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UNIVERSIDADE ABERTA

MESTRADO EM SUPERVISÃO PEDAGÓGICA 2009/2010

RELAÇÕES INTERPESSOAIS: Agentes,

Intencionalidades e Contextos Educativos

PROJECTO DE INTERVENÇÃO PARA A

PROMOÇÃO DE UMA CULTURA DE

CONVIVÊNCIA, NUM CONTEXTO ESPECÍFICO

DOCENTES: Luísa Aires


Susana Henriques

MESTRANDA: Ana Cristina Gouveia Cannas Mendes Paulo


Lisboa, Julho de 2010

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Índice Página

1. Introdução ……………………………………………………………………………………… 2

2. Delimitação do Universo Geral – A Escola …………..………………………………….. 2

2.1. O CED, o contexto e os alunos …………………………..……………………….. 2

3. Delimitação do Universo Específico – Caracterização da turma ………………………… 2

3.1. A turma 1F2 ………………………………………………………………………..… 2

4. Identificação e Delimitação do Problema …………………………………………………… 3

5. Intervenção Primária ………………………………………………………………………….. 3

6. Projecto de Intervenção ………………………………………………………………………. 4

7. Constituição do Projecto ……………………………………………………………………… 4

7.1. Construção do Plano de Convivência …………………………………………….. 4

7.2. Acções a Desenvolver …………………………………………………………….... 5

8. Avaliação do Projecto ……………………………………………………………………….... 7

9. Conclusão ……………………………………………………………………………………… 7

10. Calendarização ………………………………………………………………………………. 8

11. Referências Bibliográficas ………………………………………………………………….. 9

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1. Introdução

Este projecto foi elaborado com o objectivo de criar uma estratégia de intervenção para a
promoção de uma cultura de convivência em contexto escolar.
Abrange uma série de estratégias de intervenção, dentro e fora da sala de aula, que
envolvem, além dos agentes educativos, os alunos de uma determinada turma e os seus
familiares.

2. Delimitação do Universo Geral – A Escola

2.1. O CED1, o contexto e os alunos

A XXXXX é uma instituição vocacionada para o acolhimento, educação e formação de


crianças e jovens em risco de exclusão social e oriundas de famílias de baixos recursos
económicos, vulneráveis aos diversos tipos de pressões.
Concretamente, os alunos que frequentam este CED são, na sua maioria originários de
comunidades que reflectem alguma degradação social, fluxos migratórios nacionais e
étnicos reveladores, por um lado, de desajustamentos sociais e familiares e, por outro, de
fenómenos de multiculturalidade.
Embora seja um espaço marcado pela homogeneidade social, existe uma diversificação
étnica bastante relevante demonstrada pelo elevado número de alunos descendentes de
famílias de origem africana, brasileiras e países do Leste Europeu.
As pressões actuais que caracterizam a vida social no espaço onde estes alunos vivem
tornam o acto de ensinar/educar uma tarefa quase exclusivamente reservada à escola,
esbatendo-se a fronteira da educação/socialização primária face à da
educação/socialização secundária.

3. Delimitação do Universo Específico – Caracterização da turma

3.1. A turma 1F2

A turma 1F2 é uma turma do Curso de Educação e Formação de Jovens – especialidade


de Mecânico de Automóveis Ligeiros, de Nível 2, que confere equivalência ao 9º ano de
escolaridade.

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CED – Centro de Educação e Desenvolvimento.
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Era, no início do presente ano lectivo, constituída por dezoito alunos, todos do sexo
masculino, com idades compreendidas entre os 16 e 19 anos, sendo 10 alunos de origem
africana, 7 caucasianos/portugueses e 1 brasileiro mestiço. Na sua maioria, estes alunos
têm uma família monoparental, predominando a figura materna.
Durante o primeiro período, a turma ficou reduzida a 12 alunos devido à falta de
assiduidade e abandono escolar.

