Quarto captulo O dia comea sempre de mentira. Porque o sol s finge nascer. Aquela manh acordou com vontade de esquentar e eu me decidi passear pela praia. Foi quando encontrei Luarmina mergulhada numa poa de gua. Estava vestida e as roupas colavam-se no corpo. Aproximei e lhe perguntei a razo daqueles banhos. Ela respondeu que queria aquecer as pernas.. - A gua est quentinha ? - No recebo quentura da gua. Quem me aquece so caracis. E explicou: havia uns certos caracis que lhe lambiam as pernas, pastando nessas gorduras dela. Os bichos desqualificavam viscosas salivas sobre a vizinha e eu s pensava: mal empregadas as minhas prprias babas, com o devido respeito. E salvo seja. - D licena eu entrar ? - Entrar onde ? - Nessa gua onde a senhora est ser banhada. Entrei, fui-me achegando perto da vizinha. Me entornei na toalha da gua e fechei os olhos igual como ela. Minhas mos fingiram ser caracis, lesmas babadoiras lavrando nas coxas de Luarmina. Para meu espanto, a mulata no me repeliu. Meus dedos prosseguiram, cumprindo seu dever, pescando entre roupa e corpo. Espreitei pela esquina dos olhos: a gorda Luarmina estava flutuando, embenvencida, parecia um navio repousando em desenho de criana. De repente, porm, ela soltou um grito. Emendei minha malandrice, mos atrs das costas. - Susto, Dona! O que foi ? Luarmina apontou qualquer coisa sobre as guas. Eram peixes mortos boiando.