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A Assistência Farmacêutica no Brasil: Análise e Perspectivas

Carlos Alberto Pereira Gomes1

I . INTRODUÇÃO

A assistência farmacêutica no Brasil, nas últimas décadas, se confundiu com a existência


da Central de Medicamentos - CEME e as atividades por ela desenvolvidas, num modelo
centralizado de gestão, onde o nível central estabelecia as diretrizes e participava decididamente
das suas execuções. Os estados e municípios brasileiros eram excluídos praticamente de todo o
processo decisório. Ao longo dos seus 26 anos de existência a CEME foi o principal ator das
ações relacionadas ao medicamento e à assistência farmacêutica no país.

Com a CEME, os anos da década de 80 foram marcados por um elevado índice de


produção de medicamentos essenciais, não só pelos Laboratórios Oficiais, como também, pelas
empresas privadas de capital nacional.

Os recursos financeiros eram originários principalmente, do convênio que a CEME


celebrava anualmente com o Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social -
INAMPS. Em linhas gerais, a rede dos serviços públicos ambulatoriais, inclusive do INAMPS
recebia os medicamentos adquiridos pela CEME, destinados ao uso primário, secundário e
terciário da atenção à saúde, disponibilizando os produtos que compunham a Relação Nacional
de Medicamentos Essenciais - Rename, da época. Este sistema de financiamento permaneceu até
o início dos anos 90, época em que houve a extinção do INAMPS e sua incorporação ao
Ministério da Saúde.

Entretanto, a aquisição de medicamentos continuou por meio do Ministério da Saúde, das


Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, que mantinham convênios próprios com a CEME.
Da mesma forma Hospitais Universitários, Santas Casas de Misericórdia e outras instituições
públicas estaduais e federais, podiam ter acesso ao medicamento CEME, mediante a celebração
de convênios específicos.

Em 1987, a CEME realizou um diagnóstico institucional, reconhecendo a pouca


utilização da Rename pelos prescritores, desperdícios consideráveis de medicamentos, recursos
financeiros insuficientes e pouco conhecimento das doenças prevalentes no país, os quais
contribuíam para a ineficiência do Programa de Assistência Farmacêutica desse período. Frente
a este diagnóstico foi definida como estratégia a criação da Farmácia Básica – CEME, como
forma de racionalizar a disponibilidade de medicamentos ao atendimento primário.

Baseada em um módulo padrão de suprimentos, composto por medicamentos


selecionados da Rename, a Farmácia Básica pretendia tratar dos agravos mais comuns da
população, na atenção básica em nível ambulatorial. Entretanto, frente a inúmeros problemas,
principalmente àqueles decorrentes da centralização dos processos de programação e aquisição
que não correspondiam à realidade da demanda dos serviços de saúde dos estados e municípios,
este programa com duração de dois anos, se encerrou em 1988.

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Farmacêutico sanitarista
Gerente Técnico da Assistência Farmacêutica, da Secretaria de Políticas da Saúde, do Ministério da Saúde.
Esplanada dos Ministérios, Ministério da Saúde, Brasília - DF.
E-mail: assfarm@saude.gov.br
Com a institucionalização do Sistema Único de Saúde - SUS por meio da Lei n.º
8080/90, necessário se fazia formular uma política de medicamentos, consoante à nova estrutura
do sistema de saúde do País.

Em virtude da “descentralização da gestão preconizada pelo SUS e assumindo os


municípios a responsabilidade direta pela atenção à saúde, modificações importantes e novas
questões passaram a orientar a assistência farmacêutica. A aquisição e distribuição centralizadas
de medicamentos efetuadas pela CEME nos últimos vinte anos demonstraram ser claramente um
processo ineficiente. Tornaram-se constantes as queixas pela escassez de produtos, avolumaram-
se as perdas em estocagens sucessivas no nível central, estadual e regional até atingir o nível
local. Os supostos ganhos de escala econômica na aquisição de grandes lotes se perderam nos
caminhos e custos dos transportes e armazenagens e nos processos burocráticos de controle”.

Com a desativação da CEME por meio do Decreto nº. 2283 de 24/07/97, os anos de 1997
e 1998 foram marcados por um processo de transição dentro do Ministério da Saúde – MS, onde
coube à Secretaria Executiva-SE a responsabilidade da manutenção das atividades de aquisição e
distribuição dos medicamentos dos Programas Estratégicos para as Secretarias Estaduais de
Saúde. Ao mesmo tempo, houve a criação de uma nova Farmácia Básica nos moldes daquela de
1997, que consistia em um elenco de medicamentos destinados ao atendimento ambulatorial dos
municípios com população igual ou inferior a 21.000 habitantes, entregues diretamente aos
municípios, com exceção dos estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais, que já haviam
iniciado um processo de organização da assistência farmacêutica.

Neste mesmo período, coube à Secretaria de Políticas de Saúde – SPS, coordenar o


processo de elaboração e construção de uma nova Política Nacional de Medicamentos - PNM
para o Brasil, de modo a acompanhar a reforma do setor saúde. Este processo realizado de forma
participativa e democrática, resultou na edição da Portaria GM n.º 3916, de 30/10/98. Esta
Política teve como base os princípios e diretrizes do SUS, integrando os esforços voltados à
consolidação do mesmo, contribuindo ao desenvolvimento social do país, orientando a execução
das ações e metas fixadas para o Ministério da Saúde.

