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CURSO DE TEOLOGIA
Messias Júnior
ARUJÁ
2007
MESSIAS DE CASTRO E SILVA JÚNIOR
ARUJÁ
2007
4
Aprovada em ____/____/_____.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Milton Paulo da Silva (orientador)
Mestre em Teologia
Faculdade Teológica de São Paulo
Israel Sifoleli
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 09
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 41
RESUMO
da sua origem. Para isto é desenvolvido uma linha de raciocínio a partir do termo
Por fim, seguindo todo o contexto deste trabalho busca-se chegar um ponto
exercício ético e relacional com o mundo. Porém, sendo confrontado com alguns
autonegação e regeneração.
Introdução
Durante anos venho observando tanto dentro como fora da Igreja um tipo de
teológico, percebi esta mesma tendência; só que numa perspectiva mais acadêmica
dos teólogos Jacob Arminius e João Calvino. Um defendendo que o homem pode
destino humano. Surge daí uma linha imaginária que divide o ponto de vista
arminiano e calvinista: Qual o que está mais certo? Qual o que está mais errado?
Eis a questão.
propriamente não seja nenhum, nem outro. Mas que seja um ponto de partida para
1
Este trabalho tem como marco teórico os pensamentos teológicos e filosóficos de Dietrich
Bonhoefer, Agostinho, George W. Forell e H. Richard Niebuhr.
10
nos isolar do mundo secular? O homem tem de fato um livre-arbítrio? Deus deu este
pretensão de esgotar o assunto, que este trabalho objetiva somar forças num
prisma ético consistente dentro de um arbítrio perfeito. Neste contexto está a Igreja
homem; que na perspectiva da missão integral, autentica toda a sua práxis através
do Evangelho de Cristo.
Portanto com base nestas proposições, este trabalho tem como proposta
da missão integral iniciada por Jesus, dando uma possibilidade ao homem de voltar
a sua origem.
1.1 Etimológica
determinante‖ 2.
exercer um poder sem outro motivo que não a existência mesma desse poder;
liberdade de indiferença‖ 3 .
derivando algumas outras palavras; como por exemplo: árbitro ou juiz, arbitragem,
etc.
1.2 Teológica
2
Dicionário Houaiss da língua portuguesa
3
Novo Dicionário Aurélio: [Refere-se o livre-arbítrio principalmente às ações e à vontade humana, e
pretende significar que o homem é dotado do poder de, em determinadas circunstâncias, agir sem
motivos ou finalidades diferentes da própria ação.] [Sin., p. us.: livre-alvedrio. Cf. indeterminismo.
Pl.: livres-arbítrios.]
4
De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa existem várias acepções derivadas da
palavra arbítrio como: m.q. arbitragem ('julgamento'); domínio ou poder absoluto; sentença de juiz
ou árbitro; parecer.
5
Relativo ao monge Inglês Pelágio, que introduziu a chamada posteriormente de doutrina de
convicção dos pelagianos, segundo a qual o homem era totalmente responsável por sua própria
salvação e que minimizava o papel da graça divina (vide Dicionário Houaiss).
6
McGrath, Alister, E., 1953, p.506
12
pensadores da época, dentre eles o já citado Pelágio. Segundo o seu ponto de vista
ela era capaz de fazer. Portanto, todos os mandamentos dados por Deus podem e
devem ser obedecidos10. Passou também a declarar de forma inflexível que ―uma
7
McGrath, Alister, E., 1953., p.507
8
Doutrina fundada por Zenão de Cício (335-264a.C.), e desenvolvida por várias gerações de
filósofos, que se caracteriza por uma ética em que a imperturbalidade, a estirpação das paixões e a
aceitação resignada do destino, são as marcas fundamentais do homem sábio, o único apto a
experimentar a verdadeira felicidade [O estoicismo exerceu profunda influência na ética cristã.] (vide
Dicionário Houaiss).
9
McGrath, Alister, E., 1953, p.507
10
Ibid., p. 508
11
Ibid., p. 508
13
calvinismo‖.
