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Behaviorismo: Periodo Casa de Animais? Os Trés Estagios do Behaviorismo Operacionismo Edward Chace Tolman (1886-1959) 0 Behaviorismo Intencional As Varidveis Intervenientes ‘A Teoria da Aprendizagem Comentarios Clark Leonard Hull (1884-1952) ‘ABiografia de Hull 0 Espitito do Mecanicismo AMetodologia Objetiva e a Quantificacao © impulsos A Aprendizagem Comentarios B. F. Skinner (1904-1990) ‘A Biografia de Skinner © Behaviorismo de Skinner Texto Original: Trecho Extraido de Science and Human Behavior (1953), de B. F. Skinner O Condicionamento Operante Esquemas de Reforco Aproximacao Sucessiva: ‘1 Formagéo do Comportamento Os Aparethos de Condicionamento Operante de Skinner Walden Two - uma Sociedade do Futuro A Modificagiio de Comportamento 282 0 Zoolégico do QI: Casa de Animais? Algum dia visitou o Zoolégico do Ql em Hot Springs, Arkan- sas? Nao? £ uma pena, pois nao existe mais. Mas, por 35 anos, milhares de pessoas visitaram e observaram animais desempenhando uma variedade surpreendente de truques. Pelo menos pareciam ser truques, mas, na tealidade, cada animal havia sido cuidadosamente treinado. Nada havia sido deixado ao acaso no QI Animal. Cada animal que via - fosse uma pomba ou uma galinha ou um guaxinim — havia se tornado outro Hans, 0 Esperto. Pense na Priscilla, o Porco Metédico. Se algum dia viu porcos em uma fazenda, pode achar que nao sao capazes de fazer qualquer coisa suficientemente excitante para vocé olhar. Entretanto, Priscilla era fascinante. Ela tinha uma rotina matinal. Primeiro ligava 0 radio, depois comia sentada 4 mesa, pegava toda a roupa suja e a guardava na cesta, e limpa- va seu quarto com um aspirador de p6. E quando estava pronta para enfrentar o pubblico, ela respondia perguntas feitas pela plateia, ativando sinais que acendiam indicando “sim” ou “nao”. Outro residente do Zoolégico do QI era a Ave Inteli- gente, uma galinha que participava do jogo da velha com pessoas e, invariavelmente, empatava ou ganhava. Jamais perdia nem mesmo quando jogava com o grande psicdlogo B. F. Skinner, cuja reagdo ao perder para a galinha nunca foi registrada. Em uma €poca, havia centenas de galinhas CapiruLo 11 BEHAVIORISWO: PERIODO POS-FUNDACAO 283 como a Ave Inteligente, apresentadas em exposigdes € Cas- As Criticas ao Behaviorismo sinos espalhados pelos Estados Unidos, e nenhuma jamais de Skinner perdeu o jogo para um oponente humano. As onesie 22 ace ‘Além da Ave Inteligente, uma “galinha tocava algumas _Behaviorismo Soci notas melodiosas em um piano pequeno, outra dangava _0 Desafio Cognitivo sapateado’ fantasiada ¢ com sapatos, enquanto uma terceita Albert Bandura (1925- ) ‘punha ovos de madeira’ em um ninho; os ovos rolavam a por uma calha até uma cesta. A plateia podia pedir um ‘A Modificacao de Geterminado ntimero de ovos desejado, até oito,eagalinha ——_,, Comportamento os punha sem parar” (Breland ¢ Breland, 1951, p. 202). sie ene "] Tinha galinhas que andavam no trapézio e outras Os Processos Cognitivos treinadas para jogar beisebol. Coelhos dirigiam caminhdes Locus de Controle de bombeiro tocando a sirene, patos tocavam piano € bate~ 6 yestino do Behaviorismo ria, papagaios andavam de bicicleta, e guaxinins jogavam basquete. Posteriormente foram acrescentados shows de golfinhos e baleias, - Esse zoolégico foi iniciado em 1955, por Keller e Ma- sian Breland, antigas alunas do curso de pés-graduacao em psicologia, que abandonaram a universidade para ganhar a vida aplicando técnicas de condicionamento a0 comportamento animal. m 1943, elas haviam formado a Empresa de Comportamento Animal para treinar animais a se apresentarem em feiras estaduais e para servirem de atracdes turisticas. Quando abriram 0 Zool6gico do QI seu trabalho jé era bastante conhecido, gragas a artigos no Wall Street Journal, Time, Life Reader's Digest. No auge de seu sucesso, as irmas Breland administravam cerca de 140 shows de animais treinados em lugares turisticos importantes e duas vezes mais esse ntimero em shows pelo pais. Também ja haviam treinado centenas de animais para papéis em filmes, programas de televisdo e comerciais. No total trel- naram mais de 6 mil animais de cerca de 150 espécies. E tudo isso utilizando técnicas basicas de condicionamento que haviam aprendido com B. F. Skinner, 0 behaviorista mais importante do século XX. Os Trés Estdgios do Behaviorismo ‘A revolucao iniciada por Jhon B, Watson nao transformou a psicologia de um dia para 0 outro. Levou mais tempo do que ele imaginava. Todavia, por volta de 1924, um pouco mais de uma década apés o lancamento formal do behavio- tismo, até mesmo o seu maior opositor, Titchener, admitia que o movimento impregnou a psicologia americana. Mais ou menos em 1930, Watson ja possuia argumentos suficien- tes para se declarar completamente vitorioso. 284 HisTORIA DA PSICOLOGIA MODERNA O behaviorismo de Watson constituiu o primeiro estagio da evolucio da escola de pen- samento comportamental. O segundo estagio, o neobehaviorismo, compreende o periodo de 1930 a mais ou menos 1960, ¢ engloba os trabalhos de Tolman, Hull ¢ Skinner. Esses neobehavioristas compartilhavam diversos pontos em comum: * —Oestudo da aprendizagem constitui o topico central da psicologia. * Em sua maioria, os comportamentos, independentemente da sua complexidade, podem ser entendidos pelas leis do condicionamento. = Apsicologia deve adotar o prinefpio do operacionismo. © terceiro estagio da evolucao behaviorista, o neo-neobehaviorismo ou © sociobeha- viorismo, data de cerca de 1960 a 1990. Essa etapa inclui 0 trabalho de Bandura e Rotter e destaca-se pelo retorno do estudo dos processos cognitivos, mas mantendo 0 enfoque na observacdio do comportamento manifesto. Operacionismo © operacionismo, principal caracteristica do neobehaviorismo, tinha por objetivo propor- cionar uma linguagem e uma terminologia mais objetivas e precisas a ciéncia, livrando-a dos “pseudoproblemas’, ou seja, dos problemas nao-observaveis fisicamente ou nao-demonstra- veis. O operacionismo sustenta que o valor de qualquer descoberta cientifica ou de qualquer constructo te6rico depende da validade das operacGes empregadas para determind-los. Operacionismo: doutrina que afirma ser possivel definir 0 conceito fisico com preciso em relacao ao conjunto de operagdes ou procedimentos que o determinam A visao operacionista foi promovida por Percy W. Bridgman (1882-1961), ganhador do Prémio Nobel de fisica e psicélogo da Harvard University. O seu livro, The Jogic of modern physics (1927), chamou a atengdo de muitos psicélogos (Feest, 2005). Bridgman insistia na definigao exata dos conceitos da fisica e no descarte de todos os conceitos que nao possuissem referentes fisicos Utilizemos como exemplo 0 conceito de comprimento. O que queremos dizer quando nos referimos ao comprimento de um objeto? Evidentemente, entenderemos o significado de comprimento se soubermos especificar 0 comprimento de todo e qualquer objeto e, para 0 fisico, isso € 0 suficiente. A determinagado do comprimento de um objeto requer algumas operacées fisicas. O conceito de comprimento, assim, é definido quando se determinam as operacdes de mensuragao do comprimento, ou seja, 0 conceito de com- primento envolve tao-somente e apenas um conjunto de operacdes; 0 conceito é sindnimo do conjunto correspondente de operacoes. (Bridgman, 