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PRETTE, Maria Clara. PARA ENTENDER A ARTE, Primeira parte: A linguagem da arte. Ler uma obra-de-arte, Ed. GLOBO S.A., SP,SP,2008, pag. 8-17 Como ler uma obra-de-arte rm sua origem,a palavra Todavia, ainda hoje, quando suais e figuratvas, essas artes que, por meio das image arte incicava a habil- Um oficio € @ercdo com 0 eramprincpalmentea areuite- procure comunicar” sei dade técnica necessiria trabalho e a criativdade pro tura,aesculturae apintura —_ Bes, emoges, sentiments. a producio de um objeto ou fissional de nckviduos islados, Em tempos mais recentes Para que se possa falar ver: {20 exercicio de determinada falase de artesanato; e quan- nos demos conta de que dadeiramente de arte © 4 atividede do um trabalho € bern fet, a idela do que € belo e do obrasde-arte € preciso que Assim.era arte o mister dos dz-se que foi realizado "se- que nfo 0 & pode ser muito 0 artista procure dar (@ ferreitos e dos sapateros, indo os conceitos dearte’, diferente extre os diversoscapaz de dar) também um mas também o dos poeizs Durante muitos séculos,a pa- povos, € que ainda para um valor estético a0 seu trabe. Ou dos escutores. Para as lawa"arte"mitowse aincicar mesmo powo ela pode mu: tho: com efeito, a ideia do tes que tinham a ver com asdenomnadas belavartes.0u dar ao longo do tempo. Por belo, apesar de mutével, per 4 producdo de objetos iteis, sea, aquelas que tnharn uma |ss0 hoje, no campo visual manece fortemente lgada a Com © tempo preferiu-se fraidade extévca (a busca do figurativo, definimos como ideia de produsdo artstica usar 0 terme “ofc belo): no campo dis ates vie artistica quaiquer atividade 1. A esquerda, Michelangelo Buonarroti, A Pieta (c. 1499, Basilica de ‘Sao Pedro no Vaticano). 2.A direita, arte popular ceslava, Pietd, século XIX (madeira esculpida Pintada). As duas esculturas desta pagina se referem a um mesmo tema: Maria com © filho morto.Ambas 3s obras comovem pelo rentimento de piedade ‘que suscleam, como expresso da dor materna. No entanto, somente a escultura de Michelangelo aleanea 0 elevad nivel testética de obracde-arte, Um poderoso meio uma caverna, modeladas em de comunicagio argla ou ertahadas em © © homem comegcu @ usar $0. Sela come for titham um de pensar e sent imagens para se comuricar —signiicad, de todo um povo ou de urs ‘om seus semehantes desde bagagem de pensamentes.de época. © estudo da hist época pré-isténca, quando sentimentos de daarte é importante ina no conhecia a excita Alguras dessas imagens che- por isso: porque 0s artistas lngu As imagens podam ser gra- gam até nds de um grandes comunicadores nitem cor de mensagens; po Ge nhecer a sensiciidade de 2 muito ue para descre vos teriam sido necessirios ros de pai das im: das ou pintadas com titas Temoto € nos pe rudimentares ras pan historica pintada de vermelh 5. Edvard Munch, O grito (1873, ‘Oslo, Museu Munch). Como se realiza a comunicacao forma de comunicagiio existe: emissor 4 pessoa que decice cormunicar al © contesido da comunicacio sistema de sinais usado para comunicar,e que deve ser conhecido por quem receberd a mensagem meio 0 elem que permite material ente a transmisso da mensagem jtivo de quem emite a mensagem jetvo de quem emite a mer gem. O artis emissor pO comitente A obrarde-arte,o texto visual é um sistera Ge elementos grificos € pictdricos (sinais Visas) possuicores de signtfcado (sentido) fem um dado contexto historico-cultural Os fruidores Os destinatérios Um exemplo de ssa obra é complexa e arti grande artista e Gientsta que condenagio e crucificacio comunicagao visual ‘culaca;em linguagem moder viveu hd mais de 500 anos. do Messias Procuremos exarrinar co na, dizemos que ¢ um texto ponto de vista da