14
homem não é (e não se tornou) apenas uma imagem, mas uma imagem de
como imagem e semelhança do próprio Criador; e para tanto o criou como um ser
criação, o ser humano em si não era necessário para Deus ser o que é diante de
tudo que foi criado. Deste modo, a Bíblia diz que a humanidade foi criada com a
12
Segundo o Dicionário Internacional de Teologia do AT (1998, p. 316), ao verificar ―a relação entre
tselem (―imagem, q.v.) e demût (―semelhança‖) constata-se que em nenhuma outra passagem do
AT esses dois substantivos são paralelos ou relacionados um ao outro.[...]‖. Porém são feitas pelo
menos cinco sugestões – dentre elas a terceira diz: ― Não se deve procurar estabelecer nenhuma
distinção entre essas duas palavras. Elas são totalmente intercambiáveis.[...]‖‖
13
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, Harris, R., Laird, 1998, p. 317 (grifo
meu)
14
Ibid., p. 317
15
principal finalidade de glorificar o seu Criador15. E sendo assim, por não haver
necessidade do homem existir por si só, logo o mesmo existe exclusivamente pela
dádiva da criação16.
unidade. Este era um ponto de convergência entre a criatura e seu criador. Neste
homem a partir da origem Divina. Isto é: Deus como seu Criador é a sua contínua
Criador.
como se fosse um sistema de regras pré-fixadas17. Mas é cada vez mais nova nas
seguinte assertiva:
conhecimento do bem e do mal está ausente, pois por tudo conhecer na unidade de
seu saber em Deus, o coloca num nível pleno de livre ação e em perfeita sincronia
entre seu estado volitivo e cognoscitivo nele mesmo, a partir de seu Criador, sendo o
O homem foi criado como um ser livre — capaz de pensar, agir e administrar
Isto ficou claro quando o homem recebeu de seu Criador a seguinte ordem: ―...
conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você
morrerá‖ 18.
liberdade humana, frente aos limites Soberanos de Deus estabelecidos pela sua
18
Gênesis 2.16,17 (NVI)
19
O primeiro teste e sinal de inteligência que Deus deu ao homem:
Gn 2.19,20 (Versão NVI) - Depois que formou da terra todos os animais do campo e todas as aves
do céu, o SENHOR Deus os trouxe ao homem para ver como este lhes chamaria; e o nome que o
homem desse a cada ser vivo, esse seria o seu nome. Assim o homem deu nomes a todos os
rebanhos domésticos, às aves do céu e a todos os animais selvagens.
17
a Deus, resultando em uma ação contínua, reta e sincronizada da vida humana; que
20
Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã Vol.II, p.311: ―Com a imago (Dei) os reformadores
protestantes tinham compreendido especialmente o estado original da pureza do homem, de
conformidade com Gn 1 e 2, onde Adão é retratado como quem foi feito para a comunhão
racional, moral e espiritual com seu Criador‖.(grifo meu)
21
O tempo no qual o homem assim ouvia e respondia a Deus é uma época pré-histórica, o status
integritatis, ―o estado de integridade‖ dos teólogos. (George W. Forell,1955, p.53)
18
depara com o limite do padrão ético de obediência estabelecido por seu Criador 22. E
qual é esse limite? – Seu ato decisório quanto a obedecer ou não a ordem Divina.
vivida, e que nela envolveria uma decisão ética, o homem se ver na fronteira
rescisória entre ele e seu Criador. A saber, a mulher23 e o homem24 (raça humana),
serpente à mulher: ―Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele
comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus , serão conhecedores do bem
e do mal ‖‖ 25.
sua condição de criatura. Por conseguinte, a espécie passou a exercer desde então
22
Gn 2.16,17 (NVI) - E o SENHOR Deus ordenou ao homem: ―Coma livremente de qualquer árvore
do jardim,mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela
comer, certamente você morrerá‖.
23
No original:hva ‗ishshah, significando mulher,esposa,fêmea; (procedente da raiz da palavra vwna
‗enowsh, que significa homem mortal, pessoa, humanidade). (Extraído do Léxico Strong,
Português-hebraico)
24
No original: vya ‗iysh, significando homem,marido,macho (em contraste com mulher, fêmea) ou
Mda ‗adam aw-dawm’, significando homem, humanidade (designação da espécie humana).
(Extraído do Léxico Strong, Português-hebraico)
25
Gênesis 3.4,5 (NVI)
19
mal, passa a ter uma perspectiva não mais a partir de sua unidade original com
Nos tempos em que Jesus viveu aqui na terra os fariseus representavam bem
o que é o ser humano cindido de sua origem. Esta cisão é uma barreira entre o
saber puro, vindo de uma fonte inesgotável de sabedoria e o fazer baseado numa
condição original.
