B10 | BRASIL ECONÔMICO - ESPECIAL TRANSPORTE E LOGÍSTICA | Terça-feira, 29.6.
2010
TENDÊNCIA
Supercargas buscam opções às rodovias
Transporte marítimo e hidrovias se consolidam cada vez mais como alternativa
para crescente mercado de transporte de equipamentos de mais de 100 toneladas
TEXTO A L E X A N D R A B I C C A
retomada da construção de
A
novas hidrelétricas em
todo o país, a expansão de
usinas de energia eólica e a
exploração do petróleo do
pré-sal devem ampliar for-
temente o setor de logística pesada no país
(quando é necessário transportar equipa-
mentos de mais de 100 toneladas). Entre-
tanto, esse crescimento do setor, que já é
sentido, deverá ocorrer com a maior di-
versificação do segmento, com um uso
cada vez maior do transporte marítimo e
das hidrovias para cargas superpesadas.
“Para atender às hidrelétricas do Norte
do país, as empresas estão usando a rede
de hidrovias. Desta forma, o transporte de
turbinas ocorre em parte nas rodovias e
outra por hidrovias, o que garante maior
agilidade na entrega da carga”, destaca
João Batista Dominici, vice-presidente do
Sindipesa (Sindicato Nacional das Empre-
sas de Transporte e Movimentação de
Cargas Pesadas e Excepcionais).
Essa falta de infraestrutura de estradas,
hidrovias e ferrovias do Brasil não é o pro-
blema central das transportadoras. Como
conhecem as difíceis condições dos mo-
dais brasileiros, elas estão preparadas para
atender à demanda dentro destas condi-
ções. Atualmente os principais gargalos
estão nas rodovias Fernão Dias (principal
ligação entre Belo Horizonte e São Paulo),
Régis Bittencourt (elo entre Sul e Sudeste)
e a Imigrantes ( SP e o Porto de Santos).
Na Autopista Fluminense – trecho da
BR-101 administrado pela OHL –, antes
mesmo do transporte das peças que irão
Transporte do submarino Tapajós,
de 1,4 mil toneladas, até o oceano,
na Ilha das Cobras, no Rio, demandou
os esforços de cerca de 100 pessoas
integrar as unidades de refinarias da Pe-
trobras que estão em construção no Rio, o
que vem ocupando a congestionada pista
da mais extensa rodovia do país são as hé-
lices dos cataventos do primeiro parque de
energia eólica do Sudeste, na região de
Campos dos Goytacazes. De acordo com
Edmundo Régis Bittencourt, gerente de
tráfego da Autopista Fluminense, com o
avanço da tecnologia verde começam a
surgir novas cargas especiais.
“Se antes a Petrobras era a empresa que
mais demandava transportes diferentes,
agora a situação já mudou: nos últimos
meses de 2009 e primeiros de 2010, por
conta de uma obra específica, passaram
pela rodovia mais de 100 carretas de até 45
metros com pás gigantes, para as gerado-
ras de energia eólica”, contou.
Também próximo da Bacia de Campos
– região produtora de petróleo – localiza-
-se o Aeroporto Internacional de Cabo
Frio, que vem se tornando um importante
hub para as operações de apoio logístico da
Petrobras, tendo em vista que o terminal
de Macaé já está saturado. Em novembro
do ano passado, o maior avião cargueiro
do mundo, o Antonov An-124, que tem
capacidade de transportar até 150 tonela-
das, aterrissou no aeroporto de Cabo Frio
trazendo da Noruega dois helicópteros de
grande porte, para a empresa de Táxi Aé-
reo BHS (Brazilian Helicopter Services),
que darão apoio logístico às plataformas
de petróleo da bacia de campos.
Pelo mar, a Locar Guindastes e Trans-
portes Intermodais -uma das maiores
empresas do mundo a atuar no segmento
Divulgação
de superpesados— traça um panorama de
expansão e projeta que 20% da receita
empresa virá de operações marítimas nos
próximos três anos. Para o diretor comer-
cial da transportadora, Marcello Mari, a
especialização nos modais rodoviário e
marítimo, com investimentos de R$ 300
milhões neste ano, deve garantir o dife-
rencial da empresa no mercado.
“Para crescer neste setor são necessá-
rios investimentos, por isso a Locar am-
pliou de R$ 150 milhões investidos em
2009 para R$ 300 milhões neste ano. Va-
mos focar na especialização para assegu-
rar nosso mercado”, afirma Mari.
A excelência na atuação no mar levou à
escolha da Locar Guindastes e Transportes
Intermodais para as manobras com o
submarino Tapajós, em janeiro deste ano,
da Ilha das Cobras, no Rio, para o oceano.
Para o deslocamento do gigante, que pos-
sui 61,20 m de comprimento, 6,25 m de
largura e pesa 1.400 toneladas, foram
cerca de 100 pessoas envolvidas. Na parte
terrestre, foram usados dois cavalos me-
cânicos de 500 HP Oshkosh, compondo 72
linhas de eixos. O Tapajó foi embarcado
em uma balsa oceânica de carga, de 75 m
de comprimento e 25 m de boca.
Burocracia excessiva
Mas se pelo mar, apesar da dificuldade da
manobra, a vastidão do oceano facilita as
operações neste modal de transporte, o se-
tor faz coro à falta de infraestrutura das es-
tradas brasileiras, além de ressaltarem o
excesso de burocracia para a autorização
de manobras com cargas excepcionais pe-
las rodovias que cortam o país, sem falar do
alto custo das licenças. Os representantes
do setor queixam-se da falta de padroniza-
ção das normas que tratam dos transporte
de cargas, lembrando que há diferenças
entre as legislações estaduais e federal.
Para se ter uma ideia, em 2009 a rodovia
que liga o Sul ao Sudeste brasileiro, mas
que também é um dos corredores do Mer-
cosul, a Régis Bittencourt, registrou a pas-
sagem de 480 cargas excepcionais. Se-
gundo Luiz Fernando Devico, gerente de
“O transporte de tráfego da rodovia, a cada ano cresce o nú-
turbinas ocorre mero de solicitações para este tipo de ope-
em parte nas ração, e nesta hora que é preciso equilíbrio
rodovias e outra para liberar a passagem de superpesados
por hidrovias, sem trazer prejuízos aos demais usuários
da pista. “Temos alguns trechos com pista
o que garante simples e isso significa que, ao receber a
maior agilidade na demanda para passagem de cargas com
entrega da carga” 7,8 metros de largura, precisamos blo-
JOÃO BATISTA DOMINICI quear a rodovia, pois são 14 metros de pis-
Vice-presidente do Sindipesa ta ao todo. Esse é um implicativo que pre-
cisa ser levado em conta”, explicou.
No segmento onde o planejamento é
parte essencial para o sucesso das opera-
ções, sobram queixas para a precariedade
das rodovias brasileiras, sendo que os ato-
res do transporte de superpesados nem
contam a ínfima malha ferroviária do
país. Sem aguardar que os investimentos
públicos cheguem na mesma velocidade
que os pedidos de transporte chegam aos
balcões das transportadoras, o setor in-
veste para inverter a lógica de que os gar-
galos logísticos são entraves para o cres-
cimento da atividade.