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Foral da Guarda (p.

03)
… Aquel que casa fezer ou vinha ou sa herdade onrar e per I ano en ela sever, se d
epois en outra terra morar quiser, servia a el toda sa herdade u quer que morar.
E, se as quiser vender, venda a quem quiser per foro da vossa cidade. … Homens da
Guarda non paguen penhora polo senhor da Guarda, non por meirinho, nen sejan peño
rados senon por seu viciño. Cavaleiros da Guarda nen molheres viuvas non den pousa
da per foro da Guarda senon per mandado do juiz. Homens de vossos termos que sev
eren en vossas herdades ou en vossos solares e seus senhores non foren i, venhan
ao sinal do juiz e den fiadores que respondan o dereito, quando veeren seus sen
hores. E, se fezeren coomia peitenna a seus senhores e a VIIa ao paaço, e non serv
ian outro homen senon a seus señores em cuios solares severen. Senaras e vilas del
rei hajan tal foro qual as searas e as vinhas nossas ouveren. E quen seu viziño ma
tar e en sa casa fogir, quen depois a el entrar e o i matar peite CCC soldos e a
meiadade seja de seu marido. … Quen ferir seu vizinho cun espada peite XL soldos
e a VII ao paaço. … Montádigo do estremo da Guarda receban os cavaleiros da Guarda con
seu senhor e hajan ende a terça parte. Nenguun non filhe montádigo de gaados da Gua
rda. … De todo portádigo que veer a Guarda hóspede u pousar filhe a IIIa parte e o por
teiro as IIas partes. Todas estas entenções juigen os alcaides da nossa vila per sua
carta. Outras entenções juigen segundo seu sen, asi como melhor poderen.

Ordenaçoes de D. Afonso II (p. 04) SCANNER


Cobijcantc nos p&r cima aas demandas e que per aguesto alam tim qua] dcuen. Esta
belecemos que sse alguem trouxer a nosso juizo aquel corn que ouue demanda depoy
s da sentença dos nosos Juyzes e depois for uençudo e achado que a sentença que ganhou
he bOa qual deuja. Pot esto porque constrengem o sseu auerssayro como non deuja
ssc o uençedorforcaualeiro ou clengo ou clengo prelado da Egreia o uençudo sscia pe
ado en X maravedis douro. E se for peom ou clerigo non pretado sela peado en V m
aravedis douro.

En como os moesteyros ne as egreias nõ deue d'auer possissões, saluo pera anjuersayr


os (p. 04)
Porque poderia acaeçer que os moesteyros e as outras ordyns de nosso reyno poderia
m conprar tantas possissoes , que se torn/tria em grande dano nosso e do reyno ,
e pêra esta tal converria que fezessemos demandas , e esto tornarssehia em grande
dano das egreias , e em nosso prejuízo e agravamento ; porem parando nos mentes n
o que podia acaecer , stabeleçemos , que daqui adeante nebua cousa ( Cassa escreve
-se mais correctamente n'outra versão desta Lei , que se
acha no Livro do antigo Foral de Santarém , no R. Archivo , Maca 3.° de Foraes antig
os , num. 2 : e também no art. i.° da Concord. 2.' d'ElRei D. Diniz , que se acha no
Livro das Leis Antigas. ) de religiõ nõ conpre nebua possissom , tirado pêra universs
ayro de nosso padre , ou nosso. E damos a elles lecenca daverem possissoes , ou
outras cousas ptra outra mancyra aguisada. Pêro non tolhemos a nenbuú Clérigo poder de
comprar possissoes , e de Jazerem delias o que quiserem. E se per ventuyra alguém
contra esta nossa cõsteúço quiser hir , perca quanto der pula possissom por pêa.
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Dos dezemos que an a dar os cristiãos a sancta igreia (p. 05) SCANNER
Abraam fuy o primeyro dos proffetas e fuy muy saucto orno e t amigo de Deus que
disso por ei que eno seu linnagë seeri beeytas todalas gentes e este connosçendo que
era pouco aquelio que dau os que foron ante que ei a Deus, segundo os bes que d
ei rreçebiã, comezou ei a dar o dezemo de mays das primiçias e das offerendas que elie
s dau e dou-lo primeyramte a IV[elchisedec, que era sacerdote, e senua1adamte do
u o que gaannou dos rreys que uencio, quando [1]Les tolho a Loth, sou sobrlno, q
ue leuauã catiuo. Onde erias duas maneyras de siruiçio de primiçias e de offerendas qu
e s5 ditas eno titulo ante deste e en esta terceyra, que é dos dezemos, husarô os om
es de siruir a Deus, ata que dou iey scripta a Moys, que fuy sancto om e tã seu am
igo que disserõ que falaua cí ei, assi ci5ino hun amigo falia c outro, e mãdou-lle que
todas estas cousas que ei quiso teer pera si en sinal de rreconnoscemento de en
norio e de ben feyto que fossen seriptas ena iey, por que o poboo as desse aos s
acerdotes, que faz sacrifiçio a Deus, segundo a uella ley, e aos leuitas, que seru
, e esto fuy sempre gardado. E depoys, quando uo nostro sefior Iliesu Christo, c
onfirmoo 1, dizMo aos Judeus que, macar dezemau as cousas meudas, que nõ deu leyxa
r de o fazer das graandas 2, e esta paraula lies disso, porque ten que deuiã dezem
ar de todo. E por ende os cristiãos gardarõ esto sempre, e os sanetos que fallar5 de
sto mostrara por quaes rraz5es deu omes dar a dezema parte por dezemo, rnays que
por outro conto nhun, e dissera que nostro sefior Deus criou duas ords d’angios e
, porque a una deilas cayo por soberua, quiso que de liflag dos omes fosso compl
ida e outrossi polos x mandamentos que dou nostro sefior Deus scriptos a Moysem
que mandou gardar, porque los omes uiuissen bé e se soubessen gardar de fazer tal
erro de ue pesasse a Deos, porque elies rrecebess mal. E aynda sen esto y á outra
rrazõ por que os omées o deuë dar e esto porque os v sintidos que Deus lies deu cõ que f
ezess todos seus feytos que ilos gard e los enderesc, por que obr cõ elies ben e m
tg b e complidamente os dous mda montos (e) da sua ley en tal maneyra que, segtd
o a humildade de nostro seflor Ihesu Christo merescã herdar aquel lugar que a deze
na ordë dos angios perderõ por sua soberuia. E, poys que eno titulo ante deste falia
das primiçias e das olferendas de que sse aiudã muyto os clerigos, conue de dizer e
n este dos dezemos, que e una cousa apartada, de que sse ajuda aynda mays toda a
igreia, t bé os preilados mayores c3mo os outros clerigos, e demostrar primeyramt
e que cousa é dezomo e quantas maneyras son dei e qu o deue dar e de quaes cousas
e a qu e en que maneyra deuo seer dado e cõmo o deu partir e que bées uëe aos omes por
dezemar b e que maes, se o ma1 faze, e de todalas outras cousas que perteescé ao
dezemo.

Da Sancta Trijdade e da fe catholica


Todo c(ri)schao crea firmemente que huu soo e´ u(er)dadeyro Deus, Padre e Fillo e
Sp(iri)tu Sancto e estes #III so~ #I Deus e una natura e hu~a cousa q(ue) fez d(
e) nada os angos, os omees e o ceo e a t(er)ra e as outras cousas todas tan ben
as que ueemos e sentimos come as outras cousas que no~ ueemos ne~ sentimos. E fe
z os angios boos p(er) n(atur)a e Lucifer e os outros que depoys p(er) sa maldad
(e) son feytos diaboos e maos e esta S(an)cta Trijdade an(te) da incarnaço~ de N(o
st)ro Senhur Ih(e)su C(risto) deu lee e ensinamento a seu poboo p(er) Moyse~ e p
(er) llos outros se(us) p(ro)ph(et)as e p(er) se(us) sanctos p(er) q(ue) se pode
~ saluar. E depoys N(ost)ro Senh(ur) Ih(e)su C(risto), fillo Deus e Deus u(er)da
deyro, huu soo con Padre e co~ Sp(irit)u S(an)cto recebeu carne e foy (con)cebud
o do Sp(irit)u S(an)cto, reenasceu da U(ir)ge~ S(an)cta M(aria) u(er)dadeyro ome
est u(er)dadeyro D(eu)s, endere~çou e (con)p(ri)u a ley que foy dada p(ri)meyrame
~te p(er) Moyse~ e mostrounos carreyra mays conoçuda p(er) que nos podessemos salu
ar. Este N(os)tro Senh(ur) Ih(e)su Cr(is)to a´ en sy duas naturas d’omen e Deus, emp
(er)o segund’a natura d(e) Deus non pode morrer ne~ sentir nenhuu mal, segundo n(a
tur)a q(ue) fillou quanto carne quis morrer por nos saluar e soffreu fame e sede
e fryo e outros traballos muytos e recebeu morte na uera [cruz] e d(e)mentre q(
ue) a carne foy morta, a alma d(e)lhe dece~deo aos infernos e sacou end(e) os s(
an)ctos e os fiees se(us). E depoys resucitouse en carne e amostrouse aos se(us)
dicipulos e (co)meu (con) elles e leyxous (con)firmados en sa fe s(an)cta catho
lica e subyo aos c(eos) en corpo en dignidad(e) e ende uerra na cruz eneste mund
o dar juyzo aos boos e aos maos. E aaquel juyzo uerremos todos en corpos e en al
mas e receberemos os boos ben e galardo~ de gl(or)ia d(e) ben que fez(er)mos por
semp(re) co~ N(ost)ro Senhor Ih(es)u Cr(ist)o e os maos recebera~ pe~a co~nos m
aos dyabres por se~p(re) vnde nu~q(u)as sayra~. E esta e´ a nossa fe catholica que
firmemente teemos e cremos. E tuda a da fe guardar e a Eyg(re)ya d(e) Roma q(ue
) a manda guardar come sac(ri)fiço de N(ost)ro Senh(ur) Ih(es)u C(rist)o que se fa
z subello altar pello sac(er)dote que derytamente e´ ordyado e como do baptismo e
dos outros sac(ra)mentos de S(an)c(t)a Eyg(re)ya. E qu(er)emos e dema~damos que
todo crischa~o|s| tenha esta fe e a guarde e q(ue~) quer q(ue) (contra) ella uee
r enalgu~a cousa es erege e receba a pe~a que e´ posta (contra) os h(er)eges.
http://cipm.fcsh.unl.pt/corpus/texto.jsp?t=d&id=11635