Pelo prisma dos fariseus por sua vez, não diferentes do que é um típico ser
humano cindido de seu Criador, cada momento na vida se torna uma situação de
26
conflito em que se deve escolher entre o bem e o mal . No caso do fariseu seu aio
era torah, isto é, as leis de Moisés representavam para ele seu único referencial
26
Bonhoeffer, Dietrich, 1949, p.20 e 21
20
quanto do próximo.
saber, que cindido, torna-se não saber, e o fazer que redunda por conseguinte, em
afastar-se cada vez mais de sua origem. Ou seja: exercendo o livre-arbítrio por si
Deus. Isto se constitui uma ambigüidade entre o saber e o fazer. Como diria o
contexto:
De tal modo, o livre-arbítrio humano neste contexto não está ligado a Deus e
nem muito menos veio dEle para a humanidade. Muito pelo contrário, está
inteiramente ligado ao homem que ao usurpar uma prerrogativa Divina preferiu ser o
subversão o arbítrio Divino, como já foi abordado neste trabalho; visto que estes
21
saber projetando nele o ―Eu-mestre‖. Ou seja: O senhor das ações humanas agora
passa a ser sua própria consciência, a sede da razão, que exerce o arbítrio de
acordo com um padrão ético a partir de uma moral auto-estabelecida diante de seu
continuamente contra a sua própria origem em seu Criador, aumentando cada vez
mais o orgulho que rompeu e afastou a relação do homem com Deus. Esta realidade
poderão dizer os sábios e os instruídos? O que vão dizer os grandes oradores deste
mundo? Deus tem mostrado que a sabedoria deste mundo é loucura. Pois Deus,
na sua sabedoria, não deixou que os seres humanos o conhecessem por meio
da sabedoria deles...”.29
27
House, R, Paul, 1998, p.80 e 81
28
O conhecimento do bem e do mal: ―... Agora o homem se tornou como um de nós, pois conhece o
bem e o mal.‖ (Gn. 3.22 NTLH)
29
Versão RA
22
destaque, como Zenão de Cício, Aristóteles, Platão, Cícero, e tantos outros grandes
(I Cor. 1.20), é bem concreto: é a filosofia grega (na época) erigida em sistema31; a
humanidade.
tendo como base a cultura grega em Corinto, faz o seguinte comentário exegético:
tópico: ―Por que e como a sabedoria não atingiu a sua finalidade?‖ – A resposta
pode ser lógica diante deste trabalho: Porque o homem buscou ser o próprio
30
A cultura grega começou a expandir-se pelo mundo, principalmente pelo ocidente após meados de
300 a.C pelo rei da Macedônia, Alexandre, o grande; através de suas magníficas conquistas
territoriais. Destacando-se pela conquista do império persa e conseqüente projeção e expansão
em escala mundial do pensamento grego. (Enciclopédia Encarta)
31
Cerfaux, Lucien, 2003, p. 205
32
Ibid, p. 205
23
este foi enganado pela vaidade de seu raciocínio e seu coração privado de
uma cisão ética com sua origem que compromete e limita o exercício pleno do livre-
imoralidade34.
Esta cisão impõe ao homem uma escravidão de sua própria vontade, isto é, o
35
rompimento de sua origem o ―condenou a ser livre‖ . Isto tendo em vista que sua
liberdade agora é desconectada da original, que antes por ser inteiramente ligada
em Deus, por isso plena, era harmônica entre o saber e o fazer. Entretanto, no
rompimento de sua origem, a partir da cisão entre o saber e o fazer, esta liberdade
passou a ter base no arbítrio puramente humano, cindido e, portanto limitado em seu
liberdade em detrimento a original; que não era limitada a partir da criatura, mas do
Criador.