1927, p. 5) Desse modo, um conceito fisico equivale ao conjunto de operagdes ou de procedimen- tos que o determinam. Muitos psic6logos acreditavam que esse conceito seria muito ttil nos seus trabalhos e estavam ansiosos para utiliza-lo. CAPITULO 11 BeHaviorisMo: PERIOD POs-FUNDAGRO 285 ‘A insisténcia de Bridgman em descartar os pseudoproblemas, ou seja, as questdes que desafiam a resposta resultante de qualquer teste objetivo conhecido, era muito bem-vista pelos psicdlogos behavioristas. As proposigdes que nao podem ser submetidas a um teste Experimental, como a exist@ncia e a natureza da alma, nao tém nenhum valor cientifi- co. © que é alma? Como observé-la no laboratério? f possivel medi-la e manipul-la sob condig6es controladas para determinar seus efeitos no comportamento? Se a resposta for negativa, o conceito nao é dotado de nenhuma utilidade, significado ou importancia para a ciéncia. Seguindo esse raciocinio, o conceito de experiéncia consciente individual ou privada consiste em um pseudoproblema para a ciéncia da psicologia. Nao € possivel determinar hem investigar a existéncia ou as caracterfsticas da consciéncia por meio de métodos objetivos. Assim, de acordo com a viso operacionista, a consciéncia nao tem lugar na psicologia cientifica. Os criticos alegavam que 0 operacionismo nao passava de uma afirmacao um pouco mais formal dos principios jé aplicados pelos psic6logos para definir as ideias ¢ os conceitos em relacdo ao seus referentes fisicos. No livro de Bridgman, ha muito pouco sobre 0 ope- racionismo que nao se relacione com os trabalhos dos empiristas britanicos. A tendéncia do longo prazo da psicologia americana seguiia em direcao a objetivicade da metodologia © ulo objeto de estudo, portanto pode-se afirmar que a visdo operacionista em relacdo a pesquisa e a teoria jé fora aceita por muitos psicdlogos. Entretanto, desde a época de Wilhelm Wundt, na Alemanha, os fisicos vinham sendo, para a nova psicologia, exemplos de perfei¢ao da respeitabilidade cientifica. Quando os vicos sauneiaram a aceitacao do operacionismo como uma doutrina formal, muitos psico- logos sentiram-se obrigados a seguir esse modelo de papel. No fim, os psicdlogos acabaram empregando mais amplamente o operacionismo do que os fisicos. Consequentemente, a geracao dos neobehavioristas atuantes entre as décadas de 1920 ¢ 1930 incorporou 9 operacionismo na sua abordagem de psicologia. Bridgman viveu tempo suficiente para testemunhar tanto a aceitagdo como o descarte do operacionismo na psicologia, Com 79 anos, ciente do seu estado terminal, Bridgman terminou o suméario da edicao em sete volumes de todos os seus trabalhos, enviou-o para © editor ¢ suicidou-se, Temia esperar mais tempo e ficar incapacitado para tal acao. Na carta deixada antes de suicidar-se, escreveu: “Provavelmente, este € 0 tiltimo dia em que terei condicées de fazé-lo” (apud Nuland, 1994, p. 152). Fdward Chace Tolman (1886-1959) Edward Tolman, um dos primeiros convertidos ao behaviorismo, estudou engenharia no Massachusetts Institute of Technology. Voltou-se para a psicologia, obtendo o Ph.D. da Harvard em 1915. No verao de 1912, Tolman estudou na Alemanha com 0 psicélogo da Gestalt, Kurt Koffka, No tltimo ano de p6s-graduacao, Tolman conheceu 0 novo behavio- smo ce Watson e, embora orientado de acordo com a tradicao da psicologia estruturalista de Titchener, Tolman j4 nao estava convicto do valor cientifico da introspeccao. Em sua autobiografia, declarou que o behaviorismo de Watson apareceu como um “enorme esti- mulo e alivio” (1952, p. 326). “rolman tornou-se professor da Northwestern University, em Evanston, Illinois, ¢, em 1918, seguiu para a University of California, em Berkeley, onde lecionou psicologia 286 HISTORIA DA PSICOLOGIA MODERNA, comparativa e conduziu pesquisas sobre a aprendizagem nos ratos ~ nessa época, tornou- se insatisfeito com a forma de behaviorismo de Watson e comecou a desenvolver a sua. Durante a Segunda Guerra Mundial, colaborou com o Office of Strategic Services - OSS [Departamento de Servicos Estratégicos], precursor da Central Intelligence Agency [Agencia Central de Inteligéncia] - CIA. No inicio da década de 1950, foi um dos lideres do movi- mento de professores contra 0 juramento de lealdade ao Estado da California. O Behaviorismo Intencional A visao de behaviorismo de Tolman esta descrita no livro Purposive behavior in animals and men (1932). © termo cunhado por ele, behaviorismo intencional, a primeira vista pode parecer uma aglutinacaio curiosa de duas ideias contradit6rias: a intencao e o com- portamento. A atribuicao de intengao ao comportamento do organismo parece implicar a consciéncia, conceito mentalista nao aceito na psicologia behaviorista. Tolman deixava claro, no entanto, que a sua visao era muito mais behaviorista no objeto de estudo e na metodologia. Ele nao tentava impor o conceito de consciéncia a psicologia. Assim como Watson, rejeitava a introspeccao e nao se interessava pelas experiéncias internas presumi- das, nao acessiveis A observacao objetiva. Behaviorismo intencional: sistema de Tolman, que combina 0 estude objetivo do compor- tamento com a ponderagao da intengao ou a orientagao do propésito no comportamento. Para ele, a intencionalidade do comportamento pode ser definida em termos com- portamentais objetivos sem se recorrer a introspec¢ao ou aos relatos das sensagdes do individuo em relag&o a experiéncia. Parecia 6bvio para Tolman que toda agao visava a um objetivo. Por exemplo, 0 gato tenta escapar da caixa-problema experimental do psicélogo, © rato tenta aprender o caminho do labirinto, a crianga tenta aprender a tocar piano ott a chutar a bola de futebol. Em outras palavras, dizia Tolman, o comportamento esta “impregnado” de intengao e visa atingir um objetivo ou aprender a forma de alcangar a meta. O rato persiste em percorrer os caminhos do labirinto, reduzindo os erros a cada tentativa, a fim de atingir mais rapidamente a meta. O que ocorre nesse caso € que 0 rato est4 aprendendo, e o fato de aprender, seja em um ser humano seja em um animal, é a prova comportamental objetiva da intencao. Tolman lida com as respostas objetivas do organismo e as medidas sao feitas com base nas mudancas nas respostas comportamentais como uma fungao da aprendizagem. Sao essas medidas que produzem os dados objetivos. Os behavioristas watsonianos imediatamente reagiram com criticas contra a atri- buicdo de inteng&o ao comportamento. Insistiam em afirmar que qualquer referéncia a intengao implicava 0 reconhecimento dos processos conscientes. Tolman respondeu que nao fazia a menor diferenga se 0 individuo ou o animal estivesse ou nao consciente. A experiéncia consciente — se ela existisse — associada com 0 comportamento intencional, nao influenciava a resposta do organismo. Ademais, Tolman estava interessado apenas no comportamento manifesto. CapituLo 11 BEHAVIORISMO: PERIODO POs-FUNDACAO 287 As Varidveis Intervenientes Como behaviorista, Tolman acreditava que as causas iniciadoras do comportamento € 0 comportamento final deviam ser passiveis de observacaio objetiva € de definigao opera- cional, Relacionou cinco varlaveis independentes como as causas do comportamento: 0 estimulo ambiental, os impulsos fisiol6gicos, a hereditariedade, o treinamento prévio e 2 idade. © comportamento é uma fungio dessas cinco varidveis, uma ideia que