As diretrizes aprovadas na Política Nacional de Medicamentos são:

¾ Adoção da Relação de Medicamentos Essenciais


¾ Regulação Sanitária de Medicamentos
¾ Reorientação da Assistência Farmacêutica
¾ Promoção do Uso Racional de Medicamentos
¾ Desenvolvimento Científico e Tecnológico
¾ Promoção da Produção de Medicamentos
¾ Garantia da Segurança, Eficácia e Qualidade dos Medicamentos
¾ Desenvolvimento e Capacitação de Recursos Humanos

Essas diretrizes objetivam nortear as ações nas três esferas de governo que, atuando em
estreita parceria, devem promover o acesso da população a medicamentos seguros, eficazes e de
qualidade, ao menor custo possível.

Uma das diretrizes fundamentais da PNM é a Reorientação da Assistência Farmacêutica,


de modo que o modelo adotado não se restrinja apenas à aquisição e à distribuição de
medicamentos. Conforme estabelecido na PNM, “as ações incluídas nesse campo da assistência
farmacêutica terão por objetivo implementar, no âmbito das três esferas do SUS, todas as

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atividades relacionadas à promoção do acesso da população aos medicamentos e seu uso
racional”.

Sabe-se que o mercado brasileiro de medicamentos atualmente encontra-se entre os dez


maiores do mundo com faturamento anual bruto de U$7,5 bilhões, sendo que a participação do
setor público, abrangendo as três esferas de governo, é em torno de 21% deste mercado.
Entretanto, estima-se que cerca de 50 milhões de brasileiros não dispõem dos meios para fazer
uso dos medicamentos essenciais à sua saúde. Os dados do Censo/2000 apontam que cerca de
60% dos trabalhadores brasileiros têm renda de até dois salários mínimos, significando que,
mesmo com a oferta de medicamentos a preços reduzidos, ainda têm-se um grande contingente
da população que não tem poder aquisitivo suficiente para comprar os produtos de que necessita,
dependendo inteiramente dos programas governamentais do Sistema Único de Saúde - SUS.

Este histórico da assistência farmacêutica no Brasil demonstra que ainda há grandes


carências nessa área, em especial no que se refere ao acesso e a organização de serviços
farmacêuticos qualificados, que venham, efetivamente, promover a sua reorientação.

II . A REORIENTAÇÃO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

Os novos rumos propostos para o SUS, a trajetória e a situação dos investimentos e


recursos destinados às políticas públicas de saúde, a extinção da CEME e o processo de
municipalização, dentre outros fatores, apontaram para a necessidade da adoção e
implementação de novas estratégias também no campo da assistência farmacêutica.

A Política Nacional de Medicamentos - PNM ao trazer como uma de suas principais


diretrizes, a Reorientação da Assistência Farmacêutica, impôs nova ordem acerca dos desafios
para ampliação do acesso e promoção do uso racional de medicamentos, a ser assumida pelas
três instâncias gestoras do SUS, mostrando, assim, a necessidade de uma visão mais abrangente
que passa pela compreensão da mudança na concepção da assistência farmacêutica na
resolutividade das ações de saúde.

Este processo de reorientação, ora em curso no País, esta fundamentado:

¾ na descentralização da gestão;
¾ na promoção do acesso e uso racional de medicamentos;
¾ na otimização e eficácia das atividades envolvidas na assistência farmacêutica;
¾ na busca de iniciativas que possibilitem a redução de preços dos produtos,
promovendo, inclusive, o acesso da população aos mesmos no âmbito do setor
privado.

Desse modo, ampliou-se o conceito de assistência farmacêutica, que passa a ser


caracterizado como um grupo de atividades relacionadas ao medicamento, as quais constituem
um CICLO que compreende: a seleção, a programação, a aquisição, o armazenamento e
distribuição, o controle da qualidade e utilização - nesta compreendida a prescrição e a
dispensação – o que deverá favorecer a permanente disponibilidade dos produtos segundo as
necessidades da população, identificadas com base em critérios epidemiológicos.

A implementação da PNM exigiu a definição de planos, programas e atividades


específicas nas esferas federal, estadual e municipal. Neste contexto, em março de 1999, foi

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publicada a Portaria GM nº 176, que instituiu o Incentivo à Assistência Farmacêutica Básica,
considerando como responsabilidade do Ministério da Saúde o financiamento dos Programas
Estratégicos. A lógica de financiamento adotada por esta Portaria, com repasse do Incentivo à
Assistência Farmacêutica Básica do fundo federal diretamente aos fundos estaduais e municipais
de saúde, conforme pactuação nas respectivas Comissões Intergestores Bipartites - CIB, assim
como a definição da responsabilidade compartilhada entre os três níveis de gestão, de forma
coerente com os propósitos do SUS, pode ser entendida como sendo o primeiro passo efetivo na
descentralização da gestão, permitindo a progressiva autonomia dos estados e municípios.