4. Identificação e Delimitação do Problema

No início do ano lectivo, foram imediatamente detectadas dificuldades no plano relacional


que se manifestavam em atitudes e comportamentos de indisciplina, não aceitação e
violência. Devido à multiplicidade de comportamentos que são considerados de
indisciplina, e porque estes são habitualmente circunstanciais e situacionais, em vez de
categorizar os alunos, fez-se a tentativa de especificar os comportamentos e o contexto
situacional em que aqueles ocorriam. Verificou-se que esta turma manifestava uma falta
de convivência a nível étnico, que se revelava pelo modo como os alunos se sentavam na
sala de aula: dum lado da sala sentavam-se os alunos de origem africana, do outro os
caucasianos. E, para agravar a situação, o aluno mestiço, K., que também era
considerado estrangeiro, não era aceite em nenhum dos lados. Criaram-se aqui as
condições ideais para uma situação de conflito. Além disso, o K. possui características
que o diferenciam da maioria dos colegas: pertence a uma família imigrante organizada, é
bom aluno, não apresenta problemas comportamentais e é assíduo e pontual.
Os dois grupos étnicos existentes na turma optaram por não se combaterem, sendo a sua
rivalidade expressa silenciosamente pelo modo como se sentavam na sala de aula.
Contudo, utilizavam o K. como alvo da sua intolerância racial. Sujeitaram-no a
discriminação e violência verbal e física, num verdadeiro contexto de bullying.

5. Intervenção Primária

Conscientes do problema, os professores da turma procederam a um processo de


mediação de conflito, liderado pela Directora de Turma. Durante todo o ano lectivo, nas
reuniões semanais do Conselho de Turma, este assunto fez parte da agenda. Depois de
identificado o problema, e com a colaboração da Equipa Técnica de Psicologia e
Assistência Social e dos Auxiliares de Acção Educativa, foram delineadas estratégias de
mediação de conflitos que, umas vezes melhor e outras menos bem, foram amenizando o

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problema. De referir que o levantamento continuado das diversas respostas às propostas
de mediação, foi o elemento base facilitador de algum sucesso das soluções
apresentadas durante toda a intervenção.

6. Projecto de Intervenção

Apesar de a situação de conflito ter sido controlada e amenizada durante o presente ano
lectivo, prevê-se que a mesma possa voltar a ocorrer, uma vez que se continuam a
verificar alguns obstáculos à boa convivência dos elementos da turma, especialmente no
que se refere ao K..
O projecto que pretendo delinear visa um acompanhamento do K. e uma
consciencialização global da turma no sentido de eliminar, através da educação e
formação para a cidadania, as questões étnicas que estão na origem do conflito. Este
projecto deverá ser extensível às famílias, para que exista um acompanhamento e
esclarecimento ao nível cultural e pautar-se-á pela articulação interna dos diferentes
agentes do contexto educativo.

7. Constituição do Projecto

7.1. Construção do Plano de Convivência

Este processo será regulado por uma carta de compromisso estabelecida entre os
principais intervenientes e baseado em micro projectos, de acordo com a acção a
desenvolver. Da Direcção do CED dependerá a aprovação para a concretização dos
mesmos.

Sendo este um projecto a nível micro, apenas serão envolvidos os seguintes elementos:
• Direcção do CED (Assessor responsável pelos CEF)
• Coordenador do Curso
• Directora de Turma
• Professores do Conselho de Turma
• Equipa Técnica (Psicóloga e Assistente Social)
• Professor Tutor
• Auxiliares de Acção Educativa

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• Dinamizadores do Espaço Teu
• Alunos
• Familiares

Durante as acções regulares, na equipa de mediação, apenas serão envolvidos o


Coordenador de Curso, a Directora de Turma, os professores do Conselho de Turma, a
Equipa Técnica (Psicóloga e Assistente Social), o Professor Tutor, os Auxiliares de Acção
Educativa, os dinamizadores do Espaço Teu.

