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o Manual de PSico do Desport Orica, al deacaald Dapo. eae cada oes com nl ce mpos: inn ee waa Opec Ue (le. 20 ag Pru Tet posed repo my ‘haut omecuprcaie rome Petco Aaradecimentos HAWOnUETOA 1 pi Fricoloia do depo eda civ iia: Naturezs, hire desenvolvimento Jone Fon 2 na coogi do despot: Passa, presente efoto ese V Raposo a ber ' ricolegia do desporo Como einela econo rsa ‘aoa Ps Brito 4 p77 Despoce pricoégico: Dos Ties ramscendnei do GxearF Goncalves 5 po eos ebeneicios Priclegicos do eneretioe Us sciviade fii Jone Cruz, Paulo P. ‘Mochiado © ‘Mav Pots ® pur Consutncins prcaeecas to deport escolar: Uma holes entrior pscologia Francsco Sobral” Aliotwvengio do pieslogo no daspono Crengas © expecta, problemas cow e deat fats ont F Ce, Ra Gomes, uel Vane Pen nractons PSICO1 OCICS IMINO DISHORETIVO ® par Caraceriseas,competéncias ‘proceno paisegios Sseocaos a0 ses € 20 Sho rendimento esporivo se Cau ° pis ‘Sess e ansidade na compat desporva Natrra ftir eavalagto Jone F Cae rr) ps 2 relagto entre aside © ‘endimento ne despot: ‘eoras hipeimes cexplicatvas Jon FCruz ‘so-confiangae renaimento ra compaticaedesporiva Jose F Cruze Miguel F. Viana 12 287 _Alencoe concentgt0 na ‘compegsa deport Miguel Vian Jos F.Cuz 2 P.305 ‘Motvagao para pitiea © compatqae depariva fone Cuz 4 pa Ae aribigdes ausis om contests desportvos ‘ania Fons 1s 360 Frocessamenta da infomaraoetomads de decison dspono out Alves Duarte Avaoio 16 P309) ideranga de equipasdesportivas © Comportmentn doin out Cruze A. Ra Gomes v7 pan ‘relagfotelnadorateta ‘Sisono Sepa 18 p25 Dintmic de grupos ¢coeso mas nips sesportvas Jet Cn Jafo M. Antunes 0 paw scomporaments arses no dewoso Sno Sepa 20 Pass Respostas scogias 8 robecarga de tino ‘gon Viana Factores piol6icos associa is lesbos espa Jos Cruze Maria A. Diss 2 past Some do jet a” rendimento tdesportvo: Una abordapem picofsiligica (Colo FSihaefrge M Siero 2 503 (O eagotamento burnout) 0 despot lenge Sve 24 pst Rial supersigin no despot ‘nto P Beto FREPARACKO MENTAL EPSICOLOGICA PARRA COMPETIGAO DISPORTIVA 25 ps3s (0 ino das competncispioligicas © & preparagio mena para acompetigio Joss. Crize Miguel Mona % P67 “ienicas eesti de contol do sess a asec na. compo desportva Jose F Cue ‘reno de lomo di abjectvos como ‘eat otvsona ses Cave 2 Pow? “Trina do imayina evict mental Jes Cruse Miguel Fans 2» Pow Fein le competent atenconas no ales Migue F Vana 0 ¥ 663 ‘gesiviad y rennin’ deporivo: Lines Ae tervencsin fone Bucs Ana M. Bueno " Pos ‘Bicol depot pica: Areas de intervention en elcioncom el enrenador Howe Bore we Pox Dire recuperagtopsioogica no deporio e fas alae sia font Lu Rie TECNICAS E ESTRATEGIAS DE CONTROLE DO STRESS E DA ANSIEDADE NA COMPETICAO DESPORTIVA José Fernando A. Cruz Instituto de Educagao e Psicologia, Universidade do Minko InTRODUGKO [A natureza, efeltose factores de sess associados aos contexts desportivs, fol ji abordada num capitulo anterior deste livo J. Cruz, “Stesse ansiedade na eompeticao des- portva”). De um modo geral, poder-se dizer que a literatura e a investigagio actualmente existentes no dominio do stress e da ansiedade, em contextos despontvos, permitem evi encia alguns aspectos mals ou menos consensuais ver Cruz, 1994): 1) 0 stress a ansie- dade sto experienciados por todos 0s individuos, em situagdes competitivas, independent mente do seu sex0, idade, nivel competitivo ou modalidade; 2) 0s atletas com maiores ives de sucesso e rendimento experlenciam diferentes paces eutlizam diferentes eta ‘églas para lidar com 0 sre e ansledade assaciados a competicio desporiva (compat \vamente aos atltas menos bem sucedidos ou com facos rendimentos); 3) os efeitos do stress eda ansiedade no rendimentos80 altamente Individvaizados e modeados por varié- veis do tino taco, plas caracteristcase exigdncas da situacio e pelos processos de avalia ‘lo cognitiva e de confronto com as situagBes competvas "Neste sentido, a alse do estado actual do conhecimento neste dominio, evidencia tum aspecta cenzal que parece merecer 0 acordo undnime dos tércos © investigadores da Psicologia do Desporto: 0 efit do stress e da ansledade no rendimento consitul um assunto altamente complexo e individualizado e a sua total compreensio exge a consideragio simul. tinea de varios processosefactores pslcolégios inter-dependentes (Cruz, 1998; no pelo). ‘Mas aquilo que parece ser necessério € encontrar expicacdes e respostas para questoes, problemas ou stuagbes reals que ocorrem em contextos competitivos (Cruz, 199, Por exemplo: ewe 2) Porque 6 que alguns alta sf exceentes nos teinosefaham sob a pressio da competigiot by Porque € que alguns alts parecem ter os seus melhores rendimentos quando pereepcionam nels méximos de pressio, enquanto noutes parece ocover ‘xactamente 0 opora? “ «Porque 6 que alguns alta atingem rendiments parcuarmente bons em jogos cu competigdes de maior dificuldade (ex: jogos “ora de casa, arovas de alton ‘el nacional ou interacional jogs em ambientes “escaldantes"? 6) Porque ¢ que alguns tetas comegam “mal” uma prova ou competi, mas con- Segue “tomea” as dileuldaes,acabando ou terminando a mesma, com alts 100 elevados nveis de rendimento? E porque outs, nio censeguem fazer 0 «9 Porque € que alguns dos melhores atletas do mundo, em diferentes madkalidades, atingem rendimentos méximos durante a compatiéo, apesr de ants da mesma evidenciarem sinais mais ou menos claros de elevadaactvaga, excitagso eo aparentedescontolo emocionlt 1 Porque & que alguns tleta,dotads das melhores caacidaes sicas © tenicas, abandonam, muitas wezes de forma inesperad, a comptics0desportvat £8 Pogue € que alles ou equpasperdem competes ou jogs, spesar de ser eve dente que do pono de vita tecnico, ticlicoe fico, real e objpctvarente, eles So superiors aos seus adversrios? fh Porgue & que alguns alas “engatam” logo no inicio de uma competicso ou Jogo da maxima impornea, para ating, de forma surpeendente OU algo inexperad,rendimentos maxims ou “ecords” nunca antes conseguidos? 1 Porque € que as vezes, muitos dos melhores atts, dotados ds melhores com peténciasecapacidades,falham em momentos deckivosecrucis,apesr de = {oo renltio ctw “expels” seer oy Saye a ies die maior pressSotE porque & que ovvos alas aprecam parcularmente so- bretudo dese tipo desiuactest 1) Qual efeto real, nos niveis de asiedadee no rendiment, de determinadoses- tatgise sistemas titcos de desporto clecivos(e: futebol, andebo, basque tcbol,intencionalmente destinados @pressonar, “perturba” e, consequente ment, “obvigar” os adversrios a cometer eros (ex: “pressing” individuals ou colectves)? E porque & que esse tipo de stuagSoafeca de forma paiculamente rnegativa 0 endimento de alguns atlas, enquanto outs se sertem bem e "gs tam’ de estar nea stuacioz ka Porque & que determinads tua €esatégis de intervencSo, consderadas pe- los “academicos” como no cientficas ou, pelo menos, de efcicia cietica no comprovada, parece esultar na prtica com algurs alles, pelo menos ao nel pricolégico (ex: determinados rai peticasspersticions 1 Porque & que algunas marcas ou “records” permanecem iatngveis durante vi ‘ies anos e,subitamente, depois de “batidos” por um alta, s80sucessivamente €, num cur espaco de tempo, atingidos e melhorados, por esse mesmo e por cuts teas ‘nia eta de conola doses eda anscade 508 1m) © que fazer (e como) para controlar e gerir os elevados niveis de sess, ans dade e pressto psicoligica, associados 2 competigso desportva? £ para este tipo de quests priticas que 0s tetricos e investiqadores neste dominio ever procurar encontrar respostas (Cruz, 1994). No fundo, so as respostas a estas ques- toes e situagies (¢ a muias outas similares) que