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Trabalho de Comunicação Comparada

Ariane Freitas
Gustavo Pelogia
2ºC
foto: Venâncio Vicente Filho
Recomeço

Por Ariane Freitas e Gustavo Pelogia

Pedro Cupertino agora trabalha no mercado de ações. Em outubro do ano passado, soltou um rápido
sorriso quando foi anunciado o prêmio de Hit do Ano no VMB (Video Music Brasil) da MTV. Deu Nx Zero de
novo, assim como na categoria Artista do Ano. Cuper é amigo dos integrantes da banda, que, ao vê-lo na sala
de imprensa do VMB, pularam sem pensar entre os fotógrafos para dar um abraço coletivo. Mas o motivo do
sorriso dele não é esse.
O sorriso de Pedro é pelas não vitórias de sua ex-banda, que a banda chegou a São Paulo, mais precisamente no clássico
a Fresno. Ele era o baterista, mas foi tirado do grupo em maio Hangar 110. “O mais engraçado desse show é que o contratante
de 2008 - mês seguinte ao lançamento de Redenção, primeiro nunca apareceu. Eu vim de avião, o resto da banda de ônibus.
disco deles por uma gravadora major, a Arsenal Music, produ- Eu trabalhava até as sete da noite e o show era às nove. O cara
zido pelo cara que mais fez dinheiro com bandas de rock nos úl- simplesmente não apareceu para nos buscar. Não tínhamos onde
timos anos, Rick Bonadio. Cuper gravou os cinco CDs, o DVD dormir. A gente ficou na casa de uma amiga do Vavo, que ele
ao vivo, está na capa do último disco, nos clipes, em algumas conheceu em um carnaval”, relembra. “Tocar no Hangar ou Juke
das fotos promocionais, no site... Mas não toca mais na banda. Joint, que era um lugar absurdo de quente e com som horrível,
“Não quis brigar, não gosto disso. No momento que passaram a era legal porque as pessoas cantavam com você, quase cuspindo
informação de que não queriam mais tocar comigo, eu também na sua cara”. Assim como toda banda nova, quando ganhavam
não quis mais. Se não querem estar comigo, devem ter o motivo algo com o show, a grana não pagava os custos da viagem. “Esse
deles. Mas isso nunca ficou claro pra mim”, garante. cara que fez o show no Hangar mesmo, nunca pagou a gente.
A história da Fresno começou em Porto Alegre, 1999, quando Acho que era uns R$500, menos da metade do gastamos pra
Cuper, Lucas, Vavo e Leandro fundaram a banda para uma apre- vir”, calcula. “O primeiro show em Curitiba também, recebemos
sentação na escola. Eles estavam no segundo ano do ensino mé- uns R$100. Tínhamos de arriscar, mostrar a cara”. A banda soube
dio do Colégio Pastor Dohms, instituição particular. “Foi para usar muito bem a internet, e nestas vindas para São Paulo, con-
os amigos da escola, então era jogar em casa, né? Por mais que seguiam viajar para outras cidades do interior, já que as músicas
fosse terrível, e deve ter sido, todo mundo gostou”. O que ele chegavam a diversas cidades e geravam novos fãs. “Comecei
considera o primeiro show de verdade foi no Garagem Hermé- me a me sentir um pouco importante quando começamos a tocar
tica, em 2000. “Ninguém tocava porcaria nenhuma, mas foi o com bandas como Garage Fuzz e Noção de Nada. São bandas
primeiro show, nervosismo em alta e tudo mais. Mas foi legal”. que admirava e ainda admiro e foi quando comecei a pensar que
A primeira demo da Fresno nunca foi lançada. estávamos indo para o caminho certo”.
Sendo assim, O Acaso do Erro (2001), é o primeiro registro Em 2006, quando faltava um ano para ser um Cientista da
público da banda. Mas foi só com Quarto dos Livros (2003), Computação, formado pela PUC-RS, Cuper largou a faculdade e
foto: Luringa