Tolman expressou por meio de uma equacio matematica. Entre essas variaveis independentes observaveis ¢ 0 comportamento de resposta resul- tante (a varidvel dependente observavel), Tolman presumia a existéncia de um conjunto de fatores ndo-observaveis, as varidveis intervenientes, que sao as verdadeiras determi- nantes do comportamento. Esses fatores consistem em processos internos que estabelecem a ligacdo entre a situagdo de estimulo e a resposta observada. A proposicao E-R (estimulo- resposta) dos behavioristas deve ser lida, entéo, E-O-R. A variavel interveniente refere-se a tudo que ocorre dentro do organismo (O) ¢ que provoca a resposta comportamental 2 determinada situagao de estimulo. No entanto, como a variavel interveniente nao pode ser observada objetivamente, ela somente tem validade para a psicologia quando pode ser relacionada diretamente com as varidveis experimentais (independentes) ¢ com a variavel do comportamento (dependente). Varidveis intervenientes: fatores nao observaveis inseridos no organismo, que sdo deter- nantes reais do comportamento. A fome é um exemplo classico de varivel interveniente. Nao se pode observar a fome em um individuo ou em um animal no laborat6rio, no entanto ela pode ser precisa e obje- tivamente relacionada com uma variavel experimental como, por exemplo, 0 intervalo de tempo transcorrido desde a tiltima vez em que 0 organismo recebeu comida. A fome tam- bém pode ser relacionada a uma resposta objetiva ou a uma varidvel de comportamento, como a quantidade de comida consumida ou a velocidade com a qual foi ingerida, Assim, é possivel descrever precisamente a variével nao-observavel da fome em relacao a varlaveis empiristas ¢ torné-la passivel de quantificacao e de manipulacao experimental. ‘A especificacdo das variaveis independentes ¢ dependentes, que sao fatos observaveis, possibilitou a Tolman estabelecer definigdes operacionais de estados internos nao-obser- vaveis, No principio, ele se referia a sua abordagem, no geral, como behaviorismo opera- cional, antes de optar pelo termo mais preciso “variével interveniente”. ATeoria da Aprendizagem © principal enfoque do behaviorismo intencional de Tolman estava no problema da apren- dizagem, Tolman rejeitou a lei do efeito de Thorndike, afitmando que a recompensa ou o reforco exerciam pouca influéncia sobre a aprendizagem. Em seu lugar, propunha uma explicacao cognitiva para a aprendizagem, sugerindo que a repetigdo do desempenho de uma tarefa reforca a relagao aprendida entre as dicas ambientais e as expectativas do organismo. Dessa forma, 0 organismo acaba conhecendo 0 seu ambiente, Tolman chama- 288 HISTORIA DA PSICOLOGIA MODERNA va essas relagdes aprendidas de “sign Gestalts”, e afirmava serem elas estabelecidas pela repeticdo da realizacao de uma tarefa. Imaginemos um rato faminto dentro de um labirinto. Ele o percorre, explorando tanto 9s caminhos corretos como os sem safda e, finalmente, acaba alcangando a comida. Nas tentativas subsequentes dentro do labirinto, 0 objetivo (encontrar a comida) proporciona ao rato a intengao e a diregao. A cada ponto de interseccaio em que 0 animal tem de fazer uma op¢ao de seguir para um lado ou outro, cria-se uma expectativa de que certas dicas associadas ao ponto de intersec¢&o vao ou nao levar 4 comida. Quando a expectativa do rato é confirmada e ele obtém a comida, a sign Gestalt (a expectativa de sinalizagao associada com determinada opgao) é reforgada. Assim, para todas as tentativas realizadas no labirinto, o animal estabelece um mapa cognitivo, que consiste em um padrao de sign Gestalts. Esse padrao é 0 que o animal aprende, ou seja, 0 mapa do labirinto, e nao apenas um conjunto de habitos motores. O cérebro do rato cria uma visao completa do labirinto ou de qualquer ambiente familiar, que Ihe permite tran- sitar de um lugar a outro sem se restringir a uma série de movimentos fisicos fixos. A classica experiéncia para testar a teoria de aprendizagem de Tolman investigava se © rato que percorria os caminhos do labirinto aprendia um mapa cognitivo ou uma série de respostas motoras. Em um labirinto com formato de cruz, um grupo de ratos sempre encontrava a comida no mesmo lugar, ainda que, usando pontos iniciais diferentes, as vezes tivessem de virar a direita e outras vezes 4 esquerda para chegarem até o alimento. As respostas motoras eram diferentes, mas a comida estava sempre no mesmo lugar. O segundo grupo de ratos apresentava as mesmas respostas independentemente do ponto inicial, mas com a comida em lugares diferentes. Iniciando de uma saida do labirin- to, 0 ratos achavam a comida somente quando viravam a direita no ponto de interseccao; comegando da outra saida, também encontravam a comida virando a direita. Os resultados demonstraram que os ratos que aprendiam 0 caminho (0 primeiro grupo) apresentavam um desempenho bem melhor do que os que aprendiam 0 movimento (0 segundo grupo). Tolman concluiu que o mesmo fendmeno ocorre com 0 individuo fami- liarizado com a cidade ou com a vizinhanga. Ele é capaz de locomover-se de um ponto a outro utilizando diversos caminhos por causa do mapa cognitivo que desenvolveu de toda a rea. Comentarios Tolman é considerado 0 precursor da psicologia cognitiva contemporanea (veja no Capitulo 15), tendo seu trabalho exercido grande impacto na disciplina, principalmente a pesquisa acerca dos problemas de aprendizagem e o conceito da variavel interveniente. Por ser uma forma de definir operacionalmente os estados internos nao-observaveis, as varidveis inter- venientes fizeram desses estados temas validos para o estudo cientffico. As varidveis interve- nientes foram empregadas pelos neobehavioristas, como Hull e Skinner. Outra contribuicao significativa de Tolman foi a sua defesa veemente para conside- rar 0 rato como sujeito apropriado para pesquisa em psicologia. No entanto, no inicio da carreira, ele nao pensava assim e afirmava: “Nao gosto de ratos. Eles me dao arrepios” (Tolman, 1919, apud Innis, 1992, p. 191). Em torno de 1945, sua atitude havia mudado: CapiruLo 11 BEHAVIORISMO: PERIODO POS-FUNDACAC 289 Observe-se que os ratos vivem em gaiolas; ndo caem na farra na noite anterior a um expe- rimento; nao provocam guerras matando uns aos outros; nao inventam maquinas de des- truicdo ¢, se inventassem, nao seriam tao inaptos para controlar esses equipamentos; nao se envolvem em conflitos de classe ou raciais; ficam distantes da politica, da economia e dos trabalhos de psicologia. Eles so maravilhosos, puros e agradavels. (Tolman, 1945, p. 166) Gracas 20s trabalhos de Tolman ¢ de outros psic6logos, 0 rato branco tornou-se 0 princ- pal sujeito utilizado na pesquisa dos neobehavioristas ¢ dos tebricos da aprendizagem, desde 1930 até a década de 1960. Acreditava-se que as pesquisas com os ratos brancos produziriam obsetvacdes sobre os processos bsicos stibjacentes do comportamento nao apenas dos ratos, como também de outros animais e dos seres humanos. Como observou um pesquisador contemporaneo, “o rato era um modelo simples mas acessivel de animal, que possibilitava go psicologo investigar os fundamentos do cérebro, do comportamento, da emocio ¢ da aprendizagem com preciso sem precedentes” (Logan, 1999, p- 3). Quem precisa de seres hhumanos para as pesquisas, perguntavam, com tantos ratos brancos disponiveis? Clark Leonard Hull (1884-1952) Clark Hull e seus