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Dados biográficos e histórico-social

Jane Austen começou a escrever Persuasão, seu último romance completo, após ter
terminado de escrever Emma, e concluiu-o, em agosto de 1816. O livro foi publicado,
postumamente, em 1818 e serviu como base do roteiro sobre o romance dos
personagens interpretados por Sandra Bullock e Keanu Reeves, no filme A Casa do
Lago, de 2006.
Persuasão, costuma ser associado a outro de seus romances, A Abadia de Northanger,
pois além dos dois livros terem sido originalmente publicados em um único volume,
ambas as histórias são situadas na cidade de Bath, um balneário termal onde Jane
Austen viveu de1801 a 1805.
O enredo deste empolgante livro gira em torno dos amores de Anne Elliot que se
apaixonara pelo pobre, mas ambicioso jovem oficial da marinha, capitão Frederick
Wentworth. A família de Anne não concorda com essa relação e a convence romper seu
relacionamento amoroso. Anos após Anne reencontra Frederick, agora cortejando sua
amiga e vizinha, Louisa Musgrove.
Persuasão, é amplamente apreciada, pois tem uma simpática história de amor, de trama
simples e bem elaborada, e mostra o estilo de narrativa irônica de Jane Austen. Além
disto, é original, pelo fato, entre outros motivos, de ser uma das poucas histórias da
escritora que não apresenta a heroína em plena juventude. O romance também é um
apanágio ao homem de iniciativa, através do personagem do capitão Frederick
Wentworth que parte de uma origem humilde e que alcança influência e status pela
força de seus méritos e não através de herança.

texto sobre o filme

Ah, então antes de ser uma escritora publicada, a própria Jane Austen viveu um drama
amoroso em tudo semelhante à história do seu romance Orgulho e Preconceito, ao
ponto de este livro parecer autobiográfico? Muito bem, ficámos a saber isso. Mais
alguma coisa? Não, apenas isso.

A Juventude de Jane é um drama de época, versando sobre a chegada à idade adulta de


Jane Austen, escritora celebrada e inúmeras vezes adaptada ao cinema e à televisão (o já
referido Orgulho e Preconceito, Senso e Sensibilidade, Mansfield Park e Emma), mas é
também um guião muito ficcionado.

Relativamente ao homem que funciona como epicentro da narrativa amorosa, Tom,


Lefroy, existem apenas duas cartas à irmã que o mencionam, e o resto é liberdade
artística, e aparentemente muito má, já que praticamente se limitaram a copiar Orgulho
e Preconceito e substituir os nomes dos protagonistas. De resto, apenas ficamos a saber
o básico, que era filha de um reverendo anglicano na miséria e que tinha um irmão e
uma irmã (na realidade, teve cinco irmãos, mas talvez não houvesse dinheiro para mais
actores), que a mãe sonhava em casá-la com um homem rico e que teve uma paixão
intensa mas que terminou tristemente.

Também este ano a BBC (que faz parte da co-produção de A Juventude de Jane) decidiu
fazer um telefilme, Miss Austen Regrets, apresentando uma Jane Austen nos seus
últimos dias (faleceu aos 41 anos sem nunca ter casado), a recordar o seu passado, livros
e amores.

Quanto a A Juventude de Jane, não traz nada de novo. Desprovido de uma força
narrativa relevante, discreto na cinematografia e um argumento que se limita a
vampirizar o nome da autora e os seus trabalhos, é pouco envolvente e nem os seus
actores arrancam o filme do marasmo. Anne Hathaway está igual a todos os seus papeis
(o envelhecimento final através de maquilhagem é vergonhoso) e James McAvoy fez
caretas quando deveria estar a sofrer e mais caretas quando deveria estar feliz.

James Cromwell, Julie Walters e Maggie Smith justificam o seu salário, mas com
comedimento. Os únicos dramas de época que Julian Jarrold realizou foram para a
televisão, e essa limitação nota-se.

® Ricardo Lopes Moura


Título Original:
"Becoming Jane" (2007)

Realização:
Julian Jarrold

Argumento:
Kevin Hood & Sara Williams

Actores:
Anne Hathaway - Jane Austen
James McAvoy - Tom Lefroy
Julie Walters - Sra. Austen
James Cromwell - Reverendo Austen
Maggie Smith - Lady Gresham

Jane Austen (Steventon, Reino Unido, 16 de dezembro de 1775 – Winchester, Reino


Unido, 18 de julho de 1817) foi uma proeminente escritora inglesa, que representa o
exemplo de uma vida que, sem grandes sobressaltos, em nada reduziu a estatura da sua
ficção. A ironia que utiliza para descrever as personagens de seus romances a coloca
entre os clássicos, haja vista sua aceitação, inclusive na atualidade, sendo
constantemente objeto de estudo acadêmico, e alcançando um público bastante amplo.[1]

Nascida em Steventon, Hampshire, de uma família pertencente à burguesia agrária, sua


situação e ambiente serviram de contexto para todas as suas obras, cujo tema gira em
torno do casamento da protagonista. A inocência das obras de Austen é apenas aparente,
e pode ser interpretada de várias maneiras. Os meios acadêmicos a têm considerado uma
escritora conservadora, apesar de a crítica feminista atual reconhecer em suas obras uma
dramatização do pensamento de Mary Wollstonecraft sobre a educação da mulher.

