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Oar eee ce Bem-vindo reagate Paseadospratiamente vite anos dele seu: lngamento em 1979, lero mit conhecido de slean-Prangis Lyotard smantém stu poder eacarecedo, ate ar de mancra extremamente nda © cinta um. panorana das tamara: (es mais profandar que afetam a cult 1 ocidental neste nowo fin de Eco [Ne verdad, © arco histice dae tranae FormagGeeetraturaie abordaas no lero tstendese entre dt Finis de século. [Neste semdo, o panorama de tendéncine de curt, méi longo prazoe sponta por Lyotard vin sendo prepared, no vel das conde hivcas de prog de conhecimento« tecnologia, doe oF ‘alts cientfcos ccoridon na irda dbo sdcal XIX para 0 XX. A estratura Snterpretativa erabalhada em A iso nse il ao eoencal da clea atria hegeiano-marsst. Ou wi, sina de que mancia uma sucesso de transformsiee quantttives pequense acaba por determinar am ako qualia vo, uma madanga de Gpoc. Do moder 0 péemoderno. ‘A presente edigh raz uma novidde sigificatva,Corrge otto, rertabele: ‘end corvspondénca eta com 0 ‘rsinl. Lyotard ezteve um veo #0- leo cnlise péewmoderna eno sabre 9 *paemodenno". Not anos 80, falar em *pwmodere" come algo pronto te ‘bdo, eru ion de um ipa de sbor dager ech eal “mower qa completamente conta o expr Jo ex de Lyotard © flo irtaysse poe Fandamente com ese tipo de prop so de eu pesament, bastante comm entre inelectuae “pérmedernictae” nvr Feral do a UOTE CATAL 76 en Conneayto ACONDICAO . POS-MODERNA Ome_a3 pe | ™pR0 8 bee | etek dears lacay | omececon sos 5 LX epagag, ee ea JEAN-FRANCOIS LYOTARD A CONDICAO POS-MODERNA a 12" edigio JOSE OLYMPIO EprroRA “Tul do origina francés: TACONDITION POSTMODERNE (© Les Batons de Mimi, 1979 Reservam-se os dios desta eigto8 [EDITORAIOSE OLYMPOLTDA. ‘Rus Argentina, 171 ~3" andar ~ Sto isto 20821-360~ Rio de Janeiro, RJ— Replica Federaiva do Bras “Ts (21) 25952060 Frc 21) 285-2086 sored soto (2) 255 2002 ISBNSTESSA.06585 (Cap: Vier Boros ]UNIVERSIDADE FEDERAL 0» « A2A] BIBLIOTECA CENTRAL Ws sun FRR TEA GERTAL NOTA Eorravo pela primeira vex no Brasil, por festa Casa, em 1986, est loro recebet 0 titulo de © pésmodemo, até sua quarta edlgao, Quase vinte ance depois de escrito = Lyotard 0 pubiicou na Franca, em 1979—, procuramos resgatar set titulo original: A condigto pos-moderna, por representar mais fielmente as tdétas do Bie volume traz um posfcto, assinado ‘pelo crico Slviano Santiago, em que asst- nala a importancia do pensamento de um dos filésofos mais combartvos do nosso séeulo, morto, aos 73 anos, em 22 de abril de 1988. Setembro 1998, woven FD. 00 RA TEA CEMRAL SUMARIO ‘Tasos Pos woDeNos (Wimar do Valle Barbosa) sroDucto. vi A.CONDIGCAO, POS-MODERNA, (© campo: 0 saber nas sociedades informatizadas. © problema: a legitimagl0 mons : ‘© metodo: os jogos de linguagem A natureza do vinculo social: a alternativa moderna ‘A natureza do vinculo social: a perspectiva pés-modema 27 Pragmatica do saber narativo, 35 Pragmdtica do saber clentiico v7 ‘A fungio narrativa e a Jegitimacao do saber... St (Os relatos da legitimag0 do SabeF.nnsnnn 58 @ 7 8 » A deslegitimacio, ‘A pesquisa e sua legitimacao pelo desempenho.. ‘O ensino e sua legtimacio pelo desempenho, A citncia pos modesna como pesquisa de instablidade. ‘A legitimagao pela paralogia a Posrhco: A artosva ExTauOREZAGO DO SABER (Sloano Santiago). a eee id VERSO FERAL D0 PA TEENA, ‘TEMPOS POS-MODERNOS “A verdade € que « citmia favoreceu a forge intelectual rude © francamente insuportivel todas es vethas ropresentagies metafsices © moras da rapa humana.” (Robert Ms © homem sem qualidades, 1) Com o inicio, por volta dos anos 50, da chamada ésindustial”, assstinos a modificacbes substantivas nos estatutos da ciéncia e da universidade. O mats importante esse proceso de madifcagio,euja rigem encontrase na “crise da ciéncia”(e da verdade) ocorride not iltimos de trios do sée. XIX, ndo fol apenas a eventual substeuiio de uma “ma concepcao da ciéncia (a empirista, por exem- lo) por outra qualquer. O. que de fato vem desde entao ocorrendo é uma modificagio na natureza mesma da cifn cia (e da universdade) provocada pelo impacto das trans Jormacées tenoldgicas sobre 0 taber. A conseqténcia mais ‘melita desse novo cenirio foi tornar incfcas 0. quatro teérico proporcionado pelo filésofo (elase:metaisco) moderna que, como saberos, elegen como sua questao @ problenitica do conbecimento, secundartanda ‘as ques {es ontoldgicas ent face a gnoveol6picas. Mas, ao proce der dessa mancira, jez da fosofia um metadiscurso de legitimacio da propria ciénea, A modertade do. quatro tebrico em questao encontrese exatamente no fato de com ter certs recits os quais @ cléncia moderna eve que re correr para legtimarse como saber: alta do esprite, emancipagio do sujeto razodvel on do trabalbadon eres: cimento da rigueza ¢ outros. Desde 0 momento em que Se invalidou 0 enquadramento metaisico da ciéncia mo- dderna, vem ocorrendo nao apenas a crise de conceitos ca 10s ao pensamento moderno, tais como “razio”, "sujeto”, “wotalidade”, “verdade”, “progresso”. Constatamos que «0 lado dessa crise operase sobretudo a busca de novos en (quadramentos teéricos (“aumento da poténcia", “ficicia”, “optimizacio das performances do sistema) legitimadores da produgio ciemificotecnoldgica muma ere que se quer posindustrial. O posmoderno, enguento condicao da cul- ‘ura nesta era, caracteriza-se exatamente pela incredulida- de perante 0 metadiscurso filosificometafisico, com suas pretensoes atemporas e universalzantes. © ceenirio pxrmoderno 6 essencalmente cibernéico- informitico e informational. Nele, expandense cade vez mais os estudos e as pesquisas sobre a linguagem, com 0 objetivo de conbecer « mecinica da sua producto ¢ de textabelecer compatiblidades entre linguagem e miguine in- formitica. Incrementemse também os estudos sobre a “ine teligdncia artificial” € 0 esforca sistemitico no sentido de conbecer a estrutura e 0 funcionamento do cérebro bem como 0 mecanismo da vide, Neste cendrio, predominant or esforcos (cientificas, tecnoldgicos e politicos) no senti- do de inkrmata a ida. Spor am lado, een 2 colidianizaao da tecnologia informitica jé nos im. Doom sérias rellesdes por outro lado, seu impacto sobre 4 ciéncia vem se revelendo considendvl ns le (io 8 formato). queen de riecdade. ie prada) questa fideo FOr ces (nemamtoasonea de dad toborder dat flow) © rola a cemra ea, guess calor (veld midds ela e » pmol Homage de, menuem Wek fin samntide por site) suet policosris Cemocrtzngo Iniormagioredleuo de canara, perndoca soccer) ds" nor Tinea sabre cones tele rege eg, 0A aurea, A ciéncia, para 0 filésofo moderno, berdeiro do Iw sminismo, era vista como algo autorreferente, ou sea, exis. tia e se renovaca incessantemente com base em ki mesma Em ontras palaoras ra vista como atvidade "nobre", "de- Ainteresada”, sem finlidade preesabelecid, sendo que sua funcao primordial era romper com o mundo das “re. was’, mando do senso comum € das erent traconas, contribuindo assim para 0 desenvolvimento moral e esp ritual da nagio. : Nesse contexto, a citncia no era sequer vista como “ualor de uso” eo idealismo alemito pode entdo concebéla ‘como funduda em um metaprincipio filosbfco (a "vida di- vina”, de Fichte, ou a “vida do espirito”, de Hegel) que, or sua vez, permitiu concebéla desvincilada do Estado, a sociedade e do capital, e furdar sua legitimidade em "Nacio" ¢ “ciéncia” caminbarana juntas, por exem- plo, na avaliecio bumboldtiana, de sabor bumsnisticolibe- tly € que esteve na base da criagio da Universidade de Berlin (1807-10), modelo para muites organizagier uni versitirias nos meados do abe. XX. No entanto, 0 cenirio pés-maderno, com sua “voce 20" informitica € informacion, “investe” sobre esta concepsio do saber cientifico. Como muito bem notou Alfred N. Whitebead, 0 sée. XX vem sendo o paleo de tuma descoberta fundamental. Descobrv-se que @ fonte de todas at fontes chanase informasio ¢ que a ciéncia — assim como qualquer modalidade de conbecimento — na da muis é do que um certo modo de organizar,estocar € distribuir certs informacdes. Lange, portato, de cont tnuar tratando a cigncia como fundada na "vida do esp 10” ou na “vida divina"; 0 cenirio pés-moderno. comeca 4 véla como um conjunto de mensagens postoe! de ser tradusido em “quantidade (its) de informagio. Ora, se ‘as méquinas informiticas justamente operam traduaindo as -mensagens em bits de informagao, x3 era “conbecimento x cientifico” certo tipo de informacio traducivel na lingua ff gu ess gene atic on ene compat om ela. O gue se impoe com 0 tratamento informético da “mensogem” cientfica € na verdade wma concepcio ope nacional da ciéncia, Nesse contexto, a pesquisa centifica passa a ser condicionada pelas possbilidades vécnices da manna informbicny 0 que exapt on frances tt sibilidadestende a ndo ser operaciona,j& que no pode {or tradutido om bi. Asin sndo,« atbdade cena deixa de ser aguela praxis que, segundo a avaligio bu- imanisticoliberal,especulatioa, investia a formasio do “es pirto”, do “sueito razodvel”, da “pessoa bumana’” até ‘mesmo da “bumanidade”. Com ela, 0 que vem se impondo & a concepcio da ciéncia como tecnologia intelectual, om scja, como valor de troca e, por isso mesmo, desvincala- da do produtor (cientista) e do. consumidor. Uma pritica submetida ao copital e ao Estado, atuando como essa par- ticular mercadoria chamada forca de producto. Esse processo, fruto da corrosao dos dispositivos mo- dernos de explicagio da ciénca, & muito epropriademente ‘esignado por Lyotard pela expressio “deslegtimacao”. No mano, le Wo we 0 atts om Tso de crsto do “dispostivo especulativo” (Idedlismo alemGo, Hegel) ow do “dispositive de emancipagio” (Iluminismo, Kant, Marx). Esse corrosio (que Nietzsche entendew ser’ wma das ral es do “Nilismo ewropen”), muito bem captada em nar- rativas como Pais ¢ flhos (Ivan Turguenicv), ©. homem sem qualidades (Robert Musil) ¢ Sonimbulos. (Herman Broch), fez surgir novas linguagens que escapam as deter- minacdes tebrcas dos dispostivos modermos e aclerem sua prépria deslegtimagio. Da segunda lei da termodindmica 4 teoria da catistrofe, de René Thom; do simbolismo qui- ios gas alo dents de tori dor uta 3 Hsica pés-quintice; do uso do paradigma cibernttico-infor miley no estudo do codigo genttco co ressirimento da cosmologia de obseroacio; da crise da Weltanschauung RSA FEAL sRTECACevAL ewtoniane a recuperacio da nogio de “acontecimento”, “acaso™ na fisica, na biologis, na bistbria, o que temos ¢ 2 te de wma noo contr nos disposes de legit asio € no imaginério modernos: a nogio de orden. E com oa asstinas& redscussao da nocio de “desordem? 0 gue por sua vez torna impossivel submeter todos os dit= cursos (ou jogos de linguagens) & autoridade de um mete discurso que se pretende a sintese do significante, do sig nificado ¢ da prépria signficagao, isto &, universal e ‘consstente, Por isso mesmo & que as delimitagbes clissicas dos ‘campos cientifices entram em erie, se desordenam. Desa. arecem disciplinas, outras surgem da fusto de antgas; ax velbaslaculdades dio lugar as institatos de ensino efou ‘pesquisa financiados pela iniiatioa privada, pelo poder pa- ‘04 por ambos. A universidade, por sua vet, enguan 40 produtora de citncia, torna-se uma insttuigdo sempre tals importante no cileulo estratégico politico dos Esta- dos atuais. Se a sevolucio industrial not mostrou que sem riqueca ngo se tem tecnologia ou mesmo ciéncia, a condi- #%o pbsmoderna nos vem mostranda que sem saber cien- fico ¢ téenico ndo se tem rigueza. Mais do que isto: mos- tranos, através da concentragio massva, nos patses ditos pésindustries, de bancos de dados sobre todos os saberes hoje dispontveis, que a competicio econbmico-politica entre as nacses se dard dagui para frente io mais em Junio primordial da tonelegem anual de matéria prima ow de manujaturados que postam eventualmente produzi. Dersed, sim, em funcio da quantidade de injormagio 5 Gt. Communicaons, n° 18, 1972 (ndmero epee sobre reomade dn norto Ge scomacenen pele cite voniemprdnen 1 Stbe a centallgnds dee elincnao natal fred psgla cent fn En Morin La eve fa ae att Lama 1 Ua wie la ie ¢ Le pole peda la ralure humaine, toot ela Eaitons Sul, Pas ‘om 197, (000 197, reapetivsi, técnico-cientifica que suas universidades ecentros de pes- “quisa Forem capazes de produzir, estocar-e-fazer circular conto mercadoria. 0 contexto da deslegitimacio pés-moderna nia_pode, ceidetement, pasar sem 1 dips de legit. domo dr, ers Ly ne om ipl nao&tento toma pote da argumentaao desing Tre ier conenimenin dos destination da mens. toot cin, poe saa nr seine fos oc evo de lingtetem ande’o ue ell om questao no € & vverdade mas odesempenbo, ou seja, @ melbor relagio t/output” (p. 83). Como novo dispositivo de legiti- secPariino do decmpenho impbe 10 spent 0 Thandove do dsearto humantetbont por parte do Es ‘tan de capil on mesma da unorsiae. We meds em ttn bt’ €mentr oe, di roma dues. dover o importante ago ao alan svedade, ima. Tocaear sere no tntido de aumento eh, de mins fa ft inosine fr Spur idler coceeaiete eter loer'¢ aio Fee cide mas sr formar competes esp de Me a nes mes ws Eo amen ob “Apis erst comiderade, pree-nos recoil dar ue oteste de Lyotard contin, peta, ame dicen Ge gut rputanes findement: 0 omcesioprnoder Sends ltnar deen epistemoligcn sipiicat torent or cen eae een SP den or wen or arcanurane, motos, shies dposteos ngdertas te leiimaci, pte fo pres jon kee erdade "pote no poe st epae TECTIA, dos. A idéia baconiana de que 0 conbecimento € 0 poder parece, sem divida, animar a construgio do dispositive pérmoderno de legitimacio. No entanto, & preciso noter ‘que, para Bacon, pensar dessa mancira consitula um mo. do de tenter abolir a oposigio entre “técnica” ¢ “eman. ipacio” sem 0 abandono desta. O fildsofo inglés era do parecer de que a construcio de um “novo mundo” eva obje. tivo fundamental e que s6 pela via de um coubecimento ‘que deixasse de ser concebido como. contemplagio|desig- nacao de uma “ordem eterna”, perfeite, divina trans- Bistdriea, poderlames consiruir'uma comunidade livre de “idolos"" A problemética do "novo mundo", no entanto, parece nto seduair 0 filésofo parmoderno, avesso as file: sofias da subjetividade aos metadiscursos de emancipa- so, Preocupado com 0 presente e com 0 reforgo do cri- trio de desempenbo — crtério teenoldgico — visando com isto 0 reforco da “realidade” e 0 aumento das chan- ces de se ter “razio, ele parece ter abandonado os cami- bos da utopia, esse modo de encantar 0 mundo que ani- ma at lgdes de Bacon e de outros modernos. Estas, por sinal, mostram 0 esforco do filésof0 no sentido de supe- tar 0 divércio entre inteligencia e emogio. Para isso € sem divide necessério que o conbecimento (inclusive a filo- sofia) esteia mais perto do concreto, do presente, coope- rando com as forgas do econtecimento, decodificando e dando cocréncia eos detalbes da cotidianidade. Mas tudo isso com 0 objetivo de resgatar 0 encantamento que as religioes proporcionaram aos nossos ancestrais. Estar, sim, perto do cotidiano, do presente, mas visando a interpene. tragio da emogio e da ciencia, da paixio e da inteligencia, do sono ¢ da pritica, de forma que a poesia posta vir @ ser a flor esponténea do mundo juturo. Rio de Janeiro, outubro de 1985 ‘Winak D0 VALLE Banwosa ai es FARA 00 HLOTECA CENA, INTRODUGAO Este exo tem por cbjto a posico do saber nse tociodades mais desenvalvides, Decide chaméla de “péemoderna". A pala € wsade, 00 continente amet ino, por socidlogor e cticos, Desgna 0 estado di ca ture pcs as tranformades que afetaam as regras dos fogos da cnca, ca lteratara ¢ das artes a part'do final do século XIX. Aqui, esas transforms serio situadat em relagdo cise dos telaton, Oniginimente, « ciéocla entra em, conflto com os relatos. Bo ponto de vistn de-seis propros crteios m io ae dees hinornovelanee como ful, Ma, ta medida em que noe limite a emsnciar regulardades tis © que bosque 0 verdadero, deve legiinar sue ze gras de jogo. Asim, exerce sobre seu props estatato tum discumo de legiimagio, chamado flosolia, ‘ste metadisurso tecorre explictamente «algun grande felato, como. cislétice do espfrito, « hermentutin, Jo sentido, a emancipagio do sujet rational ou trabalhadar, © desenvolvimento