interessam de facto aos diversos agentes desportvos treinadores,alletas, bros, et.). Seguidamente, abordaremas diferentes ten ‘as, estratgias e programas de intervencio psicolgica, que tm vindo ase sugeidos para ‘controle do sess e da ansiedade na competicdo desportva TECNICAS E ESTRATEGIAS PSICOLOGICAS DE CONTROLE DO STRESS EDA ANSIEDADE Uma “tecnologia” prometedora para 0 controle do stress @ da ansedade ¢ ja evi dente. Tal “tecnologia” inclui nao s6técnicas como o biofeedback’, a desensibilzaci0 Sistemdtica,o treino de elaxamento ¢ a modelagem, mas também outrastécnicas de natu- reza mais cognitiva, para ajudar os alletas aalterarem cognigdes e pensamentos desajust- tos ou inadequados. £0 caso, por exemplo, da reestruturaco cognitiva, da paragem do ppensamento ou do treino de auto-instrugao (ver Lebrer & Woolfolk, 1983) Apresenta-se, de Eepuida, uma breve descrglo de tis téenieas e estaéglas (ver Cruz, 1987, 1994; Gongal= ‘es, 1990, 1993; Gould & Udry, 1993; Weinberg & Gould, 1995; Viana, 19%) ‘Treino de “biofeedback” (© recurso a técnicas de “biofeedback” tem sido usado algumas veres, Bolada ou conjuntamente com outos procediments, para ajudar 0s aletas a tonarert-se mals con Cientes sesveis aos seus estados interns de tensdo e activagao. O “biofeedback” cent fe essencialmente nos procestos emocionais da ansiedade, Tratase de ur procedimento ‘nde on dados individvate relator & actividad Fixilégica sho recolhides, processados & dados a conhecer 20 indviduo, por forma a que este possa modifica essa actividade. O “biofeedback” dao individuo a oportunidade de exerceralgum controle consiente sobre a actvidade do seu sistema nervoso e de modificar conscetemente os seus processos fsio- logicos. Existem varias modalidades de “biofeedback” dlsponvets para o tetamento © con- trole da ansiedade: electromiogréfico, temperatura, electroencefalgrifico, cardiovascular e clectrodermal, ent outros (ver Lehner & Woolfolk, 1993). De um modo gral 0 “biofeed> back” implica 0 recurso ainstrumentos mais ou menos evoluidos, do ponte de vista tecno- Togico, que detectam e amplificam processos e reacgbesfisioligicas que wos geralmente ‘nfo conhecemos, Tis insrumentos de controle permite dar “feedback” auditivo e/ou vi= fal de weacgbesfsiolégicas como a frequéncia cardiaca, a temperatura da pele, a actvie dade muscular, etc, Meichenbaum (1985) sugeriu que a eficicia do “biofeedback” ¢ me- dida, nZo proptiamente peas reduces nas actividades corprsis, mas sim pelas mudangas ‘gue tas redugoes provocam no modo como 08 individuas aallam e lidam com os aconte- cimentos geradores de sess, “apesar do seu desenvolvimento recent, existem ji estudos que sugprem resultados positives no tratamento da ansiedade competitive, sobretdo quando util zado em com- binagao com outra técicas (Cruz, 1994). Gould e Udy (1993) salientarar recentemente @ rnecesidade de ser fornecido “feedback” de miltilos sistemas fsologicos (ex: temperatura 4a pele, pulsagdo, frequéncia cardiaca e actividade muscular) e no apenas de um sistema (ex: fequéncia cardiaca). Tal deve ser feito devido a0 conhecido e demonstrad fendmeno da estereotipia da resposta individual, que tem a ver com o facto de as pessoas diferiem nos sistemas e process isioldgicos onde se manifesta 0 sress ou a ansiecade. Se nalguns individuos o stress se manifesta essencialmente através de aumentos na tensio muscular, ‘outros individuos podem manifestar 0 seu stress basicamente através de aumentos da fre- quencia eadlaca, Treino de relaxamento (0s tratamentos baseads no treino de relaxamento visa essenclalnente a modifi casio dltecta das reacgbes emocionais nas stuacBes compettvas, Aqui, aredugso da an- sledade € promovida ensinando o atleta a reduzir a tensto muscular, attavés de um tind lode se procede a tens3o © relaxamento sistemsticos de vérios grupos musculares. © vel. xamento esti associado nao s6 a um menor consumo de oxigénio, a uma menor fequéncia cardiaca © 2 menorestaxas de respirago ¢ actividad muscular, mas tambm a aumentos na resisténcia da pee ea producio de ondas cerebals “alfa” (Gould & Ur, 1993), De ene as indmeras ténicas de relaxamento, duas tém sido mais requentemente assinaladas para o controle do stress ¢ da ansiedade: a técnica do relaxariento muscular progressivo de Edmund Jacobson eo treina autogénico de}. Schultz 'No treino de relaxamento muscular progressvo 0 atleta exercetersio €relaxa de luma forma sistematica os principals grupos musculares do corpo (comecando nas mios © ddedos © continuando progressivamente de um grupo para outro, até todos os misculos do Seu corpo estarem totalmente elaxados). © objectivo dos cclostensio-elaxamento& levat © atleta a aprender e a tomar conscigncia da diferenga que eniste entre tensSo e relaxa. ‘mento. Para ta ele tem aque contrir 30 mximo determinados masevlos ¢ grupos muscula. res e tentar depos relaxar completamente esses mesmos grupos, concentrando-se nas sen. :290es corporais opostas, 20 mesmo tempo que dirige a sua atengao para imagens mentals ‘agradveis (para Protocolos detalhados do treino de relaxamento muscular progressivo con. sultar Gongalves, 1990; Weinberg e Gould, 1995). Os dois pressuposios bcos do celaxa "mento progressvo s40 0s seguintes: a € impossivel estar imultaneamente tenso e rlanado lrelaxamento e tensio sio mutuamente exclusives); eb) O relaxamento e a diminuigSo da tenso muscular geram, por sua vez, baivos nveis de tensdo mental epsicolgiea Embora as primelras sess do treino de relaxamento demorem cerca de 30 mina tos, a0 fim de algumassessdes de teino o alta deverd estar capaz de relaxar em cerca de 5 minutos. O objectivo ctimo do treno ¢ fazer com que o atleta sea capaz de recoter ‘uma palava-chave (ex “Relaxa") para ating um estado de relaxamento em pouicos segu os. Isso fad com que esta técnica se revele de exrema uilidade para se ut lizada em mo- Imentos ertcos da competicao (ex: durante 0s “descontos de tempo", ants de executar ‘uma grande penalidade ou lance live, antes do servigo no tis, etc) ‘Actualmente existe j viras versdes abreviadas do teina de relaxemento muscu: lar progressivo. Do mesmo modo, exitem também mutas outastécnicas de relaxamento, utlleadas com alguma frequéncia em contextos desportivos (ex: controle da tespiracdo, esitacio transcendental, yoga, et.) (er Lehrer & Woolfolk, 1993). Tienicase ete deconlo do stat eds aaade S71 No que se refere ao treino autogénico, vatase de uma técnica auto-hipnatica, ave inclu uma série de exercicios com o objetivo de geraressencialmente duas sensagbes fs- case corporais: peso e calor. © objective do treino autogénico & permit a aut-repulacao fem ambos as ditecgoes(telaxamento profundo ou aumento da actividad fsiokigca)atr- ‘6s da auto-hipnose ou “concentracao passiva’. Aqui, em vez de tentar digi ou gear in tencionalmente a mudanca ou de se concentrar em estimulos ambientais,o atleta concen- trae nas suas sensagtes corporase internas de uma forma passva, sem forar e deixando {que as sensagbes ocorram. Ese ressuposto torn assim 0 treino autogénico diferente do e- laxamento muscular progresivo, onde os individuos procuram activamentetentar adquirr ‘o controle sobre as funcbes e procesos fsiolégicos. ‘Os aspectos Centra do teina autogénico sio seis formula relatvas a sensagbes corporaisespecticas, que 0 individuo repete sub-vocalmente, a0 mesmo tempo que desen- volve imagens vivas e pessoalmentesignificativas para acompankar essas formulas. Cada {érmula tem como alvo uma funcio corporal especitica. Nesse sentido, no treino autogé- nico seguese uma sequencia hierarquizada de exercicos: a) experiéncia de peso nas exre- Imidades (elaxamento muscular b)experiéncia de calor nas