “mágica informalidade” da nego-
munitários denuncia não só a dificul- de Proteção ao Crédito). A ficha do periências de bancos comunitários ciação do Palmas ajudou a mudar a vida
dade da população de baixa renda na interessado em crédito seria levantada no mundo, mas operando com essa da comerciante Aurileide Alves Cordeiro,
abertura de uma conta bancária, mas entre os vizinhos. E uma vez por mês perspectiva de duas moedas circulan- uma das primeiras correntistas. Logo após a
um sistema bancário que contribui os “banqueiros” – artesãos, costureiras tes, nós somos os pioneiros”, afirma o inauguração, ela pegou emprestado R$ 400
para a exclusão sócio-econômica. Em e comerciantes – discutiriam a carteira, coordenador do Banco Palmas, João para investir num mercadinho. Livre de bu-
bancos tradicionais, a média de juros taxa de juros, inadimplência. Joaquim de Melo. rocracia, a transação motivou a comerciante
para a pessoa física gira em torno de Dos R$ 2 mil iniciais, distribuídos A boa aceitação é sustentada prin- a pedir mais cinco empréstimos. Todos para
7%. Já nos bancos comunitários, os ju- logo no primeiro dia aos cinco únicos cor- cipalmente pelos métodos informais de compra de mercadoria. Com a evolução do
ros não passam de 2%. rentistas, hoje o banco surpreende com negociação. O banco virou um marco negócio, Aurileide realizou sonhos, como
Em artigo a respeito do Seminário o seguinte salto: 1.600 postos de traba- não apenas do ponto de vista comer- trocar de carro e reformar a casa. “O Palmas
Internacional sobre o Desenvolvimen- lho gerados, sete pequenas empresas cial, mas sobretudo social. Por exem- proporcionou isso. E já penso em pedir ou-
to, ocorrido em março, em Brasília, o criadas, 1.800 associados e R$ plo, para fazer parte da sua carteira de tro empréstimo. Sempre que posso faço a
economista Ladislau Dowbor comenta
divulgação
1,3 milhão em seus cofres. clientes, o princípio básico observado propaganda de lá”, comemora.
que “no Brasil, cobra-se em juros por
mês, o que se cobra anualmente no
Com a moeda social , há uma proteção contra a competição resto do mundo”. Para ele, ao dificultar
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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
História da comunidade propõe criar um car- episódios foi benéfica. Começaram Rede
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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Banco Quilombola. Em Alcântara, no
Municípios Maranhão, usa moeda Guará e conta com mais criação de 10 bancos comunitários com
de Governos e monitoramento
A partir da avaliação favorável, o mu- O coordenador do Palmas informa
nicípio gasta R$ 10 mil em capacitação também sobre um projeto entre o banco
e R$ 30 mil em crédito para instalar o e o Ministério do Trabalho (MTE) para a
brasillocalemfotos.blogspot.com
Tudo acontece porque o Palmas Teoria e prática funcionam igual- serviço. Mas, e se a localidade não possuir criação de mil bancos comunitários até
faz o acompanhamento necessário, ou mente para os bancos comunitários os R$ 30 mil? Simples: poderá usar os dezembro de 2010. Serão necessários R$
seja, monitora, mantém as máquinas provenientes do Instituto. Ainda que recursos do Instituto Palmas, que recebe 10 milhões para a viabilização de crédito,
e controla a inadimplência. Mas essa não possuam empresas próprias, como o valor do Banco Popular do Brasil a 1% fomento e capacitação.