da rigueza, deidese chamat “mo” glen ls ua to a referent asim, por exemplo, que a repra do conenso ene © fe. metente © detintsio de um enunciado com valor. de werdade Serf tida como accitével, se ela se insceve na Petspeccva de tua unanimidade fovsiel de menalidades Ficions: fof este 0 melato dis Luzes, onde 0 her do saber tabalha por tm bom fim éticopoiico, & pur unt versal. Vé-se neste caso que, legitimando 0 saber por um meta ‘que implica uma filesofia da histér cconduvidos a questionar a validade das instituicées. que tegem o vinculo. social: elas tami devem ser lepitima- das. A justica relacionase assim com 0 grande relato, no ‘mesmo gra que a verdade. Simplificando ao extremo, considera-se“ps-maderna”” 1 incrothulidade-em-relacio_aox_metatrelatos. E, sem di vids, um efeito do progresso das cincias; mas este pro- igresso, por sus vez, a supde. Ao desuso do dispositive metanarrative de legitimagdo corresponde sobretudo a crise da filosofia metafisica ea da instituigio universi- tiria que dela dependia. A_funcio-nerrativa_perde-seus vores (funetewrs), 0s grandes hersis,.os grandes perigos, ‘os grandes périplos eo grande objetivo. Ela_se-dispersa fem nuvens de clementos de linguagem narratives, mas também denotatives, prescriives, descrtivos ete. cada um vveiculando. consigo” validades _pragméticas su_genayisr Cada um de nés vive em muitas destas encruzilhadas. No formamos combinagies de linguagem necessariamente es- tiveis, e as propriedades destas por nés formadas no so nccessariamente comunicdveis. ‘Assim, nasce uma sociedade que se baseia menos numa antropologia newtoniana (como o estruturalismo ou 2 teoria dos sistemas) ¢ mais numa pragmatica das part culas de linguagem. Existem muitos jogos de linguagem diferentes; tratase da heterogencidade dos elementos. So- ‘mente dardo origem 2 instituigio através de placas; € 0 determinismo local. ‘Nao obstante, os decisores tentam gerir estas nuvens de socialidades sobre matrizes de input/output, segundo uma Iégica que implica a comensurabilidade dos elemen- tos € a determinabilidede do todo. Para eles, nossa vida fica reduzida ao aumento do poder. Sua legitimagio em iatéria de justiga social e de verdade'cientifia seria a de cotimizar as performances do sistema, sua eficicia. A apli- > eg Fete 00 TEA CENA ‘acto deste ctitério a todos 08 nossos jogos nfo se realiza sem algum terror, forte ou suaver sede operatéios, isto &, comensuriveis, ot. dessparceei. Esta légica do melhor desempenho €, sem divida, inconsistente sob muitos sspectos, sobretudo no que se refere 3 contradigio no campo. socioeconémico: ela quer, simultaneamente, menos trabalho (para baixar os custos dda producio) e mais trabalho (para aliviar a carga social da Populaco inva). Mas a incredldade resultant tl ‘que nio se espera destas contradigdes uma saida. sav dora, como pensava Mare, ‘A condigio pormoderna é, todavia, tio estranha 20 desencanto como & positividade cepa da deslegtimacio. ApGs os metarelatos, onde se poder encontrar @ legit midade? O critério de operatividade € teenolégico; ele no € pertinente para se julaur © verdedeiro e 0 justo. Seria pelo consenso, obtido por discussie, como pensa Habermas? Isto vioientaria a heterogeneidade dos jogos de linguagem. Ea invengio se faz sempre no. disenti mento. O saber pésmoderno niéo € somente 0 instr: mento dos poderes. Ele aguca nossa sensibilidade para as dlifereneas ¢ reforca nossa capacidade de suportar 0 in- comensurivel. Ele mesmo no encontra sua razio de ser na homologia dos experts, mas na patalogia dos inventores. ‘A questio aberta € a seguinte: uma legitimagéo do vinculo social, uma sociedede justa, seri pratcavel.se- undo um parsdoxo andlogo 20 da’atividade cienifca? Em que consistira este paradoxo? O_TEXTO que se segue ¢ um esctito de circunstincia. E uma exposicio sobre o saber nas sociedades mais de- senvolvidas, proposto ao Conselho das Universidades junto so govern de Quebec, a pedido do seu presidente, Este ‘imo autorizou amavelmente sua publicagio na Franca, aqui the agradeco. awit Resta dizer que 0 expositor & um fildsofo, ¢ nfo um expert. Este sabe 0 que stbe e o que nio sabe, aquele nfo. Um conclu, © outro interroga; sio dois jogos de lingua: sgem, Aqui eles se encontram misturados, de modo que rhenhur dos dois prevalece. (0 fildsofo a0 menos pode se consolar dizendo que 4 anilise formal e pragmftica de certos discurses de legi- timacio, filoséfces éticopolitces, que sustenta nossa Exposigi, verd a luz depois desta. Ela a terd introduzido, por um atalho um pouco sociologzante, que, embora a re duzindo, a situa Tal como esté, nds a dedicamos, a0 Instituto Pol- téenico de Filosofia’ da Universidade de Paris VIII (Vin- cennes), neste momento muito pésmodernd, em que esta Universidade corre © rico de despues © © intro soil END Feng 00D TEAC A CONDICAO POS-MODERNA © CAMPO: 0 SABER NAS SOCIEDADES INFORMATIZADAS Nossa hipstese de trabalho € a de que o saber muda de estatuto ao mesmo tempo que as socedades entram a idade dita pésindustrial ae culuras na Made dta ple. moderna Esta passagem comegou desde pelo. mence © final dos anos 50, marcando para a Europe o fim de son reconstrugo, Foi mais ou menos ripida conforme os pa ses c, nos pales, conforme os tetores de atividade: donde tuma ‘discronia_ geal, que’ nio tora ficl © guadro de conjuma® Uma parte das descrigtes nfo pode deixar de ser conjectural. E sabese que é imprudente conceder um crédito excessivo 2 futuroogia? Em lugar de organizar um quadro que nfo poders ser completo, partiremos de uma carscteristea que de- mente neato objeto. O saber centfico € uma espécie de discurs. Ora, pode-se dizer que hi qua- enta anos as cignias e as técncas dits de vanguerda versam sobre a linguagem: a fonologia ¢ es tcories lin. Asticas* os problemes da comunicgio © « cibernétia? 45 mateméticns modernas e a informtca,’ os compotadores € suas linguagens’ 0 problemes de tredagio das lingua gens ¢ a busca de compatibiidades entre. linguagens- as! 0s problemas de memorizagfo e os bancos de dados? a teleméviea e a instalagio de terminals “incl gentes"” a paradovologia:" eis af algumas provas evi enter, © a lista nio € exaustive. 5 * macionais afeta e aletard a circulagio dos con Parece que a incidéncia destas informagies teenol6- gicas sobre o saber deva ser consderivel. Ele € ou serd Afctado em suas dust principais fungées: a pesquisa e a tansmissio de conhecimentos. Quanto % primeira, um czemplo acs ao lego dado ela gendtin, ave deve Sp Pardons nrg 1 hemi, Hi ue nie le outros exe nto 2 segunda, hoje em dia tabe como, normelizando, miniaturizando e comes zando os. spazelhos, modifcam-e as operagdes de aquis- G80, classificacio, acesso ¢ exploracio dos conhecimentas.” E razofvel pensar que « multiplicagio de méquinas infor- tos, do mesmo modo que o desenvolvimento dos meios de ce cexlagio dos homens (transporte), dos sons ¢, em seguida, das imagens (media)” o fer. ‘Nesta transformasio geral, a natureza do saber no Permanece intacta. Ele no pode se submeter aos novos ‘anais, e torarse operscional, a nio ser que 0 conhe: cimento possa ser triduzido em quantidades de informa- fo." Pode-se entio prever que tudo o que no saber cons- fiuido nio € traduvel serd abandonsdo, ¢ que a oem. tagio das novas pesquists se subordinard a condigio de tradutblidade dos resultados eventuais em linguagem de imdguina. Tanto os “‘produtores” de saber como seus utili adores devem e deverio ter os mein de tad nas Tinguagens 0 que alguns buscam inventar e outros apren- det. As pesquisas versando sobre estas miquinas intéxpre- tes jd extdo adiantades," Com a hegemonia da informética, impSese uma certa légica , por conseguinte, um con junto de preserigdes que versem sobre os enunciados scei- tes came “de ier” ; sore Podese entio esperar uma explosiva exterioricagio dlo saber em reagio ao sujeito que sabe (sachar!), em qualquer ponto que este se encontre no processo de conhe- cimento. O antigo principio segundo 0 qual a aquisgSo do saber € indissoctével da formacio (Bildung) do expt Fito, e mesmo da pessoa, cai ¢ cairf cada vez mais em ‘ desuso, Esta relagio entre fornecedores e usurios do co- thecimento ¢ 0 préprio conhecimento tende e tenders a ‘ssumir a forma que os produtores e os consumidores de ‘mereadorias tém com estas tltimas, ou seja,« forma valor. O saber €e send produzido para’ser vendido, ¢ ele é-¢ send consumido-pars-ser valorizado numa nova_ producto ‘os dois casos, para ser trocado. Ele deiza de ser para si ‘mesmo seu proprio fim; perde o seu “valor de uso" " Sabe-se que o saber tornou-se nos sltimos dectnios a principal forga de producéo,” que ji modificou sense velmente @ composigéo das’ populagbes ativas nos palses mais desenvolvidos™ e constitui 0 principal ponto de et- trangulamento pera os pases em vias de desenvolvimento. Na idade pés.industrial e pés-moderna, a ciéncia conser: vvaré-e sem divide reforgard ainds mais sua importincia na disputa das capacidades produtivas dos Estados-nagées, Esta situagio constitui mesmo uma das razSes que faz pensar que o efastamento em relasio aos paises em vias de desenvolvimento niio cessaré de alargar-se no futuro.” Mas este aspecto no deve fazer esquecer outro gue Ihe € complementar. Sob a forma de mercadoria infor tmacional indispensével a0 poderio prodativo, 0 saber jf oe a ee competigio mundial pelo poder. Do mesmo modo que os Estados-nagSes se bateram para dominar terrtérios, € com isto dominar 0 acesso © a exploragio das m ¢ da miodeobra barat, € concebivel que eles se no futuro para dominar as informagies. Assim encontra-se aberto um novo campo para as estratégias industriis © comerciis e para as estratépias militares © politica” Contudo, a perspectiva assim aberta nio € tio sim- ples como se diz. Pois « mereantilizacio do saber no po- deré deixar inacto 0 privilégio que o& Estados.nagBes mo- demos detinham e detém ainda no que concerne & pro- dugio e a difusio dos conhecimentos. A idéia de que estes dependem do “cérebro” ou do “esptrito” da sociedade que 5 eer a eee ene principio inverso, segundo 0 qual a sociedade no Bee ate cea once oD te idaect ee de deat Se re ee fae ot dade e de “ruido” para uma ideologia da “‘transparéncia’ ‘comunicacional, que se relaciona estritamente com a comer- spe Jee bec gis ee ahs ee cue ston a Lp oe ees fa ial En fee ee ee ee ag te oa eine orien oe ee Cece ok Sere oleae de empresas multinacionais. Estas formas implicam que #8 eae Sere reat’ Gon t eogt ‘informacional e telemét ‘a questo corre o risco de tor- arse ainda mais espinhosa. Admitamos, por exemplo, Se ee ee t , des- se da busca metafisca de uma prova ou de luma autoridade transcendente, reconhecese que as condi Ges do verdadeiro, isto é, a5 regras de jogo da ciéncia, So imenentes a este jogo, que elas no podem ser eta: belecidas de outro modo a no ser no scio de um debate ji ele mesmo cientifico, ¢ que nio existe outra prova de ‘que as regras sejam boss, sendo o faro delas formarem 0 consenso dos experts Esta disposigio geal da. modernidade em defini os elementos de um discurso num discurso sobre estes ele- mentos combinase com 0 reestabelecimento da dignidade das culturas narrativas (populares), jf no humanismo re- nascentsta, € diversamente no iluminismo, no Sturm snd Drang, na filosofia idealista alemi, na escola histérta na Franca, A narrasio deixa de ser um lapso da legtimacé. Este apelo expliito a0 relato na problemética do saber é ‘oncomitante 2 emancipagio dos burgueses em relagéo as sutoridades tradicionais. O saber dos relatos retorna no ‘Ocidente para fornecer uma solucio 8 legitimacio das no- ‘vas autoridades. E natural que, numa problemética nar- sativa, esta questio espere a resposta de um nome de hei quem tem 0 direito de deciie pela socedade? qual * esa Fete 00 TEA ENR € o sujeito cujas prescrigées sio as normes para aqueles ‘que elas obrigam? Este modo de interrogar a legtimidade sociopolitca ‘combina-se com a nova atitude cientifiea: 0 nome do heréi € 0 povo, o sinal da legtimidade seu eonsenso, a dlibe- rigio seu modo de normativacio. Disto results infalivel- mente @ idéia de progress; ela no representa outra coisa senio o movimento pelo qual suptese que o saber se acumula, mas este movimento estendese a0 novo sujeito sociopolitico. O povo esti em debate consigo mesmo #0 bre o que & justo ¢ injusto, da mesma maneira que a comu> nidade dos cientistas sobre © que € verdadeiro ¢ falso; 0 ppovo acumula as leis civis, como os cientistas acumulam as leis cientfficas; 0 povo aperfeigoa as regras do seu con- senso por disposigbes consttucionais, como os cientistas revisam A luz dos seus conhecimentos produzindo noves paradigmas”.* Vésse que este “‘povo” difere completamente daqucle que esti implicado nos saberes narratives tradicionais, os uais, como se disse, nio requerem nenhuma deliberacio instituinee, nenhuma progressio cumulative, nenhuma pre- tensio 4 universalidade: sio eles os operadores do saber cientifico, Nao deve causar espanto que 08 representantes dda_nova Tegitimagio pelo “povo” sejam também os des- truidores ativos dos saberes tradicionals dos povos, per cebidos de agora em diante como minorias ou como sepa Tatiamos potenciais cujo destino no pode set senio obs- curantista Concebese igualmente que a existéncia real deste su- jeito forgosamente abstrato (porque modelado sobre o pa radigms do tinico sujeito conhccedor, isto é, do remetente- destinatério de enunciados denotativos com valor de ver- dade, excluindose os outros jogos de linguagem) seja sus- ppenso as insttuigdes nas quais ele € admitido pera deli- berar e decidir, © que compreende todo ou parte do Es- 3 tado. # assim que a questio do Estado encontrase estre- ‘tamente imbricada com a do saber cientfic. Mas vése também que esta imbriescio no pode ser simples. Pois 0 “povo” que é a naglo ou mesmo a huma niidade nfo se contenta, sobretudo em suas instituigdes politics, em conhecer; ele lepisla, ou seja, formula pres- crigdes que tém valor de normas.™ Exerce assim sua com- peténcia nfo somente em matéria de enunciados denota- tivos dependentes do verdadeiro, como também em ma- tGria de enunciados prescritivos tendo pretensio a justia. E exatamente esta, como se disse, a propriedade do saber narrativo, donde seu conceito é retirado, de encerrar am- bas as competéncias, sem falar do rest. (© modo de legitimagio de que falamos, que reintro- dduz 0 relato como validade do saber, pode assim tomar duas diregdes, conforme represente o sujeito do relato como cognitive ou como pritico: como um heréi do conheci- ‘mento ou como um herdi da liberdede. E, em razio desta alternativa, no somente legitimasio no tem sempre (© mesmo sentido, mas préprio relato aparece jé como insuficiente para dar sobre ela uma versio completa NoTAS 97. Sobye a deol enti. ye Sure 9 obraeptemire 1971) Tne gm uber on oy Sioa Pace ‘anim atv formas Ge mvbormagio da ence 90 salem 98, V. Oaldsehni, Les Dilgue de Plan. PALE. 1947 100. Val, Inraduton do rtode de Léosrd da Vine (590, Galina, 197 (cape ame “Marge” ("Nae ed ‘reson (919, “Llano tle plsopes” (1529 DP. Atbenge, Le prblome de Fre ches Arse, PALF 1962. Daher, Ena! ar noon de sre yi de Plan Gal, Herp 5. Rope, Ec aces 190). Hemann 3865 1s vos IERIE FEDERAL 00 PARK OTA CENEAL WM de Cert, D. Tae J Rech Une pt state rape fut Gallina Set ad ue get «mop wer Galo “De ‘ulsangsgs te etsy prs gee daongus ta Imbpart es pane dss rms cums de tunel 48 Mather. unheie di Dio ie del or ta 7 9 (OS RELATOS DA LEGITIMAGAO DO SABER ExxaMiAREMOS duss grandes verses do relat de legiimegio; uma mais pole, «outa mane Aloetic, am- ten de grande imporstcla na bei moderna, em pat clr na do saber e de sas instiigbes, Uma €/a que tem por sujeito « humanidade como beri da berate, Todos of povostda dito boca $5 see elf lo €or cng € porque fo inpedio niso pelo palees¢ trance. O di felto 1 citnda’ deve ser reonguistado. B comprensivel Ghee fling ke tal pli, on enon Pk “que dis universidaces e excl" A polltea es Colar da IT Repiblin dasa casaments exes presuposto. Quanto ao ensng superior, ete relato parece dever ita ose alence. ssi gc, em geral, Se desrever as dispsigdestomadas a este fespeito por Napolefo, cur lindo de produie au compettocise edinstrativas © pr Fisonais necessran A eaublidade do Estado Asin ignornse que este limo, na perpeciva do relao das Iberdades, no recebe sua legitimidade de si mesmo, © tim do povo. Se as instituigdes de entino superior so onsagratas pela poliicn imperial a serem extfas dos ux dros do Estado, secundarimente, da sociedade civil, € porque através das adminstragdes € das prfisdes em que fe exercerd un aividade, a prdpia nao estd utornada 2 conguistar sta liberdade gras 8 difsio dos novos 4: 38 eR FEDER OE RTE ETAL beres na populagdo. © mesmo raciocinia vale a fortiori para a fundagio das instituigées propriamente clentifias Reencontrese 0 recurso a0 relato das liberdades cada ver que o Estado toma diretamente a si o encargo da formacio do “povo" sob 0 nome de nasio € sua orientagio no ca ho. do. progresso."" Com 0 outro relato de legitimacio, a relagio entre 4 ciéncia, a nagio € o Estado dé lugar a uma elaboracio bastante diferente. Eo que se deu quando da fundagio dda Universidade de Berlim, entre 1807 © 1810.