extemidades(ilatagBo vas- Clay e)regulagdo da atividade cardiaca;d) regulacao da respiracao; ) regulacao dos frpios vscerais (calor no estimago);N regulagzo da cabega (rescura na testa). Expresses como "As minhas mos e petas estio pesadas”, “AS minhas mdos e perras esto muito {quentese relaxadas", “O meu coragdo esti a bate regular e calmamente”, ‘A minha resp- ‘ago € calma, lenta © relaxada” ou ainda “A minha testa est fresca’, so exemplos tipicos de formulas ou estimulos verbal utlizados na sequencia de exercicios de tino autogs- Refia-se no entanto que o tena autogénico é menos utlizado em contextos des- portvos, comparativamente a outras técnica, devido ao elevado tempo que demora pars tum completo dominio da tecnica (cerca de 6 a 8 meses, com prtica regular e daria de 10 40 minutos, Em sum, 85 aspectos parecem ser comuns nas indimerase diferentes técnicas de relaxamento muscular (Lehrer & Woolfolk, 1993): a introducto efectuada com um racional de autoccontole, ond os atletas so in- formados que 0 objectiva da treino é ensinar-Ihes meios de lidarem eficazmente ‘com a sua ansiedade; by treino na indugio do rlaxamento, normalmente mediante exercicos de relax ‘mento muscular progresivo, que podem ou ndo incluir exericis suplementares (ex: exercicios de respracio, exerccios musculares especiais, eercicios imagé- ticos,exercicis autogénicos, et): © treino na aplicagao do relaxamento em contextose situagdes exteriores eradoras de stress Dessenst izacio sistemat ‘Tratase de uma técnica que incu, também, quer 0 treino de relaxamento, quer a ptica guiada. Constitul sem divida, 0 vatamento mais investigado e utlizado no dominio ‘Gaansiedade, paticularmente durante a década de 70 80. A dessensiilizagiosistemstica incorporao teino de relaxamento ea vsualizagao de sitacbes ou acontecimentos gerado~ sue ‘es de ansiedade, apresentados por ordem hierérquica e de intensidade crescente, a0 ‘mesmo tempo que 0 individu permanece num estado de rlaxamento, Enbora vise essen Cialmente a redugao da componente emocional da ansiedade, a dessenssilizagao implica ‘também processos cognitivos que orientam o individuo para prestaratenco epratcar “pis tas" de relaxamento, enquanto imagina que se enconta em sitagbes geradoras de sess ou ansiedade, A dessensibilizagdo sstematica 6 particularmente aconselhada quando um atleta desenvolve um medo forte e extremamente debilitativo e prejudicial para o seu rendimento {algo mais do que um nivel de ansiedade acima do usual). €0 caso do atleta que desea. volve um medo intenso de jogar em determinads locals, ou em determinados tipos de ‘competigdes ou, simplesmente, quando os seus pais e familiares ext a asst a jogo 0 ainda, 0 caso do atleta que evidencia um medo exagerado de entrar em “jogadas de con. tacto ou choque" apés recuperacio de uma grave lest. Iniciando-se com a aprendizagem da thnica do rlaxamento muscular, a dessensi- bilizagao sistemstica prossegue com a formulago de uma hierarqua de oerea de uma de ‘eas de situagoes geradoras de ansiedade (ordenadas por ordem crescente da intesidade ‘ou niveis de ansiedade que geram), Segue-se 2 etapa da imaginacto mental de cada uma das situagdes ansiogénicas, Durante alguns segundos o aleta comeca a imagina a primeiea situagao ou cena da hierarquia (a menos ansiagénica) e, assinala(leventand mao), ‘quando e se sent alguma tensio. Nessa altura, recorrendo aos procedimentos do relaxa ‘mento muscular, o atleta deverdtentar relaxar-se, enquanto imagina a stuagdo. A imagina ‘glo da cena sequinte na hierarquia s6 ocoreré quando oatleta fr capaz de imaginatasi- ‘wagio anterior sem evidenciar qualquer reco de ansiedade, ‘Uma possvelhierarquia de stuagdes ansiogénicas para um ale profisional de fu- tebol, internacional, que acabou de recuperar de uma grave lesia numa perna, mas que continua a ter medo e a experiencia elevados niveis de ansiedade, podesa incuir as se _uintesstuages (por ordem crescente da intensidade de ansiedade que & expeienciada) 1) Comer lertarnente a0 longo do campo, antes de um treino;, 2) Corer veloz erapidamente, antes de um treino; 3) Correr velozmente e com bruscas répidas mudangas de directo, antes de um teeing; 4) Uslizar a pema lesionada para desarmar um “adverséio® durante um tino; 5) Fazer, durante um treino, uma acco ou movimento semelhente ao que fez ‘quando se lesionou; 6) Fazer 0 aquecimento po primeir jogo de competigso, para que foi convocado depois da esto; 7) Entrar em campo no primelto jogo de competicao, apts alesto que soreu; 8) Comer velozmente, com mudangas bruscas de dteccio e dando 0 seu maximo {e esorco, durante o primeiro jogo competitive apés a lesio; 9) Uilizar, no primelr jogo pés-les3o, a pera que tnha sfrde a lest para desar mar um adversério;e 10) Executar, durante 0 primeiro jogo pés-lesdo, uma acgio ou mov mento identico a0 que executou quando soieu a lesdo. encase mali de contol ret edaarinade 573 ‘Assim, na dessensiilizagosstemtica, 0 alta vai ficando, a pouco e pouco, dessen sibilizado para cada uma das situagdes da hieraquia de ansiedade, até ser capaz, fnalmente, de lidar efeazmente com a siuacao mais ansiogénica de todas (a ita da hierar Modelagem (Os procesimentos de modelagem tém sido amplamenteutlizados para ensinarem 0s individuos a desenvolverem competénciaseficazes para lidarem com ume vasta gama de problemas comportamentas (Bandura, 1977). As intervengdes de modelagem no dominio 4a ansiedade competitiva pressupdem que os alletas mais ansiosos prestam particular aten- (lo 2 “pistaselevantes para as tarelas que impliquem a avaliag3o do seu rendimento (ex prestar mais atengo a “pressio” do piblico, do que ao que esta fazen. A modelagem procura tomar mas sliente a relevancia da tarela, de forma a promover a capacidade do alleta para atender 2 informacBo ail durante stuages geradoras de sess, ‘Varios autores recorceram & modelagem como estratégia de tratamiento da ansie- dade competitva, usando “videotapes” de modelos que fracassam inicialmerte numa taeta ‘0 competiczo desportiva e acabam por vira ser bem sucedidos, depois de dominarem t= ricas de controle da ansedade. Para além de ajudar os atletas mais ansiososa identificarem as suas copniges auto-derrtistas os seus comportamentos inficazes, a modelagem cons- tit’ uma excelente abordagem para 0 ensino de compet@ncias de confronte com o stress © 1 ansiedade competiva, Exitem varias técnias baseadas na modelagem e adequadas 20 treino do controle da ansiedade compettva: a técnicas de dessensbilizagao vicariante, onde os atletas obser- ‘vam a dessensibilizagao de um colega-modelo; b) cbservacio de madelos que exemplif- ‘cam, através de “role-playing”, técnicas “relaxants de “performance” despotiva; ©) obser- ‘vagio da dessensibilizagdo de um modelo, em filme ou “videotapes” d) auto-modelagem [observagao e gravacbes dos préprios comportamentos); ) utilizacao de “argumentos” ou “histrias, complementadas com 0 encorajamento aos aletas para imaginarem e represen tarem “cenas” apropriadss, Varios estudos tém demonstrado a efcicia destastécnicas na redicio @ controle da ansiedade, quer individualmente, quer em grupo (ver Cruz, 1987), ‘Técnicas e estratégias cognitivo-comportamentais ‘Uma “onda cognitvist’, no dominio da Psicologia, estendew-se também, natural ‘mente, &s intervengbes no dominio do sess e da ansiedade. Ness sentido, virostipas de imtervengoes tém sido implementados, isolada ou conjuntamente com oulvos procedimen- tos. De um modo geal as intervenes pressupdem o papel mediador dos processos cog hitvos na aetivagdo emacional e visam treinar os indviduos para gerarem cognigées que facilitem comportamentos adaptados e construtivos. DDeste modo, estes procedimentos, focaizados cognitivamente,vsem directamente ‘a modificaco dos processds de percencio e avaliagdo cogntiva, procurando ajuda os in- ddividuos ansiosos @ "verem’ ou interpretarem as situagbes de avaliacao do rendimento ‘como menos ameagadoras. 