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TRABALHO ACADÊMICO
CURITIBA
2010
RODRIGO LUCIANI FARIA
CURITIBA
2010
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paulistas foram submetidos e o aumento da oferta de cursos à distância) nos parágrafos 15, 16
e 17. Gois faz uso dos números do IBGE nos parágrafos 4 e 5 para depois, no parágrafo 7, se
utilizar da autoridade da consultoria McKinsey e em um argumento com base no consenso
para dar continuidade ao texto.
Quanto a questão da organização textual, no texto de Dimenstein, podemos verificar
o uso dos seguintes recursos: verbo de dizer, no primeiro parágrafo, quarta linha. A palavra
“conta” é usada para passar a palavra a Marcio Gatica.
No parágrafo 7, o autor usa de organizadores textuais para enumerar os três
principais motivos que fazem os jovens desistirem da carreira docente. No parágrafo 12,
podemos verificar o uso do modalizador lato sensu atitudinal com a frase “não consigo ver
informação mais alarmante”, onde ele revela sua atitude diante dos fatos apresentados.
O emprego de articuladores discursivo-argumentativos pode ser verificado com os
seguintes exemplos: apesar de, expressando oposição; mais... do que, comparação; mas,
oposição; portanto, conclusão; porém, oposição; ou, relação de alternância inclusiva; e,
adição; mesmo, oposição.
No artigo de Gois, percebemos o uso de um modalizador stricto sensu no parágrafo
6, com a expressão “é verdade que”. Podemos perceber, também, o uso de articuladores
discursivo-argumentativos de delimitação logo no início do texto, em “um dos problemas” e
também no parágrafo 9 com “em áreas em que o número de formados já não dá conta da
demanda”.
Outros articuladores discursivo-argumentativos que podem ser encontrados no texto
são: também, expressando adição; mas, oposição; para isso, finalidade; e, adição; ou, relação
de alternância exclusiva; causalidade, na frase “sem salários atrativos, não há vocação que
resista”; para que, relação de finalidade.
Por fim, os dois artigos possuem a mesma opinião sobre o assunto, mas foram
organizados de maneiras distintas. É possível perceber uma melhor ligação entre os
parágrafos do artigo de Dimenstein, quando ele apresenta um episódio (o caso de Gatica), o
fato que levou a isso (o baixo salário dos professores), as outras consequências que esse fato
nos trás (a falta de interesse das pessoas em se tornarem professores) e o que está sendo feito
para alterar esse quadro, o que não ocorre tão claramente no artigo de Gois, embora seja
possível verificar os mesmos tópicos (o fato – falta de professores, a causa – baixo salário e as
outras consequências que isso nos trás), mas essa diferença pode ser atribuída apenas a
escolhas pessoais do autor.
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REFERÊNCIAS
DIMENSTEIN, Gilberto. O que você não vai ser quando crescer? Folha de São
Paulo, São Paulo, 31 jan. 2010. Disponível em:
<http://aprendiz.uol.com.br/content/promeshupr.mmp>. Acesso em 17 jun. 2010.
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e redação.
São Paulo: Ática, 1996.
GOIS, Antônio. Com esse salário, quem quer ser um professor? Folha de São Paulo,
São Paulo, 28 de mai. 2009. Disponível em: <
http://www.sinpeem.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=3173>. Acesso em 17 jun.
2010.
KOCH, Ingedore G. V.. Introdução à Linguística Textual: trajetória e grandes
temas. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
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ANEXOS
Quem se depara com Mário Gatica, óculos escuros, terno preto, alto, musculoso,
lutador de artes marciais, cuidando da segurança de uma casa noturna da Rua Augusta, jamais
poderia imaginá-lo como professor de filosofia de escola pública. “Gostaria de apenas dar
aulas”, conta – apesar de, algumas vezes, ele se sentir mais vulnerável fisicamente dentro de
uma escola do que evitando brigas ou assaltos na madrugada.