Jane Austen nasceu em 16 de dezembro de 1775, em Steventon, Hampshire, Inglaterra,


sendo a sétima filha do reverendo George Austen, o pároco anglicano local, e de sua
esposa Cassandra (cujo nome de soltera era Leigh). O reverendo Austen era uma
espécie de tutor, e suplementava os ganhos familiares dando aulas particulares a alunos
que residiam em sua casa. A família era formada por oito irmãos, sendo Jane e sua irmã
mais velha, Cassandra, as únicas mulheres. Cassandra e Jane eram confidentes, e hoje se
conhece uma série de cartas de sua correspondência.
Em 1783, Jane e Cassandra foram para a casa da Sra. Cawley, em Southampton, para
prosseguir a educação sob sua tutela, porém tiveram que regressar para casa, devido a
uma enfermidade infecciosa em Southampton. Entre 1785 e 1786, ambas foram alunas
de um internato em Reading, lugar que pode ter inspirado Jane para descrever o
internato da Sra. Goddard, que aparece no romance Emma. A educação que Austen
recebeu ali foi a única recebida fora do âmbito familiar. Por outro lado, sabemos que o
reverendo Austen tinha uma ampla biblioteca e, segundo ela mesma conta em suas
cartas, tanto ela quanto sua família eram "ávidos leitores de romances, e não se
envergonhavam disso". Assim como lia romances de Fielding e de Richardson, lia
também Frances Burney. O título de Orgulho e Preconceito, por exemplo, foi retirado
de uma frase dessa autora, no romance Cecilia.

Entre 1782 e 1784, os Austen fizera representações teatrais na reitoria de Steventon, que
entre 1787-1788 foram mais elaboradas graças à colaboração de sua prima, Eliza de
Feuillide, (a quem dedicou Love and Freindship). Nos anos posteriores a 1787, Jane
Austen escreveu, para o divertimento de sua familia, Juvenilia, que inclui diversas
paródias da literatura da época. Entre 1795 e 1799 começou a redigir as primeiras
versões dos romances que se publicariam sob os nomes Sense and Sensibility, Pride and
Prejudice e Northanger Abbey (que antes se intitulavam Elinor and Marianne, First
Impressions, e Susan, respectivamente). Provavelmente, também escreveu Lady Susan
nesta época. Em 1797, seu pai quis publicar Pride and Prejudice, mas o editor recusou.

Não há provas de que Jane foi cortejada por ninguém, apesar de um breve amor juvenil
com Thomas Lefroy (parente irlandês de uma amiga de Austen), aos 20 anos. Em
janeiro do ano seguinte, 1796, escreveu a sua irmã dizendo que tudo havia terminado,
pois ele não podia casar por motivos econômicos. Pouco depois, uma tia de Lefroy
tentou aproximar Jane do reverendo Samuel Blackall, mas ela não estava interessada.

Em 1800, seu pai decidiu mudar-se para Bath, cidade que Jane não apreciava muito, e
nessa época a família costumava ir à costa todos os verões, e foi em uma dessas viagens
que Jane conheceu um homem que se enamorou dela. Quando partiu, decidiram voltar a
se ver, porém ele morreu. Tal fato não aparece, porém, em nenhuma de suas cartas, mas
foi escrito muitos anos depois, e não se sabe o quanto esse namoro possa ter afetado
Austen, ainda que alguns o considerem inspiração para a obra Persuasion.

Em dezembro de 1802, estando Jane e Cassandra com a família Bigg, perto de


Steventon, Harris Bigg-Wither pediu Jane em casamento, e ela consentiu.
Provavelmente, rompeu o compromisso no dia seguinte, e foi com Cassandra para Bath.
Cassandra se havia comprometido com Thomas Fowle, que morreu de febre amarela no
Caribe em 1797. Thomas Fowle não tinha condições financeiras para se casar, e o
compromisso vinha sendo adiado desde 1794; havia ido ao Caribe como militar,
justamente para conseguir dinheiro. Nem Jane, nem Cassandra Austen se casaram.
Residência da família Austen em Chawton, onde Jane passou os últimos oito anos de
sua vida (hoje um museu).

Em 1803, Jane Austen conseguiu vender seu romance Northanger Abbey (então
intitulado Susan) por 10 libras esterlinas, apesar de o livro ter sido publicado somente
14 anos depois. É possível, também, que nessa ocasião tenha começado a escrever The
Watsons, logo abandonando a ideia.

Em janeiro de 1805, morreu seu pai, deixando a esposa e as filhas em situação


economicamente precária, e elas passaram a depender de seus irmãos e da pequena
quantia que Cassandra herdara de seu prometido.

En 1806 os Austen se mudaram para Southampton, perto da marina de Portsmouth, o


que permitia a elas visitar frequentemente seus irmãos Frank e Charles, que serviam na
marinha, chegando a almirantes.

Em 1809 se mudaram para Chawton, perto de Alton e Winchester, onde seu irmão
Edward podia abrigá-las em uma pequena casa dentro de uma de suas propriedades.
Esta casa tinha a vantagem de ser em Hampshire, o mesmo condado de sua infância.
Uma vez instaladas, Jane retomou suas atividades literárias revisando Sense and
Sensibility, que foi aceita por um editor em 1810 ou 1811, apesar de a autora assunir os
riscos da publicação. Foi publicado de forma anônima, en outubro, como pseudônimo:
"By a Lady". Segundo o diário de Fanny Knight, sobrinha de Austen, esta recebeu uma
"carta da tia Cass pedindo que não fosse mencionado que a tia Jane era a autora de
Sense and Sensibility".[2] Teve algumas críticas favoráveis, e se sabe que os lucros para
Austen foram de 140 libras esterlinas.

Carreira literária
Animada pelo êxito de Sense and Sensibility, a autora tentou publicar também Pride
anda Prejudice, que foi vendido em novembro de 1812 e publicado em janeiro de 1813.
Ao mesmo tempo, começou a trabalhar em Mansfield Park. Em 1813, a identidade da
autora de Pride and Prejudice começou a difundir-se, graças à poupularidade da obra e
à indicrição da família. Nesse mesmo ano foi publicada a 2ª edição de suas obras, e em
maio de 1814 surgiu Mansfield Park, obra da qual se venderam todos os exemplares em
seis meses, e Austen começou a trabalhar em Emma.