humano passa a ser sua escravidão36. A respeito disto o teólogo George W. Forell
“... Ele pode realmente ser livre para tomar muitas decisões
importantes a respeito de sua vida. Pode opinar na escolha de seu
trabalho, seu cônjuge, seus amigos ou do tipo de vida que deseja
33
Ibid, p. 206
34
Cerfaux, Lucien, 2003, p.207
35
Forell, W., George, 2002, p.19
36
Ibid, p.19
24
levar. Mas existe uma escolha que ele não pode fazer: não pode
deixar de escolher. Não pode fugir da liberdade. Está fadado a
ser livre. Quer goste, quer não, quer acredite, quer não, ele tem que
viver tomando decisões constantes e inevitáveis‖. (Forell, W.,
George, 2002, p.19
o saber e o fazer embasa todas as suas decisões éticas. Contudo, mesmo estando
Pois por ela ser usurpada de sua origem, é limitada e condicionada ao saber
humano que serve como única base referencial para o arbítrio em todas as
situações decisórias da vida. Portanto, nesse sentido o homem arbitra apenas pela
presunção de seu pretenso saber, que cindido do fazer perde completamente o elo
Cristo. Não obstante a esta realidade, por um viés empírico podemos dizer que Ele é
Sua missão de redimir a humanidade que havia perdido sua essência existencial;
por conseqüência trazendo-a de volta nEle a sua originalidade. Isto tudo porque o
homem rompeu com sua própria existência em sua origem em Deus; que por um
prisma ontológico, comprometeu não apenas o seu físico ou sua mente, mas todo o
seu ser pelo pecado. Neste sentido, ao reportarmos a ruptura do homem com Deus
queda não vem na carne; a queda não vem no corpo; a queda vem no ser‖38. Este
ser envolvia toda a estrutura verdadeiramente humana, que exercia o arbítrio a partir
de Deus – sua fonte perfeita do saber ético e arbitral. Porém, ao usurpar este
arbítrio, o ser estruturalmente humano provoca sua própria queda; que por
―liberdade de arbítrio‖. É aí que nasce a missão integral como sendo o próprio Deus
37
Ele tinha a natureza de Deus, mas não tentou ficar igual a Deus. Pelo contrário, ele abriu mão de
tudo o que era seu e tomou a natureza de servo, tornando-se assim igual aos seres humanos. E,
vivendo a vida comum de um ser humano, ele foi humilde e obedeceu a Deus até a morte—morte
de cruz. (Filipenses 2.6-8, Versão NTLH)
38
Palestra sobre o cristianismo e a sexualidade por Robson Cavalcanti
26
partir de seu Criador; e isto inclui o estado volitivo humano na unidade do próprio
homem42.
que perfazem todo conteúdo bíblico-histórico; contudo, a despeito dEle ser o centro,
olhos da fé, mirando-a na cruz. É nela que o destino humano se realiza 43. Por isto é
paradoxal ao mundo, visto que nela Cristo morreu e ressuscitou gerando por outro
lado a comunidade da fé, que por Ele e nEle ela é também o centro da história.
39
“A Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós, cheia de amor e de verdade. E nós vimos
a revelação da sua natureza divina, natureza que ele recebeu como Filho único do Pai.‖ (João
1.14, Versão NTLH)
40
Filho, Veslasques, Prócoro, 1976, p.30
41
―Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o
teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu;‖ (Mateus 6.10,11; Versão RA)
―Pela segunda vez Jesus foi e orou, dizendo: — Meu Pai, se este cálice de sofrimento não pode
ser afastado de mim sem que eu o beba, então que seja feita a tua vontade.‖ (Mateus 26.42)
A palavra VONTADE no contexto destes dois textos acima tem o mesmo sentido em comum no
grego: yelhma thelema. Significando o que se deseja ou o que se tem determinado que será, e
ainda: feito do propósito de Deus em abençoar a humanidade através de Cristo.(Léxico Strong)
42
Filho, Veslasques, Prócoro, 1976, p.30
43
Ibid, p. 31
27
Jesus está presente no meio dela, sendo esta de igual modo a presença de Jesus
Posto isto, podemos dizer em suma que a missão integral à luz da Bíblia
redunda de uma lacuna aberta pelo próprio homem na sua decisão em desobedecer
ao limite ético estabelecido por Deus. Esta lacuna por conseqüência do pecado