seguidores dominaram a psicologia americana entre as décadas de 1940 @ 1960, Talvez nenhum psic6logo tenha se dedicado tanto aos problemas do método Cientifico. Hull era dotado de espantoso dominio da matemética e da légica formal, ¢ as aplicava teoria psicoldgica de maneira nunca vista antes. A forma de behaviorismo de Hull cra mais sofisticada e mais complexa do que a de Watson. Hull dizia a seus alunos de pos-graduagao que “Watson era ingénuo demais. Seu behaviorismo € excessivamente simples e imaturo” (apud Gengerelli, 1976, p. 686). A Biografia de Hull Por toda a vida, Hull foi incomodado pela satide fragile pela dificuldade visual. Quando ainda menino, quase morreu de tifo, deixando-o com a memoria deficitéria. Aos 24 anos contraiu poliomielite, que o deixou paralitico de uma perna, sendo forgado a usar muleta de metal construida por ele mesmo. Era de familia pobre e por diversas vezes vira-se for¢a- do a interromper 0s estudos para lecionar e ganhar dinheiro. Sua maior qualidade era a intensa motivacao para atingir 0 sucesso e a perseveranga diante dos muitos obstéculos. Em 1918, com 34 anos, idade 4 relativamente adiantada, recebeu o titulo de Ph.D. da University of Wisconsin, onde estudou engenharia de minas antes de passar para a psicologia. Fez parte do corpo docente da Wisconsin por 10 anos. Os interesses iniciais em pesquisa jé davam indicacdes da sua eterna énfase nos métodos objetivos ¢ nas leis funcionais. Hull estudou a formacao de conceitos e os efeitos do fumo na eficacia do com- portamento, além de analisar os testes e as medidas e com isso publicar um livro a respeito Gos testes de aptidao (Hull, 1928). Ele desenvolveu métodos de andlise estatfstica ¢ inven- toa uma maquina calculadora de correlacdes, que foi exibida no museu do Smithsonian Institution em Washington, DC. Dedicou 10 anos ao estudo da hipnose e da sugestiona- pilidade, publicando 32 trabalhos e um livro resumindo as pesquisas (Hull, 1933). 290 Historia DA PSICOLOGIA MODERNA Em 1929, Hull aceitou a posi¢ao de professor de pesquisa na Yale University, com o objetivo de formular uma teoria sobre 0 comportamento com base nas leis de condicio- namento de Pavlov. Lera o trabalho de Pavlov havia alguns anos e ficara impressionado com 05 estudos do reflexo condicionado e da aprendizagem. Hull considerava a obra Conditioned reflexes, de Pavlov, um “grande livro” e decidiu realizar pesquisas usando ani- mais. Ele nunca utilizara animais porque abominava 0 cheiro dos ratos de laboratério, no entanto, ao chegar a Yale, conheceu uma col6nia de ratos mantida por E. R. Hilgard sob totais condicoes de higiene. Viu os animais, “cheirou-os e disse que talvez pudesse afinal usar ratos” (Hilgard, 1987, p. 201). Na década de 1930, Hull publicou artigos a respeito do condicionamento, afirmando ser possivel explicar os comportamentos complexos de ordem superior com base nos prin- cipios basicos do condicionamento. A sua obra Principles of behavior (1943) apresentava o esboco de uma estrutura teérica completa, abrangendo todo comportamento. Logo Hull tornou-se o psicélogo mais frequentemente citado da 4rea; na década de 1940, até 40% de todos artigos sobre psicologia experimental e 70% dos artigos sobre a aprendizagem e motivagao publicados nas duas principais revistas de psicologia americana citavam o traba- Tho de Hull (Spence, 1952). Hull revisava constantemente o seu sistema, incorporando os resultados de sua prolongada pesquisa, € submetia suas proposig6es ao teste experimental. A forma final do trabalho foi publicada em 1952 na obra A behavior system. O Espirito do Mecanicismo Hull descrevia seu behaviorismo e sua visao da natureza humana empregando termos mecanicistas e considerava o comportamento humano automatico e possivel de ser redu- zido e explicado na linguagem da fisica. De acordo com Hull, os behavioristas deviam considerar seus sujeitos como maquinas, e ele apoiava a ideia de que um dia se construiria uma maquina para pensar e exibir outras fungdes cognitivas humanas. Em 1926, Hull afirmou: “Ocorreu-me varias vezes que o organismo humano é uma das maquinas mais extraordindrias — mas, ainda assim, uma maquina. E pensei mais de uma vez que, assim como ocorrem os processos de pensamento, se poderia construir uma maquina capaz de executar todas as fungdes essenciais que 0 corpo realiza” (apud Amsel e Rashotte, 1984, p. 2-3). Nota-se, assim, que o espirito mecanicista do século XVII, representado pelas figuras mecdnicas, pelos relégios e robés vistos na Europa, incorporou-se perfeitamente no trabalho de Hull. A Metodologia Objetiva e a Quantificacao O behaviorismo objetivo, reducionista e mecanicista de Hull proporciona uma clara visao de como era o seu método de estudo. Primeiro, tinha de ser objetivo, além de quantitati- vo, ou seja, com as leis fundamentais do comportamento expressas na linguagem precisa da matemitica. Em Principles of behavior (1943), Hull explicou como desenvolver uma psicologia mate- maticamente definida. Evidentemente, qualquer adepto do sistema de Hull tinha de ser disciplinado, comprometido e paciente. Capfruto 11. BEHAVIORISMO: PERIODO POS-FUNDACAO 291 © progresso consistird no extenso trabalho de registrar, uma por uma, das centenas de equacées; na determinacao experimental, uma por uma, das Centenas de constantes empi- vicas contidas nas equages; no planejamento das unidades utilizaveis na pratica com as quais medir as quantidades expressas pelas equagoes; na definicdo objetiva de centenas de simbolos que apatecem nas equacdes; na rigorosa deducaio, um por um, dos milhares de teorernas € corolarios decorrentes das primeiras defimicbes e equacOes: na meticulosa ealizagao de milhazes de experimentos quantitativos criticos. (Hull, 1943, P 400-401) Hull seguia quatro métodos que considerava titeis na pesquisa cientifica. Trés j4 eram amplamente empregados: a observacao simples, a ‘observacao sistematica controlada e © teste experimental das hipéteses. © quarto método proposto por Hull foi o método hipo- tético-dedutivo, que utiliza a deducao baseada em um conjunto de formulages deter- minadas a priori. Consiste em estabelecer postulades a partir dos quais sdo deduzidas as conclusdes testaveis por meio da experimentagao. Essas conclus6es sao submetidas a um teste experimental: se no forem comprovadas com evidéncias experimentais, devem set revistas e, se comprovadas ¢ verificadas, podem ser incorporadas a0 corpo da ciéncia. Hull acreditava que, se a psicologia desejasse se tornar verdadeiramente objetiva assim como as demais ciéncias naturais, principio basico do programa behaviorista, tinico método apropriado seria 0 hipotético-dedutivo. Método hipotético-dedutive: método estabelecido por Hull para definir postulados a pelos quais se podem obter conclusdes testaveis por meio de experiéncias Os Impulsos para Hull, a base da motivacio era um estado de necessidade corporal provocadia Por um desvio nas condi¢des bioldgicas ideais. Em vez de introduzir 0 conceito de necessidade bioldgica diretamente no seu sistema, Hull postulow a variavel interveniente do “impulso", termo jé empregado na psicologia. O impulso era definide como o estimulo provocado por uum estado de necessidade do organismo que impulsiona ow ativa um comportamento. Na opiniao de Hull, a reducao ou a satisfago de um impulso era a nica base para o reforco. is forca do impulso