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Princípios Constitucionais Fundamentais

1.1 - Introdução

O estudo do direito constitucional, cujo objeto central é a


Constituição, se mostra como requisito fundamental para qualquer
pessoa que pretenda conhecer e ter respeitados seus direitos,
dentro da sociedade em que vive. E isso ocorre porque, via de
regra, os Estados, implementam Constituições em seus respectivos
ordenamentos jurídicos.

Há que se fazer aqui um parênteses para delinear alguns termos


ou expressões originários da Teoria Geral do Estado,
imprescindíveis para a compreensão do tema proposto.

Logo, Estado pode ser entendido como uma sociedade


politicamente organizada, com território e povo, sobre os quais
este opera através de sua soberania para atingir certos objetivos
ou metas.

Por conseqüência lógica, a soberania, o território, o povo e os


objetivos constituem os elementos estruturadores do Estado.
Entretanto, Estado não é sinônimo de nação. Esta, por sua vez é
um grupo de pessoas ligadas por dados e acontecimentos comuns,
como a historia, a religião, a língua, os costumes e a cultura em
geral.

Também não se confunde com a idéia de país, que é o lugar, o


espaço onde se fixa o povo, ou seja, é o elemento espacial do
Estado: o território. Assim, o nome do Estado brasileiro é
Republica Federativa do Brasil e o nome do país é Brasil.

Canotilho, um dos mais importantes constitucionalistas de todos os


tempos, afirmou que uma Constituição é a lei fundamental, maior
e suprema de determinado Estado. Afirmou ainda que em tal
documento estão contidas as normas referentes à estruturação do
Estado, bem como, a formação dos Poderes Públicos, a forma de
governo, a aquisição do poder de governar, a distribuição de
competências, os direitos e garantias e os deveres de cada
cidadão. A Constituição é também a lei pela qual se individualiza
os órgãos competentes para a confecção das normas jurídicas,
legislativas ou administrativas.
Em suma: o ordenamento jurídico estatal é realizado como se
fosse uma pirâmide, isto é, em seu topo, a lei suprema,
representada pela Constituição. Abaixo, as demais normas
jurídicas, obedecendo à hierarquia das normas jurídicas, que
encontram sua validade e fundamento na Lei Maior.

O Brasil, ao longo de sua história, teve oito Constituições, cada


qual delas, retratando o período pelo qual o Estado atravessava.

A Constituição de 1824, outorgada por Dom Pedro I, após


dissolução da Assembléia Constituinte de 1823, tinha como sua
principal fonte a doutrina constitucionalista conservadora da
França. Adotava a teoria esquematizada por Montesquieu, como
também implantou o Poder Moderador, este atribuído ao
Imperador, que podia vetar qualquer projeto de lei, aprovado pelo
Legislativo, além do que podia suspender qualquer membro do
Judiciário.

Em 1891, após a Proclamação da Republica (1889), foi decretada


e promulgada uma nova Constituição pelo Congresso Constituinte
de 1891. Tal Constituição foi fortemente influenciada pelos Estados
Unidos e pela vizinha Argentina. Dentre suas características,
destacam-se a institucionalização do Estado Brasileiro como
Republica Federal, o sistema de governo presidencialista, o
sufrágio universal, com voto descoberto, para os brasileiros, do
sexo masculino, alfabetizados e maiores de 21 anos.

Em 1934 foi promulgada pela Assembléia Nacional Constituinte


mais uma nova Constituição, Carta que ficou conhecida como a
Constituição da República Nova, já que desde a Revolução de
1930, Getúlio Vargas, Chefe do Governo Provisório, governava o
país via Decreto. Dessa vez, seguiu-se o modelo da Constituição
alemã de Weimar e a Constituição Espanhola de 1931, trazendo
como inovações o voto secreto e o sufrágio feminino, a Justiça do
Trabalho, bem como, os primeiros direitos trabalhistas, elevados
em nível constitucional, como repouso semanal, férias
remuneradas, jornada de 8 horas, etc. Em 1937 (Estado Novo),
houve a centralização do poder nas mãos de Vargas.

