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Instante

Posterior Por Bruno Medina

Nada melhor do que


não fazer Nada
Ao longo da história da civilização ci- de se atingir o status quo da prática oficial Bastaria apenas que algum maluco ale-
entistas e filósofos tentaram sem sucesso do não-fazer. Recomendo a visitação, pois gasse que o nadismo é uma religião para que
defini-lo. Considerando a complexidade de praticantes não-iniciados podem encon- sua prática fosse encarada pela sociedade
sua natureza, a compreensão do conceito trar impedimentos que os levem a desistir. com seriedade e apreensão. “Fazer nada”
acerca de sua existência demanda uma im- Antes de escrever este post tentei fazer nada durante o horário de trabalho ou de estudo
ensa dose de abstração, visto que, em tese, por alguns minutos. Até consegui parar por não seria alvo de repressão, devido ao receio
ele nem existe. Em tempos de super-ex- completo no meio do dia, no entanto tive es- de ser confundido com perseguição ideológ-
posição à informação e do costume de se pecial dificuldade em manter a mente livre ica. Por motivos óbvios o número de adeptos
preencher a rotina com atribulações que não de pensamentos; o maior desafio foi afastar se espalharia sem controle e, aos poucos, ha-
cabem nas horas de um só dia, me parece a intenção de não fazer nada. veria a adesão de algumas celebridades.
que este é um conceito fadado à extinção. Em seguida não pude deixar de notar Não tardaria para que alguma cura mila-
Tá complicado? Vai piorar. como, se bem explorada, a instituição de um grosa fosse relacionada ao nada e, à partir de
O nada. Oposição ao ser, entendeu? movimento como estes pode vir à calhar. alguma insistência -uma lista de assinaturas
Não? Segundo um clube que tem conquis- Admiro-me, inclusive, do manifesto funda- que culminasse na elaboração de um projeto
tado cada vez mais adeptos, melhor do que mental ter sido escrito há apenas dois anos, de lei, por exemplo- não seria impensável
entende-lo é vive-lo. Portanto não se espante apesar do “fazer nada” ter sempre sido a que em alguns anos se estabelecesse um fe-
caso num domingo de sol se depare com um verdadeira grande meta (mesmo que não se riado dedicado a pratica do nadismo. Já pen-
enorme cubo branco (símbolo do movimen- admita) da humanidade. Se bem que, frente sou? Agora me ocorre uma outra questão:
to), cercado por um bando de gente deitada, aos padrões nadistas, redigir um manifesto seria para os nadistas Homer Simpson um
sem fazer nada. Estes provavelmente são soa como um trabalho hercúleo… profeta?
os praticantes do nadismo. Não se trata de
doutrina, tampouco de religião. O Clube de
Nadismo é tão somente uma organização
que se opõe a exarcebação da produtividade
e da eficiência que, nas últimas décadas, as-
sumiram ares de vício.
O objetivo é simples: incentivar o cos-
tume de haver um momento do dia reser-
vado a fazer coisa alguma. Não confunda
com dormir, ler ou assistir TV, fazer nada
é fazer nada mesmo, de preferência nem
pensar! Talvez alguns de vocês possam até
achar que o nadismo seja uma piada, ou
algo equivalente a estes textos recheados de
frases de auto-ajuda falsamente atribuídos
à autores famosos, que se espalham através
das insuportáveis correntes de e-mail. Ga-
ranto que não é.
O movimento já foi retratado por alguns
veículos de imprensa, é só procurar por aí.
Existe até um site dedicado ao tema, onde
é possível obter dicas sobre como se tor-
nar sócio, bem como as melhores maneiras

2 MUITO MAIS, 26 de agosto de 2008

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