assessoria não vem de graça. De todo as que existem no Banco Palmas, eles de juros e empresta ao município a 1,5%. Outro projeto em tramitação na
o faturamento, 10% vão para o Banco adotam a mesma dinâmica da sua ins- Já no caso dos R$ 10 mil de fomento, o Secretaria Nacional de Economia Soli-
Palmas. Outro dado relevante: dos 45 piradora. Para começar, todos operam ções de oportunizar o surgimento de O estudo dá uma compreensão do jeito é tentar um patrocínio. dária do MTE é a parceria envolvendo o
bancos existente no país, 39 recebem com duas moedas. empresas na região. potencial, da base monetária local. O pró- “O instituto vem conseguindo esse Ministério do Desenvolvimento Social e
recursos do Instituto Palmas. O motivo é que nem tudo o que a Para se instalar um banco comunitá- ximo passo é multiplicar o que a comu- patrocínio para os municípios com o Combate à Fome (MDS). A entrada do
É o caso do Banco Quilombola, em população precisa existe na comunidade. rio em um município, não é complicado. nidade consome pelo preço, e assim ter Ministério do Trabalho ou com a Petro- MDS se justifica pelo fato de muitas famí-
Alcântara, no Maranhão. Inaugurado em “Muitos acham até chique comprar no Após a solicitação da prefeitura, o Insti- uma idéia do que é preciso para satisfazer bras”, diz o coordenador Joaquim. Em lias atendidas pelos bancos comunitários
2007, no Dia da Conscicência Negra, 20 pólo mais próximo”, comenta Joaquim. tuto Palmas faz o estudo “Mapa da Pro- a demanda. “Se eu sei, por exemplo, que 2008, o Governo do Estado possibilitou a serem beneficiárias do Bolsa Família.
de novembro, o banco tem na moeda Mas, é para melhorar a oferta e fazer as dução e do Consumo”. Uma pesquisa de essa comunidade consome 300 quilo-
Guará um forte aliado para o desenvol- pessoas ficarem tentadas a valorizar o mercado a partir da realidade de 10% das gramas de arroz, e sei quanto é o quilo,
vimento local. A instituição já conta com
mais de 800 correntistas.
local onde vivem, que o Palmas empresta
capital. A partir daí, o banco tem condi-
famílias, verificando-se a quantidade e as
marcas dos produtos consumidos.
eu posso multiplicar e ter um valor total”,
afirma Joaquim de Melo. Estudo do Governo via UFC comprova êxito
3.600 bancos
Venezuela adota idéia “Eles chegaram a criar um setor espe- enquadrados como instituições civis,
cífico dentro do Ministério da Econo- sem fins lucrativos, com a tarefa de
cida, pode formar seu próprio banco Uma comissão de 20 técnicos vene-
comunitário. No Brasil, organizações zuelanos veio ao Brasil para conhecer
vem tentando há anos implementar o banco e conferir a metodologia do Em janeiro de 2008, o Ministério do Trabalho enco- projetos sociais em comunidades ligados exclusivamente
essa metodologia, sem sucesso. Um empreendimento. Os dois países con- mendou uma pesquisa de impacto e imagem do Banco à educação, saúde, violência ou habitação. No Palmeiras,
Projeto de Lei da deputada federal solidaram em julho de 2007 um inter- Palmas à Universidade Federal do Ceará (UFC). O a discussão gira em torno da Economia. “Não é comum
Luíza Erundina (PSB/SP), que cria câmbio de experiências através de um estudo foi realizado com 280 moradores do bairro, clientes pobre discutir economia. No máximo, emprego e desem-
o Segmento Nacional de Finanças termo de cooperação. ou não do banco. Os resultados surpreenderam. prego. A nossa associação discute com a comunidade
Populares e Solidárias, tramita desde O acordo foi assinado em Recife Das pessoas entrevistadas, 98% afirmaram que o estratégias do sistema financeiro”, diz Joaquim Melo.
2006. “E ainda deve sofrer retaliação (PE) entre o presidente Lula, o coorde- banco colaborou concretamente com o desenvolvimento O Banco Palmas ainda possui grandes desafios
dos grandes bancos para tudo quanto nador João Joaquim e o presidente da econômico do Conjunto Palmeiras. Para 90%, o Palmas para o futuro. Um deles é causar um choque tecnoló-
é lado”, comenta Joaquim. Venezuela, Hugo Chávez. A Venezuela influenciou diretamente na sua melhoria de vida. Destas, gico no bairro. “A gente precisa se informatizar mais,
Segundo o relator do projeto, o pôde aprender como implantar os ban- 25% dizem que conseguiram um emprego por causa do ter equipamentos e máquinas mais modernos”, diz
deputado federal Eudes Xavier (PT- cos comunitários e, em contrapartida, banco. Outras 25% afirmam que com a ajuda puderam o coordenador. Outro plano da associação é criar um
CE), a matéria foi retirada para análi- o Palmas teve a oportunidade de apren- começar um pequeno negócio. projeto ambiental, provavelmente de reciclagem das
se, a fim de ser evitada a reprovação. der a incentivar a população no desen- A complementação da pesquisa mostra que o energias renováveis ou otimização do uso da água.