Em 1946, portanto, após o final da II Guerra Mundial, da qual


participou o Brasil, foi promulgada pela Assembléia Nacional
Constituinte mais uma nova Carta Magna, que em linhas gerais,
ficou conhecida como a Constituição Populista, cujo maior objetivo
era o da promoção da a redemocratização do país.

A Constituição de 1967 foi elaborada sob pressão dos militares que


aquela época governavam o país. Trata-se de uma Carta Maior
semi-outorgada, vez que fora elaborada pelo Congresso Nacional,
mediante a atribuição da função de poder constituinte originário,
ou seja, soberano, ilimitado, inicial e incondicionado, através do
Ato Institucional nº 4.

Outorgada em 1969, a Constituição de 1967 recebeu nova


redação, via emenda decretada pelos Militares. Todavia, os
Constitucionalistas a consideram como uma nova Constituição.

Nos dizeres de José Afonso da Silva, teórica e tecnicamente a EC


nº 1 à Constituição de 1967 não era uma emenda, mas sim uma
Constituição. A emenda foi utilizada como um mecanismo de
outorga, posto que se promulgou verdadeiramente um texto
integralmente reformulado, a começar pela denominação que se
lhe deu: Constituição da República Federativa do Brasil, ao passo
que na Lei Fundamental de 1967, escrito estava Constituição do
Brasil.

Outras vinte e cinco emendas à Constituição de 1969 ocorreram,


além da EC 26, de 27/11/1985, que convocou Assembléia Nacional
Constituinte para a elaboração da nova Constituição que a
substituiria. Mas, um detalhe: a EC 26 de 27/11/1985 é em
verdade um ato político e não uma emenda propriamente dita,
justamente por convocar a Assembléia Nacional Constituinte, para
a elaboração de uma nova Constituição.

Finalmente, em 1988 a Assembléia Nacional Constituinte


promulgou a atual Constituição da República Federativa do Brasil,
dando forma ao regime político e jurídico vigentes. É tida como um
diploma legal avançado, de relevante importância como modelo de
inspiração para outros Estados, porém dotada de algumas
peculiaridades, como por exemplo, a atribuição do "status" de ente
federado aos municípios, ao lado da União, dos Estados membro e
do Distrito Federal.

Cabe lembrar que àquela ocasião, o constituinte lutava contra


qualquer tipo de censura, uma vez que se pretendia sepultar o
regime militar, dando origem, então, a uma série de direitos e
garantias para o cidadão. Como principais características,
mantiveram-se o sistema de governo presidencial, a forma de
Estado federalista e a República como forma de Governo, bem
como a harmonia dos Poderes. O voto popular (direto e secreto),
facultativo para os maiores de 16 anos e menores de 18 e para os
maiores de 70 anos de idade, para os cargos de Presidente e Vice-
Presidente da República, Governador e Vice- Governador, Prefeito
e Vice- Prefeito, Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual,
Vereador, além dos representantes do Distrito Federal, a saber
Governador e Deputado Estadual.

Ampliou-se a divisão administrativa do país que passou a contar


com 26 estados federados e um distrito federal. Inovou ao dedicar
um capítulo destinado ao meio ambiente, ampliou os direitos
sociais e as atribuições do poder público, instituiu a ordem
econômica baseada na função social da propriedade e a liberdade
de iniciativa, limitada pelo intervencionismo estatal, acabou com a
censura nos rádios, televisões. rádios e demais meios de
comunicação.

