Você está na página 1de 179
33 [EPOBLIGA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL -MENSAGEM s===== Do Chefe do Govérno Provisério, lida perante a Assembléia Nacional Constituinte, no ato da sua instalag¢ao, em 15 de Novembro de 1933, === RIO DE JANEIRO — IMPRENSA NACIONAL — 1933 SENHORES MEMBROS DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE Comparecendo a solene instalacZio da Assem- bléia Nacional Constituinte e em presenga dos legi- timos representantes do povo brasileiro, aproveito tao excepcional oportunidade para dirigir-me a NagZo e prestar-Ihe contas dos meus atos, como Chefe do Govérno Provisério, institufdo pela revo- lug&o triunfante em outubro de 1930, Convocades para dar ao pafs novas institui- Ges, tereis bem avaliado a soma de responsabilidades impostas pela magna tarefa que vos cabe realizar. Para leva-la a bom termo, contais certamente com abundantes reservas de patriotismo e auscultareis, atentos, as exigéncias do momento nacional, sem esquecer as ligGes da nossa experiéncia politica. A alta significagio do acontecimento de que participais ressalta, de modo evidente, ao lembrarmos ser esta, no decurso de mais de um século, a terceira Constituinte chamada a assentar os fundamentos legais para a vida e o Govérno da Nagao Brasileira. ae O exame do nosso passado politico, feito com serena imparcialidade, oferece ensinamentos pre- ciosos que nZo devemos desprezar. A LICAO DO PASSADO Os povos, como os individuos, jamais conse- guem realizar integralmente as suas aspiragdes. Na ansia por atingir o melhor e o mais perfeito, con- sagram-se a experiéncias em que o ideal sé é alcan- gado aproximativamente, através de lutas repetidas e ingentes. Estudando o processo da formacao politica do Brasil, duas tendéncias se apresentam, persistentes e definidas, emergindo da época colonial para as pugnas emancipadoras: a federag&o e o govérno re- presentativo. As condigdes em que se iniciou e desenvolveu a nossa colonizagao esbocaram desde logo essas ten- déncias. Num vastissimo territério de litoral também vastissimo, disseminaram-se ntcleos de povoadores, quasi isolados entre si e da metrépole. Para se or- ganizarem e desenvolverem, num meio desconhecido e hostil, precisavam prover as préprias necessidades de economia e defesa. Esses nticleos evoluiram es- pontaéneamente para a autonomia e acabaram cri- ando para si um govérno de certo modo original, cuja forma definida e precisa vamos encontrar no fun- cionamento das camaras municipais, que adminis- 5 travam, ditavam leis, proviam a justica e chegaram, com o tempo, a entender-se umas com as outras e, as vezes, diretamente com a metrépole, sébre assuntos de interésse piiblico local ou da colénia. N&o admira, portanto, que, proclamada a In- dependéncia, consolidando uma situagao de fato, viessem refletir-se no seio da nossa primeira Cons- tituinte anseios declarados e persistentes pela im- plantagfo de um govérno de forma democratica e federativa. O ato politico da nossa emancipag&o colocou, por fatalidade histérica, nas m&os de um principe estrangeiro, os destinos do Brasil, operando-se uma espécie de enxertia dindstica, cujos interésses haviam, fatalmente, de colidir com as aspiragSes nativistas, j& orientadas no sentido liberal e de franca descentra- lizagZo. 7 O conflito verificou-se logo de inicio, quando a Constituinte delineou, dentro daquela orientacao, a estrutura institucional do pafs. Dissolvida intern- pestiva e violentamente num ato de inequivoca reagao as suas tendéncias, a constitui¢o outorgada impés a forma unitaria e retirou da Camara, pela criagdo do Poder Moderador, o controle do Govérno, enfeixando-o nas m&os do Imperador. Estava aberto 0 dissidio, cujodesfécho foi o mo- vimento reivindicador de 7 de abril de 1831, ver- dadeiramente admiravel como demonstragao da vi- talidade de uma conciéncia nacional e que deveria, 6 ter produzido, com a abdicagao, todas as conseqiién- cias politicas que a Independéncia frustrara. Estabelecida a Regéncia, reacenderam-se as agi- tagdes em prol do ideal federativo, refletindo a crise da formagio politica do pafs. O Ato Adicional, que modificou o regime unitario da Constituicgfo de 1824, n@o foi mais do que uma concessao ao fe- deralismo, criando as Assembléias e aumentando as atribuigdes dos presidentes das provincias, extin- guindo o Conselho de Estado e retirando da Regéncia a faculdade de dissolver a Camara. Dentro da légica dos acontecimentos e de acérdo com 0 nosso passado histérico, o movimento de 7 de abril, com antecedentes claramente orientados, de- veria ter realizado, no minimo de efeito, 0 império fe- derativo;o Ato Adicional condescendeu, apenas, com os pendores de descentralizagao, burlando-os com dis- posicdes contemporizadoras. Sob o aspecto politico, pode éle ser considerado, por isso, como um segundo desvio do movimento emancipador, que nos teria dado a Repiblica, se n&o ocorresse a transplanta¢ao da dinastia bragantina, coma qual fizemos a Inde- pendéncia. As lutas desencadeadas durante o perfodo re- gencial no tiveram o carater generalizado de sim- ples motins; contrariamente, além de revelarern espirito civico vigilante e combativo, traduziram, quasi todas, o impulso de um movimento de idéias, expressando aspiragées populares, que nao haviarn 7 conseguido enquadrar-se na organizagao politica dada ao pais. Com a sua formacao eletiva e temporaria, a Regéncia, tao agitada e discutida nos seus atos, mais se aproximava de um Govérno de molde republi- cano que prdopriamente monarquico. Explica-se, assim, em grande parte, a crise da sua estabilidade: contra ela investiam, mais do que as correntes extremistas em rebeliao, para assimila-la, os interésses da dinastia incipiente, procurando empolgé-la para manter e garantir o estado de coisas, criado em 1822. O golpe da maioridade, antecipada, caracterizando um expe- diente politico, foi a solug%o encontrada para evitar © prolongamento do dissidio que, ameacando em primeiro plano o regime mon4rquico, parecia capaz de quebrar a unidade nacional. Vista @ distancia e apesar da mediania das rea- lizagSes, a década regencial constitue admiravel afir- mag&o de vitalidade civica, marcando distintamente uma €poca da histéria politica do Brasil. E corrente afirmar-se que a consolidagao das instituigdes monarquicas, resultante da Maioridade, obstou o desmembramento da nacao e o advento do “caudilhismo”. Evidentemente, a vitéria do Centro @, portanto, do poder mondrquico muito concorreu para manter e fortalecer a unidade nacional. Contudo, nao é de rigorosa légica concluir que, generalizado e triunfante algum dos movimentos de carater regional e de tendéncias federalistas e até republicanas, fésse 8 o pafs, inevitavelmente, arrastado, como conseqiiéncia imperiosa, 4 desagregagtio. Tornados nacionais e unanimes poderiam garantir da mesma maneira a integridade da Patria, sacrificando, embora, a con- tinuidade do Império. Saindo da maioridade, vencida a revolugdo li- beral de 1842, encerrado o decénio farroupilha e sufocada a insurreigao praieira, o Império estabili- zou-se num longo periodo de apaziguamento interior e de prestigio internacional. Esse perfodo foi absorvido pela experiéncia do regime parlamentar, que nunca se praticou realmente, pela falta de uma opiniao publica organizada e pre- ponderante, capaz de exercer a representacZio com conciéncia e vontade livre. Supria-a artificialmente a interferéncia do Poder Moderador nas miios do Imperante, provocando as crises politicas a seu alve- drio, a quéda dos ministérios e, conseqlientemente, a substituigéo dos partidos no poder. O progresso da nagio, nesses cincoenta anos de tranqtiilidade, nZo foi fruto exclusive do regime, como procuraram fazer crer alguns historiadores do tempo. Avangamos no terreno das realizagdes materiais, porque as férgas criadoras da nagZo nos impeliam para a frente, e por ser condiczo de vi- talidade inerente aos povos jovens, ricos em recursos naturais inexplorados, progredir, ainda quando mal governados ou dirigidos. Enquanto a vida polftica do pafs se ajus- 9 tava, desajeitadamente, a um modélo copiado, marchando e contramarchando ao ritmo do ro- tativismo ficticio dos partidos desavindos em témo da coréa, continuaram a agitar-se subterranea- mente as aspiragdes recalcadas da nacionalidade. A ag&o pessoal do Imperador, temperamento pa- triarcal e comedido no uso do poder, influiu, sobre- maneira, no prolongamento do regime, subtraindo-o aos choques violentos com a opiniado e condicio- nando-lhe a durac¢&o a da existéncia do Imperante. A decadéncia das instituigdes monérquicas era tao evidente, nos tltimos anos, que generalizara a con- vicgao de que n&o sobreviveriam 4 pessoa do mo- narca, impossibilitando, natural e fatalmente, o advento do terceiro reinado. Apesar de meio século de paz interna e das adaptacGes politicas experimentadas, o pais nao recebera ainda uma organizag&o completa e efi- ciente, capaz de dar rumo definitivo e Propicio a expansio das energias nacionais. A administraga0 publica desenvolvia-se no sentido burocratico, ba- seada no processo simplista de arrecadar para gastar, por vezes, improdutivamente. A economia da na¢io, desenvolvida & margem da influéncia do Estado, tinha com éle apenas o contacto da aparelhagem fiscal, mais ou menos absorvente, conforme as exigéncias das suas finangas, quasi sempre defi- citarias. Socialmente, n&o se cogitara de valorizar o homem, nem como entidade politica, nem como 10 fator econémico. Ofereciamos 0 espetaculo de uma minoria embebida de cultura humanista, fazendo politica A européia, vivendo reflexamente a vida dos grandes centros de civilizag&o, em contraste com a massa ignorante das populagGes rurais e urbanas. O problema da escravatura, encerrando o da organizagZo do trabalho, fundamental para 0 nosso desenvolvimento econdmico, nao teve a solugao que mais convinha. Retardada, procrastinada, eri- gida em ponto nevrdlgico da existéncia do regime, atuou até como fator de perturbagao pela forma brusca e pelo ambiente de exaltago politica em que se operou a substituicao do trabalho escravo pelo trabalho livre. A campanha abolicionista foi, indiscutivel- mente, um dos nossos grandes movimentos de opi- nigo. Empolgou totalmente o pafs numa_ solidarie- dade admiravel de todas as suas f6rgas espirituais. Vitoriosa, os resultados surpreenderam, entre- tanto, aos seus préprios paladinos. Os centros produtores, principalmente os da explorac&o agri- cola, cairam em colapso, ante a desordem e o éxodo das massas trabalhadoras, entregues repentina- mente & inexperiéncia da liberdade. Dorninados pela idéia generosa, os pro-homens do abolicionismo nZo haviam cogitado sequer do que convinha e cumpria fazer dos escravos libertados. Se o problema do trabalho escravo teve so- lugdo, ainda que defeituosa e tardia, o mesmo ll nao aconteceu com o da educacio popular, quasi completamente esquecida, até no seu aspecto mais elementar, o ensino primario. No projeto da Cons- tituic&o de 1823, féra éle encarado de frente e priti- camente, estabelecendo-se a criagdo obrigatéria de aulas piblicas nos termos, e liceus nas sedes de todas as comarcas. A Constituigio outorgada eliminou, porém, essa sabia disposigZo, que, adotada e cum- prida, teria, pelo menos, evitado os males do anal- fabetismo. Em resumo, o Império encerrou a sua ativi- dade, deixando insoltiveis os dois maiores problemas nacionais: o da organizagao do trabalho livre eo da educagZo. Por outro lado, a centralizagaio imposta pelo regime, tanto no sentido politico como no admi- nistrativo, agira sObre as provincias, refreando-lhes © desenvolvimento e criando uma espécie de helio- tropismo que as retinha voltadas para a coréa, dependentes do seu arbitrio e dela tudo providen- cialmente esperando. Os efeitos de sernelhante cen- tralizagio atuavam como entorpecentes sdbre as . iniciativas e energias locais, presas &.rotina e ao favor oficial. Talera, a largos tragos, 0 panorama da situagio do pafs em 1889. Para determinar-lhe os contornos com mais preciso, acentuemos ainda: aos abalos econémicos produzidos pela abolic&o aplicaram-se rermédios de emergéncia, visando principalmente 12 reanimar a exploragdo agricola desorganizada; de- finira-se a politica protecionista, destinada a esti- mular os primeiros surtos de industrializag&o, e que deveria, mais tarde, expandir-se até ao abuso; enveredou-se pelo caminho tentador do inflacio- nismo monetério com as suas abundincias ficti- cias, que, refletidas no campo dos negécios, geraram © espirito de aventura, de especulagZo e caga ao lucro facil, culminando, afinal, na derrocada do “encilhamento™. ADVENTO DO REGIME REPUBLICANO Foi nesse ambiente de inquietude generalizada que a propaganda republicana comegou a ganhar terreno, aproveitando-se dos efeitos perturbadores da aboliggo e recolhendo os desgastes dos partidos monérquicos deliqiiescentes. Nao constituira, ainda assim, o que se poderia chamar uma férga de opi- nio organizada, com poder suficiente para atuar por si e provocar a quéda do trono vacilante. © ideal republicano tinha raizes profundas na vida politica do pais. Definira-se em movi- mentos civicos memoraveis, embora fracassados, e, até certo ponto, compendiava as aspiragdes nacionalistas desatendidas desde a Independéncia. Basta recordar a exortagdo de José Clemente no apélo feito ao principe D. Pedro para ficar no Brasil: “Vossa A. R. nao ignora que o partido republicano 13 af esta e fara por si a Independéncia, se néo a em- polgarmos”, A proclamag&o da Reptiblica, apreciada rigo- Tosamente como fato histérico, foi, entretanto, uma antecipagaéo dos acontecimentos, precipitada pelas questdes militares. Tais circunstancias nao Ihe tiram, contudo, 0 caréter de ato nitidamente revolucionério, Como tal, deveria importar numa mutagao obrigatéria de valores e influir também no sentido de profundidade na vida politica do pais, Para nao se transformar em mera substituigzio de normas teéricas de govérno. Precipitada pelos acontecimentos ou obra de uma minoria resoluta, como quer que seja, a revo- lug&o se fizera. A falta de uma corrente de opiniao, fortemente organizada e dirigida por um nicleo de homens ideoldgicamente identificados, viria, porém, desvirtuar-lhe a finalidade. Acresce, ainda, que, vitoriosa sem luta, n&o provocou reagao capaz de determinar uma indispensavel selego de valores, suscitando, ao contrario, 0 adesismo oportunista em grau t&o absorvente que a quarta presidéncia da Repdblica ja foi exercida por uma mentalidade formada na politica mon&rquica. O movimento de 1893, de feig&o reacionaria, produziu-se trés anos depois da proclamagao, quando © conformismo adesista se consolidara, galgando posigdes. Ainda assim, verificou-se em térno do Govérno constituido uma homogeneizag&o de ele- 14 mentos mocos € idealistas que, embora consagrados & resisténcia oferecida, nao conseguiram predominar na diregZo da vida ptblica do pais. Faltou-lhes a atuagdo de um mentor providencial, com viséo de estadista e espirito agremiador, qualidades que nao possufa o depositario legal do poder, grande figura histérica, pelo carater e energia inflexivel, mas que, acima de tudo, soldado e chefe militar, sémente desejava ser, consolidando as instituigdes, garantia da ordem e do prestigio da autoridade, cuja suprema magistratura lhe cumpria manter ¢ fazer respeitada. Esses e outros fatores influfram para o desvir- tuamento do regime republicano, constituido sébre ruinas precoces, esbogos abandonados e interrom- pidos do passado. Muitos problemas pertinentes 4 organizacao nacional, que se impunham pela mudanga radical da forma de govérno, ficaram intactos ou foram resolvidos de modo incompleto. Administrativa e financeiramente, reatamos a tradicao do Império. A nova distribuicao de rendas, resultante da descen- tralizaco, foi péssima, refletindo-se desastradamente na vida dos Estados, para deixar uns na opuléncia e outros na miséria. Proveiu daf, em parte, o estabelecimento das oligarquias locais, tornadas endémicas e voltadas para o centro, como no tempo da monarquia, e déle pedindo ordens e mendigando favores. 15 Criou-se, mercé désse estado de coisas, uma espécie de casta governamental, instalada no poder, com o privilégio de aproveitar e distribuir os seus proventos. Os orgamentos, de pura estimativa, transfor- maram-se numa liquidag&o final de ajustes, estou- rando & pressdo das despesas nao catalogadas e dos créditos extraordinarios. Adotou-se, como norma regular de administrag&o, 0 expediente de passar de um exercicio para outro avultados deficits e de contrair empréstimos para solvé-los, enfraquecendo 0 crédito do pais, sobrecarregando de énus as geragSes futuras e agravando, contra nds, 0 desequilfbrio da balanga de pagamentos no interc4mbio interna- cional. Com a absorvente predominancia do Executivo sobre os demais poderes, falseou-se 0 equilibrio inerente 4 estrutura do regime. O Congresso era produto de um processo eleitoral profundamente viciado, e os seus membros, com raras excegdes, n&o representavam a opiniao nacional, mas a von- tade dos oligarcas, todos criados pela mesma mé- quina de puro artificio, montada pela fraude, e coligados na defesa de uma politica de favoritismos pessoais que se exercia, as vezes, escusamente e sempre 4 revelia dos interésses nacionais. Fechado num circulo de interésses restritos que se confundiam com os da pequena minoria instalada nas posigdes governamentais, o poder 16 publico tornou-se, aos poucos, alheio e impermeavel as exigéncias sociais e econdmicas da Nagao. Ad- veiu-lhe, em conseqtiéncia, uma situagéo de des- prestigio e de isolamento. Espessa atmosfera de indiferenca separava da politica profissional as forgas vivas do pais. Renovara-se, afinal, o dissidio classico entre as aspiragSes vitais da nacionalidade e a organizagao do Estado, aberto desde a Independéncia, e que poderia ter encontrado solugo no advento da Re- publica. A reag&o tinha de vir, inevitavelmente. Fo- ram-Ihe primeiras manifestagSes as revoltas de 22 e 24. Daf por diante, o mal-estar e a hostilidade do pais a semelhante estado de coisas revelaram-se crescentes e indisfarcaveis. A Ultima sucessao pre- sidencial, trazendo o desentendimento entre as classes governamentais, ja foi reflexo désse descon- tentamento generalizado. A luta eleitoral, ao de- turpar mais uma vez a vontade soberana do povo, deu-lhe pretexto para reagir pelas armas, porque, nas conciéncias e nos Animos, a revolug&o estava feita. Explica-se, assim, que o movimento de ou- tubro de 1930 perdesse o carater de simples pro- nunciamento partidaério para desencadear-se como férga de ago social, assumindo o aspecto de verda- deira insurreiggo nacional e impondo, conseqtiente- mente, conquistas amplas e profundas no terreno econémico e politico. 