O projeto refere-se à elaboração de volvimento de políticas públicas. banco colaborou na realização de projetos de vida como Sobre o assunto, já houve uma reunião com moradores
Intercâmbio de experiências. Venezuela e se Brasil se consolidaram através de um termo de cooperação um sistema alternativo que propor- Outra vantagem para o Brasil construção de uma casa, ou mesmo no contato entre para estudar a possibilidade de reaproveitamento das
cione assessoria técnica ao Segmen- nessa parceria é a proposta de criação pessoas da comunidade e populações vizinhas. águas do poluído Rio Cocó.
Depois de tantos êxitos, a lamentar em decorrência do Palmas. to Nacional de Finanças Populares e de um centro de capacitação no país “Dizer que era do Conjunto Palmeiras gerava muito Realidade que mostra o espírito de luta e empre-
somente o fato de que o Brasil cami- Tudo por que o país de Hugo Chá- aos bancos populares. com recursos da Venezuela. A cada preconceito. Morar aqui era quase um castigo. Quando endimento de pessoas simples, mas com idéias para
nhe a passos ainda lentos na efetivação vez correu na frente e criou um mar- A proposta é de que a União, os seis meses, um dos países envia um algum estabelecimento solicitava dados cadastrais e via a superação de dificuldades econômicas que geram
das iniciativas em economia solidária, co legal para os bancos comunitários. estados e os municípios possam con- grupo técnico. Depois de 15 dias, o que a pessoa era do conjunto, já surgia um empecilho”, a pobreza, a miséria e a exclusão social do bairro. “As
em comparação com outros lugares. A expansão também se deve à criação ceder isenção de cobranças tributá- grupo volta para o local de origem, ressalta Joaquim Melo. grandes transformações não são os governantes que
Prova disso são os 3.600 bancos comu- do Fundo Nacional para o Desenvolvi- rias aos usuários dos serviços do ban- que recebe também um grupo de téc- Outro aspecto a gerar reflexões sobre o fenônemo fazem, vêm da base. E só são sustentáveis dessa forma”,
nitários existentes hoje, na Venezuela, mento. Lá, o banco comunitário é lei. co. Os bancos comunitários seriam nicos para aprendizado. “Palmas”é que, geralmente, toma-se conhecimento de conclui João Joaquim de Melo.
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Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Em Tese
Luiz Carlos Antero --------
Ruídos no
(2) da reformulação completa dos seus prin- ráclito Fortes, do DEM, poderia alugar qualquer
cípios e estrutura de funcionamento. fantasia numa loja especializada, menos a de
No primeiro caso, verificar-se-ia como vício “moralizador”, ao exercer sua missão de patru-
incontornável seus defeitos congênitos no berço: lhamento dos pecados alheios, entretanto com a
É
vador original, condenado entretanto a cortar na Pois, na onda do imponderável, não é exces-
Senado na medida em que é posto so- Mesmo com seus limites na condução da
própria carne, corrigindo estruturalmente seus siva a lembrança de que, em seu período recente
bre os pilares do desespero neoliberal política macroeconômica, ainda submetida no
irreparáveis vícios congênitos, presentes em seu e distintas conjunturas e motivações, a história
— remanescente das forças rejeitadas essencial à gangorra financeira descolada da
nascedouro. do Senado abrigou
popularmente pelas urnas por sua desastrada esfera produtiva que gerou a recente crise, o
De um modo ou de tensos e conturba-
condução do País. Entretanto, como os proble-
mas do Senado estão na sua origem e na tra-
governo Lula nasce dessa insatisfação com a ve-
lha política, pois sua eleição e formação sufra-
outro, cristianizar seu ...cristianizar seu dos episódios como
atual presidente pelos o que envolveu o ex-
dição inoculada por essas mesmas forças — e
sua mídia —, devem sorver
garam uma liderança operária significativa dos
novos tempos. E que, no
vícios monárquicos e re- atual presidente pelos senador Luiz Este-
publicanos da institui- vão, seu primeiro e
um pouco de seu próprio
veneno.