7.2. Acções a Desenvolver

a) Organização da sala de aula – Sendo a sala de aula o meio escolhido para a


manifestação das atitudes de diferenciação étnica, deve ser dada atenção à
organização do espaço da mesma durante as actividades. Deverá ser negociado
um esquema para sentar os alunos que favoreça a convivência e interacção social.

b) Tutoria – O início do projecto será constituído por uma acção de tutoria ao K., com
o objectivo da sua integração em contexto escolar, ao seu relacionamento com os
pares e do aumento da sua autoestima. Pretende-se criar uma relação de
vinculação que ajude ao sentido de segurança emocional, conferindo protecção e
permitindo a sobrevivência (Costa e Matos, 2006:46).

c) Aplicação de dinâmicas – Igualmente, serão aplicadas dinâmicas de competências


sociais e pessoais que tenham como objectivo promover a identidade do grupo, a
convivência e a socialização, a todos os alunos da turma.
Serão privilegiados:

• Os debates onde a voz e a opinião dos alunos seja uma mais valia a
considerar;
• A análise de situações concretas com outros intervenientes que lhes
permitam ter uma visão externa do processo de conflito;
• Actividades integradoras dos pontos fortes da vítima que contribuam para a
valorização do grupo;
• A criação de um blogue onde os alunos possam dar voz às suas fragilidades
e lhes permita reflectir sobre os temas abordados. Este blogue poderá ser
7
monitorizado no âmbito de um projecto já existente no CED, o Espaço Teu,
que são salas de recursos espalhadas pela escola onde os alunos têm
acesso a um enorme e diferenciado tipo de actividades, misturando o lúdico
com o pedagógico, e onde predomina a cooperação. Será valorizada a
participação interdisciplinar com a exploração de diferentes vertentes
culturais;
• Criação de uma assembleia de turma semanal (à segunda-feira), onde se
avaliem os resultados da semana anterior, com um carácter regulador, e se
(re)definam os objectivos e projectos de convivência para serem
desenvolvidos durante a semana que se inicia, estabelecendo-se
compromissos entre os pares.

Destas dinâmicas pretendem-se obter, como referem Costa e Matos (2006:75), efeitos
positivos, tais como, o incentivar a discussão sobre diferentes assuntos, promover formas
construtivas de clarificação de divergências, bem como da sua resolução, encorajar uma
comunicação mais aberta e espontânea, levando ao crescimento nas diferentes partes
envolvidas na relação.

d) Aprendizagens Horizontais – Numa segunda fase, e porque o desejo é que a


resolução do problema surja dos interesses e trabalho dos alunos, far-se-á uma
aposta nas aprendizagens horizontais, explorando as áreas fortes do K. e
permitindo que estas contribuam para o sucesso das aprendizagens dos colegas,
que, deste modo, aceitarão melhor a sua participação no grupo.

e) Envolvimento das famílias – Transversalmente, e com o intuito de envolver as


famílias neste processo de mediação de conflitos, será criada uma dinâmica
baseada no conceito do The World Café, com o objectivo de promover a integração
dos alunos, aceitando as suas diferenças através da reflexão e partilha de ideias e
culturas. Esta dinâmica envolverá tanto os familiares como os alunos.

f) Mediação de Pares – Semanalmente, e durante a Assembleia, serão nomeados


dois mediadores de conflitos. Este trabalho de mediação será avaliado de forma
auto e hetero, sendo destacados os pontos fortes e fracos com um objectivo
regulador. Criam-se, assim, as condições para a criação de um objectivo de grupo,
o que, de acordo com Costa e Matos (2006:77), estas competências capacitariam

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os indivíduos para lidarem com muitos dos desafios da vida, reforçariam uma
abordagem construtiva à resolução de problemas e (…) poderiam demonstrar aos
outros os feitos positivos da comunicação e negociação.

g) Formação dos agentes educativos – Sendo que a instituição possui um Centro de


Formação próprio, serão pedidas acções de formação diferenciadas para os
diferentes agentes educativos no âmbito das acções de tutoria e mediação e
gestão de conflitos.

