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© Mundo do Trabalho Livia de Oliveira Borges Oswaldo Hajime Yamamoto Coats Homero na Ortisséia que, pr ter desaiado ‘05 deuses, S{sifo foi condenado a empurrar eterna- mente montanha aeima uma rocha que, pelo seu proprio peso, rolava de volta tio logo atingisse o cume. Allert Camus (2000) proptc uma instigante interpretagio para esse mito, Para Camus, 0 auge do desespero de Sisifo nifo esté na subida: 0 imenso esforgo despendido niio deixa lugar para outros pen- samentos. A descida, a0 contririo, nfo exigindo esforgo, € 0 momento em que Sisifo é confrontado com © seu destino: o aspecto trigica é conferido pela consciéneia que tem cla sua condigzo, No sem rziio, o mito de Sisifo tem sido con- siderado 0 epfiome do trabalho indi e da desespe- ranga. Tripaliun, trabicula, termos latinos associn- dos & tortura, estia na origem da palavea trabalho, Mas trabalho deve ser necessiriamente associado uo sofrimento? Ou sera Ifito pensar, em uma pers- pectiva diametralmente oposta, coma sendo aqela atividade essencialmente humana ne sua relagio com a natureza, configurando-se como uma prot Forma co set social? O trabalho sobre o qual a mai ria das vezes falamos & um trabalho init? Muito provavelmente todos n6s, no nosso co- Ligiano, oavimos frases como primeira 0 trabalho, depois o prazer. Essa frase, no mesmo tempo em que exalta a importincia do trabalho, tomanda-o como uma prioridade de vida, supée-no oposto ao prazer, como se este existisse apenas fora do traba- Iho. forma, temos amigos que contam o iho cam argulho. Por isso mes- ‘mo, falam tanto do préprio trabulho que as vezes ‘té nos aborrecemos, Outros queixam-se das con- ddigBes de trabalho, Uns sonhiam com um mundo no. qual nio precisem trabalhar, outros aposentam-see reinventamn um trabalho para si mesmos, porque no ‘conseguem viver sem trabalho. Reclamamos dos nos- sos empregos.e das condigées de trabalho, mas conti- ‘nuamos (rabalhando ~ ora para garantir nossa prpria subsisténcia, ora para ir muito além disso, Portunto, lembrandoessa variedude de stuagSes, que qualquer um de nés seria eapaz de continuar listando longa- ‘menie,é facil entender que rrabatho 6 cbjcto de mii- {ipl ambfgua atribuigdo de significados e/ou sen dos. Existem muitas pesquisas no campo daPsicolo- ‘eizestudando a variedade de signilicudos que as pes- soas atibuem ao trabalho, os quais guardam entre si ccorrelagoas ¢ muitas contradigées, Tais estudos par- tem de diversas abordagens na Psicologia e siio as divergncins que nutrem 0 dinamismo dessa érea de estudo, poréi o carter de miltiplas e amibfguas atri= bbuigbes de significadas tende a ser consensual ‘Tudo isso se complica ainda muito mais se substituimos a atribuigio de signilieados por ou teos aspectos que sirvam de critérios para diferen- clar 0s diversas aimbitos do trabalho. Assim, por exemplo, se considerarmos as relagSes de poder dentro das organizagées, podemes distinguir o trae balho subordinado das chetius intermedifirias, dos gerentes, dos diretores, dos proprieitrios ete. Se a natureza do que lazemos, temos a camplicad elas- silfcagio das profissies ¢ ocupagbes. Sea existe ciade trbes, mos ir com gies e compl bragal lo, te sua qu remun na for then moob, batho, motivi trabath no trab trabat ro trab no trab petigac para aj qual a da drex Q teorias satisfa dar-se mesm: Portun logo es conect 05 it intetig cconseg ram nc Psicologia, Organizagdes ¢ Trabalho no Brasil 25 cia de eontrato de trabalha, temos empregados, pa- wes, aulGnomos. Se formalidude do cantrato, te- ‘mos trabalho no mercado formal e no informal, Se ‘a complexidade da tarefa, podemos ter classifica ‘des coma trabalbo simples, repetitivo, abstrato © complexo. Se ao tipo de esforgo, temas trabalho bragal © intelectual. Se a existéncia da remunera- 80, temos trabalho voluntério c remunerado, Sea sua qualidade da remuneragio, temos trbalho bem remunerade ¢ mal-remunerado. Se nos delivermos 1a form de pagarmento, podemos ter trbalho por saliria fixo, por produgio c misto, Se pensarmos nos seres vivos ¢ niio apenas no homem, temos trae ball animal e humano. Além da var 'érivs que podemos utilizar para classi ariandoo scu nivel desolisticagio através da com- binagio de critétios efou do aumento dos niveis uli- lizados em cada classificagio, Portanto, quando utitizames a palavea treba Mo nao estamos necessatiamente falando do mes- ‘mo objeto, Na Psicologia Organizacional e do Tra batho, por sua vez, falamos em constiulos como walivagdo para o trabalho, comprometimento no trabalho, envolvimento no trabalho, aprendizagem to trabalho, socializaigio no trabalho, satisfagio no abalho, treinamento em trabalho, aconselhamento no trabalho, estresse no trabalho, qualidade de vida no trabalho e assim por dante. Desculpem peli re- petigio da palavra trabalho, mas ela foi proposal, para ajudar a dar-nos conta da freqtiéneia com a ‘qual @ patlavra trabatho & empregada na fiteraturs da dros, E'de que trabalho estamos falando? Quando 0 leitor se debruga sobre as diversas teorias referentes a algum construto (por exemplo, satisfagio, motivagdo, estresse), sendo capaz de dar-se conta do coneeito de trabatho implicito nas mesinas, ter su eapacidade critica ampliads. Portanio, é nevessirio para a formagio do psic Igo entender claramente as formas principais de coneeber 0 trabalho. Explicitar tais concepgdes send objeto do de- senvolvimenta deste capitulo, Esti claro, porém, que precisamos de algum tipo de referénein para (er- ‘ms um ifnima de epnsenso que tome 6 capitulo inlcligivel © que, ay mesmo tempo, o Ieilor tena corsciéncia de suas limitagOes. Vamos comgar, por conseguirte, expondo algumas premissas que for ram nasso pont de partida para desenvolver o.ex- pitulo, selecionando contetidos, estabelecendo in- terpretagées ¢ enfocando algum tipo de trabath, Enlendemas que sio tais decisies que viabilizam o capitulo. Seria impossivel descrever 0 mundo de todos estes tipos de trabalho. Isso no sig vamos nos deter eni apenas uma visiie ow interpre {ago do mundo do trabalho, mas que vamos ter em conta uma diversidade limitada, Significa também que o presente capitulo estd longe de esyotar o as- sunto, Portanto,o eitor deve atentar que 6 eapitelo no substitu leituras mais extensivas sobre 0 ase sunlo, apenas 0 introduz, Levando a cabo nosso propasito, iniciamos, pois, lembrindo algumas fronteiras do eampo da Psicologia Organizacional edo Trabalho, que tam- bbém serdo seis para delimitar o presente capitulo. Assim, os psiedlogos que atuam e pesqui teampo néo lidam com 0 trabalho dos a ‘como trabalho humano. E o que diferen dois tipos ée trabalh simples inguir as alividades de primatas nio-humanos de nossos ancestrais nas suas tarefias dee ta, ou mesmo de algumas que os humanos até hoje fazem, existe um elemento distinlivo fundamental: aintermedtiagzo da cultura (Argyle, 1990). 1 de for- ma mais pontual, 0 eritério freqiientemente utiliza 0 € 0 di intencionalidade, que foi primeiramenie explicitada por Marx (1983) ao distinguir 0 “pi arquitelo” da “melhor aranha” saceole- No im do precesso de tabatho, ottém-se une {do que Ji no Inicio deste esistiv ta imi lusbalhador,eportantoidealmente. Elen tua uma temsformagio da forma hs wi Fealiza, ao mesma tempo, na satin nal Jativo, que ele sabe que determina, com lei, 2 esp ‘ie eo modo do sua aivihulee 0 qual tem de suber ‘ina sna vortade (p. 149-150). Isso signifien que, para nds, autores d pftulo,quarddouma forma deexerver o trabalho tent eliminar a intencionalidade humana cu as su pacidades cognitvas, estdtentando descaracteriz © proprio trabalo em uma condigao hua tral, Bessa compreensio est tiea z-sobre a forma de phancjar ¢ organizar © trabalho, ou seja, as andlises sobre como as organizagBes definem 0 modo de Fazer 2 coisas, dividem e distribuern alribuigGes. poder © tarefas. eli, Borges- Mas, seguindo na delimitagio, é importante embrar que o psicélogo organizacional edo traba- tho, na maior parte das vezes, lida com o trabalho remunerado. Por isso, os aspectos socioecondmicas “io aqui considerados importantes e delimitadares do munde do trabalho. Na literatura do campo, para clarear a adogio dessa delimitagilo, Brief e Nord (1990), por exemplo, anunciaram sun opgio em adotar a definigio econtimica do trabalho, que con- ste em dizer que 0 trabalho & © que se faz para u se & pago para fazer. Isso nfo sig- nifiea que os referides autores reduzam o trabalho mas que o trabalho & objeto de seus estudos se essa dimensioé incluida, Cutra fronteira comum na literatura do campo € aquels posta pelo contrato de trabalho, que dife- rencia trabalho de emprego. Alguns autores, eomo Jahodn (1987), tém se preocupado com tal diferen- 8 aulora, o emprego ums forma espe- cffica de trabalho econdmico (que pressupée a re- muneraio) regulado por um acordo contratual (de ceaniterjuridico). Blanch (1996), baseado na diferen- 10 de Jahoda, acentua que o emprego implica a redugio do trabalho a um valor de troca, partanto em mereudoria, 0 que mais adiante relomaremos & medida que descrevermos a evolugto do trabalho e dos problemas do mundo do trabalho a partir do ssurgimento do capitalismo. Importa-nos, ro momen- ‘0, apenas acrescentarmos que para Jahoda tal dite- reneingio & importante, porque tem implicagies Gliretas na forma de analisar os problemas do mune do do trabalho na atualidade. Por exemplo, a autora ‘rgumenta que, considerando tal diferenga, deve ser lo opor o desemprego ao emprego € ir como a antftese do trabalho. Jahoda ‘ilerta seus Ieilores que, raramente, ocarre a consi deragio de tl diferenca na literatura em geral so- sunto € que © uso das termos trabalho e mprego como sindnimes esti prafundamente en- raizado em nossos hiibtos lingtisticos, o que con- tvibui para continuarmos desatentos a tal engano. Para ela, definigées em eféncins humanas nfo sio neutras,trazendo sempre consigo jufaas de valores impli itos). Tal confusio, aparente- mente: ica, termina por diftcultar a bre © papel do trabalho na sociedade tno final século XX e sobre a importincia que as essout alribuern a trabalho. Compete-nos, assim, desde aqui deixar o leitor com a questo: no nossa ‘unde aual o trabalho tem perdido a importincia ‘como uma categoria que estrutura a saciedade? Ou €oemprego que tem rareado? Temos uma crise do trabalho? Ou uma crise do emprege? Adicionalmentealertamos também leitorque ‘amaior parte da litcraturaem Psicologia Organiza- ional ¢ do Trabalho niio foge A rogra e, em geral, usnos terms trabalho eemprega coma sinGnimas, Cabe a nés, como leitores, estarmos atentos para o que realmente 08 autores esto se referindo. Essa atengdo ser importante parangucar nossa capacida- de critica, dando-nas conta mais facilmente de cer tos limites cas teorias, dos modelos e das pesquisas que desenvolvemos ou dos quais fazemos uso. ‘Com essas fronteiras explicitadas, de alguma forma estamos delineando 0 que chamamtos aqui de mundo do trabalho, Mus precisamos ir frente. AD {ntitularmos 0 nosso presente cupitulo de Mundo do ‘Trabalho, temos o mesmo problema de quando ou- tras autores discorrem sobre a sutisfugio do trabalho ¢ tantos outros construtos no eampo da Psicotog Organizacional edo Trabalho, conforme ji exempli ficamos. Continuamos,portanto, com quesides como: estamos falando na mundo de qual trabalho? Coma falar desse assunto som sabermos a0 certo de que trabalho estamos falando? E 0 que compée o tal ‘undo do trabalho? E par que denominaro eapttulo de Mundo do Trabalho e nio apenas de Trabalho? Na tentativa de responder a essas quest6es, que- emos contar que compreendemos que cada indivi duo tem seu préprio conceito de trabalho, aque em si estabelece uma variedude imensn de conceitos e/ou significados. Mas & mesmo uma variedade infinita? ‘Talvez nfo, Ecertamente no mesmo passo que existe diversidade, existem aspectos compactilhados, Exemplifieando, lembremos dos nossos amigos mais prSximos. Certamente, pura este grupo nio existe to- tal identificagso na definiggo do que seja uabalho, mas certamente hi também muites