0 cato do treino auto-instrucional, desenvolvido inicialmente per Meichenbaurn (1977). Os métodos auto-instrucionais implicam o desenvolvimento & uso de auto-afirma- se hone ‘goes adequadas tendo em vista @ organizagao e ovientagao do comportamento. © treino _utosintrucional visa promover uma attude de resolucao de problemas e gerarestratgias ‘cognitivas que os individuos possam usar nas diferentes fases do seu contonto com o ste {enquanto se preparam para o agente de stress, quando se confontarn elim com 0 acon- tecimento gerador de stress, quando se sentem dominados ou aflitos com o stress © quando feflectem acerca dos esforgos que desenvolveram pata lidar com o sess, © treino auto-insracional inicia-se com a avaliagso da realidade da situagto a ‘dentiicasao dos padtées habituais de auto-aftmagses, imagens e sentirentos que ocor rem ao longo do processo de stress. Apés a anise do impacto e intrfeténcia das cogn’ {5685 e Imagens negatvas na reacca0 e confronto com o stress, procede-s& mudanga de lais padr6es, através do desenvolvimento ¢ formulagao de auto-afimag%es altemativas, ‘com vista ndo s6 a producio de respostas de conftonto mals adaptadas, mas também 2 auto-insrugao orientada para a tare e para a resolugao de problemas. Pracurase deste ‘modo ajudar os individuos a desenvolverem esiatgias de confronto com ostres ¢ a ansie- dade associada 8 compaticao desportiva e Uma outta técnica, a reestruturagao cognitva,baseia-se no principio de que os pa- dives inadequados e desajustados de pensamento acerca das situagdes ou acontecimentos, ‘riginam respostas emocionais e comportamentalsinapropriadas, Assim 2 reestrturacao cognitiva visa, basicamente, fazer com que os individuos tomem conse éncia do papel ‘desempenhado pelas cognicoes e emocées no desenvolvimento e manutencio do stress. Meichenbaum (1985) resumiu as técnicas cenais da terapia cognitva, nomeadamente no ‘que se refere 2 intervengdo para problemas relacionados com o strest a identiticagao dos ‘pensamentos e sentimentos experienciados das iterpetacdes dadas aos acontecimentos; by obten¢ao conjunta de evidéncia empitica que confirme ov refute tis interpretagoes. A titulo exempliticativo, a “caca aos pensamentos” a primeira tarefa da terapiae é usada Por Meichenbaum (1985) para descrever © processo de ajudar os individ.os com stress a tomarem conscigncia de alguns pensamentos automticos e sentimentos que os acompa- inham, quando experienciam stess, bem como a teconhecerem o cardcter inferencial e n3o, factual dos seus pensamentos e conclusoes, assim camo © caricte falivel e dstoreido do ‘motio como processam a informacao (er Figura 1) Noval a pena esfxgarie ou rabathar mais." *Nio su to bor como os otros.” 0 futuro 6 apenas um ‘moat! de problemas.” No pasado, s6 comet eras." “Tudo o ae fago€ mal feito. "Avia no tem sentido. “tse pesaments (ou sentiments) dio cabo de mi.” “Noi nada que eu pose fazer para os contol." “Nao slo que fazer..Aculp oda mina..” Figura 1 Exemplos de pensamentos negates, atomticos egeradores de stress (Adaptado de Mechenbaum, 1985), “hcl eataigit convlo do wes edad 575 Para além de ajudar os indviduos a reconhecere a oconténctae imacto dos seus pensamentos eemogdes, na restuturaco cogntva procure fazer com que tis pensa- menos se trem hipteses sujet ao teste da elidade objectiva, mais do que les ou ver- dades absolutes, por forma a desenolverem um estilo copntivo onde as cetezas se Vans- formam em possbildades. Oeste, modo, o indviduo€ encoajado a avai logiamente a validade dos seus pensamentos, ideas crengasataés do desaio, do test de realidad, da procura de evidéncia que as apoie ou efit eda realzacao de experiéncas pessoas Com eto, como refer Beck (1964, 0s indviduospredispostos 20 “ses” tm ten dnc a fazer ulgamentos radia, absolutes, categéccos lobas. Para além de terderem 2 personaliza os acontecimetos, eles envlverseequentementeem via ‘mas de ds- torgbes cogitivas, que podem ocorrer de forma automstica e inconsciente. Beck (1976, 1364) 2 salierar impacto 62s distorgdescognithas refer a importncla des eros copni tos ¢enumerou certo tpos de eres mas Comuns no pensamento de algumas pessoas: 1) Abstrayoslectva: focalzago ou importa exagerada a deals expeciicos © fora do cone, exquecerdo eigncad 0 sigcado da sivaio total eas suascaractersicas os apecos mas importantes € 0 cao, por exerlo, do ate que duane um jogo pode, de forma select, dar mas tengo 20 bi e205 seus ees, enquaoignora as excelent jo- sodas dos seus colegas de equa. Deste modo, ee mals predispas para acne a foto- tes especcns da taco, que tenham aver com au sensbldade (ex: detsar 0 bivo em ‘questo, enquantpermanecerelatvamentealeio a outs esimulos da sina. 2) fextnca abit: diz tespeito a conclusbesfouladas com base em informa {es inadequadas ou preps, ou sem ter dadose evdéncia prética que as fundamen- tam. Por exemplo, um alta excessivamente ansioso, muitas vezes interpreta iniscrimina- ‘damente em termos de prigo pesoa as suas percepgbes de determinados acontecimentos ‘que ocorem na competigao (ex: cnclur que um determinado érbitvo nao gosta dele © 0 peseque,s6 pelo simples facto de ote punido com expulsto,apos ter comet uma fata save sabre um adversirio, no primeico jogo do campeon). 3) Generalizases excessivas: referee &tendncia para formula conclusdesgeais ou eteciar eam e pede, apt de incidence lata eget ‘as. 0 caso do alta que di, paras proprio, qualquer cosa como “Nao pest. NBO sou ‘apaz de fazer um bom jogo." u ero "56 fago asneias... melhor € desist.” pelo simples facto de ter sido crtcado pela imprenss, por um mau rendimento, num determi- nado jogo. 4) Pensamento polarizado: rata-s da incluso da iformagso existerte em uma de clas eategorasdcotsmicas ou anaginicas (ex: bom ou mau, tudo ou nada, sesso ou ine Siceso, Viria ou der). E0 cso, pot exempo, do alla ineguro que conceptualize {a eicicia na competi em temos de sucesso ou Facasio absolute, no endo capa de {xt nels médias ou modeados de endimento como cbjctvos vives reais. 5) Magniicagdoe exagero:trata-se de uma outa manestagio da tendéncia para fazer jugamentos exemos e eere-se a eros grosses de avaliago, median a aibiga0 de impontinciaexagerada a consequéncias mais negatvase desagradéves que pode ter dleterminada stuagao. Eo cato do alta mas predisposto para a ansiedade, que pode de- Siti da sua preparaio cae técnica, 56 de pensar na posibildade de poder racassr falhar rotundamente na situagao competitva rea 56cm 6) Assumir excessiva responsabilidade:relaciona-se com a tendéncla para aribuir sistematicamente 0s acontecimentos negatives, a supostas defciénclas 0 lmitagdes pesso- ais. £0 caso do jovem atleta que se culpa asi proprio pelos fracassos e insucessos da sua ‘equips, embora os colegas eos propos treinadores o “aslvam de tal sponsabilidade. 7) Atitudes disfuncionais acerca do prazer versus dor eflecte as creas parilhadas Por algumas pessoas reativamente aos pré-requistos para o verdadeiro sucesso ou felici- dade. Esss crn, dominadas por regras prazer-dor, podem leva formulaco de object- ‘os irealistas.