Sua estrutura é também diferente e inovadora, onde estão


presentes 250 artigos na parte permanente e 94 na parte
transitória (ADCT), distribuídos em títulos, capítulos, seções,
subseções, conforme se segue:

· Dos Princípios Fundamentais (Art. 1º ao 4º da CF/ 88);

· Dos Direitos e Garantias Fundamentais, onde se contempla os


direitos individuais e coletivos, os direitos sociais dos
trabalhadores, a nacionalidade, os direitos e partidos políticos (Art.
5º ao 17 da CF/88);

· Da organização do Estado;

· Da Organização dos Poderes;


· Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas;

· Da Tributação e do Orçamento;

· Da Ordem Econômica e Financeira;

· Da Ordem Social;

· Das Disposições Gerais.


Assim, o objetivo do presente trabalho, após uma breve visita à
Teoria Geral do Estado e às antigas Constituições é debruçar sobre
os Princípios Fundamentais, tema inserido no Título I, Artigos 1º
ao 4º da CF/ 88.

O Art. 1º da CF/ 88 assim estabelece:

1.2 os fundamentos

Art. 1º- A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:

I- a soberania;

II- a cidadania;

III- a dignidade da pessoa humana;

Parágrafo Único: Todo o poder emana do povo, que o exerce por


meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos dessa
Constituição.

Da leitura do referido artigo, algumas conclusões podem ser


apresentadas ao leitor, como a forma de Governo, a forma de
Estado e os elementos essenciais para o Direito Eleitoral, adotados
pela República Federativa do Brasil.

A República é a forma de Governo praticada, idéia esta reforçada


pelo próprio constituinte quando menciona a expressão Estado
Democrático de Direito, por ser a Democracia uma das
características essenciais da República.

Como forma de Estado; o Federalismo.

A título de breve comentário, o Federalismo, historicamente, teve


sua origem no Século XVIII, mais precisamente em 1787, com a
união das 13 Colônias Inglesas, localizadas à Costa Leste, que
haviam declarado independência à Inglaterra, no ano de 1786, e,
posteriormente vieram a constituir os EUA.
Após a Guerra de Independência contra a Coroa Inglesa, os
Estados Confederados que haviam deixado de ser colônias,
travaram a Guerra de Secessão, entre os Estados do Norte (mais
industrializados) e os Estados do Sul (eminentemente agrícolas).
Dentre a gama de fatores que acabou por desencadear a Guerra,
destaca-se a questão do pequeno território de cada colônia, o que
proporcionaria facilmente uma nova colonização, tanto por parte
da Inglaterra, quanto de outros Estados como a França, a Espanha
ou a Holanda.

Em meio a esse receio, surge o Federalismo, pelo qual as 13


Colônias se uniram, dando origem aos EUA. Assim, cada uma das
ex- colônias passou a ser um Estado Federado, preservando suas
limitações territoriais, adquirindo força para se manterem, através
da grande autonomia conquistada, ainda que subordinadas ao
Governo Central (Governo Federal).

O Brasil, inspirado no modelo Norte- americano,


implementou o Federalismo, adaptado à realidade de suas
províncias, evitando qualquer ruptura e anseios das
guerrilhas, como por exemplo, a Guerra Faropilha, travada
no sul,

Outro ponto que não se pode perder de vista, apesar de não


explicitado no artigo mencionado, diz respeito ao sistema
ou regime de governo.

A CF/88 prevê o sistema ou regime de governo Presidencialista, no


qual, uma única autoridade, o Presidente da República, exerce a
função executiva, sendo simultaneamente Chefe de Governo e
Chefe de Estado, respeitando a independência do Executivo e do
Legislativo.

O Parlamentarismo (modelo que não é adotado pelo Brasil) é um


dos principais regimes ou sistemas de Governo conhecidos no
mundo. Nele, duas ou mais autoridades exercem o Poder
Executivo, como Chefe de Estado e outra como Chefe de Governo,
caracterizando-se pela dependência do Executivo em relação ao
Legislativo.
Em ambos os sistemas, o Chefe de Governo é quem estabelece as
diretrizes políticas do Estado e o Chefe de Estado é quem
representa a unidade nacional e defende o pacto federativo.