(como já tratado neste trabalho) abriu um vácuo na criação como um todo, que após
Isto tem uma resposta: toda a criação depende diretamente de seu Criador para
nEle subsistir. O Apóstolo Paulo é enfático quanto a este assunto ao escrever sua
foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis,
sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado
por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste”.45
cumprir aos mandamentos de seu Criador. Com isto, pela conseqüência do seu
pecado a deixou muda e escravizada. Ao sofrer a perda de sua liberdade, ela espera
sacrifício redentor de Cristo, que propiciou nEle a reconciliação humana com Seu
44
Ibid, p. 31
45
Versão RA
46
“Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.‖
(Salmos 19.1, Versão RA)
47
Filho, Veslasques, Prócoro, 1976, p.31
48
“... sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo
Jesus,...‖ (Romanos 3.24, Versão RA)
28
Criador49. Não obstante, mesmo nesta condição do homem (justificado pela fé)50,
benefícios e provisões citados acima são em comum a toda raça humana. Se não
fosse a mão limitadora de Deus através desta sua graça, este mundo já teria se
ordem social e a vida comunitária teria sido uma impossibilidade55. Entretanto, esta
graça não regenera o homem a sua origem; nem tão pouco o habilita a cumprir a
Palavra não é filosófica, e nem muito menos teórica no que diz respeito ao anúncio
49
“... Ora, tudo provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o
ministério da reconciliação,...‖ (II Coríntios 5.18; Versão RA)
50
“... visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo
viverá por fé.‖ (Romanos 1.17; Versão RA
51
“... na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a
liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo,
geme e suporta angústias até agora.‖ (Romanos 8.21,22; Versão RA)
52
Elwell, A., Walter, 1990, Vol. II, p. 216
53
“... Porque ele faz com que o sol brilhe sobre os bons e sobre os maus e dá chuvas tanto para os
que fazem o bem como para os que fazem o mal.‖ (Mateus 5.45; Versão NTLH)
54
Elwell, A., Walter, 1990, Vol. II, p. 217
55
Ibid, p. 217
29
ser evidenciada por seus membros, redundando em ações e atitudes coerentes com
as de Jesus e todo Seu legado humano. Ou seja: esta Igreja como comunidade da
iniciada por Ele. Entretanto, após abordarmos esta missão a partir de Cristo, convém
princípio o jardim do Éden era o lugar onde Deus passeava e falava com
dela que ele foi formado e é dela que ele obtém seu corpo57. Deste
56
Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de
vida, e o homem passou a ser alma vivente. (Gênesis 2.7; Versão RA)
57
Filho, Veslasques, Prócoro, 1976, p.31
30
modo, o homem não é a imagem de Deus apesar de seu corpo, mas por
causa dele58.
Estes três fatores básicos pressupõem a integralidade humana em sua origem antes
de sua queda, que envolve todo o seu ser e seu habitat natural – a terra.
A comunidade da fé, isto é, a Igreja de Cristo tem a missão como seu corpo
homem causou em todos os níveis de sua integralidade: sejam eles no próprio ser
sujeitando-se às leis que a regem; fazendo ele mesmo perder seu potencial original
para o exercício pleno de sua liberdade a partir de Deus para com os outros59.
Porém, Jesus deu uma nova alternativa para a reversão deste impacto. Após ter
sobre o pecado, incumbiu a Sua Igreja como além de seu corpo, comunidade da fé e
58
Ibid, p. 31
59
Ibid, p. 32
31
60
representante de Seu Evangelho, a também ser ―o sal e a luz do mundo‖ . Isto
implica em uma Igreja santa, no sentido de que ao mesmo tempo em que está em
ruptura com o mundo, se engaja com a sua realidade; seja na esfera social, cultural,
a Igreja, ainda que comunidade dos santos é, também, comunidade de pecadores 61.
Lá não está uma comunidade no sentido ideal com uma assembléia daqueles que
deixaram de pecar, mas como o lugar onde o perdão dos pecados é anunciado62.