semelhangas. Alguém pode pensar assim: o trabalho para mim & tanto me Jhor quanto mais eu possa fazer o que gosto. O amigo esse alguém pode pensar que o trabalho é tanto me- {hor quanto mais ele contribua para resalver proble- ‘mas sociais ¢ que ele & prazeroso por permitir perce- ber que osoutros se beneficiam ds seus esfargos. Claro queosegundoentendimento é muito mais alrufsta do ue 0 primeiro, mas ambos associam o trabalho 80 prazer, O que engendia tais semelhangas e diver cias?Enesteponto que surgea primira premissa que consideramos necessario explicitar. Embora seja inelimindvel da prépria condigfio humana, o trabalho inter, bureza ele~s ppessar sizam dle? Ou ise do itor que paniza n geral, qe: rive vem si s fo ina? existe alos. ms toto ms pun igo 2 me lle: Claro ado mo a0 caine oque seja alo aio eu 140 essencial para cestabelecer a relagdo entre o homem ¢ a nalurcza © ‘ene a sociedade e a natureza (Antunes, 1997). Na sux. condigio origina, o trabalho deriva de necessi- dages naturais (Fome, sede, etc.), mas realiza-se na inferagio entre os homens ou entre os homens ea nae tureza, Assim, trabalho —e a forma de pensar sobre ese 65 scio-histGricasem quecada Depende, portanto, do acesso que cada pessoa lem & lecnofogia, 20s recursos nalurais © 40 dominio do saber fazer; da sua posigio na estrutura social; das condligdes.em que ela executa suas tarcfas; do controle que tem sobre seu trabalho; das idéias eda ‘cultura do seu tempo; dos exemplos de trbalhadores. ‘quecida uma tem em scu meio, entre outros aspectos. Sistersatizando um pouco mais, podemas dizer que a Forma de exeeutarmes 0 trabalho e de pensarmas So- ‘reo mesma varia com muitos aspecios, os quaisorga- rizamosdidaticamente nas seguintes dimenses: + Dimensiio concreta, que se refere’ tecnolo- sin coma qual se pode contarpara realizar {rabalho, ¢ as condigdes matcrisis e/ou am- bicniais em que se realiza, incluindo segu- ranga fisiea e conforto, + Dimensiio gerencial, que se refere 20 modo pelo qual o trabalho é gerido, segun- do 0 exercicio das fungdes de planejar, organiza (¢ividir & distribuir tarefas), die rigir controlar o mesmo. + Dimensiio socioecondmiica, que abrange a auticulaglo entre 0 modo de realizar traba- Ihoeas estruturas sociais, econdmicase pol- ticasem plano macro da sociedade, ineluindo afaspectos como ritmodecrescimentoceo- nnOmico societal, 2 prosperidade de um setor ceonémico, a renda média,o contitodisti- butivo, onfvel de oferta de emprego, a fore de trabalho e outros aspectos sociodemo- srificos. + Dimensio ideolégica, que consiste nadis- ‘curso elaborado e articulade sobre 0 traba- Iho, ne nivel coletive societal, justifieun- do oenirelagamento das demais dimensdes, ©, especialmente, as rclagdes de poder na sociequde, Deriva diretamente das grandes correntes do pensamento. + Dimensiio simbélica, que abrange os as- pectos subjetivos da rela de cada indi- Viduo com o trabalho, Psicologia, Organizagdes ¢ Trabatho no Brasil 27 cessas dimensGes que compdem o mundo do trabatho, No presente capitulo, rataremos dts quatro primeiras dimensies. Nio estamos exelu- indo a quinta porque atribuimos maior o1 menor importaacia, mas porque sendo este livro de Psi- cologia Organizacional e do Trabalho, seri des ddimensio que « maioria dos eapitulos subseqtie (es se ocupard primordialmente. A medida que ‘camos com as demais dimensGes, estaremos, pur- tanto, nos propordo a cumprir © papel de dlescre- ver 0 contexto no qual aspectos das relagiies do individuo com o trabalho (por exemplo, sprend zagem, cognigées, emogdes, motivacdo no (raba- Tho}, dos grupos com o trabailto (equipes de trabs Iho, relagdes de poder nas organizagies) ¢ aspecc- tos simbélicos mais amplos como eulturt orga nizacional se desenvolvem c/ou siio construfdos. “Tais dimensGes sf imbricadus ums nas out Arrolamos anletionmente, por raziies diditicas, como explicitamos. Mas nao consideramos que seja igual- ‘mente didtico estruturar nosso texto emt fungo de- ls, posto que outra premtissa que assunsimos & de ‘queas interdcpendéncias entre elas seestabelecem & ‘evoluem historicamente. Por isso, nossa propasta & realizar wm excurso histiriea pelo mnutde dla tebe ho, compartihando nossa reflexio sobre 0 m nas suas diversas facetas e Fendmenos a ele vineul dos. Com isso, esperamos fornecer uta vi ‘imica do ambiente no qual atu o psiedlogo omgani- zacional e do tabalho. A conseqiiéneia desta extra tégia é que dividiremos nosso texto segundo cortes histéricos nos quash maiores mudangasno conjuto das dimensdes do mundo do trabalho. A ead corte, Poréin, tenlaremos dar conta das quatro dimensies citadas¢levantarquestOes reereniesdimensio sim- béliea. Isto nfo quer dizer que cada corte de tempo cconsirdi um conjunio de ideas diferentes e, conse- ‘alentemente, desaparecem as anteriores. Esias il mas continuain presentes no nove conjunto ou f zendo oposigio a esse. I clara que, em cada époe as dias da classe dominante sioas mis influcates. Complementando, entendemos que este eami- ‘nho propiciard uma introdugio nas discussie sobre partindo (1) da compreensio da construgio do conceit de trabalho e (2) da identi G0 das prineipais mudangas, tendéneins e de ‘no mundo do trabalho, sem deixar de ter em eon as disparidades de desenvotvimento e problemati- cas vivenciadas no mundo do trabalho no Brasi ‘como pats capitalista periérico. 28 Zanelti, Borges-Andrade, Bastos & cols Por fim, compete-nos explicitar um Giltimo li- nite adotade, Nos detemos na histéria de trabalho a imemta do capitalismo porma questo de concisiin'e a fim de priorizar os aspectos mais dlirelamente relevantes para a leitura da realidade em, ossns (empos, Todos nds, autores e leitores, vive: ‘mos num mundo capitalista, Portanto, a curta refe séncia que faremos sos tempos que antecedem 0 ca- vil finalidade contrasinr as especificidades do mundo capitalist smo tem como tt A CONSTRUGAO DA IDEOLOGIA DA GLORIFICAGAG DO TRABALHO. © eonceite do trabalho passou a ocupar um ugar privilegindo no espago da seflexio tedriea nos iitimos sSculos, Anteriormente, a reflexio in- telectual the concedeu uma posigho de fendmeno seeundsirio, Mes im, & certo que pacemos w de trabalho humano desde os primérdios da hums ides de engudorese cole- lores 8,000 anos a.C., a incipient a, India e norte da Afri dade Média si alguns exemplos. via e Instigante literatura sobre o as- sunio e com diversos niveis de profundidsde que os dilerentes leitores podem busear ou recorrer? Sobre todo esse period, importa-nos apenas sublinhar que, apesar da secundariz ‘meno, houve vi bm a const do fend. §conjuintos de idéias, como tam- fin de enda um demandow um lon- divergentes sobre o tra- ball embora com menor poder de influéneia, As sobre o trabalho na Antigbidsde, mais 0 pensamento greco-nteniense vistas no impérie roma tem resgatado (Anthony, 1977; 2001) © pensamento de Platio € Arisiételes sobre o trabalho, This filésofos cl im wociosidade. O cidaalto, para Plat albo. Aristételes valori referia-se aa trabalho devia ava vidiide polities dlseussi sore 3s foumiagaes pre-capitalist, veja cen Ahonoy (1986), A * concentragio de riquezas ¢ pela escravic le coujunta sobre desenvolvimento do modo de produgao capt ans (1981). Recomendamas i wony (1977), Hopenbayn (2001). como ative! poss profissdes mecinicas eda especulagio mercantil: a primeira limita intelectualmentee aseyundla degra- da etieamente, Portanto, a ilosofiaelissica earuc- terizava o trabalho como degradante, inferior © desgastante. Ele, o trabalho, competia aaseseravos, Era realizado sob um poder bascado na forga e n coergo, a partir do qual o senhor dos eseravos de- inka o dircto sobre a vida do eseravo. Portanto, este arranjo de valores era passivel pela extrema Esta ideologia do trabalho partia de un con ceito mais restrilo de trabalho, reduzindo-o as ai vidades bragais claw manus executadas pelos es- cravos. A politica, atividade superior e clos ei dios, nfo era considerada trabalho. Aristétcles en- {endian eseravidso como um fendmeno natural, pois sustentava que hi pessoas destinadas a Fazer uso exclusiva da forga corporal e que devem satistizer stias necessidades no Smbita restrito das ativiek ‘manuals, Para ele, oeseravo jamaisestariaapto para as descabertas ¢ para os inventos eseria esta cond ‘ilo que determinava a perda da liberdade. No Império Romano, as guetras e congui ws que 2 populares ya- ia de mio-cde-abra eserava, Jus tamente por estas razdes, apesar das contribuigdes Tomanas no campo do Direito, a idgin sobre o tr batho no soften significativas modilicagies em comparigdo com a reflexdo grega. Assim, tanto na Grécia como em Roma, a eseravidiio ea estruturagio dda sociedade (bascada no escravismo) sustentavam a forma de pensar clissies sobre o trabalho, Hopenhayn (2001) chama a alengio, entre~ {anto, para. fato de que nem entre as sreaos aqe- Jas idéins classicas eram undinimes. Tis idgias ne- preseatam o que era dominate no mundo grey, porém, em Hesfod (tés séeulos antes cle Platiio) e depois, na religitio de mistérios que ene vontade dos campones Deuses ¢ 08 homiens adeiam aqueles que vivem inativos, enquanto que exaltam ¢ tomam coma sa- grnde o trabalho daqueles que se uners 3 terra. fa, ver Dobh (1987). Pars win nin a leiura de outris obras c os, er sobre tecende que se dades,1 inadeqe queset vistvel questio Pa marcar a.Um, deumg eampo quantia limites capital lo. Mar os meio desproy sua exis done da trabalho processe desprovi que proy uma ines Secmecc (quando tum vaio paraose ras, a recess seu tab dedar pa vias, 0.4. capital.t de. de tea a ma le toy ma Psicologia, Orga Caldeus, hebreus, orientais e primeiros eris- ios, entre outros, tinham idéias bastante distintas sobre trabalho. E muitas mudangas foram neon. tecendo paulatinamente durante a Idade Média, no que se refere & economia e & esirutura dus socie- ias foram se tornanda com a surgimento do capitalismo ‘que se consiréi e consol rmudanga mais Visivel na reflexio sobre o trabalho, Compete-nos «questionar: por qué? Para Marx (1983), dois fatos principais de- marcaram 0 surgimento da produgio capitalis- ta, Um, a ocupagio pelo mesma capital individual doum grande miimero de operarios, estendendo seu 40 ¢ fornecendo produtos em grande Outro, a eliminagio (dentro de certos limites) das diferengas individuais, pasando 0 apitalista a lidar com 0 operirio médio ou ubstra- to, Marx assinala que a cooperagio, ou .wividade de uin nimero maiorde trabaliadores, ‘90 mesino tempo, no mesmo lugar (00, se se quisee, no mesmo campo de trabalho), para produzira mes: ina espéeie de mereadori, sob o comando do mes- mo capitalist, eo in 2 ponto de pa Estes dois fendmenos acorrem com o surgimen- 4 da manufatura que, por sua vez, pressupde um adianlado processo de acumulagic do capital, desen- volvido no perfado anterior. Quem detém, portanto, 105 meias de predlugio € 0 capitalista. O individuo despravido destes meios niio fem como reproduzir sata existGneia, Essa situagio, que pie de um lado 0 dono do capital © de outro possuidores da forga de trabalho, rdo é ura Flo natural, mas resultado de um processo histérico anterior. esta condi Gesprovida dos meios de produgdo do trubalhador que proporciona a venda da forga de trabalho como uma mercadoria ~a inicu que o trabalbador possui ‘Ser mercadoria significa representar umn valor de uso {quando sua witidade é acessivel no ser humano) & tum valor de troca, ou seja, que tenha valor de uso parios outros, valores de uso social, Em outras pala ‘ras, a. situagdio socioecondmica existente tornava recessirio ao indiyiuo, desprovido de tudo, vender sou trabalho e, ao capitalista, adquiri-lo como meio cedar prosseguimento A produgito de outras mervado- rias,o que, sendo valor de troca, permite crescer seu ‘capital. Nesta realidade se Funda a nog de contrato \gBes e Trabalho no Brasil 29 de trabalho, surgindo o trabalho na forma de empre- go assalariado, como nos referimos anieriormente. ‘Se nos abstrafmos do valor de uso de cud mereadori, perecbemos que perinaneee um pro- priedade: a de produto do trabalho humaino. Portan- to, tum