da g(ua)rda das cousas de S(an)c(t)a Ygreia


Assy como nos sumos teodos d(e) dar gualardo~ dos bees deste mundo aos q(ue) nos
y s(er)ue~, mayormente deuemos dar a N(ost)ro Senh(ur) Ih(es)u C(rist)o dos bee
s terreaes por saud(e) d(e) nossas almas de que auem(os) uida eneste mundo e tod
os outros bees que auemos e asp(er)am(os) mayor gualardon eno outro e uida p(er)
durauel. E non tan solame~te u deuem(os) dar, mays aguardar o que e´ dado. E pore~
d(e) mandam(os) que todallas cousas que fore~ dadas as eygreyas e sera~ daq(ui)
adea~te pellos rex e perlhos outros fies d(e) Deus, seya~ dadas dereytame~te e s
emp(re) seyam guardadas e firmadas en seu dereyto [e] en seu poder.
Porq(ue) sum(os) teodos d’aamar e d’onrrar a S(anct)a Eyg(re)ya sub(re) todallas cou
sas do mundo e porq(ue) auem(os) grande sp(er)a~ça enella que quantos a aguardamos
e manteemos en sas franquezas e en sas liuridoes aueremos poren gallardon d(e)
Deus e p(er)as almas e peros corpos en uida e en morte e porq(ue) i e´ onrra de no
s e de nossos reynos, pore~ q(ue)rem(os) mostrar como se guarden por todo tempo
as cousas das eygreyas. Onde stabelecem(os) q(ue) logo que o bispo ou o enleyto
for (con)firmado e quiser receb(er) as cousas d(e) sa eygreya e de seu bispado,
receba todo dante seu cabijdoo e se(us) cooijg(os) da eyg(re)ya. E todos en huu
faça~ screu(er) todas as cousas q(ue) receb(er), auer mouil e no~ mouil e p(ri)uil
egios e cartas e onrramentos da eygreya e o que lhy deuen, todo en guisa q(ue) o
ut(ro) bispo q(ue) ueer depoys que sabya demandar as cousas que fore~ da eygreya
p(er)o aquelle sc(ri)pto q(ue) for feyto p(er) todos, e se algu~as cousas das e
ygreyas uendudas achare~ ou alleadas ou mal baratadas sen dereyto, que o possa t
odo demandar e tornalo todo a ygreya, da~do o p(re)ço ao (con)p(ra)dor ou a q(ue~)
lo arre~deu ou enp(re)stou sobre aq(ue)llo a macar q(ue) seya uendodo se o mons
trar. Mays se por a eyg(re)ya no~ foy uendudo ne~ baratado ou por p(ro)ueyto da
eyg(re)ya (con)p(ri)r todo quanto for |e| no~ seya teuda a ygreya d(e) pagar nen
huu p(re)ço, mays paguesse muy be~ de ssa boa daquel que llo alleou e no~ do da ey
greya. E se no~ ouu(er) nada, a [ey]g(re)ia receba todo o seu como quer q(ue) se
ya achado. E esto dizemos e mandamos dos mosteyros e das abadyas e das ordijs. O
utrosy mandamos que bispo ne~ abad(e) ne~ p(re)lado non possa uender nen alhear
nenhua cousa das que garo~ p(er) razon d’acrecentar en sa eygreya, mays se algu~a
cousa gaar ou co~prar por razo~ de ssy ou por h(er)dar que~ quiser ou d(e) seu p
atrimonyo face en(de) o que lly p(ro)uguer e q(ui)ser.

dos casamentos (p. 9)


Estabelecemos e mandamos que todos os casamentos se façam per aquellas parauoas q(
ue) manda a Sancta Eyg(re)ya e os que casare~ seya~ taes q(ue) possa~ casar se~
peccado e todo casamento façasse conhoçudame~te e no~ a furto e di guisa que se for
mest(er) que sse possa prouar p(er) muytos. E que~ a furto fez(er) casamento, pe
yte #C m(a)r(auidi)s a el rey e se os non ou(er), todo o q(ue) ouu(er) seya del
rey. E pello que ficar seya o corpo a m(er)cee del rey.
Se padre ou madre dalgu~a molh(er) q(ue) seya en cabellos morrer e alguu a pedir
p(er)a casame~to a seus yrmaos ou a seus parentes, se for tal q(ue) a molh(er)
& os yrmaos seya~ ent(re)gados del, e por mal q(ue)rença ou por cubijça de lhy tolh(
er) o seu ou des(er)dala se se casasse sen seu mandado, e no~na quisere~ casar,
ella entendendo este engano e frontallo casarse cu~ el ou co~ outro q(ue) co~uen
ha a ella e a seus parentes e a sse(us) irmaos no~na possa~ desh(er)d[a]r per ta
l razo~, fora se aq(ue)le q(ue) se casou era enmijgo de seus yrmaos ou lhys auia
feyta algu~a onta ou força, ca p(er) tal razo~ come esta, pero seya de ta~ boo de
reyto coma elles, no~ e´ dereyto de casar cu~ el, mays se o fez(er) seya desh(er)d
ada d(e) boa d(e) padre ou de madre. E se ella casar co~ alguu que no~ seya (con
)uenauil a ella ne~ p(er)[a] seu linage~, ou se se for cu~ algue~ en maneyra q(u
e) seya onta della ou de seu linage~, seya outrosy deserdada do q(ue) ouue ou do
q(ue) auia d’auer d(e) bo~a d(e) seu padre ou d(e) sa madre. Empero que algu~a mo
lh(er) faça algu~a cousa destas que so~ suso ditas, no~ p(er)ça seu dereyto do h(er)
dame~to q(ue) lhy uij~a da out(ra) parte quer de se(us) yrmaos quer doutros pare
ntes ou de stranhos.
Se algu~a molh(er) for uiuuoa que aya senhor auodo ia ou amigo e casar depos mor
te de seu padre ou d(e) sa madre sen uoontade de se(us) irmaos, no~ seya pore~ d
esh(er)dada. Ca poys que souber[o~] aquel erro e llo soffrero~, no~ e´ dereyto que
por o casame~to a deuam a deserdar.
Toda molh(er) uyuuoa, pero q(ue) aya padre ou madre, possasse casar sen mandado
delhes se quis(er) e non aya nenhu~a pe~a poren de a desherdarem.
Se manceba en cabellos casar sen (con)sentime~to de seu padre ou de sa madre, no
~ parta (con) seus irmaos a bo~a d(e) seu padre ne~ de sa madre, fora se lhy p(e
r)doare~ an(te) q(ue) morresse~ e se lhy p(er)doou huu delles e outro non, seend
o ambos uiuos, aia sa parte da bo~a daq(ue)l q(ue) lhy p(er)doou. E se huu for u
iuo e o outro non ao tempo q(ue) casar e aq(ue)l q(ue) e´ uiu[o] lhy p(er)doar, pa
rta~ co~nos out(ro)s yrmaos q(ua)nto achare~ come yrma~os.
Se o padre ou a madre ou os yrmaos ou outros parentes teuere~ en seu poder mance
ba escosa en cabellos e no~na casare~ ata #XXV anos, [e] ella d(e)poys se casar
sen mandado delles, no~ perça pore~ tanto q(ue) case cu~ ome~ que lly (con)uenha.
Firmemente deffendemos q(ue) nenhuus no~ seya~ ousados de casar (contra) mandame
~to da S(an)c(t)a Eygreya poys que lhis for deffendodo. Outrosy deffendemos que
se p(re)yto d(e) casamento for começado ante alguus en juyzo, nenhuu delles no~ se
ya ousado d(e) casar en outra parte ata q(ue) o p(re)yto seya d(e)termiado p(er)
iuyzo da S(an)c(t)a Eyg(re)ya.
Nenhuu~ ome~ poys que for outurgado dereytamente p(er) mandado da S(an)c(t)a Eyg
(re)ya cu~ algu~a molh(er), non seya ousado de casar cu~ outra dementre que aque
lla uiu(er) a macar q(ue) n(o~) aia beeçoes cu~ ella en Eygreya e macar que no~ mo
rare~ en huu. E esto mandamos da molh(er) que for dereytame~te outurgada cu~ alg
ue~. Outrosy mandamos e deffendemos q(ue) cu~ atal molh(er) como d(e) suso e´ dito
,nenhuu no~ case sabendo q(ue) tal p(re)yto ouue ante cu~ out(ra) e q(ue~) (cont
ra) algu~a destas cousas ueer peyte #C m(a)r(auidi)s, a meyadade a el rey e a me
adad(e) a q(ue~) fez tal torto. E o p(re)yto que fez enesta guisa non ualla.