pode ser determinada na pratica pelo tempo de privagio ou pela inten- sidade, forca e gasto de energia do comportamento resultante. Ele considerava 0 tempo de privacdo uma medida imperfeita e colocava maior énfase na intensidade da resposta. Hull postulou dois tipos de impulso. O primério, associado aos estados de necessidades pioldgicas inatas e vitais para a sobrevivencia do organismo, entre as quais © alimento, a 4gua, oar, a temperatura, a defecacao, a mic¢4o, 0 sono, a atividade, a relacao sexual e 0 alivio da dor. Reconhecia, no entanto, outras forcas, que nao os impulsos primarios, capazes de moti- Var 0 organismo. Propés, assim, os impulsos adquiridos ou secundrios, relacionados com 9s estimulos situacionais ou ambientais associados a reducao dos impulsos primarios e que também podem se transformar em impulsos. Desse modo, 0 estimulo anteriormente neutro pode adquirir caracteristicas de um impulso por ser capaz de provocar respostas semelhantes as instigadas pelo impulso primdrio ou pelo estado de necessidade original. Um exemplo simples € queimar-se ao tocar um fogio quente, A dor da queimadura, provocada por um dano fisico real nos tecidos do corpo, produz um impulso primario, ou 292 HisTORIA DA PSICOLOGIA MODERNA A Aprendizagem A teoria da aprendizagem de Hull concentra-se no Principio do reforgo, o qual € essen- Cialmente a lei do efeito de Thorndike. A lei do reforco primério de Hull estabelece que, quando a relacdo estimulo-resposta 6 seguida de ums reducdo na necessidade, aumenta probabilidade de ocorréncia da mesma resposta nas apresentacdes subsequentes do mesmo estimulo. A recompensa e o reforco nao sdo definidos em termos da nogao de satisfacao de Thorndike, mas em termos de redugao da necessidade priméria. Assim, 0 reforso primédrio (a reducao de um impulso Primério) é fundamental para a teoria de aprendizagem de Hull ima necessidade corporal, aumenta a probabilidade de ue o mesmo estimulo provoque a mesma resposta em ocasides subsequentes. Ocorre que qualquer estimulo coerentemente associado com uma situagdo de reforco adquire, mediante essa associacao, o poder de Provocar a inibig4o condicionada, ou seja, Zetlucio na intensidade do estimul e, assim, de si mesmo Produzir o reforco resultante. Como essa forca indireta de reforco é adquirida Por meio de aprendizagem, denomina-se Forga do hdbito: a forca da conexao estimulo-resposta, que € uma funcao do numero de reforgos. Aaprendizagem nao ocorre na auséncia do reforgo necessario para provocar a reducao do impulso. Essa énfase no reforgo caracteriza o sistema de Hull como a teoria da neces- sidade de reducao, em oposicao a teoria cognitiva de Tolman, Capiruto 11 BEHAWIORISMO: PERIODO POs-FUNDAGAO 293 Comentarios Sendo um importante expoente do neobehaviorismo, Hull também era alvo dos mesmos ataques direcionados a Watson ¢ a outros behavioristas. Os psicologos contrarios a qual- quer abordagem behaviorista da psicologia colocavam Hull no campo dos inimigos. ‘Uma falha observada no set sistema era a falta de generalizacao. Na tentativa de defi- ir com precisio as varidveis, em termos quantitativos, Hull operava necessariamente em um plano limitado, Frequentemente formulava postulados a partir de resultados obtidos em um tinico experimento. Os opositores argumentavam ser imprudente a generalizacao a todo comportamento com base em demonstracdes experimentais especificas, tals como wig interval mais favorével para 0 condicionamento do piscar dos olhos (Postulado 2)" ou “g peso em gramas necessdrio de comida para condicionar um rato (Postulado 7)” (apud Hilgard, 1956, p. 181). Embora a quantificacao fosse louvavel, a abordagem extrema de Hull reduzia a faixa de aplicabilidade das suas descobertas de pesquisa. Mesmo assim, a influéncia de Hull na psicologia foi substancial. A quantidade abso- juta de pesquisas inspiradas por seu trabalho assim como o grande mimero de psicOlogos influenciados por ele, garantem a sua importancia na historia da psicologia. Hull defen- dou, ampliou e explicou a abordagem behaviorista objetiva da psicologia como nao 0 fez nenhum psicélogo. Um historiador declarou: “Nao € comum o surgimento de um verda- deiro génio tedrico em qualquer area; dentre os poucos da psicologia assim considerados, Hull certamente se classificaria entre os principais” (Lowry, 1982, p. 211). B. F Skinner (1904-1990) Durante décadas, B. F. Skinner foi o psicélogo mais influente do mundo. Quando morreu, em 1990, o editor da revista American Psychologist elogiou-o, dizendo que ele foi "tum dos gigantes da nossa disciplina”, alguém que “marcou a psicologia para sempre” (Fowler, 1990, p. 1.203). O obituario de Skinner, na publicagao Journal of the History of the Beha- vioral Sciences, descreveu-o como a “principal figura da ciéncia do comportamento deste século” (Keller, 1991, p. 3). Comecando na década de 1950, Skinner foi a grande personificagso da psicologia pehaviorista americana. Ele atrafa enorme grupo de seguidores leais e entusiasmados. Desenvolveti um programa para 0 controle comportamental da sociedade, promoveu técnicas de modificacao de comportamento e inventou um bergo automatico para emba- lar bebés, © seu romance, Walden two, ainda se mantém com grande popularidade apos décadas de publicagao. O livro Beyond freedom and dignity, langado em 1971, foi um dos mais vendidos no pais, proporcionando a Skinner a oportunidade de participar de muitos programas de entrevista na televisio, Tornou-se uma celebridade, tendo seu nome reco- hhecido tanto pelo publico em geral como por outros psic6logos. Em 1972, o editorial da revista Psychology Today afirmou que “Pela primeira vez na historia dos Estados Unidos, um professor de psicologia alcancou a celebridade comparavel 4 dos astros de cinema e da televisio” (apud Rutherford, 2000, p. 372). 294 HistORiA Ds PSICOLOGIA MODERNA A Biografia de Skinner Skinner, nascido em Susquehanna, na Pensilvania, cresceu em ambiente estavel ede muito afeto. Frequentou a mesma pequena escola de ensino médio em que se formaram Os seus pais; na ceriménia de formatura, havia apenas ele e mais sete outros colegas. Quando crianca, gostava de construir vagées, jangadas, aeromodelos, chegando a montar uma espécie de canh4o a vapor para atirar pedacos de cenoura ¢ batata sobre o telhado. Passou anos tentando desenvolver uma maquina de movimento perpétuo. Gostava de ler sobre os animais e mantinha diversas espécies de tartarugas, cobras, lagartos, sapos esquilos. Em uma feira local, viu alguns pombos realizando performances; e, anos mais tarde, treinou algumas dessas aves para realizar alguns truques. O sistema de psicologia de Skinner reflete as préprias experiéncias de infancia. De acordo com o seu ponto de vista, a vida é produto da historia de reforgos. Afirmava que sua vida foi predeterminada e organizada exatamente do modo que o seu sistema ditava como devia ser a vida de todo ser humano. Acreditava que as suas experiéncias estavam relacionadas exclusiva e diretamente aos estimulos do préprio ambiente. Skinner matriculou-se na Hamilton College de Nova York, mas nao se sentia feliz. Escreveu: Nunca me adaptei a vida estudantil. Entrei para a fraternidade sem saber bem 0 que era, Nio possufa habilidade nos esportes e sofria demais quando batia a minha canela durante lim Jogo de hoquei sobre o gelo ou quando no jogo de basquete usavam a minha