Com relação à soberania, à cidadania, à dignidade da pessoa


humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o
pluralismo político, isto é, os demais fundamentos ou opções
fundamentais escolhidas pelo Brasil, mencionados no Art. 1º da
CF/ 88, algumas considerações se fazem pertinentes:

Em primeiro lugar, os fundamentos são verdadeiras bases


da Constituição. São as garantias. Explicando melhor:
quando do nascimento da atual República Federativa do
Brasil (05/10/1988), os valores acima elencados já
existiam. Logo, os fundamentos não são normas de
conteúdo programático, estas dotadas de eficácia limitada,
por dependerem da expedição de uma lei futura, na qual, o
legislador integra-lhe a eficácia, conferindo-lhe, então, a
capacitação para os interesses anteriormente visados, tal
qual ocorre com os objetivos traçados pela CF/88 (Art. 3º).

Entende-se por soberania o poder político caracterizado pela


independência (face externa) e pela supremacia (face interna). O
poder político, a independência e a supremacia, respectivamente
significam: a possibilidade do uso da força legitima; a
independência perante a comunidade internacional e o
reconhecimento interno como o maior.

Todavia, soberania e autonomia são conceitos bem distintos.

A soberania, conforme já mencionado é caracterizada pelo poder


político independente e supremo.

Já autonomia é uma margem de liberdade, escolha, conferida aos


demais entes que não a União.

Verifica-se a cidadania quando são concedidos direitos políticos à


população, acrescido da possibilidade do efetivo exercício deste
direito pelo povo, sem prejuízo do exercício dos demais direitos,
mediante o acesso ao conhecimento necessário para que haja a
participação democrática.

Nos dizeres de Alexandre de Moraes, dignidade é um valor


espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta
singularmente na autodeterminação consciente e responsável pela
própria vida e traz consigo a pretensão ao respeito por parte das
demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que o
estatuto jurídico deve assegurar.

Dessa forma, uma garantia preserva os indivíduos contra situações


desumanas e, ou degradantes, tais como a escravidão, a tortura e
porque não a miséria, fenômenos este que assolam até hoje o
Brasil.

Por dignidade da pessoa humana diz-se também, o compromisso


da Constituição de 88 em assegurar aos indivíduos, uma vida
digna, ainda que minimamente, através da concessão dos direitos
à saúde, alimentação, educação, transporte, moradia, dentre
outros.

O fundamento valor social do trabalho e o fundamento livre


iniciativa, refletem a ordem econômica instituída na República.
Indica ainda, que a intervenção do Estado na economia se opera
de forma mínima e somente em casos especiais, afastando,
inclusive, qualquer ligação com o comunismo, eis que ao
trabalhador é garantido o direito de receber remuneração
condizente e digna ao seu trabalho. Quanto à livre iniciativa
(iniciativa privada) é garantido ao empreendedor a liberdade de se
organizar na busca do lucro, respeitados os ditames legais.

Por fim, o pilar representado pelo pluralismo político,


assegura à existência de vários partidos políticos, além da
liberdade e diversidade de convicções e crenças filosóficas,
garantido a existência de liberdade para associação,
manifestação e discussão de vários modos.

1.4 - Os Objetivos

O Art. 2º da CF/88 trata da divisão dos Poderes dentro do Estado


brasileiro, o qual consagra a Teoria da Separação dos Poderes,
sistematizada por Monstesquieiu e o Sistema de Freios e
Contrapesos ("Checks and Balances").

Diz o referido artigo:

Art. 2º- São Poderes da União, independentes e harmônicos entre


si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Nota-se que a referida divisão é fictícia, de natureza teórica e


funcional, pois o Estado é uno e indivisível.

Logo, cada Poder tem sua função predominante, típica ou


essencial. No caso do Legislativo, sua função é a produção de leis,
ou seja, legislar. Ao Executivo cabe a aplicação da lei, satisfazendo
necessidades e administrando os recursos públicos. O Judiciário
tem como sua função típica, a função jurisdicional, pela qual, o
Estado- Juiz diz o direito, aplicando à lei, ao caso concreto, em
uma determinada demanda (lide).