XXXXX p. 11

Lenda do Rei Lear (p. 13)


Este rrey Ley nõ ouue filho, mas ouue tres filhas muy fermosas e amauas mujto. E hũu
dia ouue sas rrazõoes com ellas e disse-lhes que lhe dissessem uerdade quall dell
as o amaua mais. Disse a mayor que nõ auia cousa no mumdo que tãto amasse como elle,
disse a outra que o amaua tanto como ssy meesma, e disse a terçeira, que era a me
or, que o amaua tanto como deue d’amar filha a padre. E elle quis-lhe mall por em
e por esto nõ lhe quis dar parte no rreyno. E casou a filha mayor com o duque da C
ornoalha, e casou a outra com rrey da Scocia, e nom curou da meor. Mas ella, por
sua vemtujra, casou-sse melhor que nẽhũa das outras, ca se pagou della elrrey de Fr
amça e filhou-a por molher. E depois seu padre della, em sa velhice, filharom-lhe
seus gemrros a terra e foy mallandamte e ouue a tornar aa merçee delrrey da Framça e
de sa filha, a meor, a que nõ quis dar parte do rreyno. E elles receberõ-no muy bẽ e
derom-lhe todas as cousas que lhe forom mester e homrrarõ-no, mentre foy uiuo e me
rreo em seu poder.
http://www.filologia.org.br/filologo/49.htm
A dona pee de cabra (p. 13)
Dom Diego Lopez era muy boo monteyro e, estãdo huu dia en sa armada e atemdemdo
quamdo verria o porco, ouuvyo cantar muyta alta voz huua mollher em çima de huua
pena e el foy para lá e vio-a seer muy fermosa e muy bem vistida e namorou-sse log
o della muy fortemente e pergumtou-lhe qu[e] era e ella lhe disse que era huua m
olher de mujto alto linhagem, e ell lhe disse que, pois era molher d alto linhag
em, que casaria com ella, se ella quisesse, ca ell era senhor daquella terra tod
a, e ella lhe disse que o faria, se elle prometesse que numca se santificasse, e
elle lho outorgou e ella foi-sse logo com elle. E esta dona era muy fermosa e m
uy bem feita em todo seu corpo, saluando que auia huu pee forcado, como pee de c
abra. E viuerom gram tempo e ouuerom dous filhos e huu ouuve nome Enheguez Guerr
a e a outra foi molher e oouve nome dona... (pedaço não reconstituído)
E, quando comiam de suu dom Diego Lopez e sa molher, ass[e]etaua ell apar de ssy
o filho e ella ass[e]etaua apar de ssy a filha, da outra parte. E huu dia foy e
lle a seu monte e matou huu porco muy gramde e trouxe-o pera sa casa e pose-o an
te ssy hu sya comendo com ssa molher e com seus filhos, e lamçarom huu osso da mes
a e verrom a pellejar huu alaão e huua pondenga sobr elle em tall maneyra que a po
denga trauou ao alaão em a gargãta e matou-o. E dom Diego Lopez, quando esto vyo, te
ue-o por millagre e synou-sse e disse:
-Santa Maria, vall! quem vio tall cousa?
E sa molher, quando o vyo assy sinar, lamçou maão na filha e no filho, e dom Diego L
opez trauou do filho e non lho quis leixar filhar e ella rrecudio com a filha po
r huua freesta do paaço e foy-sse pera as montanhas em guisa que a non virom mais
nem a filha.
Depois, a cabo de tempo, foy este dom Diego Lopez a fazer mall aos mouros e leua
rõ-no pera Tolledo preso. E a seu filho Enheguez Guerra pesaua mujto de ssa prisom
e veo fallar com os da terra, per que maneyra o poderia auer fora da prisom. E
elles disserom que nom sabiam maneyra por que o podesse auer, saluamdo se fosse
aas montanhas e achasse sa madre e que ella lhe diria como o tirasse. E ell foi
alaa soo, em çima de se seu cauallo, e achou-a em çima de huua pena, e ella lhe diss
e:
-Filho Enheguez Guerra, vem a mym, ca b[e] sey eu ao que u[e]es.
E ell foy pera ella e ella lhe disse:
-V[e]es a pregumtar como tirarás teu padre da prisom.
Emtom chamou huu cauallo que amdaua solto pello monte, que avia nome Pardallo, e
chamou-o per seu nome, e ella meteo hua freo ao cauallo que tijnha e disse-lhe
que nom fezesse força pollo desselar nem pollo desemfrear, nem por lhe dar de come
r n[e] de beuer, nem de ferrar, e disse-lhe que este cauallo lhe duraria em toda
sa uida e que nuca emtraria em lide que nom vençesse delle. E disse-lhe que caual
lgasse em elle e que o porria em Tolledo, ante a porta hu jazia su padre logo em
esse dia e que, ante a porta hu o cauallo o posesse, que alli decesse, e que ac
haria seu padre estar [e] huu currall e que o filhasse pella maão e fezesse que qu
eria fallar com elle e que o fosse tirãdo comtra a porta hu estava ho cauallo e qu
e, des que alli fosse, que cauallgasse em o cauallo e que posesse seu padre ante
ssy e que ante noite seria en sa terra com seu padre, e assy foy. E depois, a c
abo de tempo, morreo dom Diego Lopez e ficou a terra a seu filho, dõ Enheguez Guer
ra.
http://www.constelar.com.br/constelar/88_outubro05/pedecabra2.php

XXXXXX p. 15

Dom Ramiro ou a Lenda da Gaia (p. 16)