8. Avaliação do Projecto

Além da já referida avaliação feita pelos e com os alunos em Assembleia semanal, o


Conselho de Turma e a Equipa Pedagógica, semanalmente, procederá à avaliação do
projecto, evidenciando os pontos fortes e fracos do mesmo, delineando estratégias que
visem manter as acções que resultaram ou visem melhorar as menos bem sucedidas, de
acordo com o feedback obtido. Teremos, deste modo, uma auto e hetero-avaliação bem
como uma avaliação reguladora.

9. Conclusão

Este projecto é baseado no Educar na Tolerância. Com ele pretende-se constituir a escola
como uma instituição de intervenção social, enquanto promotora de valores de
convivência da tolerância, do diálogo e da solidariedade entre populações de diferentes
etnias e culturas. Como diz Leite (2000:7) em sociedades onde a diversidade e o
multicultural são cada vez mais aspectos que as caracterizam, não faz sentido a
continuação do privilégio dos currículos nacionalistas e etnocêntricos, onde apenas
alguns se revêem e se sentem legitimados. Uma «escola para todos» e em que «todos
são diferentes» exige dos professores a capacidade e a flexibilidade para inovar na linha
de um paradigma que proporcione o êxito e a mudança, sem despersonalizar e aculturar.
Aceitar a diferença, seja ela de que tipo for, é um desafio para qualquer sociedade. Cabe
a nós, agentes educativos, promover essa aceitação. Na nova realidade multiétnica
devem ser plantadas sementes não só de tolerância mas também de solidariedade.
Temos de saber transmitir aos pequenos que o diferente enriquece, que o arco-íris é belo
pela sua policromia (Urra, 2006:135).

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10. CALENDARIZAÇÃO

Acções Responsáveis Calendarização


Coordenador do Curso
Directora de Turma
Organização da sala de aula Setembro (ou sempre que se mostre relevante)
Conselho de Turma
Professor Tutor
Coordenador do Curso
Directora de Turma
Tutoria Conselho de Turma Ao longo do ano lectivo
Professor Tutor
Equipa Técnica
Aplicação de
Dinâmica
dinâmicas
Coordenador do Curso
Debate Directora de Turma Ao longo do ano lectivo
Análise de situações Conselho de Turma Ao longo do ano lectivo
concretas Professor Tutor
Actividades integradoras dos Equipa Técnica Ao longo do ano lectivo
pontos fortes da vítima Dinamizadores do Espaço Teu
Blogue Ao longo do ano lectivo
Assembleia de turma Ao longo do ano lectivo, semanalmente à segunda-feira
Coordenador do Curso
Directora de Turma
Aprendizagens Horizontais Conselho de Turma Ao longo do ano lectivo
Professor Tutor
Equipa Técnica
Coordenador do Curso
Directora de Turma
The World Café Conselho de Turma Ao longo do ano lectivo, uma vez por mês
Professor Tutor
Equipa Técnica
Coordenador do Curso
Directora de Turma
Mediação de Pares Conselho de Turma Ao longo do ano lectivo
Professor Tutor
Equipa Técnica

Formação dos agentes educativos Direcção do CED Ao longo do ano lectivo

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11. Referências Bibliográficas

COSTA, M. e MATOS, P. (2007). Abordagem Sistémica do Conflito. Lisboa: Universidade


Aberta.

LEITE, C. (2000). Uma análise da Dimensão Multicultural no Currículo. Consultado em


http://www.fpce.up.pt/ciie/publs/artigos/AnalRevEducacao.doc. Consultado em
Julho de 2010.

NETO, F. (2000). Psicologia Social (vol.II). Lisboa: Universidade Aberta.

TRINDADE, Rui (2002). Experiências Educativas e Situações de Aprendizagem. Porto:


Asa Editores, Colecção Guias Práticos.

URRA, J. (2006). O Pequeno Ditador. Lisboa: A Esfera dos Livros.

http://www.theworldcafe.com/twc.htm

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