O Senado passou por Congresso Nacional, a
muito custo, conquis-
ção se enquadra no ve- vícios monárquicos e único membro cas-
lho fenômeno inspirado sado; e, noutra oca-
Uma Câmara Alta ins-
tituída para abrigar o lentas transformações,
tou uma base hegemôni-
ca em seu segundo man-
na hipocrisia de quem republicanos da instituição sião, em 2001, o fa-
deseja alterar alguma lecido senador ACM
“andar de cima” (as oli- dato. se enquadra no velho
garquias regionais bra- que tem um perfil Por isso, chamamos
coisa, imolando à mesa
um dos seus comensais,
e José Roberto Ar-
ruda, hoje governa-
sileiras) e acomodar in- de contraditória a época
para que tudo permane- fenômeno inspirado dor do Distrito Fe-
teresses econômicos progressivamente atual, visto que estabe-
ça exatamente como está. deral, acusados de
vinculados a uma depen- lece a convivência entre
E apenas para desgastar na hipocrisia de quem violação do painel
dente pauta primário-ex-
condicionado pela novos e velhos elemen-
e desmontar a base de eletrônico da Casa,
portadora, apenas em sua
recentíssima história ve-
tos da política, oriun-
da de uma transição de
apoio do governo federal, deseja alterar alguma que renunciaram
rificou pontuais e modes- crescente participação ruptura. E são contradi-
evitando que prospere a
coisa, imolando à mesa
aos seus mandatos
coalizão com o PMDB nas na corrida contra a
tas mudanças em seu per- tórios os elementos de
fil. Logrou certa absorção popular na política avaliação dos poderes
eleições de 2010 e suas
repercussões no proces- um dos seus comensais,
cassação.
A única “lim-
de indivíduos de outras republicanos, nos quais
so eleitoral. peza” a se verificar
classes e camadas sociais, descomprometidas
com a agenda da tradicional elite brasileira.
se abrigam, mais ou menos representativa-
mente, as mais variadas correntes de pensa-
No entanto, posta para que tudo permaneça no Senado, além da
como consistente a furio- necessária transpa-
Entre estes, estão os que, recordando um
cantor popular, conspurcam sua sopa.
mento e matizes partidários. É assim no Exe-
cutivo, no Judiciário e no Parlamento.
sa lógica, seria mais ade- exatamente como está rência nos seus atos
quado imolar todos os e responsabilização
Além disso, tanto quanto outras institui- Entretanto, é neste terceiro cenário que se
ocupantes da primeira- dos seus protagonis-
ções republicanas, o Senado passou por lentas concentra agora o foco principal das batalhas
secretaria do Senado, uma simbólica “prefeitu- tas, está na expectativa de uma mudança na sua
transformações, que tem um perfil progressi- que anunciam as eleições de 2010, do mesmo
ra” do ordenamento de despesas da instituição, correlação de forças nas urnas de 2010, quando
vamente condicionado pela crescente participa- modo que o Executivo foi o alvo central da opo-
desde 1993, período no qual foram fomentados o eleitorado terá a oportunidade de renovar dois
ção popular na política. sição PFL (DEM)-PSDB — e de sua mídia — nas
os tais “atos secretos” e outras sinecuras, do terços de sua composição, sufragando candida-
Esta, intuitivamente, exige maior conso- eleições de 2006. Nesse enquadramento de um
PFL (DEM), titular de cinco mandatos nas me- tos de esquerda e colocando em seu devido lugar
nância entre suas aspirações confessas por debate enviesado, o Senado foi posto diante de
sas diretoras no período. as forças conservadoras, de direita, responsá-
mais igualdade e até por uma sociedade mais dois caminhos, apontados pelos que se debru-
Neste caso, seu atual titular, o senador He- veis pelo seu perfil atual.