Era seu irmão Henry, que vivia em Londres, quem se encarregava de negociar com os
editores, e quando Jane ia a Londres se hospedava em sua casa. Em 1813, Henry Austen
foi tratado pelo Sr. Clarke, médico do príncipe Regente, o qual, ao descobrir que Austen
era a autora de Pride and Prejudice e Sense and Sensibility, obras que apreciava muito,
pediu a este que solicitasse a Henry que o romance seguinte da autora fosse a ele
dedicado. É possível que tal pedido tenha demorado a chegar até ela, pois em suas
cartas não guardava uma boa opinião sobre os príncipes, devido às suas conhecidas
infidelidades.[3]

Em Chawton, Austen não tinha a mesma privacidade que em Steventon, e é bastante


famosa a anedota narrada por James Austen-Leigh, acerca da porta “chiante” que
Austen solicitou que não fosse reparada, pois a avisava antecipadamente da chegada de
algum visitante, para esconder o manuscrito que escrevia.

Em dezembro de 1815 foi publicada Emma, dedicada ao príncipe regente e, no ano


seguinte, uma nova edição de Mansfield Park. A segunda não teve o êxito das obras
anteriores, e as perdas desquilibraram os ganhos da primeira edição.

Morte
Austen começou Persuasion em agosto de 1815, mas um ano depois começou a se
sentir mal. No início de 1817 começou Sanditon, porém teve que abandonar a obra por
seu estado de saúde. Para receber tratamento médico foi levada a Winchester, onde
faleceu em 18 de julho de 1817.

Suas últimas palavras foram: "Não quero nada mais que a morte".[4] Tinha 41 anos.

Em seu testamento, legou tudo o que tinha para sua irmã Cassandra. Na época, não se
sabia a causa de sua morte; hoje, considera-se que foi Doença de Addison. Está
enterrada na Catedral de Winchester.

O epitáfio, na catedral de Winchester, não menciona que foi a autora de seus conhecidos
romances. Em 1872, depois que James Edward Austen-Leigh publicou suas Memórias,
foi colocada uma nova placa explicando sua condição de escritora e salientando: "She
opened her mouth with wisdom and in her tongue is the law of kindness" ("Ela abriu sua
boca com sabedoria e em sua língua reside a lei da bondade").

Legado
Retrato à óleo de Jane Austen, feito em 1875, de autor desconhecido, baseado na
aquarela feita pela irmã em 1810.

Seus romances Persuasion e Northanger Abbey foram preparados para publicação por
Henry Austen, e foram publicadas em 1817, em uma edição combinada de quatro
volumes. Da mesma forma que nas obras anteriores, seu nome não consta, mas é citado
apenas que se trata da mesma autora das outras obras, e traz uma "nota biográfica sobre
o autor", anunciando sua morte.

O único retrato da escritora considerado autêntico é um desenho realizado para ilustrar


as Memórias de Austen-Leigh, uma reinterpretação realizada na era vitoriana de um
desenho de sua irmã. Atualmente, o desenho está na National Gallery de Londres. A
partir deste, foram criadas todas as variações de retratos de Jane Austen que podemos
encontrar hoje em dia.

Na British Library, também em Londres, pode-se encontrar uma caderneta presenteada


por seu pai, ilustrada por Cassandra, sua irmã, onde Jane escreveu suas primeiras
histórias. Também se encontram ali manuscritos dos últimos capítulos de “Persuasión”,
e um pequeno escritório em madeira.

Existem dois museus dedicados a Jane Austen. O "Jane Austen Centre", em Bath, é um
museu público situado em uma casa georgiana em Gay Street, a alguns metros do
número 25, onde residiu Austen em 1805. O outro, "Jane Austen's House Museum", na
cabana de Chawton, em Hampshire, lugar onde viveu a escritora de 1809 até 1817.

Histórico social na época de Jane Austen


O período britânico de Regência compreende a regência de Jorge IV como Príncipe de
Gales, durante a enfermidade de seu pai, Jorge III, e constitui uma ponte entre o período
georgiano e o vitoriano.
Jane Austen viveu na época da regência, porém sua obra literária se caracteriza por
descrever com mais precisão a sociedade rural georgiana e não tanto as mudanças
sofridas com a chegada da modernidade. Essa mudança se baseia em dois fatores
externos fundamentais: por um lado, a revolução agrária, que constitui o começo da
revolução industrial, e suas importantes repercussões sociais; por outro lado, o
colonialismo, as Guerras Napoleônicas e a extensão do Império Britânico.

Com o advento da industrialização, a antiga ordem hierárquica que situava em alta


posição a nobreza e seus bens sofreu um processo de mudança, surgindo novas formas
de adquirir riquezas. A revolução agrária havia provocado um incremento na população
inglesa, que por sua vez impulsionou a economia para atender a demanda. Pela primeira
vez na história da Grã-Bretanha, a população se sustentava, graças às inovações
introduzidas nas técnicas de cultivo. Em decorrência disso, uma classe social até então
minoritária começou a se fazer notar e ganhar importância: a alta burguesia agrária. A
população inglesa iniciou um êxodo do campo para a cidade, buscando emprego na
indústria e isso incorreu num novo conceito de valores, independente das velhas
tradições.

No início da era victoriana, a antiga hierarquia e o que ela representava haviam se


tornado obsoletos. Por outro lado, as Guerras Napoleônicas (1804–1815) abriram outro
tipo de profissão, no exército, que nos anos seguintes continuou em alta, devido à
expansão do colonialismo; ademais, apareceram heróis nacionais, como o Duque de
Wellington, e Lord Nelson, o que outorgava certo romantismo à profissão.

A era georgiana se caracterizou, também, pelas mudanças sociais no aspecto político.


Foi a época das campanhas para a abolição da escravatura, da reforma das prisões e das
críticas à ausência de uma justiça social. Foi também a época em que os intelectuais
começaram a defender políticas de bem-estar social, e se construíram orfanatos,
hospitais e escolas dominicais.

Literatura na época georgiana


Na literatura, a época georgiana se caracterizou pelo ressurgimento do romance e pela
discussão se esse era realmente um gênero literário e de qualidade.