17 REVOLUCAO DE 1930 O movimento revolucionario de 1930, pela sua amplitude e profundidade, nao teve similar em nossa historia politica. Nao ha exagéro em afirmar-se que a Nag&o mobilizou-se de Norte a Sul, levantando em armas legides de combatentes dispostos a in- tervir entusiastica e ardorosamente na luta. As férgas armadas, reproduzindo atitudes tradicionais, em momentos de crise semelhante, colocaram-se, patridticamente, ao iado do povo, solidarias com a causa nacional. A vitéria deu ao pais uma sensagZio de alivio e desafégo. Na realidade, éle se libertara pelo préprio esférgo, anulando a press%io da atmos- fera de insinceridade e ludibrio que lhe entorpecia os movimentos e¢ lhe asfixiava as aspiracdes. © Govérno instituido pela revolugio, apesar de instaurado pela férca, baniu da sua atua¢gio a prepoténcia e 0 arbitrio. O seu primeiro ato foi uma espontnea limitag&o de poderes e a obra de recons- truco, a que se consagrara, realizou-a, respeitando as normas juridicas estabelecidas e sem agravos a direitos legitimamente adquiridos. Govérno nascido do choque brusco das velhas tendéncias libertadoras da nacionalidade com o egoismo da grei organizada durante decénios para dominar o pajs, cabia-lhe, antes de tudo, destruir um estado de coisas inve- terado, conjunto de habitos e interésses contr4rios & sua finalidade. Era natural que os donatarios da 18 situag3o derrocada procurassem reagir pela passi- vidade e falsa compreensao das idéias em marcha contra o predominio avassalador da revolugZo0. O benigno tratamento dispensado aos principais res- ponsaveis pelo descalabro nacional muito concorreu para isso. Afastados do pais, usufruindo amplas garantias, deixaram dispersos pelo ambiente ainda conturbado os remanescentes da sua polftica, os quais procuraram infiltrar-se e exercer derrotismo, por intermédio de elementos perturbadores, levados, alguns, mais por motivos pessoais que por diver- géncias de idéias, outros, por incompreensao do mo- mento que atravessavamos, e quasi todos mais ou menos com pretensdes a mentores do movimento que no lhes satisfizera a ambicgo e a vaidade. A revolug&o nao f6éra obra de um partido, mas, sim, um movimento geral de opiniao; nao possuia, para guiar-lhe a ago reconstrutora, principios orien- tadores, nem postulados ideolégicos definidos . e propagados. Dela participaram e surgiram varias correntes de dificil aglutinaca0. O Govérno Pro- vis6ério procurou colocar-se acima das competig6es partidarias ou facciosas, para nao trair os compro- missos assumidos com a Nagao. Em movimento de tal envergadura, a autoridade constituida pela vitéria n&o pode transformar-se em simples exe- cutora do programa de um partido; deve ser, apenas, uma expresso nacional. O mais que se lhe pode conceder, nesse terreno, é a funcao. de coordenar as 19 aspiragdes gerais, com o fim de estabelecer o equi- librio das correntes que as representam. Essa fun¢ao desempenhou-a o Govérno Provisério com inteira serenidade, em constante esforgo de acomodagéo das: direitas e esquerdas revoluciondrias. O desas- sosségo dos extremados e a afoiteza dos ambiciosos foram fatores de perturbagdes e desentendimento, explorados para atemorizar o Govérno e impér-lhe Tumos_ exclusivistas. REORGANIZACAO POLITICA O problema da reorganizagio politica do pats, revista e iniciada logo apés a instalagZo do Govérno Provis6rio, com o preparo da reforma eleitoral, foi © pretexto mais utilizado para agitar o ambiente e para rotular a obra reacionaria dos despeitados. Sébre os propésitos de restabelecer a ordem cons- titucional no era licito alimentar dividas, diante dos compromissos esponténea e solenemente as- sumidos pelo Govérno. Decretado 0 Cédigo Elei- toral, seguiram-se todos os atos indispensAveis 4 execugo’ répida do alistamento, marcando-se até o dia para a elei¢&o dos constituintes. Comprova asinceridade das deliberagdes e providéncias to- madas 0 fato de se ter realizado o pleito na data préviamente estabelecida, apesar de perturbada a. tranqiilidade do pais, durante trés longos meses.. . “Ao assinalarmos’ esta circunstancia, nZo nos 20 anima a intengao de recriminar fatos que devem ser esquecidos. O Govérno tem o dever de utilizar medidas excepcionais, enquanto necessérias 2 ma- nutengiio da ordem e na defesa dos ideais que re- presenta. Aplicando-as, nao pode, porém, abrigar édios nem intuitos de vinganga, sentimentos nega- tivos e contrarios 4 sua finalidade construtora. A fung3o de governar é, por natureza, impessoal e isenta de paixdes. Cumpre exercé-la sobrepondo-se 3s lutas e dissidios, quasi sempre_estéreis, para s6 ter presente os superiores interésses da Patria, que est4 a exigir a cooperacdo e os esforcos sinceros dos seus filhos para que se ultime, num ambiente de tranquilidade e confianga, a grande obra de recons- trug&o nacional. Dentro de t&o elevado espirito de tolerancia e leal entendimento, todos os brasileiros encontrardo abertas as fronteiras do pafs e, igual-. mente, francas garantias para o livre exercfcio das suas atividades pacfficas. REFORMA ELEITORAL A composigZ0 do Estado, como aparelho po- Iitico e administrativo, pressupde, nos regimes de- mocraticos, a legitimidade da representacao popular. Conhece-se, sobejamente, em que consistia essa re- presentagao, antes do movimento revolucionario: alis- tamento inidéneo, eleigdes falsas e reconhecimentos fraudulentos. Ora, o que legitima o poder é 0 consen- timento dos governados; logo, onde a representacdo 21 do povo falha, éste poder sera tudo, menos érgao legal da soberania da Nagao. O Govérno revolucionério, responsdvel pelo saneamento dos costumes politicos contra os quais a Nagao se rebelou, n&o poderia cogitar de reorga- niz4-la constitucionalmente, antes de aparelha-la para manifestar, de modo seguro e inequivoco, a sua vontade soberana. A reforma eleitoral que era, para mim, compromisso de candidato, quando concorri 4 sucesso presidencial, tornou-se imposigao inadiavel ao assumir a Chefia do Govérno revolucionério. De como cumpri ésse compromisso de honra, resistindo e sobrepondo-me a press%o dos acontecirnentos, atesta-o o Cédigo Eleitoral, j4 qualificado “carta de alforria do povo brasileiro”, eo pleito de 3 de maio, do qual se disse, unanimemente, ser a eleigao mais livre e honesta, realizada até hoje no Brasil. A reforma foi radical. Comegou pela organi- zagio de novo alistamento, anulando completamente © existente e criando corpo eleitoral selecionado, pela inclusfo obrigatéria dos elementos idéneos, ativos e capazes da sociedade. Como vigas mestras de todo o aparelho, instituiu o voto secretoe a representagdo proporcional. Todo o processo, desde a inscrig¢ao do eleitor até 4 apuragio e ao reconhe- cimento, foi entregue 4 magistratura nacional, atra- vés dos diversos institutos em que ficou organizada a Justiga Eleitoral. O que a reforma significa para © saneamento politico da nag&o revelaram os pri- 22 meiros resultados obtidos no pleito que elégeu a As- sembléia Constituinte. A adogio do voto secreto foi conquista de tal rnagnitude que, a ela se referindo, notavel professor da Escola de Direito de Sio Paulo chegou a dizer: “'se mais nao fizesse, valeria a pena ter-se feito a revolucdo, para implantar 0 voto se- creto™. O ESTADO MODERNO O momento em que vamos reformar o arcabougo institucional da Nag&o é de perspectivas inquie- tantes e excepcionais, diante das perturbagdes po- liticas € econémicas que o singularizam. Abalados na sua autoridade, os governos procuram reagir, adaptando-se as contingéncias sociais. Aponta-se como fator precipuo da perturbac3o alarmante o desequilibrio econémico mundial, -definido com tanta precisaéo nas palavras recentemente pronunciadas por Cordel Hull, Secretario do'Govérno Norte-Ame- ticano, perante a Conferéncia Econémica de Londres: « E’ opini&o universal que o flagelo econémico do presente, com o séquito de prejufzos, sofrimentos e sacrificios, sem paralelo em nosso tempo, aflige, ha trés anos e meio, toda a Nagao e o mundo em geral. Tesouros exaustos, quéda de pregos, quebra das finangas e do comércio : internacional, baixa consideravel na produgo e no consumo nacionais, trinta milhdes de operarios sem’ trabalho, uma agri- 23 cultura anémica, instabilidade universal de moedas e de cambios, acimulo ‘de dividas e excessos de impostos, constituem algumas das experiéncias do tremendo p&nico dos tltimos anos ». Pafs mogo, na plenitude de suas férgas em ex- pansdo, felizmente nao nos atingem com a mesma intensidade os males que assoberbam outras nag6es. Seja-nos proveitosa, _entretanto, a observacao, para -precavermo-nos, a tempo de evita-los ou mino- rar-lhes os efeitos. O Estado, qualquer que seja o seu conceito segundo as teorias, nada mais é, na realidade, do que o coordenador e disciplinador dos interésses coletivos ou a sociedade organizada como poder, para dirigir e assegurar o seu progresso. Toda es- trutura constitucional implica, por isso, na estru- tura das fungdes do Estado. Ao empreender tao -transcendente tarefa, devemos estar atentos as nossas tealidades politicas e econémicas e sobrep6r os en- sinamentos das nossas experiéncias 4 sedugZo das idéias em voga entre outros povos, expressao, quasi sempre, de fendmenos sociais especialissimos, que se modificam de pais para pais, em intensidade e efeitos. Revelando a sua constante preocupago de re- conduzir o pais 4 ordem constitucional, o Govérno revolucionario cogitou, ao mesmo tempo, da ela- borag&o de uma lei.eleitoral capaz de assegurar a verdade do sufragio popular e de um ante-projeto de Constitui¢go, destinado a servir de subsidio-e 24 facilitar os trabalhos da Assembléia Constituinte. Semelhante iniciativa tinha antecedentes, nao sb no Brasil, como em outros paises. Entre os processos mais comumente adotados, preferiu-se o da cola- boragio de elementos representativos dos diversos setores da atividade social. Assim, a comissio, no- meada para organizar o ante-projeto retiniu em seu seio personalidades de alto saber juridico e delegados dos drgos das classes diretamente ligadas ao pro- gresso do pais. O ato de instituigio do Govémo Provisério preceituou que “a nova Constitui¢io Federal man- tera a forma republicana federativa e nao poder restringir os direitos dos municipios e dos cidadZos brasileiros e as garantias individuais constantes da Constituigao de 24 de fevereiro de 1891". Esta disposigao consagra, em esséncia, as tendéncias his- téricas da formag&o politica brasileira, e o ante- projeto orienta-se nesse sentido. A comiss&éo incumbida de elabor4-lo, composta de homens eminentes, desempenhou-se da tarefa com grande zélo e patriotismo, apresentando tra- balho digno do maior aprégo. Trata-se de uma con- tribuicZ0 valiosa, Gtil, como base de discussao, ao desempenho da relevante missao que vos cumpre realizar. O ante-projeto foi ultimado poucos dias antes da instalag&o dos vossos trabalhos e remeto-o, sem alteragdes, abstendo-me de opinar a respeito. Cabe 25 a Assembléia Nacional Constituinte manifestar-se livremente sdbre éle, usando dos altos poderes que Ihe outorgou o povo brasileiro para elaborar 0 pacto fundamental da Nagio. JUSTIGA E LEGISLACAO A atividade do Govémo Provisério em matéria legislativa e de politica interna exerceu-se larga- mente através do Ministério da Justica. Afora a absorvente tarefa administrativa, grandemente acrescida pela instituiggo das Interventorias, por seu intermédio organizaram-se diversas leis e regu- lamentos, diretamente intervindo na elaborag3o e aplicagao do Cédigo Eleitoral. Entre as iniciativas de maior importancia, destacam-se 0 Cédigo dos Interventores, as Leis sébre acSes preferenciais, a de extingZo dos impostos interestaduais, de redugZo progressiva do imposto de exportagiio e varias ou- tras, além da reforma do Supremo Tribunal e da Justiga local do Distrito Federal e o decreto insti- tuindo a representacZo de classes na Assembléia Nacional Constituinte. As modificagSes introduzidas no aparelhamento da nossa mais alta Cérte de Justica e na Justia local se impunham, com caréter de urgéncia, para melhorar-lhes os servigos e abreviar os julgamentos. Nao foi, entretanto, reforma definitiva. A que de- vera ter éste carater, remodelando a Justica Na- 26 cional, estA consubstanciada num ante-projeto em estudos e dependendo, até certo ponto, da. remo- delagao institucional do pais. REPRESENTACAO DE CLASSES Assunto de viva atualidade, em matéria de organizag3o do poder piblico, a representagio de classes ou grupos sociais foi agitada, entre nés, ao cogitar-se de dar nova Constituigao ao pais. O momento era oportuno para tentar a expe- riéncia, e o Govérno Provisério, atendendo aos reclamos da opiniao, previu, primeiro, no Cédigo Eleitoral, e, logo depois, instituiu esta modalidade de representagSo para colaborar com a prépriamente politica nos trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte. ‘Nao foram poucas as dificuldades encontradas ‘para assegurar a forma pratica dessa inova¢do, que, embora com sélidos fundamentos nas transformagées sociais dos Gltimos tempos, tem sido diversamente estatuida, ora sob aspecto mixto, técnico e delibe- rativo, ora simplesmente técnico e consultivo, em conselhos auténomos ou em coopera¢Zo com as Camaras politicas. Justifica-se, assim, a solugao adotada, em ca- rater de ensaio, pelo decreto que regulou o processo de distribuigzo dos grupos sociais para escolher os seus representantes, nesta Assembléia, que resolver 27 definitivamente sdbre o assunto, atenta a sua im- port4ncia e oportunidade. ORDEM PUBLICA As convulsdes politicas de forte e profunda Tepercussao costumam provocar perturbagSes graves e prolongadas, alterando a ordem publica e exigindo medidas de repressio mais ou menos violenta. Fe- lizmente, a revolugao de 1930, havendo empolgado totalmente o pais, n&o produziu ésses lamentAveis efeitos. Apés a institui¢ao do Govérno revolucionario, a tranqUilidade restabeleceu-se normalmente, dis- pensando providéncias excepcionais de. carater per- manente. . Merece consignar-se ésse fato, que nao teste- munha sOmente a orientacZo tolerante mantida pelo Govérno, mas também a indole ordeira do nosso Povo. . Na Capital da Repiblica; onde em perfodos menos agitados a atividade policial costumava exceder-se, foi assegurada a tranqitilidade da popus lag&o com um servigo normal de vigilancia e de simples preveng&o. Contribuiu muito para isso a reforma realizada na Policia Civil, que, afastando-a das velhas praticas de compressio e prepoténcia, modernizou completamente o seu aparelhamento .e métodos de acao. 28 Hé trinta anos, a Policia Civil do Distrito Fe- deral nao experimentava qualquer transformagio capaz de adapt4-la ao meio em que estava obrigada aatuar. Sem orientacZo segura e eficiente, os seus servigos falhavam a cada momento, pela incapaci- dade da maioria do pessoal e, principalmente, pelos prec&rios recursos utilizados. Em vez de apresentar-se com a estrutura de uma organizacdo técnicamente aparelhada e inte- Tigentemente conduzida, parecia antes o reflexo da mentalidade dos que a dirigiam. Como conseqiiéncia do desmantélo dos servicos, firmara-se no espfrito pablico a certeza de que a ac&o policial s6 produzia resultados, quando langava mao da violéncia, de- primindo o prestigio da autoridade. Com tais mé- todos, a policia deixava de ser preventiva, trans- formando-se quasi exclusivamente num terrivel apa- relho de coagao. A renovagao que se operou, com o decreto n. 22.332, de 10 de janeiro do corrente ano, antes de constituir medida destinada a enquadrar a Policia na sua miss&o, era necessidade reclamada _ pela cultura e pelo progresso da Capital da Repi- blica. Entre os melhoramentos introduzidos podem destacar-se, como principais: a Escola Policial, base de qualquer organizagao policial; a criagéo de Co- missariados; a delimitago de fungGes entre a policia politica e a policia criminal, tommando esta de car- 29 reira; a organizagao da Diretoria Geral de Investi- gacgdes, como departamento técnico de largas fina- lidades, ¢ da Inspetoria Geral de Poifcia, para centralizar os servigos de trafego e policiamento da cidade. A Delegacia Especial de Seguranga Politica e Social confiou-se a protegao dos interésses politicos e sociais e a responsabilidade da manuten¢ao da ordem pdblica, dentro désse setor de atividades, onde a vigilancia deve se fazer sentir até nas grandes medidas de exce¢Zo, desdobrando-se, conseqiiente- mente, na esfera administrativa, em policia educa- tiva e de costumes e envolvendo-se,em matéria de ordem piblica, na regulamentagao do trabalho, na fiscalizagao das inddstrias e nas relagdes do comércio, em intima ligagdo com o Ministério do Trabalho. Com as modificagdes operadas, coordenaram-se as atividades policiais de diversas organizagGes, sulb- metendo-as.a uma chefia central. Ficaram, assim, subordinadas & Inspetoria Geral de Policia, érgao técnico por exceléncia: a Guarda Civil, a Inspetoria de Vefculos, a Policia Marftima, a Policia Especial, a do Cais do Pérto e a Inspetoria Geral de Vigilancia Noturna, num total de 2.834 homens. - Dentre as secgSes que hoje formam a Diretoria Geral de InvestigacgSes, cumpre destacar, como ini- ciativa das mais felizes e das mais oportunas, a organizagao do Instituto de Pesquisas Cientificas, perfeitamente aparelhado para satisfazer as suas finalidades. ee O servicgo geral de radio, centralizado na Po- licia, por uma poderosa estagZo receptora e trans- missora, foi desenvolvido com o de “‘radio-patrulha”, feitd por motocicletas e autos e destinado a faci- litar os trabalhos de vigilancia policial. E’ éste, em linhas gerais, o aparelhamento atual da Policia do Distrito Federal, colocada em con- digdes de garantir, estavelmente e sem intteis de- masias, a ordem social. ECONOMIA E FINANCAS Ao dirigir-me ao pais, em 3 de outubro de 1931, assim resumi a situagZ0o econémica e financeira encontrada pela Revolugao : A HERANCA RECEBIDA «As contas do quatriénio passado encerraram-se com um deficit de 1.323.000:000$, agravado .pelo indesculpavel deslise moral da afirmacdo, por parte do Govérno, de constantes saldos orgamentarios. Para éste total concorreram : O exercicio de 1927, com o deficit verificado de. : 155.517 39328183 O exerefcio de 1928, com o deficit verificado de. . 145.774 25133999 O exercicio de 1929, como deficit 189.876 2537159 verificado de... 832.590 2506$196 1,323 .759 :089$537 3 Para atender a éste deficit realizaram-se as seguintes operagées extraordindrias: 1927 — Empréstimos de £ 8.750.000 £ 41, 500.000. Emissiio de apblices (liquido)..... 1928 — Emissio de apélices. 1930 — Encampaciio da emissiio do Banco do Brasil, creditada em conta do Tesouro... $92..000 :000$000 - 338.430 943$277 O Govérno passado, portanto, aumentou a divida intema € externa do pais em 1.338.430:9436277. A circulacao do papel moeda teve um aumento de 170.000:000$, parte da emissio de 300.000:000S, autorizada ao Banco do Brasil, e a respon- sabilidade do Tesouro, na circulago total, aumentou de 592.000:000S, pela encampaciio das notas do Banco do Brasil. Convém néo esquecer que, apesar dos recursos obtides por essa encampacao, entdo recente, 0 Govémo passado legou ao atual cérca de 130.000:0005 de dfvidas a pagar. Quanto ao cambio, cuja estabilizagio constitufa a pre- ocupagao constante daquela administragdo, as taxas puderam ser mantidas, gracas, principalmente, @ entrada de ouro obtido Por empréstimos externos da Unio, dos Estados e de diversas Prefeituras, na importancia de £ 43.678.500 e $ 142.780,000 Nos diltimos tempos, porém, a despeito desta enorme afluéncia de ouro, ¢ de remessas, igualmente vultosas de emprésas par- ticulares, a situag&o tornara-se precdria, e foi necessério passar ao recurso dos expedientes. Fizeram-se, entiio, consignacSes de café, por intermédio de duas firmas, uma de Santos, outra do Rio, nao estando ainda apurado o prejufzo total de tais operagées. Remeteram-se em ouro amoedado ou ém. barras £ 26.448.662. A esta soma ¢, alias, preciso juntar as remessas de our que o Govémi Provisdrio foi Obrigado a fazer em con- 32 seqléncia de compromissos do Tesouro ou do Banco do Brasil, assumidos pelo Govérno anterior, inadidveis, ¢ que nao pode- riam ser cumpridos de outra maneira. Tais remessas foram: Do Govérno Federal (Caixa de Estabilizagdo)... .. covers © 3.104,258.0-2 Do Banco do Brasil........... £ 4.376.980 £ 7.541 .238.0-2 A soma total de ouro remetido para sustentagio do cambio foi, pois, de £ 33.989.900. Nao bastou, porém, ésse duplo sacrificio. O Banco do Brasil tinha créditos, no exterior, somando cérca de £ 5.000.000 € nao s6 os esgotou como ainda largamente os excedeu. Em determinado periodo, mais precisamente, em 5 de abril de 1930, 0 débito externo do Banco chegou mesmo a atingir a soma inverosimel de £ 18.211.000. Quando o Govémo Pro- visério assumiu o poder, o descoberto era de £ 7.324.086. Compradas no mercado cambial cérca de £ 800.000, restavam, ainda, £ 6.500.000, e para saldar éste débito teve 0 Banco que contrair as pressas, sob a responsabilidade do Govérno Federal, um empréstimo de £ 6.550.000 com os seus corres- Ppondentes de Londres—N. M. Rothschild & Sons. Este empréstimo, que deveria comegar a ser amortizado em junho, teve as suas prestagSes prorrogadas por mais de seis meses cada uma, ¢ é, hoje, a tinica responsabilidade, das que resultaram da politica de estabilizagao, do Govérno pas- sado, que resta liquidar —a tnica, nao falando nas operagoes do café acima mencionadas ¢ cujo prejuizo nao esta apurado. Desta forma, a estabilizagdo tinha de fracassar, como fracassou, principalmente, pela sua m4 execucfio. Nos tiltimos tempos do Govémo decafdo, isso se tornara evidente. Mas, a mentira oficial porfiava em mascarar a realidade, sempre fugidia e imperceptivel, nas mensagens e relatérios. A Nagao 33 continuaria iludida, até 15 de novembro de 1930, se a revo- lug&o niio explodisse. Nem tudo péde ser esclarecido a0 iniciar-se o Govérno Provisério, e, ainda, hoje, restam ocorréncias € compromissos obscuros. » A divida publica externa, convertidas as varias moedas a dinheiro inglés, pela paridade da época, somava £ 237.262.553, exigindo o seu servico anual mais de £ 20.000.000. A divida interna consolidada, da Unido e dos Estados, atingia a 3.419.862 :300$ e a flutuante, também da Uniao e dos Estados, a 1.982.867:333$000. Além désses totais em moeda nacional, aumen- tara nossa divida externa, em francos, pela decisao de Haia, e surgiram varias reclamagdes, apresen- tadas ao Tesouro, de contas n&o escrituradas, como a seguir se discriminam : Em contos de réis, ouro. 65.642 331000 £ 2,013,304-19-3 Em libras esterlinas.. Em dollars.....0..eceeeee $ 297. 593,18 Em francos franeeses.........+ Fs. 755.427 ,98 Em francos belgas.........22++ Fs. 2.516,80 Em francos suigos....0ceee cee Fs. 338.663 20 Em pesos argentinos.........