™ Sua in- fluéncia seré considerivel sobre a organizagio dos cursos superiores nos paises jovens nos séculos XIX e XX. Por ocasiao desta criagio, o ministério prussiano foi surpreendido com um projeto de Fichte e consideragées| copostas apresentadas por Schlciermacher. Coube a Wilhelm von Humboldt resolver 0 caso; decidiu a favor da opsio mais “liberal” do segundo, Lendo-se 0 relawrio de Humboldt, pode-se ser ten tado a reduzir toda sua politica sobre a instituigio cient- fica ao célebre principio: “Buscar a ciéncia em si mesma” Isto seria equivosarse sobre a finalidade desta politica, ‘muito préxima daquela que Schleiermacher expis de modo mais completo e em que predomina © principio de legit smagio que nos inceress Humboldt declara, ¢ certo, que a eitncia obedece as suas regras proprias, que a insituigio cientifiea “vive © renovase sem cessar por si mesma, sem nenhum cercea- mento nem finaidade determinada”™. Mas acrescenta que ‘a universidade deve remeter seu material, acigncia, 2 “for rmacio espiritual e moral da nagio”." Como este efeito de Bildung pode resulta de uma pesquisa desinteressada ‘do conhecimento? © Estado, a nagio, a humanidade ine teira nio_sio indiferentes ao saber considerado em si mesmo? Com feito, o que Ihes interessa é como declara Humboldt, nlo o conhecimento, mas 0 cariter © agi Ey © conselhiro do minisro coloca-se sts face a um conflto maior, que lembra-a rapture inrouida pela rt fics kanviana entre conhoser querer, 0 confit ents im jogo de linguagem feito de denotgGes que nfo emanam seniio do critério da verdade, e um jogo de linguagem que orienta a pritca cic, soca, polities, e que comporta necessariamente decisdes € obrigagdes, ou seja enunciados dos quais nao se espera que sejam verdadeiros, mas jus- ton, € qe portnto nfo emanam em cima sndie do Seber cent. ‘A unificgio destes dois conjuntos de discurts é, no cntanto, indispensivel 2 Bidang visade pelo projeto hum. toldriano, que consiste no somente na aulsieto de conheciments pelos individ, mas na formagao de um sujeito plenamente legitimado do saber e da sociedade. Hombolde inves assim tm Fspiito, que Fichte também chumeva de Vide, movido por uta taplice spingio, ou melhor, por uma agpiragdo simultaneamente tiplice e un téria: “a de tudo fazer derivar de um principio original”, 4 qual corespone a atvidade cient, "a de tudo re ferir a um ideal”, que governa a pritica ética e social; “a de reunir ese principio ¢ este ideal em uma Gnica Tdeia”,asseguando que a pesquisa das verdadetes caus 1m ciéncia nfo pode deisar de coinidir com & perseaugo de joatos fins aa vida moral e politen. O sujeito leptin coniituise desta tiki sincese ‘Humboldt acrescenta de passagem que esta triplice aspiragio perience paturalmente” ao “carer itlectal da nacido alema”."” E uma concessio, mas discreta, #0 ou- tro telato, isto &, &idéa de que o'sujeto do saber € 0 povo. Na'verdace, esta idéin ext longe de se conformat fo rato da lepitimasio do saber proposto peo idealismo alemio, Sinal dato €'a sspeita de um Schleiermacher, de tim Hemboldt e mesmo de um Hepel a respeito do Es- tao, Se Schleiermacher teme 0 nacionalisma exit, © protecionismo, © wltarismo, © positivamo que gun ot « Pet sn nea D0 TEA poderes piblicos em matéia de ciéncia, é porque o prin- pio desta nio reside, mesmo indiretamente, naqueles, O sujeito do saber nio é 0 povo, € 0 expiito expeculativo. Ele nfo se encarna, como na Franga de apés a Revolugio, rum Estado, mas num Sistema. © jogo de linguager de legitimacio no € poltico-estatal, mas floséfco, ‘A grande funcéo que as universidades tém a desem- penhar € a de “expor 0 conjunto dos conhecimentos ¢ ‘videnciar 08 principios a0 mesmo tempo que os funda mentos de todo saber”, pois “nfo existe capacidade cien- tifica criadora sem espfrito especulativo"." Aqui, a espe- caulagio € 0 nome que o discurso sobre « legitimagio do dliscurso cientifico recebe. As escolas sio funcionais; a uni- versidade € especulativa, isto, filesfica." Esta filoso ‘eve resttur a unidade dos conhecimentos dispersados em cincias partculaes nos laboratérios © nos cursos préuni- versitrios; ela no pode fazélo senfo num jogo de lin- ‘uagem que une ambos os sspectos como momentos no it do esptrito, porento, numa narracio ou, antes, numa rmetanarragio raconal. A Encilopédia de Hegel (1817-27) Ibusceré satsfazer este projeto de totalizaio, jd presente ‘om Fichte ¢ em Schelling como idéia do Sistema, E af, no dspositvo de desenvolvimento de uma Vida ioe desl uieaie) etapa suaioy ss we oe mee saber narrative. Existe uma “histéria” universal do esp Fito, 0 espltito & “vida”, esta “vida” & apresentagso 4 forinulagio do que ela mesmo é; ela tem como meio ‘9 conhecimento ardenado. de todst as suas formas nat cidncias empfricas. A encilopédia do idealismo alemto é 1 narragio da “histsria” deste sujeto-vide. Mas 0 que ela produz € um metereato, pois o que conta ete. relato no deve ser um povo estrangulado' na positividade pat= ticular de seus saberes tradicionais, ¢ tio pouco 0 com junto dos cientstas que sao limitados pelos profissiona- lismos correspondentes 2s suas especalidades. or Este nfo pode ser seno um metassujcito em vias de formular tanto « legitimidade dos discursos das cién- cias empiricas, como a ds instiuigdes imediatas das cul- turas populares. Este metasujeito, revelando seu funda ‘mento comum, reali seu fim implicito. O lugar em que habita € a universidade especulativa. A eifncia positiva € 0 Povo nio sio outra coisa senio suas formas brutas. ( préprio Estado-nagio nio pode exprimir validamente 0 ‘Povo a nio ser pela mediacio do saber especulaivo. Era necessitio resgatar_ a filosofia que a0 mesmo tempo legitima a fundagio da universidade berlinense © devia ser 0 motor do seu desenvolvimento e do saber con- temporineo. Como jé foi dito, esta organizigio univers tiria serviu de modelo para a constitugio ou a reforms dos cursos superiores nos séeulos XIX ¢ XX em muitos patses, a comesar pelos Estados Unidos.” Mas sobretudo, esta filosofia, que estd longe de ter desaparecido, princi palmente no meio universitéio." propSe uma representa 60 particulsrmente viva de uma solugio dads ao proble- mma da legitimidade do saber. No se justfca a pesquisa e a difusio do conhed ‘mento por um principio em uso. am que @ ciéncia deva servir efov da sede iil, Negligence © principe hung: nista segundo o qual a bumanidade eleva-se em dign € em liberdade por meio do saber. O idealismo alemio recorre a um metaprineipio que simultaneamente funda menta 0 desenvolvimento a0 mesmo tempo do conheci- mento, da sociedede e do Estado na reali ” ‘um Sujeito que Fichte chama is sue” Nese meetin @ pe een le inicio sua legtimidade em si mesmo, ¢ € ele que pode dizer 0 que € 0 Estado e © que é a sociedade.” Mas no desempenhar este papel senéo mudando de patamar, Fo ucim doer debandoest 9 sonkeinne pose do seu referente (a naturea, a sociedade, 0 Estado, et.), e es. ER, 00 FL TEAC € vindo a ser também'o saber desies saberes, isto 6, expe: culativ. Sob o nome de Vida, de Espiit, € 4 si mesmo aque nomela Um resultado aprecifvel do dispostvo especulativo, 0 de que todos os cares de onfcimenes tobe tos fos referents possveis so af considerados no com seu valor de vee medi, ma com oar ge cea mem pelo fato de ecuparem um certo lugar n0 petaurso do Espirito ou da Vida, ou, se se prefer, una certa posigio 1a Encilopédia que descreve o discurso especulativo, Este 5 cita expondo por si mesmo 0 que sabe, isto é expondo- se a si mesmo. Nesta perspectiva, o-verdadeiro saber & sempre um saber indireto, feito de enunciados recabidos, ¢ incorporados ao metarelato de um sujeito que asepute, Ihe a legitimidade. ao Isto vale para todos os discursos, mesmo te eles no forem de coahecimento como, por exemplo, os do dicito ¢ do Estado. O discurso hermentutico contemporinea"™ femerge desta pressuposigio que astegura finalmente, que had sentido a conhecer ¢ que confere assim sua legitimi- dade 2 histéra e, notadamente, 2 do\conhecimento, Os ‘enuncades so tomados como autéaimos deles mesmos.™ colocados num movimento onde se admite que eles se fengendrem uns aos outros: tals fo as regras do ogo de linguagem especulaivo. A_universidade, como seu nome o india, é a sua instituigio exclusiva, Mas, como se disse, o problems da lesitimidade pode resalverse pelo outro. proceso so marcarihe 4 dliferenga: # primcira. versio da Tegitimidade'reencontrou lum novo vigor hoje, enguanto 0 esatuto do saber encon- trase deseqilibrada sua unidade especulativa fagmen- tad. © ‘uber aio encontea af sua validade em si mesmo, tum sujeito que se desenvolve atuslizindo suse posi dades de nto, mas num sujeito pritico que é hhumanidade. O principio do movimento que anima 0 Povo 6 rio € 0 saber em sua sutolegitimacio, mas a liberdade em sua autofundagio ou, se se. prefere, em sua autogestio. ( sujcito é um sujeito conereto ou suposto como tal sus epoptia & a de sua emancipasio em relagio a tudo aquilo que 0 impede de se governar a si mesmo, Supde-se que 8 leis que para si mesmo estabelece sejam justa, no por aque clas estario ajustadas « determinada natureza exterior € sim_pelo fato de que, por consttuigio, os leysladores rio sio outros senio cidadios submetidos as leis © que, em conseqjigncia, a vontade de gue a Tei faca justia, que €'a do cidadio, coincide com a vontade do lepslador, que 4 de que a justca seja Ie. Este modo de legitimagio pela autonomia da vonte: 4" privilegia, como se v@, um jogo de linguagem bem dlverso, 0 que Kant chamava de imperativo € os contem- ineos chamam de prescitivo. O importante nio é, ou Dio € apenas, legitimer of emnciador denotativos, depen dentes do verdadeiro, como: A Terra gira em tomo do sol, mas enunciados prescitvos, dependentes. do justo, ‘como: E preciso destruir Cartago, ox: E preciso fixar 0 selério minimo em x francos. Nesta perspectiva, 0 saber positive nfo tem outro papel sendo o de informar 0 sujeito pritico da realidede na qual ¢ execucio da prescrigfo deve se inscrever. Ele lhe permite circunscrever o executivel, © que se pode fazer. Mas 0 execut6rio, 0 que se deve fazer, no Ihe pertence. Que um empreendimento seja possivel € uma coisas que ele seja justo, outra. O saber fio & mais 0 sueito, ele esté a seu servigo; sua ini leg timidade (mas ela € considerével), € permitir que a m Tidade venha a ser realidade ‘Assim introduz-se uma relagio entre 0 saber © a s0- ciedade e seu Estado, que é, em principio, a relagio entre meio e fim. Os centstas nfo devem se prestar a i802 fio ser que julguem # politica do Estado justa; isto é, 0 conjunto de suas prescrigées. Eles podem recusar as pres- cigdes do Estado em nome da sociedade civil de que si0 64 VR FEDER. FA CENTRAL (os membros, se consderam que esta no ¢ bem represen- tada por aquele. Este tipo de legitimacio the reconhece f autoridade, a titulo de. seres humanos priticos, de recusar em prestar sua colaboragdo de cientstas a um po- dex politico que cles julgam injusto, isto é, nio fundamen- tado sobre a autonomia propriamente dita. Eles podem mesmo até fazer uso de sua ciéncia para mostrar’ como cesta autonomia de fato no é realizada na sociedade € no Estado, Reencontrase assim a funglo extica do. saber. Acontece que este no tem outra legitimidade final sena0 a de servir os fins vigados pelo sujeito prévico que € a coletvidade auténoma.” Esta distribuigio dos pepéis na tarefa de legitimasio interessante, segundo 0 n0ss0 ponto de vista, porque ‘supe, ao contratio da teoria do sistema-sujeito, que 0 calendar tvno pom dot fod Tinguagem mum metadscarso. Aqui, 20 conteitio, 0 priv Iegio concedido aos enunciados prescrtives, que sfo os que 0 sujeito pritico profere, torna-os independentes, em prinepio, dos enunciados de cigncia, que ado tém mais fungi senlo a de informasio para 0 dito sujet. Duat observagbes: 1 — Sera fl mostrar que 0 marxismo osilon entre os dois modelos de legitimacio nerrativa que descrevemos. (© Partido pode tomer 0 lugar da universidade — 0 pro- Tetariado, 0 do povo ou da humanidade, o meteralismo dilético, © do idealiomo especulativo, ete pode dal re Sultar 0 ‘estalinismo e sua relagio espeifea com as cién iat, que Id extfo apenas enquanto citagio do metarelato ‘da marcha para o socalismo como equivalente da vide do tsplito. Mas ele pode, a0 contritio, conforme a segunda Yersio, desenvolverse em saber ertico, postulando que 0 Soxiallsmo ndo € sendo a consituigio do sujeiro aurSnomo 6 que tode a justificagio das citncias € dar a0 sujeito em- pirico (0 proletariado) os meios de sua emancipagio em relagio 2 alienagio e & repressio: sumariamente, foi esta f posigfo da Escola de Frankfurt. 2 — Pode-se ler 0 Discurso que Heidegger proferiu no dia 27 de maio de 1933, quando de sua ascensio 20 reitorado da Universidade de Friburgo,” como um episé- dio infeliz da legitimasdo, A ciéncia especulativa tomnou-se ‘© questionamento do ser. Este € 0 “destino” do. povo slemao, chamado “povo histéricospiritual”. B a este su jelto que se devem os trés servigos: do trabalho, da defe- sae do saber. A universidade assegura o metassaber de seus tr8s servis, isto é, a cidncia. A legitimacio se faz entio como no idealismo por meio de um metadiscurso chamado-ciéncia, tendo pretensio ontoldgics. Mas ele é ‘questionante, e niio totalizante. E, por outro lado, @ uni- versidade, que € 0 lugar onde ele existe, deve esta cigncia ‘2 um povo cuja “missio histérica” € a de cumpri-la traba- Thando, combatendo e conhecendo. Este povorsujeito no ‘tem vocagfo para a emancipacio da humanidade, mas para a realizagio de seu verdadeiro mundo do espirito”, que & “o poder de conservagio mais profundo de suas forgas de terra e de sangue”. Esta insercio do relato da raga'e do trabalho no relato do espirto & duplamente infeliz: teori- ‘camente inconsistente, bastaria, contudo, para encontrar 1o contexto politico uim eco desastros. NoTAS WS. ere um venti dpc oii dea case x : 6 10. mn. 1 us 6. ww, 1. ven ENERO ARE ‘OTE wen eae a mt hte mat neta gaara se Ciena atmo ee ete etn oy kn FT ee mein ale ene sie aratacke & se am dnd sie ‘sfa'aue we fol avenenc cmercado ating aes ‘e Carve, Un ‘iar are. Sto Paulos e's race arc Miguel Cotes de shlotophie’ Phicoophie ae TUniversie "ll uso de Foner enon de Set- lng Ph Schcemeche. Hamble Hep Peyt 15, “Sup Fortin interne ot exarne des Eaiementssleatgues ‘pvt h Ben” (ie) In Poop de Fontana oe Se a. anses de chconatance srl wives de con. ‘Soton leans” 180), Vids 2ST 70 entino ssc seconheide de ata. eat como o fund mete Ge traded savers” Wide 2 [A Tearing analsn as conta. eta tenplanagto em Univer side Sed nu FireOne Sea, 192, Sa Senel if ns coches do uo) R. Niet, The Depradtion of ‘Acotntc Dope” the Univer tn Amer, 18451970, Lense, Heine, 171. © aor €srlesr na Univerdade de Cavern er. W. Hes. Bhicsople des Recis (121), Kaun Princes 1 hip dra Calioar. a - Ver P, Recut, Le confit des ineroration, Bsa, Sherménc et lees: MAS SP ES Vee masa Slam doe enaniaor (1) La lage ext fete, 2) O enc /La Tia ety" wm ema doing Disa ee th 9 apna /Le lene et level €g atone). Ver. Rey eben 1metongar. Le Wb. 1978 pre 1 © pri. m ota de den tances Sedo's Creda nope Ea ple menos ¢ tan ie pelica ee o ie spi it peso i ol ten Sng Saree a ames ‘ele Lumires™ im Kant. Le Philosophie de Phastabe, ABbir. Ver