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sims ‘Auago na drea etica: alta dca na engenhari? Atuacao na area elétrica: falta ética na engenharia? 13 Comentarios S Edigio 71 - Dezembro de 2011 Por Luciana Mendonsa Desde 1933 uma peleja se estende no chamado sistema Confeag/Crea: quem esté apto a elaborar um projeto de instalagdo elétrica sobretudo em baixa tensio? Esta é uma confusio antiga que envolve engenheitos eletricistas, civis © arquitetos © em grande parte esti atrelada 4 mé redagdo de decretos € leis, a comegar pelo conhecido "Decretio" [3 vi rome 0 Decteto Federal n° 23.569, de 1933, tinha como fungao regular o exereicio das profissbes de engenheito, arquiteto e agrimensor. Em sua redagdo, 0 decreto afirmava: Art, 28 ~ Sao da competéncia do engenheiro civil: b)o estudo, projeto, diregao, fiscalizagao e construcao de edificios com todas as suas obras complementares. Ant, 30 ~ Consideram-se da atribuigdo do arquiteto e engenheiro-arquiteto. 4) estudo, projeto, direcao, fiscalizacdo e construcao de edificios, com todas as suas obras complementares. Quando o decreto utilizava a expresso “obras complementares", criava margem para uma série de interpretagdes. Dentre elas, a de que o projeto de instalagdo elétrica é uma obra complementar, assim como & gatagem coberta ou uma edicula, por exemplo. De acordo coma interpretagdo de cada um, a instalagdo elétrica, do ponto de vista do decreto, podia ser classificada como complementar, argumento contestado pelo engenheiro eletricista e ex-conselheiro do Crea-SP, Paulo Barreto, pois, caso assim fosse, a instalagao elétrica poderia ou nao ser obrigatéria em um prédio, mas sem cla, 0 edificio ficaria impréprio para utilizagao. Durante 30 anos, uma série de atribuigdes profissionais proprias dos engenheiros eletricistas foi estendida a civis © arquitetos. Até que em 1966 entrou em vigora Lei n® 5.194, que nio estabelece atribuigdes profissionais por ‘modalidade, como era o decteto, A lei trata apenas do exercicio legal da profissao e passa a competéncia de atribuigdo ao Srgio federal, nico habilitado para esta funcdo. A questo, entretanto, também nao ficou bem resolvida com a Resolugao n” 218, de 1973, do Confea, que tplwirw.osetoreletrco.com breba-revstal771-atuacac-ne-sree-elerica fala tica-na-engerhria imi impl-componeri&prin= 18page= 15 sms015 ‘Auago nara elévica: aa dcana ngontaria? sustentou ruido de comunicagdo semelhante ao existente no decreto no que se refere a expresso "obras complementares" Ant. 7°- Compete ao engenheiro civil ou ao engenheiro de fortificacdo e construcao: 1-0 desempenko das atividades 01 a 18 do artigo I°desta Resolucdo, referentes a edificacdes, estradas, pistas de rolamentos € acroportos; sistema de transportes, de abastecimento de dgua e de saneamento; portos, rios, canais, barragens ¢ diques; drenagem e irrigagdo; pontes e grandes estruturas; seus servicos afins e correlatos. Novamente, segundo Barreto, o legislador introduziu ruido em seu préprio documento. "Desde quando instalagao clétrica tem afinidade ou comelagao com tijolo, cimento, ou ferragem? A expressio 'servigos afins ¢ comelatos’ no € definida e, porisso, é apropriada por aqueles que se julgam capazes de projetar um sistema de instalagao elétrica, A redagdo do ‘decretdo’ e em parte da resolugdo n° 218 foram as responsiveis, em certa medida, por esta discussio coma qual estamos lidando ha tanto tempo dentro da profissdo e do Sistema Contea/Crea" avalia 0 engenheiro, Excluindo os termos que podem dar dupla interpretagdo, o que se tem hoje dentro do Confea, no ambito da Resolugdo n® 218, “nao deveria dar margem para sombreamento entre as profisses”, na visio de Barreto. O engenheiro civil, o arquiteto, ou