comuni- visual que 0 cbservador po: A mensagem: o affesco se © cédigo & a pintura do Re tagdo vsual A Sonta Caia, de de ler em varios niveis, refere a um episédio da vida nascimento italiano, com suas Leonardo da Vinci, que se ene de Jesus extraido. dos Evan- formas fgurativas e express contra no corventode SMa- Qemissorou seja.o autor da gelhos, a ceia com os apés- _vas.A perspectiva, por exerr Fedele Greieem Milo, obra,é Leonardo daVinci.um — tolos que prececeu a prisio, plo, que permite dar ume 10 idea de profundidas aco em que os personas Slo representados, havia sido centio recentemente aperfei- coada,€ 0 seu uso caracteriza a pintura renascentista em agao a medieval, © meio 6 a parede do rete torio do conwvento revestida de embogo, sabre 0 qual Leo- rnardo pintou a obra com urna xéenica denominada afresco, Os receptores, ou seja, os Gestnatéios da pintura, eran orginariamente_ os monges do convent. Hoje, no ent to, esse afesco € admirado por tunistas do mundo inter: por isso podemos dizer que Uma obra-de-arte, se assim © for verdaderamente, tem como potenciais fruidores todos os seres humanos. CQ contexto é a tdia da épo- ca das Senhorias, quando nas renascentistas 0s ricos (neste case 08 Sfor- za, que governavam Milzo) ‘competiam entre si para ter a Seu Servigo os pintores e ar tistas mas competentes. © comitente era 0 seahor gue encomendava a obra a0 artista, ‘A funcio dessa obra, como sempre que se trata de arte sacra, era antes de mais nada lecucar as pessoas na fé na devagio. Antes de consumir 08 almentos no refeitéro, ‘os monges se recalhiam em ora¢do, € aquela imagem os fazia lembrar alguns dos t mas fundamentals da reigido Crista instituiglo da Eucaris- tiasa traigio de Judas, a cons- ciéncis do sacrifcio de Jesus pela salvacio dos homens. O estilo do artista Todo artista tern o seu modo Ge se exprimr, que chama mos de estilo, se usando o pincel, 0 cinzel ou qualquer outre instrumento. O estilo de Leonardo se revela pelo particular uso do claro-es curo que suaviza as feigdes, dos tons esfumacos das ti tas, dos mevimentos varados das figuras. Com seu estio in confundivel,o grande mestre toscano interpretou um tera sacro bastante comum na- 2. Exquema perspective do afresco de Leonardo, quée tempo, dando-the ums nova expressividade e, logo, significacos mas profundes. ‘A imagem de Jesus e dos doze apdstolos, cujos rostos exprimem desdém, surpresa dor ¢ inquietacao, tern gran- de dramaticidade (fig. 1); 2 preciso da perspectiva (fig triste do apéstolo Felipe. 2) da cena dé uma ideia de profundidade e equllbrio. Na figura 3 € reproduzida uma ‘outra Ceia de artista ndrcico, realizada com técnica ¢ estilo diferemes (ou seja, com ou- tros eécigos de representa- so), mesmo permanecendo ‘a mesmo contedco, |. Detalhe do afresco de Leonardo: # expressiio terna e 3. Dirk Bouts, A Ultima Cela, século XV (pineura sobre madeira). u Como se lé uma obra-de- arte Quando estamos diante de uma obra-de-arte & preci so dispor de informasies, geralmente reunidas nurma ficha que indica + 0 autor (nome, sobreno- me, data e lugar de nasci~ mento e de morte); so tuo: + a datacdo (o ano em que a cobra foi realzada): + as dimensdes, + alocalizacao: + a técnica utlizada: +0 género. Com base nas suas caracte- ristcas técnicas e materizis, a obra pode pertencer aos ceédigos de pintura, da escul- ‘ura. da arquiteture ou das artes aplicadas. Para cada ceddigo existem subcddigos pintura a dleo, a tempera ‘etc: escultura em mérmore, ‘em madeira etc. Dependendo do seu con teddo, 2 obra figurative pode pertencer a géneros diver- sos-arte sacra ou arte prof 1a; temas ritolégicos, histd- ricos, alegéricos,retrato, pai- sagem, natureza-morta etc. A leitura descritiva Depois de levantar esses