Entretanto, Executivo, Legislativo e Judiciário exercem outras


funções de forma atípica (emprego dos Freios e Contrapesos). O
exemplo clássico disso é o Executivo legislando, via edição de
medidas provisórias.

Outros exemplos também podem ser apontados, como quando o


Legislativo julga o Presidente da Republica, nos casos dos crimes
de responsabilidade, tal qual preceitua o Art. 86 da CF/88, ou
ainda, quando o Judiciário administra seu corpo de servidores,
admitidos, mediante concurso público; fazendo aquisições de
materiais, serviços e equipamentos, por meio das licitações, etc.

1.4 os objetivos

Conforme já explanado, os objetivos, nada mais são do que


normas programáticas (dependem de regulamentação futura),
cuja eficácia é limitada, por depender da edição de uma lei
regulamentadora de determinado ou daquele assunto.

Para Marcelo Novelino, são chamadas normas programáticas,


normas de eficácia limitada, uma vez que dependem da expedição
de uma normatividade futura, em que o legislador, integrando-lhes
a eficácia mediante lei, dê- lhes capacidade de execução dos
interesses visados.
Art. 3º- Constituem objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil:

I- Construir uma sociedade livre, justa e igualitária;

II- Garantir o desenvolvimento nacional;

III- Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as


desigualdades sociais e regionais;

IV- Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,


sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Deve-se ficar atento para algumas peculiaridades:

Em primeiro lugar, quando a Constituição fala em erradicação da


pobreza e redução da marginalização e das desigualdades sociais e
regionais, não quer dizer, em absoluto, que será possível a
erradicação das desigualdades sociais e regionais, pois sempre
haverá classes mais pobres e classes mais ricas, além do que não
há como igualar regiões, pois cada qual tem suas características,
como suas tradições, costumes, clima, tipo de vegetação, relevo,
etc.

Outro ponto que se deve frizar é que como se tratam de metas a


serem alcançadas, o cidadão não pode pleitear na Justiça através
de Mandado de Segurança, por exemplo, que o Estado lhe dê um
apartamento, em bairro nobre, sobre o argumento de que a CF/88
assegura tal direito, tendo em vista a análise do Art. 3º.

1.5 - Os Princípios Internacionais

O Art. 4º, de importância e utilidade ímpares, foi o responsável


pelo estabelecimento dos princípios que serão observados pelo
Brasil, ao se relacionar com outros Estados, no plano internacional.

Segundo a Constituição:

Art. 4º- A república Federativa do Brasil, rege-se nas suas


relações internacionais pelos seguintes princípios:

I- Independência nacional;
II- Prevalência dos direitos humanos;

III- Autodeterminação dos povos;

IV- Não- intervenção;

V- Igualdade entre os Estados;

VI- Defesa da paz;

VII- Solução pacifica dos conflitos;

VIII- Repudio ao terrorismo e ao racismo;

IX- Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;

X- Concessão de asilo político.

Parágrafo Único: A República Federativa do Brasil buscará a


integração econômica, política, social e cultural dos povos da
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-
americana de nações.

Em todos esses incisos, nos quais estão expressos os princípios


norteadores das relações internacionais seguidos pelo Brasil, pode-
se traçar uma correlação entre um e outro, isto é, torna-se
praticamente impossível, desvencilhar um de outro, pois são
instrumentos imprescindíveis para a realização de qualquer relação
jurídica com um outro país.

Logo, devido à sua independência nacional, vale dizer,


soberania, o Brasil não tem que se submeter a qualquer
outro Estado e concomitantemente a Isso deve respeitar a
independência e soberanias alheias. Por questões didáticas,
neste momento, há que se lançar o olhar, simultaneamente,
nos incisos III, IV, a saber, autodeterminação dos povos e
não intervenção, pelos quais, cada Estado, dotado de suas
peculiaridades e valores, são responsáveis e tem o direito
de criarem suas próprias leis, não se admitindo a ingerência
de um Estado nos assuntos internos do outro. Em suma: ao
adotar esses princípios, o Brasil afirma que invadirá
nenhum outro Estado.