De acordo com Ian Watt, no ensaio The Rise of the Novel, o renascimento do romance
ou novela está intrinsecamente enlaçado com o florescimento da classe média, que,
diferentemente da nobreza, não havia sido educada com os clássicos, não conhecia o
latim, nem o grego, e tampoco compartilhava o interesse pelos temas das literaturas
clássicas.[5] Outro fator importante era que a imprensa havia tornado possível a
adquisição de livros pelas classes mais pobres; o número de livros publicados cresceu,
permitindo um incremento no número de escritores profissionais. Assim, um novo tipo
de leitores propiciou um novo tipo de literatura.

Sem dúvida, uma das críticas que atualmente se faz a Watt é a exclusão das escritoras
de romances e novelas em sua descrição dos séculos XVIII e XIX. Hoje se reconhece
que mais da metade dos autores durante esta época eram mulheres que, através da
escrita, conseguiam certa independência econômica. Não obstante, a qualidade da
maioria dessas obras deixava muito a desejar, pois era plena de tópicos e clichês de
linguagem e de personagens, herança da literatura gótica. No caso de Austen, ela
defende o romance como gênero de qualidade, introduzindo discussões sobre a
literatura praticamente em todas as suas obras, e criticando as obras de segunda
categoria, como na paródia “Northanger Abbey”.[6]

A educação da mulher
Durante a época de Jane Austen não existia um sistema de educação propriamente dito,
e a educação das crianças era feita nas escolas dominicais, ou, no caso das famílias mais
abastadas, através de tutores. Por outro lado, existiam algumas "escolas para damas",
que tinham má reputação, pois ofereciam uma educação deficiente. Também era comum
mandar os filhos homens para viver na casa de um tutor, como o era o pai de Jane
Austen. Crescendo nessa casa, pode-se supor que a autora foi uma mulher bastante
instruída para seu tempo.[7]

O tratado de educação mais relevante para a época era o Emilio de Rousseau, que tem
suas bases no Iluminismo. Rousseau propunha que todos os males de sua época se
originavam na própria sociedade, e que a única alternativa era provocar uma
transformação no homem através da educação; uma educação que o permitisse libertar-
se da corrupção que provoca a sociedade. A influência do Iluminismo fez com que se
começasse a criar um sistema educativo fundamentado na razão. Sem dúvida, tanto em
Rousseau, como em muitos outros pensadores do Iluminismo, a mulher estava excluída
dessa necessidade educativa. Como exemplo, em Emilio se faz referência à educação da
mulher através da sugestão para Sofía, a mulher destinada a casar-se com Emilio: a
mulher deve ser educada para cumprir suas funções de esposa e mãe, e obedecer a seu
marido.[8] Sendo assim, não é de se estranhar que numerosos tratados de conduta para
mulheres jovens se popularizaram no século XVIII, ensinando doutrinas morais e
enfocando a educação em aspectos domésticos, religião e "talentos", e separando-as de
outros conhecimentos, que a tornariam pouco desejável aos olhos masculinos.

Há muitas passagens na obra de Jane Austen dedicadas aos "talentos", porém se há algo
que todas as obras têm en comum é que nenhuma de suas heroínas está muito
interessada por eles. Por talentos, então, se pode entender as diferentes habilidades que
uma mulher que busca marido deve cultivar para atrair a atenção dele.[9]

"Acho incrível", diz Bingley, "como todas as jovens têm tanta paciência para cultivar
todos esses talentos". (…) "Todas pintam, forram biombos e fazem bolsas. Não conheci
uma que não saiba fazer tudo isso, e estou seguro de que jamais me falaram de uma
jovem pela primeira vez sem referir-se a quão talentosa ela era". (…) "Uma mulher
deve ter um amplo conhecimento de música, canto, desenho, dança, e línguas modernas
para merecer essa palavra (talentosa); e, aparte de tudo isso, deve haver algo em seu ar e
em sua maneira de andar, no tom de sua voz, em sua forma de relacionar-se com as
pessoas, e em sua expressão que, se não for assim, não merecerá completamente a
palavra".
Jane Austen, Pride and Prejudice

Jane Austen advoga, em seus romances, por uma educação liberal para a mulher,
independente de todos esses "talentos", pois considera a falta de sensatez um grande
risco para a vida social, para a escolha de um futuro favorável, e para a convivência
conjugal.
Formação como escritora

Jane Austen retratou com toques de ironia os costumes da sociedade de sua época.

Torna-se difícil precisar o momento em que Jane Austen começou a escrever. A


existência de cadernos de notas contendo relatos assinala que o talento despertou em
tenra idade. Em 1791, aos 16 anos, já dispunha de um bom número de exemplares
armazenados; seus primeiros trabalhos se caracterizam por ser de uma extensão
ligeiramente inferior às suas obras mais maduras, e por estarem em um inglês mais
simples, fácil e livre de ornatos próprios de muitos escritores.[10]

Sendo de uma familia que promovia a aprendizagem, a leitura e as letras, Austen


desenvolveu um talento especial que a levou ao desejo de compor textos, sempre
representando neles os valores familiares que ela achava importantes.

Em sua concepção de educação, tal como expressou em seus romances, o modelo dos
pais exemplares era suficiente para moldar a boa conduta dos filhos. Não acreditava
estritamente na figura de tutor, tão comum na época, para criar as crianças, e assim o
manifestou nas palavras de Elizabeth, a protagonista de Pride and Prejudice: "Não
temos tutor, fazemos tudo por nós mesmos" (comentário dirigido à Lady Catherine de
Bourgh, que reage surpresa). É evidente que Austen, apesar de seu isolamento literário,
não era alheia às tendências de seu tempo, e assim o revela em suas obras, sobretudo
com relação à figura feminina. Também em Pride and Prejudice, surge um debate entre
os personagens, quando Elizabeth discute com Mr Darcy, Mr e Miss Bingley, e Mrs
Hurst em Netherfield, sobre o que comumente era o protótipo de dama ideal. Para a
aristocracia, um bom modelo era o de uma mulher culta, que saiba falar idiomas
modernos, que entenda de música, de estilo, de vários temas, e que tenha certo carisma
e expressão que a favoreçam. Frente a isso, Elizabeth põe em dúvida se existe uma
mulher capaz de ter todas essas qualidades ao mesmo tempo, ao que responde: “Não
duvido que conheçais apenas uma dezena; duvido que conheçais alguma”.