bem lem valor por caus do trabalho humaine nele materializado. Os meios de produgio per cem ao capitalista, logo, 0 produto & propricdade deste. O trabathador, que vende sua forga de trate ho como a qualquer mereadoria, realiza no ato dhe vend o valor de roca, alienando o valor de uso m0 ‘que produziu. O capitalista prolonga o uso da orgs de trabalho em seu beneficio, obtendo o lero dat diferenga do que pagou e 2 quanticade de trabalho recebida do trabathador. Assim a mais-valia Eo pro- longamento do processo de formagio de valor, ou sej, resulta de um excedente quantitative de trabalho na duragio protongada do processo de produyio, ‘Ao capitalists inieressa, pois, ampliar a mais- valia, De inicio, assim o faz, por meio do prolon- zamento da extensio da jornada de trabalho. Ea chamada explorugio extensive. Esta, parém, &li- mitada tanto concretamente pelo tempo que um individuo pode trabalhar, quanto pelas reagies socitis. Por isso, 0 capitalista busea modes de: ae ment de mercadorias exiginddo me~ nor quantidade de tabatha. a mais-vatin relat va, Eo que 0 capitalista fazia, entfio, para produ de mais-valia) cram preocupagdes centrais dusobras de Adam Smith no final do século XVII. Este eco ‘nomistaatribufa um relevante valor soeiai ay tr tho, bern como ao seu parcelamento, una vex que advogava que a manufatura surge para auumentar a abundancia geval, difurdindo-a entre todas as ‘madas socials (Anthony, 1977). Hustranda este po to de vista, Adam Smith (1978) descreve a Fubrie ‘glo de alfinetes dividida em 18 operagdes, apon- tando as vantagens deste pareelamenta para dutividade e, por eonseqiiéneis, par ‘Smith pastula 0 aumento de produtividade atr da especializagito do trabalhador em uma refa. Explicaa necessidade da especial bali peta natureza das aptides indi tende que a divisio do trabalho & uma conseqié cia de propenstio da natureza humana 280 eda linguagem. 30 Zanelli, Borges-Andrade, Bastos & cols. fes argumentos de Smith sito de ordem haturalizante e divergem da linha de pensamento que vimos apresentando, procurando expliear a organizagio © mudangas no trabalho nas relagées sociais como estabelecidas historicamente, Essa ex- plicagio naturalizante para a divisio do trabalho permite que o principio divisor de rieos e pobres tome uma feigio de bem-sucedido ¢ mal-sucedido (Anthony, 1977), porque em tal explicagio,o prin- cipal requisite para o sucesso é 0 trabalhoduro. Isto eonivibufa, também, para eriar docilidade e disc naqueles que pelo trabalho dure “falharany Forma, os (rabalhadores eram atrafdos por irios ow reeruiados pela pobreza. Assim, entenclemos que tanto a sofisticagiio da divisio parcelaca da trabalho, descrita por Smith, quanto introdugao da mquina, antes dedemarearem falismo, sio instrumentos deaperfei- ‘goamento do proceso de desenvolvimentodo capita- Tismo, ampliando a produtividade e/ou a mais-valia, E preciso entender também que para Smith (1978) economia pode produzir abundfineia geral _gragas aos ganhos de produtividade dentro de uma perspectiva cia economia liberal, que valoriza a ini- ciativa privada, A leitura de seus textos revela uma hhierarquizagio, desvatorizando o trabalho pliblico em favor do trnbalho privado. A impliengio direta desta hierarquizagio €advogar a reduzida interven- «0 politica na econormi (o) & da mais alta impertindneta e presungio, entre reise ministras, pretender inerferir naeconomia das pessoas paniculates ¢restringiros seus wastos, soja Por fois suntusrias, seja pela proibigio da imporia- 0 de abjetos ue Tuxo estraageires.. Que vigiem bem as prépris despesas, © pocerRio confiar tran- abilamente nas dos particulares (p. 1). Importa-nos, primeiro, que compreendam que Adam Smith viveu em uma época em que as gover- nos absolutistas na Europa, de um lado, protegiam a burgues as em defesa das ‘economia nacionais de outro, susteniavam 6 luxo «la nobreza baseudos nos valores da Idade Média & preciso considerar que, associa- rvengio do poder pablico, Smith (1978) diferenciavac trabalho entre produti Woe improdtutivo (ver Destaque sobre o assunto), sendo o primeira aquele que agrega valor e 0 se- ‘gundo 0 que nfo acrescenta valor sobre nada: {6 Sociedade ¢, como 0 dos servos, improdutivo em relagSo no valor, € nfo se fixa nem se reallza em vel ae dua teria valor pela qual uma igual quantidade de to pease dep ser aia ‘Trabalho produtivo @ impradutivo Man« (1978) desonvolve essa distin, onire 0 tra- balho produtvoe Imeradutve, ne “Capitulo Inéeito D'O Capi, parte dos manusctlos de 1868. E importants sallentar que nao existe qualquer |uigamento de valor ‘0 da Importncia do trabalho, nem medalidades que selam produtives ou improdutivas per se. Para Marx, “6produtio otrabalhador que executa um trabalho pro- dullvoe é produtvo 0 abalho que gera drectamente ‘mais-vain, slo 6, qua valariza o capital (p. 83). Portanto, junto ansformagio do trabalho em ‘mereicorin, estabclecida pelo capitalismo emergente, surgi umaconcepsfo de insirumentalcckeecondimi- ex do trabalho, o qual valia tanto mais quanto era ea pazde aumentar os rendimentos do detentor docapital. Esta visto utilitarista do trabalho contradizia os objetivos de buscar uma maxima lucratividade nos ‘moldes do regime de trabalho capitalista. E nesse coniexto que Anthony (1977) defende que a cons- {rug do "homus economicus” exigiu odesmantela- mento do cldssico sistema de pensamentos, concei- tos, compreensies e percepgtics medievais. Era ne: cessdrio mudar a compreenstio do préprio hiomem € legitimar o tucro. Algm disso, 0 novo modo de pro- dugio trouxe uma série de implicagdes pura a orga nizaglo da vida e da sociedad. Por exemplo, sepa- rouosambientes doméstico ¢ de trabalho; reuniy um nilimero imenso de pessoas em um mesmo lugar (a {iriea), em torna de uma tniea atividade econdmi- cca intensificou 0 crescimento das cidades e a sua separagdo do camgo. No mundo delimitade da fibri- ca,a"cooperacio” trouxe variadas novidades no pl ‘nejamento, na organizagio ena execusio do proprio trabalho, como necessidade de pdronizar¢homoge- neizar) a qualidade dos produtos ¢ dos procedimen- tos, bem como a adogio de wma diseiptina etc. Estas sovidades justificuram e promoveram o surgimenio das fungdes de ditegio e supervisio (geréncia), para fiscalizar e controlar o trabalho. A adaptagii do tra- bathad ples. S Exista talista balhoc W se,mo referen campo com ur gndore dade h rola t digneia se mals 0 proves, papel ¢ ideo que coi cayied ass caminh asalva um dor efor cates sioso p A cal batistas comple batho p po, rep famente © traba Weber Se st Py lagBes Quanto merece oresult Psicologia, Orgunizagoes e Tr: balhador « tal ealidade no ocorreu de forma sim ples. Submeté-lo a tais condigées foi um desatio. Existiam, portanto, muitas contradigaes. A sobrevi- véncia da nogto do “livre contrato"'da modelo capi- talistanecessitava de uma elnborada ideologia do ta. batho que-o valorizasse em oposigiia to deio, Weber (1967) desenvoive uma extensiva anil ‘se, mmastrando que o protestantismo veio oferecer estes teferenciais, permitindo resolver a contradig campos ideologia, A tradigio paler Com um elemento ideoldgico sobre relago emp istdores e empregados, tornando “natural” a autor dide hienirquica, como obrigagio religiosa de con- trol, bem como a responsibil den al A erica protestante & 0 esprito do eapitalismo, desereve 0 Papel da reforma protestante na formulagio desta ‘dcologia. O uteranismo criow a nagio de vocagio, {que consistia em um chamado de Deus para a reac nei de um trabalho secularou missio, Valorizava, assim, 6 cumprimento do dever. E este ert 0 tiniea ‘aminho para satisiazer a Deus efou para conseguir salvagio. A profissio era concebida entio como uum dom divino. Assim, para o autor, “o efeito da Reforma, como tal, em coniraste com a cancepesio ‘albliea, fof aumentara énfase moral eo prémio rel sies0 para o trabalho seculare profissional” (p. $5), As tendéncias do protestantisme ascétieo—0 talvinismo, © pietismo, © metodismo e us seitas bavisias ~ que se seguiram ao luteranismo, vieram complementara formulagio. Todas exaltavamo ra balk pars glorifiengdo de Deus e, ao mesmo tem- PO. reprovavam fodas.as manifestagdes de compor- tamento iracional e sem objetivo, juntamente com 9 incentive compulsive & poupanga, Incentivavam ho sistemitien © metédieo, Sintetizando, Weber (1967, p.126) afirnia: Weber, também & propria destas formu lagdes do pi testantismo ascélice a nogio da prova, Quanta mais dura se tralhava, mais se provava ser merecedor du graga divina, O sucesso (riqueza) era fo deste trabalho duro, Tal formulagiio em= it 3U ralho no Bri restavalegitimidude A distribuigio de riqueza e tran iilizava a mente dos ricas. Como complemento, 0 protestantismo ascética também atribufa respons bilidade individual para se ter ou no a praga. $6.0 individuo sabia se era escolhide por Deus ov ni. A le, ¢ somente « ele, cabin provaro estado de grag, reconhecenclo o chamado de Deus na ago ase Assim, numa economia que nutre uinia visio Uultaristado trabalho, formula-se uma ideolugia que sisibuiclevada centralidade ao trabalho, independente de seu conteido, associnda a uma élica do cumpr mento do dever. Toma o trabalho, defende-0. valo- riza-o como mercadoria, disciplinada, mecanizido, de larga escala, estritamente supervisionado, exigin- do requisitos mfnimos padronizados, plinejidoecon- ccebido por especialistas e executado por outros, su pondoo livre contrato.Inelui vrias cisGes calists € valorativas, como improdutive c produtivo, deexe- Ccugio ¢ intelectual, operative e administrativo, pi. blico e privado, por slividades ocupacionais, cam- Pons ¢ urbana, artesanal e industrial. Foi a este proceso de elaboragio ideotiyi do que seja 0 vabalho © de justticagio do esforgo e da submissio, ineluindo sua prépria exaluagio,qque Anthony (1977) designou de glorificagtio do traba- tho, ¢ outros autores, de construgio di dlica do tra- balho (por exemplo, Biilcholz, 1977). Em sintese, esta ideologia funda-se numa concept segundo {qual irubalho é uma categoria central que os inl duos devem tomar como prioridade em sus Porquedeveri prover a abundincia geral ey sucesso individual, Porisso, deve ser exercido de forma pla- nejude, padronizada ediseiplinad Esse trabalho {tanto mais quanto seja produtivo (eno pelo seu ex tetido), Para alingir estes alvos (valores sociais), tralado como uma mereadoria, si do requisitos minimos de qua ‘20 maxima. As bases de poder, no espaco de tho, sustentam-se na propriedade, na concentragio do saber fazer © dts possibilidudes dle conceder re- compensa e punigdes nas mas de uma minor 0 fato de haver toda uma consirugio ideolspi- cea nio elimina, enietanto, as reais contrsd as insatisfagdes ea capacidade de reagtio dos traba- Ihadores. Sem divida, o desenvolvimento de uma deologia que enfatizava.a importincia do trabalho durante todo o século XVII, « partir dus formula- ses econémiews de Adam Smith, apoiada mais di: ‘laments no protestantismo, result entretanto, em uma exploragéo radical da classe (rabalhador. A 22. Zanclli, Borges-Andrade, Bastos & cols, histéria do desenvolvimento capitalista é, também, a histiria da resist@ncia dos traballiadares. Os em- brates em torno dt regula ‘exemplos da luta do proleta impor um limite & exploragio capitalist, O sistema de “cooperneo”, 10 mesmo tempo ‘em que engendrava todas as novidades jé assinala- das, também rcunia as pessoas em grandes massas criando as condigdes necessarias & consirugda an consciéneia de classe dos préprios ‘vabuthadores, estimulando 0 desenvolvimento da nizao (rabalhist. & preciso lembrar que nos palses desenvolvidas, o final do século XVIIL¢ todo século XIX foram mareados pelo desenvolvimento do movimento ias que ibastecer regime capitalista foram flexdes marxistas sobre esse sistema (ver mais no Destaque sobre oassunto). Tais dias continua, sendo importantes & os conceitos introduzidos por Mars a respeito do trabalho ainda permanecem em. ogi como referéneia obrigatéria para aqueles que ‘estudur.o ema, Por isso, é necessirioclared-tos me- hor aqui, além do