O magistério é seu grande projeto desde a adolescência, mas Gatica se vê obrigado a
complementar sua renda na noite. Na condição de temporário, ele passou na prova de
conhecimentos aplicada pela rede estadual de São Paulo: 40% dos candidatos foram
reprovados, mesmo com o benefício de usar o tempo de serviço como parte da nota.
Muitas gorjetas superam o que ele recebe por hora em sala de aula – o que acabou
interessando também a colegas da escola. Professoras pediram um bico de garçonete.
Mesmo que não fosse dublê de segurança e professor, Gatica, que se graduou em
história e está no último ano de uma faculdade de filosofia, já seria uma raridade. É o que se
vê num alarmante levantamento inédito com jovens brasileiros sobre os desejos profissionais.
Idealizada pela Fundação Victor Civita e realizada pela Fundação Carlos Chagas, a
pesquisa integra um relatório sobre a atratividade da carreira do professor. As entrevistas
foram focadas apenas em jovens que estão concluindo o ensino médio e decidindo sua
carreira: apenas 2% deles querem ser professores.
Entre os que estão nas escolas privadas, a taxa cai para próximo do zero. Suas opções
são, pela ordem, direito, engenharia e medicina.
Um terço dos alunos até pensou em ser professor, mas desistiu pelos seguintes
motivos: 1) falta de valorização social; 2) salários baixos; e 3) rotina desgastante. É o que se
traduz na diferença entre a gorjeta que Gatica recebe como segurança e o valor da hora-aula.
Note-se que a pesquisa não pergunta especificamente se ele gostaria de ser professor
de escola pública – se fosse assim, o resultado seria ainda pior.
Não é de admirar, portanto, que 55% das vagas de pedagogia e licenciatura não
sejam preenchidas. Nem que 40% dos professores temporários da rede paulista tenham sido
reprovados – nem que o governo paulista, por falta de alternativa, seja obrigado a mantê-los
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dando aula. Há no país um déficit de 700 mil professores no ensino médio e nos anos finais
do fundamental.
É de mais de 35% a taxa de evasão nos cursos que formam professores.
A pior notícia, porém, é a seguinte: os futuros professores são recrutados entre os
alunos com as piores notas do ensino.
Não consigo ver informação mais alarmante para uma nação do que o fato de que se
recrutam entre os piores quem vai cuidar das cabeças das crianças e dos adolescentes.
Entende-se por que muitos cursos de reciclagem não funcionam bem – ou por que os alunos
saem da escola sem saber ler e escrever direito.
Também se entende por que, em muitos casos, exista pouca diferença entre escolas
públicas e privadas.
Como sem não bastassem as deficiências da formação, eles vão trabalhar num
ambiente hostil e violento, com salas lotadas e famílias omissas.
Há fatos novos interessantes. Novas normas de crédito estudantil garantem
gratuidade a quem cursar um curso de licenciatura ou de pedagogia; a contrapartida é ir para
uma escola pública.
Na semana passada, professores paulistas se submeteram a uma prova que garantirá a
parte deles o aumento do salário, não só com base no tempo de serviço, mas em boas notas. Já
existe em São Paulo o bônus a partir do desempenho dos alunos e a obrigatoriedade de se
passar por um curso – mesmo aos aprovados em concurso.
Aumenta a oferta de cursos a distância oferecidos pelas melhores universidades.
Mas, pelo tamanho do problema, é ainda pouco e vai exigir o melhor da inteligência
da elite política – inteligência para, por exemplo, usar os recursos digitais, criar espaços
educativos nas cidades, integrar os meios de comunicação ao aprendizado.
Daí que a principal questão social brasileira seja colocar a resposta “professor”
quando alguém perguntar aos jovens coisas do tipo “o que você vai ser quando crescer?”.
PS – o relatório é um dos documentos mais profundos que já li sobre a carreira de
professor no Brasil. Leitura obrigatória – coloquei a íntegra no site do Catraca Livre.
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Sem salários atrativos, não há vocação que resista. Resta às escolas darem um
jeitinho para que os alunos não fiquem sem aulas dessas áreas.