I, Kent, atts I Habermas, Sraturwandel der Onell Mei tits" Stents Tear de Lamy, Comme pu ‘Sad botacsie Payor 1978 Os rman le ‘im “torr pub ume conesndci privea debe pbles” ‘SE Ea principe de efieickic pion ais de muir ce ado en 18, ano vines ‘ation "(USA)'e © grupo “Brish Sock for Soci Responabiy Seen a 4 Grane! war pare o fants om Pi Se Rantala Tosowete Mies Tasos es Fae. 0 ALOTEACNTL 10 A DESLEGITIMAGAO Na soctEDADE e na cultura contemporines,socieds- de plein, extore pétmoderna" « questo da Ie Siinasao do sabes colcese em cuttos tomnoe, © ganic Feito perdea sua credlidade, see qual for 0 modo de Tifa que Ie € confer’ rete esperutaiv rans enn Polese ver neste delinio dos rats um efeto do dkseavalviento dar teneas © de tecnologia v partir dx Scyunda Guerra Mundial, que deslocor a Enlace sobre os incon da ago de prefernca bénfae sbre os se fins tn enio © redesdobramento do cpitalismo Uber evan Gado ape se ree, sab #protesto do eyesansmo do Fante os anos 1930-1960, enovapdo gue eliminos alter: tative comunista e que valorizoa a faugio individual dos Bens e do srigs. Suse do eausalidade como esta sio sempre dcep- cionantes. Sopondoe que se ait tim on ota desis Fiptees, teen explica « correlao das tendencies rete fies com o deli do poder uifcadore legtimador dos frander relator da especiagzo e da emancipsto, 1 impacto que, por tm lado, teorada © 4 pros peridede capitalists por out lado, 0 avengo deseo: Ccrante dat tenis oder ter sobre 0 estatto do saber Ceramente compronavel, Mas € gio printinumenis feipaar os gemes de “deegtimagio™ e de nilimo que am ineremtes ave grandes elton do séclo XIX para ® ‘compreender como a ciéncia contemporinea podia ser sen- Sivel ates impactor bem antes que cles‘acontecesem dispostivo especulativo encerra iniielmente uma ‘espécie de equivoco em relagio ao saber. Ele mostra que ‘este nfo merece seu nome a nio ser que se reponha (se reldve, bebt sich euf) na citacio que ele fez dos seus proprios enunciados no seio de um discurso de segundo nivel (autonimia) que os lepitima. Isto significa que, em sua imediaticidade, 0 discurso denotativo que versa sobre ‘um referente (um orgenismo vivo, uma propriedade qut rica, um fendmeno fisico, etc.) nfo sabe na verdade 0 que cle acredca saber. A ciéncia postiva no € um stber. E a especulacio nutrese da sua supressio. Deste modo, 0. relato especulativo hegeliano contém nele mesmo, ¢ como ‘onfessa © préprio Hegel, um eeticismo em relagio 90 conhecimento postivo. ‘Uma ciéncia que no encontrou. sua legtimidade no € uma cigncia verdadeira; ela cai no nivel © mais baixo, 0 de ideologia ou de instrumento de poder, se 0 discurso aque deveria legitiméla aparece ele mesmo como depen- dente de um saber précientifico, da mesma categoria que lum relato “vulgar”. O que nio'deixa de acontecer 5 se volta contra ele as regras do jogo da ciéncia que ele de- runeia como emplrica. Considere-e 0 enunciado especulativo: um enun do cientifico € um saber somente sf ‘num processo universal de engendramento. A ques surge a seu respeto € a seguinte: sera este enunciado um saber no sentido que ele determina? Ele nio o seré, a no ser que possa situarse num processo universal de engen ddramento. Ora, ele 0 pode. Bastalhe pressupor que este pprocesso existe (a Vida do expirito) ¢ que ele mesmo é lima de suas expresses. Esta pressuposisio € mesmo dispensével 20 jogo de linguagem especulativo. Se ela nfo @ feia, # propria linguagem da legitimagio no seria legl- 70 ———$————————— es FEDERAL DO AL ECAC tima, e estaia, com a ciéncia,imersa no nom sense, rmenes de acordo com 0 idealismo. me ‘Mas pode-se compreender esta pressuposicio. num sentido totalmente diferente, que nos aproxima da cultura ésmodere: ela define, ditse-d na perpectiva que ado {amos anterirmente, 0 grupo de regras que € preciso ad- titi para jogar o jogo especalativo:* Tal spreciaglo supe io geral da. lingua sgem de saber o das cigncias ‘positivas”. Em segundo lugar, ue se considere que esta linguagem ‘implica pressuposi- ‘es (formais e axiométicas) que ela deve sempre explici- tar. Com outeas palavres, Nietzsche firma isto quando 30 europeu” resulta da auto-aplicagio dda exigéncia cientfica de verdade a esta prOpria ext séncia : Sarge assim a idéia de ferspectiv® que no € distan- te, pelo menos neste ponto, da dos jogos de linguagem. ‘Temse af um processo de deslegtimacio eujo motor € a exigéncia de legitimacio. A “erise” do saber cientifico, jos sinais se multiplicam desde 0 fim do séeulo XIX, provém de uma proliferagio fortuita das eigncias, que seria cla mesma o efeito. do progresso das técnices © da ‘expansio do capitalism. Ela procede da erosio interna do principio de legitimagio do saber. Esta erosio opera no jogo especulativo, e € ela que, ao afrouxar a trama enc clopédica na qual eada cigncia devia encontrar seu lugar, deixaas se emanciparem, ‘As delimitagdes clissicas dos diversos campos cient- passam 20 mesmo tempo por um requestionamento: ilinas deseparecem, invasbes se produzem nas. fron- teiras das iéncias, de onde nascem novos campos. A hie- rarquia especolativa dos conhecimentos di lugar a uma rede imanente ¢, por assim dizer, “rasa”, de investigagdes ‘eajasrespectivas fronteiras no cessam de se deslocer. As antigas “faculdades” desmembram-se em institutes e fan- dagdes de todo tipo, as universidades perdem soa funcio n cde legitimacio especulativa, Privadas da responsibilidade dda pesquisa que 0 relato expeculativo abafa, elas se limic ee eee ele guram, pela didética, mais @ reprodugio ‘que a dos cientistas. E neste estado que Nictache as en- ‘contra e as condena Quanto ao outro procedimento de legtimasio, 0 que results na AufHldrung, 0 dispositivo da emancipacéo, seu pode intrinseco de erosio nfo € menor do que aquele que opera no discurso especulativo. Mas cle se refere & lum outro aspecto, Sua caracterfstca € a de fundamentar & legitimidade da cigncia, a verdade, sobre a antonomia dos ‘um problema: entre um enunciaco denotativo de valor cog: nitivo e um enunciado prescitivo de valor pritico, a dife- renga € de pertinéncia, portanto de competéncia. Nada prova que, se um enunciado que descreve uma realidade € verdadeito, o enunciado prescritivo, que teré necessa- rlamente por efeito modifica, seja justo. ‘Considere-se uma porta fechada, Entre A porta estd Jecbada € Abra a porta ndo existe conseaiéncia no sentido {da Iigica proposicional. Os dois enunciados referem-se a d wos de regis autnomes que determinam Fe ntes €, por conseguinte, competéncias ‘Aqui, 0 resultado desta divisio da razio em cog. nitiva ou teorética, de um lado, e pritca, do outro, tem por elcito atacar@ legitimidade do discurso de ciénca, no iretamente, mas indiretamente, revelando que ele € um jogo de linguagem dotado de suas regras préprias (cujes condigSes a priori do conbecimento so em Kant um pri- meiro esbogo), porém sem nenhuma vocssio para regu- Iamentar 0 jogo pritico (nem estético, aids). Ele € assim posto em paridade com os outros. Esta “deslegitimagéo”, por pouco que a scompanhe- mos, ¢ se ampliarmos 0 seu alcance, o que Wittgenstein n ILO ria, ae aTE faz A sua mancira, ¢ © que fazer, eada um « seu modo, pensadores como Martin Buber © Emmanuel Levinas,” abre caminho a uma corrente importante da pésmoderni- de: ci jog osx proprio jogo el nfo pode lea timar os outros jogos de linguagem. Por exemplo: escapi the o da prescrigio. Mas antes de tudo ela nio pode mais se legitimar a si mesma como o supunhe especulagio Nesta disseminacéo dos jogos de linguagem, é 0 pri prio sujeito social que parece dssolverse. O vinculo social € de linguagem (langagier), mas ele no € constituido de uma Gnica fibre. E ume tecitura onde se eruzam pelo me: nos dois tipos, na realidade um nimero indeterminado, de fee Henge ose beds sy deren ittgenstein esereve: "Nossa ling Ser or omo wa vl cidade: wma rede Ge rocks © pra 28, de casas novas e velhas, € de casas dimensionadas as novas épocss; ¢ sto tudo eeteado por uma quantidade de novos subirbios com ruas retas e regulares e com casas taniformes."* E, para mostrar que retlmente 0. principio de unitotaidade, ow da s{ntese sob a autoridade de um metadiscurso de saber, éinaplicével, cle faz a “cidade” da linguagem passar pelo velho paradoxo do sorta, pergun- tando: “A partir de quantas casas ou ruas uma cidade co- mega a ser uma cidade?” Novas linguagens vém acrescentarse as antigas, for- ‘mando os subtrbios da velha cidade, “o simbolismo qué ‘ico, a notagio infinitesimal” Trinta e cinco anos apés, pode'se acrescentar a isto os linguagens-méquinas, as ma. trizes de teoria dos jogos, as novas notagdes musicas, as notagdes, das ldgicas’nio'denotativas_(I6gicas do tempo, lgicas detnticas, Iigices modksis), linguagem do cédigo ‘genético, os grificos de estruturas fonolégicss, tc. retirar desta explosio uma impressio pest- iis: ning fla todas ess lings eas nfo possum uuma metalingua-universal, © projeto do sistemaatjeito € tum fracasso, o da emancipasio nada tem a ver com a cién- % ea, estse mergulhado no positivismo de tal ou qual co- Stsdanoe pate, whine eamanrat deans so | reduaidas tarefas de pesquisa tornaram-se tarefes fragmen- Z tiias que ninguém domina;® e, do seu lado, a Filosofia 4 especulativa ou humanista nada’ mais tem a fazer senio \ romper com suas fungies de legitimacéo," © que explica ‘crise que ela sofre onde ainda pretende assumiles, ou | sou redupto ao catudo das legis ou das hisras das {idéies, quando cgnformando-se com a realidad, renunciou Aguelas fungies.” ~~ Este pessimism € o que alimentou a geracdo do int cio do século em Viena: os artistas, Musil, Kraus, Hof- smannsthal, Loos, Schinberg, Bloch, mas também os fl6- sofos Mach e Wittgenstein.™ Sem’ divida eles desenvol veram 0 mais possivel a conscigncia e a responsebilidade teGrica e artistca da deslegitimagio. Pode-se dizer hoje que este trabalho de luto foi consumado. Nao se deve re- comesélo, A forga de Wistgenstein consist em nio colo- «arse 20 lado do positivismo que 0 Circulo de Viena de- senvolvia™ e de tragar em sua investgasio dos jogos de linguagem a perspectiva de um outro tipo de legitimagio que nao fosse o desempenho. E com ela que o mundo pés- rmodemno mantém relagio. A prépria nostalgia do relato perdido desupareceu para a maioria das pessoas. De forma alguma segue'se a isto que elas estejam destinadas & bar- bitie. O que as impede disso € que elas sabem que & lexi- timegao nao pode vir de outro lugar senao de sua pritica de linguagem ¢ de sua interagéo comunicacional. Face a qualquer outta crenga, a ciéncia que ironiza (sourit dans sa barbe) ensinowlhes @ dura sobriedade do realismo.™ 1" 1. 1, or bs ‘UNIVERSIOADE FEDERAL NECA CENTRAL SL Mates enpea « ereate “spon of dine” en Fhe Pots of Conmaniosion oe oh ie “Cena de ve (gum do ders.) ee csi Hany ric ont eG tae Stover oe de polo opted tbo bene ae om ra de sbrcrene a expos dnanon pct un etd Sistas exeme done sono ae regs Nasache, er europe No” VI 3) “Ber Ne tron ot gore Zana tm Wit Seek Sly Ria eye ar eh meee tee, Bs ah eno gi Mee Unite de Fate Vit ince, : ‘ser Tet de eaknements Gero” (AD, ak tn. Nate, Ee puharr 16188 Car Buber, Jet Ta, Aube, oi Didegchen ete, 7c Moe T. Ein fab oe ac Seek ies Bibuy ine heer (S30 Bt ‘sari Sober Inthe de a conneteance™ Nome probes hon paar cae ie eatin pha, tcc. AC. de Yon Ca uno Gr Puedes bil Cua, 18 fi a, ‘er por exemple “La traaton de a sce” i, Auer Ne Br acca Stan tte Be, Se Pee (tite Sei cee, NY. Clan UP 19) aos he tht cog ene a ue sco de pata bee {uo sles alan em nono pies) ume fe ‘nie pred Ge et adn © romero lates ‘Sion ctee'p dobro do numer pete, enor ee 0 sone trier ete Ve tea opening Poe Src gue cba coast ene sel undo ‘Sui eco tenon eae secon data i apn Ste mina ve 30. (evo ral) Nei. Go pr dnd ny isp’ Phlpte ene oe citu splonpe Bie, Sea os ie 4 rete Moteur no conju dey tc Saimee OS oe ph Sata tat ee a fee's lr pA a coe fl ‘nas gs cme Ey neon dei, te ‘evende Soe fotibe Sats asides atveantie pens erg edi no Pre dni pint ie apie Damen de phish: Une de Pav fVincone, 1 6 % Yer A lnk & St Toumio, Witapmens Viewa, NY. Simon & Hat NO 5 Beh ict in dn se Shige Si" Gotapiendee 187. ‘er js Hatemay, “Dorman, akon econ: thai et pre ‘ey nae cites sl Gi) Poe rule latin, daa baie & 0 tial deo capil ‘Pore seg gute Mat ced comet por Baa sr" prema ue eo gag FRAO ECAC, un A PESQUISA E SUA LEGITIMAGAO ‘PELO DESEMPENHO Vor.tem0s a citncia © examinemos de ino a pragmd- tica da pesquise. Ela é hoje afetada em suas regulages Sahin A pate othe sho too anle emo fo por estes métodos. Ela pode user © usa linguagens, como se disse, cujas propriedades demonstrativas parecem desafis a rezio dos clésscos, Bachelard feeshe um balan- 0; ee feof ultapesad. : ‘uso dests linguagens, contudo, nfo é qualquer um. Ele extésubmetido « uma condigfo que se pode dizer prag- mética, a de formular suas préprias regras ¢ de perguntat ‘0 destinatirio se cle as accita. Satistazendo esta condi- so, define-se uma axiomética, a qual compreende a defi- tigho dos simbolos que serio empregados na linguagem pproposta, a forma que deverio respeitar as expresses lesa linguagem para poderem ser aceitas (expresses bem ormadas),¢ as operagdes que serio permitidas sobre estas ‘expresbes, e que definem os axiomas propriamente dios.” ‘Mas como se sabe o que deve conter ou 0 que com ‘tém uma sxiomética? As condigGes que foram enumeradas so formais. Deve exist uma metalingua determinante se ” ‘uma linguagem satisfaz as condigSes formais de uma axio- mitica: esta mevalingua € a da ile. Deve-se fazer aqui uma observacio. Que se comece ppor fixar a axiométice para dela retirar em seguide os enunciados que sio sceitiveis, ou que, a0 contsirio, o cin: tista comece por estabelecer 0s fatos e por enunci-los, € ‘que ele busque em seguida descobrir a axiométicn da lin- ‘guage da qual se serviu para enunci-los, nio consttui tuma alterativa ldgica, mas Somente empirice. Ela tem cer- famente uma grande’ importincia para o pesguisador, também para o fildsofo, mas a questio da validagio dos ‘eaunciados apresenta-se paralelamente nos dois casos" ‘Uma questio meis pertinente para a legitimacio & a scquinte: por meio de que ertérios © légico define as pro- priedades exigides por uma axioméviea? Existe um modelo dde uma lingua cieatifica? Este modelo € tinico? verfi- ‘ivel? As propriedades em geral exgidas pela sintaxe de um sistema formal™ so a consisténcia (por exemplo, um sema nao consistente em relagSo & negagio admitiia nele ‘mesmo, paralelamente, uma proposicio © seu contritio), ca (0 sistema perde sua conssténcia seja acrescentado), a decidibilidade (existe um procedimento efetivo que permite decidir se luma proposicio quelquer pertence ou no a0 sistema), € 4 independéncia. dos axiomas uns em relagfo aos outros. Ora, Gadel estabeleceu de meneira efetiva a existéncia, no sistema aritmétco, de uma proposicio que néo é nem’ de- monstrivel nem refutivel no sistema; donde se segue que © sistema aritmético no satisfaz 4 condigio da comple- tude."