qualquer outra modalidade profissional, no possui atribuigdes na drea da energia elétrica ¢ isso pode ser fundamentado inclusive por decisdes plenarias e judiciais, ao longo dos anos, que colocam claramente a responsabilidade de qualquer sistema elétrico, desde a baixa tensdo, nas maos nica e exclusivamente dos engenheiros eletricistas. Para o engenheiro eletticista ¢ conselheito do Confea, Eduardo Delmondes Gées, a legislagdo que regulamenta as profissdes ligadas & engenharia e arquitetura realmente deixa, para alguns, a divida sobre o direito de elaborar e executar projetos de instalagdes elétricas, mas nao ha sombreamento. “Nao hd como a resolugdo configuraro sombreamento, se estamos comparando cinco anos de universidade para o engenheiro eletricista com uma ou, no ‘méximo, duas disciplinas de 30 ou 40 horas de instalagdes elétricas obrigatorias aos engenheitos civis ¢ arquitetos, « quase sempre ministradas por professores sem competéncia técnica para tal”, critica Gots. Para o conselheiro, a questo envolve muito mais ética que qualquer outra coisa, “Como engenheito eletricista e conselheiro federal, nao tenho essa diivida. A atividade de elaborar e executar projetos de instalagdes elétricas & exclusivo de profissionais com formagao na drea elétrica, Esta questdo & mais ética que técnica’, opina Goes, Plendrias derrubam instrugio de serviso na Bahia Um exemplo recente destas confusdes deu-se em 2008, quando o Confea decidiu pelo cancelamento da Instrugdo de Servigo n. 01/2004, da Camara Especializada de Engenharia Civil (CEEC), do Crea-BA, que determinava que engenheiros civis graduados possufam atribuigdes nas dreas de eletricidade, com ou sem restrigdes de tensdes. © autor da agao contra a CEEC foi o engenheiro eletricista Marcos Roberto Borges. Segundo ele, a instrugio de servigo permitia que engenheitos civis se responsabilizassem por projetos de instalagdes elétricas de até 1.000 ‘Volts sem limite de tensio. "Entrei com processo junto a0 Crea e levamos dois anos para demubé-ta. A primeira vitdria veio dentro da propria plendria do Crea ¢ depois ganhamos a ago na plenéria do Confea, em 2008. Mesmo assim, de forma pritica, os civis continuam assinando ART na érea elétrica ea fiscalizago nao dé conta de impedir esta ilegalidade”, Para Borges, a principal questo dentro desta imegularidade & que muitas obras nfo possuem sequer um projeto especifico para instalagGes elétricas. Entdo, o engenheiro civil assina a Anotagdo de Responsabilidade Técnica (ART), mas quem "projeta” a instalagdo é um mestre de obra ou eletricista sem formago nenhuma. "O que este profissional faz é um acobertamento perigoso porque eletricidade envolve riscos para quem trabalha com ela ¢ para quem vai viver ou trabalhar naquele edificio", Borges prossegue afirmando que cada instalagdo é projetada para durar ao menos 15 anos, entdo, ¢ necessirio prever um possivel aumento de carga, cabeamento adequado, futuras manutengdes e reformas, ete Todas estas decisdes io colocadas nas mios de um leigo que ndo tem conhecimento técnico para o assunto. A concessionéria também padece porque instalagdes fora das normas ficam sobrecaregadas, Entdo perde a tslwirw.osetoreletrco.com briwebia-revistal771-atuacac-ra-ares-letrca- ata eca-na-engerharia ml Mmplecomponertpent=18page= 2s sriinos ‘Auagéo na dea oirica: fla ica na engerbaia? populago em termos de seguranca; perdem os engenheitos eletricistas porque possuem uma profissdo regulamentada que é precarizada; e a ética ¢ deixada totalmente de lado, quando vot porum projeto que nao existe", desabafa Borges. é assume a responsabilidade Formagio versus informacao Além de uma mé redagdo de decreto e lei, a grande questio que envolve