quis ja foireferido anteriormente. Enquanto na concepeio do trabalho que pro- curava justificar us relagdes de produgio sob o regime eapitalista a glorificagio do trabalho ocor- te pela formulagio idcol6gica, descrita anterior- mente, em Marx o trabalho é conceito central em dois sentidos. Primeiro, porque produz a prépria condigio de ser humano, pois Marx (1980) defen- de que processo de diferencingio do homem dos se quando aquele produz ieia Ou, em outras palavras, ‘medida que é produtor de sua vida material eo trabalho passa a ser expresstio do proprio ser: ‘A maneira pela qual os indivfduos manifestam 2 sua Vial yffete muito exatamente 0 que eles sa, O que le, portanto, com sun produgso, tanto com © que proxiuzem quanto com a mancita pela qual 9 produzei. © que os individuos sio depen, portan- 4, das condiges materinis de sua prodigie (Mare, 1980, p46). Ossegundo sentido expresso pela idéin deque istGria da humanidade é a hist6ria das relugdies de produgtio. Marx (1980) ¢ Engels (1986) tomam ‘o modo de produgio como um dos determinantes ¢ caracterizadores de cad esti manidade, Assim, n produtividade da forea de trabalho com o “grau de desenvolvimento da cigneia 1 sua aplicagio tecnoldgica, o mundo normal do processo de produgio, « extensiio ea eficdcia dos meios de produgio e, finalmente, us condigdes is” (Mars, 1975b, p. 27) A exploragio nos primérdios do capitalism e a reagdodos trabalhadores ‘As condigdes subumanas de trabalho aos quals eram submetides os trabalhadores, incluindo mulheres ¢ crlangas, nos primérdios da ‘grande indisitia, sa0 ‘maghilicamente relratados por Engels (1986) o Mare (1983). No livto I d'O Capital, Marx ciscute o= emba- tes operdios om lorno das los fais inglesas. Os trabalhadores reagicam aquslas concigSes, organ zando-se pollicamenle. Engels, a0 analsar as groves ‘perérias da primeira melada do século XIx, demons- {ra que elas expressam a tomada de conseléncia dos lrabainadores sabre a nacessidado de coosdo & eol ‘aviedade nas lutas contra o Caplial, Muitos autores tim retomadoe aprolundado a anélse ddesses movimentos, néo sobre seu surgimanto nos ‘primérdios de captialismo, mas lavendo em canta toda sua evolugdo durante todas as fasee do capitallemo, seguindo, portanto, até os nossos dias, Por isso, re ‘comendamos, adicionalmenis & literatura ja citada, laituras coma: Anthony (1977}; Antunes (1989), Braverman (1974), Blcalho-Sousa (1994), Costa (1985); Hopenhayn (2001); Marx @ Engels (1982); McCarthy (1985) e Ransome (1996). Para Marx (1975 ‘transformago de moda de produgfio manufatureira para o mado de produ capitalist da “cooperagio” exige um parcela- mento progressivo do trabalho em suas operagies, simplificanda a atuagio de eada um. Tal tipo de ‘organizagio do trabalho possibilita « massifieagao da produgto, caracteristica do sistema capitalisia a época, Esse cardter, por sua vez, subira as pos- sibilidades de identificagio do trabalhador com o produto de seu trabalho, Interligs-se, assim, & con- cepglo da forga de trabalho como mercadoria da alienagiodo trabalho. Trata-se, entio, de alien em virias formas. O trabalhador no possui os m dcproducio, 8 ‘em controle sobre o produto nem sob: dos io ait “que parte Engi hom ccapite th, neces c sobre « um val © parce geral,« mento da rai dimen *Aaliew ase. ‘Antunes ho do 5, le (a la sobreo proceso de trabalho e, portanto, é supriny duseu saber fazer e as possibilidades de identities so cont a tarefa e com o produto? O parcelumento das larefas subir, também, 0 atributo da intefigéneia do trabalho, de forma gue “quanto mais © operirio parcelado ¢ incampleto € sesmo imperfeito, tanto mais se torna perfeito coma parie do operitio completo” (Marx, 1975b, p. 73). Enquinto o trabalho deveria humanizar 0 proprio tomem, de fato o subdivide: ‘Nio somentetrabathos parcinis sH0 repurtides entre lifereates individuos; © préprio individuo & divi do, ransformado em mecanismo autamities de um : io, eoperirio vende sua fiorga de trabalho 20 expitel porque The falta os is necessirios para. produgio de win a forga de rabalho individual recust qualquer servigo, a menos qu seja vendida 0 capital. Ela nao funciona mais sen num con= eas na olieina Marx (1975b) também afirma que © modelo ta criow © atributo de monotonia ao traba- ila & excessiva simplificagio c climinagio. nseessidade de qualificagio do trabalhador Mesina freidede enorme do trabalho trn-se um. ‘meio de tortura, pois a méquina nto dispenss 0 ope- rio do trabalho, n ointerese. Toda apro- ‘dugto capitis, enquano eria nto somene vier, ‘na nine mais-valia, tem essa earucterstca: 0 ope Frio mio dominos condigdes de taba, € domina- por elas; mas essa mudana de papéis no ke toran teal eefetva, do ponto de vista \éenieo, senio eom 0 temprego de méquina (p. 113). © pensumento marsiano* opbe-se a0 de Smith sobre © sentido do trabalho, pois © segundo alribui um valor social i organizagiio deste, acreditando que © parcelamento das tarefas conduzira & abundincia geval, enquanio © primeira entende que o parcela- mnento das tarefas fem como objetivo o crescimento da mais-vatiatelativa, ao retirar do operiio um ren- ddimento superior durante © mesmo period de tem- ‘Aalunes (1999) e Lessa (1997), *impomante esetarccer que oadjetive “marxiine" sa Psicologia, Organizagoes eT * pgetiana, elacfonad ao trsbatho, foi diseutda incintmente por Mi Part discussbes sobre a quesiti da centralidade da trabalho nos lernvos marsisias-huckiesisnos obra dircinde Marx e Engels, enqusnto que o tema" se efere fou sistem de iins¢ fundumentos no materalismo histérico (consul, sobre ass thio no Brasil 33 po(Marx, 19756). Conseqientemente, oeteito social, longe de ser a abundancia geral, indesejavelmente & ‘aacumulagdo do capital de um fadoc a pauperiza das massas de outro (Marx, 1975b), Em Marx (1975b), 0 trabathador é submetido a exploragio por meio das condig6es materiais © socitis, 8s quais nfio Ihe ofereeem outra dade de sobreviveneia, Inclui, nos condi da submissio’ exploragio, a ex ma de exército industrial de reserva, Marx (1980) afirma que faz partedesse exército todo o tra dor durante 0 empoem que esté desempregado ott parcialmente empregado, Eclassifica-o-em Irés vit- FingGes: futuante, lalente e estagmado. A primeira variagio refere-se aqueles tabalhadores ora repeli- dos, ora alrafdos pela indstria, ou ssja, por aque les temporariamente desempregados. A segunda, re- fere-se & populagio trabalhadora rural sempre na iminéneia de trinsferir-se para a srea urbana, & medida que a produgio cnpitalista se apodera da agricullura. A terceira, a parce da populagio de acu pagio irregular que temem uma das principais con- Figuragdes 0 trabalho domiciliar. Esse “exéreito” lende # ampliar-se A medida que 0 incremento da acumulagao faz aumentar o nimero de trabullhado- ‘es supérfluos. Considera, enti, como contradigio inerente ao sistema eapitalista as queisas contra & falta de bragos, cnquanto mihares de pessoas esto desempregidas, porque a divisio do (rabalho o ‘acorrentot a determinado ramo industrial A exploricio & um dos pontos centras ni teo- ria mariana porque, segundo Mars, o regime capi- talista earactetiza-se por tomar produciia da mais- valia como finalidade direta e mével determ da produgiio” (Marx, 1980, p.78). Assim, a explori- fio, antes de ser uma distorgio do capitaismo, é ‘earacterislica inerente a ele. Em sintese, conelufmos que, para Mavx, 04 bbalho que deveria ser humanizador, sob o eapintits- mo €o seu contniio, pois na forma de mervadloria &: (1) alienante, porque o trabalhador desconhece 0 préprio proceso produtive e o valor que ares produto, além de nto se identificar com os produtos 1, Yamnamnoi, 1996), M anelli, Borges-Andrade, Bastos & cols. dle seu trabalho; (2) explorndor, devido 0s abjetives Xe prociagao da matis-valia vineulada a0 proceso de ‘scumuligao do capital; (3) humilhante, porque afe- la negaivamente a awto-estimy; (4) monétono em sia organiza ¢ contetido da tarefa; (5) discrimi ® Ponue classifica os homens i medida que tien os trabalhos; (6) embrutecedor, porque, longe de desenvalver as poteneialidades, inibe ou nega sun exisiéncia por meio do cantesida pobre, ‘epettivo emecinien das tarefas;€(7) subsmisso pela a passivat dhis earacteristiens do trabatho do emprego, pela imposigio ds organizagio interna lo processo de trabalho, pelts relagies sociais mais implas e, especialmente, pela forga do exéreito ine dustrial dereserva, Observamos cues obra marxiana se eonstitui numa mera critica ao trabalho sob 0 capitalismo, mas crin valores © novas expectat tem torno do trabalho. Marx entendia que o trabalho deveria ser humanizador, nfo-alienado, dign, que #ininlisse ao ser huumanoa sutisfagiio de suas neces- racional (com uma divisio baseada em eri ‘erie de igualdade entre os homens) e que se cansti- tuisse a Forgan vida das individuns, ;porlante pereebermos que tanto. éti- do trabalho, associa & primeira Revol usirial, quanto o Marsismo exallam a importincia tre outras diferencas, importa destaear que a defess do tratamentodo taba. tho como mencadoria desvalorizn a identifi {rabahador com o produto e o proceso de seu trae batho, ou seja, dignitica ganhar a vida trabalhando, ‘mas nao interesst em qué. A defesa da superagio da alienayio no trabalho permite compreendé-lo como stegoria importante na construgiio da prépria identidade do sujeito, O trabalho &, ao mesmo tem- Po, estruturainte para a sociedade e para o individuo, Adicionalmente, importa-nos destacar o que assinala Hopenhayn:a primeira Revalugio Indus ‘vial imprimiu no trabatho © paradoxo segundo a de um lado, a méxima sociabilida- Hes havia se reunido tantos seres fhumanos em um mesmo lugar para participar de mieira organizada na confeceao de um mesmo produtt; ¢ de outro, a miixina atomizagio do tr halo, pela orga reelada deste. Sob o ca- pilalismo, desde seat surgimento, esses dais prox essos sa eomplementares ¢ interdependentes ‘Comia histdria contada até aqui, expomos trés formas distintas de conceber o trabalho: aquela qual engendra de, pais mune: oriunda na filosofia clissica, a que emergiu junto com 0 eapitalismo e a concepgiio marxista. Cada ‘uma delas engendrada por um contexta socioeco- némico especifico, ‘A SECULARIZAGAO DA IDEOLOGIA DO TRABALHO Ahist6ria da formulagio da concepgio do w balho sob o capitatismo & demareada por suas pro Prins crises e pels suas formas de renovaciio. No arco de uma economia livre de mercado, da supe- agi da crise da décacla de 1870, vai sendo cons- truido 0 eapitalismo monopolista e/ou aligopolista (Drucker, 1975; Heloani, 1996; Hopenhayn, 2001), “Tal ransigfo foi marcida por forte recessio e pela sradual imposigio dos trustes e curiéis como ins AGncis reguladoras dos pregos e mereados. Ocor- Fa, portanto, concentragio Financeira, que no nivel «ia produgio se traduzia em concentragio téeni A orpanizagio dos trabalhadores cresceu durante ‘odo o século XIX, principalmente nos pafses con- ‘rais do capitalism, tornando mais sistemitica a for made resisténcia & exploragfa ocorridi no proces- 50 produtivo e complicando as relages dentro do espago da fbrica, Para Heloani (1996) a reordena- ‘glo do padro tecnolsgico que se sepuiu & segunds Revolugio Industrial foi mareada pelo.confito aber. {0 entre capital ¢ trabalho, “Neste contento (..) 0 ‘capital pretendia ‘sociatizar a crise stravés da dimni- ‘nuigao de salirios; as greves ¢ o crescimento do movimento de opasigio formam uma conseqilé ia inevitével” (p, 29), Adicionalmente, & impor- {ante lembrarmos que 0 século XIX € conhecido ‘coma 0 século do mo € di rio. E esse Conjunto de fatos socioecondmieos e politicos que ria 0 contexio favorivel ao Incremento ria arma dle yerenciar o trabalho e as empresas (administe io) e leva a elaboragio de uma sustentagio cient fica para a concepgio € organizagio do trabalho. E nesse contexto, wmbém, que surge a chamada se ministragdo cientifica, que tem entre seus expoen- tes Taylor e Fayol, Nes primeiras paginas de sua obra mais co- hecida, Prineipios da adwinistragdo ciemificn, ‘Taylor (1980) define, como objetivo principal dos sistemas em administragio, assegurur 0 maximo de prosperidade ao patito e, ao mesmo tempo, o mile ximo de prosperidde ao empregudo. A suposi de identidade de interesses & evidemte, poi Ga orm Fidade 20 tral tis na amp classifi entre as ts Zo de con A just temente en Iho. De ac precara sa quando des uido pelos batho impo Por outro Ir Ihadores de raylor dos tradicie pelos cientil use movin cessirias incficientes ‘método mai tarefa em sus decada mov ragiies, Radi ‘cugia do wal 8 gerentes radicionais tabulé-los, re 805, inst a ret usados p Na exec dle pensar px ininterrupian nto ida c0- (..) 