* Como se pode generalzar esta propriedade, é preciso entio reconhecer que existem limitagées internas os for- talsmes. Estas limitagies signifi qu, para lio, 1 metalingua utlizads para descrever uma ficial (axiomiética) & a “lingua natural”, ou “Lingua ct diana”; esta lingua € universal, visto que todas a6 outras * ‘ERSIDIDE FEDER aria cea Yoguas deicamse nla trade; mus ela no consitene em reac &negagio: permite a formago de parade Tete send, a questio. da leyitinayo do saber colacaxe de outro modo, Quando se declara que um enue Sado de eariter dentuivo € vedackivo, prmptose que © sstcme ereitoo no goal de ¢ deste demenset fel for formalado, que € conhecdo dos inteticutres € Seite por ele come to formaimene eisfaéio quates poster E nese egpito que se desneaet, por exe Ploy a matematicn do grope de Boubali™ Ma, obecrva es ‘enlogen pda act tes part as outa, cnc SS doves seu crtatuto 2 cite de tne lngueger Cole regres de fonctranesio oso podem ser dear dk, meso consrous care on experts. Ena rgees 0 tgencias pelo menon arn slgumes das ciency A ex ie Eon dalled dupe ‘A engumentaio eigfiel_pars a acctasfo_ de, um enunciado ‘entice std. asim subordinada a tua “prt fnein’acitago (oa reldade, comaneemente tenowada tan wirtade do princpio de meunvidade) das ropas pt finan os meioe da angomentngo. Dat, dues propridades poufvels deste saborr's lenbidade dos seur mel, io Era mulplicidade de suas linguagens; seu eater de jon Prngnatico,«aceabidade dos “lances” que Ihe sio fe fos (a inttogdo de novas prposises) dependend de tim conto ralado ene ov parpants, Da também I diferenga etre dois tipo de “progreso” no saber, toresponicndo a um neve lance (nova a:gumenigto) no cq das regres exabelecidas,o Segundo 2 inyengto de floras sees cram, uma madange de jogo ‘A esta nova disposi corresponde evigentemente un deletes mr dh Had ei, O pinged ua Inctalinguagem universal €esbraldo pelo da pal 2 evo! foumas'¢ xcnitoe capes de agubettat tmunciados dentaivos,sendo exits sirtemas dexeitos mir fhe mealingue universal mas nao consisente, O que pat 3 sava por paradoxo © mesmo por pactlogismo no saber da citncia cléssica e moderna pode encontrar em algum desies Sistemas uma forca de convicgio nova e obter 0 asent mento da comunidade dos experts!” O- método pelos jo gos de linguagem que seguimos aqui adota modestamente esta corrente de pensamento. Somos levados uma dlirogio inteiramente diversa pelo outro aspecto importante de pesquisa que diz respeito 2 edministragdo das provas. Esta é, em principio, uma parte da argumentagio destinada a fazer aceitar um novo fenunciado como o testemunho ou a prova material, 20 caso da retdrica judicifvia Mas ela suseita um problema especial: & com ela que o referente (a “‘realdade") € con- voeado @ citado no debate entre os centstas Dissemos que a questio da prova constitol um pro- blema, no sentido de que seria preciso provar a prova. Pode-se pelo menos publicar 0s meios da prova, de manci a que 08 outtos cientistas possam assegurarse do resul- tado repetindo © processo que conduziu a ela, Acontece que administrar uma prova é fazer constatar um fato. Mas © que € uma constatasio? O registro do fato pela vista, pelo owvido, por um 6rgio dos senidos2" Os sentidos en ganam, © slo limitadas em extensdo, em poder discrimi nado. ‘Aqui intervém a sécnicas. Elas sio inicialmente pré- teses de érpios ou de sistemas fisoldpicos humanos que tém por fungio receber dados ou agit sobre 0 contexto,” Eas obedecem a um prinepio, o da otimizasHo das. per- formances: aumento do_ output (informasbes ou modiica- ‘es obticas), diminuigo do input (energia despendida) para obtélas.™ Sio estes, pois, os jogos cuja pettinéncia fio € nem 0 verdadeiro, nemo justo, nem 0 belo, ete. ‘mas o eficiente: um “lance” téenico é “bom” quando é bem-sucedido e/ou quando ele despende menos que um outro. % ‘OMNERSIDCE FEDER 00 PAR eaUOECACTEAL Esta definiglo da competincia téonica & tardia. As invengGes realizam-se por muito tempo intempestivamente, ‘por ocasiio de pesquisas 20 acsso ou que interessam mais ‘ou tanto as artes (decbnai) que a0 saber: os gregos cls 0s, por exemplo, no estabelecem uma relagio evidente entre este timo ¢ as téenicas. Nos séculos XVI e XVI, (0s trabalhos dos “perspectivistas” emanam ainda da curio. sidade ¢ da inovagio artistic,” ¢ isto até 0 fim do século XVII pode-se afirmar gue sinds em notsos dias as atividades “‘selvagens” de invengio téenica, por vezes se- rmelhantes a devaneios enirquicos, continusm fora das ne- cessidades da argumentagio cientific.” No entanto, a necessidade de administrar a prova se faz ressentt mais vivamente & medida que a pragmética do saber cienifico toma o lugar dos saberes tradicionais cu revelados. Jé a0 final do Discurso, Descartes solicita créditos de laboratério. O problema ¢entdo exposto: os aperelhos que otimizem as performances do corpo humano visando administra a prova exigem um suplemento de des- pest, Portanto, nada de prova e de verificasio de enun- ciados, ¢ nada de verdade, sem dinheiro. Os jogos de lin- sagem cientfica vio tornar-se jogos de ricos, onde os sais ricos tém mais chances de ter razio, Tragase uma equasio entre riqueza, eficiéncia, verdade, (© que se produz ao final do século XVIII, quando dda primeira revolugéo industrial, € a descoberta’da reci- procs: lo hé véonica sem riqueza, mas nfo hd riqueza sem. ‘técnica. Um dispositivo técnico exige um investimento; mas visto que otimiza a performance & qual é splicado, pode assim otimizar a mais-valia que resulta desta melhor performance. Basta que esta mais-valia seja realzada, quer dizer, que 0 produto da performance seja vendido. E pode- se bloquear o sistema da seguinte maneira: uma parte do produto desta venda é absorvida pelo fundo de pesquisa estinado a melhorar ainda mais a performance. E neste 8 momento preciso que a cigncia torna-se uma forga de pro- dugio, isto é, um momento na citculagio do capital. E mais o desejo de enriquetimento que o de saber que impie de inicio'a0s téenicos 0 imperativo da melhoria das performances e de realizagio dos produtos. A conjun- «fo “orginica” da técnica com 0 lucro precede a sua jun- Glo com a citncia. As téenicas nfo assumem importincia no saber contemporineo senlo pela mediasio do espirito de desempenho generalizado. Mesmo hoje, a subordinasdo do progressg do saber ao do investimento tecnolégico nig € imediata.™ ‘Mas o captalismo vem trazer sua solugio 20 proble- sma cientifico do erédito de pesquisa: diretamente, finan- ciando os departanentos de pesquisa nas empresas, onde 08, imperativos de desempenho ede recomercializagio ctientam com prioridade os estudos votados para as “apli- cages"; indiretamente, pela criagio de fundagbes de pes. quisa privadas, esttais ou mistas, que concedem créditos sobre programas a departamentos ‘universtiios, Iaboraté- los de pesquisa ou grupos independentes de pesqusado- res, sem esperar do resultado dos seus trabalhos um Iuero imediato, mas erigindo em principio que € preciso finan- ‘iar pesquisas a fundo perdido durante um certo tempo para aumentar as chances de se cbter uma inovacio siva €, portanto, muito rentével." Os Estados:nacdes, so- bretudo em seu episédio keynesiano, seguem a mesma re- gra: pesquisa aplicada, pesquisa fundamental. Eles cola- bboram com as empresas por meio de agéncias de todo 0 tipo." As normas de organizasio do trabalho que preva- lecem nas empresas penetram nos laboratérios de estudos splicados: hierarquia, decisio do trabalho, formacio de cequipes, estimativa de rendimentos individusis e coletives, claboracio de programas vendéveis, procura de cliente, te. Os centros de pesquisa “pura” padecerm menos, mas também eles beneficiamse de eréditos menores. 2 A stein Ge prom sue em prncpo nfo € senio uma parte de argumentacio destinada a obter 0 con- sentimento dos destinatirios da mensagem cientifica, passa assim ser controlada por um outro jogo de linguagem ‘onde 0 que esté em questio nio é a verdade mas o de- sempenho, ou seja a melhor relagio input/output. © Es- tado c/ou a empresa abandona ‘0 relato de legitimagio idealista ou humanista para justificar a nova disputa: ‘no dliscurso dos financiadores de hoje, a tnica disputa con- fiyel é 0 poder. Nao se compram cientstas, tEnicos e ape relhos para saber‘ verdade, mas para sumentar o poder. A questio € saber em que pode consistir 0 discurso do poder, e se ele pode consttuir uma legtimacio. O que « primeira vista parece impedi-lo € a distingéo feita pela tradigio entre a forga € 0 direito, entre a forga e a sabe- dora, isto 6, entre o que é forte, o que € justo € 0 que € verdadero, Foi a esta incomensurebilidade que nos refe- rimos antetiormente nos termos da teoria dos jogos de linguagem, distinguindo o jogo denotativo, onde 1 perti- néncia dé-se no nivel de verdadeito/falso, 0 jogo prescri- tivo, que é da algada do justo/injusto, e 0 joe téenico, cujo critéio é eficiente/ineficiente. A “forsa” no parece relacionarse senio com este itimo jogo, que € 0 da tée- nica, Fanse exceio do caso em que ela pera pot meio do terror. Este caso encontra-se fora do jogo de lingua- gem, jf que a eficicia da forga procede entio inteiramente dda ameaga de eliminar © parceiro, e mio de um melhor “ance” que 0 seu. Cada ver que a eficiéncia, isto é, a ob- tencio do efeito visado, tem por motor um “Digs ou fea isto, sendo nio falaris mais", entra-se no terror, dest © vinculo socal. Mas & verdade que 0 desempenho, aumentando a ca- pacidade de administrar a prova, aumenta a de ter razio: © itério téenico introduzido brutalmente no saber cien- tifico nio deixa de ter influéncia sobre 0 critrio de ver 8 dade. © mesmo poderia ser dito de relagio entre justica fe desempenho: af chances de que uma ordem seja consi derada como juste aumenteriam com 4s chances dela sex ‘exeentada, e estat com o desempenho do prescritor. fssim que Luhmann acredta constatar nes sociedades pbs industriais @ substtuigao da normatvidade das leis pela cficineia mensurivel de procedimentos.™ O “controle do contexto”, isto é, a melhoria des performances realizades contta os parceiros que consttuem este ultimo (eja este 41 "natureca” ou 0s homens) podeia valer como ume espe: cie de legitimagio" Seria uma legitimerdo pelo fato. (© haorizonte deste procedimento é 0 seguinte: sendo a “realidade” que fornece as provas para a argumentagho ‘lentificae os esulados para as prescrigdes as promessts de ordem juridic, é:ca e politica, pode-se vir ser senhor cde ambas tomando-se senhor da “vealidade”, o que até nicas permitem. Reforgando-as, “reforyase” realidade, ‘onseqientemente, at chances de ser justo e de ter rzio, E, reciprocamence, rforguse tanto as téenicas de que se pode dispor do saber cientifico e da autoridade deciséria. ‘Assim toma forma a legitimasio pelo poder. Este somente o bom desempenho, mas também « boa vei cagio 0 bom veredito. O poder legitima a ciéncia ¢ 0 dlireito por sua efcicia,¢ esta por aqueles. Ele se auto- legitima como parece fazélo um sistema regulado sobre 2 otimizacio de suas performances." Ora, & precisamente ‘ate controle sobre 0 contexto que deve fornecer a infor matizagio generalizada. A eficécla de um enunciado, seja tle denotaivo oa prescriivo, sumenta na proporcéo das informagbes de que se dispSe relatives 20 sea referente ‘Assim, © crecimento do poder ¢ sua eutlegitimasio passe atualmente pela produgio, a memorizaci, a acesibilidade fe 4 operacionalidade das informagies. A relagdo entre cignia € técnica invertese. A com: plexidade das argumentagSes parece, entio, interessante, Sobretudo porgue ela obrige « solisticr os ieios de pro en FTE 00 TEAC. var, beneficiando, assim, © desempenho. A repartigéo dos fundos de pesquisa pelos Estados, empresas e sociedades ristas obedece a esta Iigica do aumento de poder. Os setores da pesquisa que nio podem pleitear sua contribui- so, mesmo indirets, & otimizagéo das performances do Sistema, slo abandonados pelos fluxos de créditos e fada- ddos a obsolescéncia. O eritério de bom desempenho € plicitamente invocado pelas administragbes para justficar 4 recusa de apoiar este ou aquele centro de pesquisas.™ NoTAs 157 eee decline tees Se Toye Pris a Ilowophe (144), Stas Mil so Splome de lgique Inductive ct deduce 185. “Le raonaione apollql PLE, 199: M. Sens, “La ot peer Lave (naps Hach 19. 199. D, tibet, Grdigen der Geomerie, 89%: W. Boubahi “Lar ue des muthemnque ye Lidnnas ed Les ands caw fit de lapse mathonaigae, Hermann, O18; Blanche Image, BF 958, Mo, Yer Blanch, op it, cap. V. 1. Seuinoyagul R. Marin, Lolque contemporaine ct frmalaton, BERT Toce i © 2 a. M2. K. Gil, “Urter formal upenuchebare Sige der Pipi Mee Temata’ und yecvonde Syene” onan ar "Mathentk Ad Pa 3 (951 Pra wa exponeto ce ce ego Sto ‘ne Gods or. taombe, Sta es scale sr In wrocre Sabena ir Nou detract rac 145,_ Ladue, Lay Kination interne de formiome, Lown & Pa fia is Me Sedtity Outs £2" Glande bee, Malang, mae ge metlingusigae”. Documents de travel 06 Univers {bine anvier tere 1877 14s, Le ints des mths, Hern, 190 8, Os pin de {ives de demorstracto decors "postladen” do grametra euch gi Bros Lev Spe ae pine mate rent, Deserts nas as as “Th. Kol, The Sacre... le Enconrarsed uma canicaco ds paraouos,lpcomuemétics En EB Hansen rhe Founda of Matematica Other Lap St Etna Wis Harsco Broce & Cou 183 Ver Arete, Retrica 1385 9 £0 problema do tsemunbo e da fonte Nace princisimente: 0 Tal Ecosse le ona inou d vu? A Sat sp ‘esse Teredta Ver Haring, "Merete rape snc Heri 8 tacenbre 1857-5085. ‘Geen, “ie Teh i dey Sch der Anton. An optic Forms, Hamer. 15 ‘A. Lere'Gourhan, “Mie ot techni”, Albin Mel 945, 1s pe leprae Tenia loge Alek, 194 IP Verane. Myth ot ponte cher le Cree, peo, 185, 3 ‘betad ase eal epee osmiue™ Matra Ananarphnes, ew mage rile de ef mer Pei ©. ein. 1968 L Monford, Tce and coleation, NY. 1954 Uf. Montane. Teoniur sf clon, Sea 1984 lia: Hire des Ternquc (Caliah), 1578 ceomspeenn Mine po i secre ioe a ae Sr reivdase _ So er om ml lt etna MAzUrTi mies seat ie Seis nana, oh ea Sie eau as ere Siow airiet eae wikeers Seapine ces meee tay eset he Pe incase Ararat Ep eee pe Sheree team tenes a Seeieerenamees gear teen at Eat eeet Dai time on Shree Rates cata cee Boe RE rite cae ace ete ER Sra aenmrnetiteatincs eines Ena fo ua das conde elie por Lmarfld pars tio deer aero Maw Con, Rea ater {ai ge radio Yecuarem invesr no profo- Ditiose de Lazard Sure lage an aes ay 0" acabve nada Eiemeso ile SShorcon: i ana pu thinks Yoptor and hope they worked 161 ERS FEDERAL DO PA BUOTECACNTEAL {Gad por D, Morton. “The Beginning of Modem Mass Commun Soe Reet aie cipbo se seg KS CI ‘Noy Eun Unidos 9 montis do famine cnsapdos pele Er {Gee festa Re gnas com o dor copii pags Ao cum {Sto de 16s: « pride eno. deo ulespanou (OCD hy. 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Co 2 0 ENSINO E SUA LEGITIMACAO PELO DESEMPENHO QQuanro a outea vertente do saber, a da sua transmis si, isto 6 0 ensino, parece féel deserever « mane pela ‘qual a prevaléncia do eritézio de desempenbo vem afei ‘Admitindose a idéia de conhecimentos aceitos, a questio de sus tansmissfo subdividese pragmaticamente fama série de questdes: quem transmite? 6 que é trans tido? a quem? com base em qué? e de que forma? com «que efeito?™ Uma politica universitiria é formada por um onjunto coerente de respostas a esas questdes. 'No momento em que o critezio de pertingncia € 0 esempenbo do sistema socal suposto, isto é, quando se acdota a perspectiva da teoria dos sistemas, transforma-se © ensino superior num subsistema do sistema social, € aplicase © mesmo critério de desempenho a solugio de cada um destes problemas. O refeito a te obter € a contribuigio étima do ensino superior a0 melhor desempenho do sistema socal. Ele de vers entio formar as competéncias que so indispensiveis a este tltimo. Eles sio de duas expécies. Umas sio desti- nadas mais particularmente a encarar a competicio mun- dial. Variam segundo a8 “especalidades os Estados-nagoes ou a5 grandes instituigSes de formecio podem vender sobre o mereado mundial. Se nossa hipétese feral for verdadeire, » demands de experts, quadros supe- Flores e quadros médios dos setores de vanguarda desi nados no infcio deste estudo, que sio 0 desafio dos pr6- [UNWERSPICE FEDERAL DD PARA TCA CE, ximos anos, sumentaré: todas as disciplina relacionadas ‘com a formacio “telemética” (informticos, cibernéticos, Tingiistas, mateméticos, Isgicos. ..) deveriam ser reco: anhecidas.como priorities em matéria de ensino. E isto ra medida em que « multipicayio destes experts devetia acelerar 08 progressos da pesquisa em outres setores do conhecimento, como jf se viu para a medicinae a biologia Por outro lado, ensino superior, sempre na mesma hipbiese geral, devers continuar a fornecer a0 sistema so- cial as competéncias correspondentes as suas exigéncias préprias, que sio a de manter sus coesio interna, Ante- Flormente, esta tarefa comportava a formacio ¢ « difusio de um modelo geral de vida, que legitimava ordinariamen- te 0 discurso da emancipagio. No contexto da deslegitims- ‘fo, as universidades a8 instizuigbes de ensino superior So de agora em diante soliitadas a formar competéncias, fe no mais ideas: tantos médicos, tantos professores de tal ou qual disciptina, tantos engenheiros, administrado- res, et A transmissio dos saberes no eparece mais como destin formar un ete cpus de guar «nao em sua emancipacio. Ela fornece ao sistema os jogadores caps- es de assegurar convenientemente seu papel junto 203 postos pragmiticos de que necesstam as institugSes." Se 08 fins do ensino superior sio funcionais, quem so os seus destinatiios? O estudante jé mudou e devers smudar ainda, Ele no é mais um jovem egresso das “cli- tes liberais™* e influenciado de perto ou de longe pela grande tarefa_do. progresso social compreendido como temancipacio. Neste sentido, a universidade “democrstia”, sem exame de selesi0 (vestibular), pouco dispendiosa para © estudante e 2 sotiedade, se se calcula 0 custoestudante er capita, mas acolbendo numerosas inscrgbes)" © cujo modelo era o do huranismo emancipacioista, revela-se hoje pouco eficiente.