apresentada nesta comunidade com o seu devido valor; que custou muito caro –
éticas desta comunidade diante da realidade do mundo. Por isso não pode haver
confusão entre os dois, pois é a partir da Igreja que a Palavra de Deus é anunciada
comunidade da fé. Onde a mesma visa essencialmente refletir através dela este
o homem de volta a sua origem. Todavia, esta práxis não poderá ser exercitada com
eficácia fora desta comunidade da fé (posto que ela seja a presença do corpo de
Cristo), e nem muito menos por entender apenas de modo filosófico e teológico este
60
―Vocês são o sal para a humanidade; mas, se o sal perde o gosto, deixa de ser sal e não serve
para mais nada. É jogado fora e pisado pelas pessoas que passam. Vocês são a luz para o
mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte.‖ (Mateus 5.13,14; Versão
NTLH)
61
Filho, Veslasques, Prócoro, 1976, p.37
62
Ibid, p.37
63
Ibid, p.36
32
Esta perspectiva nos faz reportar ao que já foi tratado neste trabalho quanto à
unidade entre o saber e o fazer. Onde a cisão entre estes dois parâmetros provocou
possibilidade de volta a sua origem. Isto consiste em que ele se tornou um árbitro de
obstante, ao que aparentava ser isto uma conquista em forma de livre-arbítrio, como
com sua escravidão. Visto que o homem passou de livre a escravo de sua própria
liberdade; pois usurpou o que era apenas prerrogativa soberana de Deus. Ou seja:
Onipotente Criador do Universo. O homem como ser criado jamais alcançaria tal
magnitude; tão pouco deveria nem cogitar tamanha atitude sórdida de tentar usurpar
ela foi perdida, Cristo a recupera nEle; não mais a partir do primeiro homem. Pois o
toda a criação, tendo em vista que seu arbítrio usurpado conspira continuamente
pode ser compreendido, amado e exercitado pelo homem uma vez o mesmo
estando nEle como está registrado no Evangelho dEle segundo escreveu João
produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis
permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis
fazer”. 65
unido a ela não poderá produzir fruto de si mesmo, pois depende totalmente da
videira. Dando uma clara evidência de que o homem por si só não se sustenta, isto
é, sem está ligado de volta a unidade do saber e do fazer que se encontra agora em
É em Cristo como último homem que se encontra o verdadeiro ser humano recriado
e restaurado ao seu estado original; por isto agora somente nEle o homem pode
tentativa humana de justificar a si mesmo. Sua base será sempre a partir de uma
éticas sobre as quais esta plataforma moral está construída: a hedonista, a naturista
e a relativista.
primordial de no fim trazer felicidade para si mesmo. Isto inclui o fato de fazer
certas coisas boas ou ruins para os outros, consciente de que não faz isso
apenas para tornar os outros felizes, mas para que corresponda ao seu
critério ético que ao fazer certas coisas para os outros lhe trará felicidade.
67
Forell, W., George, 2002, p.26
68
―Teoria desenvolvida na filosofia liberal inglesa, esp. em Bentham (1748-1832) e Stuart Mill (1806-
1873), que considera a boa ação ou a boa regra de conduta caracterizáveis pela utilidade e pelo
prazer que podem proporcionar a um indivíduo e, em extensão, à coletividade, na suposição de
uma complementaridade entre a satisfação pessoal e coletiva‖. (Dicionário Houaiss)
35
será por cumprir o seu o objetivo final. Seu foco, portanto não são os outros,
naturalistas, também nos fornece o padrão para avaliar toda a ação. Ou seja:
contribuir para que este apto sobreviva é bom, e tudo o que venha a dificultar
sua sobrevivência e ajudar o inapto a sobreviver é mau 70. Isto incide, por
deveriam ser destruídas para não intervir no processo evolutivo natural 71.
Como também pelo prisma naturalista é considerado natural que certas raças
raças escravos; dando uma idéia de que algumas são inferiores por não
69
Forell, W., George, 2002, p.29
70
Ibid, p. 29
71
Ibid, p. 30
72
Ibid, p. 30
36
humano.
ético inteligível que seja aceitável para todos73. Por causa desta dificuldade
escola sofista, que teve como seu fundador o filósofo Protágoras (480-410
uma lei moral absoluta, mas somente leis convencionais. Nesta dimensão
o homem‖ 76.
Estes dentre outros, são em síntese exemplos de sistemas filosóficos que formam os
três pilares éticos que perfazem o arquétipo da plataforma moral do homem. Logo, o
inicialmente a partir desses pilares éticos. É neles que estão embasadas as leis
morais que o homem arbitra sua própria conduta. Através destas bases éticas nota-
73
Forell, W., George, 2002, p.32
74
Mondin, Batista, 2004, p.194
75
Ibid, p. 194
76
Ibid, p. 194
37
se também o quanto o homem está distante de seu verdadeiro sentido original. Ele
perdeu o seu referencial ético pleno e absoluto na cisão de sua origem em Deus.