justa e equânime, ao confrontar o comporta- çam sobre seus dilemas:
mento de seus representantes e de suas casas (1) da sua compulsória extinção por ca-
legislativas, chafurdando mais essa nobre, po- ducidade;
(*) Luiz Carlos Antero é Sociólogo e jornalista
60 Junho/2009 Junho/2009 61
Nordeste VinteUm Nordeste VinteUm
Caderno especial
Justiça
informa que o trabalho está sendo tocado pela rede dos var as empresas cearenses
Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) das universida- a realizarem investimentos
des com a assessoria jurídica do órgão. “Está sendo em projetos de pesquisa
científica, tecnológica e
regulamentado o capítulo de subvenção da Lei de
de inovação, com vistas
Inovação, porque a gente pretende dinamizar o ao aumento da competiti-
Fundo de Inovação Tecnológica (FIT) e precisava vidade da economia cea-
disso”, afirma. Da Secitece, a proposta de regula- rense. Compete à Secitece
mentação seguirá para a Assembléia Legislati- coordenar e disponibilizar
va, via Governo do Estado. o suporte ao Cogefit, bem
como operacionalizar o
fundo por meio da Funcap,
e à Secretaria da Fazenda Uma questão legal atrasa a implantação do Cinturão
Cogefit instalado, Mapp de Cid Gomes administrar financeiramen-
te os recursos.
Digital no Estado do Ceará. A infraestrutura de fibra
zero centavo aplicado prioriza investimentos óptica licitada pelo governo estadual já deveria iniciar
operações em maio deste ano, nos municípios de Sobral
O governo Lúcio Alcântara Por gestões da Funcap,
Dinheiro para e Quixadá. Em janeiro, uma liminar do Tribunal de Justiça
(2002-2006) publicou o decre- na administração Cid Go-
do Estado (TJCE) tornou sem efeito a ordem de serviço
to de regulamentação do FIT mes foi criada no orçamento inovar e competir que autorizou o início da instalação da rede.
e implantou seu Conselho de do Estado a rubrica “sub-
A boa novidade é que
Gestão, o Cogefit, ao qual cabe venção econômica”, que
a Secitece quer operar com
gerir os recursos. Foram re- vem respaldar os repasses subvenção à inovação das
alizadas duas reuniões, mas de recursos do FIT direto empresas, por meio de edi-
C
tais do FIT, o que significa dar om velocidade de 10 Gigabits por segundo, a afirma Carvalho.
nunca aplicado um centavo. para as empresas inovado- malha óptica tem por objetivo cobrir as prin- O Governo do Ceará recorreu da decisão no Superior
dinheiro aos projetos compe-
Em portaria de 19 de maio de ras. Dará respaldo também titivos, além de inovadores. cipais cidades do Estado - 82% da popula- Tribunal de Justiça (STJ). Em maio, a corte especial do
2009, o atual governo Cid Go- às operações por meio do O fundo foi aprovado pela ção urbana. Ao ser iluminada, a fibra deverá STJ confirmou a liminar por 7 x 6 votos. Daí, o governo
mes implantou o Programa de Apoio à Pesqui- Assembléia Legislativa em transmitir com a velocidade equivalente a 40 mil vezes apelou ao Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda
Cogefit, que sa nas Pequenas Empresas dezembro de 2004. Previa além do que oferece um link de 256 Kbps ou 10 mil ve- não se pronunciou. “Quando o Ceará recorre à instância
a destinação de pelo menos zes o que dispõe quem navega na internet com 1 Mbps. superior do Judiciário” explica Fernando Carvalho “não
tem a Funcap (Papp), da Financiadora de R$ 6 milhões anuais para A empresa Schahin Engenharia venceu a licitação discute o mérito da ação, só a liminar. A discussão do
como executo- Estudos e Projetos (Finep), pesquisa aplicada ao criar com o preço de R$ 49,2 milhões. Mas, a segunda coloca- mérito vai ser feita no Tribunal de Justiça do Ceará”.
ra da aplicação operado pela Funcap. Outra vínculos de parceria das da, a Procable Engenharia e Telecomunicações, quer R$ Caso não houvesse a briga nos tribunais, em maio o
empresas com os pesquisa-
dos recursos e a sinalização positiva no sen- 56 milhões para fazer o serviço e entrou com um pedido Cinturão já teria chegado a Sobral e Quixadá e aos muni-
dores para gerar negócios.