++ 11,518 28 ¢ mais, em papel As rendas piblicas, a exportago; a importacao, © comércio interno e a produgZo sofreram verda- deiro colapso, acusando redugdes desconhecidas nos nossos anais financeiros. O momento era alarmante 34 para os capitais, de miséria para a produg&o, de angtstia para o comércio, de embaragos de toda sorte para as atividades em geral. O Govérno deposto havia cometido numerosos erros, os mais graves e incriveis, na porfia de de- fender o programa de estabilizag&o, que langara com possibilidades inicialmente exeqUiveis, e, cul- minando nos desacertos, arrastara 0 pais a0 ex- tremo de verdadeira ruina econémica e financeira. No afa de salvar o plano monetério, praticou atos t&o desencontrados e criou tal confusao, que, ao chegar a RevolucHo ao poder, era de balbtrdia, de anarquia, de quasi bancarrota a situacao do Brasil. O ouro emigrara, deixando o énus dos emprés- timos; 0 café cafra, deixando 0 stock, 0 sub-consumo e a super-produgao; as indistrias estavam parali- sadas; a lavoura em crise franca; o capital em panico eo trabalho sem emprégo; o mil réis sem valor ea vida por prego elevadissimo. Fizera-se inflacao, defla- 80 e reinflag&o, tudo no curto perfodo de trés anos. OS OBJETIVOS DA REVOLUCAO A resisténcia do pais revelou energias pode- rosas, que vieram facilitar a ag&o construtora da Revolucao. Enfrentando resolutamente as dificuldades encontradas, reduzimos as despesas piblicas de 35 423.114:989§, no ano de 1931, na Uniiio, e de 221.990:000§, nos Estados, e adotd4mos as provi- déncias consideradas inadidveis para restabelecer © ritmo da vida nacional. A prestagiio de contas feitaem uma publicagao de alto interésse, correspondente ao perfodo de sua gestao, pelo Ministro da Fazenda, Dr. José Maria Whitaker, mostra a ago fecunda e os largos beneficios trazidos para a economia brasileira pela orientagio do Govérno revolucionério, definindo-lhe os objetivos essenciais de ordem financeira: «Restituir ao pais a liberdade econémica, comprando, primeiramente, 0 stock de café, entdo retido, ¢ suprimindo, em seguida, gradativamente, as medidas perturbadoras ou com- pressivas que desorganizavam, no mundo inteiro, 0 comércio do principal artigo da nossa produgo; atingir e assegurar a normalizagao financeira, realizando e mantendo o equilfbrio dos orgamentos; estabelecer uma organizagao bancaria, criandoo Banco Central de Reservas e efetuando, em seguida, a reforma do nosso sistema monetério; instituir, afinal, o crédito agricola, fundando o Banco Hipotec4rio Nacional. Tendo encontrado exaustos o Pats, 0 Tesouro Nacional ¢, até mesmo, o Banco do Brasil, todas as medidas que tomei para resolver as quotidianas dificuldades de uma situagao de constantes aperturas ficaram, entretanto, contidas naquela orientag&o geral, ou, pelo menos, nunca a contrariaram de ma- neita irreparavel. Pouco importa que circunstancias inevitaveis, agitagdes politicas incessantemente renovadas e¢ depress%o econémica profunda e universal, tornassem impossivel a realizacZo integral dos objetivos visados: 0 certo é que 0 Govérno a que pertenci 36 fez o que lhe cumpria fazer, e que, com excegio do projeto de instituigdo do crédito agricola, que dependia da instalagio prévia do Banco Central de Reservas, todas as medidas foram a tempo tomadas para assegurar, normalmente, um sucesso completo. » Em manifesto que dirigi 4 Nagao em 3 de outubro de 1931, tracei-me e ao Govérno da revo- lug&o um programa claro, que ja havia esbo- gado na campanha da Alianga Liberal: « Como mais de uma vez tive enséjo de acentuar, 6 pro- blema que a todos os outros se sobreleva,na tarefa de recons- trugZo a que nos dedicamos, é 0 econdmico-financeiro. Em grave momento da vida nacional, semelhante ao que atravessamos, 0 eminente homem de Estado, que foi Campos Salles, expressou, com outras palavras, idéntico pensamento. Defendendo a patridtica orientag&o que se tragara em face das tremendas dificuldades a vencer, confessava: “Entendi dever consagrer 0 meu govérno a uma obra puramente de adminis- tragdo, separando-a dos interésses e das paixdes partidarias, para s6 cuidar da solug%o dos complicados problemas que cons- titufam o oneroso legado de um longo passado. Compreendi que no seria através da vivacidade incandescente das lutas politicas, que cu chegaria a salvar os créditos da Nagao, com- prometidos em uma concordata com os credores extcrnos”. Corroborando na mesma ordem de idéias, notavel eco- nomista ja acentuara: “As questdes financeiras dominam todas as outras € sio 0 ponto de partida dos grandes melhoramentos econémicos ¢ administrativos”. Estamos sinceramente empenhados na_reorganizagZo econémico-financeira de todo o pais, isto é, da Unido, dos Estados ¢ dos Municfpios, simultaneamente. Comecemos, pois, pela regularizag3o dos nossos compromissos externos federais, 37 estaduais e municipais. O meio mais pritico para atingirmos resultado satisfatério, no melindroso assunto, seria a Unido assumir a responsabilidade désses compromissos, retendo, como garantia, determinadas rendas dos Estados e dos Muni- cipios, suficientes ao cumprimento dos encargos assumidos. A contribuigo ern penhor poderia constituir-se com o produto do imposto de exportagZo, que, de qualquer maneira, deve ser progressivamente reduzido até sua total extingZo. Imposto @se anti-econdmico por exceléncia, além de gravar prejudi- cialmente a nossa produgao, colocando-a em situacio de desi- gualdade, na concorréncia aos mercados consumidores, tem ainda o inconveniente de variar no limite de sua taxag3o se- gundo o lugar e as necessidades dos orgamentos locais. Tao complexo problema ja se acha confiado ao estudo de uma comissdo, especialmente instituida, para procurar-lhe a solugo mais adequada e examinar a possibilidade da criago de outras fontes de renda, capazes de suprir, ao menos em parte, a arrecadaZio condenada a desaparecer. O aparelhamento administrativo-social, nos moides em que © possufmos, n&o corresponde as necessidades e exigéncias da vida do pats. Em matéria prépriamente financeira, o que existia era confusio e desperdicio. N&o se tinha mao nas despesas, e, para cobri-las, todos os expedientes se justificavam. Tornara-se inveterado 0 habito, que deve ser abolido, irrevogavelmente, de recorrer a empréstimos externos, para execugdo de obras suntuarias ou para cobrir deficits orgamentarios. Recurso excepcional, por natureza, transformara-se em meio ordindrio de ocorrer aos gastos ptblicos, sempre exagerados. Para evitar os ruinosos efeitos daf resultantes, no sé € preciso refundir, sistematicamente, dentro de um critério geral, o plano das leis de meios dos Estados, como instituir ainda, em norma inflexivel, o equilibrio entre a receita e a 38 despesa e 0 controle rigoroso da arrecadagZo das rendas ¢ do seu emprégo. O complemento dessa medida deve consistir no trabalho de revistio do nosso sistema tributrio. Existem anomalias fiscais flagrantes, originadas na falta de discriminagao uni- forme e clara das rendas. O mal maiormente se reflete nas nossas tabelas tarifarias. No terreno da tributagio aduaneira, enveredamos por um caminho de franco e desatinado prote- cionismo. Temos certamente numerosas indistrias nacionais, que merecem amparo, mas temos também numerosas in- dastrias artificiais, sem condigdes de resisténcia propria. O protecionismo, tal como se o praticava, favorecia a todas indistintamente.’ O aproveitamento industrial de matérias primas do pais é fator decisivo, sem dtvida, 20 nosso pro- gresso econdmico. E’ justo, por isso, que se o estimule, me- diante politica tariféria, conduzida sem excessos. As tabelas das alfandegas devem refletir ésse crit Sem prejuizo da nossa economia, cumpre tomé-las mais flexiveis, suprir-lhes as deficiéncias, expurgé-las das velharias, enfim, atualizé-las. > A ACKO DO GOVERNO PROVISORIO Tenho procurado, em meio dos acidentes politicos inerentes a todo perfodo de adaptacio revolucionaria, manter éste programa e reali- -lo sem transigéncias. Os nossos orgamentos eram fictfcios, assen- tando sdbre hipéteses ou sdbre dados imprecisos. A reforma de que careciam, envolvendo a de- cepcZo de um regime consolidado nas praticas burocraticas, nao poderia ser improvisada nem imediatamente exigivel. 39 O ano de 1931 teve duas leis orgamentarias. A primeira, publicada em 26 de janeiro de 1931, estabelecia grande redug&o nas despesas, mais metdédica previsdo da receita, e adotava regras salutares, em forma de instrugdes, para a respe- ctiva execucao. No decurso do primeiro trimestre do exer- cicio, verificou-se que a receita prevista n&o cor- respondia 4 realidade da arrecadacao e, igual- mente, que os cortes efetuados na despesa eram insuficientes para assegurar 0 equilfbrio procurado. Ja, ent&o, Sir Otto Niemeyer iniciara seus estudos, compendiados, apés, em substancioso trabalho sébre os nossos problemas’ financeiros, e chegava 4 mesma conclusaéo do Govérno, isto é, da necessidade de efetuar-se a revisao do orga- mento, afim de aumentar as rendas e reduzir, ainda mais, as despesas. Elaborou-se 0 novo orgamento, publicado em 8 de maio de 1931, com a redug&o de.... 423.114:989$707, na despesa, e uma previsdo de 376.570:000§, para mais, nas rendas. Qs resultados foram os mais promissores, apurando-se, findo o exercicio, uma diminuigao de 37.980:541$, ouro, e 538.513:330$, papel, sdbre a despesa do orgamento anterior. O mesmo nio iria suceder com a receita, que ficou aquém da previ- sao, visto nao ter a arrecadac&o correspondido ao acréscimo calculado para alguns impostos. 40 O exercicio encerrou-se, gragas aos recursos de 28.116:992$, ouro, da Caixa de Estabilizagao e€ com a emisséo de 133.384:000$, papel, em obri- gacdes do Tesouro. Em 16 de novembro de 1931, 0 Ministro José Maria Whitaker resolveu deixar a pasta, depois de ter prestado relevantes servicgos ao pais. Substituiu-o o atual Ministro, que procurou executar a mesma politica econdmica e financeira que, desde o inicio, se tragara o Govérno Pro- visério. Na gest&o do novo titular, esforgamo-nos por manter idénticas normas de saneamento orgamen- tario, ultimar as combinagdes do Funding, pagar o Conit, consolidando a ago governamental através de outras medidas e providéncias adequadas. O exercicio financeiro de 1931 escoara-se, quasi todo, absorvido pela tarefa 4rdua de recompér a administrag&o fazendaria, de repér o crédito externo pelos acordos para liquidag&o dos vultosos atrasados banedrios, de fazer remessas para cobrir as pres- tagdes das dividas e de coordenar a vida interna, ameacada em todos os campos da sua atividade. O café exigia medidas que n&o poderiam ser proteladas, sob pena de afundar-se com a ruina désse produto a economia paulista e, talvez, a do pais. A situagao da lavoura, da industria e do co- mércio eram efetivamente angustiosas. 41 Em seu Relatério, dizia o Ministro Whitaker: « Formara-se, ento, em Sao Paulo, um grande stock de café, que impedia, como uma muralha de barragem, a livre saida da produgao désse Estado. Atras dessa muralha deba- tia-se a lavoura na situa¢ao terrivel de nfo poder nem vender © seu produto, que sé chegaria a Santos depois de dois anos e meio de retengao, nem levantar sdbre éle qualquer quantia, que os particulares Ihe negavam ¢ os institutos oficiais j4 lhe nao podiam fornecer. Em conseqiiéncia desta situagZo cessaram de ser pagos regularmente os préprios colonos, e, como, com isso, no recebessem os comerciantes do interior 0 que j4 Ihes tinham adiantado, deixaram, por seu turno, de Pagar aos atacadistas e importadores, refletindo-se, naturalmente, tais dificuldades nas indistrias, que ficaram inteiramente para- lisadas. . Resolvida, pelo Govérno, a demolig&o daquela barragem, iniciada, por outras palavras, a compra do stock, a produgao. pode escoar-se normalmente, restabelecendose, assim, o ritmo interrompido da vida econémica em todo o pais. > N&o bastaria, entretanto, a aquisigio pura & simples do stock existente. Outras providéncias tornaram-se necessaérias e foram adotadas, como medidas complementares, cumprindo mencionar, entre elas, a operac3o com Hard Rand & Cia., de adiantamento sdbre café, e com The Grain Sta- bilisation Corporation, de troca de café por trigo, a lei s6bre conhecimentos comerciais, a criago do Conselho Nacional do Café e a instituigao de uma taxa ouro para as exportagées. O cambio exigiu, almente, ac&o vigilante. 42 O Govérno tentou revogar o seu controle, estabe- lecido pela Junta Governativa, mas, teve que a éle voltar por motivos imperiosos. A par disso, o Banco do Brasil e 0 crédito interno reclamavam atengao especial. O Banco do Brasil tivera seu encaixe, superior a 500 mil contos, re- duzido a 132 mil, sendo que, em curto periodo, emitira 170 mil contos. Assegurada a posig¢ao da nossa maior instituig&o bancaria, cujos encaixes dobraram um ano apés, cabia restituir-lhe a fun¢gao de centro propulsor do crédito nacional, através de uma Carteira de Redesconto, restabelecida e am- pliada em suas benéficas finalidades. O ano de 1931 féra, como ficou demonstrado, de reajuste com o passado, cuja pesada heranga haviamos recebido a beneficio de inventario, e de preparo para realizarmos os propésitos econdmicos e financeiros da Revolucao. O EXERCICIO DE 1932 O exercicio de 1932 comegara sob os melhores auspfcios. Assinado 0 3° Funding, iniciados os pa- gamentos do descoberto banc4rio, em franca e animadora execugao a politica de compra do stock de café e de normalizag&o dos seus negécios, dentro de um plano estudado e aprovado por técnicos, restabelecida a atividade das indistrias, da agri- cultura e do comércio em geral, tudo era de esperar do Govérno e de sua atuac&o reconstrutora. 43 O orgamento de 1932 reduzira ainda mais as despesas e, refletindo a experiéncia do exercicio an- terior, a receita. A aplicagZo dos recursos orgamentarios trans- corria segundo as mais severas regras de boa gesto, quando surgiram as necessidades da séca do Nor- deste, impondo gastos extraordinérios, e, por fim, a rebeliao paulista, exigindo despesas avultadissimas. Agravando os efeitos désses acontecimentos ines- Pperados, sobreveiu, como conseqiiéncia, o decréscimo em massa das rendas. Os Ministérios militares gastaram, a mais, 418.401 :7698000 60.523 :111$000 176.696 :349$000 registando-se um decréscimo na arrecadacao de.. 476.705 608$000 320 :837$000 O exercicio de 1932 acusou um deficit de 1.108.877:991$400 que n&o se verificaria, como evi- dentemente demonstram os algarismos, se nZo sur- gissem estas quatro parcelas, indices de pertur- bagSes imprevistas, que alteraram por completo o ritmo, j4 normalizado, da ascengao financeira do pais. Para cancelar tao vultosos e inadidveis com- Promissos, emitiu 400 mil contos, que automati- camente irao desaparecendo, na medida da colocag3o dos titulos correspondentes da divida pitiblica, aos juros de 7 %, prazo de 10 anos, j4 havendo sido in- 44 cinerados 50 mil contos, e emitiu mais trés letras de 200 mil contos contra o Banco do Brasil, das quais ja resgatou, por pagamento, a primeira, na data do vencimento. Em meio de acontecimentos de tao profunda repercusséo na vida nacional, pédde o Govérno, contra a espectativa geral, manter o crédito externo e€ interno e até prosseguir na execugZo de seu plano de restabelecimento da nossa economia e das _nossas finangas. Firme na orientagéo adotada, continuou a compra dos cafés, invertendo nas respectivas ope- rages a importancia de 2.359.957:648$060, pela forma a seguir discriminada: CAFES COMPRADOS Por férga do decreto nu- mero 19.688. 17.982.693 1.019. 169 759$800 Em Santos. 13.002. 896 898. 168 601$100 Em Sao Paulo. 3.862. 44 No Rio de Janeiro. 1.914.117 Em Vitoria... 682.093, Em Paranagui 125.182 Na Baja 2.000 789 Total... ee eeeeee 37.572.714 2.359.957 26488060 No terreno financeiro, cumprimos integralmente os encargos assumidos: realizamos os depésitos em mil réis, obrigagZo do Funding, tendo no Banco do 45 Brasil a importancia de 731.965:093$; mantivemos © servigo da divida externa em dia, na parte do Funding, bem como na dos atrasados de Haia e dos empréstimos do café, empenhando néles e em outras necessidades a soma de £ 12.561.804; pa- gamos todas as prestagdes dos descobertos do Banco do Brasil. A economia particular, que deveria sofrer as graves conseqliéncias dessas comogées politicas e econédmicas, sem precedentes na nossa histéria, ficou tesguardada, acusando todos os indices — os da in- ddstria, da lavoura, do comércio e do custo da vida — franca melhoria. Nao surgissem os dois poderosos fatores da perturbag&o acima indicados — a séca do Nordeste e a rebeli#o de Sao Paulo —e, como re- sultante, a quéda das rendas publicas, e, por certo, 9 ano de 1932 teria sido o da iniciagZo da politica financeira de saldos efetivos e 0 do restabelecimento da prosperidade da nagao. O EXERCICIO DE 1933 © ano de 1933, comegado em uma atmosfera de paz e de reconstitucionalizag&o do pais, esta a prometer uma era de consolidagao financeira e de reerguimento econdmico. O orgamento foi elaborado sob bases mais se- guras e com redu¢&o ainda maior nas despesas e até na previs&o das rendas. 46 ORGAMENTO NE 1933, COMPARADO COM OS DE 1931 E 1932 ‘EM CONTOS DE Ris RECEITA Dest Anos ‘Ouro Papel Ouro Papel 1931 94.000 1.497.269 114,222, “1, 357.016 1932 109.536 1.392.752 34.406 1.894.285 1933 87.756 1.502.678 34.265 1.861.975 O primeiro semestre do exercicio acusa aumento da receita: RECEITA ARRECADADA NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 1933 Oxo, 1,143 :596$000 352 :800$000 375 930$00G 96.846 :262$000 77 210$000 85,831 :938$000 62.149 :774$000 750.806 :046$000 Comparada essa arrecadag&éo com a de igual periodo de 1932, verificam-se os aumentos de réis 21.878:127$, na parte ouro, e 100.394:352$, na parte papel, ou sejam, respectivamente, 35 e 13% de aumento. Ainda no mesmo semestre, apura-se uma real compressao nos gastos. DESPESA EFETUADA NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 1933 Ouro Justiga.. - Exterior... 1,590 :210$000 Marinha. 874 906$000 Guerra 27 :740$000 Agricultura Viagio. 47 Ouro Papel 2.007 :847$000 41.211 :746$000 32 :427$000 12, 310 :605$000 48 2535000 181.176 8268000 17.981 :2945000 1.016.607 :765$000 Confrontados ésses ntimeros com os da despesa, ouro e papel, em igual perfodo de 1932, apresentam diferengas, para menos, em 1933, de 782:382$, ouro, e 196.280:395$, papel. Os coeficientes do custo da vida s&o auspiciosos, como comprovam os dados estatisticos referentes & Capital do pafs: INDICES DE PRECOS DE ATACADO, PREQOS DE VAREJO E CUSTO DE VIDANO RIODE JANEIRO 1930-1933 Base: 1914 = 100 CUSTO DE VIDA Preco Prego Classe Classe Ano de atecado de varfo média proletisia 1930. 296 271 267 223 1931. 327 294 266 210 1932., 360 325 256 210 355 312 253 206 349 308 252 204 350 306 252 204 342 296 248 201 345 297 250 202 343 293 251 200 ATRASADOS COMERCIAIS Os atrasados comerciais formaram-se em conse- qUéncia da necessidade de retirar cambiais para o Ppagamento do “Consolidation Credit, num total de £ 6.500.000 e da quéda da exportac3o durante a rebelio paulista, computada em £ 7.000.000. 