4 prospetidade do erppreyidor nfo pode exit por muitos anos, se fo for acampaninda dt prospe Fidnde do empreyido c viee-versa ..) preciso dar ‘0 trabathador a que ele mais deseja altos sitios — ea empreyador também @ que ele realmente alaja = buixo custo de produgio (p. 31). Taylor nega, portanto, a dependéncia do pro- cesso de scumulagio do capital e de lucratividade i processo de exploragio do trabalhador basen dina ampliagiio da mais-vatia relativa. , por isso, classficado por alguns estudiosos (Anthony, 1977) centre 2s (eorias inlegrativas que se fundaim na no- de conciliagio entre trabalho e capital. A justifiengiio do seu trabalho assenta-se for- temente em sua avalagzo da “Vadingem" no traba- ‘ho. De acordo com esta avatiagiio, 0 trabalhador rocura sempre fazer menos do que pode e que, «quando demonstra fnteresse em produzit, é perse- suido pelos demas. Taylor considera, enti, 2 eli mninago da “eera*e das eausas que retardam 0 tea bho importante para reduzir 0 custo da producto. Por outro aco, responsabiliza a ignorfincia dos ad- ministradores como aliadh a0 prapésito dos teab Thdores de “fazer cera’ “Taylor prope assim at substituigio dos méto- «his tadicionais (ariundos éa experiéneia pritica) pelus cienfficas, com a adogiio do método dos tem- pose movimentex para eliminar movimentos desnc- cessirios © substituir os movimentos lentes & ineficiemtes por répidos. Acredita que hii sempre um mnglodo mats ripida e um instrumento melhor unto, énecessirin ma decomposigio de cada ‘aes em suas uperagiies minimase tcronometragem sdecala movimento da openirio na exceugii das ope- rages. Ridicaliza a dlivisio entre eancepgan e exe- ectgio do tradicionais ames dos tbalhadores, classificg-los, Iabuli-los, reduzi-tos a normas, leis ow férmulas: operirio completamente plane- Jislo peta diresio, poto menos, eam wm din de ante- eléncia ¢ gala hamem recehe, na malaria dos es 50s, nstrugies escritas completa que minudeneiam ‘Mtavefu de que & eneanegsdo © também os meios satlos para realizé-la (P51), Na execugi, o trabalhador deve ser poupado dle pensar para que possi repetir os movimenios inisierruptamente, ganhando em rapidez e exatido, Psicologia, Organizagdes e Trabalho no Bi ‘Tem, portanto, na padronizagz0, no parcelamento e ‘ma separagio da concepgiia da execugao do trabit- |hoos prineipais recursos instrumentais para aunien- {ar anto produgio quanto eanteole sobre el. E, sempre perseguindo o aumento da produtividadle & parlindo do pressuposto de que os homens ni sia Ccapazes dese auto-Selecionar, nem de se auo-aper= feigoat, propiie a selogio cient fica de teaballade- res e 0 ireinamento sistemiitico (Taylor, 1980). Heloani (1996) cham atengiio para o fato de que a dogo da selegiio eientifiea exige « exp ddeum perfil de trefas edo trabalho ps las, o que pressupde uma acumuligio saber sobre 0 desempenho da prod cago conjuntumente com o treinanento crit im espago pedagsgico nat fibrica de adesteumento de individues, aparecendo como um auxtlio ao-empre- ido para que desempenhe melhor a tarefa e, por conseqliéncia, passe a ganhiar mais. A aplicagiio do cconjunto dos prinefpios taylorisias condu, por meie do incentive salarial, © trabathador a assimitar 0 ‘desejo’ de aumentar a produgiia e reovientar stat percepeio para este aumento. Em sintese, « administragio eientifiva, apesar da pretensi visio integrativa (idomtidude de propyisi- to entre empregacores/empregaclos), alvibuindo um elevado valor ao trabalho érdivo, simbolizado como prosperidade, acaba, pelo métedo que advoy intensificar o processo de exploragiio e de alien Porque radicalizzt 1 monatonia entre o pe samento edt exccucio, ¢amplia a mais-valia relat A defesa da supervisto estritataz.em sia coneepyiin sdeum trabalho hierarquizado efou subordinade, ba seado em uma visio duaista do ser human. Ascontribuigoes tayloristas na eonsteugio da idministragio cieniifica sio complementadss por Fayol, Enquanto Taylor se ocupou em estu planejamento da exccugio das macrose preoeupanda-se com us fungies de werenciamenio, Para Hopenhayn (2001), a complementaridude enire as contribuigdes de Taylor e Fayol e a forma radical com que aplicaram seus prine por r to do trabalho quanto do trabalhador, que passou ‘user tratado como um entre outras falores de pro- dugio. Esse nivel deradicalizayio das eitados prin- cfpios simplitica o trabalho, reduz. os requisites de qualificugae e retira o sentido de velhos valo- Fes, como a hierarquia por idude ov por experién- 36_Zanelli, Borges-Andrade, Bastos & cols. cia, Hopenhayn sintetiza a fundamentagiio destas coniribuiges em quatro concepgées + Formalista (dt empresa): consiste em per- cceber a empresa como um conjunto de car- ierarquizados; sta (do operdrio): defesa de uma somodugio das personaliides is necessi- ack i + Naturalista (da organizagio do trabalho}: defende que 0 parcelamento dis trefas & ‘uma tendéncia natural € nfo uma consiru= S30 social; + Hedonista (da motivagio): tenta prever 0 comportamento, vinculando-o exclusiva- mente & remuneragio do trabalho. As atividades com os engenheicos da produgia. cembasavam-se nas mesmas idgias de necessidade de proveitamento maximo do tempo, entre outros re- cesses, buscando um rendimento miximo do traba- tho e, ao mesmo tempo, as condigBes (isicas neces- sivias pura tomato esforgo fisiologicamente supor- ‘vel, Perseyuiam, assim, os mesmos valores do ire bilho validadas pelo protestantismo aseético, porém revestidos de racionalidade cientfiea, expressa na metodologia de pesquisa utilizaca, com a observa i registro e anise do comportamento. ‘Termina- ‘am intensificando o parcelamento das tarelas, a8 exi gncias por eficigncia, bem como os aributos de Monotonia et falta de contetido do trabalho. Na aplicagéia das prinefpios das ubordagens integrativas, dentro das onganizagées do setor avan- «ado da economia da Epoea, conviviam-secom ques- (es, enire as quais: como escolher as pessoas para exercer us caryos/fungdes conforme plinejados? Como aduptar os individuos is tarefas parceladas paicronizaidus? Como disciplinar cada operério para isirantira execugio coletiva do trabalho? Que apti- dds o openirio deve ter? Que gistema de recompen- ss 8 aclequadio? Questdes como estas foram remeti= dis 8 Psicologia (ver cupitulos 15 e 16 neste lira). De forma paralela e independente do desen- volvimento dessas tendén ‘mas nt mesma perspectiva integrative e movido plas mesmuls preocupagdes (0 combate aos tem- Pos mortes), surge também o movimento que fi- ‘cout conhecido por fordismo, devido ao fato de ser liderado por Henry Ford, Estas coniribuigdes con- sistiram em inovagdes teenoligieas (mecanizaciio) € econdmicas (produgiia em massa afetando as normas de consumo e de vida), tendo tanto desdo- bramentos na organizagio do trabalho quanto na gesttio de pessoal (Leite, 1994; NefTa, 1990), Neff (1990) expde que o American System of Manufactures cresceu gradualmente durante a séci- Jo XIX, representando urn modelo para tado o mun dlo. Noenianto, na fabrieagiode armas, de de costura, de maq fnire outras, ocorria uma consecugii prec abjetivos de pacironizacio das partes das produtos. O objetivo era, além de controlar a q produtos, reduzir custos de reposigaio pela possibili= dade de promaver & manutengiio dos produtos 10 substiuirse as pegas defeituosas. ‘Tal substituigio seria tanto mais possivel quanto mais padronizada fossem suas partes e/ou pegas. Ford, na fabricngio. de automSveis, dew continuidade a tat modelo, po- +ém avangouna padronizagdo por meio de um canjun- (o de inovagdes, entre as quits se destaca 9 uso da ceadein de montagem sobre a esteira rokante (eriada pelo mecinico William Klann). A produgo na ex deia de montagem, desde 1913, implic + utilizagio de moldes, garantindo que as pecus fossem idénticas + controle permanente da exatidio das pegas; + uso de méquinas especializadas; + movimento das pegas ¢ seus subconjuntas zhu empresa através da esteira, eliminando 0 deslocamento dos operirios, 0 que zi nificava fluxo continua de produgia. Observerios que.esse modo de organizar 0 trae balhoestabelece o controle do ritmo do trabalho pela eadéneia da mquina e nfo mais pela super visto hu it direia (Leite, 1994; Neffs, 1990). Mas sui novagdes nao ficaram af, Para enfientar oajuste c tee oferta e demand de automéveis, Ford instaurou luma nova norma de consumo a pani da perseguigio. de seu objetivo de procluzir um automével barato part © consumo da multidio (produgo em mass) € de ‘uma poltiea de remuneragio que ficou conhecida camo five dollar day. Sobre a massifieugio da pro- dugio, Neffa (1990) ilustra que 1 empresu Ford, em 1909, produzia 18.664 nuiomsveis a0 prego de 950 dlares cada, Em 1920, 1.250.000 sutoméveis, a umm prego de 355 dolares cal Quanto i politica salarial, é necessirio esclare- ‘cer que, de um lado, estava associad ds intengoes de mud frent prob sesit engi sar ode dep seus tows ermpr ore: meni pres: ems! Ader apie sod empr traba amer econ devi meni seen queo difere torna neta oda engue mote seus? dutos veis, ‘conse dicay slosi dizer satisf taylor conte quee come pois Aim os ‘ndanga de consume de Ford, ede out, visava en- frentar os problemas internos da empresa referentes ‘#gerenciamento de pessoal. A empresa enfrentava pblemas de indi io e diffculdades de comuni eadaptagio dos imigrantes. Porisso al politica nicitivas do ere lode pessoal. O pagamento integral as empregaco depends alo 86 da sua produgio, mas também de seushibitos de vida em geral, Por isso, Ford implan- low adicionalmente um departamento social em sua ‘empresa, qucinclufa uma enorme equipe de investiga ddores que desenvolvia todo um trabalto de levanta- ‘mento de hibitos do empregado, na sua vida na em- Dress ¢ fora dela, ineluinde visitas ao empregado, emsuicasa, Os empregados cram avaliados quanto A dedicagio & familia, aos euidados com a ensa aplicagio do sulirio, aos hibites: de poupange, ao ssude bebidas alcodliens, entre outrasaspectos. Como. erpreynva muitos imigrantes, Ford desenvolveu um trabalho de eduengio por meio do qual ensinava aos seus trabalhadlres 0 idioma inglés eo estilo de vi wericano. Poi bastante eriticado por exercer um for (controle da vida integral das seus empregacos, Osaltos salérios pagos & as mudangas de estilo de vida provocatlas pela Ford, iniciaimente, incre- im.prodlugio, Posteriormente, constitufram- seem ciusas de diffculdades da empresa, & medida queas novos parties de vi dliferengas ras profissionais. Tss0 acabou {ormando acer a politica da empresa rival, a.Ge- Motors, que investi a partir do reconhecimen- tdi segmentacio do mereado de trabalho. Assim, enquanio Ford insistia na fubricagio de um Gnico ‘nndelo de automével,n General Motors diferenciou seusimodelos¢ inovau a comercializagio de seus pro- dlutas com a criagio da vend parcelada de automs- veis,finaneiada pelo setor bunestio. Comas polftcas de remuneragio do fordismo, conseguia-se manter os empregados longe dos sin. dicatos, enquanto 0 taytorismo mobilizava a ops ‘osindical durante década de 1910. Isso nfo quer sizer que os empregados estivessem exatamiente sutisfeltas, A mecunizacio mio se diferenciava do taylorismo em um ponto bisieo: oesvazinmento do ‘do do wabalho. ‘Tanto é assim que & Ford, quecomegou aproveitando mectinicos qualificados, com experiéneia de outras ineistrias, empregava de- pois uma massu de trabalhadores sem qualificagio. ‘A implantagio da esteira transportadora provocou Psicologia, Organizagdes ¢ Trabalho