Rey Ramiro o segumdo ouuyo fallar da fermusura e bomdades de huuma moura e em co
mo era d alto samgue e irmãa d Alboazer Alboçadam, filhos de dom Çadamçada bisneto de rr
ey Aboali, o que comquereo a terra no tempo de rrey Rodrigo. Este Alboazare Alboça
dam era senhor de toda a terra dês Gaya atáa Samtarem, e ouue muitas batalhas com ch
rist5aos e estremadamente com este rrey Ramiro, e rrey Ramiro fez com elle gramd
es amizades por cobrar aquella moura que elle muito amaua. E fez emfirata que o
amaua muy to, e mamdoulhe dizer que o queria veer por se aver de conhecer com el
le por as amisades seerem mais firmes : e Alboazer Alboçadam maudoulhe dizer que l
he prazia dello e que fosse a Gaya e hi se veria com el. E rrey Ramiro foisse lá e
m tres gallees com fidalgos e pediolhe aquella moura que lha desse e fallaya chr
istãa e casaria com ella : e Alboazer Alboçadam lhe rrespomdeo, «tu teens molher e fil
hos della e és christãao, como podes tu casar duas vezes?»-e ell lhe disse que uerdade
era, mais que elle era tanto seu parente da rrainhadona Aldorá sa molher que a sa
mta egreja os parteria. E Alboazar Alboçadam juroulhe por sa ley de Mafomede que l
ha nom daria por todo o rreyno que elle avia, ca a tiinha esposada com rrey de M
arrocos. Este rrey Ramiro trazia huum grande astrollogo que auia nome Aaman, e p
er suas artes tiroua huuma noite donde estaua e leuoua aas galees que hi estauam
aprestes : e emtrou rrey Ramiro com a moura em huuma galee, e a esto chegou Alb
oazer Alboçadam e alli foy a contenida gramde antre elles, e despereçerom hi dos de
rrey Ramiro xxii dos boons que hi leuaua e da outra companha muy ta. E el leuou
a moura a Minhor, depois a Leom e bautizoua e pôslhe nome Artiga que queria tanto
dizer naquell tempo castigada e emsinada e comprida de todollos beens. Alboazer
Alboçadam tôuesse por mal viltado desto e pemsou em como poderia vimgar tall desomrr
a : e ouuio fallar em como a minha dona Aldorá molher de rrey Ramiro estaua em Min
hor, postou sas náaos e outras vellas o melhor que pode e mais emcuberto, e foy aa
quell logar de Minhor e emtrou a villa e filhou a rrainha dona Aldorá e meteoa nas
náaos com donas e domzellas que hi achou e da outra companha muita, e veosse ao c
astello de Gaya que era naquelle tempo de gramdes edificios e de nobres paaços. A
elrrey Ramiro contarom este feito, e foy em tamanha tristeza que foi louco huuns
doze dias : e como cobrou seu entendimento mamdou por seu filho o iffamte dom H
ordonho e por alguuns de seus vassallos que emtemdeo que eram pera gram feito, e
meteosse com elles em çimquo galees ca nom pode mais auer. El nom quis leuar gali
otes senom aquelles que emtemdeo que poderiam rreger as galees, e mamdou aos fid
allgos que rremassem em logar dos galliotes : eslo fez el porque as galees eram
poucas e por hirem mais dos fidallgos e as galees hirem mais apuradas pera aquel
l mester por que hia. E el cubrió as galecs de pano verde e emtrou com ellas por s
am Johane de Furado que ora chamam sam Johane da Foz. Aquelle logar de huuma par
te e da outra era a rribeira cuberta d aruores, e as galees emeostouas sô os rramo
s delias, e porque eram cubertas de pano verde nom pareciam. El deçeo de noite á ter
ra com todollos seus e fallou com ho iffamte que sse deitassem a ssô as aruores o
mais emeubertamente que o fazer podesse e per nenhuma guisa nom sse abalassem atáa
que ouuissem a uoz do seu corno, e ouuimdoo que lhe acorressem agram pressa. El
vistiosse em panos de tacanho e sua espada e seu lorigom e o corno ssô ssy, e foi
sse sóo deitar a huuma fonte que estaua sô o castello de Gaya : e esto fazia rrey Ra
miro por veer a rrainha sa molher pera aver comssclho com ella em como poderia m
ais compridamente aver dcreyto d Alboazar Alboçadam e de seus filhos e de toda sa
companha, ca tiinha que pello consselho delia cobraria todo, ca cometemdo este f
eito em outra manovra que poderia escapar Alboazer Alboçadam e seus filhos. E porq
ue elle era de gram coraçam puinha em esta guisa seu feito em gram vemtuira : mas
as cousas que som hordenadas de Deus vêem aaquello que a elle praz e nom assy como
os homeens peemssam. Aconteçeo assy que Alboazar Alboçadam fora correr monte comtra
Alafoões, e huuma sergente que avia nome Perona naturali de Framça que leuarom com
a rrainha seruia ant eia, lcuamtousse pella manhãa assy como avia de custume de lh
e hir pol agna pera as mãaos aaquclla fonte achou hi jazer rrey Ramiro e nom no co
nheçeo : e elle pediolhe per arauia da agua por Deus ca sse nom podia dalli leuamt
ar, e ella deulha per huum açeter, e elle meteo huum camafeo na boca, e aquell cam
afeu avia partido com sa molher a rrainha per meatade, e elle deusse a beuer e d
eytou o camafeu no açeter, e a sergente foisse e deu a agua aa rrainha. E ella vio
o camafeo e conheçeo logo, e a rrainha preguntou quem achara no caminho, e ella r
respomdeo que nom achara ncmguem, e ella lhe disse que mentia e que lho nom nega
sse e que lhe faria bem e merçêc : e a sergente lhe disse que achara hi huum mouro d
oemte e lazerado c lhe pedira da agua que benesse por Deus e quo lha dera : e a
rrainha lhe disse que lhe fosse por elle e o Irouuesse emeubertamente. E a serge
nte foy lá e disselhe «homem pobre a rrainha minha senhora vos mamda chamar, e esto
he por yosso bem ca ella mamdará pensar de vós :» e rrey Ramiro rrespondeo so ssy «assi
o mande Deus.» Foisse com ella e emtrarom pella porta da cámara, e conheçeo a rrainha
e disse «rrey Ramiro que te adusse aqui?» e elle lhe rrespomdeo «o vosso amor* e ella
lhe disse «veestc morto :» elle lhe disse «pequena marauilha pois o faço por vosso amor» e
ella rrespomdeo «nom me as tu amor pois daqui leuaste Artiga que mais preças que mi
m, mais vayte ora pera essa trascamara e escusarmeey destas donas e domzellas e
hirmcy logo pera ti.» A cámara era d aboueda e como rrey Ramiro foy dentro fechou el
la a porta com huum gram cadeado. E elle jazendo na camará chegou Alboazer Alboçadam
e foysse pera a ssa camará, e a rrainha lhe disse «se tu aqui tiuesses rrey Ramiro
que lhe farias?» o mouro rrespomdeo «o que elle faria a mym, mátalo com gramdes tormen
tos :» e rrey Ramiro ouuia tudo : e a rrainha disse «pois senhor aprestes o teens ca
aqui estáa em esta trascamara fechado, e ora te podes delle vimgar aa tua vontade
.» E elrrey Ramiro emtemdeo que era emganado per sa molher e que já dalli nom podia
escapai" senom per arte alguuma : e maginou que era tempo de sse ajudar de seu s
aber, e disse a gram alta voz, «Alboazer Alboçadam sabe que eu te errey mall, mostra
mdote amizade leuey da ta casa ta irmâa que nom era da minha ley : eu me confessey
este peccado a meu abade, e elle me deu em pemdemça que me veesse meter em teu po
der o mais vilmente que podesse, e se me tu matar quisesses que te pedisse que c
omo eu fezera tam gram peccado ante a ta pessoa e ante os teus em filhar ta irmãa
mostrándote boo amor, que bem assy me desses morte em praça vergonhosa : e por quamt
o o peccado que eu fiz foy em gramdes terras soado que bem assy a minha morte fo
sse soada per huum corno e mostrada a todos os teus. E ora te peço, pois de morrer
ei, que faças chamar teus filhos todos e filhas e teus parentes e as gentes desta
villa e me faças hir a este curral que he de grande ouuida e me ponhas em logar a
lto e me leixes tanjer meu corno que trago pera esto a tanto atáa que me saya a al
ma do corpo, e em esto filharás vimgança de mym, e teus filhos e parentes averam pra
zer e a minha alma será salua : esto me nom deues de negar por saluamento de minha
alma, ca sabes que per ta ley deues saluar se poderes as almas de todas as leys
.» Esto dizia el por fazer viir alli todos seus filhos e parentes por se vimgar déli
es, ca em outra guisa nom os poderia achar em huum, e porque o curral era alto d
e muros e nom avia mais que huuma porta per hu os seus aviam d emtrar. Alboazer
Alboçadam pemssou no que lhe pedia e filhou delle piedade e disse contra a rrainha
, «este homem rrepemdido he de seu peccado, mais ey eu errado a elle que elle a my
m, gram torto faria em o malar pois se pooem em meu poder.» A rrainha rrespomdeolh
e «Alboazer Alboçadam, fraco de coraçom! eu sey quem he rrey Ramiro, e sey de certo se
o saluas de morte que lhe nom podes escapar que a nom premdas delle, ca elle he
arteyroso e vingador assy como tu sabes : e nom ouuiste tu dizer como elle tiro
u os olhos a dom Hordonho seu irmãao que era moor ca el de dias por o deserdar do
rreyno? e nom te acordas quamtas lides ouueste com elle e te vemçeo e te matou e c
atiuou muitos boos? e já te esqueçeo a força que te fez de ta irmãa, e em como eu era sa
molher me trouueste que he a moor desomrra que os chrislãaos podem aver? Nom és per
a viuer nem pera nada se te nom vimgas : e sse o tu fazes por tua alma por aqui
a saluas pois he homem d outra ley e he em contrayro da tua, e tu dálhe a morte qu
e te pede pois já vem consselhado de seu abade, ca gram peccado farias se lha part
isses. » Alboazer Alboçadam olhou o dizer da rrainha e disse em seu coraçom «de máa ventur
a he ho homem que sse fia per nenhuuma molher : esta he sa molher lidima e tem i
ffantes e iffamlas delle e quer sa morte desomrrada! eu nom ei porque della fii,
eu alomgalaey de mim.» E pemssou em no que lhe dizia a rrainha em como rrey Ramir
o era arteyroso e vimgador e rreçeousse delle se o nom matasse e mandou chamar tod
ollos que eram naquelle logar, e disse a rrey Ramiro «tu veesle aqui e fezeste gra
m loucura ca nos teus paaços poderás filhar esta peemdemça : e porque sei se me tu teu
esses em teu poder que nom escaparia aa morte, eu querote comprir o que me pedes
por saluamento de tua alma.» Mamdou tirar da cámara e leuouo ao curral e poello sob
re huum gram padrom que hi estaua, e mamdou que tamgesse seu corno a tanto atáa qu
e lhe sahisse o fôlego. E elrrey Ramiro lhe pedio que fezesse hi estar a rrainha e
as donas e domzellas e todos seus filhos e seus parentes e çidadãaos naquell curral
! : e Alboazer Alboçadam fezeo assy. E rrey Ramiro tangeo seu corno a todo seu pod
er pera o ouuirem os seus : e o iffamtc dom Ordonho seu filho quamdo ouuio o cor
no acorreolhe com seus vassallos, e meteromsse pella porta do curral : e rrey Ra
miro deçeosse do padram domde estaua e veo comtra o iffamte e disselhe, «meu filho v
ossa madre nom moyra nem as donas e domzellas que com ella veerom, e guardadea d
e cajom ca outra morte merece.» Alli tirou a espada da baynha e deu com ella Alboa
zer Alboçadam per cima da cabeça que o femdeo atáa os peitos. Alli morrerom quatro fil
hos e tres filhas d Alboazer Alboçadam e todos os mouros e mouras que estauam no c
urrall, e nom ficou em essa villa de Gaya pedra com pedra que todo nom fosse em
terra : e filhou rrey Ramiro sa molher com sas donas e domzellas e quamto aver a
chou e meteo nas gallees. E depois que esto ouue acabado chamou o iffamte seu fi
lho e os seus fidallgos e contoulhes lodo como lhe aveera com a rrainha sa molhe
r, e el que lhe dera a vida por fazer della mais crua justiça na sa terra. Esto ou
uerom todos por estranho de tamanha maldade de molher, e ao iffamte dom Ordonho
sayrom as lagremas pellos olhos e disse comtra seu padre, «senhor a mym nom cabe d
e fallar em esto porque he minha madre senam tanto que oulhees por vossa homrra.
» Emtrarom emtom nas gallees e chegarom aa Foz d Ancora e- amarrarom sas gallees
por folgarem porque aviam muito trabalhado aquelles dias. Alli forom dizer a elr
rey que a rrainha sua choramdo, e elrrey disse «vaamola veer :» foy lá e pregumtoulhe
porque choraua, e ella rrespomdeo, «porque mataste aquelle mouro que era melhor qu
e ti.» E o iffamte disse contra seu padre, «esto he demo, que querees delle que pode
ser que vos fugirá?» e elrrey mandoua emtom amarrar a huuma móo e lamçalla no mar, e dês
aquelle tempo lhe chamarom Foz d Ancora. E por este peccado que disse o iffamte
dom Ordonho comtra sa madre disserom despois as gentes que por esso fora deserda
do dos poboos de Castella. Rey Ramiro foysse a Leom e fez sas cortes muy rricas
e fallou com os seus de ssa terra e mostroulhes as maldades da rrainha Alda sa m
olher, e que elle avia por bem de casar com dona Artiga que era d alto linhagem.
e elles todos a huuma voz a louuarom e ho ouuerom por bem, porque dissera por e
lla o gramde estrollogo Aman que ela era pedra preciosa antre as molheres que na
quelle tempo avia : e aimda disse mais que tanto avia seer boa chrislãa que Deus p
or sua honrra lhe daria geeraçom de homeens boos e de gramdes feitos e avemturados
em bem. E bem pareçe que Aman disse verdade, ca ella foy de boa vida e fdez o moe
steiro de Sam Juliam e outros ospitaaes lujtos, e os que della deçemderom forom mu
jto copridos do que o gramde astrolego disse, que foy Aman.
http://purl.pt/12270/2/cg-2698-a_s-v1-f2/cg-2698-a_s-v1-f2_item1/cg-2698-a_s-v1-
f2_PDF/cg-2698-a_s-v1-f2_PDF_01-B-R0300/cg-2698-a_s-v1-f2_0017_269-276_t01-B-R03
00.pdf