48 Ja em fins de 1931, o Banco do Brasil calculava ésses atrasados em 250 mil contos, aumentados, em fins de 1932, para 550 mil. Era necessdrio regularizar tal situagao, preju- dicial ao crédito pablico e aos negécios em geral. Gragas 4 interferéncia de Sir Otto Niemeyer, da ago de Sir Henry Linch e, nos Estados Unidos, da miss%o enviada 4 Conferéncia de Washington, foi possivel realizar os acordos americano e europeu. Esses acordos, que foram oficialmente divulgados em todos os seus detalhes, permitem ao Banco do Brasil efetuar a liquidacao ajustada no prazo de seis anos, juros de 4%, e a taxas cambiais gran- demente favoraveis. Importaram as adesdes acordadas em 194 mil contos, para os americanos, e 281 mil, para os europeus, ou seja um total de 445 mil contos. Com a operag&o realizada libertou-se o pais das exigéncias prementes dos atrasados comerciais, salvo pequena parcela, que os franceses n&o quiseram incluir na combinagSo européia, feita através de nossos banqueiros, em Londres. Ficou, igualmente, desafogada a pressdo cambial sofrida pelo comércio, cujos negécios nao tardarao em normalizar-se. DESCOBERTO DO BANCO DO BRASIL Entre os desacertos de que é responsdvel o Go- vérno deposto figurava, como tive enséjo de dizer, © descoberto do Banco do Brasil, na importancia 49 de £ 6,500.000, do qual se pagou a Ultima prestagao, poupando-se ao nosso principal estabelecimento de crédito graves e, talvez, irrepardveis prejuizos. E’ oportuno sublinhar que as £ 6.500.000 to- madas em 1930, produziram, a 40$ a libra, pelo cambio da época, muito menos do que seria neces- sario, agora, em mil réis, para pagé-las. Devido, entretanto, a orientagao cambial do Govérno, a liqui- dag&o processou-se sem o menor Onus para o Te- souro, uma vez que a diferenga, tendo sido apenas de 29 mil contos, foi compensada pelos juros. NZo féra essa orientagao eo cancelamento da “Con- solidation Credit’” custaria, como aconteceu com a de consignagdes de café Hard Rand & Comp. e Murray & Simonsen, feitas no Govérno deposto, mais de 70 mil contos, a liquidar. OUTRAS OPERACGES E PROVIDENCIAS Afora as operagées citadas, financiou-se o reco- Ihimento dos bonus paulistas, antecipando ao go- vérno estadual, sob promessa de pagamento em titulos através do Banco do Brasil, a importancia de 180 mil contos. Tratava-se de providéncia neces- sria e inadidvel, uma vez que a emissao, realizada durante o movimento rebelde, viria criar situagao de maiores sacrificios 4s populagdes, j4 provadas na luta, e desorganizar a econornia estadual, com funda repercussao na do pais. Executaram-se, ainda, por intermédio do Mi- 50 nistério da Fazenda, medidas de alto alcance, entre as quais a reforma das leis fiscais, a das Loterias, a revisao das tarifas, a da lei de seguros, ado Dominio da Unio, a da Casa da Moeda, a do Imposto da Renda, a da Recebedoria“de Sao Paulo, a de Isen- gdes, a de Vendas Mercantis, a do Imposto de Consumo e outras. Procedeu-se ao relacionamento da chamada divida passiva, cuja liquidagdo foi auto- rizada pelo decreto n. 23.298, de 27 de outubro do corrente ano, satisfazendo-se, assim, um reclamo constante dos credores do Tesouro Nacional, por varios titulos, e expediu-se o decreto n. 23.150, de 15 de setembro de 1933, estabelecendo novas regras de elaborag&o e execugéo orcamentéria, grande e fecunda iniciativa de prometedores resultados para a ordem e seguranga das finangas nacionais. Iniciou-se, finalmente, a reforma do Tesouro sob bases racionais, capazes de renovar ésse arcaico 6rgao central de administragao, ajustando-o as suas crescentes atribuigdes de diregZo e controle dos ser- vigos da fazenda publica. COMPROMISSOS EXTERNOS A ordenac&o financeira nao seria possivel sem a regularizagao das dividas externas. O Funding, a que foi coagido o Govérno na liquidagio do acérvo recebido, € mero expediente financeiro, que pos- tergaos pagamentos, aprovando as dividas. Nao se poderia considera-lo solug&o definitiva. Pretender 51 prorroga-lo seria de: efeitos desastrosos, material ¢ moralmente, para o pais. Estudou-se, por conseguinte, a retomada dos paga- mentos, envolvendo em sua proposigaio a dos Estados. As combinagies feitas, sob a direta autoridade de Sir Otto Niemeyer, podem ser consideradas como aceitas e resolvidas, decorrendo delas a obrigagao de pagamentos externos, gerais, de nossas dividas, dentro das possibilidades cambiais, e mais o levan- tamento do depésito especial em mil réis, que 0 Go- vérno vinha, por conta do Funding, efetuando no Banco do Brasil. A vida financeira nacional jamais chegaria a consolidar-se se a dos Estados continuasse a se pro- cessar em desac6rdo com as normas estabelecidas para a restaura¢ao do crédito federal. Assim entendendo, procuramos sempre adaptar a ago dos Interventores A orientago central e acre- ditamos que esta politica de unidade financeira, Proveitosa sob todos os aspectos, quer as dividas extemas, quer 4s internas, sera consagrada como uma das melhores conquistas da RevolucHo. De nada valeria a ordem nas finangas nacionais com a anarquia nas estaduais. O PROBLEMA DO CAFE Afim de ultimar a execugio do programa go- vernamental relativo ao problema cafeeiro, houve necessidade de modificar a organizagZo do Conselho 52 Nacional de Café, que foi substituido pelo Depar- tamento Nacional do Café, diretamente subordi- nado ao Ministério da Fazenda. Os objetivos do Govérno ao defrontar o crak do café, legado do regime deposto, podem ser con- siderados como atingidos integralmente. Propusera-se adquirir os stocks, os cafés acumu- lados, as sobras das safras, com o fim de restabe- lecer o equilibrio estatistico e restituir ésse produto basilar da nossa economia @ liberdade comercial. Em casos similares, outros paises viram fra- cassados seus planos, como ocorreu com a borracha, com 0 algodao, com o trigo e até com os metais. O Brasil fez um supremo esférco e conseguiu retirar dos mercados, ao fim de trés anos de ag&o tenaz, 49.524.514 sacas de café, tendo incinerado 23.592.949. A safra Ultima, a maior de toda a nossa pro- ducdo cafeeira, adquirida a quota de sacrificio, escoar-se-4 sem deixar sobras. A safra futura sera inferior & nossa exporta¢ao normal. Podera, entao, volver o café 4 liberdade de comércio, livre de taxas e de Gnus, para recon- quistar os mercados perdidos e entrar, vantajosa- mente, na concorréncia com os demais produtores. SITUACAO ATUAL A politica cambial, a Caixa de Estabilizaco Bancéria, e a acdo central do Banco do Brasil produziram efeitos salutares para a economia e as financas do pais. _53 O crédito alargou-se, os negécios movimenta- ram-se, as iniciativas‘ retomaram aplicagSes, as in- dastrias volveram 4 plenitude de suas atividades, a produgio, sob todas as suas formas, multiplicou-se, € o pais usufrue, hoje, ambiente desafogado em com- para¢&o com outros povos. A moeda brasileira mantém o seu valor de re- lago com as demais moedas, melhorando, franca- mente, 0 seu poder aquisitivo interno e permitindo, assim, 0 aumento da importagao, da produgao, do comércio em geral. O crédito piblico, conforme evidenciam as cotagdes nos grandes mercados, externos e internos, europeus e americanos, vem sendo fortalecido por uma maior procura e crescente valorizacao dos nossos titulos. A situag&o financeira do Tesouro desafogou-se com os recursos provenientes das operacdes dos atrasados comerciais e do novo acérdo sébre as di- vidas externas, permitindo liquidar todos os énus dos exercicios passados, sem novos gravames, an- tes deixando disponibilidades de quasi meio milhZo de contos, restante dos depédsitos, & ordem do Go- vérno, existentes no Banco do Brasil. Gracas a ésses recursos, criar-se-4 o Banco Rural, complementar da Lei de Usura, atendendo-se 4 mais preterida e indeclinavel das necessidades da economia nacional. N&o podia encerrar éste capitulo da atuacdio do Govérno Provisério, no que diz respeito & eco- 54 nomia e finangas, sem aludir ao nosso compareci- mento nas conferéncias de Washington e Londres, cujos trabalhos j4 foram amplamente divulgados. Quando o mundo atravessa crise sem prece- dentes que perturba profundamente a vida das nacGes mais ricas e organizadas, ao Brasil cumpria cooperar, na medida das suas possibilidades, parao estudo ¢ solugZo dos graves problemas do momento econémico mundial. ADMINISTRACAO E FINANCAS DOS ESTADOS Parece supérfluo dizer que o Govérno revolu- cionario encontrou a maioria dos Estados em pés- sima situagio administrativa e financeira. O desca- labro no emprégo dos dinheiros ptblicos nao tinha limites e os deficits se acumulavam de forma assus- tadora. O balango global das finangas estaduais, procedido no ano de 1930, apresentava um deficit de 472.450:0008, contra o total de 423.951:000$ em 1929, época considerada de desafégo e prosperidade. As dividas internas e extemas atingiam a 2.941.001 :000$ e 885.948:000$, respectivamente, nao incluidos réis 1.107.000:000$ de divida flutuante, conforme as apuracgdes verificadas até 31 de dezembro de 1930. As receitas arrecadadas no mesmo ano somaram 1.012.177:000$, para uma despesa realizada de 1.484.527 0003000. Quasi nada se liquidava da divida consolidada, enquanto a flutuante tendia sempre a aumentar. 55 Em alguns casos, as despesas mais elementares, inclusive os vencimentos do funcionalismo, tinham © pagamento retardado por longos meses. Para salvar as aparéncias, muitos Estados esforgavam-se por esconder a realidade da situagao, ocultando uns aos outros as dificuldades em que viviam e do mesmo modo 4 Unido, 4 qual apenas se dirigiam quando precisavam de endésso para operagGes financeiras externas ou auxilios do Go- vérno central. A anflise procedida nos balangos financeiros das unidades federativas evidencia a preocupagiio, de que a prépria Unido dava o exemplo, de deso- rientar a opinigo ptiblica com resultados proposi- tadamente alterados. Verdadeira balbtrdia admi- nistrativa existia por toda parte, agravando as conseqiiéncias da desorganizagao financeira. A acumulagao de deficits era tao alarmante, nos Ultimos anos, que a administragao revolucionéria julgou indispensavel decretar o chamado Cédigo dos Interventores, com o fim de regularizar a vida econémico-financeira dos Estados. Apesar da rigorosa compresso efetuada nas despesas, em 1931, apresentava-se o deficit total de 312.411:000$000. Confrontando as cifras refe- rentes aos dois anos anteriores, apura-se nos gastos 221.990:000$, para menos, e, 20 mesmo tempo, a diferenga, nas receitas, de 110.450:000$, também para menos, relativamente a 1929. 56 E’ bem possivel, se nado ocorressem, em 1932, perturbagdes da ordem, que muitos Estados con- seguissem atingir o equilfbrio orgamentario. A soma total dos deficits no referido ano baixou a 178.297:000$, convindo observar que sé o Estado de Sao Paulo absorveu, neste cémputo, a parcela de 164.000:000$000. Por outro lado, as despesas efetuadas nao ultrapassaram de !.260.312:000$000. Para dar uma idéia da politica de compressao a que foram submetidos os Estados, basta referir as importancias globais das despesas correspondentes aos cinco ultimos anos: 1928 — 1,381,631 :000$000 1929 — 1.672.690 :000$000 1930 — 1.484.627 :000$000 1931 — 1.450.700 :000$000 1932 — 1.260.312 :000$000 Estas cifras testemunham eloqiéntemente a atuac&o proveitosa do Govérno revolucionario. O Cédigo dos Interventores comega a produzir, nesse terreno, salutares efeitos. Compare-se o deficit de 1929, época desafogada e de paz interna, com o de 1932: o primeiro atinge a 423.951:000$ eo segundo a 178.279:000$000. Com a preocupagfo de encobrir a verdade, chegou-se, na administragio passada, a majorar as Teceitas com parcelas provenientes de fontes im- préprias, deixando-se, ao mesmo tempo, de con- signar gastos realmente efetuados. O expediente produzia o efeito desejado, isto é, equilibrava, apa- rentemente, os orgamentos. O abuso nao parava 57 ai. Recorria-se ao ouro estrangeiro, contraindo com- promissos avultados e ruinosos cujas conseqiiéncias funestas estdo se fazendo sentir na situagZio finan- ceira dos Estados e da Unido. Possue-se atualmente um levantamento com- pleto dos empréstimos externos dos Estados e das Municipalidades. Foi preciso muito esférgo para realizar esta tarefa. Os dados eram sempre incom- pletos e vagos. Com o auxilio dedicado dos Inter- ventores, a Comisséo de Estudos Financeiros e Econémicos péde ultimar o balango respectivo, Prestando inestimaveis servigos ao pais. O total dos empréstimos contraidos pelos Estados e Mu- nicipalidades, desde o Império, atingiu 4 soma de £& 202.083.8605. Resgataram-se £ 107.479.4600 ¢ a circulagao atual eleva-se a £ 94.604.405 ou sejam 3.784.176:000$ ao cambio de 6 dinheiros. A vida administrativa da maioria dos Estados e Municipios muito lucrou sob o regime das Inter- ventorias. Foi regra geral, observada pelos dele- gados do Govérno Provisério, a compresséo das despesas e a aplicacZo rigorosa dos dinheiros pt- blicos, melhor arrecadados e utilizados. Entre os tri- butos anti-econédmicos enraizados nos orgamentos, os de mais lamentavel repercussio eram os impostos interestaduais e intermunicipais. Para elimind-los, expediram-se providéncias ja conhecidas e cujos resultados refletem grande diminui¢ao nessas taxa- Ses, condenadas a desaparecer, em breve tempo. _ 58 RELACOES EXTERIORES A atividade do Govérno Provisério, no que se refere as relagdes exteriores do Brasil, caracteri- zou-se, nestes trés anos decorridos, por um trabalho constante de solidificagao da paz com todos os paises e de mais estreita cooperacao inter-americana. Vitorioso o movimento revolucionario de 1930, cumpria ao Govérno por éle institufdo esclarecer de- vidamente a opinido internacional acérca dos seus Propésitos, para desfazer a impressdo falsa que se Procurara criar em torno da revolugdo. Tao firmes e satisfatérias eram as nossas razdes, que, no curto espaco de 72 horas, a maioria das nag6es reconheceu, de jure, a nova ordem politica que passava a reger © pais. Resolvida auspiciosamente esta preliminar, en- tramos, desde logo, a tratar dos in@meros e com- plexos problemas que se nos deparavam e de cuja solucao dependia o éxito dos novos rumos da nossa politica externa. REFORMA DE SERVICOS A ag&éo do Govérno, na érbita internacional, Pressupunha, entretanto, a existéncia de um apare- Ihamento capaz de torné-la rapida e eficiente. A ex- periéncia demonstrara que a Secretaria das Relagdes Exteriores, como estava constituida, nao preenchia perfeitamente os seus fins. Pela organizagdo exis- 59 tente, ainda do tempo da Monarquia, 0 -Ministério era servido por trés corpos de funciondrios: o diplo- miatico, © consular e o burocratico, prdpriamente dito; os dois primeiros, formando classes distintas, independentes uma da outra, ¢ 0 terceiro, um quadro Permanente, com todos os defeitos inerentes 4 sua fei¢&o rotineira. Na realidade, a nossa situago in- ternacional pedia érgao mais plastico, dotado de pes- soal com maior capacidade de trabalho, suscetivel de adaptar-se, quando fésse mister, 4s variadas con- tingéncias do servigo. Corrigiu-se a lacuna com a reforma que supri- miu o chamado quadro ‘burocr4tico, refundindo-o nos quadros diplomatico e consular. A Secretaria ganhou a mobilidade de que carecia, ao ter o seu pessoal recrutado entre os funciondrios do servigo externo pelo sistema de rotatividade. Chamados a trabalhar no Brasil, por perfodos regulares, diplo- matas e c6nsules ficarao, por sua vez, familiarizados com a economia interna da repartig&o, emprestan- do-lhe o contingente de sua experiéncia nos pos- tos e recebendo, com uma melhor compreensZo das nossas possibilidades, conhecimentos indispensaveis para atuarem eficientemente no estrangeiro. INTERCAMBIO COMERCIAL © Os trés Gltimos anos coincidem com o periodo de maiores dificuldades defrontadas pelo comércio internacional. Apés o tratado de Versalhes, veri- 60 ficou-se acentuado retraimento nas trocas interna- cionais, refletindo a ansia de bastar-se cada povo a si mesmo ¢ a tendéncia para o isolamento. As per- turbadoras conseqiiéncias dessa atitude se fizeram sentir na quéda brusca e crescente das importagdes e exportagdes, que desciam 4 medida que se ele- vavam as barreiras alfandegarias, e de confinamento financeiro. Definindo sintéticamente essa situago, de certo modo paradoxal, eminente economista acertou dizer: “As nagdes que, no ambito da eco- nomia mundial, haviam fomentado mbtuamente sua riqueza de modo tao admiravel, preocupam-se agora, com anelo crescente, em acelerar, mediante recfprocos obstaculos, a rufna de todos”. Do entrecruzar désses interésses contraditérios resultou, para a humanidade, uma crise generalizada que se caracteriza pelos sintomas mais graves € va- riados: desvalorizagao de todos os produtos, levando & ruina a lavoura € as inddstrias; aumento continuo de desempregados, agravando ao mesmo tempo o problema social e econédmico; desequilibrio dos or- ¢amentos nacionais, determinando majoragSes de tributos aduaneiros e internos, que ainda mais re- duzem o movimento dos negécios; limitagdes e¢ proibigdes de toda espécie, traduzindo-se pela di- minuigZ0 continua do ‘comércio internacional. Situacgo mundial de tamanha gravidade veiu encontrar o Brasil sem um estatuto internacional de comércio, que pusesse a nossa produgao ao abrigo 61 de surpresas. Nao possufamos uma politica de Con- vénio, mas apenas uma dezena de tratados e acordos, alguns celebrados pelo Império, ha quasi um século, outros mais recentes, forgados por circunstancias de momento, todos sem uma diretriz homogénea, e, fora désses poucos atos, a auséncia de qualquer compromisso ou entendimento, que pudessemos utilizar em nossa defesa, perante a grande maioria dos paises com que negociamos. A falta de uma politica comercial tornara-se tanto mais sensfvel quanto a remodelagao poli- tica da Europa, conseqiiente da grande guerra, determinou o aparecimento de pafses novos, cujos mercados nos estavam praticamente vedados, visto as respectivas alfandegas sé concederem os favores da tarifa minima aos produtos dos que a éles se ligaram por convénios internacionais. Tendo em vista esta circunstancia e ainda a ne- ccessidade de atualizar as nossas pautas aduaneiras, instrumento para negociagao de acordos, o Govérno Provisério promulgou o decreto n. 20.380, de 8 de setembro de 1931, em que estabeleceu novo regime tarifario, mandando o Ministério da Fazenda pro- ceder 4 reviséo das tabelas em vigor, ainda de 1901, salvo alterag6es parciais, e encarregando o Minis- tério das RelagSes Exteriores de entrar em enten- ‘dimento com todos os paises com representa¢ao no Brasil, para ajustar com éles convénios comerciais. A orientagao adotada no referido decreto prevé 62 duas fases de negociacdes. A primeira visa garantir aos produtos nacionais, em todos os mercados que nos possam interessar, tratamento nZo menos favo- ravel do que o concedido aos produtos similares des nossos concorrentes, com a seguranga, a mais, de que os favores e vantagens, que se Ihes concedarn, sero estendidos aos produtos brasileiros indepen- dentemente de qualquer concessio pelo Brasil. Pondo em pratica a medida adotada, 0 Ministério das Relagdes Exteriores celebrou, nestes dois anos, tratados e convénios com 31 pafses. Como conseqiiéncia dessa vasta réde de ajustes, que encerra a primeira fase das negociagdes pre- vistas, ficaram assegurados trés resultados imediatos: nos paises que nos dispensavam, de fato, o trata- mento por nés pleiteado, essa situacgao deixou de ser uma concessao da parte déles, para se tomar direito exigivel, em caso de ameaga; nos paises que reservavam aquele tratamento as partes li- gadas por convénios, entre os quais figuram todas as novas e présperas repGblicas da Europa Central e do Baltico — Polénia, Tchecoslovaquia, Austria, Hungria, Finlandia, Lituania, Leténia e Esténia— abrimos mercados que nos estavam interditos pela diferenciagZo das tarifas alfandegarias; em uns e outros, j4 entramos, efetivamente, no gézo de al- gumas vantagens ou favores, concedidos aos nossos concorrentes, independentemente de negociagdes ou concessdes de nossa parte. 63 Examinamos, atualmente, a possibilidade de melhorar a posig&o j4 conquistada pelos acordos celebrados, obtendo que sejam removidas quais- quer dificuldades que, sob a forma de direitos de importagio excessivos, limitagdes ou proibigdes re- ‘ gulamentares, se oponham & entrada dos principais produtos da nossa exportacSo. Concessdes dessa natureza, é€ certo, n’o se obtém senZo em troca de outras equivalentes. O Govérno precisa, por isso, usar de muita prudéncia e discernimento, nas regalias a conceder, de modo a nao provocar, com elas, apreensdes 4 produco agricola e indus- trial do pais. A segunda fase, que consiste em “negociacdes suplementares, para protocolos adicionais, relativos a quaisquer facilidades ou vantagens comerciais, que n&o importem em favores particularizados a qualquer nacdo", j4 foi praticamente iniciada pela inclustio de clausulas aduaneiras nos tratados com © Uruguai e a Repiblica Argentina. Apenas, por estar convencido da repercussdo que as concessdes tarifarias podem ter sébre o complexo da produgaio nacional, 0 Govérno agiu, em ambos os casos, com a indispensdvel cautela, deixando de imprimir a ésses atos, de alta import4ncia politica, toda a amplitude que desejaria dar-Ihes: no caso da Rept- blica Argentina, reduzindo as trocas de concessdes ao minimo de produtos; no caso do Uruguai, dando A tentativa de intercambio livre carater experi- 64 mental, pela possibilidade de revisio anual das clausulas relativas 4s permutas de mercadorias. E' oportuno assinalar que o ajuste e celebragao de atos internacionais nao tém sido a obra mais 4rdua, nem talvez a de mais imediata eficdcia, da, nossa diplomacia comercial, nestes trés anos de crise mundial, durante os quais teve de exercer constante e solicita vigilancia, na defesa do nosso comércio exterior, contra medidas de toda natureza que vém ameacando ou atingindo cada um dos nossos prin- cipais produtos: aumento de direitos alfandegarios, limitag&o, suspens’o ou proibigao de importagées, regimes de quotas e de licencas prévias, sem falar no sem nimero de pequenas exigéncias regulamen- tares, que entravam, cada dia mais, o desenvol- vimento do intercambio das nagdes. As nossas reclamagSes no exterior, como as que, por outro lado, recebemos, contra medidas de igual natureza, constituem tarefa absorvente e delicada a cargo da nossa diplomacia, embora tenhamos encontrado o mesmo espfrito de conciliag&o por parte dos paises com que negociamos, permitindo solucionar favo- ravelmente quasi todas as dificuldades até hoje surgidas. POLITICA CONTINENTAL A nossa politica na América continua a merecer especial e constante aten¢o. 65 O Brasil tem vivido e quer continuar a viver na mais estreita unido de vistas com os Estados civilizados. Nem pode, mesmo, furtar-se a ésse dever de solidariedade humana. Dadas as condigdes poli- ticas e econémicas do nosso tempo, é impossivel a qualquer pais subtrair-se ao convivio internacional; a cooperacao e assisténcia mittua impdem-se, cada vez mais, como fatores essenciais para a estabilidade da paz entre os povos. Sem esquecer estes imperativos de solidariedade internacional, é, entretanto, para o Continente Ameri- cano que se voltam de preferéncia as nossas atengdes. Somos parte nao pequena da grande familia ameri- cana, e esta forma, em todos os sentidos, pela ori- gem, evolugao, necessidades e objetivos, um mundo inteiramente distinto, em que nos cabe uma parcela de responsabilidade histérica, que n3o podemos desprezar e impde o prosseguimento da nossa politica tradicional, sintetizada, ha mais de cem anos, na ex- pressio—sistema americano — de José Bonifacio; e objetivada na gestao gloriosa do segundo Rio-Branco. A atitude de isolamento ou de simples desinte- résse pelas dificuldades politicas e econémicas, em que se debatem alguns paises do Continente, poder4 ser c6moda; nao sera, porém, a mais humana, nem, seguramente, a que o destino nos reservou, como nagao mais extensa e populosa da América do Sul, confinando com quasi a totalidade dos paises que a compéem. 