Secitece como tido do funcionamento do Os recursos são oriundos de liminar. A empresa alega que a concorrente não tem cípios no trajeto — São Gonçalo do Amarante e Caucaia
gestora. O di- fundo de inovação local é sobretudo de 1,5% do retor- experiência na instalação de fibras ópticas. (Porto do Pecém), Itapipoca, Canindé, Pacajus, Morada
no do Fundo de Desenvol- O presidente da Empresa de Tecnologia da Informa- Nova, Horizonte e Quixeramobim. “Já perdemos essa
nheiro hoje está que a operação de subven-
vimento Industrial (FDI), e ção do Ceará (Etice), Fernando Carvalho, responsável oportunidade. A velocidade de 10 Gbps é como se as
escutando a ção foi inserida no rol das serão operados pela Funda- pelo lançamento do edital, argumenta que a Schahin pessoas tivessem realmente a opção de banda larga ili-
conversa. O FIT prioridades de investimen- ção Cearense de Apoio ao apresentou todos os certificados de que lançou parte mitada. É uma tecnologia nova (DWDM, que aumenta a
acumulava R$ 7 milhões até o tos do governo, conhecidas Desenvolvimento Científico dos cabos da Copel, a Companhia Paranaense de Ener- capacidade de transmissão em uma fibra óptica)”, diz o
ano passado, numa conta no pela sigla MAPP (Monitora- e Tecnológico (Funcap), via gia. “A Copel tem uma rede de fibras muito mais comple- presidente da Etice.
editais. xa do que o Cinturão Digital. A segunda colocada colocou “Com a demora, perde o governo e o interesse pú-
Bradesco da Secretaria da Fa- mento de Ações e Projetos
um preço R$ 7,3 milhões acima da empresa vencedora”, blico”, lamenta Fernando Carvalho. “Esse é um recurso
zenda e jamais foi usado. Prioritários).
Malha DIGITAL
metas a serem cumpridas. Se o governo
não cumpre a meta, fica mal posicionado face
ao Banco Mundial, o que é um prejuízo para o Estado
em empréstimos futuros”.
Sobral
tar o marketing e logística de atendimento às unidades De acordo com Brasileiro, o governador Cid Gomes definiu
remotas; implantar a infra-estrutura física, tecnológica, que o CED será vinculado ao Instituto Centec. Com a fibra óptica,
administrativa e pedagógica necessárias; adquirir, ins- Fernando Carvalho observa que onde os colaboradores do CED
Ensino Tecnológico
U
m Centro de Educação a Distância (CED) será CED — um nó do Cinturão Digital — vai ser a infraestrutu-
construído em Sobral com orçamento de ra encarregada da produção, distribuição e repositório
Vazio da extensão em
R$ 20 milhões no terreno do Campus Ci- de conteúdos, com tecnologia e pessoal especializado,
dao, atrás do Instituto Federal de Educação salas de videoconferência e estúdio de TV. Tem como
(IFCE). O investimento inclui equipamentos, instalações objetivo desenvolver, prover suporte, geração e recep-
e obras. O projeto de arquitetura será concluído em ju-
nho para a licitação da empresa responsável pelos ser-
viços de construção. O Departamento de Edificações e
ção de atividades de Educação a Distância (EAD) para
viabilizar o ensino, a pesquisa e a extensão em todos os
níveis de ensino e áreas do conhecimento.
debate na Câmara Federal
Rodovias (DER) já fez a pré-habilitação das empresas e “Mais importante do que a edificação, é a discus- Ministérios da Educação, Trabalho e Ciência e
no final de junho foram abertos os envelopes. são feita em torno do Centro”, assinala a secretária ad- Tecnologia firmam protocolo de apoio e alocação
A concepção do Centro de Inclusão Digital é de au- junta da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação de recursos para o financiamento
toria do deputado federal Ariosto Holanda (PSB-CE), que Superior do Ceará (Secitece), Teresa Mota. Em parceria
viabilizou recursos por meio de emenda parlamentar. O com a Secretaria de Educação, a Secitece traz como
“h á um vazio muito grande nas ações de
extensão no âmbito dos Institutos Federais”.