™ De fato, 0 ensino superior jf estd afetado por uma transformegdo de importéncia simul neamente divigida por medidas administrativas € por uma % demands social pouco controlada surgindo dos novos usu Flos, e gue tende a ordenar suas fungSes em duas grandes expécies de servigos. Por sua funsio de profssionlizagio, 0 ensino supe- rior enderega-se ainda a jovens egressos das elites libertis as quais 6 transmitida a competéncia que a profissto julga necessiria; vém juntarse a isto, por uma via ou por outs (por exemplo, os institatos tecnolégicos), mas segundo 0 mesmo modelo didético, os destinatérios dos novos sabe- res ligados as noves técnicas e tecnologias que sio igual- ‘mente jovens ainds nio “ativos”. Fora destas duas categorias de estudantes que repro- dduzem a “intelligentsia profissional” e a “intelligentsia tée- nica”, 08 outros jovens presentes & universidade sio em sua maioria desempregados no contabilizados nas estais- ticas de demands de emprego. Com efeito, seu nimero ex- cede 0 fixado em relacio as perspectivas profissionsis cor- respondentes as disciplinas nas quais se encontram (letras ¢ cigncias humanas). Eles pertencem, na realidade, malgra- do sua idede, 2 nova categoria dos destinatéios da trans- missio do saber. Pois, 20 lado deste fungio profisionalizante, a uni- versidade'comega ou deveria comesar a desempenhar um ‘novo papel no quadro da melhoria das performances do sistema, 0 da reciclagem permanente.” Fora des universi- dades, departamentos ou instituigdes de vocagio profssio- nal, 0 saber no é nio seri mais transmitido em bloco e de uma vez por todas a jovens antes de sua entrada na ativa; ele € e seri transmitido @ la carte a adultos tvs ou esperando sélo, em vista da melhoria de sua competéncia e de sua promocio, mas também em vista da ‘aquisigio de informagies, de linguagens ¢ de jogos de lin fguagem que Thes permitam alargar o horizoate de sua Vide profissonal © de entrosar experiéncia ténica © ica. %0 vega FREAD ad LOTEA CET, © novo caminho tomado pela transmissio do saber ‘no prossegue sem conflites. Pois, de um lado, enquanto € do imteresse do sistema, e portanto de seus “decisores”, de encorajar a promogio profissional, jé que ela no pode seniomelhorar as performances do conjnto, por lado, tanto a experimentagio sobre 08, tuigdese os valores, acompanhada por ineviive dens” no curriculum, © controle dos conhecimentos © a pedagosia, sem falar'de recaidas sociopoiticas. mostr-se ouco operacional © se vé recusar qualquer crédito em nome da seriedade do sistema. Contudo, 0 que se delineia af € uma via de sada fora do funcionalismo tanto menos eglgncivel porque foo funconalsmo que ¢ tae Mas podese calcular que & responsabilidade soja confiada Deere De qualquer modo, 0 principio de desempenho, mes- ‘mo se no permite decidir claramente em todos os casos sobre a politica a seguir, tem por conseqiincia global a subordinagio das instituigdes do ensino superior 80s po- dres consttuidos. A partir do momento em que o saber io tem meis seu fim em si mesmo como realizacio da 80 dos homens, sua transmissio lidade exclusiva dos testes e dos es- tudentes. A idéia de “franguia universitiria” € hoje de ‘ume outra época, As “‘eutonomias” reconh versidades apés a crise do final dos anos 60 sio de pouco peso perto do fato evidente de que os conselhos de pro fessores quase jpam da decisio sobre 0 ort ‘mento que chega a sua insttuigio:” eles tém apenas 0 poder de repartir 0 montante que Ihes é concedido, e da assim somente no final de seu percurso.” ‘Agora, © que se transmite nos ensinos superiores? Tratando-se de profissionalizago, e atendose a um pon de vista estritamente funcional, o essencial do transmiss vel € constituido por um estoque organizado de conheci- rmentos. A aplicagio de novas téenicas a este estoque pode or ter_uma incidéncia considerével sobre © suporte comuni- cational. Nao parece indispensével que este seja um curso proferido de viva vor por um professor diante de estu- antes mudos, sendo o tempo para perguntas transferido para as segies de “‘trabalhos” divigidas por um assistente. Na medida em que os conhecimentos sio traduzives em Tinguagem informética, e enquanto 0 professor tradicional assimilivel s uma meméria, a didética pode ser confiada a méguinas articulando as memérias clissicas (bibliotecas, et.) bem como os bancos de dados a terminais intligentes ‘colocados & disposicio dos estudantes. A peace no softer ecesariamente com sto, pois send preciso apeser de tudo ensinar alguma coisa aos estudantes: nfo os conteides, mas 0 uso dos terminals, ito 6 de_noveslnguagens, por'um lado, e por outro; tum manejo mais refinado deste jogo de linguagem que ¢ a pergunta: onde enderesar @ questio, isto é, qual a me mméria pertinente para 0 que Se quer saber? Como formal. la para evitar os equivocos, ete.™ Nesta perspectiva, uma formacio elementar em informética e partcularmente em telemética deveria fazer parte obrigatoriamente de uma propedéutica superior, do mesmo modo que a aquisigio dda prévca corrente ‘de uma lingua estrangeirs, por exemple.” E somente na perspectiva de grandes relatos de legi- timagio — vida do espirito e/ou emancipagio da huma- nidide — que a substituigio_parcial-dos_professores_ por iméquinas pode parecer deficiente, mesmo_intolerivel ‘Mas € provével gue estes relatos |é no constituam «causa principal do interesse pelo saber. Se esta causa & ‘© poder, este apecto da didtica clissica deixa de ser per- tinente." A questio, explicita ou_nio, apresentada pelo cstudante profissionalizante, pelo Estado ou pela insti 0 de ensino superior nio é mais: isto € verdadeiro?, mas: para que serve isto? No contexto de mercantilizgio do saber, esta iltima questo significa comumente: isto € ven- 92 note root SHOE CET vel? E, no contexto do sumento do poder: isto €eficaz? (Ora, parece dever ser bem vendével a disposisio de uma ‘competéncia atuante nas condigées acima descrias, © ela € chiesz por definigio. O que deixa de sélo € a compe: ttn sepa cuted, como 0 wedao/ Ia, © justo/injusto, etc. e, evidentemente, 0 fraco desempe- sho em gera. ‘A perspectiva de um vasto mercado de competéncias ‘operacionais esté aberta. Os detentores desta espécie de saber si0 ¢ serio objeto de ofertas ¢ mesmo motivo de dispata de polticas de sedugio.™ Deste ponto de vista, no € 0 fim do saber que se anuncia, © sim 0 contririo. A enciclopédia de amankii sio 0s bancos de dados. les excedem a eapacidade de cada usuftio, Eles sio a “natu- reza" para 0 homem pésmoderno.”” Entretanto, notar-se-é que a diditica nfo consiste s0- rmente na transmis de informacio, e que @ competéncia, mesmo atuante, nio se resume em se ter uma boa mem6- ria de dados ou numa boa capacidade de acesso a memé- riasméquinas. E uma banalidade sublinhar s importincia dla capacidade de atualizar os dados pertinentes para o pro- blema a resolver “aqui € agora” € de ordent-los numa cstratéga eficiente. A medida que 0 jogo esté na informaio incom pleta, a vantagem cabe aquele que sabe e pode obter um suplemento de informacio. Este € 0 caso, por definicio, de um esrudante em situagio de aprender. Ms, nos jogos de informacio completa,” 0 melhor desempenho niio pode consstr, por hipétese, na aquisiedo de um tal suplemento. Ela resuita de um novo arranjo dos dados, que constituem propriamente um “lance”. Este novo arranjo obtémse or- inariamente mediante a conexio de séries de dados tidos ‘até entfo como independentes.” Pode-se chamar imag ‘Ho esta capacidade de articular em conjunto o que assim Info estava. A velocidade € uma de suas propriedades. ws 93 (Or, é permitido representar © mundo do saber pés- modero como regido por um jogo de informasio com- pleta, no sentido de que os dados sio em principio acesi- we det a ee exit ete cic. O sumento de eficiéncia, de competéncia igual, na producio do saber, ¢ nlo mais em sua aquisiio, depende entéo final- mente desta “imaginacio”, que permite sja realizar um novo lance, seja mudar as regras do jogo. Se 0 ensino deve assegurar nio somente a reprodu- ‘io das competéncias, como também seu progresto, seria preciso em consegifncia que a transmissio do saber nfo fosse limitada & de informagbes, mas que ela comporte a aprendizagem de todos 0s procedimentos capazes de me- Ihorar a capacidade de conectar eampos que a organizacio tradicional dos saberes isola ciosamente. A pelavra de or- ddem da interdsciplinariedade, difundida sobretudo apés a crise de 68, mas preconizada bem ante, parece seguir esta diregio. Ela chocou-se contra os feudalismos universitérios, dizse. Ela chocouse com muito mais. 'No modelo humboldtiano de universidade, cada cién- ia ocupa seu lugar num sistema dominado pela expecula- fo. A invasio de uma cincia no campo de uma outra no pode provocar senfo confusdes, “rufdos”, no sistema. AS colaboragses no podem se realizar seno no nivel espe calativo, na cabega dos filésofos. ‘Ao contritio, a idéia da interdisciplinaridade per- tence propriamente & época da deslegitimacio © 20 seu empirismo apressado, A'relacio com o saber no é a da realizagio da vida do espirito ou da emancipasio da hu- smanidade; € dos de um instrumental concei- tual € material complexo e dos beneficirios de suas per- Jormances, Eles nio dispdem de uma metalinguagem nem de jum metarrlato para formulardhe finalidade e 0 bom uso. Mas t8m 0 brain storming para reforgarshe as per- formances. * ‘uae ‘A valorizagéo do trabalho em equipe pertence a esta prevaléncia do critério do desempenko no saber. Pois para 1 que se considera como verdadeiro ou se prescreve como 0, 0 miimero no quer dizer nada; a nlo ser se justign € verdade seam pensadas em termos de éxito mais provi- vel, Com efeto, as performances em geral sio melhoradas pelo trabalho em equipe, sob condigdes que as cigncias focinis tomaram precisas hii muito tempo.” Ne verdade, clas aleangaram sucesso em relagio 20 desempenho no qu: dro de um modelo dado, isto é, na execugio de uma fa; a melhoria parece menos ceria quando $e t nae” novos modelos, ito é, quanto a concepei0. Ao que parece, témse alguns exemplos sobre isto." Mas continua ‘fic separar 0 que corresponde ao dispoxitivo em eg 0 que se deve 40 génio das participants: Observarse-d que esta orienta produgio do saber (pesquisa) que & sua transi abstrato, € provavelimente nefasto, separilos completa. mente, mesmo no quadro do funcionalismo e do profissio- nalismo. No entanto, a solucio, para a qual se orientam de fato as insttuigdes do saber em todo. @ mondo, con- siste em_dissociar esses dois aspectos da diditica, 0 da reproducio “simples” e 0 da reprodugio “ampliada”, dis- Spd coves de ou ej ea i tuigies, reagrupamentos de disciplinas, alguns dos qu votados a selesio € & reproducio de competéncas. prof sionais, © outras A promogio e a “embalagem” de espf ritos “imaginativos". Os canais de transmissio colocados 8 disposigio dos primeiros podesio ser simplificados © seneralizados: os segundos tém direito aos pequenos, gr pos que funcionam num igualitariimo aristoertio,”” Es tes lkimos podem fazer parte ou nio oficialmente de uni versidades, isto pouco importa. Mas 0. que parece certo, & que nos dois estos a deslegitimagio e a prevaneia do crtéro do desempenho soam como ¢ hora final da.era do. Professor: ele-nio-é 93 ‘mais competente que as redes de memérias pare trans- tr 0 ser etaeleido, ele nio € mals competent ue as equipes interdisciplinares para imaginar novos lan {665 ou nOVOS jogos. NoTAS te Dons ymin ean Rad ech eer hin Beene funn ears ee tik what fee? Ver D. Merrion. ant. i,” 10, Oe rae ac sora "atis une” ego onto dz confunia com o “conkesmenio talons; “A orange ates Se es oats en ee as, ees SOT SCTE me onan et SS Te Sinemet cea Sifter SNe Sei ene a Maik Sh Shel iol Sh Nee fice, uaa 16 O ae cr hn ofl tena nin et ee ut, cea stadt ln Sn eps 1 No al sts O17, ule Se ee, 16s eee So tera tee tly oes EST Teta al des he fe Ser Ate at Grae pay Ra ‘Ex pris nha dpi ou peng om eg Bette Gb 1958 Boas eae Goce naan Seapine GR Ect Sire cess aoe ae Bird © AME wv pS as Ua 1 ew 0a nt et Sista mae renee ee Gece Aca ns Gad acca EGS.G: die aioe nace hee oe Sep eee Goreme eee nen Eiral "Nos fear oe. Dovid gounats gue © PR. ‘ho ra mnis neem sn st pars © dss ass (rt Ba 169 Sepundo« emilee Cl Musi. ce m ™. wen FUER 0 HOTA EMAL Be gor MR [Dn ine ah ic “Fema ct Seah PM hoa hime et Siesta ae Be chet ie Pater in Lethe on ee ‘Eien apr (Clevo of AUPELE, verde de Rint rT bbe Grstas om cdr Se de che MOUTEL igs nhs dna Sa aoe [tpl na ene mci sonra aden le See ements siete aces SSREMAG Ge aE icon es Ras ata Satie eee CEs a Nt el eg ae Hat Rogelan woe Ing a iene tal ahr BPG Eee cet eStats ee a 5m iu dr ee mi Buns" Ss epson dee Eee cp abide Ste eam he (bie Gapprenre, Alain More, 13. nae sas ere ‘i eget do eno mer ge 12 de nvemia de 18 fh Sie perce ose ape ptiin Soon saw pet ls pen me Piet Sora “Snir ctr co bas Su fo er 8 or SELIIT s peenote no citi nde pl nts cer err recs Se promot oat Eyton Nar eaeren Tero 9 17 m7) 9 mini ESEL Wi Ets ue Sa rotten se scutes no cot 3 nen se Sein eben jem pce). er et era do mer SSeS ds cae tat tv soma ee fer on pon ds ones oem sd se cae Ns Gaiman, ode prised Exon dpe on Sich te eesStnan Ee tease peas 8 2 oe ‘Sits fo Unvenay Con Comite, ico 19 Silhdle &'Eeiay pen Shee o's ori ge ake ‘ioe bs ment dpe teeing, ror Spe oe Sas cove $2 Batata Sete silat ey reg ee ene, uc das fe sisi tigen os cdo, © (omen dere SSSR Seas ae ee Soon See T mhaniaas Evian Deets ale DollGonti, 97. 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PL TEA TEAL 3 A CIENCIA POS-MODERNA COMO PESQUISA DE INSTABILIDADE Avrinmoussé antcrormente que « pregmétca da pes quisa cientifica, sobretudo em seu aspecto de pesquisa de argumentagSes novas, trazia para o primeiro plano a in- pesto “lances” are e ere regras de inguegem. Imports agora sublinher este aspect, Pere dente bo tale aral do tuber ceniico, Dene dltimo ja dizer, analogicamente, que ele esté em busca de “caminhos de salda da cise”, considerando-se como crite 0 determinismo. O determinizmo € « hipstse sobre @ qual repousa a legitimagfo pelo desempenho: defi- nindo-se este por uma relacio input/output, deve-se su- por que o sistema no qual faz entrar o input focontrase num estado estivel; ele obedece a uma “traje gular através da qual pode-se estabelecer a fungio onion € derivivel_que permiind anteipar ‘convenientemente 0 output. on € a “filosofia” eae da Sietodte, Ope the aqui alguns exemplot evidentes, procurase facitar @ dlscusséo final de legiimasio, ee eae trar em alguns casos tiene que a prapmdtica do al a sa ‘mesma, pouca afinidade A expanséo da citncia no se faz grasas a0 positi- vismo da eficgncia. H 0 contritio: trabalhar na prova é pesquiser e inventar 0 contra-exemplo, isto é, 0 ininte- ligivel; trabalhar na argumentacio € pesquisar 0 “para- 9 oxo” ¢ legitimélo com novas regras do jogo de racioct- tno. Nos dois casos, a elicigncia nfo é vada por si mesma, cla vem por acréscimo, por vezes tarde, quando os finan ciadores se interessam enfim pelo cxso.™ Mas, 0 que no pode deixar de vir ¢ voltar com uma nova tcotia, uma nova hipétese, um novo enunciado, uma nova observa Ho, € a questio da legitimidade. Pois € a propria ciéncia que a si mesma levanta esta.questfo, ¢ no a filosofia 4 cléncia, © que esté ultrapassado nfo é perguntarse 0 que € verdadeiro € 0 que & justo, ¢ sim considerarse a ciéncia ‘como positivista e condenada este conhecimento ilegi- timado, a este meiosaber de acordo com os idealistas slemiies. A questio: O que vale o seu argumento, 0 que tule a sua prova? fax de tal modo parte da pragmética do saber cienifico que € cla que assegura a metamorfose do destinatério do argumento e da prova em questio em destinador de um novo argumento ¢ de ume nova prova, donde a simultinea renovegio dos discursos e das gera Bes cientfieas, A cigncia se desenvolve, © ninguém con- festa que ela se desenvolve, deseavolvendo esta questio. E esta mesma questio, desenvolvendo-se, conduz & ques- fo, isto é, a metaquestio ou questio ‘da legitimidade: O que vale o seu “o que vale”? ‘Como jé se disse, o tengo surpreendente do saber pévmodermo é a imanéncia a si mesmo, mas explcta, do discarso sobre a5 regras que 0 legitimam.