este embate é 0 priprio conceito de atribuigdo profissional. Até 1973, as engenharias eram unificadas, o que fazia as disciplinas de cada érea serem ministradas de maneira mais abrangente e formativa, Porém, a partir do momento que as engenharias se especializam, 0 curriculo fica dividido entre disciplinas informativas e disciplinas formativas, ¢ ¢ dai que atribuigdes profissionais — do curriculo escolar O engenheiro civil tem aulas de célculo estrutural, concreto armado, disciplinas indispensaveis para sua formagio técnica, que 0 qualifica para prestar determinados servigos, de acordo com o projeto pedagégico de seu curso, Mas cle também tem aulas de ar condicionado, de mecdnica, de elétrica, mas com contetido informativo, pela necessidade de as engenharias dialogarem para a execugio dos projetos. E como se definem as atribuigdes? Segundo Barreto, apenas com as disciplinas de cunho formative. “Infelizmente, isso nao & ensinado e, dentro dos priprios Creas, as pessoas nao tém isso em mente. Fui conselheiro do Crea durante quatro anos ¢ levei tempo para ter este conhecimento, Ha muitos profissionais que imaginam ter conhecimento suficiente para projetar instalagdes elétricas e se responsabilizarem por conta de suas disciplinas informativas. & um despreparado que coloca seu nome, sua responsabilidade civil e criminal em jogo, exorbitando de suas fungdes", explica Bareto. Uma questiio que fiz parte desta discussdo ¢ a quem cabe realizar atribuigdes téenicas. Ficou decidido pelo Confea que as atribuigdes so concedidas por meio de analise curricular, entendendo isso como a estrutura curricular do profissional, o perfil de sua formacdo ¢ 0 projeto pedagdgico dos cursos, considerando-se somente as matérias que dio conhecimento especitfico profissionalizante, A anélise curricular fica a cargo da camara especializada — cAmaras que compoem os Creas ~ inerente & atividade que esté sendo requerida, port somente 0 Confea faz atribuigdes profissionais. O sistema Crea/Confea Na pritica, hé muitos Creas realizando atribuigdes, como 0 caso jd citado da Bahia, Este & um dos grandes problemas dentro do sistema Confea/Crea, pois ele & composto por profissionais de todas as reas abrangidas por esse sistema — arquitetura, agronomia e todas as engenharias. © Confea tem o scu poder legislativo. Este poder Iegislativo chama-se “Plendria” ¢ é composto por profissionais das mais diversas categorias profissionais e que tem como uma de suas fungdes principais decidir sobre projetos de resolugdo destinados @ regulamentar o exerefcio profissional. "Ilistoricamente, o Confea ¢ os Creas tém sido comandados por engenheiros agiSnomos ¢ civis por setem estes a maior parcela dos profissionais do Sistema Confea/Crea, Dai conclui-se, pela obviedade, que é impossivel que a deteminagao do diteito pela elaboragdo e execugio de projetos de instalagdes elétricas exclusivas de profissionais com formagao na dea elétrica seja originada no Sistema Confea/ do Contea, rea" afirma Eduardo Goés, membro conselheiro Ideia semelhante compartitha o presidente da Associago Brasileira de Engenheiros Eletricistas (ABE - SC), Hélio Rohden, "Dentre as profissdes ali presentes, a maioria & da modalidade da engenharia civil, ou seja, quando as matérias de interesse de ambas as modalidades vao para a Plenéria, a maio: que os assuntos de interesse da engenharia elétrica, normalmente, sfo preteridos ea presid ‘numa situagdo delicada, caso resolva apoiar a elétrica, pois hé mais votos do outro lad vence a votagao, o que significa cia do sistema fica explica, Foi por conta destes entraves dentro do sistema que nasceu a Associago Brasileira dos Engenheitos Eletricistas (ABEE) a unidade catarinense foi responsivel