Últimos conselhos a seu filho (p. 22)


Quando morreo em Astorga, chamou seu filho dom Afonso Anriquez, e disse-lhe:
Filho, toda esta terra que te eu leixo de Astorga ataa Coimbra, nom percas ende
un palmo, ca eu a gaanhei com gram coita. E, filho, toma do meu coraçom algua cous
a, que sejas esforçado e sejas companheiro dos filhos d algo, e da-lhes sas soldad
as todas E aos concelhos, faze-lhes honra, em guisa como hajam todos dereito, as
si os grandes come os pequenos. E faze sempre justiça e aguarda em ela piadade agu
isada, ca se um dia leixares de fazer justiça un palmo, logo outro dia se arredará d
e ti uma braça, e do teu coraçon. E porem, meu filho, tem sempre justiça em teu coraçon
e haverás Deus e as gentes e nõ comsemtas em nehuua guisa que teus homees sejam sob
erbosos nem atrevidos em mal, nem façam pesar a nehuu, nem digam torto, ca tu perd
erias poren o teu boo preço se o nom vedasses.E chama agora os d Astorga e mandar-
t ey fazer a menagem da villa.E logo te torna e nom vaas comego mais que afora d
a vila e nõ na perdërás,ca d àqui conquererás o al adiante.E mando a meus vasslos que me vÃ
o soterrar a Santa Maria de Bragaa, que eu pobrei.
Morreo o conde dom Amrrique e guisarom-sse todos como o leuassem.E pregutou Affo
nsso Amrriquez os vassallos se hiria com seu padre a Bragaa, elles disserom que
fosse e nom se temesse nadada terra.Elle foy soterrar seu padre a Bragaa e, men
tre que o foy sotrrar, filharom-le toda a terra de Leom, que ell tijnha por sua,
mais nom lhe filharom Galiza, que nom poderom
http://purl.pt/12270/2/cg-2698-a_s-v1-f2/cg-2698-a_s-v1-f2_item1/cg-2698-a_s-v1-
f2_PDF/cg-2698-a_s-v1-f2_PDF_01-B-R0300/cg-2698-a_s-v1-f2_0015_254-261_t01-B-R03
00.pdf

A morte do Lindador (p. 24)


Dom Gomçalo Meemdez foy adeamtado por elrrey dom Affonsso Amriquez en a fronteyra,
e vemçeo muitas lides de que aqui nom fallamos. E huum dia himdo a correr apar de
Beja ouue duas lides, huuma com Almoliamar e a outra com Alboaçem rrey de Tanger.
E Almoliamar chamousse vemçedor das lides porque era auemturado em ellas, e avia
tall força que em todo homem que posesse a lamça nom lhe valia armadura que sse lhe
nom quebrasse que lha nom metesse pelo corpo. E ouuerom aquelle dia sua lide mui
to aficada e acharomsse ambos no campo e deromsse das lamças e forom a terra: e al
li faziam huuns e os outros de todas partes muyto pera liurar aquelle com que ve
era. E estamdo assy a lide muito aficada chegou dom Egas Gomez de Sousa filho de
dom Gomez Echigit, e dom Gomez Meemdez Gedeam, e os filhos de dom Egas Moniz de
rriba de Doiro e liurarom dom Gomçallo Meemdez e pozeromno em huum cauallo; e ali
foy mais aficada a lide assy que os mouros nom no poderom sofrer e foram vemçidos
e morto dom Amoleimar, e dom Gomçallo Meemdez chagado de chagas mortaaes. E os ch
ristãaos himdosse muy ledos pella vitoria que ouuerom, como quer que delles muytos
, despereçessem, oolharom per huum gram campo e virom viir mill de cauallo quamto
mais podiam: este era Alboaçem rrey de Tanger que passara aaquem mar por cobrar o
castello de Mertola que lhe tiinha forçado huum seu tyo, o quall castello fora de
huum seu avoo deste Alboaçem. Este Alboaçem quisera seer na lide primeyra d Almoleym
ar e nom pode porque Almol se coytou rompemdo a alua. E disserom a dom Gomçallo Me
emdez em como aquellas companhas viinham, e elle chamou todollos seus fidallgos
e fez com elles sua falla, que sabiam em como fora vontade de Deus de leixar com
elles dom Affomso Amrriquez por guarda daquella frontaria, nom pello elle mereçer
mais porque foi sua vomtade, e que como quer que cada huum delles esto mais mer
eçesse que lhes pedia por mesura que pois os mouros viinham tam açerca e em esto nom
podia aver comsselho alomgado que lhes prouguesse del dizer em esto aquello que
lhe pareçesse. E elles todos louuaromno como aquell que era muito amado delles, e
disselhes «senhores peçouos huum dom que me outorguedes o que vos quero pedir:» e ell
es louuaromno dizemdo que nom podia seer cousa que elle demandasse que lhes elle
s nom outorgassem, ca bem çertos eram que nom demandaria senom todo aguisado e sua
honrra delles. E porque elle estaua mall chagado e emtemdia em ssy que a lide n
om poderia sofrer por as gramdes chagas que tiinha no corpo que lhe dera Almoley
mar de que perdia muito sangue de que emfraqueçiam as pernas e os membros, temendo
sse do caualgar com a fraqueza, o que elle emcubria muy bem a todos, pediolhes q
ue se elle despereçesse naquela lide que ficasse dom Egas Gomez de Sousa em seu lo
gar que era de boa linhagem e de gramdes bomdades. E elles rrespomderom que Deus
o guardaria de todo cajam e de todo periigo, e sse tall cousa acomteçesse que ell
es fariam como lhe elle mamdaua. Este dom Egas Gomez siia casado com dona Gontin
ha Gonsaluez filha deste dom Gomçalo Meemdez o lidador. A dom Gomçallo Meen dez se m
udaua cada vez mais a cara do rrostro e emtemdeo sua fraqueza dom Affomso Ermigi
c de Bayam e disselhe que sse desarmasse e que sse assentasse no campo, ca elles
todos morreriam ant ell ou vemçeriam, e elle disse que Deus nom quisesse que el e
scomdesse sua força emquanto lhe podesse durar amtre taaes amigos. E neesto os mou
ros viinham a gram pressa como aquelles que tiinham que os christãaos achariam can
sados e chagados da primeira lide que ouuerom: e neesto disse dom Gomçallo Meemdez
, «senhores, estes mouros veem com gram loucura, vaamollos rreçeber.» Alli desarramcar
om todos comtra elles e en as primeiras feridas cayo dom Gomçallo Meemdez do caual
lo como aquell que estaua ja sem força. E os fidallgos que eram muito seus amigos
e estremados em bomdades quamdo viron seu caudell, desejamdo sa vida sobre todal
las cousas, faziam cada uez melhor creçendolhes as forças como aquelles que eram maz
ellados da perda de tall amigo que tiinham que ja o nom podiam vimgar se ali o n
om vimgauam. E por esta gram força açemdiasse cada uez mais e mais como aquelles que
eram de gram coraçom. E de todas partes do mundo em aquell tempo escrareçiam a sas
boomdades das cauallarias que faziam. Alli se espedaçauam capellinas e baçinetes e t
alhauam escudos e esmalhauam fortes lorigas, e feriromsse de tam dura força de tam
anhos golpes que os christãaos da Espanha e os mouros que desto ouuirom fallar dos
talhos das espadas que naquel logar forom feitos diserom que taaes golpes nom p
odiam seer dados por homeens. E esto nom foy marauilha por assy teerem, ca hi ou
ue golpes que derom per çima dos ombros que femderom meetade dos corpos e as sella
s em que hiam e gram parte dos cauallos, e outros talhauam per meyo que as meeta
des se partiam cada huuma a ssa parte: e disserom que Santiago os fizera com sa
mãao, pero a verdade foy esta, elles forom dados por os muy boos fidallgos com aju
da de Samtiago, e os mouros viromsse mal treitos nom o poderom sofrer e forom ue
nçidos. E os christãaos pereçerom melhor da quarta parte: e forom a dom Gomçallo Meemdez
e acharomno morto, e a tristeza e o doo dos fidallgos foy muy grande, e leuarom
no muito homrradamente. El era d idade de nouenta e çimquo annos, e alli lhe poser
om nome o boo velho lidador como quer que o ja ante chamassem avia gram tempo li
dador. E oolharom por as chagas que tiinha e ouuerom por gram marauilha de lhe t
anto poder durar a força, ca ellas eram grandes e estauam em logares mortaaes.
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/linhagem.htm