€ por exemplo,o caso de atletas que partlham e acteitam “cegamente” em ‘dias como: “E marailhoso serum alleta popular e famoso; 6 evel serum atleta median que passa despercebido"; "Se cometer um eno ou flhar, ise significa que sou um inca az"; “O meu valor com atleta depende do que a imprensae 0s adeptos sensam de mim 8) "Tirana dos “deves..:representam também expectatvaselevadas, mas ireali= las, para 0 comportamento humano. € 0 caso de alguns “deves.," que sio partilhados por eros atletas, particularmente por aqueles que se encontram no inicio ds sua careira des Portiva: “Eu devo saber e ser capaz de resolver com efcicia todas as stuasdes com que me Confrontar no jogo"; “Eu nunca devo ser magoado, pelos outros"; “Tenhe que permanecer Sempre calmo e sereno durante todo 0 jogo"; “Eu nunca posso estar cansado ou fatigado, € or sso nunca devo ter mau rendimento nos Jogos"; “Os bios tém que ser sempre |ustos ‘enunca podem cometer errs”, esse seni, Reck 1976 ideniicoy sis Scicas naa muda 3 counts nega tias daspestony 1) Distanciamentoe teste de hipoteses:refee-se ao processo de fevar a peso a rea- ‘alae de forma racional as crencas ejulgamentos que partlhae atest a que ponto as ren ‘2s explicitas sao adequadas, ou existem dados concretos que as comprover ou supovtem. 2) Descent: trata-se de alterar a “pessoalizagSo" dos acontecimentos, levando as pessoas a libertaremse da crenga de que elas sio ov constituem 0 cenizo de todos 0s Aacontecimentos 3) Madanga da atribuigio da responsabildade: refere-se ao processo de encontrar, de forma lgica e raconal, os diferentes factores que contribuem para as experiéncias acontecimentos negativos. Tatase de tcnicas de reatrbuicio das causas. eis para aque- las pessoas que se envolvem em processos de auto-culpabilizacao irealia, atbuinde 38 sas deficiéncias pesoais aquilo que de mal lhes acontece. 4) Descatastroizasao: recorrendo a ténicas do tipo “O que acontcera Se." pro= Ccura-se que 0s individuos predisposos & catastofizag (prevsio das pions consequéneias Possives) aumentem a quantidade e qualidade da informagao em que se baseiam e alat- lRuem a perspectiva temporal que utiliza deforma sstemstica, 5) Adquirre praticarrespostas racionais para os pensamentos distincionas:refere- se ao process de produze pensamentos mais adaptadose racials durante stuagbes pera ‘doras de ansiedade, desespero au auto-ericas, depois do individuo ter aprendido a reco- nhecere identifica os seus pensamentos @ ideas desajustadas. 6) Identiicar e modificar presuposts e principios disfuncionais e desajustados: ‘conssteem levaro individuo a detectar padrées cognitivos desajustados ea envolverse, de forma repetida, em experiéncias compotamentas erespostas acionais, de modo a failtar 2 eestuturagdo do seu sistema de crencase prncipon “Teena erage conto do stesso aneedate 577 Finalmente, a ténica da Reestraturagio Racional Sistemtica (RRS), desenvolvida inicialmente por Goldired, Decenteceo & Weinberg (1974), tem por base a Terapia Racio nal Emotiva e apresenta-e como uma ténicasistemstica, de auto-controle, para 0 controle do stress ¢reduga0 da ansiodade Desenvolvida por Els (1962, 1977, 1980), a terapia ractonalemotiva (TRE) é uma abordagem comportamental-cognitiva cujo objective consiste em ajudar as pessoas a aprenderem como resolver os seus problemas e como viver a vida deforma mats eficaz. De lacordo com esta perspectva, os nossos pensamentos, sentiments © comportamentos $30 ‘mutuamenteintedependentes, No entano, so as nossas estruturas e processos cogntivos {que determina em grande parte 0s nossos sentiment e comportamentos. or outas pal ‘ras, a TRE basela-se na hinétese de que no S20 05 fatos ou acontecimento, por sis {que causam as perturbagbes emacionals, mas 0 modo como as pessoas véem tas factos ou acontecimentos. As eacgbes emacionaiseafectivassdo assim conceptualizadas como con- ‘equéncia dos pensamentos, interpretagbes @ avaiacbes, e as disfungdes emocionais sao ‘em grande parte devidas a padres cognitivos erados ou iracionas (creng3, atiudes, va lores, filosofas de vida) ‘A inluéncia nefasta de algumas idelas e crencas no comportamento € nas emogDes parece ser evident, Apesar de muilas vezes serem impliitas, tas cengas resultam frequen- temente de conclustesformuladas pelas pessoas com base em dados ou evidéncias limita das € do uso de tais concludes como regrasinquestionaveise orientadoras do comport ‘mento posterior. Taisregras(Sejam elas racionais ou iracionais) acabam por fxar-se firmemente e por se tornarem parte integrante da perspectva fenomenolégica das pessoas, ‘constituinda assim uma base para as autoavaliagfes, para as exigéncias colocadas nas ou tras pessoas e para as inerpretacoes que fazem do comporamento dos outros (Bernard, 1984, ‘A teotia “ABC dos ditirbios emactonas, desenvolvida por Elis (1971, 197), des: creve o modo Como a5 pessoas ficam perturbadas. A TRE comega por determinada conse: ‘quéncia emoctonal ou comportamental(C-"Consequence’ e procura procate 3 identiica- (Go do acontecimento activador (A-"Activating event") que parece ter provocado tal Consequéncia (C). No entanto, de acordo com esta perspective, sa0 a5 crerGas individual, (6s pensamentos avaliagdes das pessoas (8-"Belief”), acerca do que accnteceu (A), que determinamn as consequéncias (C). No entant, dois outos simbolos viiam a ser acrescenta- dos a este sistema alfabético e simbélico. Um deles,(0-"Disputation’ referee a disputa (01 desafio cognitive, Trala-se do método cientfico (e de mudancal de desafiar e pr em ‘causa hipSteses “frdgeis” ou insustentveise princiios imperativos e absolutistas, que as pessoas defendem e partlham acerca de si proprias, das outros ou do mundo. O desafio de {ais pressupostos e crencas leva as pessoas a reformularem-nas e a elaborarem e acredita- rem em principis e crencas mais vslidas, ealistase racionals. Produz-se assim um novo ‘feito cognitive, emocional e comportamental (E"Efec), que vai acabar por conduzie as pessoas 3 melhoria e mudanga da stuacdo (A), Nesse sentido, € tendo subjacente 0 modelo da Terapia Racional Emotiva, @ RRS cenvolve 0 tren da indviduo nos seguintes aspectos: a) controle e regiso da experiéncia subjectiva de ansiedade;b)identficagao de autorafiragbes de carécterneyativo;c) apren- dlizagem de auto-instrugbes tendo em visa 0 uso de autorafrmacoes mais postvase ealitas; yo Leu ‘¢< prtica “a0 vivo" de tas auto-afimagies para redugio da ansedade. ARRS implica as sim quatro fasesdstntas (Goldtied 1979; Goldtried & Goldied, 1980). [Numa primeira fas, « individuo-ciente¢ ajudado a reconhecer papel mediador ‘das auto-aemages na activago emociona Ele 6 ajudado a conhecer que multas das suas ‘expectativas, creas, pressupostos, pensamentos e percepgSes, ocortem de forma mals ou menos automética, sem que ele tenha consciéncia disso, e influenciam directamente as suas reacgoes emocionals, Posteriormente, apés © econhecimento deste pressuposto gral, @indiviuo & aju- dado a reconhecer a natureza iracional,irealista ou auto-derotista de algumas ideas e ‘crengas que parttha(p.ex: a idela de que para ndo ser um facassado, deve ou tem que set petfeito em tudo aquilo que faz; ideia de que tem que demonstrar a suas eapacidades sem cometer eros Na terceira fase, procura-se ajudé-lo a compreender o papel das auto-afimagées inealistas nas suas proprias emogdes desajustadas. O individuo aprende a analisar ass tuagoes geradoras de ansiedade de forma a tomar consciéncia do carécter irracional de lais expectativase ideias e do seu impacto na ansiedade. Simultaneamerte, ¢ ajudado a substituir as ideiase auto-afiemagbes ierealistas, por auto-afirmagoes que previnam ou re- duzam a ansiedade. A tltima fase, implica a utilizacio do pensamento rational para mo- Aificar as autoafirmacoes geradoras de ansiedade © para eduzi a ansiedade. Nesse sen- tido, procura-se que 0 individuo utilize as suas competéncias cognitivas para analisar © 2vallar racionalmente as situagdes. Ele 6 ajudado a praticar novas formas de pensar © 2 aplici-las nas diferentes situagbes do quotidiano. Uma das formas de praicar a reavalia- (8 