66 Ao iniciar a sua administragZo, o Govérno Provisério impressionou-se com o lamentavel de- sentendimento, que meses antes interrompera as relagdes entre o Pert e o Uruguai. Aceitos os seus bons oficios, gragas ao espirito de conciliagéo dos dois paises, e correspondendo ao nosso empenho, restabelecia-se, pouco depois, a amizade que sempre os uniu. Nao foi menor satisfagZo ver coroado de éxito © nosso trabalho tendente a reconciliar a Venezuela eo México, cujas relagSes estavam suspensas desde 1923. Ha quasi dois anos, esforca-se o Brasil, em com- pleta e estreita colaborac¢Zo com outros paises ame- ricanos, por conseguir que o Paraguai e a Bolivia encontrem uma base de acérdo amigavel para a so- lugdo do conflito do Chaco. Até o meiado do corrente ano, 0 estudo da quest&o esteve entregue a uma Co- misséo de Neutros, especialmente constitufda em Washington, da qual faziam parte, além dos Estados Unidos da América, o Uruguai, Colémbia, Cuba e México. Estranhos, embora, a essa comissao, nao deixamos de prestar-lhe, durante as suas atividades, completa assisténcia, no sentido de facilitar-lhe a ta- refa de harmonizar as duas nages dissidentes. Con- tinuamos, além disso, a atuar sem interrupgao, iso- lada ou coletivamente, por sugestées préprias ou em apdio as de terceiros, interessados como nés na paz do Continente. 67 Pareceu possivel, em dado momento, chegar-se a acérdo satisfat6rio, sob a base de arbitramento, ao firmar-se, na cidade de Mendonza, uma ata de me- diago entre os Governos do Chile e da Argentina. Solicitado, por ambos, o Brasil deu-lhes inteiro apéio. Infelizmente, desapareceram logo em seguida todas as esperancas de acomodagdo paeifica. Apés labo- tiosas negociagGes, o lamentavel dissidio entrava no seu perfodo agudo, com a declaragiio de guerra entre a Bolivia e o Paraguai, e a decisao, tomada pela Co- miss@o dos Neutros, de considerar findos os traba- Ihos de conciliago. Colocando-se na posigio juridica de neutro, o Brasil nao se desinteressou politicamente do assunto. Ao dar por encerrados os seus trabalhos, a referida Comissao entregara a solugo do conflito a Liga das NagGes. Apesar disso, n&o hesitamos em Propér que Se tentasse ainda uma ac&o conjunta dos paises limi- trofes com os contendores, no sentido de estudar e sugerir um meio capaz de decidir pacificamente a luta. Nao significava a iniciativa do Brasil falta de confianga na interven¢ao conciliadora do instituto de Genebra, com o qual colaborémos durante varios anos € cujos esforgos para preservar a paz no mundo sempre reconhecemos. A questo do Chaco assumira para nés, desde 0 inicio, aspecto genuinamente con- tinental, e sentiamos, em conciéncia, a obrigagao de tentarmos, uma vez mais, antes que se procurasse 68 solugao em outro ambiente, resolvé-la no quadro ex- clusivamente americano, limitado, embora, as na- gdes do A. B.C. P., que, por suas condigdes geogra- ficas, tinham, como é facil compreender, interésse primordial em dirimir a contenda. Mau grado nao chegarmos, dessa como das outras vezes, a0 acordo definitivo de paz por todos desejado, tornaram-se evidentes os resultados conseguidos pela agdo con- juntado A. B.C. P., afastando muitas dificuldades que mantinham irredutiveis as nagdes desavindas , A presenga, nesta Capital, do ilustre Chefe da Nagdo Argentina € 0 alto significado dessa visita para a concretizagZo do espirito pacifista americano, ofe- receu oportunidade para dirigirmos um apélo em comum aos dois paises irmaos, justificadamente es- perancados em restabelecer a paz no Continente. Outro acontecimento que também nos preocupou foi o conflito surgido entre o Pert e a Colémbia, com a ocupagao, por férgas peruanas, da cidade de Leti- cia, cedida anteriormente 4 Colémbia, em virtude do tratado Salomén-Lozano, firmado, na cidade de Lima, em 1922. A gravidade do novo incidente consistia, prin- cipalmente, na circunstancia de haver ocorrido as portas de nossas fronteiras, na regiéo banhada pelos trios Iga e Amazonas, quasi & vista da povoagao brasileira de Tabatinga. Isto nos obrigou, sobretudo depois que o incidente assurniu carater de verdadeira luta armada, a tomar as medidas necessarias para 69 guarnecer aquela regiao, de forma a evitar que 0 conflito se estendesse também ao nosso territério. Paralelamente com essas medidas acauteladoras da soberania nacional, empenh4vamos esforgos junto aos contendores, no sentido de obter que o territério litigioso fésse entregue provisriamente 4 adminis- tragHo de delegados brasileiros, que no prazo mais curto possivel o devolveriam as autoridades legais da Colémbia, seguindo-se, imediatamente, uma con- feréncia, a realizar-se na Capital do Brasil, e na qual os dois pafses considerariarn, com largo espirito de concérdia, 0 tratado Salomén-Lozano. Nao foi possivel, porém, chegar a entendimento satisfatério. Verificou-se, posteriormente, a inter- vengao pacificadora da Liga das Nagdes, quando se assentou entregar © territ6rio a uma comissdo por ela designada, que o administraria durante um ano, esperando-se, fundadamente, que, no decorrer désse prazo, se chegasse a um acOrdo pacificador. A comissao referida constituiu-se de trés dele- gados, um brasileiro, um norte-americano ¢ um espanhol, e cumpre a misso que lhe foi confiada, enquanto os delegados dos dois pafses interessados, atualmente retinidos nesta Capital, estudam uma solugo conciliatéria. Quanto a politica americana, a nossa atividade se fez sentir, ainda, nas relagSes de ordem eco- némica e social, através de tratados e convénios ce- lebrados com varias nagdes do Continente, uns, ja 70 firmados, outros, em pleno andamento: acordos de comércio e navegacao, com o Uruguai e a Argentina; de comércio, com a Colémbia, com 0 México e com o Canada; convengao fluvial, com o Paraguai, regu- lando a navegac&o nas aguas jurisdicionais dos dois paises; conveng&o sobre delitos de ordem social, com a Argentina; de extradigZ0 de criminosos, com o Uruguai e a Argentina; demarcagio das fronteiras, com as Guianas Holandesa e Britanica. A PRESENCA DO PRESIDENTE DA NACAO ARGENTINA NO BRASIL Com a Repiblica Argentina, além dos atos acima citados, assinamos mais uma série de outros, aproveitando, para isso, a oportunidade auspiciosa da visita com que nos honrou o ilustre Presidente General Agustin P. Justo. Simples enumeragZo de- monstra a importancia e alcance das questdes regu- ladas: intercdmbio artistico e intelectual, permuta de publicagSes, revisdo de textos de ensino de His- téria e Geografia, fomento do turismo, exposigo de amostras e venda de produtos nacionais, prevengio e repressio do contrabando e regulamentagao da navegacao aérea. Ao lado dessas iniciativas, cumpre destacar, pela alta e excepcional expresso de seus objetivos, o tratado anti-bélico que, consolidando a amizade tradicional entre o Brasil e a Argentina, inaugura nova fase na politica americana, cujos re- 71 sultados nao tardaréo em ser fecundos para a paz continental. A celebragao de tais atos bastaria para tornar histérica e memoravel a presenga, entre nés, do pre- claro Presidente da Nacao Argentina. Pela segunda vez, no decurso de cem anos de vida independente, um chefe de Estado argentino afasta-se do poder Para trazer-nos o penhor da amizade do seu pats. N&o é acontecimento comum. O Govérno Provisério compreendeu-lhe o alcance e significado, dispen- sando ao ilustre visitante homenagens excepcionais, a que se associou entusiasticamente o povo brasi- leiro, em manifestagdes de franca e carinhosa hospi- talidade. Para nagdes com as responsabilidades da Argentina e do Brasil, compenetradas do papel his- térico que Ihes foi reservado nos destinos do Conti- nente, essa visita evidencia, exuberantemente, o forte espirito de confraternizag&o e constante desejo que as anima no sentido de concorrer, com os préprios exemplos, para a manutengZo da paz, do Progresso e do bem-estar da América. DEMARCACAO DE FRONTEIRAS A atuagao do Govérno Provisério ficaria incom- pleta se nao compreendesse também a demarcacao da nossa extensa linha de limites com os paises vi- zinhos. Nao basta marcé-la nos mapas, cumpre, principalmente, fixa-la no solo para tornar efetiva 72 a posse. O trabalho de demarcagao, complexo e mo- Toso, nao se restringe apenas a colocac&o de marcos divisérios, devendo abranger, ao mesrno tempo, o levantamento topografico das zonas de fronteira e sua Caracterizagio. As Comissdes de limites, compostas de civis € militares, vém desempenhando tao patridtica e ar- dua tarefa, despreocupadas dos riscos que sao obri- gadas a enfrentar, longe do conférto da civilizagao e, por vezes, vitimas das endemias reinantes nas zonas inhéspitas que percorrem. VISITAS DE ALTAS PERSONALIDADES Acontecimentos de relévo em nossas relacgSes internacionais foram as visitas de altas personali- dades oficiais estrangeiras, verificadas em condigdes que muito nos desvaneceram. Celebraémos com efu- sivas manifestagSes de entusiasmo a vinda ao Brasil do General Italo Balbo, Ministro da Aeronéutica da Italia, comandandouma esquadrilha de 12 avides, primeira Armada Aérea que atravessou o Atlantico, num voo magnifico de arréjo e eficiéncia profis- sional. Pouco depois, chegava a esta Capital, em hon- rosa visita de cortezia, Sua Alteza Real o Principe de Galles, herdeiro da Corda Britanica, acompa- nhado de seu irmao, 0 Principe Jorge. Ambos foram héspedes particularmente gratos aos sentimentos 73 brasileiros, como comprovaram as expressivas ho- menagens que lhes tributamos, penhor da forte e velha cordialidade que nos liga ao povo inglés. Recebemos, também, a visita da Senhora Eu- zebio Ayala, esposa do Presidente da Reptiblica do Paraguai, e dispensamos 4 ilustre dama, além do acolhimento oficial que Ihe correspondia, inequi- vocas provas de consideracao social. Cabe referir, finalmente, a presenga, entre nés, numa estaco de férias, de Sir John Simon, eminente Chanceler dos Negécios Estrangeiros da Inglaterra. Embora a sua viagem nao revestisse carater oficial, prestaémos-Ihe significativas homenagens de sim- patia e apréco. De forma sucinta, deixamos exposto o trabalho realizado pelo Govérno Provisério no campo das relagGes internacionais. A simples enunciag&o dos fatos demonstra que a nossa politica externa entrou em franco renasci- mento. Ampliando a esfera de nossas atividades co- merciais, reafirmando os nossos anseios de paz e propésitos de cooperagao e fomentando o intercam- bio das grandes conquistas da inteligéncia e do. pen- samento, marc&mos novos rumos de a¢&o constru- tora para, sem veleidades de hegernonia e sémente firmados no direito, elevar 0 conceito do Brasil pe- rante as demais nagdes e nos conselhos da politica continental. 74 FORCAS ARMADAS EXERCITO O Exército, fiel 4 sua tradig&o histérica, depois de colaborar decisivamente com a Nagao, para a vitéria do grande movimento reivindicador da sua soberania, continuou inteiramente dedicado 4 sua misséo precipua de manter a ordem interna e de garantir a integridade da Patria. A organizagao atual das fércas de terra nao pro- porciona, no entanto, o rendimento que é dado esperar das nossas atividades militares. A falta de dotacdes orgamentérias suficientes obriga a con- centragao dos fracos efetivos disponiveis, impedindo, por conseqiiéncia, a disseminacao conveniente dos beneficios da instrugéo militar e da atmosfera de seguranca que ela ‘proporciona. As regides menos favorecidas do pais em recursos educativos, onde a organizacao militar poderia ter uma ag3o civiliza- dora, facilitando, ao mesmo tempo, 0 povoamento e a colonizagao, véer-se privadas désses beneficios. Grandes zonas afastadas e isoladas dos centros de vida intensa, onde a ousadia do mais forte se subs- titue 4 vigilancia da autoridade; ntcleos de popu- lagao, vivendo rudimentarmente, sem nogao de di- reitos e deveres; tudo esta a pedir uma distribuigao mais razoavel e proveitosa dos efetivos militares, 75 de modo a aproveité-los como fatores de atuagZo educativa e de progresso social. Para atingirmos essa finalidade, torna-se neces- sario, sem davida, criar novas unidades e estacio- na-las, de preferéncia, nas zonas fronteiricas mais indicadas e no “hinterland”. Além da instrugZo militar, ministrariam ensino e incutiriam habitos de ordem e trabalho, transformando os conscritos em cidadaos tteis e concientes. Com os resulcados reconhecidos as antigas col6nias militares, tudo aconselha retomarmos a experiéncia, naturalmente, em moldes mais prticos e modernizados. As circuns- tancias atuais de tranqiilidade internacional na América do Sul, afiangada pela nossa politica paci- fista e pelos atos mais recentes de bom entendimento recfproco, permitem ampliar o aproveitamento da capacidade educativa dos militares, fazendo-a benc- ficiar recantos afastados do pais, onde os quarteis deverao ser escola de trabalho e de civismo. Semelhante orientago se harmoniza, aliés, com a nova Lei de Servigo Militar, que operou grande aperfeigoamento no sistema de conscrigao, sem onerar as classes alistaveis e generalizando as obri- gacGes legais. Esse critério de eqitidade, ampliando 0 sorteio, vira, necessariamente, exigir nova distri- buig&o de nucleos instrutores e concorrer para in- tensificar a preparagio da mocidade em todas as regides do pais. Apés a vitéria de 1930, enquanto restabe- 76 lecia em seus lugares, na escala hierarquica, valo- rosos oficiais dela afastados e auxiliares decisivos para a transformagio politica operada, o Govérno procurava estimular os elementos dos quadros que, por atos de boa vontade, coeréncia e capacidade profissional, demonstravam aptidGes para a car- reira militar. Sem langar mao de medidas tendentes a delimitar a ac&o dos militares na politica, podemos comprovar a existéncia, no seio da classe, do desejo predominante de manter o Exército afastado das competigées partidérias, fiel aos seus deveres civicos e atento sempre, dentro da esfera de sua particular atividade, aos superiores interésses do pais. Julgo natural que, como qualquer cidadio, o militar exerga atividade politica, desde que para isso evidencie competéncia e pendores especiais, podendo, também, atuar com relevancia na admi- nistragZo piblica. Perturbador seria, em contraste, a interferéncia coletiva dos militares, como corpo- rago ou classe, na vida polftica do pais, sobre- pondo-se A conciéncia civica nacional, para insti- tuir o regime militarista que, felizmente, nunca se tentou implantar no Brasil, onde as f6rgas ar- madas foram sempre bracgo exeoutor da vontade civil da Nagao. Visando a homogeneizagio da cultura geral e especializada dos quadros, facilitou-se o ensino, aper- feigoando-o: os Colégios Militares tiveram a ago educativa ampliada; a Escola Militar é hoje, exclu- 717 sivamente, um instituto de ensino profissional; as escolas de armas, com as novas unidades-modélo, esto corrigindo e atualizando os conhecimentos de Oficiais subalternos, capit&es e superiores, mediante preparaggio pratica de resultados j4 comprovados; as escolas técnicas de Engenharia, de Intendéncia, de Aplicagao do Servigo de Satide e de Veterinaria fun- cionam com real aproveitamento para o Exército; a Escola de Estado-Maior mantem e desenvolve, Satisfatoriamente, os seus trabalhos, preparando os futuros chefes militares. Tal o aspecto do problema do pessoal do Exército, para cuja solugZo muito tem contribuido a Miss&o Militar Francesa. A par do desenvolvimento técnico, os quadros do Exército exigem uma revisdo equitativa das con- digdes de acesso e remuneracao. Enquanto, para alguns, a carreira militar se faz com facilidade, para outros, sofre retardamentos que precisam ser cor- rigidos. Quanto aos quadros de sargentos, ja se estudam providéncias, destinadas, em parte, a sanar erros administrativos, a aproveitar os inferiores de vocagao militar comprovada e a mantera alimen- tagZo dos quadros de reserva, de acérdo com as exigéncias e normas dos exércitos modemos. O restabelecimento das antigas escolas prepa- ratérias, a melhoria proporcional dos vencimentos dos sargentos efetivamente arregimentados e a reorganizagao dos quadros de escreventes, instru- 78 tores e empregados, sao iniciativas oportunas que, feitas com critério e segundo os ensinamentos de- correntes de longa experiéncia, viréo contribuir para satisfazer justos reclamos e estimular, ao mesmo tempo, o aperfeigoamento militar. O problema méximo do Exército, j4 0 declarei em outra oportunidade, € o do material. Sob certos aspectos, a sua peniria atingiu a limites que n&o podem ser ultrapassados. Fora de qualquer preocupacao armamentista, que nao temos e estaria muito além das nossas possibilidades financeiras, é necess4rio admitir um minimo de aparelhagem bélica indispensavel ao exercicio normal da fungao militar. O progresso formiddvel dos meios meca- nicos de ataque aconselha a aquisicfo de ele- mentos, quando menos, defensivos, e sem os quais seria impossivel dar relativa eficiéncia as fércas armadas. O Govérno esforga-se por estimular a fabricagao de algum material no pais, embora convencido de que o problema sé poder resolver-se cabalmente com a criagio da siderurgia nacional. Ainda ha pouco, enviou 4 Europa uma comiss&o incumbida de visitar os principais centros de industria militar, com o fim de estudar-Ihes os aperfeigoamentos e melhorar a produgao das nossas fabricas e arsenais. Conhecidos os valiosos servigos que, num pais vasto como o nosso, presta a aviagao, devernos considerar notavel progresso de ordem militar a 79 organizacao definitiva da quinta arma. Embora se encontre em inicio a constituigao de trés unidades aéreas, j4 sdo bastante satisfatérios os resultados obtidos, no treinamento dos pilotos, com a utili- zag&o ‘de alguns aparelhos modernos ultimamente adquiridos. Para isso também muito concorreu a criagéo do correio militar aéreo, que, familiari- zando os aviadores com as condigdes geograficas e meteorolégicas do pais, facilita o estudo das rotas mais indicadas e do regime dos véos de longa duragao. O desenvolvimento do correio-aéreo ja deu lugar & formagdo de intimeros campos de “‘aterri- sage”, que aumentardio, necessiriamente, A medida que os governos locais melhor compreendam a uti- lidade da iniciativa, O Estado-Maior do Exército estuda, com Tigo- Toso critério técnico e espirito de economia, a reor- ganizag&o completa das forgas de terra. Nao se trata de aumentar o Exército nem de alterar as linhas gerais em que esté constitufdo. Procura-se, apenas, aproveitar melhor os recursos existentes, imprimir maior ordem aos seus quadros e servicos, combater vicios administrativos e fortalecer o érgao diretor Para que o rendimento geral corresponda aos sacri- ficios feitos pela Nac&o. A reforma planejada, assegurando a fixidez dos recursos orcamentdrios e melhorando a order administrativa, estabelecer4 normas para o desenvolvimento da atividade mi- litar, através de diversas leis que regulario a con- 80 tinuidade e a execugfo dos programas, somando esforgos até agora dispersos. Como complemento, proceder-se-4, ainda, 4 revisaéo dos quadros de ofi- ciais, dos graduados e dos funcionarios em geral, visando mais perfeita adaptac@o aos respectivos misteres e as imposigdes da eficiéncia profissional. Os quadros ordinario e suplementar passarao a ter a fung&o normal para que foram criados. Assim, s6 deverao fazer parte do quadro ordindrio os ofi- ciais efetivamente arregimentados, condigao esta a ser uniformemente imposta aos promovidos para © mesmo quadro, cujas proporgSes terao de corres- ponder, em rigor, as unidades e fragdes de unidades existentes, voltando também a dominar o salutar conceito classico de que nao podem existir unidades do Exército ativo sem um ntcleo permanente de oficiais para ministrar-lhes comando e instrug&o. A compressaéo das despesas a que obrigam as precarias condigées financeiras do pais vem se fazendo sentir, também, nos orgamentos militares, cujas verbas reduzidas nao correspondem 4s reais necessidades do Exército. Apesar desta inevitavel limitag@o de recursos, a obra de sua reconstrugo desenvolve-se promissoramente, gragas ao zélo e patriotismo de seus servidores que, compreendendo a relevante missdo que Ihes cabe no engrande- cimento da Patria, empregam amplo e solidario esférco pelo progresso moral e técnico do Exér- cito. 81 MARINHA No manifesto dirigido A Nagdo em 3 de outubro de 1931, referindo-me 4 Marinha, tive enséjo de expender as seguintes consideragdes, que julgo in- teiramente oportunas: “Tanto quanto o Exército, éste departamento da defesa nacional ressente a falta de material moderno e adequado ao desempenko da sua rdua missZo, que tem por objetivos nitidos e de alta responsabilidade 0 dominio das comuni- cagSes maritimas e a defesa do comércio externo do pais, dentro das exigéncias da nossa vasta zona litoranea e da orientagZo de nossa politica estrita- mente defensiva. Infelizmente, a situag3o financeira, a exigir inexoravel compressdo nas despesas ptblicas, nao permite promover, no momento, a renovagao do nosso poder naval. Apesar de decafdo, se ainda existe, € milagre da tenacidade e esférco dos ofi- ciais e pessoal da Armada, na conservago das uni- dades componentes da nossa esquadra, as quais, todas elas, j& ultrapassaram, ha muito, o tempo predeterminado para a sua durac&o eficiente. Diminuidas as dotagdes déste Ministério, em cérca de 89% na rubrica ouro e 15 % na despesa papel, ainda assim, notavel tem sido o trabalho Para o aperfeigoamento da instruggo do pessoal € conservacéo do seu velho material. Também na Marinha, o sépro renovador, tra- 82 zido pela revolugao, deu ao seu corpo de oficiais novas energias e disposigées para o trabalho. Con- cientes da gravidade financeira do momento, com os parcos recursos de que dispdem, empregam, inteligentemente, 0 seu esfSrgo para que os arsenais, as fabricas e os estabelecimentos navais, elevando © coeficiente da sua produgdo, consertem, fabriquem, produzam e nao sejam apenas simples repartigdes burocraticas de manuseio de papeis e despacho de expediente, deferindo a estabelecimentos particulares a fungao precipua para a qual foram criados’’. Considerando atentamente esta situacao, o Go- vérno Provisério n&o se manteve em atitude pas- siva; procurou, ao contrario, melhora-la com ini- ciativas adequadas, de alcance seguro e pratico, ainda que lentas em seus resultados. Em primeiro plano, apresentava-se a necessidade, sempre adiada, de renovar a esquadra. Enfrentou-a, instituindo um crédito anual de 40.000:000$, durante doze exercicios financeiros consecutivos, que devera ser aplicado de acérdo com o programa naval estabelecido, tendo-se em vista a média das deficiéncias da es- quadra e os recursos de que a Nac&o poderia dispér. Estudados os meios de satisfazer os encargos de- correntes da realizago do plano fixado, abriu-se, logo, a indispensével concorréncia, aguardando-se apenas a apresentagdo de propostas das firmas cons- trutoras para, depois de cuidadoso exame, fixar a escolha e dar inicio aos trabalhos. 