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adolescentes multirreincidentes em
atos infracionais
1. INTRODUÇÃO
Já fora o tempo em que a criança ou adolescente em conflito com a lei era aquele que se
encontrava em situação de abandono ou, marginalizado, não vivia sob a proteção e apoio
efetivo da família.
Assim, se é certo que está a haver uma mudança do perfil da chamada ‘família brasileira’,
onde é cada vez mais comum a existência de aglomeração de parentes no mesmo imóvel
(avós, pais, filhos, enteados, sobrinhos, etc), também é certo dizer que boa parte dos
adolescentes que residem com os pais e que constantemente praticam atos infracionais,
em verdade não estão a receber a devida socioeducação pelos próprios pais.
Vive-se anacrônico momento, em que pais e mães se postam cada vez mais omissos na
socioeducação de seus filhos, querendo atribuir tal dever ao Poder Público e, uma vez
constatado o desvio de conduta do infante, não assumem a responsabilidade pela omissão
("ah, é culpa das más companhias", "não dão educação na escola", "é perseguição da
polícia", etc), tampouco se enveredam por mecanismos para mudança de postura ("eu
falo, mas fazer o quê", "eu desisto, ele já é bem grande", etc), acomodados pela ação que
recai apenas sobre o filho.
Assim, apesar de ser sabido que somente o tratamento sistêmico em âmbito econômico-
social caminhará para ruptura desse panorama cada vez mais crescente (discurso que já
se tornou ‘chavão’ em qualquer ocasião de discussão), tem-se que também deva haver,
em significativa parcela dos casos, a responsabilização desses pais omissos, mormente
quando constatada a multirreincidência da prática de atos infracionais pelo adolescente.
2 - DA OMISSÃO PELOS PAIS
É de conhecimento daqueles que militam na seara infanto-juvenil que parcela desses pais
são omissos no dever de promover a educação dos filhos, bem como costumam
negligenciar o trato moral, afetivo e disciplinar dos infantes.
Destaca-se, ainda, que boa parte desses pais, descumprindo os deveres inerentes ao
poder familiar, não impedem que seus filhos se postem em condições de risco, como
frequentar lugares nocivos a pessoas em desenvolvimento e em horários impróprios
(inclusive vedados por portarias de Juizados da Infância e da Juventude).
Desse modo, havendo tentativas, por parte da direção escolar e pelo Conselho Tutelar, de
se estancar a negligência desses pais omissos e, no entanto, não tendo as ações surtido
efeitos, aliado aos demais fatores supramencionados, não resta outra medida senão se
valer do imperativo legal contido no Estatuto da Criança e do Adolescente, para imposição
da penalidade cabível a esses pais desidiosos, até mesmo para o efeito disciplinador da
sanção.
A postura desses pais omissos claramente denota transgressão ao dever contido no art.
249 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
A Constituição Federal, norma ápice do ordenamento jurídico pátrio, estampa o dever dos
pais:
O dever de corretamente cuidar dos filhos é imposição legal, inerente ao poder familiar,
estando também previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente:
Ainda:
"Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer
cumprir as determinações judiciais."
Cabe salientar, para efeitos elucidativos, que aqui na Comarca de Sidrolândia, Estado de
Mato Grosso do Sul, seguindo os ditames normativos previstos no ordenamento jurídico
pátrio, todos os casos de constatação de omissão familiar levados a conhecimento do
Conselho Tutelar são inicialmente tratados na forma do art. 101 do Estatuto da Criança e
do Adolescente, com medidas administrativas pelo próprio órgão, em linhas de orientação
e acompanhamento.
Assim, busca-se a pacífica e desjudicializada resolução dos casos, com trabalho perante a
própria família.
Ocorre que, infelizmente, há casos onde não obstante as tratativas ensejadas pelo
Conselho Tutelar e demais organismos públicos, ainda assim os pais se postam omissos
aos deveres inerentes ao poder familiar, persistindo a situação de risco aos infantes.
Nesses casos, forma-se como inequívoca a necessidade de sanção aos pais, para,
inclusive, haver a formação do efeito disciplinador e coercitivo, como mais um fator a se
buscar a interrupção do crescimento desse fenômeno de transgressões.
O dispositivo legal em lume somente vem a corroborar com as exposições ora relatadas,
de forma que a postura desses pais omissos, ainda que de forma culposa, efetivamente
vem a desaguar na infringência de norma administrativa de proteção a crianças e
adolescentes.
A omissão, conforme o caso, poderá ser praticada por ambos os pais do adolescente
infrator, já que igualmente têm o dever de agir e de corretamente educar e cuidar de seus
filhos.
"Art. 21. O pátrio poder será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela
mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o
direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente
para a solução da divergência." (grifo não constante no original)
Vale lembrar, sempre, já que esse processo de responsabilização previsto pelo Estatuto
da Criança e do Adolescente não é muito familiarizado por boa parte dos aplicadores da
lei, que a infração sub examine tem natureza administrativa e não penal, ou seja, bastou a
constatação da ocorrência do fato para configuração da infração administrativa. [01]
Como destacado acima, o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 249, prevê
pena de multa para aquele que descumprir dolosamente ou culposamente os deveres
inerentes ao pátrio poder.
Nota
1. 1
Além de poder responder pela prática de crimes (Código Penal,
art. 244, 245 e 247), o transgressor poderá, também, responder pela
violação de regramento administrativo, nos termos do Capítulo II (Das
Infrações Administrativas) do Título VII (Dos Crimes e das Infrações
Administrativas) da Lei n.º 8.069/90, sem que se configure o chamado bis
in idem.