Diferente é a questão do Haiti, país onde o Brasil presta ajuda


humanitária, para que o mesmo possa se recuperar da guerra
vivenciada nos últimos tempos.

Cabe lembrar que os EUA não seguem esse principio, razão pela
qual puderam invadir o Iraque.

Com relação à prevalência dos direitos humanos estabelece a


Constituição que o Brasil em suas relações com outros povos e
culturas, deve guardar os direitos humanos como prioridade, bem
como, deve considerar todos os Estados iguais, independe de suas
condições econômicas, políticas e sociais, tal qual preconiza o
inciso V do artigo em tela.
***No que pertine à defesa da paz a Constituição estabeleceu
claramente a exigência pela diplomacia ao invés de conflitos
armados para a solução de qualquer controvérsia de âmbito
externo, o que é reforçado pelo Principio da Solução Pacifica dos
Conflitos (Art. 4º, VII, CF/ 88).

Repudia o terrorismo e o racismo (Art. 4º, VIII). Em linhas gerais,


pode-se afirmar que por terrorismo entende-se, o uso de
metodologia criminosa e violenta para atingir determinado fim,
que via de regra é não-pacifico. Já o racismo seria a pratica de
qualquer conduta de exclusão, preferência ou rejeição colocada
para um ser humano, devido à sua cor, raça, etnia, descendência,
origem, etc. ou que tenha por finalidade a anulação ou restrição do
conhecimento, do gozo ou do exercício dos direitos humanos e das
liberdades fundamentais.
***O inciso IX do Art. 4º, propõe a cooperação entre os povos
para o progresso da humanidade, isto é, propõe um intercambio
realizado através do comercio, da tecnologia, da cultura de cada
povo, dentre outros.
***Por fim, no inciso X do referido artigo 4º está a previsão da
concessão de asilo político ao estrangeiro, em virtude de
perseguição por ele sofrida, dentro de seu pais ou em um terceiro.
Ressalte-se que não pode ser qualquer perseguição, como no caso
do estrangeiro que atenta contra a vida de uma autoridade em seu
pais e foge para o Brasil.
***A perseguição diz respeito às dissidências políticas, a livre
manifestação do pensamento ou os crimes contra a segurança
nacional, desde que em hipótese alguma configurem crime penal,
do ponto de vista comum.

Antes de começar, vou explicar a diferença entre a palavra Estado (com “E” maiúsculo) e
estado (com “E” minúsculo). Quando a palavra Estado é grafada com “E” maiúsculo ela
tem o significado de governo. Quando a mesma palavra é grafada com “E” minúsculo, o
significado é de estado-membro (Alagoas, São Paulo).

Então, vamos lá!

O Estado brasileiro é:

 Federação (Forma de estado) (União + DF + estados + municípios) (Cláusula


pétrea);
 República (Forma de governo);
 Regime político democrático;
 Estado de Direito (noção de limitação do poder e de garantia de direitos
fundamentais aos particulares) (Estado Democrático de Direito)

A União, DF, estados e municípios são pessoas políticas descentralizadas que possuem
poder de auto-organização, competências legislativas e administrativas e autonomia
financeira (competências tributárias próprias).
Os estados e o DF têm representantes no Congresso Nacional (CN) e podem propor
emendas a CF/88.
Os fundamentos da Rep. Federativa do Brasil são:
1. Soberania: o poder do Estado brasileiro, na ordem interna, é superior a todas as
manifestações de poder. No âmbito internacional, encontra-se em igualdade com os
demais Estados independentes.
2. Cidadania: o poder público deve assegurar e oferecer condições materiais para a
integração irrestrita do indivíduo na sociedade política organizada.
3. Dignidade da pessoa humana: o Estado é centrado no ser humano.
4. Valor social do trabalho e da livre iniciativa;
5. Pluralismo político: a sociedade deve reconhecer e garantir a inclusão, das diversas
correntes de pensamento e grupos.