™ O que pode passer 20 final do século XIX por perda de legitimidade € decadéncia no “‘pragmstismo” filoséfico ou no positi- vismo l6gico néo foi senio um epis6dio, por meio do qual fo saber ergueu-se pela inclusio no discus filoséfico do dlscurso sobre a vslidagio de emunciados com valor como leis. Viu-se que esta inclusio aio é uma operacéo simples, cla dé lugar a ‘paradoxos” assumidos como eminentemente sérios © a “limitagées” no alcance do seber que sio, de fato, modificagGes' de sua natureza. 100 ensne ee 0 LOTCACENAL ‘A pesquisa metamatemética que se desenvolve até chegar 20 tcorema de Gédel € um verdadeiro paradigma desta mudanga de natureza.” Mas a transformasio da di- nimica ndo € um exemplo menos importante do novo cespirto cientifico, e ela nos interessa particularmente por- ‘que obriga a corrigir uma nogio que jé vimos, © que € srandemente introduzida na discussio da performance, par- ticularmente em matéria de teora social: a nogfo de sistema, ‘A idéia de performance iemplica a de sistema com cestabilidade firme, porque repousa sobre 0 principio de ‘uma relasd0, a relagdo sempre calculével em principio en tre calor e trabalho, entre fonte quente ¢ fonte fra, entre dnput © output, B uma idéia que vem da termodinamica. Ela estd astocieda & representacio de uma evolusio pre- visivel das performances do sistema, sob a condigfo que s¢ The conbegam todas 8s varidveis. Esta condicio € clara. mente expressa a til de limi io do “deménio” Slaheegiemiaieshese wttes cer doer. rminam 0 estado do universo em um instante ¢, ele pode prever o seu estado no instante ¢? > #, Esta suposicio € sustentada pelo prinefpio de que os sistemas fisicos, in- clusive 0 sistema dos sistemas que € 0 universo, obede- Com # mecénica quintica € a fisica at6mica, a ex- tensio deste principio deve ser limitada. E isto de dois ‘modes, cus respectivas implicagdes nio tém o mesmo al- cance. Primeiramente, a definigio do estado inicial de um sistema, sto é, de todas as varidveis independentes, se ela devesse ser efetiva, exigiia uma despesa de energia no ‘inimo equivalente aquela que consome o sistema a set ddefinido. Uma versio leiga desta impossibilidade de fato de cfetuar a medida completa de um estado do sistema € dade por uma observario de Borges: um impeador, gut estabelecer um mapa perfeitamente preciso do impétio. O 101 resultado € a rufna do pals: a populagéo inteira consagra toa a son coergia &oartogstia Com o argumento de Brillouin,” a idéia (ou a ideolo- sia) do controle perfeito de um sistema, que deve per- mi melioar sous performances, mows ionsinente fem relagio 3 contradicio: ‘air 0 desempenho que dlclarnelevar, Esta inconsisténca explica em perculat fraqueza das burocracias estatais ¢ s6cio-econémices: elas sufocam os sistemas ou os subsistemas sob seu controle, ¢ asfixiam-se ao mesmo tempo que a si mesmas (feedback negative) O interes de una tl explicago € ue la 10 tem necessidade de recorrer a uma outta legitimacio a nfo ser a do sistema — por exemplo, a da liberdade dos egen- tes humanos que as levanta contra uma autoridade exces: sha, Admiindose que a soredade ja um sistema, seu controle, que implice @ definigio precisa do. seu estado Inicial, no pode ser efetivo, porque esta definicio no pode ser efetuada. Além disso esta imitaclo no coloca em causa senio 4 efetividade de um saber preciso e do poder que dele resulta, Sua possiblidade de principio permancce intact. © determinismo eléssico continua a constituir o limite, excessivamente caro, mas concebivel, do conherimento dos sistemas.” ‘A teotia quintica ¢ a microfisca obrigam a uma re- visio muito radical da idéia de trajetéria continua e pre- visivel. A busca da precisio nio se choca com um limite devido ao seu custo, mas 2 natureza da matéria. Nio é verdade que a incerteza, isto é; a auséncia de controle, diminua & edie que a precisfo aumente: ela aumenta também, Jean Perrin prope © exemplo da medida da densidade verdadeira (quociente massa/volume) do ar contido numa esfera. Ela varia sensvelmente quando © volume da esfera passa de 1.000m a lem’; ela varia muito pouco de lem’ 1/1.000 de mm’, mas jf se pode obser- ‘var neste intervalo 0 aparecimento ‘de vatiagées de densi- 102 UNVERSONDE FEDER. 00 FD TCA CER, ddade da ordem do milhar, que se produzem iregularmente. ‘Armedide que o volume da eslera se contal, « impo tancia destas varagbes aumenta: para um volume da of dem de 1/10™ de micron cibico, as variagées atingem a ‘ordem do milésimo; pare 1/100 de micron cibico, elas sio da ordem da quinta parc. Diminuindo ainda mais 0 volume, atingese a ordem do raio molecular. Se a esférula encontrase no vezio ene tre dues moléeulas de ar, a densidade verdadeira do ar € nila, Contudo, na proporsio de uma vez sobre mil, apro- ximadamente, o’eentro da esféala “‘cairé” no interior de tuna moléule, «a densidade médlia neste ponto é entio comparivel a0 que se chama de densidade verdadeira do sis, Se se desce a dimensdes itraatémicas, a esférula tem todas as chances de se encontrar no vazio, novamente com densidade ula. Uma ver em um milbio de casos, no en: tanto, seu centro pode se encontrar situado mum’ corps ealo ou no nicleo do étomo, ¢ entio a densidade tornar- Se muitos milhies de veces superior & da égua. “Se a csférula se contrir sinda mais (...), provavelmente a ddensidade média retornarf logo e send ula, como a den- Sidade verdadera, salvo em certs posighes muito fares jrdvalores eolossalmente mais elevados que (© conhesimento relative a densidade do ar sbrange portanto uma multiplicdade de enunciados que slo tota- mente incompativeis entre s, ¢ nio se tornam compat 4 ndo ser que sejam relativizados em relagfo 2 exc ‘eicolhida pelo enunciador. Por outro lado, em determi- nadas escalas, o enunciado desta medida no se resume numa asseryfo simples, mas numa assersio modalzada do tipo: € plausvel que « densdade seja igual a zero, mas ‘fo exci que ela seja da ordem de 10", sendo 1 maito clevado. ‘Aqui, a relagio do enunciado do cientista com “o que dia” a “natureza™ parece originarse de um jogo de 105 infrmasio nto completa. A males do enucado do ee ¢ ire que o enunciado: iat, nee evoke que proceed a wepuna mio previ Erslelivel € # chance de que ene enonciado dia so © nial, No ‘nv mics, ume “melo” infor tial ito 6 com taorcapuidde de desempenboy no pode ser obtida. A questio nfo €a de conhecer 0 que & 0 ives (natn) © si sab ae ope cleo Eintin ge revluva com # a de gue “Dew opt dos”, no entanto, um jogo que permite estabclecer regularidades estatistices “suficientes” (tanto pior para a inngem que ee tinh do supreno Detcminan). Be ee foptv blige, ce “ectce priminion” qu a clic eaco (er dbveriam ser imputadce nfo ub indfeeen do dice relat be sas fs, as basi, ny 2 nn taclta ls tee detada G0 wns ene Vrs enue sige paras possiveis™ Em geral, admite-se que a natureza € um adversério indiferente, mas nio astuto, ¢ distingue-se as ciéncias da farm o'er lla to homens Cer tans‘ oe feng.” Un igen en exe prapmston ort at fen" no prima cay €9 relents mus, as do cone fine quanto um ido langido um prande nimeo. de vez, 8 epaito do qul cf Gentsts trcam eae ciados denotativos que séo os lances que eles fazem uns toe cute, enquant no segundo eat, vedo bomen © referente, é também um parceiro que, falando, desenvolve Um etégjricuive mista, ame di doen: © acaso com © qual este se choca entéo nao € de objeto ou Ge indifereaga, mes de comportamemo ou de estrutéga.™ tho 6 apolteo. Dirseé que estes problemas concetnem «. microff son a pom o aici de Rees tonvou sulieaenente suchas, pn, per boa previsio probsbilista da evolucdo dos sistemas. ‘Assim, tics 2 sitemn, que slo tanblry cede Tein 108 ERA FDA 00 a TEA CETL pela performance, acteditam ter reencontrado seus direi- tos. Todavia, vése delinear na matemitica contemporines uma caren qu pe novament em ig « med pre cist © a previsio de comportamentos de objetos segundo ‘escals humans, ‘Mandelbrot coloca suas pesquisas sob a sutoridade do texto de Perrin que comentamos. Mas amplialhe 0 alcance numa perspectiva inesperacla. “As fungSes de deri. vada, escreve ele, sio as mais simples, as mais fdccis de iratat, sfo no entanto a exceyio; ov, se se prefere uma Tinguagem geométrica, as curvas que nfo. tém tangente slo a regra, ¢ a6 curvas bem regulates, tals como, e- alo, sao casos interessantes, mas muito especiais."™ ‘A constatagio no tem um simples interesse de curio- sidade abstrata, ela vale para a maioria dos dados experi- mentais: os contornos de uma bolha de fgua de sabso seeks scsi Bere om & topo para o olho fixar uma tangente em algum ponto de sun superficie. O modelo € dado aqui pelo movimento brownia- no, © sabese que uma de suas proptiedades € de que o vetor do deslocamento da particula a partir de um ponto € isdtropo, isto é, que todas as diregbes possveis so igual- mente provéveis. ‘Mas reaparece o mesmo problema na escala habitual se, por exemplo, se quiser medir com preciséo a costa da Bretanba, a superficie da Lua eoberta de crateras, a dis- tribuigio da matéria estelar, as “rajadas” de raidos numa ligagGo telef6nics, as turbuigncias em geral, « forma das snuvens, enfim, a maioria dos contornos ¢ das distibuigses das coiss que nio sofreram a uniformizacio imposta pela mio dos homens. ‘Mandelbrot mostra que # figura apresentada por este ‘género de dados as aproxima de curvas correspondentes| 3s fungSes continuas ado derivéveis. Um modelo simpli ficado serie « curva de Von Koch;™ ela possui uma homo- tetia interna; podese mostrar formalimente que a dimen- 105 sio de homotetia sobre a qual ela € construfds nfo inteiro mas 0 log 4 / log 3. Temse 0 dircito de fr el cave tenes co pgs a “mao de mensies” esti entre 1 ¢ 2, e que ela é portanto intuit ‘vamente intermeditvia entre linha e superficie. & porque tua dimensio pertinente de homotetia € uma fragio que Mandelbrot chama estes cbjetos de objetos fractals. (Os trsbalhos de René Thom™ seguem um sentido andlogo. Eles interrogam diretamente nolo de sista ssevel, que ¢ presiposta no deteriniano laplacano © mesmo probabil "Thom coabelce «lngugea matin gue permite descrever como descontinuidades podem se produzir for- rmalmente em fenémenos determinados ¢ dar lugar a for- amas inesperadas: esta linguagem constitu a teora dita das cntistrofes. Seja a agressividade como variével de estado de um cio; ela cresce na fungio direta de sua raiva, varével de controle Supondo que esta seja mensurivel, chegando 4 determinado limite, traduzse em ataque. O medo, se- terk 0 eeito inverso, e, che- se traduzird pela fuga. Sem raiva nem medo, a conduta do cio € neutra (vértice da curva de Gauss). Mas, se as dass variéveis de controle crescem juntas, aS duas serdo eproximadas ao mesmo tem- po: 2 conduta do cio torna-se imprevisivel, la pode pas- sar bruscamente do ataque 2 fuge, ¢ inversamente. O isema é chamado instével: 2s varveis de contiole va- iam continuamente, eas de estado, descontinuamente, ‘Thom mostra que se pode escrever a equagio desta Jnwabildade © desehar 0 griica (idimension, jf que cexistem duss vardveis de controle e uma de estado) que determina todos 0s movimentos do ponto representando ‘0 comportemento do elo, e entre eles a passagem brusca cde um comportamento a’ outro. Esta equasto caractetiza 108 ens EDERAL 0 Ph eauoecA cA, ‘um tipo de catdstrofe, que é determinado pelo nimero de vasilvels de controle ¢ de valves de estado (oqul 2 * 1). 1A daconio sobre os snes estves on istves, vokee © dcscnaino on slo, encore ape une ol Gq Thom formula ent um postulado:“O carter mals ‘ou menos determinado de um processo é determinado pelo ‘estado local deste processo.”™ O determinismo é uma es- pécie de funcionamento que é ele mesmo determinado: ‘a natureza realiza em qualquer circunstancia a morfologia foal menos comple, gue teja portanto comptivel core ‘0s dados locais.™ Mas € possivel, ¢ € mesmo mais {festene, que eres dco impepia «sailing de ura tonne, Poi elas esfo frolememente em coaflio: “O moto dis ey red doo rosea crs tin daico, caja juiicato,nrakive alo epresegun pr. blemas: 0 conflito, pai de todas as coisas, segundo Herd- clho™ Belson ls chanost de qe as verivels de ontole seam inompatveis que 0 contra, Nao exit tem atti sento “Uke de descanlaiamo © antagpaiano Sede Oetegiat eet peso: es ws fps de egoctetia geal das sites qoe we della pelo mimero de varidveis em jogo. Pode-se encontrar uma repercussio (atenuada, é ver- dade) dos tbelioe de Thom nes pease da escola de Palo Alto, notadamente na aplieago da ptadoxologa 40 ‘estudo da esquizofrenia, que € conhecida com 0 nome de Double Bind Theory.™ Apenas daremos aqui noticia desta sproximecio. El permite compreender « extensio desta tises centradas sobre as singularidades e as “inco- Iensurabiidadce” até o dominio da pragma das dif (oledes mals cotdanas. A idéia que se tira destas pesquisas (e de muitas outras) € de que a preeminéncia da fungio continua de detivada como paradigma do conhecimento e da previsio ‘esté em vias de desaparecer. Interessando-se pelos inde- vel, nos limites da precio do controle, pelos quanta, 101 pelos conflitos de informacio nio completa, pelos “facta”, pelas catéstrofes, pelos paradoxos paradigméticos, a cién, ia pés-moderna torna a teoria de sua prépria evolugio dlescontinua, catastrfica, nio retficivel, paradoxal. Mada © sentido da palavra saber © diz como este mudanga pode se fazer. Produz, no 0 conhecido, mas © desconhecido, E sugere um modelo. de legitimagio que nio é de modo ‘lgum o da melhor performnce, mas 0 da diferenga com- preendida como patsogia® ‘Como diz muito bem um especialista da teoria dos jogos, cujos trabalhos seguem a mesma diresio: “Onde ‘std entio a utlidede desta teoria? Achamos que a teoria dos jogos, como toda teria elaborada, € dl no sent de gue ela gera idéias."™ Por sua parte, P. B, Medawa?™ ddizia que “ter idéias € 0 supremo éxito para um cientista”, que nio existe “méiodo cientifio""* e que um cientsts em principio alguém que “conta histérias”, cabendolhe simplesmente verificila.. Notas 16. B Mandela Lee alte jc Forme, used ef dineston. Fiamma, 3 atta mum Aaladce (78109 Sera Erdamente ou, due fcaram dsconbesdes por enusn da estenbexs| Gr gon dds moc fcdace 8 sas desabea. 187. Un exemlocltre ¢ dao pula duo abe o determine ‘Soejcaenda pel mectfen lacy Ver, por erenpl. taps de eeepc ee M.Bamy 6A. Ela (916 959) Bor. Be Lepr Leblnd: “Ce grand tae ln acne cua ge, Li recherche 20 fer 3) 1714. Ahr ds Ce ‘Sirhan a um atalo dept ets panagns do ecw Seopa so nel se meaagsgem. 