Os critérios e requisitos estabelecidos pela Portaria GM nº 176/99 para a qualificação ao


Incentivo à Assistência Farmacêutica Básica, possibilitaram aos estados e municípios a definição
conjunta dos recursos financeiros correspondentes às respectivas contrapartidas e da elaboração
do Plano Estadual de Assistência Farmacêutica Básica, o qual contempla o elenco de
medicamentos básicos, bem como, a sistemática de programação, acompanhamento, controle e
avaliação da sua implementação no estado.

Nesse momento, a meta estabelecida de qualificação de 100% dos municípios ao


recebimento do Incentivo, quer diretamente nos respectivos fundos municipais de saúde, ou por
meio dos fundos estaduais, encontra-se quase inteiramente cumprida, tendo sido alcançado
99,4%, num total de 5527 municípios já qualificados.

Nesse universo de qualificação, na busca de um melhor gerenciamento dos recursos


financeiros, diferentes formas de pactuação foram realizadas, desde a centralização total dos
recursos financeiros no fundo estadual de saúde, como no Amazonas, Alagoas e São Paulo, até a
descentralização total dos recursos aos fundos municipais, como no Mato Grosso, Pernambuco e
Rio de Janeiro. Outros estados optaram pela pactuação mista, onde municípios habilitados na
Gestão Plena de Sistema recebem os recursos fundo a fundo e aqueles em Gestão Plena de
Atenção Básica e os “Não Habilitados”, por meio de depósitos em conta específica no fundo
estadual de saúde.

A partir da instituição do Incentivo, a Secretaria de Políticas de Saúde-SPS do Ministério


da Saúde, por intermédio de sua Gerência Técnica de Assistência Farmacêutica-GTAF, pôde
desenvolver atividades voltadas ao aperfeiçoamento do processo de implementação da
assistência farmacêutica, quer na elaboração de documentos e materiais instrucionais, quer
desenvolvendo, em conjunto com os representantes dos estados e dos municípios, estratégias de
avaliação, cujos resultados permitem definir novos caminhos no sentido de consolidar a
descentralização da assistência farmacêutica básica no Brasil.

III . A GERÊNCIA TÉCNICA DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

A Gerência Técnica de Assistência Farmacêutica - GTAF integra o Departamento de


Atenção Básica de Saúde – DAB/Secretaria de Políticas de Saúde – SPS/MS. Suas atividades
gerenciais e seu desempenho técnico e administrativo encontram-se voltados a um conjunto
diversificado de objetivos direcionados a implementação da Política Nacional de Medicamentos
- PNM e à consolidação do SUS, tendo como ponto norteador a Reorientação da Assistência
Farmacêutica.

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Especificamente, suas atribuições são as seguintes:

1. assessorar a SPS e demais instâncias do Ministério da Saúde em assuntos


relativos à assistência farmacêutica;
2. interagir com as áreas técnicas do Ministério da Saúde e demais Ministérios, na
formulação e execução de projetos;
3. elaborar estratégias e projetos em consonância com a Política Nacional de
Medicamentos;
4. prestar cooperação técnica às instâncias do SUS no desenvolvimento das
atividades relativas a Política Nacional de Medicamentos.

Em atendimento aos propósitos da PNM, a GTAF buscou estruturar-se técnica e


administrativamente para cumprir o seu papel. Frente a de sua responsabilidade social e
compreendendo a amplitude de suas ações, a Gerência Técnica de Assistência Farmacêutica,
baseada nos preceitos técnicos e legais e em valores nos quais acredita, estabeleceu como
Missão: Contribuir na ampliação do acesso e utilização racional dos medicamentos essenciais
no sistema de saúde.

Buscando contribuir ao desenvolvimento do processo e considerando que o medicamento


é um insumo estratégico na melhoria das condições de saúde e vida da população, a GTAF
adotou como parte da estratégia de sua gestão um Plano de Ação, além do compromisso na
indução da implementação e na difusão da PNM e dos instrumentos técnicos e operacionais,
fundamentais à estruturação e qualificação da assistência farmacêutica no âmbito dos estados e
municípios.

A GTAF entendendo que a Reorientação da Assistência Farmacêutica constitui um


processo em contínuo aperfeiçoamento, passível de adequações e de estímulos, conduziu
programas, projetos e atividades que, de forma articulada com os estados e municípios, buscam
induzir o aprimoramento da gestão e gerenciamento, no sentido da melhoria do acesso ao
medicamento e a efetividade das ações desenvolvidas.

IV. O PLANO DE AÇÃO DA GERÊNCIA TÉCNICA DE ASSISTÊNCIA


FARMACÊUTICA

A construção de uma gestão da assistência farmacêutica no SUS implica no


desenvolvimento de ações estruturantes para os três níveis de gestão, assumindo o Ministério da
Saúde o papel coordenador desse processo.

Desse modo, aproximadamente um ano após a implantação do Incentivo à Assistência


Farmacêutica Básica, a GTAF realizou uma avaliação da situação da assistência farmacêutica,
em todas as 27 unidades federadas. Esta avaliação inicial objetivou conhecer a realidade
existente nos estados e, por conseguinte, nos municípios e, a partir da análise dos dados e
informações obtidos, construir um Plano de Ação factível que viesse contribuir na melhoria da
situação identificada.