se mudou com a banda para São Paulo. “Quando cheguei aqui é çado é que ninguém olhou na minha cara nessa viagem. Com o
que eu comecei a ver que realmente era um músico, que precisa- Vavo eu até converso bastante e um pouco com o Lucas. Sem-
va estudar musica e viver disso”. Foi nessa época que o baixista pre que me encontram, eles parecem não querer falar comigo.
Bruno ‘Lezo’ (que havia entrado em 2000) deixou a banda para Já encontrei o Lucas e o Tavares em shows, na casa do Vavo,
a entrada de Rodrigo Tavares. A banda estava na turnê do disco no Milo” (balada que é ponto de encontro de bandas, no bairro
Ciano e se mudou inteira para um flat no bairro de Pinheiros, e, de Higienópolis). A sensação ao receber a noticia foi, ao mesmo
meses depois, para a região de Pompéia, zona oeste da cidade. tempo boa e ruim. “Senti certo alívio e uma coisa ruim. Eu não
“A gente tava querendo aumentar o nosso público. Aqui estão estava mais satisfeito, então eles me colocaram fora antes que eu
todas as mídias, TVs e rádios bombam aqui”. O contrato com saísse. Mas também não queria sair naquela hora. Eu queria me
a Arsenal Music veio no ano seguinte. “Primeiro fomos convi- capitalizar um pouco antes de ir embora”, revela. “Nunca pude
dados para participar do DVD MTV 5 bandas de rock e depois guardar dinheiro para utilizar no futuro, eu sempre investi em
o Bonadio fez a proposta para o disco”. A gravação do ao vivo mim. Ano passado em comprei uns 100 LPs, tudo importado. Eu
aconteceu em fevereiro de 2007 e em maio do ano seguinte (um gastei tudo com música. Hoje eu penso que poderia ter guardado
mês após o lançamento do CD) ele saiu da banda. “Na verdade, um pouco”.
eles que me mandaram embora”, diz. “Eu já estava de saco cheio, É inevitável para ele se deparar com seu disco em uma loja,
não os via mais como meus amigos. As viagens eram o Lucas e em um site e revista, mesmo recentes. “Gostei da experiência
o Tavares de um lado, eu lendo o meu livro no outro e o Vavo de gravar no Midas. Quando vejo algo da banda, eu me sinto
às vezes ia falar comigo. Eu já me sentia deslocado, não sentia orgulhoso, sou eu ali, eles estão lá por minha causa também.
mais a vontade de tocar junto com eles como antigamente. Eles Bem ou mal, ainda sou parte da banda”. E garante que um dia
mudaram demais”, diz sem dar mais detalhes ou exemplos de volta aos palcos. “Eu sei que daqui alguns anos terei banda de
quem ou do que mudou, embora assuma sua não afinidade com novo. Só que não vai ser como essa, não vai ser para eu alme-
o baixista Tavares. “Muita coisa mudou desde que ele entrou na jar viver dela”, planeja. No momento, Cuper diz que só partici-
banda. Desde composições, shows e a personalidade do Lucas”. paria numa banda só for por diversão - e algo bem diferente do
Ele diz até que, quando moravam juntos, havia na parede de casa que fazia, instrumental, talvez. “O primeiro sonho que eu tive
uma lista dizendo “10 formas de imitar o Tavares”, que eles brin- como banda foi lançar o primeiro CD. Em termos de show, foi
cavam que eram coisas que o Lucas fazia. quando tocamos no Ceará Music, pra 35 mil pessoas, fechando a
O ex-baterista ficou sabendo que estava fora da banda após noite”, em outubro de 2006. “Nesse dia tocamos com Paralamas
um show em Canoas/RS. “Me chamaram depois do show e dis- do Sucesso, Jorge Benjor, Los Hermanos e foi o último show
seram isso. Voltamos eu, Vavo e Tavares de avião e o engra- do Lezo”. Outro sonho realizado foi tocar no festival gaúcho
Planeta Atlântida, em fevereiro de 2008. “Hoje não tenho mais Tento experimentar diversos tipos de filmes, químicos e modos
essa vontade. Prefiro tocar outro tipo de som e algo menor. Claro de revelações possíveis”. E os planos fotográficos incluem tam-
que é legal tocar pra milhares de pessoas, mas essa fase já pas- bém a Fresno. “No início do ano eu tive a idéia de fazer um
sou”. Ele diz que a rotina em publico é a mesma. “Nunca deixei documentário fotográfico do ano inteiro da banda. Tenho mil-