cabeca Como fabela para acertar na cesta, (..) Reclamava que a faculdade me exigia demais em Tequisitos intiteis (um deles era a oracao didria na capela) ¢ que ela quase nado demonstra- va 0 interesse intelectual pela maioria dos alunos, (Skinner, 1967, Pp. 392) Skinner preparava trotes que perturbavam a comunidade da faculdade e criticava abertamente os professores e a administragao. Formou-se em Letras ~ Inglés, com distingao Phi Beta Kappa, e desejava tornar-se escritor, Em um semindrio de redagao de que participou no verao, o poeta Robert Frost clogiou seus poemas ¢ contos. Por dois anos, depois de se formar, trabalhou escrevendo, mas chegou a conclusao de que nao tinha nada a dizer. Deprimido pelo fiasco como escri- tor, pensou em consultar um psiquiatra. Considerava-se um fracasso, e a sua autoestima sstava despedacada. Além disso, estava desiludido no amor; mais ou menos meia diizia de mulheres rejeitaram-no. Leu sobre as experiéncias de condicionamento de Watson e Pavlov, os quais Ihe des- perfaram um interesse mais cientifico que literario acerca da natureza humana. Em 1928, matriculou-se no curso de p6s-graduacao em psicologia na Harvard University, embora nunca houvesse frequentado qualquer curso da rea. Obteve 0 Ph.D. em trés anos, completou com bolsa de estudo 0 pés-doutorado e lecionou na University of Minnesota (1936-1945) ena Indiana University (1945-1947), retornando depois para Harvard. © t6pico da sua dissertacao da uma indicagao da posicao que adotaria por toda a car- teira. Propés ser o reflexo simplesmente uma correlagao entre um estimulo e uma resposta, nada mais. Destacava a utilidade do conceito de reflexo na descricéo do comportamento e dava amplo crédito a Descartes. O seu livro langado em 1938, The behavior of organisms, descreve os pontos principais do seu sistema. A obra vendeu apenas 80 c6pias em quatro anos, perfazendo um total de S00 cépias nos oito primeiros anos, e recebeu criticas muito negativas. Cinquenta CAPITULO 11 BEHAVIORISMO: PeRIODO POS-FUNDACAO 295 anos depois, foi considerado “um dentre alguns livros que mudaram a face da psicologia moderna” (Thompson, 1988, p. 397). O que levou esse livro do fracasso inicial para 0 estrondoso sucesso foi a sua utilidade nas areas aplicadas, como na psicologia educacio- nal ¢ clinica. Essa ampla aplicagao pratica das ideias de Skinner era bastante adequada, jé que ele estava profundamente interessado em resolver os problemas da vida real. ym trabalho posterior, Science and human behavior (1953), tornou-se © livro basico da psicolo- gia behaviorista de Skinner. Skinner continuou produzindo até a morte, com 86 anos. No pordo da sua casa, cons- truiu a propria “caixa de Skinner”, um ambiente controlado para proporcionar reforso positivo. Dormia em um tanque de plastico amarelo suficientemente grande para colocar {um colchao, algumas prateleiras de livros e um pequeno aparelho de televisdo. Deitava-se as 10 horas, dormia trés horas, trabalhava uma hora, dormia mais trés horas ¢ levanta-se 4s cinco da manha para trabalhar mais trés horas. Depois, seguia para o escritorio para trabalhar mais e toda tarde aplicava-se um autorreforco ouvindo misica. Gostava de escrever e dizia que essa atividade proporcionava-Ihe bastante refor¢o positivo, Com 78 anos, escreveu um trabalho intitulado “Intellectual self-management in id age” (“Autogerenciamento intelectual na velhice”), descrevendo suas experiéncias como um estudo de caso (Skinner, 1983). Descreveu a necessidade de o cérebro trabalhar menos horas por dia, com perfodos de descanso entre os esforcos exaustivos, para lidar com a perda de memoria e a redugao da capacidade intelectual. Ficou feliz ao saber que fora citado na literatura psicologica mais vezes do que Sigmund Freud. Quando pergunta- do por um amigo se tinha atingido a meta como escritor, apenas comentou: “Pensei que conseguiria” (apud Bjork, 1993, p. 214). Em 1989, Skinner foi diagnosticado com leucemia, tendo expectativa de dois meses de vida. Durante uma entrevista no radio, descreveu como se sentia: Nao sou religioso, portanto nao me preocupo com que acontecerd comigo depois da morte. Quando soube da doenga e que morreria em alguns meses, nao sentI nenhum tipo de emocio, Nao entrei em panico, nem senti medo ou ansiedade. (...) O tinico sentimento de comocao que realmente encheu os meus olhos de lagrimas eu tive quando pensei em como contaria a minha esposa e as minhas filhas. (...) A minha vida fol realmente muito boa, Seria muito tolo de minha parte queixar-me, de alguma forma, sobre essa situagao. Entdo estou aproveitando esses tiltimos meses assim como fiz a minha vida inteira. (apud Catania, 1992, p. 1.527) Oito dias antes de morrer, mesmo fraco, Skinner apresentou um trabalho na conven¢ao da APA de 1990, em Boston. Atacou veementemente o crescimento da psicologia cogniti- va, que desafiava a sua forma de behaviorismo. Na tarde anterior 4 sua morte, trabalhava no seu tiltimo artigo, “Can psychology be a science of mind?” (“A psicologia pode ser uma ciéncia da mente?”) (Skinner, 1990), outra acusacao contra 0 movimento cognitivo que ameacava suplantar a sua visdo de psicologia. 0 Behaviorismo de Skinner Em diversos aspectos, a posigo de Skinner representa uma renovacao do behaviorismo de Watson, Um historiador afirmou: “O espirito de Watson é indestrutivel. Limpido e purifi- 296 HISTORIA DA PSICOLOGIA MODERNA cado, ele respira por meio dos trabalhos de B. F. Skinner” (MacLeod, 1959, p. 34). Embora Hull também fosse considerado um rigoroso behaviorista, ha diferengas entre suas vis6es eas de Skinner. Enquanto Hull enfatizava a importancia da teoria, Skinner defendia um sistema empirico sem estrutura tedrica para a condugéo de uma pesquisa. Skinner resumia sua visio da seguinte forma: “Nunca ataquei um problema construindo uma hipotese. Jamais deduzi teoremas, nem os submeti a verificacdo experimental. Até onde consigo enxergar, nao tenho nenhum modelo preconcebido de comportamento e, certamen- te, nem fisiologico nem mentalista e, creio, nem conceitual” (Skinner, 1956, p. 227). O behaviorismo de Skinner dedica-se ao estudo das respostas. Ele se preocupava em descrever e nao em explicar o comportamento. A sua pesquisa tratava apenas do compor- tamento observavel, e ele acreditava que a tarefa da investigacao cientifica era estabelecer as relagdes funcionais entre as condigdes de estimulo controladas pelo pesquisador e as respostas subsequentes do organismo. Skinner nao se preocupava em especular sobre 0 que ocorria dentro do organismo. Seu programa nao apresentava suposicoes a respeito das entidades internas, fossem as varid- veis intervenientes, os impulsos ou os processos fisiolégicos. O que acontecia na relacao entre estimulo e resposta nao era 0 tipo de dado objetivo com 0 qual o behaviorista skin- neriano lidava. Assim, o behaviorismo puramente descritivo de Skinner foi denominado adequadamente de abordagem do “organismo vazio”. Nessa visao, 0 organismo humano seria controlado e operado pelas forcas do ambiente, pelo mundo exterior, e nao pelas for¢as internas. Skinner nao duvidava da existéncia das condigdes mentais ou fisiolégicas internas, apenas nao aceitava a sua validade no estudo cientifico do comportamento. Um biégrafo reiterou que a posicdo de Skinner “nao era uma negacdo dos eventos mentais, mas uma recusa em Cclassificé-los como