Notas e referências
1. ↑ “Jane Austen”, Gary Kelly, en Dictionary of Literary Biography, Volume 116:
British Romantic Novelists, 1789-1832.. Pode encontrar-se aqui.
2. ↑ Cartas de Jane Austen, edição de Brabourne em.
3. ↑ Opiniões de Jane Austen sobre as infidelidades do príncipe e sua esposa [1]
4. ↑ Biography of Jane Austen (1818), escrita por seu irmão Henry Austen. John
Murray. Londres. Reimpressa em 1833.
5. ↑ The Rise of the Novel, Ian Watt
6. ↑ Jane Austen, Meenakshi Mukherjee, na coleção Women Writers, Macmillan
education LTD, 1991
7. ↑ Jane Austen, Meenakshi Mukherhee, na coleção Women Writers, Macmillan
education LTD, 1991
8. ↑ Emilio, ou Da Educação. Jean-Jacques Rousseau, Alianza editorial, ISBN 84-
206-3504-9
9. ↑ [Republic of Pemberley, página completa sobre Jane Austen
http://www.pemberley.com/janeinfo/pptopic2.html#educrev]
10. ↑ A Memoir of Jane Austen por J. E Austen-Leigh, 2ª edición. Londres: Bentley,
1871

AS OBRAS DE JANE AUSTEN

As Obras de Jane Austen marcaram um novo tipo de romance, que diferia dos demais
nos temas que abordava. Seus romances contêm uma mensagem instrutiva, asssinalam o
bom comportamento e mostram uma espécie de experiência fictícia, mas sempre
mantendo os princípios clássicos aristotélicos de verossimilhança, isto é, estão de
acordo com a realidade e oferecem, por conseguinte, uma história onde os elementos
que a constituem se prestam à veracidade dos fatos narrados.

Características principais de sua obra


Segundo Richard Whately[1], em sua análise sobre a técnica e o efeito moral na ficção de
Jane Austen, sua obra não altera nossa credibilidade, nem surpreende nossa imaginação,
apesar de mostrar uma grande variedade de incidentes. As figuras de afeição e
sensibilidade romântica eram primeiramente atributos de personagens fictícios, sendo
pouco usuais na realidade; a maior parte encontra seu clímax mediante a repetição
indiscriminada, a arte de copiar da natureza, dado que se encontra presente em todos os
aspectos da vida. Este panorama se expõe ante um leitor não como uma sucessão de
cenas próprias de um mundo imaginário, pois a obra de Austen se centra em aspectos
cotidianos e, portanto, alinhados com a vida real. A variedade, o entretenimento e o
caminho incerto do protagonista são temas que a autora aborda na totalidade de suas
obras. Não é menos importante a prioridade que concede ao detalhe, e a descrição
realista e ilustrada de personagens e lugares.

Durante a primeira metade do século XVIII, a função moralizadora havía ocorrido por
conta de ensaístas, como Joseph Addison ou Richard Steele, que denunciavam em seus
periódicos os abusos cometidos pela sociedade britânica contemporânea. Esses artigos
se encontravam impregnados de uma forte conotação satírica, cujo papel era o de
modelar mediante o ridículo e a expressão jocosa os pilares que deviam reger o
comportamento do ser humano.

A partir do século XIX, essa função passou a formar parte do cânone através do qual se
haveria de reger os novos romancistas. A narração, tanto no caso do conto quanto o do
romance, construiria esses modelos de comportamento através da representação dos
mesmos. Tal mecanismo não se centraria apenas em descrever diversos protótipos de
classes sociais, mas também em oferecer características fundamentaiss à raíz de um ou
vários personagens que pertencessem a cada uma dessas classes. Esses personagens, por
sua vez baseados no leitor comum, buscavam que o receptor do texto se sentisse de
alguma forma identificado com eles e, como resultado, se sentisse atraído pelas
circunstâncias que lhes preparara o destino. No caso de Jane Austen, em Pride and
Prejudice, Elizabeth Bennet, a protagonista, e sua família, pertencem a uma classe
social média baixa. Mr. Darcy e outros personagens, como Mr. Bingley e Lady
Catherine de Bourgh, são claros representantes da burguesia daquele momento. A
escritora busca romper essas barreiras sociais, mostrando reação à incapacidade de
mobilidade social típica da época, e conclui com o matrimônio dos protagonistas, o
contrato civil e a fusão das classes.

Jane Austen demonstra ter um bom gosto pelo decoro e pela utilidada, ambas
decorrentes de sua religiosidade cristã e o teor moral que a compõe. Ela mesma
reconhecia em suas obras a característica de um "sermão dramático". O aspecto
didático, por outro lado, é expresso de forma concisa, ocorre de forma acidental durante
o transcurso da obra e não se apresenta ante o leitor de uma forma forçada, mas sim
natural. Austen se mostra predisposta a ensinar a seus leitores, não mediante discursos
éticos no sentido estrito, mas através de eventos na vida de qualquer das pessoas que se
apresentam na história. O romance de Austen constitui uma unidade racional de
histórias e sucessos entrelaçados para criar um argumento comum e lógico. Poucas
vezes se pode perceber o desenlace de sua obra, e cada episódio é o resultado dos
eventos que aconteceram anteriormente.

Intertextualidade
Costuma-se dizer que Jane Austen foi uma escritora isolada da influência de outros de
seu tempo e da vida social além da reitoria de Steventon, e da burguesia rural que
formava a sociedade que a rodeava.

