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Do Velho e do Novo Montemor

Desde há vários anos que se defende neste espaço a necessidade do concelho de Montemor-
o-Novo se revelar noutros locais e noutros espaços, de modo a aumentar a sua rede de
contactos. Contudo, pelo que tem sido visível, essa abertura do concelho ao exterior não tem
sido fácil de concretizar. Deste ponto de vista, quando existe uma vontade forte, podemos
sempre encontrar noutras cidades um ponto de atracção que merece uma ligação com maior
relevo, de modo a se dar a conhecer o que aqui se faz e se poder comparar com out ras
realidades, outras pessoas e outros ambientes.

De acordo com informações a que a Folha teve acesso, podemos anunciar que um dos
próximos contactos que Montemor-o-Novo vai fazer é exactamente com a vila homónima de
Montemor-o-Velho. Aqui já temos um ponto em comum, o nome é algo que nos liga desde o
berço e que depois de desenvolvido pode manter viva uma ‘ponte ‘ entre o Velho e o Novo
Montemor. Mas, de facto, essa situação até agora nunca foi explorada.

Face a terem tido um papel importante durante a Idade Média, ambas as povoações têm um
castelo e segundo consta até um mouro de nome Al-Mansor atacou Montemor-o-Velho no
ano de 990. Será que partiu de Montemor-o-Novo para a conquista?

É interessante verificar que o nome une-nos devido quase de certeza à influência do fundador
da nação, Afonso Henriques, e essa ligação consolidou-se com a concessão do Foral por D.
Sancho I em 1212 a Montemor-o-Velho e 1203 a Montemor-o-Novo, o que é revelador da
importância semelhante das duas povoações no início da primeira dinastia. É também D.
Manuel I quem concede novos Forais em 1503 à nova vila e em 1516 à mais antiga.

Enfim, pelo menos do lado da história, já temos pontos fortes de ligação, mas agora o reforço
deste vínculo vai fazer-se através da Rede de Economias de Criatividade (REC) que está a juntar
os municípios de Montemor-o-Novo, Óbidos, Montemor-o-Velho, Seia, Tondela e Guimarães e
que tem como principal objectivo demonstrar que um conjunto de cidades e vilas, a trabalhar
em rede e com o nível de políticas, estratégias e projectos que têm em curso, se constituem
como lugares de referência para atracção da criatividade e de talentos. Este objectivo insere-
se no trabalho desenvolvido pela União Europeia que assim pretende fomentar as indústrias
criativas em territórios de baixa densidade populacional.

Desde modo, este conjunto de cidades e de vilas espera realizar, ao longo dos próximos três
anos, vários projectos com um objectivo comum, em montantes que podem ir até nove
milhões de euros, com uma participação por parte da União Europeia de cerca de 60%. Por
parte de Montemor-o-Novo ficarão inscritas no projecto as obras para a recuperação do
Convento da Saudação e para o Moinho do Ananil. Os projectos comuns a desenvolver pelos
diversos municípios deverão contar com verbas que totalizam cerca de 1,2 milhões de euros.

Pelo que foi possível apurar, este trabalho conjunto já tem algum tempo, mas faltava a
necessária aprovação por parte da Comissão Europeia que apenas aconteceu em Agosto
último. Agora, resta colocar as assinaturas no contrato para que possa ser anunciado
formalmente.

Na ‘Viagem a Portugal’, José Saramago descreveu assim Montemor, “o castelo vê-se de longe,
abrange toda a coroa da elevação em que foi levantado, e, tanto pela sua disposição no
terreno como pelas torres transmite uma poderosa impressão de máquina militar”. Em virtude
das semelhanças, ao leitor fica o desafio de adivinhar se Saramago falava de Montemor-o-
Velho ou de Montemor-o-Novo.

A.M. Santos Nabo

Setembro 2010

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