entidades explicativas” (Richelle, 1993, p. 10). Ao contrario de muitos dos seus contemporaneos, Skinner nao considerava necessa- tio usar grande quantidade de individuos nas experiéncias ou realizar comparacoes esta- tisticas entre as respostas médias dos grupos de pesquisados. O seu método consistia na investigacao compreensiva de um tinico individuo. Uma previsao do que o individuo médio realizara é, muitas vezes, de pouco ou nenhum valor ao lidar com um individuo em particular. (...) Uma ciéncia é valida ao lidar com um individuo somente se as leis forem referentes aos individuos. Uma ciéncia do com- portamento que considera apenas 0 comportamento coletivo nao parece valida para compreender um caso particular. (Skinner, 1953, p. 19) Em 1958, os behavioristas skinnerianos criaram a revista Journal of the Experimental Analysis of Behavior, principalmente como resposta as exigéncias para publicacao, nao mencionadas nas principais revistas de psicologia, a respeito da andlise estatistica e da dimensao da amostragem de individuos observados. A revista Journal of Applied Behavior Analysis foi langada para promover a pesquisa sobre a modificacéo do comportamento, um produto aplicado da psicologia de Skinner. No trecho a seguir da obra Science and human behavior, Skinner descreve como 0 tra- balho de Descartes e as figuras mecanicas da Europa do século XVII (veja no Capitulo 2) influenciaram a sua abordagem de psicologia. Esse é um bom exemplo do uso da hist6ria, ou seja, de um psicdlogo do século XX que se baseou em um trabalho realizado 300 anos antes. O texto também demonstra a evolugao continua das maquinas, tornando-se cada vez mais proximas da vida real. CapiTULO 11 BEHAVIORISMO: PERIOD POS-FUNDAGAD 297 Texto Original Trecho Extraido de Science and Human Behavior (1953),' de B. F. Skinner 0 comportamento é uma caracteristica primaria das espécies vivas. Quase 0 identificamos coma prépria vida. Qualquer objeto que se mova ¢ praticamente chamado de ser vivo, princi- palmente quando o movimento ¢ dotado de direcdo ou atua mudando o ambiente, O movi- mento acrescenta verossimilhanca a qualquer modelo de organismo. A marionete adquire vida quando é movida, e os idolos que se requebram ou exalam fumaca de cigarro sao alvos de grande admiracao, Robds e criaturas mecanicas nos divertem apenas por se moverem. E ha um significado na etimologia do termo desenho animado. As maquinas parecem ter vida apenas porque esto em movimento. O fascinio da pa a vapor para neve é lendario. As m4quinas menos conhecidas talvez possam realmente ser temi- das. Hoje, percebemios que somente as pessoas mais simples confundem-nas com as criaturas vivas, no entanto, em algum momento, todos as desconheciam. Um dia, quando [os poetas do século XIX William] Wordsworth e [Samuel Taylor] Coleridge passaram pela locomotiva a vapor, Wordsworth observou que era praticamente impossivel apagar a impressao de vida e vontade que ela transmitia. "Sim’, afirmou, "é um gigante dotado de pensamento” Um brinquedo mecdnico que imitava 0 comportamento humano conduziu @ teoria da chamada acdo reflexa. Na primeira parte do século XVII, certas figuras movidas por forca hidraulica foram instaladas nos jardins ptiblicos e particulares como objetos de diversao. Uma jovem passeando pelo jardim pisava sem querer em uma pequena plataforma escondida. ‘Assim, uma valvula se abria, a 4gua flula para um pistéo, e uma figura assustadora saltava por entre os galhos das atvores, assustando-a. René Descartes sabia como essas figuras funciona- yam e também o quanto elas se pareciam com as criaturas vivas. Pensava na possibilidade de aplicar a explicacao do sistema hidraulico das figuras mecanicas também nas criaturas vivas. O musculo que se dilata quando move um membro talvez seja inflado por um fluido vindo pelos nervos cerebrais. Os nervos que se estendem da superficie do corpo até o cérebro talvez sejam os fios que abrem as valvulas. Descartes nao afirmava que o organisrno humano sempre operava dessa forma. Aceitava essa explicacdo no caso dos animais e reservava uma esfera de acdo para a “alma racional”, talvez por causa da pressdo religiosa, Todavia, nao levou muito tempo para que um passo adiante produzisse a doutrina totalmente amadurecida do “homem como maquina”. A dou- trina nao deveu sua popularidade a plausibilidade - nao havia provas confidveis para a teoria de Descartes -, mas as chocantes implicacées tedricas e metafisicas. Desde aquela época, dois fatos se destacam: as maquinas parecem cada vez mais dotadas de vida, € os organismos vivos esto cada vez mais parecidos com as maquinas. As maquinas contem- poraneas nao s40 apenas mais complexas: elas s40 propositadamente projetades para operarem de forma a imitar 0 comportamento humano. As maquinagdes “quase humanas” fazem parte da experiéncia cotidiana. As portas nos veem chegando e se abrem para nos receber. Os elevadores memorizam os comandos e param no andar correto. As maos mecanicas retiram os itens defei- ‘tuosos da linha de producao. Outras escrevem mensagens até certo grau legiveis. As calculadoras mecanicas ou elétricas resolvem as equacdes mais dificeis ou as que tomam muito tempo dos 1 Trecho extraido de Science and human behavior, de B. F. Skinner. © 1953, Free Press. 298 HistORIA DA PsICOLOGIA MaDERNA matematicos. O homem criou, assim, a maquina a sua imagem e semelhanga — consequentemen- te, 0 organismo vivo perdeu uma parte da sua exclusividade. Ficamos menos espantados com as maquinas do que nossos ancestrais e menos propensos a dotar a maquina com autonomia de pensamento. Ao mesmo tempo, descobrimos mais a respeito do funcionamento do organismo. vivo e estamos mais aptos a enxergar nele propriedades semelhantes as das maquinas. 0 Condicionamento Operante Varias geragdes de estudantes de psicologia estudaram os experimentos de Skinner sobre 0 condicionamento operante e como diferem do comportamento respondente investigado por Pavlov. Na situagao de condicionamento pavloviano, um estimulo conhecido € parea- do com outro estimulo sob condicoes de reforgo. A resposta comportamental é eliciada por um estimulo observavel e Skinner chamou-a de comportamento respondente. Condicionamento operante: situacéo de aprendizagem que envolve o comportamento emitido por um organismo em vez de eliciado por um estimulo detectavel © comportamento operante ocorre sem qualquer estimulo antecedente externo observa- vel. A resposta do organismo parece ser espontanea, ou seja, nao relacionada com qualquer estimulo observavel conhecido. Isso nao significa que nao haja um estimulo que elicite a resposta, mas que ele nao é detectado quando ocorre a resposta. No entanto, na visao do observador, nao existe estimulo porque ele nao 0 aplicou e nao consegue vé-lo. Outra diferenca entre o comportamento respondente e o operante é que este opera no ambiente do organismo, enquanto 0 outro, nao. O cao treinado do laboratério de Pavlov nao fazia outra coisa sendo reagir (nesse caso, salivar) quando o pesquisador apre- sentava-Ihe o estimulo (a comida). O cao nao era capaz de atuar por si s6 para assegurar © estimulo. No entanto, o comportamento operante do rato na caixa de Skinner é ins- trumental em assegurar o estimulo (a comida). Quando 0 rato pressiona a barra, recebe comida, € somente a recebe se pressionar a barra, portanto ele opera sobre o