"Jane Austen viveu isolada do mundo literário: não conheceu nenhum dos autores
contemporâneos, nem por carta, nem pessoalmente. Poucos de seus leitores conheciam
seu nome, e certamente ninguém a conhecia além disso. Duvido que fosse possível
mencionar qualquer outro autor notável que vivesse em uma oscuridade tão completa.
Não posso pensar em ninguém que vivesse como ela, o que a contrastava com os
outros"
Memórias de Jane Austen, Edward Austen-Leigh

Isto, no entanto, não está totalmente correto: sabe-se, pelas cartas que se enviavam, ela e
Cassandra, que as duas irmãs Austen viajavam com frequência para a casa de amigos e
familiares, e também que Austen estava familiarizada com muitas das obras publicadas
na época. Prova disso é a intertextualidade que aparece em suas obras, pois às vezes
permite ao leitor formular juízos sobre os personagens através de um simples contraste
nas leituras que estes recomendam, ou dos fragmentos de texto que lêem. Por exemplo,
uma forma de ridiculizar Mr. Collins, em Pride and Prejudice, é fazer suas primas
lerem os Sermons for Young Women, de James Fordice, um manual destinado a formar
moralmente as jovens, que contradizia em muitos aspectos o que Jane Austen
considerava próprio para a educação delas. Há mais referências explícitas na obra de
Austen, por exemplo, em Northanger Abbey, que é uma paródia dos romances góticos.
A protagonista, Catherine Morland, está lendo um romance de Ann Radcliffe, The
Mysteries of Udolpho. Catherine é uma personagem que está relacionada com as
heroínas de romance populares da época, dotada de certo tipo de quixotismo, quando os
romances de cavalaria estavam sendo substituídos por romances góticos; vê sua vida
como a de uma dessas heroínas, e como os romances de Jane Austen se definem melhor
como romances de formação ou Bildungsroman, Catherine deve aprender que a vida é
diferente do que anunciam os romances.

Sabe-se, pelos romances e cartas, que Austen leu autores como Fanny Burney, Maria
Edgeworth, Ann Radcliffe, Daniel Defoe, Henry Fielding, Laurence Sterne, e Samuel
Richardson; ensaistas como Joseph Addison e Richard Steele, e contos de poetas como
William Cowper e George Crabbe. O mais destacável, talvez, não seja o que leu, mas o
que não leu, tais como os românticos William Wordsworth, Coleridge, ou Lord Byron;
este último brevemente mencionado em Persuasión, talvez seu único romance com
certas pinceladas românticas. Porém, em geral, em seu manejo da ironia, Jane Austen
está mais em comum com os autores do literatura augusta, como Alexander Pope ou
Jonathan Swift[2].

Críticas à obra de Jane Austen

Em 1816, os críticos de The New Monthly Magazine não consideravam Emma como um
romance de transcendência.

Austen não foi considerada uma grande romancista, até o início do século XIX. Apesar
de suas obras aparecerem sob pseudônimo, foram amplamente conhecidas e receberam
numerosas críticas.

Foi Sir Walter Scott quem despertou o interesse em sua obra, graças a um artigo
favorável sobre Emma[3]. Scott chama a atenção, no artigo, aos pontos que se vão repetir
em quase todas as críticas posteriores sobre Austen. Por um lado, temos o espaço, pois a
originalidade de sua obra cria entretenimento através de retratos de lugares e situações
comuns para seus leitores. Suas personagens são, quase sem excessão, pessoas da classe
média, movidos por principios que poden ser comuns a qualquer leitor, encravados não
em exóticas colônias, mas na vida campesina inglesa. Scott, ademais, agrega: "Essa
jovem dama tem um talento para descrever as relações de sentimentos e personagens da
vida comum, o qual é, para mim, o mais maravilhoso com que alguma vez tenha
encontrado".

No último romance de Austen, Persuasion, muitos personagens lêem alguma obra


escrita por Scott e a elogiam, porém é Marianne Dashwood, em Sense and Sensibility,
quem menciona Scott como um de seus favoritos.

Os mesmos argumentos que emprega Scott se podem ver em outras críticas que
apontam os limites dos temas de Austen, por exemplo, nos artigos de Q.D Leavis em
The Spectator. As Guerras Napoleônicas não são tratadas além das figuras dos oficiais,
nem tampouco se mostran as consequências trágicas que a guerra teve para muitas
famílias, nem assuntos políticos ou sociais. Entre todos os personagens de seus
romances, nenhum é um serviçal, ou pertence à classe baixa. Salvo em Mansfield Park,
tampouco se fazem referências às colônias, tema comum aos romances da época, em
que muitos personagens eram enviados a elas, onde enriqueciam e voltavam com
aventuras exóticas para contar[4].

Austen contou também com a admiração de Thomas Babington Macaulay (que pensava
que no mundo não existiam composições mais próximas da perfeição), Samuel Taylor
Coleridge, Robert Southey, Sydney Smith, Edward FitzGerald, e o príncipe regente, que
queria que ela o visitasse em Brighton. Os acadêmicos do século XX a situaram entre as
escritoras mais genuínas em língua inglesa, algumas vezes comparando-a com William
Shakespeare. Tanto Lionel Trilling, como Edward Said escreveram ensaios sobre as
obras de Austen. Said fez referência, sobretudo, a Mansfield Park, em sua obra
publicada em 1993, Culture and Imperialism.

Neste aspecto, talvez a pior crítica (e mais conhecida), provém de Charlotte Brontë, pois
suas opiniões eram tão distintas que «salvo pelo fato, possivelmente relevante, de que
nenhuma delas teve filhos, [...], temperamentos mais incongruentes não poderiam ter se
juntado em uma habitação»[5]. Em 1848, em uma carta a George Lewes, que havia
sugerido, ao ler Jane Eyre',' que devería escrever com menos sentimentalismo, como
Jane Austen, Brontë contesta dizendo que tudo o que encontrou ao ler Pride and
Prejudice era «um preciso daguerreótipo de uma faceta comum; um jardim cerrado e
cuidadosamente cultivado, de bordas limpas e flores delicadas; porém nem uma vívida
e brilhante fisionomia, nem campo aberto, ar fresco, colina azul, ou arroio estreito»[6].