Considerando que a atuação da GTAF encontra-se no âmbito das ações da atenção básica
à saúde, a avaliação foi concernente ao gerenciamento dos recursos financeiros relativos ao
Incentivo à Assistência Farmacêutica Básica e aos Programas Estratégicos, no que diz respeito à
programação e controle dos medicamentos destinados à Hanseníase, Tuberculose e Diabetes.

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Entretanto, todos os aspectos técnicos e gerenciais relativos às atividades constitutivas do Ciclo
da Assistência Farmacêutica foram também considerados no processo de avaliação.

Os dados e informações obtidos apontaram problemas que contribuíram na


desorganização da assistência farmacêutica, dificultando o acesso e favorecendo o uso incorreto
do medicamento.

Dentre estes problemas, pode-se citar:

¾ ausência da área de assistência farmacêutica no organograma de grande parte das


secretarias municipais de saúde e algumas secretarias estaduais;
¾ grande fragmentação das atividades do Ciclo de Assistência Farmacêutica, além de
sérias dificuldades na operacionalização de várias delas;
¾ dificuldades técnicas, administrativas e operacionais no gerenciamento dos recursos
financeiros;
¾ dificuldades de interlocução entre as esferas gestoras, fragilidades nas pactuações e
entraves políticos e burocráticos;
¾ descompasso entre as áreas técnicas e as decisões políticas;
¾ Recursos Humanos insuficientes e pouco preparados ao desempenho das atividades;
¾ superposição de serviços e atividades;
¾ sistema de informação deficiente e por vezes inexistente;
¾ carência de material técnico instrucional;
¾ falta de planejamento, acompanhamento e avaliação, de modo geral.

Ressalta-se entretanto, que foram também identificados esforços e compromissos


assumidos por gestores e profissionais da área, no apoio a descentralização da gestão, a
estruturação dos serviços e a organização e qualificação das atividades da assistência
farmacêutica, bem como significativos avanços alcançados; alguns estados e municípios
encontram-se em estágios satisfatórios de organização.

Assim, conhecendo parte do seu universo de trabalho e dos desafios aí implícitos, após
ampla discussão, a equipe técnica da GTAF, com a participação de colaboradores, elaborou um
Plano de Ação, o qual contemplava ações estruturantes do Ciclo da Assistência Farmacêutica,
buscando o desenvolvimento de ferramentas para a melhoria da gestão e gerenciamento,
voltados ao processo de descentralização.

A construção desse Plano de Ação teve como fundamento o acesso aos medicamentos
essenciais e a promoção do seu uso racional, e o desenvolvimento de atividades voltadas ao
processo de Reorientação da Assistência Farmacêutica, focado na atenção básica, que consolida
a sintonia do Plano de Ação com a PNM.

O objetivo geral do Plano de Ação foi:

¾ Formular e desenvolver projetos, programas, atividades e/ou serviços que viabilizem


a implantação, organização e implementação da assistência farmacêutica no SUS e,
conseqüentemente da Política Nacional de Medicamentos.

E como objetivos específicos:

¾ Desenvolver atividades que ampliem o acesso da população aos medicamentos


essenciais;

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¾ Priorizar a atividade de programação, buscando otimizar os recursos financeiros nos
Programas da Assistência Farmacêutica Básica e nos Programas Estratégicos;
¾ Desenvolver estratégias para inclusão de medicamentos fitoterápicos na assistência
farmacêutica básica;
¾ Desenvolver capacitação de Recursos Humanos e educação em saúde;
¾ Elaborar e disponibilizar recursos instrucionais;
¾ Disponibilizar e agilizar o acesso de informações sobre medicamentos essenciais;
¾ Realizar pesquisas voltadas às necessidades da assistência farmacêutica básica;
¾ Contribuir na resolutividade das ações de saúde por meio da inserção da assistência
farmacêutica básica no Programa Saúde da Família.

Uma vez definidos os principais objetivos, a GTAF sistematizou o desenvolvimento do


Plano de Ação em cinco eixos de trabalho:

A. Ampliação da capacidade de gestão e gerenciamento


B. Desenvolvimento de recursos humanos
C. Estudos e pesquisas de avaliação
D. Estratégias para implementação da política nacional de medicamentos
E. Cooperação internacional

É importante ressaltar que os projetos, programas e atividades constantes destes cinco


eixos de trabalho visam atender as demandas técnicas e operacionais do Ciclo de Assistência
Farmacêutica, com ênfase na interação de todas as suas etapas constitutivas.

Buscando conduzir suas ações de forma articulada, a GTAF submeteu o Plano de Ação a
aprovação pelo DAB/SPS/MS, pela Comissão Intergestores Tripartite – CIT, à Câmara Técnica
de Assistência Farmacêutica do Conass, o que lhe conferiu maior legitimidade política.

V . ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO PLANO DE AÇÃO

² Equipe de trabalho

Em face das atribuições e das competências do gestor federal na condução da PNM e,


considerando o Plano de Ação, a GTAF promoveu uma adequação da sua estrutura
administrativa, técnica e gerencial às novas demandas e responsabilidades. Optou-se pela criação
de uma estrutura de organização interna flexível que proporcionasse um alto desempenho,
constituída por onze técnicos de nível superior, sete de nível médio e em média quatro
estagiários.