D. Sancho I (p. 27)


ElRey dom sancho filho do sobredicto Rey dom afonso anrriquiz. Este foy casado c
om a Raynha dona doce filha dElRey daragom. E ouue della o infante dom Sancho, e
o ifante dom pedro, e o ifante dom fernando que foy conde de frandes, e o ifant
e dom Anrriqui, e a ifante dona mafalda que foy casada com ElRey dom anrriqui de
castella, e a ifante dona sancha que foy gouernador do moesteiro de loruaão, e a
ifante dona branca que morreo na auga dalfajar e jaz soterrada no dicto moesteir
o de sancta cruz de Coinbra, e a ifante dona Tareija que foy casada com ElRey do
m afonsa de liom, que era sobrinho desse Rey dom sancho filho de sua irmãa, e fino
use esta Raynha dona doce. E entom filhou ElRey huma dona de que se nom pode sab
er o nome e ouue della dom Martim sanchez, e dona Orraca sanchez, e finou-se est
a dona E filhou dona Maria paaez rribeira a que elle deu Villa de Conde e ouue d
ella dona Tareija sanchez, e dom gil sanchez, e dona Costança sanchez, e dom Ruy s
anchez. Este Rey naceo onze dias de nouenbro da Era de mil e cento e nouenta e d
ous anos. E uiueo Cinquoenta e oito annos, E finou-se na era de mil e dozentos e
quareenta e noue annos. E jaz soterrado no moesteiro de sancta cruz de Coinbra
junto com seu padre ElRey dom afonso.
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/cbreves.htm

D. Afonso II (p. 27)


ElRey dom afonso filho de dicto Rey dom sancho foy easado com a Raynha dona Orra
ea, filha delRey dom afonso de castella, e ouue dela o ifante dom Sancho, e o if
ante dom afomso que foy Conde de bellonha, e o ifante dom fernando, e a ifante d
ona lianor. Este Rey naeeo oito dias dabril da era de mil e dozentos e vynte e q
uatro annos. E finouse na era de mil e dozentos e saseenta e huum annos. E asy u
iue trinta e sete annos, e jaz soterrado em o seu moesteiro d Alcobaça.
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/cbreves.htm

D. Sancho I (p. 28)


ElRey dom sancho, que foy chamado capello, filho do sobredicto. Este se cassou c
om huma dona a que chamauäo micia lopez per seu conselho. Este rrey por algumas co
usas que fez em periuizo dos direitos do Regno e da justiça os prellados sopricaro
m ao papa e os fidalgos e concelhos. E por ello hordenou o papa Arrequerimento d
os sobredictos que uiesse o conde dom afonso de bellonha seu irmãao gouemar estes
Regnos de portugal e do algarue. E este rrey dom sancho Regnou em portugal vynte
e quatro annos. E foisse para castella e allo andou dous annos. E finouse em to
ledo na Era de mil e dozentos e oitenta e cinquo annos. E jaz soterrado na see d
e Tolledo, que ele fez acabar aa sua custa.
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/cbreves.htm
D. Afonso III (p. 28)
ElRey dom affonso, que foi Conde de bellonha, irmãao que foy do sabredicto. Este f
oy cassado com a Raynha dona beatriz filha dElRey dom afonso de castella. E ouue
della a ifante dona branca, que foi senhora das Olguas de burgos, e o ifante do
m denis, e o ifante dom afonso, e a ifante dona sancha, que morreo em Seuilha e
jaz em alcobaça, e outros dous filhos que morrerom pequenos. E huum jaz em alcobaça
e outro em o moesteiro de sam vicente de fora. E este rrey Regnou ataa dezesete
dias de feuereiro da Era de mil e trezentos e dezesete annos. E assy regnou tryn
ta e dous annos. E jaz em o seu moesteiro dalcobaça.
http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/cbreves.htm

Tomada de Silves aos mouros (p. 29)


despois que a deichou o mestre segura de todo o que lhe cumpria foi a sellir e t
omouo por força e entaõ foi cercar paderna que he hum castello forte e mui bom de gr
aõ comarca em deredor entre albofeira e a serra, e estando sobre elle mandou gente
ao termo de silves que focem tomar a torre de estombar que dantes fora sua, e f
oraõ lá e ouveraõna outra vez, e quando alamafom seu Rey délies que estava em Silves sob
e como aquellas conpanhas alli eraõ sahio a elles do luguar com a mais conpanha qu
e pode, porque lhe diçeraõ que estava alli o mestre com todo seu poder, e ho mestre
como sobe que era fora alçouçc loguo de sobre paderna e veihoçe lançar sobre silves : al
amafom indo para a torre de estombar achou novas que naõ era alli ho mestre e que
naõ estava alli mais gente que aquella que tomara a torre e a defendiaõ, porôm quis lá c
hegar e loguo mui á preça se tornou para a villa e loguo se temeo do que era, e ho m
estre lançoulhe huma sillada que lhe tinha já tomado as portas e as gentes repartida
s por ellas, e ElRey alamafom quando islo vio querendo entrar por força por a port
a que chamaõ de Zoya porque era luguar dezembarguado, encontrouce alli com ho mest
re que tinha a guarda della, e ellRey moro vinha com todos os seus juntos, e all
i se vio ho mestre com grande trabalho com elles e foi a pelleya com elles em hu
m campo fora junto com a villa honde hora está huma igreija que se chama sancta Ma
ria dos martyres, e os moros fizeraõ muito por cobrar a porta e se metteraõ sobre a
torre da Zoya por que he bem sahida e marcos para fora : mais isto naõ lhes presto
u nada, porque os chrisptaons andavaõ em volta com elles e assi entrarão com elles p
ella porta da villa, e alli foi a pelleya taõ grande em guiza que mais chrisptaons
morrerão alli que em otro luguar que se no alguarve tomaçe, e EllRey moro andou pel
la villa em deredor e quizeraçe acolher pello postigo da treiçaõ a hum alcarcere em qu
e elle morava e achou o postigo embargado : foi para se acolher por otra porta d
a villa e achoua cerrada, e entaõ de dezesperaçaõ deo de esporas ao cavallo e fugio e
passando por hum pego afogouçe ali e o acharão despois morto, e agora chamao áquelle l
anço athé a porta da villa, e mandou EllRey hum rico luguar o pego de alamafom : dos
moros que ficarão se homem que avia nome dom pero csqrenho em otro lanço
acolherão ao alcarcere e o trabalharão de ho defender do muro athé huma torre que desp
ois chamarão de Joaõ quanto podiaõ, e ho mestre nao o quis combater, que de boim, e es
te Joaõ de boim tinha otro lanço da torre segurouos que viessem á villa se quizessem e
aprovei- que despois chamarão do seo nome até o combate do tacem suas herdades e lh
e conhecessem aquelle senho- alcarce de EllRey : afora estas capitanias eraõ ahi o
tros rio que conheciaõ ao Rey moro e asi fez aos otros lu- com elles, convém a saber
: dom fernaõ loppes pryor do guares que tomou e naõ combatiaõ os alcarceres em que ho
spital e ho mestre de aviz e o chancelier mor dom se os moros recolhiaõ mas segura
vaos a que viveçem João de unhaõ e mem soares e joaõ soares e egas lounas terras por ser
em aquellas aproveitadas, e despois foi renço; e por esta guiza linha EllRey comba
tida a villa alli edificada huma igreja cathedral e foi feita a cidade : mui for
temente de dia e de noite e mui pouquas vezes entaõ se tornou ho mestre a paderna
que antes tivera lhe davaõ luguar, e tomoulhe EllRey o mar com a frota cercada e t
omou a villa e o castello por força, e naõ se e atraveçoulhe no canal do rio navios gr
osos muy bem pleytearaõ com elles, matando os moros por dous cavai- armados e anco
rados da parte de fora excontra o mar, feiros freyres que ahi matarão : esta villa
de paderna se porque se algumas gallés de moros vieçem que lhe naõ mudou naquelle lug
uar que agora chamaõ albufeira; po- podessem fazer nojo e lhes foce embargada a pa
rte do rêm ainda a otra eslá murada e corrigida com seu cas- rio, e asi ficou o lugu
ar todo cercado aoderedor : quando tello e huma cisterna mui boa dentro.
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XXXXX D DINIS E D ISABEL P. 30

Batalha do Salado (p. 32)