racional recorre & apresentacio Imaginada de uma hierarquia de ceras ou situagbes geradoras de ansiedade crescente. O individio imagina a situacao e, pensand nela em vor alta, tenta lidar com ela, até que se reduza a ansiedade. Para além do recurso & pri tica imagetica,¢ também encorajada a utlizagso desta técnica em situagées, 20 vivo, ge- radoras de ansiedade, A investigacio j efectuada tem vindo a evidenciar a eficcla clinica da RRS na redugao e confronto com a ansiedade. Bernard (1985) sugeriu uma aborcagem racional- -emotiva ao stress competitivo experienciado por atletas de futebol australiano, junto dos quais identificou uma série de mitos e crencas iracionais, impordo exigéncias absolutistas e dogmsticas (do tipo “eu tenho que ..” ou “eu sou obrigido a .."), que provocam uma excessiva activagao emocional e perturbam a rendimento despotivo. [A natureza auto-derrotista 0 cardcter profundamente negativo do modo de pensar de alguns atletas, acaba por levé-los a formular ideas distorcidas acerca celes proprios © daquilo que os rodeia, Nesse sentido, o programa de preparacdo e treino mental para alletas profissionais, baseado na teoriaracional-emotiva e desenvolvido por Bernard (1985), tem como objectivo levar os atletas a substituitem as suas crengas © pensa- ‘mentos absolutistas e ireaista e a recorrerem a oulras estratégias para 0 controle do stress em situagées competitivas (ex: relaxamento, pensamento postive, concentrasio) ‘A Figura 2 exempliica algumas crengas e pensamentos itracionais ou desajustados, fe- ‘quentemente partithados por muitos aletas écrca esti de contol do sss eda annie 578 “tu tenho que ser um ogador perfito© nunca devo comer eos” Eu tenho que ter soluges pra todos os problemas que areca nos jogos" © meu pasa como jogadrtona impose qualquer madanes” 0s jogadores de ato nivel nascem a sabe jot” 0s bios que eram ou pita injustamente no tm valor © merecem ser casiados severamenie”| Um sbi tem que se sempre ust imparcil durante todo 0 ogo" £4 tenho que evitar todas as situagbes ou taelas desagradvels que possam sgt na competicao desportiva™ Para serum Jogadorefcaz eu tenho que re contolr totalmente a todo 0 momento © em todas sagoes” tervel quando a cols rio me cre como quer ou corn me exe” “£4 tenho que ter 0 apoio € a aprovagto constnte do meu weinadr, dos meus colegas © os apts" 0 bom trenador 6 aque que enconra Sempre a solu pefita para todos os problemas que aparece ns jogs" Figura 2— Eemplos de pensamentos e creneasiracionss ou desajustadas nos atlas PROGRAMAS DE TREINO PSICOLOGICO PARA O CONTROLE DO STRESS E DA ANSIEDADE Paraelamente, vérius programas de intervencio psicolgea, de natureza mulfacs- tada e multimodal, especficamentevoltados para 0 ensino eteino do controle do sess da arsiedade tém vindo a ser implementados junto de aletas de diferentes desporios © niveis Compeltvos. € 0 caso, entre outos, do programa de Teeino de Inoculagao do Stes, desen- ‘olvido por D. Meichenbaum (1977, 1985) au do Treino de Controle Cognitvo e A¥ectvo do Stress, desenvolvido por R, Smith (1980, 1984, 1989), que vBo para alg de uma mera imtervengo do tipo remediatva e, pelo contro, assumem um cariz muito mais preventivo. ‘Como afirmava Meichenbaum (1985, p. 55), 0 objectivo deste tipo de programas pio & remover toalmente 0 tess, mas usar 0 stress constutvamente, vélo como um de safio, uma oportunidade, um problema a ser resolvido’. Mais do que elimina’ o tes, pre= fendese que o individuo aprenda a responder, de forma adaptativa quando se confronta, ‘com situages geradoras de “stress e ser resistente © persistente face 20 insucesso ou a0 fracasso"-O objctivo de qualquer programa de teino doycontrole do stress nfo & encoraar 0s paticipantes a eliminarem o stress. Como feria Selyé (1976), a vida seria aborrecida em o desafio das stuacbes de stress, Pel contrrio, 0 objctivo do treino pscolpico con- SIste em educar os individuos acerca da natureza ¢ Impacto do stress assegurar que eles possuam uma variedade de competéncias, intra e interpessoas, para utlizrem construtva so .Guz mente o stesse a ansiedade. Varios estudos ttm vindo a sugerr nfo x6 a utilidade, mas também a eficicia da aplicacdo destes programas de controle e confronko com stess © ansiedade em contextos despontvos (ver Cruz, 1994). Treino de Inoculacao do Stress (© Treino de InoculacEo do Stress (IS) um programa desenvolide por Meichen= bbaum (1977, 1985; Meichenbaum & Varemko, 1983), de natureza muitifcetada, combi: nado varios elementos e procedimentos de intervencio psicalgica, com o objectivo de ‘eonstruir no individuo “anti-corpos ¢Sicoldgicos” para o conftonto com o stress. OTIS tem por base a perspectva transacional do stress e do confronto (“coping”) desenvolvida por Lazarus ¢ Folkman (1984). Basicamente, o TIS partlha alguma analogia com as nocbes ‘médieas de inoculagao e imunizacao contra as doencas biologicas. Com efeito, 0 TIS visa “imunizar" e consttuir “ant-corpos psicolégicas” ot: compettncias de confronto face as situagbes de stress, com 0 objective de promover nos individuos um sentido de efcacia e ‘competéncia pessoal através de experiéncas de sucesso no coniranto cem niveiscontroli- veis de sess) e defesas (competéncias e expectativas postvas) que os ajudem a lidar eft ‘cazmente com as mais diversas situacbes geradoras de stess(Meichenbaur, 1985). Por ou- ttas palavras, um dos objectives do TIS consiste em ajudar os indiv'duos a adquitem conhecimentos, compreensio e competéncias por forma a facilitar as rrelhores formas de lidar com situagbes de stress esperadas e/ou inesperadas. Segunda Meicrenbaum (1985) 0 TS, de natureza fundamentalmente educacional, desenvolve-se a0 longo de ts faes di tintas: conceptualizacio, aquisig20e, finalmente,aplicacio e acompanhiment. Varios aspectos constituem objectivosessenciais a atingir durante primeira fase de conceptualizagdo do TIS: a) Estabelecimento de uma boa relacio come individuo © com ‘utras pessoas significatvas;b) Discuss30 dos problemas e sintomas relacionados com 0 stress reclha de informago tendo em vista a forulagzo de um plano de treina adaptado 2s suse nocorsidades e caractavstieas do individu; c)Educago da individuo acerca da na "ureza wansacional do stress e do processo de confront, bem como do papel das cognigies © emacbes no desenvolvimento e manutencao do sess; d) Oferecer a0 individu um mo- {elo conceptual ou uma reconceptualizaczo das suas reacgdes de stress. O objectivo da segunda fase do TIS laquisigao e pritica de competéncias) €levar 0 Individuo e desenvolver a sua capacidade para executare por em pritca de forma elicaz virias respostas e mecanismos para se confrontar lidar com 0 sess, Paa tal, vias técri ‘cas e competéncias de conftonto podem ser ensinadas, de acordo com a populagso em ‘causa e com os objectivas do teina. Tai ténicas incluem téenicas de confronta inst ‘mental, ceniradas no problema, e ténicas pallativas, mats voltadas para a regulaggo emo- ional. Inclem-se no primeiro grupo (instrumentals) técnicas como recaha de informagao 1 problemas, contiole do tempo, terino de competéncias de relago imterpessoal ou mix dancas no estilo de vida (reavaliacao de priordades,esforcos de accao directa para modifi. ‘car © contexto ambiental ou mobilizago de apoios). As técnicas de canfronto paliativas, or sua vez, incluem a tomada de perspectva,diversio da atengio,treino de relaxamento, ‘expressio de aectos ou 0 adlamento, ‘Meichenbaurn (1985) refere a necessidade de ajudar os individuos a desenvolverem «© consolidarem uma série de competéncias inter e inrapestoais, durante esta fase do TIS. Mais concretamente,assnala a importincia de estratégas como: a) treo de relaxamento ‘Tenis tai de conlo