A observação é do reitor do Instituto Federal
de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará
(IFCE), Cláudio Ricardo Gomes de Lima. Para ele, existem
iniciativas isoladas e, via de regra, não há mecanismo
de financiamento da extensão. “Há uma carência da
chamada extensão tecnológica, própria de uma rede
Deputado Ariosto Holanda e Reitor do IFCE, Cláudio Ricardo como esta, que atua em todo o país, está presente em
“O objetivo do
Universidade Aberta
todos os estados e com uma grande e Tecnologia, do Desenvolvimento
capilaridade no interior”, afirma. Social e do Combate à Fome e
Para tratar do assunto, todos Fórum foi chamar do Desenvolvimento Agrário. Eles
os 38 Institutos Federais (IFs) do também participaram do Fórum,
a atenção para
país assumiram compromisso
de participar do Fórum Extensão
Tecnológica dos Institutos Federais
esta falta de
para traçar, com a rede dos Institutos
Federais, um programa de extensão
tecnológica para o país.
encurta distâncias na educação superior
Nordeste concentra maior distribuição da UAB com 177 pólos. Rede nacional é voltada
— O Conhecimento Tecnológico a capacitação Proposto por Ariosto, do Conselho para a pesquisa e novas metodologias de ensino na Educação Superior
Serviço da Cidadania, realizado no
dia 7 de julho, no auditório Nereu
tecnológica da de Altos Estudos e Avaliação
Tecnológica da Casa, o evento da
Ramos, da Câmara Federal. Na população Câmara foi organizado pelo Conselho
ocasião, o ministro Sergio Rezende, das Instituições da Rede Federal
da Ciência e Tecnologia; Carlos Lupi, de Educação, Ciência e Tecnologia
do Trabalho e Eliezer Pacheco, secretário de Educação (Conif) e pelos secretários Joe Valle, de Ciência e
Tecnológica do Ministério da Educação, assinaram o Tecnologia para Inclusão Social, do Ministério da
protocolo de intenção dos três Ministérios que define Ciência e Tecnologia; Eliezer Pacheco, pelo Ministério da
um programa de extensão com compromisso de Educação, e Ezequiel Nascimento, de Políticas Públicas
alocação de recursos. e Emprego do Ministério do Trabalho.
“O objetivo do Fórum foi chamar a atenção para Em paralelo ao encontro, foi realizada na Câmara
esta falta de capacitação tecnológica da população e uma mostra mostra fotográfica do Centenário dos
O
s cursos universitários da Universidade Aberta dobrou o número em 2007 e chegou a 26 pólos em
observar de que modo a extensão tecnológica praticada IFs e mostra discente da Rede Federal de Educação
do Brasil (UAB), do Ministério da Educação, 2008. Todos os pólos da UAB receberam do Ministério
nos IFs pode interferir nesse problema e ajudar, criando Profissional Científica e Tecnológica, organizada
chegam a 13 municípios do Ceará por meio das Comunicações antenas Gesac, que tem conexão de
um grande programa de extensão em nível federal”, diz pelo Ministério da Educação. Para a ocasião, o
das salas de videoconferência dos Centros 2 megabits com a Internet para transmissão do sinal de
Cláudio Ricardo. Ministério da Ciência e Tecnologia organizou um
Vocacionais Tecnológicos (CVTs), ministrados pelas videoconferência.
O reitor acrescenta que existem muitos ministérios Balcão da Inclusão.