18. I Heenan "ogen” do gue, cham lnmumece in Cul tore, Inceermimey. apd Tareas 119. Ver not 12 190. PS Laplace, Exposition du ssime du monde, ¥ & M, 196 191. Do igor casa Hite de Pnamie, Monae, Roce, 195. A ‘Bate ume sbi por Bors Soares Manda: Vise de en NER. A ECA CET, Yaron Prunes IV, 14 Lesa 1658 O resumo dado age € em ane ne ‘A prpeieinformosto cue cra sequenropa gue le cos. Sai cha nat St at feerctn eee set gn, po ‘radio, Mina, inc su 1. Prgagine fe 1. Senger “La donmigu, de eons Paseo GiceS ta"ptel Sra Gavier 1 Pen Las tomes (91), PU 197, 1422, Oe fi elcado for Hndelbot como Tnrodto os Obj fractal foc (Cao por W. Heleabon,Pivsls and beyond, NX. 1971. ‘Nama comunicagig 2 Academia de cite (exmbro de 192), Boel sie gue os Jogo ondet elon pone de Joos aso Seer ts a Fo Seen eeagriee aes br oly, toe Eh Weiss Bic ibe nee Pl Rv Ind wl tae “apie a a, is me te cent oe Satan cas 1G Ses ck ae Farrer eet cee aces ee eR ea a alee os eae onene Cory cin ati topo nt 6 oa co ee a oe a Pies ck, a Neti maha ex mopopie,108 9 Une ex see ai gt ce ea ca i Se Smee ae 0 rep apr Yoni dC, eum “Te Gaoeny S Simhat we Sign Sei sce orgie, Eton he Sadr Sin cee ami ae Sree er hom Ho mts es 2 tia Ver brews tle op ep 109 a8 110 TB pres diag, ap conse de produgio do eer clettco & Eige Cpuide CS ele daw cot cine ar cena rit dexcrbesdao cones ‘vpn on decnieigo am meters intl ae Lo). eectibiade dn Gan eve ne taper ‘Ede (Ph Bra, Pondore 5, ae 1915 10, ‘A Beer Thies ft dat prce fan, Dao Tyg Met, The Ato te Slt, Lone, Mar 6 Set" ypatels and inoinnot cae 2, Forse, Agi Method, Londres, NIB. 198, epi 0 foaniowe no ckemplce Gill, © conaderd “uaa” of ‘Gndsmo®epitrolgc sonte Popper e Lakatos 4 A LEGITIMAGAO PELA PARALOGIA ConventiaMos que or dador do problema da leg- ‘timagao do saber, estejam hoje suficientemente desemba- tagidee part o nosso propéito. O recumo aos grandes feletoe cred excl; tio seria © cato, portato, dete aera een A elise. do Eepstt mes poems A eee ipacio da humanidade para a validasio do discurso cien- theo péemnodemo. Mas, camo vimor, © “pequeno relat continua a set a forma por exceléncia usada pela invenco {imaginaiva e antes de tao pela cnc Bor outro lado, © prinipio do consenso como crtéio de valdapio tam ‘bém parece insuficiente. Ou ele ¢ 0 assentimento dos ho- mens, enquanto inteligéncias conhecedoras e vontades li- vres, obtido por meio do didlogo — e é sob esta forma fque se encontra elaborado por Habermas, embora esta ‘concepsio repouse sobre a validade do relato da emanci- pacio —, ou entio ele ¢ manipulado pelo sistema como {ima de uss components visando manter e melhorar suas performances. Ele constitui 0 objeto de procedimentos administrativs, no sentido de Luhmann, Nio vale, entio, {iio ser como melo pata 0 verdadeito fim, © que lege tia o ester, 0 pode. O problema € portato o de sber se & possfvel uma legitimagao que se valesse apenas da ps - bingur 0 goe € propamente vagio: esta é comandada ou pelo menos utilizada pelo sistema para melhorar sua eficiéncia; aquela € um lance, ut de importincia muites vezes desconhecida de imediato, feito na, pragmitica dos saberes. Que, na realidade, uma se transforma na outra, é freqiiente, mas nfo necessitio, nfo necessriamente inoportuno para a hipétse, Se se parte da desctigio da pragmétice cientficn (sesdo 7), a éafase deve ser colocada de agora em diante sobre o dissentimento, consenso é um horizonte, jamais cle € angio. As pees qos se fem sob épide de tendem # estebilizélo; clas sio como a ‘eaplorgio de una “iia” txmolgie, sconbmica, ats tice. Tsto no € nada, Mas admirese que venha sempre slguém pare desarranjer a ordem da “razio". & preciso supor um poder que desestabilize as eapacidedes de ex: plicar © que se manifeste pela regulamentagio de novas rnormas de intligéncia ou, se se prefere, pela pro de novas regras para o jogo de linguagem cientifco, que irfo circunscrever um novo campo de pesquiss. E, no omporamento cientficn, 9 mexno proceso que Thom chame morfogtnese. Ele préprio no sem regras (exstem categories de catéstrofes) mas sua determinacio é sempre Tocal. Teansposta & diseusséo cicntfica e colocada numa perspectiva de tempo, esta propriedade implica « impre- visiblidade das “descobertas”. Em relagio a um ideal de ‘ransparéncia, ela € um fator de formagio de opacidades, que felega o imomento do consenso para mis tarde" Esta preparasio revela claramente que a teoria dos sistemas ¢ 0 tipo de legitimagio que ela prope nio ttm rnenhuma base cientifica: nem a propria cifncia funciona fem sua pragmética segundo o paradigma do sistema admi- tido por esta teoria, nem sociedade pode ser descrita segundo este paradigma nos termos da ciéncia contem- porines. Examinemos a este respeito dois pontos da argumen- tagio de Luhmann. O sistema néo pode foncionar serio recduzindo, por um lado, a complexidade; por outro lado, le deve suscitar a adaptagio das aspirasSes individuals 112 woe Feng TEA CEREAL sos scus préprios fins” A redugio da complexidade & ‘exigida pela competéncia do sistema quanto a0 poder. Se todas as mensagens pudessem circular livremente entre to- dos os individuos, a quantidade de informagées a se levar ‘em conta para fazer as escolhas pertinentes retardatia con- ravelmente 9 prazo da decisio e, portento, 0 desem- peaho. A velocidade é, com efeito, uma componente do poder do conjunto. ‘Objetarsed que € preciso levar em conta estas opi- niges molecular, se nfo se quer corter 0 risco das per- ‘urbagies graves. Lahmann responde, e é este 0 segundo onto, que € possvel ditgir as aspragSes individoais por tum processo de “quaseaprendizagem”, “live de toda per- turbagio”, a fim de que elas se_tornem compatfveis com as decisoes do sistema, Estas titimas nio tem que res peitar as aspiragdes que devem visar estas decisées, pelo ‘menos scus efeitos. Os procedimentos administrativos fa 10 03 individuos “querer” o que € preciso ao sistema para ser eficiente™ Vése de que utilidade as técnices tele- fticas podem e poderio ser nesta perspectiva, ‘Ni se trata de negar toda forga de persuasio & idéia de que o controle e a dominasio do contexto valem em si ‘mesmos mais que sua auséncia. O ertério do desempenko tem “vantagens”. Exclui em principio a adeséo a um dis- curso metaffsico, requer 0 abandono de ffbulas, exige es piritos claros e vontades frias, coloca o eflculo das intera- $6es no lugar da definigGo de esséncias, faz com que of “jogedores” essumam a responsebilidade nifo somente dos cenunciados que eles propéem, mas também das regras as quais cles os submetem para tornélos accitiveis. Coloca em plena Tuz as fungGes pragméticas do saber na medida em que elas paresam se dispor sob o eritrio de eficgncia: pragméticas da argumentagio, da administragéo da prova, dda transmissio do conhecido, da aprendizagem por ima sinagio. us Conc tmiben praca ads ot oe > sguagem, mesin se eles nio provém do saber candnico, 20 sonfecineno desi mesmo tnde fer eslar 0 di curso cotidiano numa espécie de metadiscurso: os enun- ciados comuns manifestam uma propensio a s¢ citarem a si mesmos ¢ as diversas posigSes pragmiéticas a se rele. flrem indiretamente & mensegem aliés atualizada que «5 concerne."” Pode sugerir que os problemas de comunicagio inc ge scone iy soc on ope pata e suas 8 sio de uma natureza comparivel aos da coletividade social quando, privada da cultura dos relatos, deve colocar a prova sua comunicagéo consigo mesma ¢ a partir daf interrogarse sobre a natureza da legitimidade das decisies tomadss em ‘Com 0 tisco de eseandalizar, 0 sistema pode relacio- ‘nar a dureza entre as suas vantagens. No quadro do cri- tério de poder, uma exigéncia (isto &, uma forma da pres- tigi) no se legitima pelo fato de proceder do sofri- mento de uma necessidade no satisfeita. O direito nfo resulta do sofrimento e sim do fato de que o tratamento deste torna o sistema mais eficinte. As necessidedes dos ‘ais desfavorecidos nfo devem por principio servir de regulador ao sistema, visto que, sendo jé conbecida # ma neira de satisfaxélas, esta satisfagio no pode melhorat suas performances, mas somente tornar pesadas suas des- pests. A ini contre-indicagdo & de que a nf-satistegio pode desestabilizar 0 conjunto. Ele € contritio & forga de se regulamentar sobre a fragueza. Mes € proprio do sis- tema suscitar demandas noves que devetio contribuir para 4 redefingio das normas de “vida”.” Neste sentido, 0 sistema apresente-se como a méquine de vanguarda atraindo -humanidade, desumanizandoa, para tomar a huma- nizdla em outto nivel de capacidade normative. Os tecno- cratas declaram nio poder fiar-se no que a sociedade de- clara serem suas necessidades. Eles “sabem”” que ela mesma 6 ens FDR Ph RLOTEACENTL nfo pode conhectlas jf que estas nfo sio varfvels inde- pendentes das novas tecnologias.” Eis af o orgulho dos decisores, © sua cegueira, Este “orgulho” significa que cles se identificam coma © sistema social concebido como uma totalidade em busca de uma unidade com 0 maior desempenho possivel. A ppragmética cientifica nos ensina precisamente que esta identficagio ¢ imposstvel: em prinefpio, nenhuin cientsta ‘encarna 0 saber € negligencia es “necesidades” de. uma pesquisa ou as aspiragdes de um pesquisador sob pretexto de que eles nfo sio steis para a “ciéncia” como totali- dade. A resposta normal do pesquisador as demandas & antes, # seguinte: E preciso ver, conte sua hist6ria.™ Em principio ainda, ele nio prejulaa que 0 caso jf seja regu Jado, nem que “a ciéncia” sofreré em seu poder se 0 reex- minar. Dé-se mesio 0 inverso. Naturslmente, no acontece sempre assim na reali- dade. Nio se considera 0 cientista eujo “lance” foi ne- aligenciado ou reprimido, por vezes durante decénios, por- ‘que ele desestabilizava muito violentamente posites adgu- ridas nfo somente na hierarquia universitéria e cientific, ras na problemética Quanto mais um “lance” & fort, mais fécil € recusarlhe 0 consenso minimo, justamente Porque ele muda as regras do jogo sobre as’ quais havia eonsenso. Mas, quando « institugio de saber funciona desta mancira, ela se condvz como um poder ordinitio, ‘eujo comportamento € regulado em homeostasia, Este comportamento é terrorista, como 0 € 0 do sistema deserito por Luhmann, Entendese por terror cficigncia oriunda da climinagéo ow da ameaga de elimi rnagio de um parceio fora do jogo de linguager que se jogava com cle. Ele se calaré ou dari seu assentimento ndo porque ele € refutado, mas ameacado de ser privado de joger (existem muitas espécies de privacio). A. arro- nincia dos decisores, em prinefpio sem equivalente nes 15 inci, volta a exercer este texor. Ele die: Adaptai vos- sas asptagies aos nossos fins, sendo... ‘Mesmo a pefmissvidade em relagio aos diversos jo gos & colocada sob a condigio de desempenho. A rede- finigto das normas de vida consiste na melhoria da com peténcia do sistema em matéria de poder. Isto € parti ‘alarmente evidente com a introdugio das teenologis tele- iéticas: os tecnocratas véem elas @_promessa de ume liberalizacio e de um enriquecimento das interagSes entre locutores, mas o efeito interessante € que isto. resultant toa face oul a ss np Na medida em que & diversficante, a ciéncia em sua ptagmdtica oferece o antimodelo do sistema estével. Re- ‘émse um enunciado @ partir do momento em que ele comporta 4 diferenca com o que é sabido e quando € argu- smentivel e provével. Ela é um modelo de “sistema aber to no qual a pertinéncia do enunciado estd em que “gern as idéiss”, isto € outros enunciados e outras regras de jogo, Nio existe na cigncia uma mevalingua geral na goal ede x ours podem execs ead. isto que impede a identificagio com o sistema e, pense fem, o teror. A clivagem entre decors e exectantes, se eia existe na comunidade cientfca (e existe), pertence 420 sistema sécioeconémico, nfo a pragmética cientfica, Ele € um dos principais obsticulos. ao. desenvolvimento sda imaginagio dos saberes. ‘A questio da legitimagio generalizde torna-se a se- guinte: qual é relagio entre o antimodelo oferecido pela eset ™ Desde ono deste study sublishamos « difsenea no somente formal, mas pragmética, que separa os diver- 03 jogos de linguagem, notadamente denotatives ou. de conhecimento, prescrtivos ou de aio. A pragmética cientifica estd centrada sobre os enunciados denotativos, ddaf resultando insttuigdes de conhecimento (insttutos, centros, universdades, ee.). Mas seu desenvolvimento pés- roderno coloca em prime plano um “fato” decisivo: que mesmo a discussio de enunciados denotatives exige regras. Ors, as regras no sfo enunciados denotativos, mas prescritivor, que é melhor chamer metaprescitivos par vitar confusSes (cles preserevem 0 que devem ser os lan- ces dos jogos de linguagem para ser admissives). A. ati- videde diversifcante, ou de imaginagio, ou de paralogia nna pragmdtica cientiiea atual, tempor funcéo.revelar estes metaprescrtivos (os “pressupostos")™ de. pedir para que os parceirs aceitem outros. Anica lepitimacio que a0 final das contas torna accitivel esta démarche, se- tia a de que produzirl ideas, isto é, novos enunciados, ‘A pragitica social nfo tem’a “simplicidade” que possui a das ciéncies. F um monstro formado pela im- bricagio de um emaranhado de classes de enunciados (de- notativos, prescrtivos, performativos, técnicos, vaiati- vos, ete) heteromorfos. Nio existe nenhuma raz de se pensar que se possa determinar metaprescries comuns todo ses jos de linge e que un consent rev sével, como aquele que feina por um momento na comu- nidade cientific, possa abarear 0 conjunto des metapres- criges que regulem 0 conjunto dos enunciados que cir- culam na coletividade. #2 20 sbandono desta hhoje se selaciona o dectinio dos relatos de leit jam cles tradicionais ou “modemnos” (emancipagio da’ hu a7 desta, treogs que idologa do “ister” vem simltanexeme fuprit por sua pretensio totalizante e exprimir pelo nismo do seu etitério de desempenko. Por esta raziio, nio parece possfvel, nem mesmo pru- dente, orientar, como faz Habernas, a elaboragio do pro- ‘blema da legitimacio no sentido da busca de um consenso universal” em meio ao que ele chama o Diskurs, isto é, © didlogo das argumentacies.™ ‘Trata-se, com efeito, de supor duas coisas. A i 6 aque todo os locutorespoden entrar um scordo sobre regres ou metaprescisies lide univertalnent part to. dos os jogos de linguager, quando ext claro que estes slo beteromorfo esultam de regras prapmdtcas Retcogénes. ‘A segunda suposito € que finlidade do dogo € 0 consenso. Mas mostramos, analisando a pragmética cclentifica, que 0 consenso no é senfio um estado das dis- ‘nes ¢ mo o seu finn. Este € anes a prog © gue ‘com esta dupla constatacio (heterogencidade dds regres, bus do distentinents); € uma cea anima ainda pesquisa de Habermas, a siber, que « Ea. manidade como sujeito coletivo (universal) procura sua emancipaggo comum por meio da regularizagio dos “lan- ces” permitidos em todos os jogos de linguagem, e que « legitimidade de um enunciado qualquer reside em sua contribuigio a esta emancipecio, Compreendese bem qual € a funcdo deste recurso ns argumentalo de Haberans contra Lukmoaan. © Disbars € 0 dltimo obstéculo oposto A teoria do sistema estével. A com ¢ bow moe ce gmensoe als 0 aioe” O om tenvo tomotes tm valor utapstado,¢ spelt. A fis, pottn, ado o € precio eno chegar a una ida une pecs du jusige gue nfo see Rlcooada & do © reconhecimento da heterogencidade dos jogos de Tnguagem umn primcro paso nesta dir, We lax 18 [MERION FEDERAL DO PA RLOTEACENL cevidentemente a renincia ao terror, que supe e tenta realizar sua isomorfia. O segundo € 9 princpio que, se existe consenso sobre as regras que definem cada jogo € 08 “lances” que ai sio feito, este consenso deve ser Tocal, isto &, obtido por parteipantes atusis e sujeito a ‘uma’ eventual anulesdo. Orientase entio para as muli- plicidades de metaargumentagSes versando sobre metapres- Critivos ¢ limitadas no espaco-tempo. Esta otientacio corresponde & evolucio das intera- 8es socisis, onde © contrato temporirio suplanta de fato 4 institugfo permanente de matérias_profissionais, afeti- vas, sexuais, cultutsis, familiares interacionais, como ‘nos. negécios politicos. A evolugio 6, assim, equtv ‘© contrato temporivio ¢ favorecido pelo sistema por ctusa de sua grande flexibildade, de sea menor custo, e da cefervescencia de motivagdes que o acompanha, sendo que todos ete efrgos contin par uma melhor opee: tiv qualguer modo, a questio no & propor uma alternativa “pura” 0 sistema: todos nés sabemos, neste final dos anos 70, que cla seri semelhante a0 proprio sistema, Devemos fos alegrar que a tendéncia 40 contrato| ‘temporivio seja equivoca: ela nao pertence a exclusiva fina- lidade do sistema mas este 2 tolera, e cla evidencia em seu fio uma outta finalidade, a do conhecimento dos jo- sos de linguagem como tis e da decisio de assumir a responssblidade de suas regras © de seus efeitos, sendo © principal destes 0 que revalida a adogio destas, a pes- quise da paralogia. Quanto & informetizacio das sociedades, vé-se enfim ‘como ela afeta esta problemética. Ela pode tornarse 0 instrumento “‘sonhado” de controle e de regulamentacio do sistema do mercado, abrangendo até 0 préprio saber, ¢ exclusivamente regido pelo principio de desempenho. Ela comporta entio inevitavelmente 0 terror. Pode tam- bém servir os grupos de discusséo sobre os metaprescriti- vvos dando-thes as informegies de que eles carcoem ordi- 119

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