do stessedaarsielnle 581 (exercicios de relaxamento muscular, imagens relaxantes e agradvels com tm significado pessoal, execicls de respiragao e processos de controle cagnitivo}; b) restruturagao cogni- tiva (vies a tomada de conscléncia do papel que as cognicdes e emogbes desempentam no desenvolvimento e manutencéo do stress); c)resolugio de problemas e treiro em compe: tencias de resolugao de problemas mediante a forulaco de objectives realsas e a delin cdo das etapas necessarias para os ating, tendo em vista aresolugzo do prablema-stess «)treino auto-instrucional, que vsa foralecer uma atitude de resolugso do problema e 2 desenvolverestatéglas cognitivas especifcas como 0 controle de pensameris e imagens negativas, que 0 individuo pode utilizar durante os diversas momentos da sua resposta 20 ‘ves (Figura 3), Por outro lado, relere a vantagem de recorrer, por vezes, 3recusa como resposta adaptativa de confronto (quand as circunstancias evidenclam a inpossibilidade de exercer controle sobre a situa). |. FASE DE PREPARAGAO PARA O AGENTE DE STRESS oBjecrivo ExEMPLOS + Focalizagio na preparag3oespectieapara10 “0 que que e tenho que fazer” eompeigao) meine “Eu posso arranar um plano para lidar com + "Combate os pensamertos' natives. fas! + Enfaizaroplaneamento ea preparagio ” "Preocuparme nso ajuda nad." "Sintosme um pouco nervosa. natural! FASE DE CONFRONTO COM O STRESS + Controlara reso dese “Concentrate. Eu pos lidar coma sg ‘+ Reinterpretar 0 “rest como algo que pode "Uma cosa de cadaver." ser usado consrutivament; + Convencerse de que pode lidar com 2 ten qe laze “sie tsa tenso & uma plsta para usr thcnicas de + Pemanecercetado na tare contort." + Recordar owso de resposasdeconforto "to no 6 to srio nem preocspante como, pense. ‘Relax... stu canola... 8. Figura 3~Exemplos de auto-afirmages para cononto com o tress competiva UAaptada de Meicheabaum, 1985) saa. cun Ill, CONFRONTO COM SENTIMENTOS DE AFLICKO E DESCONTROLE ‘osjectIvo PXEWPLOS + Formolarplanose proparar para 2hipéese "Quando vier oes, eae, ‘elcarexremarente aie. “Eu devo esperar que 0 ‘sms por vezes ae + Preparar para lidar com a por stuagto, mente. quando se set descontlad teres 6 um sal de qu hi alo a faze. * Apronder a contola-se mesmo que acon veya plo aura de resolver it, + Pence centado no pret. "no ne nar © es aaa |W. AVALIAGAO DOS ESFORCOS DE CONFRONTO E AUTO-RETORCO OBEcTIVo EXEMPLOS + Wal oqueajudaueo qe ni sao "Nfl tomau ca epee ‘Recor wesperincaeveroqueseapendan, ‘Eh afcar cada er maha. ‘Recon powercsgnins 0 popes gre “No reds mito, mi. que & ve arend a snr + Auto ego pel ent. "ide mut bem com asta," {Cortera emo a perio. "Etoualaer progress." ‘sir oo podria tio tometer ou eon! Corp Pa a pin nla se er ‘enna sete chert Figura 3 —txemplos de auto-afirmages para o conronto com o res competivo Contino} ‘Adapeado de Mecham, 1985), Finalmente, durante a cima fase, de aplicagso e acompanhamento, procura-se encorajar individuo a implementa as resposas de confront nas situagées do quotdiano © a maximizar as probalidades de generelizar a mudanga. Para tal recorese a técnicas ‘como: a) Pritica imagética, maginacao ou visualizago mental do corfronto com cenas fu situagbes cada vez mais ameagadoras ou geradoras de stress, permanecendo num es. {ado de relaxamento; b} Pritica comportamental, “role-playing” e modelagem (antecipa ‘cio de situagdes ou interacgoes geradoras de “stress” prticas comportamental de formas ‘de confronto, mediante 0 recurso a0 “roleplaying” ou & observagio de modelos). Por ov ‘to lado, tendo em vista a generalizacio das competéncias adquirias ts diferentes situa- ‘Ges do quotidiano € a consolidagio dos efeitos do TIS, recorre-se também 2 exposicao {radual “20 vivo": 0 individuo pratica, ao longo do treino, em situagdes reais e "20 vivo", ‘Tenia estat convlo does daamivige 583 sob a forma de exercicios ou “trabalhos de casa” de difculdade crescente.Além disso, Im- portincia especial & prestada & prevengio de *recaida” ou insucessos, recrrendo-se para tal a0 planeamento de experinclas de insucesso (antecipacao de facassos e pritica de espostas adaptadas face tal situag2o} ou servindo-se de eventuas “recadas” esponti- ‘eas que ococrem durante o tein, para promovere desenvolver 2 auto-confianca e 0 sen- tido de competéncia pessoal para ultrapassr facassos,“recaidas” ou insucessos.Final- mente, e tendo em vista 0 prolongamento do TIS ne futuro, planelam-se aigumas sessbes posteriores para seguimento e acompanhamento, com o objectivo de avalir a eficscia do ‘reino, incentvaro individuo e ajustar as suas competéncias de confronto aeventuals di ‘culdades futuas Como afirma Meichenbaum (1985, p.5), “mais do que eliminar o stress pretende- se que o cliente aprenda a responder de forma adaptatva, quando se confronta com situa 0s geradoras de stress, € Ser resistontee persstente face 20 insucesso a 20 facasso" [Assim 0 TIS recorrendo a uma pritica de canfionto gradual com situagoes de tress, pre- tende expr os individuos a nveis desafantes, mas controlvels, de sess, A medida que as suas competéncias de confranto aumentam, os individuos s0 expostos a “doses” mais ele- ‘das de stress, até terem desenvolvido suficientes competéncias de confror para lidarem de forma eficaz e adaptada com as stuagbes geradoras dos niveis mais elorados de stress. or outras palavras, “0 TIS nose destina a elimina 0 szes; pelo contro, ele encoraja os individuos a aprenderem respostas adaptatvasfexivels para serem usadas tm situagbes de stress" (Meichenbaum, 1993, p. 397). ‘Uma vasa gama de estudos,efectuados nos mais variados contextos entre os quais © desportivo), documenta bem a eficicia do TIS néo s6 na reducio do stoss e da ansi dade, mas também na promocio do rendimento (ver Meichenbaum, 1993). Em contextos despotivs, virios estudos tim documeniado os resultados prometedores¢ a efcicia do “TIS junto dealletas de ginastica, squash, basquetebo, voleibol e muitos outros. Neses con- textos 0 TIS tém vindo a ser implementado “mais como um programa educational de auto- controle ¢ n8o como uma forma de psicoterapia" (Meichenbaum, 1983, p. 392). Ou, por ‘ourraspalaveas, os procedimentos de controle do stress so entendidos como uma forma de “treina de resistencia mental” para altase weinadores. Como assinala smh (1980) 0 TIS, estina-se a ajudar os atletas a “controlarem as respostas emacionais que rodem intererr ‘cam o rendimento destinase também a ajuda os atletas a focalizarem a sua atencao nas tarefas e acgoes que tém de executar”(p. 157). ‘Treino de Controle Cognitivo e Afectivo do Stress Tendo subjacent seu modelo cognitive e afectivo de stress e esgotamento ("bur rout") nos atletas, Smith (1980a,b; 1985) desenvolveu um programa de Treino de Contzolo do Stzess que, 2 semelhanga de outros programas de treino de inoculagan do sess (ex: ‘Meichenbaum, 1985), combina uma série de técnicasterapéuticas num programa educac ‘onal de auto-controlo emocional. O programa de Treino Cognitivo e Afectvo de Controle {do Stress proporciona a aqusicioe ptica de uma respostaintegrada de conironto que e- ‘sloba uma componente cognitiva @ uma componente fsiolgica-somtica. Um aspecto que diferencia 0 TCACS de outras abordagens ao controle do “stress” refere-se& prética das “competéncias de confronto em condigdes de elevada activacio emocional sou 1. cue Subjacente 20 TCACS esta um modelo conceptual que di particular Enfase 3s rela ‘gbes entre cognigoes, respostas fisologicas e comportamento, e que engloba quatro com Ponentes fundamentals: } a stuaczo; ba avaliagao cognitva que o indivuo faz da situa ‘Gio; € a8 respostas de activagdofisiologica; e d) os comportamentos irstrumentas (ver Smith, 19803). ‘O TCACS visa