Complementando esta equipe, ao longo do desenvolvimento do Plano de Ação, a GTAF


contou com cerca de sessenta profissionais entre consultores e colaboradores, com diferentes
formações acadêmicas e oriundos de diferentes instituições de vários estados brasileiros. A
formação de uma equipe com esta característica multidisciplinar teve como objetivo a
conciliação do conhecimento científico e técnico de alto padrão, com a riqueza da experiência
prática. Este capital intelectual imprimiu aos projetos, programas e atividades da GTAF a
qualidade exigida, além de contribuir na implementação das ações.

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²Metodologia de trabalho

Na execução do Plano de Ação optou-se por uma metodologia que, por meio da
formação de grupos de trabalhos, coordenados por técnicos da equipe permanente, composto por
consultores e colaboradores com habilidades e experiências para cada tipo de projeto ou
programa desenvolvido, propiciasse a tomada de decisões coletivas, garantindo a qualidade das
ações e legitimidade ao processo.

Ao longo de toda a sua execução, o Plano de Ação foi monitorado e, neste sentido, foi
realizado um “Seminário de Avaliação da Execução do Plano de Ação”, com a participação da
equipe técnica da GTAF, representantes da Câmara Técnica – Conass, consultores e
colaboradores, objetivando aferir as ações realizadas e promover as correções necessárias.

²Parcerias

A assistência farmacêutica enquanto uma atividade estratégica na atenção à saúde e de


ação interdisciplinar e multiprofissional remete ao estabelecimento de parcerias internas e com
instituições e órgãos afins. A integração com as diversas áreas técnicas do Ministério da
Saúde, tornando a interlocução clara e objetiva, foi também fundamental neste processo de
gestão. Ressalta-se a importância da parceria estabelecida com o Conass e sua Câmara Técnica e
Conasems, reforçada pelas características destas instâncias na condução das políticas de saúde.

Pode-se também destacar os seguintes parceiros interinstitucionais: Associação Médica


Brasileira – AMB; Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos – Cebrim (seção do
CFF); Conselho dos Secretários Estaduais de Saúde – Conass; Conselho dos Secretários
Municipais de Saúde – Conasems; Conselho Federal de Farmácia – CFF; Conselho Federal de
Medicina – CFM; Escolas de Saúde Publica Estaduais (Ceará e Minas Gerais); Fundação para o
Remédio Popular – FURP; Management Sciences for Health – MSH; Organização Pan-
Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde–OPAS/OMS; Sociedade Brasileira de
Vigilância de Medicamentos – Sobravime e; Universidades (UnB, USP, UFMG, UFPE,
UNIFESP, UFRN e UFRGS).

E como parceiros intrainstitucionais: Agência Nacional de Vigilância Sanitária –


Anvisa; Assessoria Internacional/Ministério da Saúde; Coordenação do Mercosul/Ministério da
Saúde; Departamento de Ações Programáticas e Estratégias/SPS; Departamento de Ciência e
Tecnologia em Saúde/SPS; Departamento de Programas Estratégicos em Saúde/Secretaria
Executiva/MS; Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz (Núcleo de Assistência Farmacêutica –
NAF/ENSP e Instituto de Tecnologia em Fármacos – Farmanguinhos) e; Secretaria de
Assistência à Saúde – SAS.

VI. OPERACIONALIZAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO: PRINCIPAIS


REALIZAÇÕES

A. AMPLIAÇÃO DA CAPACIDADE DE GESTÃO E GERENCIAMENTO

O aprofundamento do processo de descentralização da assistência farmacêutica gera


necessidades de aperfeiçoamento e busca de estratégias que venham ampliar a capacidade de
gestão e gerenciamento dos estados e municípios.

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Neste contexto, a GTAF desenvolveu um conjunto de projetos, programas e atividades
voltados ao fortalecimento de sua própria gestão e das Secretarias Estaduais e Municipais de
Saúde, no que concerne à assistência farmacêutica, buscando assegurar a sua efetiva
reorientação, viabilizando a melhoria do acesso, da qualidade da assistência, assim como a
promoção do uso racional de medicamentos. Dentre eles, pode-se citar:

¾ ²Sistema de acompanhamento do Incentivo à Assistência Farmacêutica Básica –


SIFAB

¾ SOFTWARE para a programação dos medicamentos Tuberculostáticos e


Hansenostáticos
¾ ²SOFTWARE para controle de estoques de Medicamentos Estratégicos

¾ ²Elaboração do Elenco Mínimo Obrigatório para pactuação na Atenção Básica –


PORTARIA SPS n. º 16/00

¾ ²Revisão da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais - RENAME

¾ ²Memento Terapêutico dos Produtos da Relação Nacional de Medicamentos -


RENAME

¾ ²Incentivo à Assistência Farmacêutica Básica: O que é e como funciona

¾ Manual “Assistência Farmacêutica na Atenção Básica – Orientações técnicas


para sua organização”

¾ ² Roteiro para elaboração dos Planos Estaduais e Municipais de Assistência


Farmacêutica Básica

¾ ² Grupo de Reorientação da Assistência Farmacêutica - GRAF

¾ ² Portal da Assistência Farmacêutica – Página WEB

B. DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HUMANOS

De importância cada vez mais reconhecida, as questões inerentes à capacitação de


Recursos Humanos ocupam um lugar de destaque nas estratégias do Plano de Ação.