83 Esta providéncia néo ficou isolada. Seguiu- se-lhe a criago do Fundo Naval, formado com os saldos das verbas orcamentarias do Ministério, as rendas dos arsenais, capitanias e laboratérios, impostos de faréis e outras. As economias acumnu- ladas ja atingiram em 1932 a cérca de 8 mil contos de réis e destinam-se, como todos os recursos do Fundo Naval, a prover os meios necess4rios para a aquisicao de material flutuante auxiliar e custeio dos servigos de defesa do litoral, de socorros maritimos e€ balisamento da costa. Entre os atos do Govérno Provisério grande- mente proveitosos, para atender as falhas da nossa aparelhagem naval, cumpre lembrar o prossegui- mento das obras do novo Arsenal, na Ilha das Cobras, sob a direcao exclusiva dos engenheiros da propria Marinha de Guerra. Os trabalhos que, dadas as dificuldades financeiras, estavam ameacados de pa- ralisag&o, continuaram, embora ientamente, até que se torne possivel imprimir-Ihes maior impulso. O an- tigo Arsenal, apesar de possuir instalagSes mais ou menos completas e suficientes para realizar os consertos exigidos pela conservagdo dos navios, limi- tava-se, ultimamente, quasi que ao papel de interme- diario entre o Govérno e as emprésas particulares, com as quais se contratava, geralmente em condigdes onerosas, éste servigo, fornecendo apenas o material. Esta anormalidade foi imediatamente corrigida, dispensando-se o auxflio da industria particular e 84 restituindo o nosso estaleiro 4 sua verdadeira fungo. Como conseqtiéncia dessa medida, quasi todos os navios da esquadra carecedores de reparos passaram, no transcurso déstes trés anos, pelas suas oficinas, merecendo destaque, entre os trabalhos executados, a remodelago do encouracado Minas Gerais, obra de vulto e responsabilidade técnica fora do comum. Melhoramento insistentemente reclamado para completar o preparo profissional dos quadros navais, a construgdo de um navio-escola era iniciativa que nao podia continuar procrastinada. Tao grave la- cuna, foi, afinal, corrigida com a constru¢ao, iniciada, nos estaleiros Vikers Armstrong, do navio que re- cebera o nome de Almirante Saldanha. Tratando-se de melhor preparar a Armada para © desempenho de sua missdo, nao era possivel es- quecer a importéncia da aviacZo como fator de de- fesa naval. O reconhecimento desta circunstAncia impunha a criagdo de um corpo de aviagdo na Marinha. A iniciativa j4 produziu auspiciosos resul- tados, com o aumento do nimero de aparelhos e pilotos, cujo aproveitamento se ten evidenciado, satisfatoriamente, através de repetidos cruzeiros ao longo da costa e de exercicios combinados com a esquadra. Para assegurar a eficiéncia das férgas navais n&o basta apenas o aparelhamento material; é indis- pensavel pessoal apto para utiliza-lo. Nesse sentido, também no faltaram providéncias. Para os oficiais, 85 criaram-se, ¢ estao funcionando, diversos cursos de especializagdo, e, para o pessoal subalterno, insti- tuiu-se 0 ensino técnico profissional, completando-se amedida com a regulamentag&o do ingresso e acesso, mediante concurso, no corpo de sub-oficiais, o que, dando maiores garantias, facilita, ao mesmo tempo, a selecao. O resultado das atividades da Armada, no de- correr dos ultimos anos, é amplamente satisfatério e promissor. Pode-se dizer que a Marinha renasce e retorna ao seu antigo prestigio, sob o estimulo de iniciativas que vieram atender as suas necessidades mais prementes e reacender, no seio da classe, a con- fianga e o entusiasmo. Através dos freqiientes exer- cicios, em que a esquadra se tem movimentado para executar manobras com programas prévia e cuida- dosamente estabelecidos pelo Estado-Maior, comandos € guamigdes demonstraram preparo e ardoroso inte- résse, sobrepondo-se a precariedade do material flu- tuante, composto de navios, na maior parte, enve- lhecidos e gastos por longo uso. Possuimos 1.600 léguas de costa e mesmo como instrumento de vigilancia maritima a nossa es- quadra esté longe de satisfazer os seus objetivos. Me- Ihora-la, renovando-lhe as unidades, é ato de previ- déncia e dever de patriotismo. Num pais de escassas vias internas de acesso, como o nosso, tendo os nticleos populosos mais im- portantes espalhados ao longo do vasto litoral, a Ma- 86 rinha de Guerra, “além de garantir a estabilidade das comunicagGes, constitue meio facil para levar, quando necessario, 0 auxilio da Unido e a presenga da sua soberania a qualquer parte do territério nacional”. VIACAO E OBRAS PUBLICAS De maxima relevancia, nao s6 para o desenvol- vimento econdmico, como, principalmente, para a ago civilizadora do Estado, o problema das comu- nicagdes e das obras piblicas de utilidade coletiva, a cargo do Ministério da Viag&o, mereceu do Govérno revolucionario atengo solicita, apesar do critico periodo atravessado pelas finangas nacionais . A orientagZo administrativa e a capacidade construtora déste importante departamento assina- laram-se, sobretudo, pela mais rigorosa compressao das despesas, na superintendéncia dos servigos que Ihe s&0 subordinados. Os informes que se seguem comprovam o asserto e demonstram que foram suprimidas todas as despesas supérfluas, ampliando-se, igualmente, as economias aos servicos industriais do Estado, com vantajosos resultados. O movimento financeiro dos Correios e Telé- grafos resume-se do seguinte modo : 1930 1931 1932 75.960 :125$100 77.207 :800$000 64. 597 :666$100. 133, 547 :393$800 110.309 :534§700 110. 263 :2665200 :2688700 —33.101:734§700 45. 665 600$100 87 A maior elevagéo da renda global, em 1931, foi devida ao recolhimento da importancia de 16.699 :287$360, pela solugo do caso das taxas terminais do servico de cabos submarinos. Se se computasse, do mesmo modo, o recolhimento da importancia de 10.308 :082$806, divida da mesma origern, depositada no Banco do Brasil, em conta especial, para melhoramento das instalages postais- telegraficas, o deficit, em 1931, ficaria reduzido a 22.793 :651$894. Esse deficit apareceria ainda mais comprimido, em 1931 e 1932, se nao fora a acentuada redugio de tarifas determinada para ambos os servicos. Surpreendente se mostra, sobretudo, 0 movi- mento financeiro das estradas de ferro: 1930 1931 1932 Reccita..... 204.544:110$300 199.628 :379§500 196,348 :5318000 Despesa..... 248.033 :768$400 212.223 :409§900 203.778 7328500 Deficit... 43.489 658$100 12,595 0368400 7.430 :2008900 Cumpre acentuar que, para conseguir ésse tesultado, o Govérno Provisério n&o majorou nenhuma tarifa, tendo observado, ao contrario, uma politica inflexfvel de barateamento de transportes ferroviarios. Mais compensadora seria, ainda, a adminis- tragao dos servicos industriais, se ndo ocorressem os violentos reflexos da séca do Nordeste e a para- lisag3o do trafego de algumas estradas, determinada pelo levante de Sao Paulo, tendo sido de cérca de 88 3.000 contos, na Central do Brasil, em relagfo 4 média do primeiro semestre, a diferenga para menos, mensalmente, nos trés meses correspondentes aquele movimento. Sem tais perturbagdes, o deficit ten- deria a anular-se. Além das receitas consignadas, arrecadaram mais as estradas, no ano de 1932, a importancia de 7.211:862$800 de taxa de viacZo e imposto de transporte, a qual, deduzida do deficit indicado, o reduz a 379:528$900. O movimento, ja divulgado, do primeiro se- mestre, assegura um regime de saldos nas estradas da Unido, a iniciar-se no corrente exercicio. Quanto ao deficit dos Correios e Telégrafos, por sua vez, tera mais sensivel decréscimo. T&o severo espirito de economia n&o impediu, entretanto, a execuc&o de obras iteis e produtivas. Os movimentos revolucionarios de 1930 e 1932 perturbaram grandemente os servigos ptblicos. A estes fatores de influéncia negativa para o desenvol- vimento dos trabalhos junta-se o flagelo das sécas, persistente durante trés anos. Nao houve, contudo, paralisagao de esforgos e, como resumidamente se vera, apura-se valioso ativo de obras novas e melho- ramentos. ESTRADAS DE FERRO Sem contar com os trechos por concluir, houve construgées de linhas, inicio de ramais, prolonga- 89 mentos ¢ concluséo de outros, com o aumento da réde ferrovidria nacional de 526%",885 no Ultimo biénio, em confronto com a média anual de 229 Km. no quinquénio anterior 4 revolugiio, além da cons- trugao de uma grande oficina em Belo Horizonte; eletrificagao de novos trechos da rede mineira de viag¢&o; proposta j4 aprovada para letrificaczio da Central do Brasil, da estag%o Pedro II 4 Barra do Piraf; concess&o da rede sul de Mato Grosso: aprovagao de grandes melhoramentos ¢ obras para a viagao férrea do Rio Grande do Sul e construgio de pontes s6bre os rios Parnafba e Pelotas. Os trechos em construgdo das estradas em geral atingem a 1.179*",960, em franca atividade. Com estudos ja aprovados, ha mais 7,462*".616. CONSTRUCOES FERROVIARIAS As construcées ferroviarias n3o obedeciam a uma orientag&o técnica e econdmica. Constituiu-se, por isso, uma comiss&o de engenheiros de notéria capacidade, para elaborar um plano geral de viacio, trabalho atualmente quasi ultimado. A referida comissdo foi incumbida, também, de estudar: a) a situacSo financeira das estradas de ferro pertencentes ao Govérno Fe- deral, por éle administradas, arrendadas ou 90 concedidas, para conhecimento das mo- dificagdes que devem ser introduzidas nos processos de administragao e das pro- vidéncias de outra ordem, necessdrias Para que nao haja perturbagZo dos trans- Portes; 6) a legislagéo na parte relativa as tomadas de contas das estradas arren- dadas e das que gozam do favor da garantia de juros, afim de se introdu- zirem as modificagdes aconselhadas pela experiéncia; ©) o regime de pagamento mais con- veniente a ser adotado nos _ trabalhos de construg&o dos prolongamentos e ra- mais, pelo Govérno Federal, inclusive o que diz respeito 4s normas em vigor para 0 calculo das tabelas de precos elemen- tares; d) as clausulas e condicdes gerais a que devem obedecer os contratos de arren- damento das estradas de ferro federais aos Estados e companhias particulares; e) 0 regime tarifario, atualmente em vigor nas estradas de ferro federais, para esclarecimento das reformas que conven introduzir e das providéncias que compete ao Govérno tomar, no sentido de, sem prejufzo do equilibrio das mesmas 91 estradas, incrementar o desenvolvimento ea circulagaéo da produgao. Apesar de se ter encontrado o “fundo ferro- viario” completamente esgotado, promoveu-se o rea- parelhamento da maioria das estradas da Unido, que se achavam em estado precarfssimo e aumentou-se a zona de influéncia de outras. Cogita-se, finalmente, da solugZo de varios pro- blemas atinentes aos servigos de viagao, como sejam unificagéo, na medida do possivel, das estradas de ferro de cada regido do pais, ampliacgZo dos des- pachos em trafego miituo as emprésas de navegacZo maritima e adog&o definitiva do interca4mbio de material rodante entre as. estradas da mesma bitola, para uma coordenag&o de todos os servigos de trans- portes ferroviarios, fluviais e maritimos. No intuito de reduzir as despesas das estradas de ferro, entre as quais figura a aquisigao do carvao estrangeiro, facilitou-se o aproveitamento dos com- bustiveis nacionais, como 0 carvao, 0 chisto betu- minoso e a lenha. Assim, além da concessdo de diversos favores 4 industria do carvao nacional, estabeleceu-se que o desembarago alfandegério de qualquer carvao estrangeiro, em bruto ou em “briquettes”, fica dependente da prova de ter sido adquirido pelo im- portador o produto nacional correspondente a 10% da quantidade a importar. Autorizou-se, ainda, 92 o Lloyd Brasileiro ¢ a Central do Brasil a contra- tarem, com as companhias nacionais de carvdo, toda a produgio disponivel. Posteriormente, havendo sido demonstrado por uma comiss&o que estudou, especialmente, o assunto, a vantagem do emprégo do chisto betuminoso,.em mistura, na propor¢ao de 20 % para 30 % de carvao nacional e 50% de carvao estrangeiro, resolveu-se tornar extensivos a essa indtistria os favores e van- tagens concedidos ao carvao nacional. CENTRAL DO BRASIL Dentre as transformagdes por que passaram as emprésas oficiais, convém salientar, por seu maior vulto, a atual situaco da Central do Brasil. Essa estrada tornara-se presa da devastagao politica, que langou no maior descrédito a morali- dade da sua administracio e a regularidade dos seus Servigos, como comprovaram as sindicdncias mandadas proceder pelo Govérno Revolucion4rio. Antes da reorganizagiio técnica e administrativa que se impunha, tornaram-se indmeras providén- cias para a regularizag&o dos servicos, de modo que a compress&o de despesas, de janeiro a agésto de 1931, apresentou uma diferenca, para menos, em relagao a 1930, de 8.443:721$849: outras restrigdes de despesas, como dispensa de engenheiros contra- tados ¢ com difrias, proibig&o de passes de favor, 93 volta aos cargos de muitos funcionarios que na pré- pria estrada estavam comissionados como diaristas e diversas medidas moralizadoras, produziram eco- nomias computadas em 4.055:000$000. As consignagdes subordinadas ao titulo “Pes- soal” que, no orgamento de 1930, ascendiam ao total de 128.685:160$, no orsamento definitivo de 1931 passaram a 113.164:210$, reduzindo-se, em 1932, apds a reforma e apesar da incorporasdo da Rio d'Ouro, a 111.735:600$000. A despesa realizada baixou de 128.416:657$971, em 1930, para 108.236:044$492, em 1931, e 105. 589:414$251, em 1932, sem embargo da incor- poracao feita nesse ano da Teresépolis 4 Central do Brasil, que passou, em conseqiiéncia, a ter a seu cargo mais duas estradas. Na redugZo dos quadros de ‘pessoal, houve necessidade de dispensar 1.337 empregados. O Go- vérno, porém, n&o ficou indiferente a situacao désses servidores. Aos que contavam mais de 10 anos de servico assegurou os beneficios da disponibili- dade. Aos dispensados, pagou o abono de dois meses de vencimentos, sendo que uma parte déles percebeu mais um més désse auxilio, pela situagao precdria em que ainda se encontravam em dezembro de 1931. A uns e outros ficou, também, atribuido 0 direito 4 readmissio ou ao aproveitamento em cargos que se venham a vagar, tendo precedéncia, Os postos em disponibilidade. 4 Apesar désse programa de economias, nao se descurou a execucgdo de obras e melhoramentos necess&rios 4 regularizag&o do servico e & seguranca do trafego, salientando-se, entre outros, a retifi- cago da linha do ramal de Sado Paulo ea sua trans- formagao com a mudanga completa dos trilhos, que, em grande parte, deveriam ter sido substituidos ha dez anos. Embora recorrendo a indtistria particular, com grande sacrificio de suas rendas, para conservac3o e reparagao do seu material rodante, a Central do Brasil, desde 1926, abandonava, nos desvios, int- meros carros e vagdes que exigiam consertos ime- diatos. Cem os recursos concedides para o aprovei- tamento désse material, deverao voltar ao trafego, até dezembro, mais de 50 carros. Entre os maiores beneficios ptiblicos conce- didos pelo Govérno Provisério, sobreleva-se a redugao de “‘assinaturas mensais” nos subirbios aos passageiros nos trens de pequeno percurso, favo- recendo o escoamento da populagéo do Distrito Federal e do Estado do Rio, para varias cidades do interior que se ressentiam da falta de comuni- cacao. O aumento de passageiros de subirbios, na estacao Pedro II, em conseqiiéncia dessa providéncia, computou-se em 156.659 passagens, sdbre o movi- mento de 1931. 95 ESTRADAS DE RODAGEM O Govérno Provisério encontrou 0 “fundo rodo- viario"’ com o deficit de 11.962:629$475. Acresce que o produto do fundo especial, em 1931, de 19.624:104$220, ficou desfalcado de 13.480:000$, cor- respondentes as despesas de juros e amortizagZo de titulos emitidos. Os recursos de que podia dispér o Ministério da Viago mais se reduziram com a extingado do “fundo especial’, em cuja substituigo foram con- cedidas as verbas orgamentarias de 5.946:389$897 em 1932, e 6:000:000$ em 1933. Além disso, por n&o estarem aprovadas todas as despesas das administragdes anteriores, deixou-se de aplicar 0 saldo existente em dezembro de 1931, no total de 7.207:950$809. Sobrepondo-se as dificuldades que se lhe de- paravam, a administragZo revolucionaria empenhou decisivos esforgos para nao deixar em segundo plano um dos pontos fundamentais do seu programa de ado. Comegou-se por dispensar especial cuidado & conservagéo das estradas Rio-Sio Paulo e Rio- Petrépolis, que haviam custado ao Tesouro.... 107.551 :478$486, além dos juros dos titulos, que s6 em 1932 se elevaram a 7 mil contos. Nessas estradas executaram-se vultosos servicos, inclusive de reconstrucao, o mesmo acontecendo com a Uniao 96 e Indistria e ade S&o Joao-Barracio, onde j4 se haviam invertido 14.719:237$956. Outros servigos apreciaveis foram também ultimados, podendo ci- tar-se entre éles: a estrada da Fabrica de Pélvora da Estréla, continuag&o dos estudos da Petrépolis- Teresdpolis e construgZo da estrada de Curitiba a Capela da Ribeira, a cargo do 5° Batalhio de Engenharia, que se encontra 4 disposi¢Zo do Mi- nistério da Viac&o. Os principais trabalhos rodovidrios esto con- fiados 4 Comiss&o de Estradas de Rodagem Federais e aquele batalhao, ja se achando iniciada a cons- trugao da Teresdpolis, ponto de partida da ligacZo Rio-Bafa, que se articulara nesse Ultimo Estado com a rede rodoviaria da Inspetoria de Sécas, per- mitindo, com a conclusao dessa réde, a jungao com Teresina. Conquanto o objetivo principal da Inspetoria Federal de Obras contra as Sécas seja a acudagem, n&o era possivel nem aconselhavel abstrair da sua atividade as obras rodoviarias, consideradas meio pratico para atender a transformagao econdmica resultante da cultura irrigada e campo mais vasto ao emprégo da enorme massa de flagelados que careciam de assisténcia oficial, abrangendo as di- versas zonas atingidas pelo fenémeno climatérico. O novo plano regulamentado fixa, rigorosa- mente, os tragados basicos de tais obras. Os trabalhos nao puderam cingir-se sémente 97 as linhas-troncos: desenvolveram-se em diversos ramais para atender as zonas atingidas pela séca. Das linhas principais, na extensdo de 4.600 Km., achavam-se construidos 1.705 Km. até fevereiro do corrente ano; das linhas subsidiarias, no total de 1,885 Km., estavam terminados 695, na mesma data. Construiram-se, por conseguinte, 2.460 Km. de estrada, sendo 350 de reconstrugao, restando a construir 4.020, para a realizag3o completa désse plano rodovidrio. Foram executadas 1.069 obras de arte, sendo 1.365 boeiros e 302 pontes, com 2.609 metros, todas construgdes em concreto armado. Quanto as estradas, so todas de primeira classe, revestidas de matezrial saibroso, convenientemente comprimido e satisfazendo as condicSes técnicas. Conforme relatérios da Inspetoria de Sécas, até fins de 1930 haviam sido ultimados 2.255 Km. de estradas de rodagem e 5.917 carrocaveis. A falta de conservagao de algumas, a auséncia de obras de arte em outras, a construgao descuidada em quasi todas tiveram, como conseqiiéncia, a inutilizagao de grande nimero delas: muitas desapareceram completamente, a ponto de ser necessdrio recons- truir quasi 400 Km. de estradas antigas. Em geral, as carrogaveis constavam de simples faixas rogadas e destocadas, sem preocupac3o de grade, nem de obras de arte. Serviam até as primeiras chuvas, depois do que, ou sofriam grandes reparos, ou se tornavam de todo inaproveitaveis. 