ensinar virias competéncias de conftonto e oferecer uma oportun- dade para a sua aquisigdo,prticae aplicacio, 20 longo de um processo que engloba cinco tapas avalingdo peetratament;racional do tatamento; aqusgio de competencls 4) pritica das compettncias; ee} avaliagao pés-atamento, ‘A primera fase tem como objectivo avaliar no s6 a natureza das rspostas do ind- vido ao “stress”, as ctcunstincias em que ele ocore @ $ seus efits a0 nivel do compor- tamento, mas também as suas competénciase “deficits” comportamentals, por forma a que ‘© programa de teino possa corresponds necesidades do indviduo. ‘A fase posterior, de conceptualizacao, pretende ajudi-lo a compreender a natureza da sua resposta a0 “stress” em termos de um model conceptual e das suas implicagées tendo em vista a aquisicao de competéncas cognitvas e comportamentas para lidar com o stress. [Numa tereeira etapa, 0 TCACS visa desenvolver uma “respostairtegrada de con- fronto com o stress. Nese sentido, a fase de aquisicdo consiste na aprendizagem de com- petencias de relaxamento e de competéncias cognitivas, As primeiras incluem o relaxa- ‘mento somatico, mediante 0 recurso 20 treino de relaxamento. muscular progressive de Jacobson (1938) e 0 relaxamento cognitvo, através do treino na técnica mediacional de Benson (1975). Por seu turno, a5 competéncias cognitivas de confronto si adquitidas ara- ‘és da reestruturagdo cognitva, para avaliar e modifica crengas e ideiasirracionals, eu do teino auto-nstrucional, para desenvolver um controle cognitiva mais adaptado da aten- «0 do comportamento A fase da pratica das competéncias adguiridas, em vex de recorer& pritica com bbaxos nivels de ansiedade (como acontece por exemplo no TIS), engloba 2 técnica do “afecto induzido” para gerarelevados niveis de actvacio emocional, que sia redurides pelo uso das competéncias adquirdas previamsente. O individuo, depois deimaginar o mais, Vividamente possvel uma situagao geradora de “stress, deve centat a sua atena0 nos sentimentos gerados portal situacao. Paralelamente, sugere-se que d medida que ele foca liza a sua atengdo nos sentimentos, estes comecam 2 aumentar de intensidade e a torn ‘tem-se cada vez mais fortes. Quando 0 individuo se encontra num estado de elevadsa act ‘vagao emocional, sio dada instrucBes para “passar por cima” desse estado, servindo-se para tal das suas competéncias de confronto: apenas do relaxamento, numa primeira fase; "usando apenas auto-aftmagoes, posteriormente; ,finalmente, ecorrendo & esposta inte srada de conftonto” de forma confugada com o ciclo da respracio (utlizaca0 conjunia do telaxamento, durante a expiragao,e de auto-airmagces,“redutoras do stress” durante a ins Diragao), DDeste modo, 20 partir do principio de que a aprendizagem do controle de elevados vets de activaczo assegura 0 controle de niveis mais baixos (o que no acontece necessa- mente na stuago inversa), 0 TCACS adopta uma perspectiva oposta ao TIS que pretende imunizar 0 indviduo ao elevado “stress” mediante a “aprendizagem do coaironto Com un dads pequenas e controlveis de ‘tress’ (Meichenbaum, 1977, p. 149). Finalmente, © TCACS engloba uma fase final de avaliagdo dos seus efeitos, através 1 uso de medidas de auto-regiso e de medidas comportamentais, englobadas num plano ‘Teens eesti ce conto do sessed ands 585 de avaliagdo do tipo “pré-nds teste". E nesta fase que 0 programa de Controlo do Stress de Smith mals dfere do Treino de Inoculacdo de Stress (Meichenbaum, 1977, 1985) 0 qual, Inspirado no modelo da Desensibilizagio Sistemstica (Wolpe, 1961), enfatiza a necessi- dade de o sujito aprender lidar cam 0 tess er geral aprendendo a confrortar-se de ini- Cio com as situagdes pouco ameacadoras e sucessivamente mals geradoras de stress alé se Aatngirer nivel semelhantes 20s das situagdes in vivo, enquanto que no programa de Smith (1980) 05 sujetoss30 levados a ensiar as respostas de confronto a um nivel de ansiedade muita vezes superior aquele que experimentam nas stuacBes in vivo, Fianlmente, a fase de avaliag30 pts programa destina-se a avalar« eficacia do mesmo. Os resultados de diversas estidos recorrendo a aplicagio do TCACS sugerem clara- mente a sua efcicia junto das mais diversas populagbes,incluindo a desporiva (ver Bur- ton, 1990; Weinberg & Gould, 1995), Programa “COPE” para 0 confronto com situacdes criticas de stress no desporto Recentemente, Anshel (1990) apresentou também um modelo mais especitico para «© conironto com situagescrticas de stess no desperto (ex: lidar com a dar de uma lesio, ‘Com uma ma decisio do abit, com ameacas ou intimidagoes dos adversris, com crit ‘as da equipa técnica ou colegas, com um ero 04 falhanco importante, et), que fi desig- nado de COPE de modo a reflectr quatro processos cognitvo-comportamertals distintos: Control emotions ~ Organize input - Plain response ~ Execute skill (Contyoaras emogDes = ‘Organizar a informago - Planear a resposta - Executar as competéncias. O chectivo cen- tral deste modelo consiste em ensinar diversas técnicas cogntivas e comportamentals aos atletas que podem ser utlizadas e seleccionadas para se conffontarem e lidarem eficaz mente com formas partculares de sttess “agudo" no desporto (ex: as estratgias de con- fronto com uma teprimenda verbal, em pablico, do treinador, nio sto necestariamente as ‘mesmas a utilizar para lidar com uma dor sbita provocada por uma lesto). Além disso, 0 lalleta 6 ensinado a responder pscologicamente, em primero lugar, aos agentes de sess © a responder depois comportamentalmente, por forma a “manter a prontidéo mentale iil [ea adequadas para orendimeno ou presayae psteror® (Anshel, 1990). A Figura 4 usta ‘modelo COPE e as possives resposts de sess “agudo", assim Como as posvetsesraté fis auiizarem cada um dos quatro processos do modelo. 'Um estudo preliminar para avaliara eficécia do COPE num grupo de aletas de ris ofereceu resultados extremamente encorajadores. A utlizag3o das estratfgias cognitivas fe comportamentais sugeridas neste programa nao s6 promoveu a melhoria ro rendimento ‘dor alletas, como também evidenciou uma redugio nos seus estados de humor e afectos negatives. A OPTIMIZACAO DOS NiVEIS DE ANSIEDADE PARA UM FUNCIONAMENTO OPTIMO_ [A adapiagio das esvatégias © programas de intervengio aos problemas ¢ necessi dades especticas dos atletas, exige uma cuidalosaavaliagdo diagnéstica dos “dec” es pectficos dos atletas (Cruz, 1994), Trata-se assim de pOr em pratica o principio definido por ‘Meichenbaum (1977, . 259): "a avaliagdo e a mudanca slo interdependent" howe (066 ‘jebog sbugiadue) OUSIUN aoa pepievonny Buy 2p oprdepy) euodsop ou opnBe,ssa5, 0 o> e1OsU09 9P.2OD» ORPOW FIL svoniga SKYE wuowrous op e009 ~ reuopuaneopSea ej — pbeauasio3 — oto an = SIINANVLOANOD SVAUINDOD vious oanoy sss 30 VISONSTY Wencare erat deconolo do sess eda anssnde S87 [Nesse sentido, a teria da Zona Optima de Funcionamento Individkal (ZOFD, for- ulada e proposta por Hanin (1980, 1986, 1989, 1993a), sugere importantes implicagdes fo 6 para a avaliacao psicolégica dos estados de ansiedade em contexts desportvos, mas também para a itervenco epritica, junto dos atlas. {Em primeio lugar, utlizando de forma n30 convencional a escala do estado de ansiedade do STAI (Spelbexger, 1983; Spielberger etal, 1970), 0s estudos efectuados por Hani forneceram alguma evidéncia para a validade e utilidade de duas novas formas de avaliagio do estado de ansiedade, recorrendo 8 modificagio das instrugbes da escala: a Aavaliagdo rerospectva da ansiedade e a avaliagéo prediciva da ansiedade (antecipada) Hanin (1980, 1989) recorrew 8 avaiacio retrospectva dos estados de ansiedade experien-

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