De acordo com a PNM, “... o contínuo desenvolvimento e capacitação do pessoal


envolvido nos diferentes planos, programas e atividades que operacionalizarão a Política
Nacional de Medicamentos deverão configurar mecanismos privilegiados de articulação
intersetorial, de modo a que o setor saúde possa dispor de Recursos Humanos – em qualidade e
quantidade – cujo provimento, adequado e oportuno, é de responsabilidade das três esferas
gestoras do SUS’’.

A priorização da capacitação de Recursos Humanos possibilita a adoção e sustentação de


estratégias frente às exigências da nova lógica de gestão e do novo modelo descentralizado de
assistência farmacêutica.
Reconhecendo e buscando responder a este desafio, a GTAF vem desenvolvendo cursos
de capacitação e aperfeiçoamento dos Recursos Humanos envolvidos com medicamento,

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visando a ampliar a capacidade gerencial, qualificar e humanizar a assistência e inserir estes
profissionais no processo de construção e formulação de estratégias que viabilizem a
implementação da PNM, com ênfase na Reorientação da Assistência Farmacêutica.

O estabelecimento de parcerias com outros setores do próprio Ministério da Saúde, com


as Universidades, OPAS e outros órgãos afins, traduz-se como a soma de esforços para dar
respostas a grande demanda oriunda de uma realidade em mudança.

¾ ²Cursos de Pós-Graduação:

- Mestrado Profissionalizante em Gestão de Assistência Farmacêutica

Fruto de convênio entre a GTAF e a Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do


Rio Grande do Sul - UFRGS, destinado aos profissionais que atuam no âmbito das três esferas
de gestão, nas coordenações estaduais de assistência farmacêutica e áreas técnicas do MS.

- Especialização em Gestão de Assistência Farmacêutica

Fruto de convênio entre a GTAF e a Escola de Saúde Pública do Ceará e Faculdade de


Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, visando possibilitar aos estados o
fortalecimento e aperfeiçoamento de seu papel fundamental de gestor e catalisador do processo
de Reorientação da Assistência Farmacêutica.

¾ ²Curso de capacitação dos Agentes Comunitários de Saúde na Promoção do Uso


Racional de Medicamentos

¾ ²Curso para formação de multiplicadores na Promoção da Prescrição Racional


de Medicamentos

C. ESTUDOS E PESQUISAS DE AVALIAÇÂO

A GTAF desenvolveu vários projetos/atividades de avaliação que utilizados como


instrumentos de gestão, sirvam para subsidiar e orientar as estratégias necessárias para apoiar a
implementação e organização da assistência farmacêutica. Dentre eles, pode-se citar:

¾ Avaliação dos Planos Estaduais de Assistência Farmacêutica Básica

¾ Pesquisa conjunta com Management Sciences for Health - MSH

¾ Disponibilidade e utilização de Medicamentos no SUS

¾ Perfil de utilização de medicamentos por Aposentados, Pensionistas e Idosos

¾ Diagnóstico situacional de Programas Estaduais e Municipais de Fitoterapia

¾ Banco de dados sobre o Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais da Central


de Medicamentos

D. ESTRATÉGIAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE


MEDICAMENTOS.

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No tocante ao processo contínuo e dinâmico da implementação e operacionalização da
PNM, cabe à GTAF uma atuação efetiva na formulação de estratégias as quais, por meio de
articulações com os gestores do SUS e outras parcerias, venham contribuir na mobilização de
forças capazes de promover intervenções eficazes objetivando a viabilização da PMN.

Os projetos, programas e atividades desenvolvidos neste eixo, encontram-se em sintonia


com o atual estágio de desenvolvimento do SUS, com ênfase na descentralização, organização e
qualificação dos serviços em busca de uma assistência farmacêutica integral.

¾ ²Documentos Técnicos

- Cadernos Técnicos de Assistência Farmacêutica

- Tradução do Managing Drug Supply

¾ ²Proposta de Política Nacional de Plantas Medicinais e Medicamentos


Fitoterápicos

¾ Projeto: Farmácias Comunitárias: uma estratégia de organização da Assistência


Farmacêutica

¾ Norma Operacional de Assistência Farmacêutica – NOAF

¾ Seminário internacional: desafios para uma Assistência Farmacêutica Integral

E. COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

O processo de globalização tem exigido dos países um posicionamento cada vez mais
contundente no sentido de assegurar os interesses nacionais. Buscando consolidar a sua posição,
o Brasil tem adotado estratégias de cooperação e organização de blocos de países com interesses
comuns como o Mercosul, G15, países da América do Sul, para o posicionamento e defesa
desses interesses em fóruns e negociações internacionais.

Em função disso e visando a construção dessas estratégias, a GTAF como parte


responsável pela implementação e condução da PNM, tem assessorado as áreas internacionais do
Ministério da Saúde na condução desse processo.

¾ Mercosul

¾ Grupo dos Quinze

VII. CONSIDERAÇÕES FINAIS

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O trabalho da GTAF teve com referência a diretriz da Reorientação da Assistência
Farmacêutica preconizada na Política Nacional de Medicamentos. Pode-se afirmar que todo o
percurso manteve um objetivo explícito: o de transformar a concepção atualmente predominante
sobre o medicamento, que valoriza principalmente o seu componente comercial e que reduz toda
a ação, pública ou privada, nessa área, às atividades de comprar e distribuir, em outra concepção
que considere a natureza singular e especial do medicamento.