98 Compulsados ésses elementos e submetidos a rigoroso confronto, verifica-se, auspiciosamente, que o Govérno Provisério, dentro de pouco mais de ano, realizou um plano de construgdes rodoviarias de maior extenséo que a obra total das adminis- tragdes anteriores. Note-se, além do mais, que, afora as rodovias executadas diretamente pela Inspetoria de Sécas, muitas outras o foram com verbas fornecidas aos Estados do Norte para auxilio aos flagelados, sendo construfdos, reconstrufdos ou melhorados cérca de 5.700 Km. de estradas de rodagem e carrocaveis, acrescidas de numerosas obras de arte. Considerando-se 0 que significa como poderoso fator de progresso, num pais vasto como o nosso, a expansdéo das comunicagdes rodovidrias, cons- titue deliberagZo assentada do Govérno Provisdério organizar o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, ao qual se atribuirao as seguintes diretivas, ja delineadas: divis&o da competéncia da Unido e dos Estados; meios especiais de finan- ciamento; normas fundamentais de conservagio e born uso’ das estradas; facilidade de circulagdo interestadual de automdveis; e, finalmente, as relagdes de direito désse meio de comunicagHo ter- restre, evitando as confusdes prejudiciais ao seu desenvolvimento. 99 PORTOS E TRAFEGO MARITIMO O aparelhamento dos Portos nacionais, nao € supérfluo observar, tem sido encarado até agora com lamentavel desatencao. Possufmos, certamente, grandes ancoradouros, dispondo de instalagdes com- pletas e até suntuosas, como as dos grandes portos abertos ao intenso trafego da navegacZo interna- cional. Nao se pode chamar a isso, porém, obra completa de organizacao portudria, principalmente, num pais de extensa costa e com toda a circulagao da sua economia dependente das comunicagdes maritimas, Existem ancoradouros em alguns Estados total- mente desprovidos da mais rudimentar aparelhagem. Por les, entretanto, se escda a produgao local e€ se faz o intercAmbio com os demais centros comerciais espalhados ao longo do nosso vasto litoral. E’ de necessidade, portanto, torna-los uti- lizaveis e acessiveis A Navegacao, dotando-os de recursos e instalacSes adequadas, embora com ri- goroso critério de economia e fora de qualquer Preocupagéo grandiosa, como é de hibito entre nds, sempre que se trata de empreender melhora- mentos publicos, As iniciativas do Govérno Provisério ja sBo conhecidas, no que diz respeito ao assunto. Entre- tanto, as informagSes reproduzidas a seguir escla- 100 recem ¢ evidenciam como tem sido encarado, através das providéncias de diversa natureza determinadas a respeito. Como medida preliminar, comegou-se por fundir as antigas Inspetorias de Portos, Riose Canais ¢ a de Navegacao, visando estabelecer a unidade de di- retrizes désses servicos. Varios assuntos de carater geral foram logo examinados, com o fim de elaborar novos regulamentos: atracacao obrigatéria nos por- tos organizados, situagao da navegacdo de cabo- tagem subvencionada, e outros. O Departamento de Portos executou, por sua vez, diversos estudos de obras contratadas e por administracZio, e resolveu numerosas questdes de ordem técnica, destacando-se as mais importantes: concluso e exploragaio do pérto de Natal: cons- truco do cais e atérro do pérto de Cabedelo, fal- tando apenas as obras complementares em anda- mento: estudos completos dos portos de Fortali Maceié e Corumba, com os projetos em elaboragdo para préxima execugao das obras; revisio do plano geral de obras do pérto de Sao Salvador, dos estudos do porto de Belmonte e do projeto dos portos de Vitéria, Recife e Paranagua, reencetando-se as obras do Ultimo e do pérto de Angra dos Reis, assim como a dragagem do rio Sergi, melhorando o acesso a0 porto de Santo Amaro, no recéncavo da Baia: apro- vacio do projeto das obras do pérto de Torres, no Rio Grande do Sul; execugio do programa reduzido 101 de obras da baixada fluminense ¢ instrucdes, ja aprovadas, para o préximo estudo dos rios Araguaia ¢ Tocantins. A extensao das nossas costas e a deficiéncia dos transportes terrestres nfo permitem cogitar, como pareceria natural, da concentracao do trafego em alguns portos, devidamente melhorados, aban- donando-se outros. Para enfrentar definitivamente © problema, estudaram-se duas solugdes: primeira, aconstrugdo de molhes ea realizacao de dragagens, © que asseguraria a permanéncia das profundidades necessarias; segundo, a abertura de canal profundo, através das barras, pelas dragagens periédicas. As primeiras obras s6 se justificariam, pelo seu elevado custo, em portos de grande trafego. A segunda solug&o apresenta-se, portanto, mais aceitavel, por exigir, apenas, a compra de uma draga de succao e€ arrasto, auto-transportadora, com as necessarias condigées de perfeita navegabilidade, afim de poder atender, sucessiva e gradativamente, ao melhora- mento de todos os pequenos portos. NAVEGACAO FLUVIAL A nossa grande rede de vias naturais de nave- gacao interior espera ainda aproveitamento com- pleto e intcligente. Os rios so excelentes estradas, de custeio geralmente médico. Apesar disso, até hoje 102 nZo conseguimos utilizd-los de modo regular e pro- veitoso, Por falta de estudos continuados e meté- dicos, deixaram de ser conjugados com 0 problema ferrovidrio, impossibilitando explorar a navegacao fluvial como meio barato e definitivo de trans- porte. Diante da absoluta falta de elementos de orien- tagdo, existentes a respeito, o trabalho a realizar nesse sentido é enorme. Esta, porém, iniciado e o Govérno nao devera medir esforcos para empreender as obras de melhoramentos consicerados mais efi- cientes, de ac6rdo com o progrema ja estudado. Visando ésse objetivo, o novo regulamento do Departamento de Portos e Navegacio estabeleceu as fiscalizagdes de S80 Luiz e Corumba e ampliou as tribuig6es de todas as outras. A tarefa a executar consumiré, certamente, longo tempo até comple- tar-se em todo o Prasi!, mas chegara, sem divida, a termo, se nao faltarem os recursos necessArios, per- sisténcia e método. MARINHA MERCANTE A administrago ptiblica n&o pode ser indiferente a0 destino da marinha mercante nacional. Ao seu desenvolvimento esto ligados miltiplos e relevantes interésses de ordem econémica. O importante pro- blema apresenta duplo aspecto: material e pesscal. Cogitando do ultimo, ampliaram-se os meios de 103 protegdio ao trabalhador do mare estuda-se uma medida definitiva, capaz de satisfazer o objetivo colimado e de remover exigéncias ociosas e preju- diciais. Quanto ao aspecto material do problema, a solugo se apresenta mais complexa. Como forma de atenuar os 6nus da adminis- tracZo e de aproveitar no trafego as unidades mais eficientes da escassa e velha frota disponivel, tentou-se a fusdio de todas as companhias de navegagao. Depois de prolongados entendimentos, fracassaram as possibilidades dessa fusao, devido, principalmente, a dificuldade de se encontrar uma férmula conciliadora dos interésses das emprésas e & precariedade financeira em que todas se acham. Em vista da desorganizagio em que se encon- trava o Lloyd Brasileiro, ao instalar-se o Covérno Provisério, julgou-se de inadiavel urgéncia intervir na sua administragZ0, nomeando-se um sé diretor para enfeixar as atribuigdes dos trés, previstos nos estatutos da companhia. Em 1930, a receita global da emprésa, compu- tada a subvencgiio, féra de 116.953 contos.Em 1931, assinalou-se surpreendente melhoria, elevando-se a receita apurada a 162.200 contos; em 1932, desceu a 130.898 contos, decorrendo essa quéda, em relagZo ao ano anterior, de causas inelutiveis, como dife- renga de cambio, diminuic&o de taxas de frete, espe- cialmente do café e cacau, mingua de exportacdes € importagGes, diminuico do ndmero de viagens e 104 finalmente a revolug¢ao de Sao Paulo, com o fecha- mento do pérto de Santos. Os aumentos. sdbre o ano de 1930, elevaram-se a 451.237 contos em 1931 e a 13.935 contos em 1932, traduzindo-se os resultados em cada um désses anos, deduzida a despesa, pelo deficit de 17.514 con- tos, em 1930, e pelos saldos de 14.374 contos, em 1931, ¢ 7.290 contos em 1932. Para melhorar semelhante situagao, procurou-s¢e libertar a emprésa de quaisquer influéncias que nfo envolvessem seu interésse industrial, con- fiando-a 4 diregZo de técnicos e deixando a estes absoluta faculdade de escolha quanto aos agentes e auniliares, Outro indice no menos expressivo da me- lhoria de condigdes do Lloyd, nos dois tltimos anos, em relacdo aos de 1930, é o que ressalta da comparagao dos saldos das responsabilidades com que as suas contas foram encerradas em cada um désses exercicios. Os compromissos da emprésa, que eram de 133.467 contos, em 1930, cafram a 83.371 contos, em 1932. O maior obstdculo, porém, anteposto 4 acao governamental para enfrentar o problema da ma- rinha mercante nacional, provinha dos vultosos encargos das questdes judicidrias, recebidos das anteriores administragdes do Lloyd Brasileiro e que ameacgavam transformar os novos sacrificios em responsabilidades ainda maiores. 105 NAVEGACAO AEREA Os transportes aéreos, que se vém desenvol- vendo t&o auspiciosamente e cujos beneficios nao Precisam ser encarecidos, também mereceram a melhor atencg&o por parte dos poderes publics. Criou-se o Departamento de Aeronautica Civil e tra¢aram-se normas para os servicos de aviacio civil e comercial. Em face das nossas condigdes especiais, cumpria atribuir exclusivamente 4 Unido, como se fez, a competéncia para regular tais ser- vigos em todo o territério nacional. Considerando que o material de véo, por ser adquirido no estrangeiro, dificulta a intensificagao do transporte aéreo, resolveu-se estudar as possi- bilidades de instalar no pais fabricas de avides, e para ésse objetivo abriu-se a necessdria concor- réncia. O surto promissor do trafego das linhas aéreas existentes justifica o interésse dedicado pelo Govémo a tudo quanto diz respeito a ésse empreendi- mento. Basta, na verdade, ressaltar os resultados atingidos nos dois dltimos anos, quando o movi- mento de passageiros chegou a cérca de 14 mil, sem um desastre pessoal, elevando-se o transporte da correspondéncia a perto de 117.000 Kg. Diante das vantagens da escolha do Rio de Janeiro para ponto terminal das linhas de diri- 106 giveis do tipo Ceppelin, tornando a nossa Capital centro de convergéncia das linhas aéreas dos demais paises sul-americanos, nZo se hesitou em auxiliar a iniciativa da emprésa exploradora, com o emprés- timo de 12.000 contos, amortizdvel a longo prazo e destinado & construgZ0 da sua base no Brasil. Quanto 4 aviac&o militar, que vem executando vOos semanais para o nosso hinterland, foi esti- mulada, no seu patridtico empreendimento, com a preparagaéo de diversos campos de aterrissagem e hangares no Ceara e Piauf. Sobreleva, porém, a todas essas iniciativas, a constru¢ao do aeroporto do Rio de Janeiro, nos terrenos constituidos pelo atérro feito na ponta do Calabougo. Dentro em pouco iniciar-se-Zo as obras projetadas com a aplicac&o do crédito aberto de 3.000 contos, até ser possivel dispér dos recursos do fundo especial constituido pela venda do sélo postal correspondente. CORREIOS E TELEGRAFOS A semelhanca dos demais servicos industriais do Estado, os servicos postais e telegraficos encon- travam-se em completa desorganizagdo. Falhavam, ora pela escassez de material, mal distribuido e até desperdicado, ora pela funesta intromissZo da Politica, que fizera dos Correios e Telégrafos, com sacrificio da sua eficigncia e dos servidores dedi- 107 cados, reduto de exploragdes escusas e favoritismo desregrado. As medidas reclamadas eram de diversas natu- rezas. Urgia, antes de tudo, restaurar o trafego te- legrafico que, de retardamento em retardamento, entrara em deploravel decadéncia, sofrendo, ainda, a concorréncia das emprésas particulares. Conse- guiu-se, em fouco tempo, restabelecer a pontuali- dade e reconquistar a confianga publica. Quanto ao servico postal, o trabalho a realizar apresentava-se mais arduo, pela complexa e im- perfeita organizag3o existente, tanto sob aspecto material como pessoal. A iniciativa que se impunha foi adotada sem demora, centralizando-se num sé departamento os servicos telegraficos e postais. Os resultados ja se fazem sentir, pela maior eficiéncia e economia com que s&o mantidos, coordenadamente, ambos os servigos. O aproveitamento do pessoal das an- tigas repartigSes, nas seccSes de expediente e con- tabilidade, deu lugar a uma melhor sistematizagio dos trabalhos, ao passo que as instalagées unificadas dispensaram duplas despesas, oferecendo maior co- modidade ao piblico. A reforma realizada demonstrou também a necessidade imperiosa de construg¢do de edificios apropriados ao servico, principalmente nas capi- tais dos Estados que ainda nao os possuem. Apli- 108 cando-se a importancia de 10.308:082$806, corres- pondente a uma parte das taxas em atraso, reco- Ihidas pelas companhias de cabos submarinos, levantam-se atualmente cinco prédios destinados as sedes de diretorias regionais ¢ acham-se preparados os editais de concorréncia para a construgio de outros cinco, ¢ projetada, em estudos, a de mais trés. Afora essas cdificagdes. promoveram-se outras em algumas cidades do interior ¢ 54 agéncias postais- telegraficas padronizadas, nos Estados nordestinos, com as verbas da Inspetoria de Sécas, para trabalho aos flagelados. Computadas as redugées das despesas iniciais, resultantes da retiniio do servico em um sO prédio, © total das economias em aluguel montard, ainda no corrente ano, com as construgdes em andamento, a 1.064:050$000. No houve, por outro lado, aumento de pessoal. Ao contrario, verificou-se redugao, comprovada pela diferenca de despesa entre 1930 ¢ 1932, que im- porta em um decréscimo de mais de 10 mil contos. Apesar da escassez de recursos, nao foi des- curada a ampliag3o da rede telegrafica. Construf- ram-se 306.122 metros de extensio e 875.900 de condutores. A rede total compreende, hoje, respe- ctivamente, em metros, 59.281.100 e 115,351.033. Sem desatender aos trabalhos de conserva¢ao, co- megou-se a executar um plano de restauragao das jinhas do Norte, de acérdo com © projeto orga- 109 nizado e que abrangeré igualmente as linhas do Sul. De par com estas providéncias destinadas ao melhoramento do trafego, tratou-se do aperfei- coamento ¢ ampliagao da rede radio-telegrafica, cujos trabalhos seréo em breve iniciados com a utilizagZo do crédito aberto de 6 mil contos. Como minicia capaz de evidenciar os proveites da unificagZo dos servigos postais e telegraficos, ¢ oportuno referir um fato bem caracteristico dos processos administrativos usados. Existiam amon- toados, ha cinco anos, 50.000 sacos para transporte de correspondéncia. Deteriorados, em parte, apodre- ciam ¢ eram jogados ao mar. Nao obstante, os orga- mentos continuavam a consignar, anualmente, 2 mil contos para serem invertidos na aquisi¢ao désse material. Mediante diminuta UJespesa, repararam-se todas as malas postais deterioradas que voltaram a circular em numero e com reservas suficientes, capazes de tornar desnecess&rias novas aquisigdes, durante dois anos, resultando dai a economia de 4 mil contos. OBRAS CONTRA AS SECAS Como departamento de a¢&o construtora no combate aos flagelos periddicos das sécas do Nox- deste, a Inspetoria de Sécas tornara-se quasi ino- perante, fundida 4 rotina burocratica e as conve- 110 niéncias dissolventes da politica oligdrquica. Este- rilizava-se, ha muito, em pequenas obras disper- sivas, por falta, sobretudo, de um plano de conjunto, numa eterna sangria do erdrio piblico, . sem nenhuma possibilidade de alcangar a solugZo definitiva do problema. Dai a necessidade da reforma aprovada pelo decreto n. 19.726, de 20 de fevereiro de 1931, fixando as necessarias diretrizes para a execug&o do grande empreendimento de salvagao do Nordeste. A calamidade ptiblica transformou, porém, um plano de realizagdes concretas em obra de assis- téncia. Desde o ano de 1926, o Nordeste vinha esgo- tando suas reservas naturais e de 1930 a 1933 sofreu os efeitos de uma estiagem prolongada e sem precedentes. Para evitar a humilhagao da esmola e produzir obra de carater preventivo, que, por seus beneficios permanentes, poupasse a populacdo sertaneja a incidéncia do flagelo, impunha-se urgente e vasta organizacZo de trabalho. Nao foi possivel, de momento, aproveitar toda a legiiio de necessitaclos, sobretudo pela falta de projetos definitivos e de material de constru¢ao suficiente. Tornou-se indispensavel, primeiramente, preparer, no Ceara, onde a crise apresentava mais graves proporc6es, sete campos de concentracao, que chegaram a receber até 105.000 pessoas. 11 Dentro de pouco tempo, j& havia, sé na Inspe- toria de Sécas e em construcées ferroviarias, afora outros servigos, como acudes particulares, em co- operacdo com 0 Govérno, construciio de prédios para os correios e¢ telégrafos, etc., 270.000 operarios, que, computada a média de 4 pessoas por familia, representavam 1.080.000 pessoas socorridas. Para dissolver os ajuntamentos urbanos que comecavam a formar-se, forneceram-se 10.445 pas- sagens e, por intermédio dos Interventores, todos os recursos para o recebimento, hospedagem e¢ lo- calizac&o dos retirantes. Com o mesmo objetivo, Promoveu-se a distribuicgo de trabalhadores e a colonizaso, aproveitando 4reas isentas dos efeitos do flagelo, que foram transformadas em verdadeiros modelos de organizacao de trabalho agricola. Conquanto os créditos abertos se destinassem a amparar as vitimas da calamidade, produziu-se com éles o maior empreendimento que até hoje se rea- lizou para a solugdo do problema das sécas. Os maiores reservatérios construidos até 1930 nao tiveram, a bem dizer, nenhuma intervengZo econdémica na reduc&o dos efeitos da ultima séca. Representavam, apenas, grandes depésitos dagua, sem fungfo irrigatéria. Antes de tudo, era necessario cogitar, portanto, da sistematizagao da cultura irrigada. A capacidade dos acudes ptiblicos concluidos e em andamento, na atual administracio, atinge 112 a mais do duplo da dos construidos até 1930, sendo a dos primeiros de 1.290.129.000 metros cabicos ¢ a dos tltimos de 620.622.000 metros cbicos. Incentivou-se, por outro lado, a construgao de agudes em cooperagdo com particulares, sendo os Estados e municipios auxiliados com 70% € os particulares, individualmente ou associados, com 50 % dos respectivos orgamentos. Nas administragdes passadas, o sistema de cooperacio fracassara, pelos processos adotados. Preferiam-se os favoritos da politica local e o re- cebimento dos prémios dependia de formalidades burocraticas infindaveis c dispendiosas. Com os novos métodos de distribuigio e fiscalizagao dos trabalhos voltou a confianga. Os resultados obtidos s&o prova disso, como se vé do seguinte quadro comparativo: AGUDES CONSTRUIDOS NO CEARA 192 1932 1935 Totis et _ Quint. volume Quast. Yoloms Quant. Tolame Quant, Volume 7 3035.00 4 5.455.000 4 — 6.504.000 15 17.054.000 Agudes em andamento em 28-2-1933...... 36 58.470.800 Total... 0 = 51 70. 124.800 Agudes concluidos até 31-12-1930. ......-+ - 36 30.727.000 A perfuragao de pocos desenvolveu-se, também, com a intensidade possivel, embora prejudicada pelas dificuldades resultantes da prépria séca. 113 O quadro abaixo mostra o volume de servico executado, em comparag&o com o que foi realizado até 1930, nos Estados do Nordeste: Apror. Aband. Total de 1931 a 1933... 