de sair e fazer minhas coisas por causa do assédio. Ás vezes hares de fotos. Estava conversando com o Luringa e o Gustavo
uma pessoa vem tirar foto comigo, mas eu digo, ‘ok, mas eu não Vara de fazer uma exposição de fotos da Fresno, tenho fotos
sou mais famoso’, mas ainda dizem ‘você é o Cuper da Fresno’, de bastidores e do dia-a-dia. Conversamos, mas não decidimos
então tudo bem. Pelo menos uma vez por dia me param na rua”, nada. Mas ainda acho que vai rolar”.
afirma. A reação dos fãs também não foi das melhores quando a Porém Pedro não tem planos de trabalhar só com fotografia,
banda anunciou a saída dele, no fotolog. Houve uma cobrança ao menos não por enquanto. “Gosto de trabalhar com finanças”,
grande em cima, sobre os motivos que levaram a saída de Cuper- ele diz. Até maio de 2009, Cuper ainda era um artista Arsenal
tino da banda. “Eles demoraram dias pra falar, isso pegou muito Music – mas há bastante tempo já não tem mais contato direto
mal pra banda. Não sabiam o que dizer”, relata. “As pessoas com a banda.“Alguém me fala alguma coisa. mas não me in-
amam o Lucas e tudo que ele escreve. Por mais que ele escreva teresso em acompanhar de perto”. Os planos ainda são só planos.
30 linhas sem dizer nada, tem gente que vai dizer ‘bah, vamos Por agora, Cuper, que se mudou para a casa da sogra, no Rio de
apoiar a banda’. Mas as pessoas da raízes da Fresno me dizem Janeiro, em outubro de 2008, só tem a certeza de que volta para
‘tô contigo, seja lá o que você tiver feito’”. Cuper gostou da a capital paulista em julho próximo. “Ia me mudar de vez para
reação dos fãs em sua defesa, mas diz apoiar a banda. “Eu não lá, mas já vi o fluxo de trabalho em São Paulo é grande, então
faço mais parte, mas são meus amigos... Por mais que às vezes vou precisar voltar”. Também está em seus planos casar – ele só
eu ache que eles não foram tão meus amigos, vamos apoiar”, diz, não sabe ainda quando. A vida recomeça. Cupertino não odeia a
mas sem ânimo algum. Fresno. Só não tem mais o mesmo sentimento de antes.
Sobre o novo integrante, Bell, Cuper não gostou de saber
que “ele já ganha o mesmo que eu. Quando o Tavares entrou,
ganhava menos que os outros. Mas o Bell já ganha igual à banda Cuper ainda nos tempos de Fresno acima, fotografado pelo colega Ta-
toda”. Das amizades feitas com a música, boa parte continu- vares, abaixo, em concentração com o vocal Lucas, antes de um show
- ambas de Abril de 2008
aram, garante o baterista. “As pessoas que não tenho
mais muito contato são a própria banda. Os caras do
Nx Zero, sou muito amigo deles. A gente conversa
no telefone, vai a shows juntos”, diz. E os conta-
tos adquiridos, principalmente na fase mais popular
da banda, entre os discos Ciano (2006) e a saída,
são fundamentais para uma das atividades que ele
exerce hoje: além de trabalhar com investimentos
de renda variável na corretora Intrader, Cuper tam-
bém é fotografo freelancer. “Foi complicado, até
hoje é. A vida de músico é trabalhosa, mas não tem
uma rotina fixa. Eu não tinha horário para trabalhar.
Agora é diferente. Estou estudando Economia, peg-
uei minhas provas de 8 anos atrás e tô aprendendo
de novo, começando uma vida nova. Já tive minha
vida na informática, na música e agora estou foto-
grafando e estudando. A banda me deu condições
de comprar um equipamento legal. Desde pequeno
meu sonho era ter uma máquina e ficar brincando de
fotografia”. E os trabalhos estão acontecendo, em
clima de brincadeira séria. “O pessoal da Atrevida
e da Love Rock veio falar comigo depois da saí-
da. É bom manter o contato porque às vezes chega
um trabalho. Mas já fiz as fotos do próximo CD do
Granada, vários frilas e tento fazer coisas diferen-
tes, porque hoje é muito fácil ser fotógrafo” – Cu-
per é amante da fotografia experimental: “Eu pego
câmeras analógicas, coloco o filme e fico experi-
mentando. Tenho diversas câmeras antigas, tenho
uma Fed 5 Russa, uma Lca Russa, uma Smena 8m.

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