Esta nova concepção exibe uma equação mais complexa do que aquela predominante.
Um dos componentes desta equação deriva da necessidade de que o SUS tenha efetivos serviços
farmacêuticos, comprometidos não só com o acesso, mas, também, com o uso racional dos
medicamentos e com o sucesso da terapêutica indicada, além do imprescindível aspecto
educativo aos pacientes.

O caminho escolhido pela GTAF neste momento da história do SUS, incluiu, além da
nova concepção sobre o medicamento, a ampliação da capacidade de gestão dos três entes
federados e o aperfeiçoamento dos Recursos Humanos. Este trabalho, certamente, contribuiu
para a ampliação da consciência sobre importância da assistência farmacêutica no SUS e para o
agendamento de questões que ainda não haviam sido cogitados, algumas delas de natureza
estrutural, demandando que os esforços continuem.

Cabe também ressaltar que a forma de trabalho, baseada na incorporação de consultores e


colaboradores, no envolvimento de estados e municípios, na formulação de estratégias, na
publicação de textos e manuais, nas negociações em foros como a Câmara Técnica do CONASS,
a CIT e o CNS, na cooperação com diversos setores do MS e na promoção de debates sobre
experiências e perspectivas de uma assistência farmacêutica integral, contribuiu
significantemente para uma melhor institucionalização da assistência farmacêutica no País.

Entretanto, a nova concepção – centrada nas propriedades intrínsecas do medicamento,


na relação risco/benefício, no princípio do uso racional e na importância social do medicamento,
entre outros fatores – exige uma nova estruturação, tanto na formação de pessoas que trabalham
com medicamentos nos serviços de saúde, quanto da organização desses serviços no SUS.

Pois, dentre os grandes desafios para o aperfeiçoamento do SUS encontra-se, ainda, o da


assistência farmacêutica, ou seja, uma estratégia de suprimento de insumos e de serviços
farmacêuticos que permita e realize o princípio da integralidade da atenção à saúde. É no âmbito
da assistência farmacêutica que se indica e realiza o consumo de medicamentos e de outros
insumos fundamentais ao diagnóstico e à terapêutica. Tal característica confere à assistência
farmacêutica uma natureza estratégica, por mobilizar todo o Sistema no sentido da
implementação de todas as diretrizes da Política Nacional de Medicamentos já estabelecida. A
consciência desse fato transforma essa área em desafio ainda maior e mais importante.

Um problema do tamanho e complexidade da assistência farmacêutica para o SUS não


pode ser administrado de forma fragmentada como hoje acontece, em diferentes secretarias do
Ministério da Saúde, com lógicas, estratégias e ações distintas e desarticuladas. É absolutamente
necessário, no Ministério da Saúde, um órgão que coordene toda a política de medicamentos
para o SUS e que operacionalize um modelo de intervenção na assistência farmacêutica que
coordene todas ações e serviços.

Se no nível federal observa-se tal fragmentação, nos estados e municípios ainda percebe-
se uma falta generalizada de apoio político às propostas que superem a concepção tradicional da
assistência farmacêutica, qual seja, a de comprar e distribuir medicamentos. É um desafio para

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todo o SUS, a inclusão desse tema nas agendas estaduais e municipais da saúde, sob o risco do
fracasso das políticas na área da saúde nos níveis mais próximos da execução.

Uma outra questão central se relaciona com o financiamento da assistência farmacêutica,


pois não adianta aprovar políticas que não contemplem uma ou mais fontes de recursos para sua
concretização. Como resolver a questão crucial do acesso, ou seja, enfrentar a grande
desigualdade no consumo de medicamentos entre os grupos sociais no Brasil? Qual a magnitude
de recursos necessária?

Porém, há ainda outros problemas tão prementes quanto estes que, por motivos vários,
não mereceram maior atenção ou não foram objeto de ação nesse período de trabalho. Um
elenco de questionamentos ainda carece de debates e de alternativas de solução, como por
exemplo:

a) qual é a função, para o SUS, da extensa rede privada de farmácias e drogarias


comerciais, por onde são comercializados cerca de 75%, em valor, do que é
produzido ou importado no País?
b) é razoável investir em redes estatais de distribuição, com toda a infra-estrutura –
pessoal, equipamentos, armazéns, veículos, motoristas e outros – em cada estado e
em cada município, sem considerar a capilaridade e a (dis)função da rede de
farmácias e drogarias privadas?
c) quais são as vantagens das compras públicas pulverizadas, em especial, nos
municípios de pequeno e médio portes?
d) porque o poder de compra do SUS - estima-se que o SUS, em todos os seus níveis,
seja responsável por aproximadamente 21% das aquisições no País, ou seja,
movimenta em torno de 1,5 bilhões de dólares do mercado farmacêutico – não entra
na agenda de debates?
e) como trabalhar melhor a função da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais no
Sistema Único de Saúde e as relações municipais e institucionais de medicamentos?
f) como multiplicar as iniciativas para a promoção do uso racional de medicamentos e
melhorar seu impacto sobre os profissionais prescritores e dispensadores?
g) que tipo de ações de promoção devem ser dirigidas à população de forma a
questionar e diminuir a automedicação e a venda sem prescrição de medicamentos
classificados como de venda sob prescrição?
h) como articular a política de assistência farmacêutica com a promoção da produção de
medicamentos essenciais pelos laboratórios oficiais e privados?