da- dos,pode-se procedera uma leitura descritva do tema. Essa leitura, que € chamada precisamente de denotatva, nas diz simplesmente-o que ‘est representado na obra,o que se vé na imagem. A leitura interpretativa Pode-se passar em seguida & leitura interpretativa da obra 2 dearte,tarbém chamada de letura conotatva, que consti- ‘ula fase mais complexa. Com efeto, interpretar uma obra- de-arte signa compreender a fundo a mensagem e a fur 0 que Ihe foi atribuch pelo artista, vale dizer 0 que ele quera comunicar Para tanto, pode ser importante exami aro contexto reigioso nists rico e cultural em que a obra fo criada, Fundamental & 2 letra da estruture expressiva ‘ov sea. da linguagem 3s for ‘mas utizada pelo artsta para se e:@rimir De fato, ¢ valor artsteo de uma obra reside no modo pelo qual o autor reuniv cores, espagos, linhas ou ainda formas modeladas (plisticas) © formas arqite- tBnicas(edrcios de qualidade artistica), Muitas vezes, para interpretar uma obra é prec so conhecer também o sgn ficado de fguras smbdicas, 0 autor pode ter usado algumas imagens com um significado diferente do que parecera & primera vista: decodicacao dos smbolos pode nos ofe- recer chaves interpretativas muito mais cas. As referéncias Bor fim, pode ser interessar- te saber quaissio as referén- dias: 08 elementos comuns a obras de outras épocas. Todo artista se vale cas o*- periéncias dos mestres que © antecederam ¢, por sua ver, dea para as geracoes seguintes uma heranga de conhecimentos, A histéria da arte demonstra que 20 longo dos séculos modelos ants foram retomacios € reinterpretacos. No esquema procurou-se sintetizar as operacoes Uusadas para fazer a leitura de uma obracde-arte. Obra-de-arte | ou texto visual | | Céigo da “i ipologia do atrial ‘tema ticago do autor ito da fenotacao) ¢ le retriva (co dotera _— | peut contetide — pcan simboico (fungio ; mh prencia a mod recedentes ou a erivados Prova de Leitura ficha informativa da obra, Autor: Hafael Sanalo (UrbEo 1488 ~ Roma 1820) ital 0 casamento da Virdem, A504 Dimensé 174 x 121 om allsagio: Pinaooteca de Brea, Mo ‘Técnica empregada: pintura a leo sobre madeira, Leitura denotativa Dis grupos de figuras adeiam simetricamente um person: gem central representado no sto de unir as mos de um casal As figuras estio dispos tas em primeiro plano, eo ambiente & um amplo espago dominado por uma cipula Leitura conotativa Trata-se do casamen Maria © José. O ani sacerdote; as jovens sio as companheiras da noiva, € 95 jovens, os companhei- ros do nove. O joven em primero plano quebra com © joelho um pequeno bas tao: € 0 mais desapontado s pretendentes; os autros também trazem um bast mas somente 0 do noivo floresceu'o sinal que indicou 9 escalhide para se tornar 0 pai terreno de Cristo. A estrutura expressiva © espace € © protagonist: Rafae! fez dele 0 tema prine pal do seu estuda.A dispo- siggo das figuras, cada linha, luzes e sombre, posturas gest ‘contribuern para uma spacial unitaria, A mensagem A obra tem cupla fungio sobre um epi dio da hist6ria sacra erst + transmite um conce! beleza, equillbrie € perfe Glo: uma das mais elevadas mensagens da arte co Re- se considerarmos que Rafael tinha pouco mais de 20 anos quando a realizou As referéncias Do seu mestre, Perugine, Rafael tomou o modelo da praca lajeada e do fundo ar quitetdnico. Confrontando discipulo, vemios como na pimura de Rafael a harmo: nia da composigio € muito superior: basta um dnico olhar para _percebermos que entre a imagem total e cada detalhe existe uma reita, O elagdo muito casamento da Virg texto rico em referéncias © * a perspectiva central tema ominante das experércias visuals renascentistas |. Rafael Sanzio, 0

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