55 31 Idem até 31-12-1930... . ool 20 Para demonstrar a soma dos esforgos empe- nhados pelo Govérno Provisério, na salvagio do Nordeste, numa fase de rigorosa politica financeira, basta referir que foi dispendida, nesses servigos, por verbas orc¢amentérias e créditos especiais, a importancia de 233.521 :818$566. O emprégo de tao avultados recursos justificar- se-ia, simplesmente, pelo precioso capital humano, liberado da tremenda calamidade. Se fosse necessario avaliar a desbesa com a medida da utilidade, 0 cal- culo apuraria, mais ou menos, a ninharia de duzentos mil réis pela vida de cada brasileiro salvo do flagelo. Além da ampla assisténcia as vitimas da séca, as. grandes obras simultaneamente realizadas no Nordeste, obedecendo a seguras diretrizes técnicas, constituem, fora de qualquer dtvida, passo defini- tivo para a solugao do angustioso problema. AGRICULTURA E PRODUCAO NACIONAL Nao constitue novidade afirmar que a estrutura da economia nacional assenta sébre a exploragdéo agricola. 114 Toda a nossa exportagiio esta absorvida pelos produtos da agricultura e matérias primas. O simples exame das estatisticas referentes & produgdo agri- cola e a0 comércio exterior evidencia o asserto. Era natural, portanto, que sofréssemos as conseqiiéncias da crise generalizada, traduzidas nas oscilagoes depressivas do nosso interc&mbio comercial. Para agrava-las, contamos ainda com os males internos, principalmente os que decorrem da péssima orga- nizago da lavoura e da precariedade do crédito agricola. A ésses males procuramos dar remédio, através de iniciativas e providéncias referidas nos diversos capitulos da presente exposi¢&o sébre as atividades do Govérno Provisério. Quanto as perturbagGes de ordem externa, 0 pouco que nos era permitido fazer n&o foi esquecido, como se podera verificar, exami- nando a constante e firme vigilancia mantida para garantir e ampliar os mercados estrangeiros abertos ao consumo dos nossos produtos. 5 As dificuldades a vencer, nesse terreno, nao se apresentam facilmente removiveis. A respeito, é bem elogiiente o testemunho do primeiro Ministro da Franga, quando afirmou, na recente Conferéncia Monetéria e Econémica de Londres: “‘Dois tergos da populagao do mundo vivem da agricultura e da produgao de matérias primas. Os pregos dos pro- dutos alimentares e das matérias primas desceram em alguns meses de metade e em alguns casos de 115 dois tergos. Como podem centenas de milhdes de agricultores, que foram privados repentinamente do seu poder aquisitivo e de sua capacidade de con- sumo, continuar como clientes da indtstria, dos bancos e das finangas 7” Durante os ultimos anos, mantivemos mais ou menos estavel o nivel da nossa produgio. Para fa- cilitar-lhe 0 escoamento nao medimos esforgos, a comegar pelo café, principal produto da exportago. N&o nos limitamos sémente a incentivagdo das vendas. Procuramos, também, melhorar a produgao, estimulando-the o desenvolvimento dentro de con- digSes mais racionais e de mais seguros resultados. As providéncias adotadas sébre a borracha e a castanha, isentando-as do imposto de exportagdo de 10 % e favorecendo as emprésas que se obri- gassem a fazer o plantio, 0 cultivo e o beneficiamento désses produtos, do caucho e da balata; a criagZo dos institutos do agticar e do cacau; as numerosas medidas de proteg&o ao alcool; a defesa do carvao nacional; as redugdes de direito para importagZo dos materiais destinados 4 inddstria da carne; a designagaio de comissdo especial para o estudo do cultivo do trigo e outra para estudar as condigdes para o fabrico do cimento com o emprégo de ma- térias primas nacionais; todas essas providéncias € muitas outras dizem bem alto da preocupacao de valorizar e defender a produg&o e a exportacao pelos meios racionais de selegdo e melhoria dos pro-, 116 dutos, postergadas que foram e devem ser as valori- zacdes artificiais que estimularam grande, mas des- ordenado desenvolvimento, sem cogitarem, porém, de conquistar mercados permanentes e remunera- dores. OS SERVICOS DO MINISTERIO DA AGRICULTURA Num pais, como o nosso, de extenso territério de zonas climatéricas variadas e de recursos natur: na sua maior parte, ainda inexplorados, os problemas atinentes 4 agricultura, 4 indistria animal e & ex- plorag3o do sub-solo, exigem, de parte do poder pti- blico, constante estudo e preocupagao. O Ministério da Agricultura, departamento administrativo destinado a atender a ésses pro- blemas, ressentia-se, ha muito, da necessdria efi- ciéncia. Constituido em moldes que nao mais corres- pondiam &s exigéncias da sua finalidade, tornara-se, como ja tive ocasiao de dizer, “um aparelho rigido e inoperante”’; burocratizara-se em excesso, com sa- criffcio das fungdes técnicas, cujo desenvolvimento deveria corresponder as necessidades crescentes da nossa expans&o econdémica. A organizacgio e o desenvolvimento da pro- dugao nacional constituem tarefa de suma impor- 117 tancia, que deve encontrar no Ministério da Agri- cultura o seu érgao especializado. Para adapté-lo a essa finalidade impunha-se, desde logo, imprimir-Ihe nova orientag&o, remode- lando e ampliando, em moldes técnicos e racionais, os servigos distribuidos pelas diversas secgdes que Ihe centralizam a atividade. Comegou-se por destacar, para outras Secre- tarias de Estado, repartigdes que, dada a nova ori- entac&o a adotar, nao mais se relacionavam, direta- mente, com os problemas agricolas. Essa circuns- tancia e a imperiosa necessidade de reduzir os gastos publicos, deram margem a uma remodelaco parcial, levada a efeito na gest3o do Ministro Assis Brasil, que, chamado a desempenhar importante missao no estrangeiro, nao teve oportunidade de levar a cabo a reforma geral que se impunha. E’ oportuno registar, a propésito, a obser- vac¢&o feita pelo primeiro Ministro da Agricultura, ao relatar ao Chefe do Govérno, quando assumiu a pasta, a Situagao em que encontrara os servigos do Ministério e as economias realizadas no respe- ctivo orgamento de despesa: “Duas coisas se impdem com a mesma forga e com a mesma urgéncia: dotar o Ministério da Agricultura com os meios indispen- saveis 4 obra formidavel que Ihe incumbe e orga- niz4-lo de modo que éle possa realizar tal obra’. Coube ao novo titular da pasta levar a efcito tao relevante iniciativa. 118 A REFORMA INICIADA E A SUA FINALIDADE A reforma iniciada pelo atual Ministro, logo apés haver assumido o cargo, teve por fim aparelhar t&o importante departamento administrativo, de modo a permitir-lhe a realizacZo da seguinte tarefa que, em linhas gerais, resume a sua verdadeira finalidade: . a) estudar o aproveitamento racional das matérias primas minerais, vegetais e animais, padronizando e fiscalizando os tipos de produgao; b) estender a rede de pesquisas geolé- gicas e mineralégicas, de forma aestabelecer um cadastro t&o completo quanto possfvel da riqueza mineral do pafs; c) avaliaras disponibilidades da energia utilizavel pela inddstria, determinando a poténcia das quédas dagua, a capacidade das jazidas de carvao e a existéncia de depésitos petroliferos; d) aperfeicoar nossas condigSes agri- colas pela selegio de espécie e escolha do habitat mais favoravel ao seu desenvolvi- mento; , e) estudar a adaptacao de plantas e animais exéticos ao nosso meio, transfor- 119 mando-os racionalmente-em novas fontes de riqueza nacional; f) aperfeigoar os meios de combate as pragas e enfermidades que prejudiquem o desenvolvimento das plantas e animais; g) e, finalmente, modificar, pelas ins- trugdes_técnico-profissionais, — racional e cuidadosamente ministradas — a menta- lidade do nosso meio agricola e pastoril. Tendo em vista ésse programa, a Comissdo de técnicos, designada para organizar a reforma, propés uma remodelag3o geral dos servicos, adstrita a dotagZo do orgamento em vigor, cuja distribui¢ao ficou assim feita, em virtude do decreto n. 22.339, de 11 de janeiro de 1933. 1— SECRETARIA DE Estapo: a) Gabinete do Ministro— Servigo de Publi- cidade. 6) Diretoria do Expediente e Contabilidade — Pagadoria. ¢) Portaria. 2—DzretToria GERAL DE AGRICULTURA: a) Secco de Expediente e Contabilidade. 6) Diretoria do Fomento e Defesa Agricola. c) Diretoria do Ensino Agronémico. 120 d) Diretoria de Plantas Téxteis. e) Diretoria de Fruticultura. f) Diretoria do Sindicalismo-Cooperativista. 3— Diretoria GEeRAL DE INDUsTRIA ANIMAL: a) Secg%o de Expediente e Contabilidade. 6) Instituto de Biologia Animal. ¢) Diretoria de Fomento da Produgdo Animal. d) Diretoria de Defesa Sanitéria Animal. 4— Diretoria GeRAL DE Pesquisas CIENTIFICAS: a) Secg&o de Expediente e Contabilidade. 6) Instituto Biolégico Federal — Jardim Bo- tanico. ¢) Instituto Geolégico e Mineralégico do Brasil — Estag&o Experimental de Combustiveis e Mi- nérios. d) Instituto de Quimica. e) Instituto de Meteorologia, Hidrometria e Ecologia Agricolas. Na justificativa apresentada ao Govérno, depois de ressaltar a oportunidade e significagao da reforma, em face do relatério da referida Comissao, o Ministro aduziu consideragSes em térno dos pontos mais importantes e explicou a nova estruturacdo dos servicos do Ministério. : 121 Essas consideragdes vao transcritas a seguir e esclarecem perfeitamente os objetivos visados: «A atual organizac&o estrutural do Ministério da Agricultura, isto é, o agrupamento e subordi- nac&o de seus 6rgaos funcionais, é, sem divida, uma causa importante de deficiéncia no funcionamento de seus servicos. De fato, os drgaos técnicos do Ministério, agru- pados em 13 diretorias auténomas e tres seccdes isoladas, nZo tém uma ligacZo direta como gabinete do Ministro, nem se subordinam, por afinidades funcionais, 4 orientac’io de aparelhos técnicos, fi- cando todos diretamente subordinados a uma Dire- toria Geral de Agricultura — érg&o burocratico de expediente — e ainda, lateralmente, a uma outra re- parti¢o burocratica— a Diretoria de Contabilidade. Sao evidentes as deficiéncias de uma tal estru- tura¢do funcional, pois: a) as atividades técnicas sofrem o re- tardamento conseqtiente de uma dupla filtragem através de aparelhos burocré- ticos; 6) a excessiva centralizacao désse meca- nismo burocratico importa numa desneces- saria sobrecarga de servigos para os érgaos incumbidos de desempenhéa-los, dando mo- tivo ao congestionamento de papeis em transito; 122 ©) os varios servigos técnicos, a cargo de diretorias e secgdes auténomas, care- cidas da orientacgéo de aparelhos especia- lizados, a que se subordinem, por afinidades funcionais, constituem um mecanismo caro e ineficiente, pela conseqtiente dispersao de esforcos. De modo geral, a reforma consagra os seguintes pontos: a) libertago, até onde for possfvel, dos servicos técnicos da dependéncia imediata do organismo burocratico; b) simplificagfo0 maxima désse orga- nismo; ©) agrupamento dos varios érgaos té- cnicos, de ac6rdo com suas afinidades fun- cionais, e subordinag&o dos grupos, assim formados, a diretorias gerais técnicas; d) ampliago, dentro dos limites do orgamento global do Ministério, das verbas correspondentes a certos servigos, de maior significagZo econémica, em detrimento de outros passiveis de redug%o no momento. Dentro désse espirito, a reforma estabelece: a) enfeixamento dos servigos distri- buidos as duas atuais diretorias gerais de 123 Agricultura e de Contabilidade numa sé repartigao burocratica: — a Diretoria de Expediente e Contabilidade; 6) agrupamento de todos os érgaos té- cnicos, de ac6rdo com suas afinidades fun- cionais, em trés diretorias gerais — uma de Agricultura, uma de Indtstria Animal e outra de Pesquisas Cientificas — a que fica- r&o diretamente subordinados ésses érgaios; ¢) ligag&o direta ao gabinete do Mi- nistro, dessas trés diretorias gerais, cujos papeis s6 transitarao pela diretoria buro- cratica, quando fér isto indispensavel a sua regular tramitagao; d) criag&o imediata de trés diretorias: a de Fruticultura (que deixaré de ser secgdo técnica do Fomento Agricola) e as de Zootecnia e Laticinios e de Veterinaria, em que se desdobrara o atual Servico de Indastria Pastoril; e) criag&o posterior — quando o per- mitirem os recursos financeiros — de mais trés diretorias: Sindicalismo-Cooperativista, Instituto de Genética e Ensino Agronémico; ff) supresséo das seguintes diretorias auténomas atualmente: Instituto de Oleos (de que, parte se incorporara ao Instituto de Quimica, e parte & Escola Superior de Agricultura). 124 Estagao de Minérios ¢ Combustiveis (que se fundiraé com o Servigo Geolégico e Mineralégico); Jardim Botanico (que sera incorporado ao Ins- tituto Biolégico de Defesa Vegetal). A regulamentagao do decreto que estabelecer esta reforma, isto é, a distribuigao legal de fungdes aos atuais érgaos do Ministério e sua subordinagao, dentro da nova estrutura geral de seu mecanismo — deve ser objeto de decretos posteriores, calcados na observagao criteriosa de seu funcionamento. Julgo, entretanto, de bom alvitre fixar, desde ja, as seguintes normas ou tendéncias a que devera su- bordinar-se essa delicada tarefa de reajustamento de fungdes: a) realizar a m&xima economia pos- sivel na verba “Pessoal” para obter, dentro do atual orgamento, maior disponibilidade na verba ‘Material’; 6) confiar o desempenho de fungdes técnicas a funcionarios especializados; ¢) aproveitar, dentro désse critério, para os cargos de diretores de servigos, técnicos que estejam desempenhando fungdes em alguma das secgdes da respectiva diretoria: d) distribuir e localizar os servigos técnicos do Ministério, de acérdo com as ne- cessidades peculiaresas varias zonasdo pais, abandonando, de vez, o critério meramente politico, a que até agora se tem subordinado; 125 e) descentralizar, de preferéncia, a administragao dos servigos — remunerando, tanto quanto possivel, o pessoal dela en- carregado, pelo padrao de vida local — tudo sem prejufzo da necessaria centrali- zagiio técnica; f) tornar efetiva a cooperagao de todos os servigos entre si, de forma a garantir-lhes, pela soma de todos os esforgos, um maior rendimento util. Quanto ao aproveitamento e selegao do pessoal: a) atender a que o Ministério deve ter apenas os funcionarios de que estritamente necessita para o desempenho regular de seus servigos; b) estabelecer a obrigatoriedade do concurso, ou pelo menos da prova de habi- litag3o pessoal, para o preenchimento das vagas que se verificarem no quadro do pessoal, subentendendo-se que os novos funciondérios ingressaréo sempre para o cargo mais baixo do respectivo quadro; c) criar uma comissao de promogées, escolhida entre os préprios funcionarios técnicos e administrativos do Méinistério, & qual incumbira a apreciagéo do mereci- mento dos candidatos 4 promog&o, evitando, 126 de um lado 0 arbitrio da autoridade su- perior e libertando-a, de outro lado, do assédio de interferéncias estranhas aos in- terésses do servigo; d) aplicar ao pessoal excedente — caso isso se verifique com a execug&o da pre- sente reforma — os dispositivos do decreto n. 19.552, de 31 de dezembro de 1930. » Utilizando a suplementago orgamentaria de 11.068:000$, concedida no segundo semestre do exer- cicio corrente, pode o Ministério da Agricultura ampliar e melhorar todos os servigos reorganizados pela reforma e criar mais os seguintes: A) Na Secretaria de Estado: 1. Na Diretoria de Expediente e Contabi- lidade: a) criagfo da pagadoria subordinada a uma nova sec¢o de escrituragao; &) criago da secg&o de material, superin- tendendo o almoxarifado geral. 2. Criagfo da Diretoria de Estatistica e Publicidade. 3. Incorporagéo da Diretoria de Sindi- calismo-Cooperativista, transferida da Diretoria Geral de Agricultura, com o nome de Diretoria de Organizacio e Defesa da. Produgao, e criagHo, nessa 127 diretoria, da Secgo de Geografia Eco- némica, Stocks e Mercados. B) Na Diretoria Geral de Agricultura: 1. CriagZo da Diretoria de Defesa Sanitaria Vegetal, com a) SecgHo de Vigilancia Sanitaria Ve- getal b) Secgao de Defesa Agricola. C) Na Diretoria Geral de Inddstria Animal: 1. Criag&o da Diretoria de Fiscalizagio dos Produtos de Origem Animal. 2. Criag&o da Diretoria de Caca e Pesca. 3. Transformagio, em Diretoria, com o nome de Laboratério Central de Indastria Animal, do antigo Instituto de Biologia Animal, criando-lhe mais uma secgao de parasitologia e a éle incorporando a estag&o de agrostologia e o Posto ex- perimental de avicultura e apicultura de Deodoro. D) Na Diretoria Geral de Pesquisas Cientificas: 1. Criagéo do Instituto de Tecnologia com o acervo da antiga estacZo de Minérios e Combustiveis. 2. Criag&o do Instituto de Biologia Animal: 128 E) Organizagao, com os elementos do antigo Instituto Geolédgico e Mineralégico e Curso anexo a E. S. A. M. V. da Diretoria Geral de Produgao Mineral, com as seguintes diretorias: 1. Diretoria de Minas. 2. Diretoria de Aguas. 3. Instituto Geolégico e Mineralégico. 4. Laboratério Central de Indistria Mi- neral. 5. Escola Nacional de Quimica. A ATIVIDADE DO MINISTERIO EM 1931-1932 A atividade do Ministério, durante-os anos de 1931 e 1932 e os proveitosos esforcos empregados para manté-la 4 altura das exigéncias dos servicos, pode ser apreciada através da exposicio feita pelo Sr. Mario Barboza Carneiro, ao transmitir, em 24 de dezembro de 1932, ao novo Ministro, as fungées que vinha exercendo como encarregado de expedi- ente, na auséncia do titular da pasta. Dessa expo- sigdo trasladamos para aqui as partes mais impor- tantes: ° «Servigo de Inspegéo e Fomento Agricolas: O nosso Servigo de Inspegdio e Fomento Agricolas manteve o ensino pratico e itinerante nos Estados, no Territério do Acre e no Distrito Federal por meio dos campos de cooperagao que, nos dois anos de 1931 e¢ 1932, funcionaram em numero de 330. 129 Os seus campos de sementes produziram, no mesmo periodo, mais de 600 toneladas de diversas espécies. A sua estagao de pomicultura, em Deodoro, distribuiu, em 1931, 34.000 mudas de plantas fru- tiferas, em 1932, cérca de 200.000. Em varios municipios dos Estados de Goiaz, Mato Grosso, Santa Catarina, Sao Paulo, Bafa, Alagéas, Paraiba e Amazonas, foram levantados interessantes questionarios agricolas, que vieram enriquecer a importante coleso de trabalhos dessa natureza, ha anos iniciada. Em varias regides do pais fez 0 Fomento Agri- cola valiosos inquéritos e estudos sdébre as culturas da batatinha, do céco, do cacau, da castanha, da cana, da cebola, do arroz, do feijaio, do marmeleiro, da vinha, da mandioca, da soja, do mate, do fumo, da banana e do abacate. Para intensificar a fruticultura no Distrito Fe- deral e em alguns municipios do Estado do Rio foram destocados mais de 200 hectares e lavrados mais de 700, sendo beneficiadas cérca de 200 pro- priedades, com o tratamento de arvores, forneci- mento de enxertos, adubos e inseticidas, e com a extingao de formigas. " O servigo, a seu cargo, de expurgo e beneficia- miento de cereais, trabalhou, em 1931, 63.065 sacos @ ho corrente ano, até agora, 118.311, sendo a renda de 1931, 60:692$605. 130 A inspegéo de frutas para exportagZo, sé no porto do Rio de Janeiro, abrangeu 1.215.815 caixas de laranjas, 462.173 cachos de bananas, 29.311 caixas de abacaxis, tendo arrecadado, por ésse ser- vigo, 263:054§700. O pésto de embalagem de laranjas de Nova Iguasst que pode ser apontado como um estabele- cimento modelar, na sua especialidade, beneficiou, em 1931, 97.285 caixas de laranjas, e, em 1932, 127.322 caixas, produzindo, no primeiro ano, a renda de 77:557$600 e no segundo a de 113:866$400. A sua secg¢ao de propaganda de cooperativismo trabalhou intensamente, n3o s6 colaborando na organizagao de varias associagSes, como fiscali- zando as registadas no Ministério. As sementes selecionadas, distribuidas pelos agricultores dos diferentes Estados, atingiram o péso de 863 toneladas nos dois anos de 1931 e 1932. Servigo de Indistria Pastoril: A Inddstria Pas- toril instalou nos dois Gltimos anos 357 estagdes de monta provisérias, com animais puros de seus plantéis em 16 Estados e no Territério do Acre, tendo também distribuido, a titulo precdrio, 311 reprodutores para melhoria das ragas. Prestando toda assisténcia as suas dependéncias zootécnicas e as fazendas de criag&o, nelas possue um rebanho de animais puros de mais de 3.700 ca- begas. 131 Sob a inspecZo dos seus técnicos, foram abatidas 1.213.167 cabegas, com a produg&o de 100.483.676 Kg., para exportagdo. Nas xarqueadas registadas e inspecionadas,. a produgao exportada atingiu 130.315.181 Kg. Milhares de andlises fiscais foram executadas em seus laboratérios, para controle dos servigos de inspe¢&o e fomento das zonas de produgao, no interior. Nos laboratérios do Pésto Experimental foram estudadas as principais zoonoses que assolaram varias zonas do pais, procedendo-se em cada caso a verificagZo da natureza do virus, mecanismo da transmissdo, preparo dos s6ros, vacinas, etc. Em Santa Catarina, Mato-Grosso e Alto Rio Branco, continuou intenso e coroado de éxito o trabalho de combate A raiva, tendo-se elevado jaa mais de 200.000 os animais vacinados. O servigo de registo de fabricas foi organizado: realizou-se a padronizag3o dos tipos standard de banha. No nordeste foi coroada de absoluto éxito a organizagao da indtstria do xarque, principalmente no Ceara, onde foram ultimamente instaladas qua- tro xarqueadas, além de demonstragées outras de xarqueamento em varios municipios. Para fomentar a criagZo nacional e instruir os criadores, distribuiu, neste biénio, mais de 6.500 revistas e livros, concedeu transporte para cérca de

Você também pode gostar