Cabe, também, considerar que a estratégia dos medicamentos genéricos, até o momento,
não tem uma articulação mais concreta com as ações dos gestores do SUS, seja para aumentar o
acesso da população na rede pública como também contemplar o componente de promoção do
uso racional.

Com base nessas questões, são apontados na agenda futura os principais eixos na
condução da Assistência Farmacêutica no contexto da Política Nacional de Medicamentos,
articulados com as demandas sanitárias e sociais do país na área, considerando a necessidade de
se constituir uma instância que coordene o planejamento e as ações de condução da política de
medicamentos no SUS, de forma integral e estratégica.

VIII. UMA AGENDA PARA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

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A experiência acumulada na área da assistência farmacêutica oferece uma série de
elementos, justificativas e fundamentos que orientam ao planejamento de uma agenda com
estratégias na construção de um modelo de seleção, aquisição e distribuição de medicamentos,
que:

a) inclua, dentre as ações de saúde, serviços farmacêuticos qualificados, principalmente


nas áreas de planejamento, fiscalização e dispensação;
b) seja suficientemente flexível para atender as mais diversas realidades e níveis de
atenção, e esteja fundamentado nos princípios comuns do uso racional e do
compromisso com a terapêutica de cada pessoa; e,
c) tenha instrumentos de gestão que lhe permitam o melhor uso dos recursos públicos.
Neste contexto, ressaltam-se, alguns temas a serem considerados:

1. Coordenação Integrada no Nível Federal - que organize ou articule todas as


intervenções do Ministério da Saúde no campo da assistência farmacêutica e as demandas e
impactos que ela estabelece em todas as áreas da Política de Medicamentos, tendo como itens
principais:

a) estruturação da assistência farmacêutica, traduzida não apenas no efetivo acesso aos


medicamentos, mas que tal acesso se concretize por meio de serviços farmacêuticos
qualificados;
b) regulação sanitária, no sentido do reforço e aprimoramento dos processos de controle
sanitário, inclusive da fiscalização, que garanta a segurança, a eficácia e a qualidade
do insumos e dos serviços;
c) produção de medicamentos, de forma a instrumentalizar uma intervenção calculada
no domínio da produção, prevendo um plano estratégico e transformador da função
dos laboratórios oficiais e buscando orientar os produtores privados em direção às
necessidades do SUS.

2. Estruturação de um Modelo de Assistência Farmacêutica no SUS - que possibilite


o efetivo acesso das pessoas aos medicamentos prioritários ao seu tratamento, por meio de
serviços farmacêuticos qualificados e que contemple, em especial:

a) sistema de aquisição acordado entre os níveis de governo, que melhore a capacidade


das compras públicas, facilite a gestão nos níveis executores, permita o melhor uso
dos recursos e negociações permanentes com os produtores;
b) sistemas de distribuição e dispensação confiáveis, que incorpore uma mescla dos
serviços públicos e privados, visando assegurar o acesso facilitado e o uso racional de
medicamentos nas instituições públicas de saúde e nas farmácias comerciais.

3. Fontes de Financiamento Sustentável - mediante instituição de mecanismos de


financiamento público, que reserve um percentual do orçamento da saúde, em especial para:

a) garantir a disponibilidade e o acesso gratuito a todos os medicamentos essenciais,


prioritários ou estratégicos;
b) buscar formas de reembolso ou co-participação como sistemas complementares da
facilitação do acesso, inclusive para os planos e seguros de saúde;
c) assegurar o desenvolvimento de estruturas de gestão de medicamentos (insumos e
serviços), principalmente para a aquisição, armazenamento, distribuição e controle de
estoques e serviços.

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4. Desenvolvimento dos Talentos Humanos – articulada nos três níveis de gestão,
prioritariamente:

a) na qualificação do processo de gestão;


b) na qualificação do Ciclo de Assistência Farmacêutica;
c) na promoção do uso racional de medicamentos;
d) no desenvolvimento científico e tecnológico.

5. Implementação da Política Nacional de Plantas Medicinais e Medicamentos


Fitoterápicos – visando garantir o acesso e o uso racional de plantas medicinais e
medicamentos fitoterápicos, com segurança, eficácia e qualidade.

6. Delineamento e Implementação de Estratégias de Desenvolvimento Científico e


Tecnológico – para a produção de fármacos e medicamentos, articulados com as necessidades
sanitárias da população.

7. Realização da Conferência Nacional de Política de Medicamentos e de Assistência


Farmacêutica – visando ampliar a discussão e consolidar a inserção da assistência
farmacêutica no SUS.

8. Cooperação Internacional – visando a troca de experiências na promoção de uma


assistência farmacêutica integral e consolidação da posição do país nos fóruns internacionais
sobre medicamentos, junto com os seus parceiros na área, a exemplo do vem ocorrendo com
o Mercosul, G-15 e Países da América do Sul.

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