Por isto busca livre-arbitrar sem, contudo, conseguir um resultado plausível que
preencha todos os requisitos éticos de sua origem, pois não tem mais nenhuma
fora de sua unidade em Cristo: ―... sem mim nada podeis fazer‖. 77
integral, mas está fora de sua essência, pois tem por base ética seu próprio
respectivos templos religiosos. Entretanto, todo este exercício pode está centrado na
neste aspecto não é os outros e nem o fato de ser Cristo sua verdade última, mas o
ação pela a ação e o social pelo social, mas não quer viver a essência do Evangelho
de Cristo, pois Ele confronta sua ética de auto-realização. Este confronto consiste
mesmo, como nas palavras do próprio Jesus registradas em Marcos 8.24: ―... Se
alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me‖.78
77
João 15.5 (Versão RA)
78
Versão RA
38
conhecimento humano antes pautado e arbitrado com base em sua própria moral é
com sua integralidade. Sendo este ponto a sua regeneração em Cristo. A partir
somente àqueles que Deus elege à vida eterna, mediante a fé em Cristo 79. A partir
daí o homem passa pelo novo nascimento em Jesus, sendo justificado pela fé. Isto
isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer
de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um
homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer
nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus.O que é nascido da
79
Elwell, A., Walter, 1990, Vol. II, p. 217
80
Versão RA
39
como seu Criador passa a ser novamente sua contínua fonte de conhecimento 81.
comunhão com Cristo que o capacita a exercer uma relação ética e coerente com o
mundo. Significa dizer que este homem vive agora como discípulo de Cristo na
existência no mundo está ligado agora à realidade de Deus, e é por está inserido
nesta realidade que este novo homem como discípulo de Cristo possui uma
Esta relação do novo homem com o mundo deve-se somente por um fator
preponderante: o mundo foi reconciliado com Deus em Cristo. Existe, portanto, uma
aliança entre Deus e o mundo83. O Apóstolo Paulo deixa isso claro quando diz em
sua segunda carta aos coríntios 5.18,19: “Ora, tudo provém de Deus, que nos
reconciliação.”84
seu livre-arbítrio a partir de sua origem em Cristo. Este capacita o homem a cumprir
uma autêntica missão integral através de um pleno exercício ético e relacional com o
Conclusão
arbítrio original. Sem este arbítrio a partir de Cristo não teremos como exercermos a
Jesus. Todavia, isto nos gera um o novo desafio: cumprirmos o papel de discípulo
esta realidade é fundamental uma vida responsável. Entretanto, para se ter uma real
noção do que significa o verdadeiro sentido de uma vida responsável diante deste
responsabilidade de Cristo num mundo reconciliado por Ele. Esta proposição parece
origem. Esta clara evidência ficou registrada em Mateus 5.1-13, através do famoso
Reino do Céu é delas. Felizes as pessoas que choram, pois Deus as consolará.
Felizes as pessoas humildes, pois receberão o que Deus tem prometido. Felizes as
pessoas que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus, pois ele as deixará
completamente satisfeitas. Felizes as pessoas que têm misericórdia dos outros, pois
Deus terá misericórdia delas. Felizes as pessoas que têm o coração puro, pois elas
verão a Deus. Felizes as pessoas que trabalham pela paz, pois Deus as tratará
como seus filhos. Felizes as pessoas que sofrem perseguições por fazerem a
vontade de Deus, pois o Reino do Céu é delas. Felizes são vocês quando os
insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus
seguidores. Fiquem alegres e felizes, pois uma grande recompensa está guardada
no céu para vocês. Porque foi assim mesmo que perseguiram os profetas que
viveram antes de vocês. Vocês são o sal para a humanidade; mas, se o sal perde o
gosto, deixa de ser sal e não serve para mais nada. É jogado fora e pisado pelas
nova base em Cristo. Nela o livre-arbítrio agora encontra a sua real e original
87
Versão NTLH
88
―Cristo nos libertou para que nós sejamos realmente livres.‖ (Gálatas 5.1; Versão NTLH)
89
“Porém vocês, irmãos, foram chamados para serem livres. Mas não deixem que essa liberdade se
torne uma desculpa para permitir que a natureza humana domine vocês. Pelo contrário, que o
amor faça com que vocês sirvam uns aos outros.‖ (Gálatas 5.13; Versão NTLH)
43
Paulo escreveu em sua carta aos Gálatas 5.14 dizendo: ―Pois a lei inteira se resume
em um mandamento só: ―Ame os outros como você ama a você mesmo‖‖ (Versão
NTLH). Neste texto além de está implícito a nossa responsabilidade como discípulos
ética do livre-arbítrio - e esta centralidade é Jesus. Sem Ele não existirá em nós
uma caricatura do que foi perdido na origem, inclinada para outra centralidade: o
Cristo. Entretanto, isto tem sérias abrangências a partir de nossas realidades. Uma
delas é o foco de nossa mensagem e de que forma ela está sendo transmitida ao
isto é, exercendo uma ética regenerada em Cristo; e por conseguinte a isto, através
90
Filho, Veslasques, Prócoro, 1976, p.39
44
É neste sentido que como discípulos de Cristo somos o sal e a luz do mundo91.