no Brasil 37 inicialmente 0 afastamento do trabalhidor de sous postos, chegando a ser‘detectada uma rotatividade dos trabathadores de 370% ao ano. A adogiio da politica ive dallar day ea criagao do departamento social rebaixou o fndice para 16% em trés unas. A {axa vollou a erescer no ano de 1918, com a inicio do ecrutamento militar. Os empregados eram aira- {dos pelos saliriose beneficios adicionais pagos pela ‘empresa, mas jomrada era referida como extenuan- tea tal ponto que se designavam as conseqiiéneias do trabalho na cadeia de montage camo firdites A quedi de rotatividade sob 0 ford contra também outras explicagdes na literatura Assim, Braverman (1974) relata que na Fard, aps 4 introduefo da esteira transportadara, com 0 0 cio sendo substituide por operagies parmenoriza das. repotitivas, abservou-se 0 “desuosto do tal thador", havendo abandono do emprego. Era a re- pulsa natural do trabalhador contra a nova espécie de trabalho, Porém, & medida que as concorrentes adotavam as téenicas de Ford, os trabaladores eram obrigados, devide ao desaparecimento de outras for- mas de trabalho, a submeter-se fquela As inovagdes trazidas pela equipe dle Ford tix veram forte impacto na organizagio e gestio do tra- balho, Porém, quanto a concepgio tradicional diy {rabelito, deram continuidade is mesma ids, in- (cnsificando suas caracteristiens (parcelamento, s6ncia de cficiéncia, monotonia, pobreza de contet do) de Taylor © Fayol. Sob Ford, o teatamente do {rabalho como mereadoriae seu carter instrume: ficam mais enfatizades, antecipando de cert for- ma 0 que veio acontecer na fase posterior, apts a Grande Depressiio do comego do século XX (1929). Importa tinda esclareeer que, emibora otaylori mo € 0 fordismo tenham sido claborados paral ‘mente, na mnaior parte de suas caracteristicas so se- ‘melhantes, oque leva mutes autores. trataremlhes ‘como um fendémeno complement. Heloutni (1996), por exemplo, refere-se aos anos 20 (do séculv XX) ‘como o perfodo de consolidactio do taylorismo-for- dismo, Concluindo, essas abordagens integrativ ‘ovaram efou reafirmaram a concepyaio eupitalis tradicional do trabalho, negando os antigonismos de classe que a andlise fundada na obra mariana ‘pontava, oferecendo a legitimidade eiontifiea que ‘offinal de século exigia esofisticando as dimensdes concreta (tecnologia), socioccondmnica e gerencial do trabalho, Partanto, essas abordagens 38_Zanelli, Borges-Andrade, Bastos & cols, vvierum substituir 0 papel de suporte ideol6gico 20 capi inieialmente pelo protestantismo aseético, quando este declinou em ‘eeitaygIoc aprovagiio social. Ampliaram-se as bases ‘da concepgio capital Estas eontribuiges, que efeti of da ideologin do trabalho, conseguiram a io posstvel por parte das empresérios eigio pelos irabathadores. Isso ido extintas, mas que o argumento {Genica-vientitica Foi agregada, O século XIX foi fambém um periodo Fecundo de elaboragio ideols- inclo eestruturando vérias formas de rea- silo, Entre elas, destacamos a da Tgreja Catélica, repercussiio nos paises de sua influéncia: em jeiclica Social Rerum Novarum (ver Des quit), do Papa Leo XI, ratifiea as pr mnissas escolisticws de desiguatdades intrinsecas enire os seres humanos, o carter expiatério dotra- balboedesenvolveargumenio.em favor da concilia- 0 entre trabalho e capital, eondenandea violencia Ucsimbos e censurando tanto 0 descumprimento de brigagiies do trabalho quanto o pagamento de sa- jo insutficientes para assegurara exisiéncia. Eneielica social Rerum Navarum Dovido & sua repercusstio @ & Importdncla de docu ‘mentos desta nalureza para o8 paises nos quals pre {dominam a regio calsica, muitos autoras que clscu- {em a histéria do trabalho ou © seu concelto tém se ‘dato em sua andlse. Assim, Hopanhayn (2001) ar- ‘umenia que tal Enciciea se constitu am fre erica 4s omndigSes de trabalho para a época. Biol @ Nord (1980) atirmam que revoia que a igre catdlca havia absorvide uma vis8o extrinseca do Wrabalho, poraue o ‘nalsa dentro de um quadko soclal amplo no qual 0 {econa qualidade de vida geval, na jusica ena harmo- ‘la socal nao se centra no irabalho, OU seje, no is ‘ole seu contetido, Aniunes (1989) desteca a inuén- ‘a da relerida encicica papal em uma cartenta sind cal iafiana, que se furdamentava na kléid da oolabo- agao social, rejeliandoa vieBncia o a lula de classes, ‘Pendmena histrico dos timo: sécules, pelo qual as erengas ¢ instituigés eel Filoséfieas e insttuigdes le Outro destaque das reagdes do final do século XIX e inicio do século XX foi a fetlidade sindica ‘Mukipticaram-se as tendéncias, entre as quais cres- ‘ceramas correntes anarquistas esocialstas (Anthony, 197). Todas elas partiam do papel central do tra tho na vida das pessoas ¢ na organiza da soci de. Surgiram os movimentos de greves zerais, Data esse perfodo o surgimenta do sindicalismo no Br com os primeiras niicleos operirias em Sio Pauloe Rio de Janeiro (Antunes, 1989). Araijo (1982) rela (aa inexisténcia de qualquer politica salarial no Bra- sil neste perfodo eo intervencionismo do Estado em assuntos econdmicos. O governo simplesmente res pondia aos problemas, Predominavam as péssimss condigdes de trabalho como a inexisténcia de qual- quer assisténcia médico-hospitalar, extensas jor das de trabalho, ausénein de descanso semanal. Com ' sucesso das greves do inicio do século, em 1917 ‘surgem vétios projetos de lei regulamentando otraba- Iho Gormada de trabalho, trabalho feminino, trabalho demenores, creches em estabelecimentos industri ccontralo de aprendizagem). Todas estas regulamenta ses focalizavam o trabalho urbano, minora em um pfs erinentemente agroexportador (Fausto, 1986). period sobre o qual estamos tratando cons- tituiu-se em um dos mais efervescentes da historia (da humanidade. Do primeiro conflito bélico que en- volveu maior parte do planeta até ns ucontecimen- de Outubro, em 1917, na Raissia, desencadeou-se uma reagio emca- deia que dividiu o mundo em dois blocos antayéni- cos. Apés a Segunda Guerra Mundial, esta divisiio engendrava a chamada Guerra Fria, que marcou pro- fundamenteas relagdes geopoliticas até Gltimo quar- todo séeulo XX. De forms mais simples, podemos dizer que, a partir da revolugio, espalhou-se o cl ‘mado “medo vermetha” no mundo ocidental. A maior crise econdmica do século (a Grande Depressi), a ascensio da nazismo ¢ a Segunda Guerra Mundial siio acontecimentos que marcam a primeira metade do século XX* e que tiveram forte impacto no mun- do do trabalho ¢ nas formulagbes das idéins sobre 0 tema, como veremos na seo subseqtienie. josas se converteram em dour is (Aurélin Buneque de Holanda Ferreira, Now Diciondrie da Lingua Portuguesa) ‘Pars quem deseja compreender de forma mais nprofundada o uadre saciaecondmicoe poltice do inicio do século XX, ceriamente & relevant: la do er sue Hobsbawm (1995) faz.um importante balango do século XX, Para uma introdugio 36 ‘Wo imperiatismo”, ecomendamos ver Sader (2001), A CONSTR DO BENE: Ostia Figuraram metade do s do progress: ‘mo e um Importa nqu po gerencial tal situaga ‘neira fata & marcante, s do capitalist, ferimos ante Smith. Sepur @o pais-guem Fegulado incr emptegoe d incentivarane ederam nov. como nece. assinala que programa de do pleno ery sua tag, conhecidas Okeyne de trabalho d macroeconén ‘mereado de varidveis mae emprego com neo, derivacto. tuedemandac 2 situago de ‘manda a regs gundo Alexa tmacroecondn correspond 3 fatores de pro: 05 gastosem mento. An ‘arelagio ent nivel deconst arrecadagio d rior Porianto, de rabalno in nal do sécul dade sindical, is quis cres- tus (Anthony, ural do traba oda sacied 5 perais. Dats mmo no Brasil, 1 S30 Paulo e (1982) rel kil ag Brae lo Estada em esmente res. as péssimas ncia de qual- ensas jorma- smanal. Com, lo, em 1917, undo traba- 0, trabalho sindustriais, egulamenta- woriaem urn usio, 1986), tando cons- ct hist lco que en- ontecimen- tubro, em wwioem c antagini- sta divisiio nau pro timo quar 5 podemos, Hse 0 ch al. A maior pressiio), a 8 Mundial ira metade 0 mun- as sobre 0 e. y doutriaas ran. culo XX, dug A CONSTRUGAO Da SocIEDADE DO BEM-ESTAR Os faos hist6ricos referidos anteriormentecon- Figuraram un cenirio de comogdo social na primeira metade do século XX, demandando uma retomada «lo progresso eeandmico, de produtividade/eonsu- mo ¢ um artefecit !mporta aqui explorar o que foi construfdo no cam= po gerencial e sacioecondmico para a superagio de I sittaeZo afeiando © mundo do trabalho, O pi ‘meiro falo a ser sublinhado e, eertamente o mais mmareante, so as mudangas no plano econimico, desiacando-se af 0 Keynesianismo que surgi em ‘opusigio is idgias liberais que dominavam o mun- clo capitatista até aquele momento, as quais nos re- {erimos anteriormente citandlo us idéias de Adam ‘Smith. Segundo Pinho (1983), Keynes, negociador do pis-guerra inglés, consideravao cupitalismo nio- regulado incompativel com a manutengao do pleno emprego e dit estabilidade econdmica. Su incentivaram a reguligio do merezdo pelo Estado ederam nova eonotagiio xo consumo, entendendo- ‘como necessirio a prosperidade, O mesmo autor alt que as obras de Keynes apresentaram um programa de agio zovernamental para a promogio do pleno emprego c tiveram tamano impacto que stu atuagio, ¢4 de sous seguidores, pas vonhecids como “revolugiio keyn: O keynesianismo conduc aan ise do mercado tbalho de um phino microcconémico para um ‘macroecondmico. Compreende que at diniimien do de ‘mercado de trabalho esti subordinada, cis macroeconGmicas. Rejeitaaiddia de pleno emprego como uma situagio de equilibria esponti- nn, derivado exclusivamenie do cquilibrioentreofer- edemandade emprego; em vez disso, defends que a siluagio de pleno emprego, para ser alingida, de- ‘manda a regulagio plangjada e governamenial. Se- zundo Alexandre ¢ Rizzieri (1983), 0 equiliri maeroeeondmico, ou o equilforio da tenda nacional, corresponde & eoincidéncia entre a remuneragao dos falores de produgia (saléios, jures, luero e aluguel) 0s gastos em bens e servicos de consuitioe investi- mento, Aunilise macroeconémicn estudaeestabelece ‘relugio entre varidveis amplas da ceonomia, como nivel de consumo, investimento, gastos do governo, srecudagio de iribulos ¢ balango do comércio exte. ‘ior Portanto, compreende a dinimica do mercado de trabatho inserido na economia nacional como umn sma sériede Psicologia, Organizagées e Trabalho no Brasil 39 (od, de forma que a capitaista determina prego e na mesma proporcio determina saliria real. Por is, recomenda. fixagio de um marco-juridico-legal con. sistente que, impondo limites a assuntos como a ex- tensa ds jornada de trabalho, o sal de sakiios indiretos, promave. repartigio dos panhos de produtividade ¢ a estruturagii de assisténcin sos esempregados ¢ acidentadlos, Leite (1994) resume © assunto, afirmando que 0 sistema proposte por Keynes estabelece um equiliorio bas social en ido na proteyia istribuigio de ganhos de produtividade, nos explicitar que o modelo keyne no, ao abordaro trabalho deniro de um eanjuni mais amplo de varidveis, traz implicita una coneepgig ‘mais complexa do prdprio trabalho (em eomparagao com as abordagenschissieas e ncoclissicas). A nate Feza do tribalho, seus requisitos e o& resultados wy rados para o individuo no variam necessariamene Juntos, uma vee que se associam eada uim desses as- pectos (¢ todos) a outras vari Um ponto central na abordager keynesiana da economist é a nogio de ciclo progressista ou Virtuoso, no qual o cansuimo gera demands de pro- dutos, que gera empregos ¢ estes, por sua vee, mantém ou aumentam os niveis de consume. Tal iclo progressista eonsiste em fazer girar ou mo- vimentar os recursos econdmico-financeiras. Para O ciclo ser mantido, demands novos atimentos de produtividade do trabalho, o que & buseado no taylorismo-tordismo, o que recupera assimo moda de organizagto do trabalho da fase anterior dentro de novos marcos socioecandmicos. Seguramente oleitor jf deve ter se dado conta que tuis idgias s0 opostas & economia chissiea do onto de visia dos valores subjacentes: (1) partiue se de uma posigito que