ambiente? Skinner acreditava no comportamento operante como o melhor representante da situa- cdo tipica de aprendizagem. Na maioria das vezes, 0 comportamento € do tipo operante, por isso, a melhor abordagem cientifica para seu estudo sao os processos de condiciona- mento € extingao. A demonstra¢ao da classica experiéncia da caixa de Skinner envolvia 0 ato de pressio- nara barra, que fora construida de modo que controlasse as varidveis externas. Colocava-se um rato privado de comida dentro da caixa, ficando livre para explorar 0 ambiente. No curso dessa exploracao, o rato pressionava uma alavanca ou uma barra, ativando um meca- nismo que liberava uma bolinha de ragao em uma bandeja. Depois de conseguir algumas bolinhas (0s reforcos), o condicionamento geralmente se estabelecia com rapidez. Observe 2 Sicinner nao gostava do nome “caixa de Skinner", termo usado inicialmente por Clark Hull em 1953. Skinner deno- minava 0 seu equipamento experimental de aparelho de condicionamento operante. No entanto, “caixa de Skinner’ tornou-se o termo popularmente aceito. Capitulo 11 BEHAVIORISMO: PERIODO POS-FUNDAGAO 299 que o comportamento do rato (pressionando a alavanca) atuou sobre 0 ambiente assim serviu como instrumento para a obten¢ao do alimento. A variavel dependente é simples e direta: a taxa de respostas. Com base nessa experiéncia basica, Skinner derivou sua lei da aquisi¢ao, que afirma que a forga de um comportamento operante aumenta quando ele é seguido pela apresenta- cdo de um estimulo reforcador. Embora a pratica seja importante para se estabelecer uma alta taxa de pressdo a barra, a varidvel-chave 6 0 reforco. A pratica em si nao aumenta a taxa Ge respostas; ela apenas proporciona a oportunidade de ocorréncia do reforco adicional. Lei da aquisigao: a forca de um comportamento operante aumenta quando, em seguida, recebe um estimulo reforgador. A lei da aquisicao de Skinner é diferente das visoes de Thorndike e Hull sobre a aprendizagem. Skinner no lidava com as consequéncias do reforco, como as sensacoes de prazer/dor ou satisfacao/insatisfacaio, como fazia Thorndike, nem tentava interpretar 0 reforgo com base na redugao dos impulsos, como Hull. Enquanto os sistemas de Thorndike e Hull eram explicativos, o de Skinner era descritivo. Esquemas de Reforco A pesquisa inicial com o rato pressionando a barra da caixa de Skinner demonstrou 0 papel do reforgo no comportamento operante. O comportamento do rato era reforgado cada vez que ele pressionava a barra. Em outras palavras, 0 rato recebia alimento sempre que executava a resposta correta. No mundo real, no entanto, 0 reforco nem sempre é assim consistente ou continuo, muito embora a aprendizagem ocorra e o comportamento persista, mesmo quando 0 reforgo seja intermitente. Skinner afirmou: ‘Nem sempre encontramos uma boa camada de gelo ou uma boa neve quando vamos pati- nar ou esquiar. (...) Nem sempre temos uma 6tima refei¢’o nos restaurantes, porque os cozinheiros nao so muito previsiveis. Nem sempre que telefonamos a um amigo consegui- mos falar com ele, porque nem sempre ele esta em casa. (...) Os reforgos caracteristicos do trabalho e do estudo sao quase sempre intermitentes porque nao € vidvel controlar o comportamento reforcando toda resposta. (Skinner, 1953, p. 99) Pense na sua experiéncia. Mesmo que vocé estude sem parar, ndo conseguira obter a nota maxima em todas as provas. No emprego, mesmo que trabalhe com a maxima eficiéncia, nem sempre vocé recebe elogios ou aumentos salariais. Assim, Skinner dese- java saber de que forma 0 reforco varidvel influenciava 0 comportamento. Seré que um esquema de reforco ou um determinado padrao ¢ melhor que outro para determinar as respostas do organismo? Esquema de reforco: condicées que envolvem diferentes razGes ou intervalos de tempo entre reforcos. 300 HISTORIA DA PSICOLOGIA MODERNA. A motivacao para a realizado da pesquisa nao surgiu da curiosidade intelectual, mas da conveniéncia, o que mostra que a ciéncia as vezes funciona diferentemente da imagem idealizada descrita em muitos livros. Em um sabado a tarde, Skinner percebeu que as bolinhas de racao do rato estavam acabando. Naquela época, ou seja, na década de 1930, a racdo animal nao era adquirida pronta nas lojas de animais ou diretamente dos fabricantes. O pesquisador (ou o aluno de pés-graduacao) tinha de prepara-las manual- mente, um processo trabalhoso que consumia muito tempo. Em vez de passar o fim de semana preparando as bolinhas, Skinner perguntou-se o que aconteceria se reforcasse os ratos apenas uma vez a cada minuto, independentemente do namero de respostas que apresentassem. Desse modo, gastaria muito menos ra¢ao naquele fim de semana. Elabo- rou, assim, uma série de experiéncias para testar diferentes taxas e intervalos de reforco (Ferster e Skinner, 1957; Skinner, 1969). Em uma série de estudos, comparou as taxas de resposta dos animais que recebiam um reforco por resposta sendo apresentado ap6s um intervalo especifico. A segunda condi¢ao era um programa de reforco com intervalo fixo. O novo reforco era dado uma vez a cada minuto ou uma vez a cada quatro minutos. O aspecto importante era a apresenta¢ao do teforco ao animal depois de um periodo fixo. Um emprego com sistema de pagamento semanal ou mensal proporciona o reforgo em um intervalo fixo. A remuneracao dos fun- ciondrios nao é baseada no niimero de pegas produzidas (o numero de respostas), mas nos dias trabalhados. A pesquisa de Skinner demonstrou que, quanto menor 0 intervalo entre 0s reforgos, mais rapida a resposta do animal. Quando 0 intervalo aumentava, a taxa de respostas diminuia. A frequéncia dos reforcos também contribui para a extingao de uma resposta. Elimi- na-se um comportamento com mais rapidez quando 0 reforco é continuo e interrompido de repente, do que quando é intermitente. Alguns pombos apresentaram respostas até 10 mil vezes, mesmo sem reforgo, quando foram originalmente condicionados com reforcos intermitentes. Em um esquema de razao fixa, o reforco nao é apresentado depois de certo intervalo, mas depois de um ntimero predeterminado de respostas. O comportamento do animal € que determina a frequéncia com que receberd o reforco. Talvez seja necessdrio respon- der 10 ou 20 vezes depois do reforco inicial antes de receber outro. Os animais em um esquema de razo fixa respondem com muito mais rapidez que os de intervalo fixo. Res- ponder rapidamente em um esquema de intervalo fixo nao proporciona nenhum reforgo adicional; nesse esquema, mesmo que o animal pressione a barra 5 ou 50 vezes, recebera © reforco somente depois de passado 0 intervalo estabelecido. A alta taxa de resposta em um esquema de razao fixa funciona com ratos, pombos e seres humanos. Em um progra- ma salarial de razao fixa aplicado no ambiente de trabalho, 0 pagamento ou a comissao do empregado depende do ntimero de itens produzidos ou vendidos. Esse esquema de reforco € vélido somente se a razao nao for elevada demais, ou seja, se foi requerida uma carga de trabalho exequivel para se receber uma unidade de pagamento, e se 0 reforco especifico recompensar 0 esforco. Aproximacao Sucessiva: a Formacao do Comportamento No experimento original de Skinner do condicionamento operante, esse (apertar uma alavanca) era um comportamento simples, esperado de um rato de laboratério, que po-

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