Universidades Federal (UFC) e Estadual (Uece) e Instituto As inscrições para o vestibular são feitas on line e
a financiar programas voltados para extensão. “Mas Participaram da abertura do Fórum o presidente da
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE). É o caso as provas realizadas em cada pólo, de modo unificado
esses programas não se comunicam entre si, o que leva Câmara, Michel Temer, o presidente do Conselho de Altos
de Beberibe, Brejo Santo, Jaguaribe, Missão Velha, Piquet para todo o Ceará — 50% da vagas são destinadas a
em algumas situações à superposição de esforços”. Estudos, Inocêncio de Oliveira, a titular da Comissão de
Carneiro, Aracati, São Gonçalo do Amarante, Maranguape, professores da rede pública. A metodologia dos cursos
Diante disso, Cláudio Ricardo lembra que o deputado Educação e Cultura, Maria do Rosário, o presidente da
Jaguaribe, Barbalha, Aracoiaba, Russas e da Faculdade de inclui 20% de aulas na modalidade presencial e 80% via
Ariosto Holanda (PSB-CE) articulou uma reunião Comissão de Ciência e Tecnologia, Eduardo Gomes e o
Tecnologia Centec (Fatec) de Quixeramobim, que têm pólos web, sendo a avaliação feita em 40% por atividades on
com os ministérios da Educação, Trabalho, Ciência reitor Paulo César Pereira, presidente do Conif.
municipais da UAB com cursos de educação superior. line e 60% pelo modo presencial.
Com exceção de Russas, que tem um CVT municipal, A UAB no Ceará também ministra cinco cursos de
os demais pertencem ao Instituto Centro de Ensino pós-graduação: avaliação do aprendizado discente,
Ariosto Holanda Tecnológico (Centec). No Ceará, em 2008, os 13 pólos tecnologias digitais na educação, formação de
Expansão do Ensino
Profissional e Tecnológico
A
ampliação da oferta de vagas, contratação municípios, entrarão em funcionamento os núcleos avan-
e capacitação de profissionais e liberação çados do IFCE, permitindo projeção de 21 mil matrículas
de recursos constituem-se investimentos até 2010.
fundamentais na melhoria do processo edu- Outro aspecto desta expansão remete à criação de
cacional no Brasil. Este desafio vem 39 Centros de Inclusão Digital e dois
sendo enfrentado pelo Governo Fe- Núcleos de Informação Tecnológica,
deral como uma de suas prioridades, Os novos 38 Institutos com o objetivo de proporcionar capaci-
haja vista que o Brasil, na educação, tação para a população de baixa renda,
acumula uma enorme dívida social Federais, organizações além de propiciar a popularização da ci-
com o seu povo, sobretudo com as ência e realização de atividades sócio-
populações mais carentes. inovadoras, principalmente culturais de interesse dos municípios
Notoriamente, a expansão da cearenses e seus distritos.
educação profissional e tecnológica, do ponto de vista político- Desta forma, a criação do IFCE
promovida pelo Governo Federal, em chega no momento em que o Estado
parceria com os Estados e Municí- pedagógico, possibilitarão começa a atrair grandes projetos es-
pios, como a recente implantação truturantes, tais como a implantação
dos Institutos Federais de Educação, a maior expansão da rede da refinaria e da usina siderúrgica, a
Ciência e Tecnologia (IFs), é um exem- exploração das minas em Itataia e a
plo das ações de enfrentamento des- com a expectativa de instalação de usinas de biodiesel. Para
te desafio. a consolidação de tais empreendimen-
Os novos 38 Institutos Federais, atendimento a cerca de tos, a educação profissional e tecnoló-
organizações inovadoras, principal- gica é fator decisivo, bem como para
mente do ponto de vista político- 1 milhão de alunos a sustentabilidade deste processo de
pedagógico, possibilitarão a maior desenvolvimento.
expansão da rede federal de educação profissional e Consequentemente, a criação e expansão do Institu-
tecnológica, com a expectativa de atendimento a cerca to Federal do Ceará ocorrem articuladas a essas e outras
de 1 milhão de alunos nessa modalidade de ensino. políticas públicas, evidenciando sua capacidade de con-
No Ceará, a nova instituição (IFCE) conta, no momen- tribuição com o cenário de desenvolvimento do nosso
to, com nove campi localizados estrategicamente em For- Estado, assegurando sua importância na excelência do
taleza, Cedro, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Limoeiro do ensino e na formação de novos profissionais do mundo
Norte, Sobral, Quixadá, Crato e Iguatu e outros três em do trabalho, fortalecendo o processo de inserção cidadã
implantação (Acaraú, Canindé e Crateús). Em outros dez de milhares de jovens no Nordeste.
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Edição Nº 01
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