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a JoKo Gurmaniee Roza “De madrugada, quando a lua se escondia.. o sol raiava nna janela de Maria...” Vinha um odor duro, das flores carminadas. Os aloendros, em fila, nos separavam do ite ;paravam do mundo, Pensamentos me agitavam, — Voce gosta de Maria Irma? —Nio... De quem? — De voed.., Sempre gostei vad Oe et Sempre gost. Sempre! Antes de ber que —E engragado,., —E verdade, No... Nao é isso... Armanda jogou fora o botio dog Mand og fora. boo de bogari eemrerazon os de —E com vocé que eu vou casar — Comigo!. ~ Entéo, por que vocé no me sett Pra no me beija? Porque aqui na roga sae F foi assim que fiquei noivo de Armanda, com quem me casei belies de mato, ainda antes do matriménio da minha prima ia Irma com 0 mogo Ramiro Gouveia, dos Gouveias da fa- zenda da Brejatiba, no Todo-Fim-E-Bom. “Eu vi um homem Id na grimpa do [eoqueito, ai-ai, no era homem, era um coco bem [rmaduro, 01-0. io era coco, era a cteca de um [macaco,at-ai, io era a ereca, era'6 macaco todo [inciro,vi-08” Sao Marcos (Cantiga de espantar males.) aquele tempo eu morava no Calango Frito € no acreditava em feit dda quanta coisa-c-sousa de nds todos li, € outras cismas corri- {queiras tais: sal derramado; padre viajando com a gente no trem; nfo falar em raio: quando muito, ¢ se o tempo esta bom, “faisca”; nem dizer lepras 6 “mal”; passo de entrada com 0 pé cesquerdo; ave do pescoco pelado; risada renga de suindara; ca- chorro, bode ¢ galo, pretos; e, no principal, mulher feiosa, en- contro sobre todos fatidico; — porque, jé entio, como ia di- zendo, eu poderia confessar, num recenseio aproximado: doze ito regrinhas ortodoxas preventi- lezesseis casos de batida obriga- tabus de nio-uso propric t6ria na madeira; dez outros exigindo a figa di ‘mas da legitima, ocultando bem a cabega do polegar; ¢ cinco ou Sacamane o Joko Guimantes Rosa seis indicagdes de ritual mais complicado; total: setenta e dois picadas de ofidios: mesmo de uma cascavel em jejum, pisada na Jadeira da antecauda, ou de uma jararaca-papuda, a correr mato, jo que nao mandara confeccionar que eu era assim 0 pior-de-todos, mes. mo do que o Saturnino Pingapinga, capiau que — a historia € antiga — errou de porta, dormiu com uma mulher que nio era a.sua,€securou de um mal-de-engasgo, trazendo areeeta més ica no bolso, s6 porque nao tina dinheiro para a mandar aviar, Mas, feiticeiros, nao, F me ria dessa gente toda do mau igre: de Nhé Tolentina, que estava ficando rica de vender no ar: al pastéis ce carne mexida com osso mio de anj vinténs enterrados juntamente com mechas de eabelo, em frente «das casas; do sapo com uma héstia consagrada na boca, ¢ a boca ccosturada para ele no cuspir fora a particula, e depois batizado em pia de igreja, e, mais, pol ainda, rancada nele sapo até mei finalmente no telhado de um sujeito; e do Jos Mangolé velho. de-guerra, voluntirio do mato nos tempos do Paraguai, roma: nescente do “ano da fumaca", liturgistailegal e orix-pai de to- dos os metapsiquicos por-perto, da serra da grota, ¢ mestre em artes de despacho, atraso, telequinese, vidro moido, vu- dufsmo, amarramento e desamarragio, Bem... Bem que Si Nhé Rita Preta cozinheira nao cansava de me dizer: — Se 0 senhor nio aceita, é rei no seu; mas, abusar, nio de- ved E eu abusava, todos os domingos, porque, para ir domingar no mato dasTrés Aguas, o melhor atalho renteava o terreirinho de frente da cafua do Mangold, de quem eu zombava j8 por pri- tica. Com isso eu me crescia, mais mandando, ¢ o preto até que se ria, acho que achando mesmo graga em mim, Para escarmento, 0 melhor caso-exemplo de Si Nha Rita ‘ea lavadeira entao veio entran- Preta minha criada era este: *. dlo, para ajuntar a roupa suja. De repente, deu um grito horro- rendo e caiu sentada no chao, garrada com as duas mios no pé dela)... gente acudiu, mas nao viu nada: nao era topada, nem estrepe, nem sapecado de tatarana, nem ferroada de ma- rimbondo, nem bicho-de-pé apostemado, nem mijacdo, nem ‘coisa de se ver... Nao tinka cissura nenbuma, mas a mulher nko parava de gritar,e... qu’é de remédio2! Nem angu quente, nema Fomentagio, nem bélsamo, nem emplastro de folha de furno com azeite-doce, nem arnica, nem alcanfor!... Ai, ela se alem- brou de desfeita que tinha feito para a Ceséria velha, e mandou uum portador as pressas, para pedir perdi. Pois foi o tempo cembaixador chegar li, para a dor sarar, assim de véo... Porque a Cesiria tornou a tirar fora a agulha do pé do calunga de cera, aque tinka feito, aos pouquinhos, em sete voltas de meia-noite: “Fstou fazendo fulana!... Estou fazendo falana!...”, © depois, com a agulha: “Estou espetando fulanal... Estow espetando fulans ‘Uma barbaridade! Até: os meninos faziam feitico, no Calan- {g0-Frito. O mestre dava muito coque, ¢ batia de régua, também; Deolindinho, de dez anos, inventou a revolta —e ele era mes- 263 JoX0 Gurmanias Rosa imo um génio, porque o sistema foi original, peca por peca so- mente scu: “Cada um fecha os olhos ¢ apanha uma folha no bamburrall” Pronto, “Agora, cada um verte égua dentro da com as folhas!” Feito, “Agora, algum vai esconder a coisa debs x0 da cama de Seu Professo: F foi a lata ir para debaixo da cama, e o professor para cima

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