seu sentido original, pois este tipo de evangelho não passa de uma prática religiosa
retrata apenas um tipo de cristianização que de fato não tem por base a ética do
visam satisfazer somente aos rigores de nosso próprio tribunal arbitral; seja para se
91
―Vocês são o sal para a humanidade; mas, se o sal perde o gosto, deixa de ser sal e não serve
para mais nada. É jogado fora e pisado pelas pessoas que passam. Vocês são a luz para o
mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. Assim também a luz de
vocês deve brilhar para que os outros vejam as coisas boas que vocês fazem e louvem o Pai de
vocês, que está no céu.‖ (Mateus 5.13-16; versão NTLH)
92
Bonhoeffer, Dietrich, 2005, p.125
45
Jesus. Senão, vejamos o quanto isto parece nos remeter ao que Ele mesmo disse
em seu Evangelho segundo escreveu Mateus 7.21,22: “Nem todo o que me diz:
Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu
Pai que está nos céus. Naquele dia muitos hão de dizer-me: Senhor, Senhor, não
profetizamos em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome
não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci;
em meio às mazelas desta sociedade devemos ter uma atitude vicária 94, onde acima
de Deus em meio a esta sociedade. Ou seja: Isto só será uma práxis em e através
assim como Ele, com discernimento cumpriremos a missão integral na qual Ele nos
apenas pelo ―nosso‖ livre-arbítrio; só nos restará ouvi-lo naquele dia claramente: “...
93
Versão Tradução Brasileira
94
Jones, Stanley, 1949, p. 185
46
base ética da origem em Cristo, isto é, se todos estes esforços não forem
centralizados no amor, tudo será em vão. Estaremos vivendo não um evangelho que
sua base ética no arbítrio humano. E esta ética o Apóstolo Paulo esclareceu quando
escreveu sua 1ª carta aos coríntios 13.1-3: “Ainda que eu fale as línguas dos
homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o
címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os
mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar
montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus
bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser
Assim sendo, toda a ética do Reino consiste na volta do homem a sua origem:
acesso a esta nova vida, ainda estamos sob constante luta contra a nossa própria
arbítrio (usurpado) para tentar nos fazer voltar contra a nossa origem. Isto é, quando
95
Versão RA
47
nEle. É deste modo que como partícula de seu corpo através de Sua Igreja,
partir de uma origem ética contida nEle e para Ele. Assim, faremos toda a diferença
12.15-16: “A pessoa que tem o Espírito Santo pode julgar o valor de todas as coisas,
porém ela mesma não pode ser julgada por ninguém. Como dizem as Escrituras
Sagradas: “Quem pode conhecer a mente do Senhor? Quem é capaz de lhe dar
não a partir de nós mesmos como autocratas; o que é esta a característica principal
arbítrio em Cristo, porque pensamos como Ele, isto é, temos a mente dEle. Só desta
96
“... e não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que proveis qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.‖ (Romanos
12.2; Versão Tradução Brasileira)
97
Versão NTLH
48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ELWEL, Walter A.. Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã. São Paulo:
1977
GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1993
HOUSE, Paul R.. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida, 1998
Aste, 1992
2005
49
SMITH, Ralph L.. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2005
SPIEGEL, James S.. Hipocrisia. Problemas morais e outros vícios. Rio de Janeiro:
Textus, 1999
1999