A primeira reação do escritor estadunidense Mark Twain foi de desprezo:

”Jane Austen? Porque, vou ainda mais longe ao dizer que qualquer biblioteca é
boa sempre que não contenha algum volume de Jane Austen. Inclusive se não
tem outro livro”.

Sem dúvida, Rudyard Kipling a via de outra maneira, chegando a escrever uma história
curta, "The Janeites", acerca de um grupo de soldados que eram também admiradores
de Austen, assim como dois poemas elogiando a "Jane de Inglaterra" (England's Jane), e
dedicando-lhe amor póstumo verdadeiro.

Sob outra perspectiva, os romances de Jane Austen, segundo comenta Richard Simpson
(1820-1876) em The Critical Faculty of Jane Austen (1870), presupõem uma sociedade
organizada de famílias, de pais casados, cuja existência se complementa em haver dado
origem aos heróiss e heroínas das diferentes histórias. Esses personagens quase sempre
estão representados em harmonia. O sentimento, a estupidez, a frieza e outras sensações,
acompanhan a vida cotidiana em consonância com a felicidade e o bem-estar.

Austen se sentia bem com sua família e não desejava casar; tanto que em suas obras são
ressaltados o amor fraternal e a amizade. Sua condição de solteira lhe valeu para
observar e descrever os males do amor sob uma perspectiva alheia a sua situação.
Simpson acreditava, também, que Jane Austen excedia a verdade em si mesma, e
caracterizava as suas personagens com uma fé que, sem dúvida, as levava a conviver
com algum ceticismo.

A autora não utiliza um modelo de personagem, virtude ou vício perfeito. Sua filosofia
consiste não apenas em resgatar a luz de bondade no que se apresenta como seu oposto,
mas também destacar o débil e o efêmero do bem. É sua concepção do ser humano
como ser social, portanto não individual, o que a leva a abstraí-lo e isolá-lo. Ademais, o
homem, para a autora, é o produto das influências sociais que atuam sobre ele. Por outro
lado, a virtude se acha relacionada às diversas formas de parecer, impulsionada pela luta
e pelo desejo de superação. O homem não é estático, mas se move constantemente, e
assim o fazem suas ideias.

É um fato comum nos romances de Austen encontrar pequenos grupos sociais,


geralmente compostos por famílias que viviam em assentamentos rurais. Sua obra
demonstra como se manteve indiferente aos debates políticos de seu tempo, uma vez
que expõe o meio rural abordando diferentes mentalidades e formas de pensar, sem a
necessidade de cair em diferenças importantes de classe.

Jane Austen, ademais, se caracterizou por apresentar as suas heroínas em um estado de


juventude e imaturidade, porém pleno de boa disposição. De mentalidade platônica,
considerava a alma como o epicentro da unidade familiar, não como uma república. Os
conflitos se davam dentro da familia, e não supunham um atentado contra a figura
paterna, e muito menos um castigo capital por algum erro cometido durante o transcurso
da ação. Trata-se, ao contrário, de matrimônios por conveniência, de problemas de
herança, da necessidade de castidade em determinadas situações, a virtude da mulher (e
do homem em menor medida), e os valores que considerava necessários em toda
sociedade[7].

Crítica feminista
Conforme Margaret Oliphant (1822-1897), uma romancista e crítica literária inglesa,
em sua obra Miss Austen and Miss Mitford, os personagens da autora não são refinados
e aparecem sempre no mesmo contexto. A pobreza no romance de Austen, afirma, é o
resultado de um problema de patrimônio econômico ou a consequência de uma morte
prematura do patriarca familiar. Segundo Oliphant, suas obras se enfrentam com o
limite imposto pelo conhecimento e a natureza. Os personagens crescem e amadurescem
ao longo da história, adquirindo poder e nobreza.

O estilo é suave e ressalta o aspecto ridículo do argumento. Austen se compadece dos


personagens que sofrem, porém não parece sentir pena por sua situação em nenhum
momento. A mentalidade que imprime em suas obras é meramente feminina, associada
a uma mulher que dispõe de tempo suficiente para explorar o mundo que a rodeia,
assistir a bailes e conferências.

Seus escritos expõem as peculiaridades, a ingenuidade e o absurdo da mente humana.


Também incluem mostras de tolerância, paciência e caridade (não proveniente do
princípio cristão). A escritora, ademais, apresenta rasgos de incredulidade, e ensina a
seus leitores os erros cometidos pelo homem, distanciando-os com certo tom
humorístico, do que comumente se associa com a ideia do que está bem e do que está
mal[8].

Do ponto de vista de um feminismo mais moderno, encontramos uma evolução: se, em


1975, Marilyn Butler sustentava que as obras de Austen perpetuavam as mesmas
construções sociais que subjugavam a mulher ao matrimônio e à esfera doméstica,
Sandra Gilbert e Susan Gubar, em sua obra Madwoman in the Attic, asseguram que, ao
contrário, os personagens que constituem o argumento principal das obras de Austen
contradizem essas convenções, defendendo uma educação racional para a mulher, ainda
que não se possa empregar a qualificação de feminista (como o entendemos atualmente)
para sua obra.

Nos anos 90, a crítica Meenakshi Mukherjee sugere uma comparação entre as obras de
Jane Austen e Mary Wollstonecraft, pois enquanto essa última defende A Vindication of
the Rights of Woman, as heroínas das obras de Jane Austen lutam para serem tratadas
como "criaturas racionais"[9]. O dilema sobre a educação da mulher foi crucial no século
XVIII, e segundo assegura Mukherjee, "cada um dos seis romances apresenta uma
profunda contradição entre o domínio da razão dominante na sociedade inglesa do
século XVIII e os valores que, hipocritamente, se esperava que a mulher adquirisse"[10].