por uma agdo inédita no pais. "Nés esolvemos recomer Justiga € reclamar o fato de profissionais sem atribuigao estarem atuando em nossa drea e esta entendeu perfeitamente a tslwirw.osetoreletrco.com briwebia-revistal771-atuacac-ra-ares-letrca- ata eca-na-engerharia ml Mmplecomponertpent=18page= a6 sims ‘Auago na drea etica: alta dca na engenhari? angiistia dos profissionais da érea elétrica", afirma Rohden. A primeira reunio que originou esta agdo ocorreu em 7 de junho de 2003, em Lages (SC). Varios prazos tiveram de ser cumpridos para registro da ABEE-SC no sistema Confea. A aga foi protocolada em abril/2009 na Justiga Federal, apés os associados juntarem documentacdo suficiente para a ago. " Ainda nao temos o desfecho, pois o Crea efetuou todos os recursos possiveis sem lograr éxito, No entanto, a ABE teve total atendimento do judiciario nos seus requerimentos. Na pritica, conseguimos impedir que ptofissionais ndo habilitados preencham ART com cédigos de natureza ¢ atividades da érea eléttica. O site do Crea SC ficou obrigado a bloquear qualquer profissional que nao seja engenheiro cletricista a assinar cédigos da 4rea de engenharia elétrica com nossos cddigos", explica Rohden Para Goés,a ABEE-SC deu um claro exemplo a ser seguido. "A associacdo tem conseguido sucesso no seu intento e deveria ser seguida por todas as entidades de classe dos profissionais da area elétrica'" ‘A questo das disciplinas formativas e informativas também toca em dois pontos que Barreto julga serem muito importantes: o "poder fazer" e 0 "saber fazer". A legislagao, cabe atribuir quem pode desempenhar determinadas atividades, porém, se o profissional ndo se sentir capacitado para determinada tarcfa, mesmo sob o amparo da lei, ele ndo deveri ja. "Caso faga o servigo, sem estar preparado, pode ser considerado um infiator pelo Codigo de responder a processo por negligéncia, impericia e imprudéncia’, relata Barreto. Para Rohden, é ébvio que quem estudou profundamente um determinado assunto, tem melhores condigdes de discemir entre as aparentes possibilidades. "Sem querer denegrir a engenharia civil ou a arquitetura, ou outra que seja, entendo que, da drca elétrica, sio os engenheiros eletricistas os especialistas. Apesar de termos estudado Aisciplinas de outras reas, nés, engenheiros eletricistas, nao nos sentimos 4 vontade para atuarmos naquelas Para ajudara resolver 0 problema de sombreamento, a Resolucdo n’ 1.010/2005 do Confea concede extensio de atribuigdo profissional a engenheiros que fagam cursos de especializago, mestrado ou doutorado registrados no Crea, Para Barreto, a esolugio poderia resolver 0 problema, porque um engenheito civil que queira trabalhar com instalages elétricas, poderia fazer um curso de especializagao e pedir extensdo de atribuigo, o mesmo é valido para um engenheiro eletricista que queira, de repente, trabalhar com questdes da area mecéinica, Na contramio desta possibilidade, Gées nos engenheiros eletricistas e afins, pois ele atribui de forma legal a possibilidade de engenheiros civis e arquitetos elaborarem e executarem projetos de instalagdes elétricas. "Tivemos neste ano a saida dos arquitetos do Sistema Confea/Crea e temos ouvide rumores de outras categorias que querem também a separagdo, Acreditam que esta seja a solugo de todos os problemas existentes hoje no sistema, Ledo engano, neste caso, separagdo & sindnimo de enfiaquecimento. Enfiaquecimento este que pode, um dia, levard destegulamentagdo da profissdo, haja vista que jé se ouviu isso no Congreso Nacional. Fis ai o problema de fato. Enfim, em se tratando de Contea, esta celeuma nao tem previsio para acabar", acredita Goes. 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