Os poderes da república são independentes e harmônicos entre si. É o poder Legislativo,


Executivo e Judiciário.
Como a CF/88 é uma constituição que traça diretrizes, os objetivos fundamentais são:
1. construir uma sociedade livre, justa e solidária;
2. garantir o desenvolvimento nacional;
3. erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais;
4. promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.

O título I ainda enumera 10 princípios fundamentais orientadores das relações do Brasil na


ordem internacional:
1. independência nacional; (igualdade jurídica entre as nações)
2. prevalência dos direitos humanos;
3. autodeterminação dos povos;
4. não intervenção;
5. igualdade entre os Estados;
6. defesa de paz;
7. solução pacífica dos conflitos;
8. repúdio ao terrorismo e ao racismo;
9. cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
10. concessão de asilo político.

A Rep. Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos
povos da América Latina, visando uma comunidade latino-americana de nações. (isso é um
objetivo)
Não existem princípios absolutos, devendo sua conveniência seguir a lógica da ponderação.
* Direitos e Garantias *
Direitos fundamentais: são os bens em si mesmo considerados declarados como tais nos
textos constitucionais (os direitos são declarados);
Garantias fundamentais: instrumentos de proteção dos direitos fundamentais, que
possibilitam que os indivíduos façam valer seus direitos, perante o Estado (as garantias são
estabalecidas);
As características dos direitos fundamentais são:
1. imprescretibilidade: eles não desaparecem com o tempo;
2. inalienabilidade: não há possibilidade de transferência dos direitos fundamentais a
outrem;
3. irrenunciabilidade: não podem ser objetos de renúncia;
4. inviolabilidade: impossibilidade de sua não observância por disposições
infraconstitucionais ou por atos das autoridades públicas;
5. universalidade: devem abranger todos os indivíduos, indepedente de qualquer coisa;
6. efetividade: a atuação do Poder Público deve ter por escopo garantir a efetivação
dos direitos fundamentais;
7. interdependência: as várias previsões constitucionais, apesar de autônomas,
possuem diversas intersecções para atingirem suas finalidades.

Os direitos fundamentais são um conjunto aberto, dinâmico e mutável no tempo. E são


classificados em gerações (ou dimensões), levando-se em conta o momento de seu
surgimento e reconhecimento pelos ordenamentos constitucionais.
Direitos de 1ª geração: compreendem as liberdades negativas clássicas, que realçam o
princípio da liberdade. São os direitos civis e políticos. Ex.: direito à vida, à liberdade, à
liberdade de expressão etc. (direito negativo, direitos INDIVIDUAIS)
Direitos de 2ª geração: são as liberdades positivas, reais ou concretas, e acentuam o
princípio da igualdade entre os homens (igualdade material). São os direitos econômicos,
sociais e culturais. Ex.: direito à saúde,  à educação, trabalho, assistência social, etc. (É o
agir do Estado, direito positivo, direitos SOCIAIS) OBS.: nem todos os direitos
fundamentais de 2ª geração são direitos positivos. Existem também, direitos sociais
negativos, como o de LIBERDADE SINDICAL e o de LIBERDADE DE GREVE.
Direitos de 3ª geração: consagram os princípios da solidariedade e da fraternidade. São
atribuídos genericamente a todas as formações sociais, protegendo interesses de titularidade
coletiva ou difusa. Ex.: direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, à defesa do
consumidor, à paz, etc.
Os direitos fundamentais podem ter como titulares as pessoas naturais , as pessoas jurídicas
e as pessoas estatais. Elas também não podem ser utilizadas como escudo protetor da
prática de atividades ilícitas, ou afastamento ou diminiução da responsabilidade civil ou
penal por atos criminosos.

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