Por outro lado, a ideia de Austen como conservadora pode ter a ver com a imagem que
sua família mostrou dela após sua morte, através da seleção de cartas e das memórias de
Austen-Leigh. O inteligente uso da comédia é o que permite que a obra de Austen não
pareça confomista. Por outro lado, diz Mukherjee, não se pode perder de vista a época e
os fatos que poderiam haver afetado sua escrita. Una geração separa Jane Austen de
Mary Wolstonecraft, e quando Austen começou a escrever seus romances, as idéias dela
se expandiam rápidamente, expansão que provavelmente se devia, em parte, ao
escândalo provocado pelas Memórias de Godwin. Sem dúvida, esse escândalo refreou o
progresso do feminismo, pois se seguiu um retrocesso aos valores conservadores, e é
nesse ambiente que Austen escreve, criando um equilíbrio em suas obras entre o que é
reivindicativo e o que é simplesmente entretenimento e aceito, adoçado através do
humor. Atualmente a investigação acerca de Jane Austen também inclui uma
perspectiva em torno das relações, as quais concluíam ou não em matrimônio ( ver
artigo)

Obras principais
Uma ilustração do século XIX mostra Willoughby cortando uma mecha do cabelo de
Marianne, em Sense and Sensibility

A ordem em que Jane Austen iniciou e finalizou seus romances não corresponde com o
fechamento de suas publicações.

Romances publicados

• Sense and Sensibility (1811)


• Pride and Prejudice (1813)
• Mansfield Park (1814)
• Emma (1815)
• Northanger Abbey (1818) - póstuma
• Persuasion (1818) - póstuma

Teatro

• Sir Charles Grandison (sua única peça teatral, escrita provavelmente em 1791 ou
1792 e publicada somente em 1980)

Obras curtas

• Lady Susan (1794, 1805)


• The Watson (1804) (incompleta, sua sobrinha Catherine Hubback a finalizou,
publicando-a como The Younger Sister, na metade do século XIX.)
• Sanditon (1917) (incompleta)

Juvenilia ou obras da juventude

• The Three Sisters


• Love and Freindship (sic). (1790). Esta falha ortográfica no título (*Freindship
em vez de Friendship) é famosa entre os estudiosos.
• The History of England (1791)
• Catharine, or the Bower
• The Beautiful Cassandra

Filmes sobre Jane Austen


• Jane Austen in Manhattan, sobre duas companhias de teatro rivais que desejam
levar à cena a única obra de teatro completa que escreveu Jane Austen, Sir
Charles Grandison (do romance de Richardson de mesmo nome), a qual foi
descoberta em 1980[11]. O filme foi dirigido por James Ivory e interpretado por
Anne Baxter.

• Becoming Jane (2007), pseudobiografía de 2007, com Anne Hathaway como


Jane Austen, que oferece uma versão de sua breve relação com Thomas Langlois
Lefroy, a qual foi ficcionalizada para simular o próprio estilo da autora.

• The Jane Austen Book Club - Conhecendo Jane Austen (2007), é um filme
dirigido por Robin Swicord, sobre um clube de leitura formado, sobretudo, por
mulheres que analisam as obras da escritora.

• Miss Austen Regrets

O filme retrata os últimos anos da escritora, que tenta ajudar a sobrinha a encontrar um
marido. Ainda sem tradução no Brasil, o filme de 2008 mostra, em forma de flash back,
as possíveis decepções amorosas de Jane Austen. Dirigido por Jeremy Lovering

Representações das obras de Austen na televisão e no


cinema
Todos os romances de Jane Austen têm sido levadas ao cinema em várias ocasiões, para maiores
informações, ver os artigos dedicados a cada um deles.

Pride and Prejudice

Ver artigo principal: Lista de trabalhos artísticos derivados de "Pride and


Prejudice"

Sense and Sensibility

• Sense and Sensibility – série de TV da BBC, estrelada por Joanna David, Robin
Ellis e Clive Francis.
• Sense and Sensibility – série de TV
• Sense and Sensibility – filme de 1995, com Emma Thompson, Hugh Grant e
Kate Winslet. Ganhou o Oscar de roteiro.
• Kandukondain Kandukondain – adaptação indiana de Sense and Sensibility,
2000, estrelada por Tabu, Aishwarya Rai, Ajith e Mammootty.
• Sense and Sensibility – série de TV da BBC estrelada por Hattie Morahan e
Charity Wakefield
• Sense and Sensibility and Sea Monsters (2009) – paródia adaptada com a co-
autoria de Ben Winters
• Está em pré-produção "Sense and Sensibility", versão latina dirigida por Fina
Torres.

Persuasion

• Persuasão, 1960, Reino Unido, dirigida por Campbell Logan; feita para TV
• Persuasão, 1971, Reino Unido, dirigida por Howard Baker; feita para TV
• Persuasão, 1995, EUA, dirigida por Roger Michell (considerada pelo Internet
Movie Data Base como a melhor adaptação até o momento); feita para TV
• Persuasão, 2007, EUA, dirigida por Adrian Shergold; feita para TV

Emma

• Emma, 1996, dirigido por Douglas McGrath e estrelado por Gwyneth Paltrow,
James Cosmo, Alan Cumming e Toni Collette.
• As Patricinhas de Beverly Hills, 1995. Versão livre, moderna, de “Emma”.

Mansfield Park

• Palácio das Ilusões, EUA, dirigida por Patricia Rozema. As outras adaptações
foram feitas para a TV.

Northanger Abbey

• A Abadia de Northanger, 1986, co-produção EUA, Reino Unido, dirigida por


Giles Foster. Feita para TV.
• A Abadia de Northanger, 2007, EUA, dirigida por Jon Jones. Feita para TV.

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