vatoriza o trabalho produti= vo (segundo o conecito de Adam Sinith), colocan. do.em pélos opostas o pablico eo privido, diser nando o primeira, e que, exalla a poupans (reli gado pelo protestantismo); (2) passou-se a uma po. sigo que valoriza positivamente a intervengiu do Estado e, conseqiientemente, 0 serviga piblicocos hiabitos de consume, Em outras palivias, Keynes lucidou a inter-relagio entre paiblica e privado, taridade elou interdependéncia, Sua concepgiio nao &, pros rém, contradit6ria ao tayiorismo nem a fordismo, enquanto modelos de organizagio do trabalho. Em Telagio a este Gltimo, o keynesianisne vem, inclu 40 Zanclli, Borges-Anérade, Bastos & cols. sive, Fortalecer sits notmas de consumo, a nogio e produgiio.em massa ea politica de remuneragio, Enesse contexto de buscar estabelecer um ci- elo progressista na economia e de aceilagdo da ne- cessidade da reyulagto estatal que mudaram também aspectos das relagies de trabalho. A mobilizagioe a {ta dos wabathadores organizados conquistaram o reito de organizagio ¢ de ne- gneiugo coletiva. Heloani (1996) demarca essa ‘muudanga com alguns futos: os sindicalistas exercem presslo, alogando direitos de organizagio e de nego- iogio coletiva;é sprovado o Wagner dcr, legistagio ma o direlto de liberdade de organizagio Para os taballaclores; ocorre a eriagio da National Labor Relurions Beard para acorspanhar ts negocia des; descnvolve-se um movimenta de ocupagio das hibricas a partir de sctembro de 1935, culminando ‘com a greve nia General Motors Corporation (que, em abril de 1937, accitou as convengics colctivas como ins sociugTo salarial). A relagio al fund-se na busea do plenoemprego, mu cleva- Is Femunerugies, no emprego por tempo com- pleta, estivel ede contrato por tempo indeterminado, nportincia dos incentivas econémicos eno pacio social fuseado nas eonvengées coletivas de trabalho, Para estudiosos da escola regulacionista (ou institacfonalista) francesa, como Lipicte (1991) e Neff (1990;1995), surge, portanto, um novo mode- lode desenvolvimento apoiado no seguintetripé:(1) onganizagSo do trabalho sustentada no taylorismo- fivelismo; 2) regime de acumulagio do capital soba kigica maeroecondmica (Keynesian), que requer 0 estabelecimento de um ciclo progressista da econo. © (3) modo de regulagio de conllitos com larga io soci, regras de mer- blico, etc). Tal modelo tem na ‘convengies coletivas de trabalho seu principal in tramento pau lidar com es contitos eapital-wrabie tho, 81 esve modelo que se designa comumente de tuo co Bem-Estar (Welfare Stare), de Bstado-Pro- Je compromisso Keynesinno ou, ainda, com bromisso forsts, Liepitz prefere o titimo termo, Porque tom come pressuposio bsico da modelo wt ‘conextoentre produgiin em massa crescente comcon- sumno de mass eresvente. Além disso, iode um modelo de vida americana, fundado de felicidad por meio do aumento do con- ni de merendorias por todos. ‘\aplicagio deste modelo de desenvol to levou a una fase de en “entrada progresso nas dé- cadas de 1940 ¢ 1950 nos paises centrais do eapita- lismo, de modo que ficou conhecido como a Idade de Ourodo capitalismo (Lipietz, 1991). Nos paises subdesenvolvidos, (i tomado como um ideal a ser sleangado, rganizagio da trabalho, esse modeta sig- nificou a consagragio da administragio clissica, expressando as cisbes desta no tempo e no espago. fisico da empresa, ou seja, delimitando espagas es Pecificos para as tarefas de concepeio, desenho, programugio, controlee execugio, As decisdes so. bre concep¢io, produgio, gestioe comercializagio ‘correm em geral em um espago totalmente separa do da fibrica ou da oficina. Cresce em importincia © papel atribuido A mecanizacio ¢ is inavagdes fecnolégicas, que passam a se consttuir no prinei- pal pilar de busca de aumento de produtividade. A novidade nesse paradigms €o estreitamento do Vineulo entreconsuma.e produtividade, 0 que, na elaboragio das concepgdes do trabalho, representa ‘uma &nfase em significados instrumen salirio © do consumo, beneficios sociais e se dade). Mantidas as cisbes do taylarismo, 0 representa exclusivamente insirumentalidade para aqueles que o executam ¢ possibitidade de expres- sii dt personalidade para os que cuidam da sua con- cepqio e gestio, Pura os primeiros, essa instrumen- talidade poderia tomar a forma alienante de troca da possibilidade de expressio pelos ganhos instrumen- {ais (elevagao dos satirios, programas de beneticios sociais). Portanto, mantinham-se as contradigaes j lisadas pelos teGricos marxisias. Ou seja,o trabi- ‘ho continuavaa ser traado como unia mercadoria & permaneciam seus atributos de alienagiio, moncto- nia embrutecimento, Dessa forma, so mantidas eritieas sociais © 0 desinieresse do trabalhador peta tarefa em si. Além disso, a mio-de-obra dispontvel Tareava, © que era causado pelo idea! do pleno em- Prego ou pelo desfalque produzido pelas guerras, entre outras medes. Essa realidade tornava o geren. ciamento do wabalho dentro dz empresa mais com- plexo. Diante de um trabalhador com miais poder de bbarganh, a qualidade do desempentia e da dedica- & um apelo ideoldgico mais sutil & impor ¥ncia do trabalho, Da mesma forma, a varity do ddesempenho entre os individuas demandava uma ex- plicugdo mais complexa, E neste contexto que, sunclo Anthony (1977), 0 gerente de pessoal gana, ‘tos poucos, nova posigio de destaque. E, X medids ‘quea sua profissionalizagio ganha énfase, diversii- io en confis: cial po. refore: monito ce legi que, dt ativid deere girame (pores organiia listado nal noe trabalhe priedad mentee An mentage agemd que hay cos, set téenicae centris dos 0 1 0 econt focalizay deuce rate da pois, crc asciénei nal da dn Nes lasorgani motivir? parar ger Como as melhor § Uocapita. 10a Idade jos paises ideal a ser odelo sig- ckissica, no espago pags ¢s- desenlio, cistes so- alana novagies ctamento “oque. it epresent (buseado e seguri- trabalho fade para le expres- sua con- strumen- etrocada istrumen= igs 10 trae eadorige isponivel leno em- ais com poder de 1 dedi A impor- riagaio do Psicologia, Organizagdes ¢ Trabalho no Brasil 4 coquelhe éoferecidoem suporte tal como equi pedepessoal, cnsino especializado e treinamento. A influéncia das cigncias humanas oeorre numa dire- ‘plo em que a continuidade da exortagio seria uma no pe- envolvi- aberta, clara e manifesta, como veremos na sega subseqtiente. Viviamos, entio, simultaneamente,o momento de gldria do modelo de desenvolvimenta do Estado do Bem-Estar eda fetilicide dos mo vimentos contes- {at6rios, Tratava-se de um confront social devises pacialmente antagGnieas que revelavam a plurali- dade ¢ vivacidade de nossa ociedade, Parcialmente, porque estivamos vivendoa mesma conlemport Alage hisrica, compartiliando alguns valores eidsias como, por exemplo,n eredibilidade no progresso, no avango teenokigico © nt construgio de um mundo melhor. Com esses recortes, lembrimos que o apoges do gorencialisma e 0 inicio de seu esgotamento vcor- ‘eu em um ambiente sociocultural prenhe de euforia com 0 progresso que se intensifieava, pla fertilid dee vivacidede das contestagies Fundadas nas ins Aisfagdes coneretamente vividas e pela eredibilidade vi ipa construed de um mundo melhor, Deixamios, entéo,assintlado que, no calor deste vivo erica debate na sociedide, comegam a ser gern dososconhceimentas téenicos/ientfficos que vinham conlradizer o paracigma fordistvkeynesiano esurgit 48 eondigbes conjunturais e as estruturas secionga- jzaeionsis que consumava seu esgotamento. DO ESGOTAMENTO DO MODELO ‘TAYLORISTA-FORDISTA AS NOVAS CONCEPGOES DO TRABALHO © quarto final do século XX € marcado por tum imenso canjunto de transformagies histéricas que abatam os contendores da “Guerra Fria", De parte estt o colapso do “socialism real”, po Aquela divisito planetiria em dois blocos staque sobre capital e eapit léncia do padriio de desenvol- vimento capitalista tratado na seg anterior, o Es- tudo do Bem-Estar. O velor primordial para o definhamento do Es- lado do Bem-Estar deve ser buseado no interior do prSprio modelo. Oliveira (1988, 1998) localiza-o exalamente na regulsgZo estatal da economia, pela «riugiia do fundo piiblico, o cerne de erise. Com o financiamento do capital ¢ da reproduc da forga de trabalv, seria introduzido um pressuposto da act- rmulagie que € externo & equagio da reprodugiio ea- Pitalise, que nd se wiloric. Pressuposto, mas antite- Psicologia, Organizagdes ¢ Trabalho no Brasil 45 Gpital e capitalismo Istvan Mészéres (2002) cefende uma insligante lese (enles f anunclada, sem a soisticago tecrica vo eser- ‘torhngaro, por Kurz, 1892) de que capial ecapiialsma ‘fo fenimanos distnios, represeniando amibasas.cises do fina do $éctl0 ~ co “Socialism rea" do Estado do Bam-Estar~, facclasda mesmacrisedo capil. Ambas etiam resultado da incapacidada de suparago do eete ‘made sociomelabolismo do capital, Muito se escrevet sobre o colapso Uo mundo sooalsta;Indiearnos, ene ‘outs, as Cololéneas de Blackburn (1992) e Sader (1995). Para uma invodugzo as discusstesda charnada “wise do marxismo", recomendamos Baudouln (1991) ‘Nello (1883). Sugerimos, também, aleluca da inloros- ssante discussZiode Rufin (1991) sobre uma nova dhiséo ‘mundial om bloeos (0 “impr” @ 0s “noves barbsaro=) seda reprodugio do 1,0 funda publica se eons tituiria no “antivalor” © na “antimercadoria™. Ten dencialmente, a exiggneia desse pressuposte levaria {i implosio do sistema produtor de valor, designada por“crise fiseal do estado” (Afonso ¢ Soest, 1977), Além dessa expli se, muitas outras so apresentadas na lteratur vavelmente silo complementares ou faces diferen- tes do mesmo fendmeno. Um modelo complexe, iparado em virios pilares, construido historic: mente ¢que gerou bons resulladtos por umn perfado considerdvel, no sentido ce que impulsionou a de- senvalvimento mundial a niveis notadamente elev: dos, também apresenta um pracesso de esgotame to complexe e/ou associadoa muitas eausas, Assim, as demais explicagties podem ser resumidas em: + Odéficit comercial nos Estados Unidos ena Europa a partir de 1961, que terminou por AAcentuara pressio do capital sobre os sal 0 (Heloani, 1996), somato aus eleitos dt Guerra do Vietnd sobre o délar eA instabil dade financeira americana resullox no colap- sodosisten de Bretton Woodse nd dda hegemonia americana (Matioso, 1995). + O estilo de gerenciamento do tra associnde to modo de or rista-fordista conduaiu as empresas a um gizantismo tal que estas perderam a Mh bilidade necessaria para acompanhar as tendéncias de mereado, assim como tor- AG Zanctli, Borges-Andrade, Bastos & cols. ‘now a administragZo exiremamente com- plexa e cara (Rebitzer, 1993), + As perdas em produtividade em decorrén- batho, com as aceleragdes do ritmo de tra balho e/ou o nfio-atendimento de suas e pectalivas de recampensas socioecond- ul Tuga manifestava-se de virias somo 0 absentefsmo, a rolativi- dade & 0 aumento dos refugos. Manifest nck na recusa juvenil ao traballio dos requisitos © de seus postos incompatficis, educitgio que tiveram acesso (Antu ‘es, 1995, 1999; Braverman, 1974; Heloani, 1996; Lipietz, 1991; Leite, 1994) + A.queds dos ganhos em produtividade em ds a dla expansiio das lutas sindicais, al dit dcr de 1960), ¢ do limite da apavidade do modo de organizagiio do tra balho combater ps tempos mortos (Lipietz, 1991; Matioso, 1995), + O crescente proceso de internaciona- Jizagiio du economia, reduzindo simulta Reamente a hegemonia norte-americana ¢ ae cicniis (Mnttoso, 1995). ‘Segunda Matioso (1995), conjunto de cau sas estruturais associadas 8 erise manifesta-se na forma de ruptura com 0 eompromisso keynesiano, ando por stta vez.0 modelo taylorista-fordista, de urganizagie do trabatho, Ou seja, este cltima, miiximo de gerarereseimento, com- hatendo tempos mortos pela aplieagio dos seus Ho oferta uma erise internaeional quanto & 2. Adicionilmente, chama i reflexio 0 falo de que i erise do modelo, apesar de instalar Datir dat metade dos anos 1960, como # mai das ao Fenémeno, enquanto fato de origens estruturais plisese somente mais adiante. Corroborando io, Anderson (1995) afirma que o sso do Estado do Bem-Estar tor me nit segunda metade da décadn de 1970: 9 mundo capitalista entra em profun recessio, combinando baixis ta toe altos indices ce inflagio. Para Lipictz (1991) € Ramos (1992), 0 choque do petrdleo, no inteic da década de 1970, dissimulou a real natureza e a ubrangéneia da crise eeondmicn, E oi nesse lapso de tempo, entreocrescimento daatengo A crise ea consirucio das reagies, que as criticas humantstieas 20 madelo de desenvelvimen- to do Estado do Bem-Estar se acentuaram, abrindo uma nova diseussio sobre a eancepetio do pa trabalho e de sew papel enquanto categoria soc estruturante da vida dss pessoas e da prépria socie- dade. Sia desta fase publicagdes de impacto impor- lante (por exemplo: Braverman, 1974; Gorz ecola- boradores, 1980; Gorz, 1982; Tragtenberg, 1980). ‘Tal literatura, que tem como um de sets funda- mentos o pensimento marsista sobre 0 trabalho, ‘mostra que © seu tratamento como wma mercadoris (atraente pelos resulta esvaziado no eontetdo) e as demas ex clucidadas por Marx (alienante, embrutecedir, mo- ndtono, repetitive) se aprofundam fortemente. ‘Tragtenberg (1980) tece forte erica i atuagio dos psic6logos vinculados ao ehamsda movimento das relogdes humana, porque, segundo ele, tal movimen- {0 tende a reduzir os problemas de canvivio das in dividuos com o trabalho as suas manilestagbes nas relagGes interpessoais, desprezanda « fata de que estes sio construfdas 10 contexio sacivecondmica ‘naquele caso, sob o compromisso fordista. Pinon & Querzola (1978), Gorx (1980) ¢ Robbins (1978), entre outros autores, resgatam contribuigGes da Psi. cologia, entreas quaisasde autoriscle Argyles, Likert, MeGregor e Herzberg, Essas contribu in de espagos de autonomia, recanheci- ividade para a procutividade do tra Ihadlor, © desperdicio das poteacialidades humanas ismo, a importancin das nogdes de enlarguecimento ¢ enriquecimento do cargo, 0 im- pacto dos estilos de lideranga no relacionamenta interpessoal e no desempento grupal, abrindo bre- ‘chas nas relugSes de pocierem suns bases de concen- tragio do suber para a reapropriagSo, por parte do {rabalhador, do seu saber fazer. O leitor poderd ver mais aprofundadamente esses temas nos demais pitulos deste liv (especialmente nos eapitulas da Parte If). No campo de sade mentale trabalo, des- learse a repercussio de estuddos como os de Jada (2987), sobre os efeitas do desemprego sabre o bem- estar psiquic: (1983), que, monstram qui Iho afetam ea Nex oe canirétio. Gore (19 do, abre ura dossando, de ‘marxismo. Pa cxdoriasobac valorde troea dendo a capa estruturante d dade. De oui Ihoedesem em decorsénci cava a necessi parem-se em contao bem-e das eategorias superar subr Imports estayam prese a, de Arent neste periodo, ‘es disponive antadas pela volve sobre fa siste em todas realizamos sin ‘euidar da case, tos para 0 cor ‘consumo imec nado diretame grupo de conv ‘auloconsomer no das mu implica a proc ‘de maior dura peda. para propria cass, deste valor de ago que signi: too mundo e, rofunda scimen- 2(1991) 10 infec wreza ea, cimento s,queas vimen- abrindo préprio a socice impor. ecole 1980). funda ubalho, cadoria, we risticas 0 im. jento bre- cen Psicologia, Organizagbes ¢ Trabulho no Br psfquico, e os estudos de Kohn ¢ Schooler (1983), que, por meio de design longitudinal, de- monsiram que complexidade dos postos de taba Iho afetam earacteristicas de personalidad, como a Alesbitidade intelectual ea aulodiregio, mais doque contro, Gorz.(1982),em seu livro, Adens ao profetaria- do, abre uma discussie ampla sobre o trabalho, en- dossando, de um lado, as crticas que baseades no ‘narsismo, Para Gora, o trabalho, tomo como mer- ‘exdriasobo compromisso fordsta, valoriza-secomo Vilor de troca ¢ iio pelo seu préprio conteido, per- endo a capacidade dle se consttuir numa eategorin cestraturante dt identidade dos individuos e da socie- dude. De outro lado, anuncia 0 fim da utopia do tr bullae desenvolve erflicas a organizagao trabalhista ‘em deconéncia do sex canter corporitivista, Desta- tle de as entidacles sindicais preacu- prrem-se em desenvolver ages que levassem em conta o bem-esta da sociedade como um todo, eno is categor icas que representam, superar io 40 compromisso fordista. Imporia-nos deslacar que parte dessus idéia j ‘slavam presentes em uma obra, A Condigd hana 1a, de Arendt (1958/1993), que gunha repercussio feste periodo, quando surgem boa pate das tradu- gdesdisponive vantadas pl ing que desen- volve sobre lnbor, trabalho e ago. O primeiro con icem todas as alividedes rotineiras ¢ cfelcas que realizamos simplesmente para a manutengio da vid ‘uidarda easa, organizar objetos pessoas, clher int {0s para © consumo pessoal, buscar alimentos para ‘consumo imediata, ete. Ouseja o labor esti relacio- nuulo diretamente & sobrevivéncia pessoal ou de um rupo de convivénciaimediata, As atividudes que se suloconsomem!® ao se realizarem e & dependéncia soreino das necessidides. Enquanto isso, 0 irabalho implica a produgio de valor de uso, portanta, algo demaior durabilidade, por exemplo: modificar uma Pedra pra continuar ulifizando.s como urn instru ‘mento, pintar um quaidro‘e usé-lo para enfeitar nossa Prdptia casa, cle. Impliea também a transformagio deste valor de uso em valor de troce. E, por fim, 2 significa tomar inicitiva, prem movimen- 1.0 mundo e, portanto, 0 que nos insere no mundo ides com um Fim em si mesmas. humano, ou seja, produ. a condiggio humana. A ago ilo se coneretiza necessariamente em wim produto concreto, mas abrange a palavra e a agio politica © Cidad. Mas, nesses termos, Arenal reduz.o trabalho 10 emprego sob a regime eapitalisit, como dif proce: diferen- t8ncia bra ou azo para Odebate sobre a formagio da renda repse,ain- 4a, questdes relativas & qualificugio e a “em- Dregabilidade” (ver Destaque a seguir). Segundo © Banco Mundial (1995), “entre 1970 ¢ 1992, a por- cenlagem da mao-de-obra mundial correspondente ies cle renda baixae média subiu de 79% para ‘correspondents parcela de miio-de- bra especiatizada im -)saltou para quase a metade do total global” (p. 59), Portanto, houve um ineremento da particfpa O mereadode tribulho do Brasil parece espethar ‘avaliagio do Banco Mundial. Regisiramas qu, na tikims década, houve queda do indice de analfabe- tismo, elevou-se @ acesso geral 8 educagito, embora ‘ievasio escolar mantenht-se ainda em niveis muito alles. Como a oferta de emprezo, no entanto, no {resceu proporcionalmente, intensiticau-se.o proble- de incompaibilidades entre nfveis instcucionais de um lado e cargos e salicios de outro, 0 queé mais evidente em alguns setores econdmicos, Por exem- plo, Sorate ¢ colaboradores (1996) assinalam que ‘wma. amosira de 338 bancérios, 60% dos que traba- Ihavam no setor privado © 80% no setor pablica ji baviam cursido ou estavam cursando o nivel superiox, ofojencontrada nenhumarelagio entre@ nivel de idade ¢ as fungbes. Aconcepetio acentuacamente instrumental do (rabalho sob o gerencialismo cria, portanto, tenses (contradiges) em torno da busca de qualifieagao pela instrugdo formal e © contetido dos pastos de trabalho. E, adicionalmente, sabrevivia na Bra ‘Veducagtio para larga proporefo da popula- ‘ondigdes materiais do trabalho Femuneragao), tornando sem ssociadas 2s novas demandas ¥ moderno da economia, que viveneia ou tenta imptantar novas formas de gestioe deorganizactio no trabalho, ei inseguranga no em. progo, que incentiva as pessoas a buscarem qui bayGes que Thes fucilitem resolver necessidades de ‘ecolocao, Tus iniciativas no plano individual sio reforgadas pelo discurso da “empregabilidade” que supie que eada tim é responsivel por se tornar cempregivel. Compete-nos, entto,questionar: queim- Psicologia, Organizagoes ¢ Trabalhw no Brasil 53 plicagties (ém esta situago nas politi mento e de desenvolvimento de pess lade de tro par pessoal? Esié ocorrendo uma tendénci de tran feréncia da responsabilidad da empresa para oindli- viduo? Quanto o préprio individuo deve investir na suaqualificagio? Quanto compete & organizagio? (empo gastoem se qualificare requalificar €um tempo de trabalho? Treinamentas, cursos, congressos €ott- {ras formas de qualificacdes além da jornada de tt batho significam jornada de trabalho sio mais algumas quesiGes que permeiam o mundo do trabalho atual. ‘Seguindo na tentativa de earacterizaro {os conjunturais que modelam o mundo do trabalho, E mister indagar: como esté o controle dos acidentes das docngas do trabalho? importa, entao, informar queo Banco Mundial (1995), baseando-se em dadas da Organizaggio Mundial de Sade, assinala que apro- ximadamente “3% do Gaus mundial das doengas de- ‘verse 1 cada ano a lesGes e mortes evitiveis em ‘ocupagdes de allo riseo e a doen c renies da exposigio a substineias xieas, rv padrbes de trabalho perigosos" (p. 87). No Brasil, Suntos (1991) demuneia que a re- duzida fiscalizagao dos aspecios de seg trabalho, 0s baixos niveis de da populagio, o tratamento da demissie, soman- do-se a uma politica paternalista (em relugaio ao empresariado) conduzem o Estado a areatr com as despesas decorrentes de a doengas profissionais efou ocupacio das empresas. Esse falo contribuiu para que os tra- balhtadores c seus sindicatos aceitarem trocar a falta de udogo de medidas preventivas por adiciona de insalubridade c periculosidade. Santos denuncia também que, geralmente, a aplicagio da legislac’ tha no Brasil ocorre sem sc levar em conta a tota- lidads da problemitica sobre a camplexidade d ceausas que induzem 0 tribal ita trabae Ihar fora das normas, Dessa forma, os probles Inador, antes de screm organizacionais, silo questies de poltticas de suide publica. De acordo com cs 0 {10s aspectos levantados sobre 0 contexte do traba- Iho~desmaniclamento da estrutura sindieal, lesem- prego, lula pela empregabilicude individual -, a ten- déncia €a manutengao da troea de trabalho arti ddo por recompensas salarais e por merumiente m fide do traba- ‘nelli, Borges-Andrade, Bastos & cols, ualitiengo-empregabilidade A qursifo qualicago-empragabidads” nos remeto Para um debala quo estoue mille preserie no eros 1970 no Basil, sobre a relagéo entre qualiieapan ‘omecida polo sistema educacional 80s requerimentos So sislema produtvo, © ponio de pari desea davis, ‘fo localizava-se na lesa de Theodore Schult a cha. ‘macla Teoria do Capital Humano, que equiparava © in. vestimento em qualifeago com aquoles falas pele ‘caplsia em “outros” bens de produgao. Ross! (1878), fo ala do erica tal perspactva tacrice inspkada ne Interpretagéo mariana, acaba por referancléin, enter: eno que se 0 objetivo ds oscola ora lomecer sods ‘Gora adaquida a empresa capitalise, uma rasponsabi- lidade soclasia seria “inverter sinal. Tal perepectiva, Fotulacla por Dermeval Savianl (1963) do “critica. ‘predulvisla’, &curamente cicada por Sal (1960), {ue enlende ser impossivel canceber uma dependém, la do sistoma produtivo de uma atvidade situada ne eslora superestruiual (como 6 a educapdo escolar), Frigotio (1986), partipando deste dabale, propde que 8 eacola leniia um papel de madiagto produtva, pelo eslabelocimenio de um saber geral que se arfcularia cam o espectticn, proporconado pato sistema produ e propriamente clo. Tal debate, a cespeila do cardtor ‘araerBnice que hoje assume dante do impacio da cha ‘mada reestrutwagzo produlva, tom uma importincia {undamonial para © enlencimenio da articlagho do sis. tema trabalho-cseola dentro dos marcos do modo do Ptodugéo capllalisa e, por dacorténci, permite una aborcagem mais qualiicada da lesa da "empregabi. lade" hoje em vopa (questéo discullda mals adanta ‘este capulo). Uma visto de conjonto co debate age nalado acima pode ser enconiredo em Yamamoto (1806). Para uma aberdager dla rlagio educagatsa. lio sob 0 capliasen, desiacamos a8 contrbuipdes dla Bowios e Ginis (1975, 1976), Para os aulzces, lo. ‘mando a forga de trabalho come marcadors, otabalho \desaparece como categoria explanaléria lndamental © 6 abssovida pelo concello da capil, Por consequinie,

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