E asi estauam os campos e uales e montanhas cubertas deles que os mais dos chris
taãos que hy foram tiinham que tanta caualaria de mouros nam podia auer em lodo af
rica nem en asya, e muytos pensaron que deos mostraua esto aos christaãos porque I
bis quebrantase os corações e lhis acoymar os seos pecados. Outros tiinham que porqu
e os mouros som grandes cstrologos que faziam parecença de fantasmas domces de cau
alo, e nom eram tantos como pareciam. Estauam tam famosamente ordinhados pera li
dar que bem era de pensar que posto que todos espanhoes e francezes e alemães e in
greses ali estcuesem que aueriam lides pera vm dias.
Os reis cristãos houverom seu acordo que fossem partidos em duas partes: el-rei de
Castela pela riba do mar, el-rei de Portugal per antre as montanhas e o campo.
E ordinharom e defenderem que nenhuns nom se apartassem a pelejar, nem jogassem
gineta, e que todos fossem ferir nas maiores azes a mantenente. Os reis partirom
-se ali; e um foi a destro e o outro a sestro. E el-rei Dom Afonso de Portugal e
ra de grandes feitos e, quanto mais olhava pelos Mouros, tanto lhi mais e mais c
recia e esforçava o coraçom, como homem que era de grandes dias e tinha que Deus lhi
fezera grã mercê em o chegar àquele tempo u podia fazer emenda de seus pecados por sa
l vaçom de sã alma e receber morte por Jesus Cristo. Ele -, de todo bom contenente f
alou ali com os seus e disse-lhes assi:
— Meus naturais e meus vassalos, sabedes bem em como esta terra da Espanha foi per
duda por rei Rodrigo e ganhada pelos Mouros e em como outra vez entrou Almançor e
em como os vossos avós donde descendedes, por grão seu trabalho e por mortes e lazei
ras, ganharem o reino de Portugal; em como el-rei dom Afonso Anrequiz, com que a
eles ganharom, Lhis deu honras e coutos e liberdades e contias, por que vivesse
m honrados, e nom tanto solamente fez esto a eles, mais por a sua honra dava os
maravedis aos filhos que jaziam nos berços e os padres serviam por eles; em como o
s reis que depôs ele vieram aguardarom esto. Eu, depois que vim a este logo, fiz a
quelo que estes reis fezerom e, se alguma cousa i há pêra emendar, eu o corregerei,
se me Deus daqui tira. Olhade por estes Mouros que vos querem ganhar a Espanha,
de que dizem que estão forçados, e hoje este dia a entendem de cobrar, se nós nom form
os vencedores. Poede em vossos corações de usardes do que usarom aqueles donde vinde
s, como nom percades vossas mulheres nem vossos filhos, e o em que hão-de viver aq
ueles que depois vós vierem; os que i morrerem e viverem serão salvos e nomeados pêra
sempre.
Os fidalgos portugueses lhi responderom:
— Senhor, os que aqui estão hoje este dia vos farão vencer ou i todos prenderemos mort
e.
El-rei foi desto mui ledo. Disse a Dom Álvaro Gonçalves de Pereira, priol da Ordem d
a Cavalaria de São João, no reino de Portugal, que fezesse mostrar a vera Cruz do Ma
rmelar, que lhi ele mandara5 trager. E o priol dom Álvaro de Pereira mandou vestir
um crérigo de missa em vestimentas alvas e a vera Cruz em uma hasta grande, que a
pudessem ver de todas partes, e fez o crérigo cavalgar em um mu muito alvo, e tro
uxe a vera Cruz ante el-rei.
E disse-lhi o priol dom Álvaro:
— Senhor, vedes aqui a vera Cruz. Orade-a e poede em ela fiúza e pedide-lhi que Aque
le que prendeu morte e paixom em ela, por vos salvar, que vos faça vencedor destes
que som contra a sua fé. E nom dultedes que, pela sua vertude e por os bons fidal
gos vossos naturais que aqui tendes, havedes de vencer estas lides e vós havedes d
e vencer primeiro.
El-rei e aqueles que com ele estavam forom mui ledos e esforçados destas palavras
do priol dom Álvaro e disserom:
— Assi o cumpra Jesu Cristo.
E fezerom sua oraçom à vera Cruz muito humildosamente.
Alcarac, o turco, viu como se partiam os Cristãos; mandou dizer a Ali Albofacem qu
e os Cristãos eram partidos em duas partes e a uma queria entrar pela costa das mo
ntanhas, pêra darem na saga; e que este saber, que os Cristãos faziam, que bem cuida
va ordinhar que fosse a seu dano deles. E que ele fezesse sã lide com os que iam p
ela riba do mar, ca ele em pequena hora venceria aqueles cristãos e seriam logo co
m ele a ferir na saga daqueles que com ele lidassem.
Mandou Alcarac reis e infantes e outros altos homens acometer os Cristãos com amet
ade dos XXXII mogotes dos ginetes e arqueiros, mui rijamente, os uns na dianteir
a e os outros pelas costaneiras e os outros na saga.
Ali se volveu a lide dos reis cristãos e dos mouros mui danosa e mui crua e sem pi
edade. Os Mouros eram muito esforçados e feridores de todas partes: aos uns davam
azagaiadas, aos outros de lançadas a mantenente e aos outros a espadadas e aos out
ros de frechadas de arcos turquis, que eram tão espessas que tolhiam o sol. Ali caía
m cavaleiros e cavalos mortos, de uma e da outra parte; ali [veríades] cavalos sem
senhores andar soltos e os cavaleiros que eram em terra filhavam-se pêlos lazes d
as capelinas e dos bacinetes e davam-se das brochas que as poinham da outra part
e.Os Portugueses andavam per a lide ferindo e derribando e diziam uns contra out
ros:
— Senhores, este é o nosso dia em que havemos de escrarecer e este é o dia da vitória e
da honra dos fidalgos. Este é o dia da salvaçom de nossas mulheres e filhos e daquel
es que de nós descenderem. E este é o dia em que havemos semelhar nossos avós, que gan
harom a Espanha. Este é o dia da salvaçom das nossas almas; nom se perca hoje per no
ssa fraqueza: firamo-los de toda crueldade.
O esforço era mui grande em eles e faziam tão bem e tão igual que todo homem que os vi
sse sofrer e ferir e matar em seus enmigos que os nom louvasse de todo prez e ho
nra de cavalaria.
Os Mouros nom se lhis olvidava aquelo por que ali vieram, ca eles refrescavam ca
da vez dos mogotes que estavam folgados e feriam os Portugueses a destro e a ses
tro, assi que o afincamento era tamanho de todas partes que homem nom poderia mo
strar. Os Portugueses forom ferir nas IIII azes dobradas, assi como Lhis fora ma
ndado pêlos reis. Esto his foi grave de fazer pelo afincamento grande dos mogotes.
Ali se renovou a lide mui dorida de crueza e de sanha.
Ali se esmalhavam fortes lorigas e britavam e especeavam e talhavam escudos, cap
ilinas, bacinetes, per os grandes e duros golpes que se davam. As chagas eram mu
itas, de que se vertia muita sangue. Os Portugueses assi forom aguentando e sofr
endo sã batalha em tal pressa e coita, como ouvides, mais todo seu trabalho nom Lh
is valia nada, porque, u tinham maltreitos, os Mouros refrescavam-se cada vez do
s que estavam folgados. Aquela hora foi irada de coita e de pressa aos que estav
am em tal batalha, ca a sã coita, dos Cristãos, era tão grande com o grão trabalho que h
aviam, que homem nom o poderia contar. Com toda esta pressa, seu feito deles era
haverem mãos e língua, esforçando-se uns a outros, dizendo:
— Senhores, nembrade-vos como Jesu Cristo recebeu morte por nos salvar; esto devem
os nós fazer por Ele: todos prender morte hoje este dia por salvar a sã fé. E os que m
orreremos hoje seremos com Ele no seu reino celestial, u há moradas tão nobres que s
e nom podem dizer por línguas. Os que daqui sairmos seremos louvados de honra, de
vitória, de prez, de bondade de toda cristandade, que estão em grã coita e tormenta, c
om muitas lágrimas por sãs faces, esperando que por nós e por os nobles cavaleiros de
Castela serão hoje salvos. Estando em este afincamento qual ouvides, os nembros co
m que haviam de ferir Lhis enfraqueciam, assi que os nom podiam reger senom mui
gravemente. As vozes deles eram baixas e tão mudadas que se nom entendiam uns a ou
tros, como aqueles que começaram a lide a hora de prima e estavam passante meio-di
a. Os Mouros refrescavam-se cada vez mais e mais dos que estavam folgados. E os
gritos deles e das trombas e anafis e de altâncaros e atavaques e gaitas assi rete
niam que parecia que as montanhas se arreigavam de todas partes. Esta hora foi a
os Cristãos de escuridõe, de amargura, de gimidos. E diziam contra Jesu Christo:
— Senhor, porque entraste no uentre de Uirge Maria e naciste della e foy uirgem an
te parto e depois parto, Senho, porque te prouue de receber morte por saluaçõdos cri
stãaos, Senhor, porque resurgiste ao tercer dia a tirar os que iaziã em treuas e em
coita, Senhor, porque nos mostraste caminho de saluaçõ pelos sagramentos que nos dis
te, louuasemos e seguisemos, pois de todo esto oie falaces a toda a cristaidade?
Estando os Cristãos em esta pressa e coita e aventuira sem esperança, chegarem três ca
valeiros ao Priol dom Álvaro de Pereira e disserom-lhi:
— Senhor, que fazedes? Os Cristãos estão em perdiçom assi como vedes, si Deus i nompõe out
ra salvaçom. As azes de coinha e do curral e cinco mogotes estão folgados e nom é cous
a que, como vierem a [ lidar, que os possades sofrer. A vera Cruz nom tendes aqu
i?
O Priol foi desto mui coitado polo que ele dissera a el-rei dom Afonso, que, por
a bemaventurada santa Vera Cruz, havia de vencer primeiro. E disse a grã voz:
— Ai Deus, poder-me-íades dizer u ficou? E os cavaleiros lhi disserem:
— Senhor, si, ca nós vimos ficar o crérigo em este vale.
[...] E os X mil cavaleiros de aláraves da uma az da coinha que estavam folgados e
ntrarom per antre os Cristãos e fenderom-nos, que os uns partirem a uma parte e os
outros à outra. Ali se renovou a lide muito afincada, assi que as muito alvas lor
igas e as ervas do campo eram naquele lugar coloradas dele. Os Cristãos eram tão for
a de força, por o grão trabalho que receberom aquele dia e por o muito sangue que pe
rderom, que os nembros nom podiam reger, pêro os seus corações eram tão fortes e esforçado
s em fazer o que cada um podia, que bem é de entender os fez extremados em beldade
de cavalaria sobre las gentes do mundo, pêra o seu nome per eles haver de ser lou
vado. Quem poderia contar quanto mal sofrerem e houverom aquela hora os Cristãos?
Estando em esta pressa e esta coita, chegou o cavaleiro que foi em busca da vera
Cruz, com seus três criados bem armados, eles e seus cavalos, e tragia a vera Cru
z antre seus braços em grande hasta, e os três cavaleiros ante ele; e, u viam a maio
r espessura dos Mouros, ali entrava com a vera Cruz. [...] [Os Cristãos], que esta
vam já muito desanimados por a força que perderem, olharom por ela e virom-na andar
antre os Mouros e logo em si sentirom que a graça de Deus era com eles, porque se
acharom aquela hora valentes e esforçados como em começo da lide, e disserem a grand
es vozes:
— Senhor Jesu Cristo, louvado é o Teu nome, ca assi praz a Ti. Senhor piadoso, que a
corres a quem te praz, mantém-nos em estas forças que nos deste, ca hoje o Teu nome
será espargudo e nomeado antre todas as gentes do mundo.
Ali se mudou a aventura que estava de choro e de lágrimas, de grã lástima e amargura a
toda a cristandade, e tornou-se em toda ledice e em todo goivo.
Os Cristãos seguirem a vera Cruz per u ia. Os IIII mogotes dos LIII mil cavaleiros
que estavam folgados pêra prender os Cristãos, como vos já hei mostrado, virom que os
Cristãos iam pêra mal e que a az da coinha andava destruindo em eles, pensarom que
a lide era finda e os Cristãos vençudos, vierom ferir em eles, a lançar muito afincada
mente sãs azagaias pêra os prender, dando grandes algaridos e poendo sãs espadas de to
da sã força, e diziam a grandes vozes:
— Cativos! Cativos!
Mais todo esto nom lhis valia de nada, ca aos Cristãos creciam-lhis mais e mais as
forças: entendiam que andavam cobertos da graça de vera Cruz, em que tragiam os olh
os, e andavam per a lide derribando e matando e estruindo à sã vontade, como fidalgo
s que estavam mui mazelados de muito mal que passarem; e andavam per a lide, com
o leões bravos. As espadas que tragiam eram muito alvas: ali se tornarom vermelhas
com sangue que corria pêlos manipules de las lorigas ata os cotovelos, pêlos mui gr
andes golpes que se ali faziam.
Os Mouros virom que seu feito ia pêra mal de todo, disserem que seu Mafomede nom h
avia poder pêra os defender. Ali começarom de fugir e grã parte deles pêra a az do corra
l, que estava contra a ribeira do mar, que ainda estava folgada. Aqui se cumpriu
o que disse o Priol dom Álvaro Pereira a el-rei dom Afonso: que ele, pela santa v
era Cruz e pêlos nobres fidalgos, havia de vencer primeiro.
Os castellaãos ouueram sa contenda grande com os mouros em pasar a ribeira do sala
do que era em riba do mar. Esto durou gram dia antre eles porque as azes dos mou
ros se refrescauam e hy moreo grandes gentes. Mais porque os castellaãos eram boõs c
aualeiros ouueromnos de forçar e pasarom.a ribeira.
Ali foi a lide tam grande antre eles que todo home que os uise caualeiros castel
laãos bem poderia dizer que melhores caualeiros nom auia no mundo. Os mouros se re
ferscauam mais e mais, e porque uiinham folgados feriamnos de toda força.
E estando em esta présa os mouros uirom em como os da sa ley eram uençudos por os po
rtugueeses, e em como os ja seguiam dultarom que se mais durasem na lide que os
portugueeses lhi dariam nas costas, e começarom de fugir, pero esto nom lhis ualeo
muyto, ca os portugueeses lhis sairom adeante. Ali foy a morte deles grande por
que os castellaãos os leuauam em encalço e hyam ferindo e deribando em eles.
El Rei almofaccm quando uyo os seus sayr do campo dise muyto alta uoz os olhos c
ontra, o ceo,
«Ay deos poderoso, ay deos uencedor, porque desemparasli este uelho coylado de présa
de mezquiidade, coberto de mingua de uergonha sobre todolos Reis do mundo? Ay u
elho, oic perdiste o teu nome que auyas cm toda eyropa em toda africa e em asia.»
Lançaua as maãos da barua que tiinha muy longa e caã e mesauaa toda e daua grandes fer
idas cm seu rostro. En aquel tempo chegou alcarac a el e di sclhi, «Senhor esto no
m uos compre porque quando a sanha e a yra de deos uem hu lhe praz todolos conse
lhos e saberes nom ualem rem- Ydeuos áaz do curai que eu mandei que uos guardasem
e per ela chegaredes a aliazira cm saluo e parliredes uosa morie, que está muyto a
cerca, ca poderá seer que desmanharam os caualeiros que cm ela cstam e nom uos ate
nderam.» Dise el Rei almafacem «dime que caualeiros teens em ela.» Respondeulhi alcara
c, «Senhor eles forom xim mil em começo e mandey cu os v mil cm refrescamento das li
des quando ui que todalas algazunas eram iá a lidar e tardauam que nom uenciam e a
si ficarom íx mil.» Dise el Rei, « dime alcarac eses ix mil que dizes que ficarom soom
bons caualeiros?» «si senhor, dise alcarac, ca eles todos som alárabes.» Disc el Rei «Alc
arac sabe que as costulaçoões do ceo se mudam muy tosle segundo o corimenlo do eco d
as pranetas, e as boõas uentuiras e as maas destas costulações nacem pelo poderio que
lhis deos ordinhou. E se ora ouuemos maa
costalaçom auelaemos boõa. Estes cristaãos ueem dcsacaudelbados e teem que iá nom podemo
s tornar a eles, se-
gueme alcarac e nom me désempares c tornemos aa lide. » En esto entrou anlre estes i
x mil caualeiros e tornou
o rostro contra hu uiinham os cristaãos, e dise a grandes uozes, «Senhores nenbreuos
que eu sô o uoso Rei al-
mafaccn auenturado e uencedor de todalas lides que fiz, sabedes que eu uenci e s
oioguey os Reis de soioro-
meça e de tremeccm, e as grandes gentes «dos alaraues1» e pasci as montanhas e cori to
dalas areas e a gram terra
de puscoa e de almadia, sabedes que a espanha foy de uosos auoos, estes cristaãos
péros que uolateem forçada
nom pareccrom oie em canpo xm mil caualeiros, e muytos deles som mortos e som fo
ra de força por o gram traba-
lho que oie ouueroin, nom percades as famas de bondades de caualeria que sempre
ouuestcs e os filhos e as filhas
e as molhcres fremosas, e as grandes requezas que aqui trouucstes.» E disc muyto a
lta uoz «mafomede mafo-
mede, nom desampares os teus.» Deu das esporas ao caualo muy rigamenlc contra os c
ristaãos que yam por seu
encalço e dise «marim marim que eu sô o Rei almofacem uencedor de todo o que cometi.» E
indo a todo seu poder
pera ferir da espada, dom alcarac o turco e o Infante bazayne seu filho del Rey
encalçaronno e filharonno pela
redea do caualo diseromlhi «senhor nòm he oie o dia uoso, auedcuos por preso, ca nom
queremos que aqui moi-
rades, porque se os cristaãos em uós topam.asi como todos ucem em tropel nom auedes
defensom.» Alcarac entre-
gou el Rei aaquel Infante seu filho e a xx caualeiros e mandou que se fosem indo
com el em meyo da az do
coral. Alcarac ficou na caga com dous mil caualeiros os milhores que achou na az
do coral c colhia asi todolos
mouros que uiinham desbaratados e enuiauaos adeanle a aza do coral e yasc muyto
a paso com grande aroído
datauaques e danafiis, e os cristaãos que yam per o encalço que em el topauam afasta
uaos de si fazendo sas es-
poroadas contra eles muy fremosamente, asi que todos aqueles que em el topauam n
om guanharom com el prez.
Asi foy defendendo sua caga que todos os que se colherom á az do coral forom en sa
luo.
Alcarac depois que entendeu que a az do coral era em saluo dise a el Rei albofac
em, «senhor senhor nom
filhedes tresteza nem esmanhedes ca tempo aueredes pera filhardes uingança,» diso el
Rei «nom pode filhar uin-
gança o que com pesar more, eu a esta morte nom poso escapar por a nobre caualaria
que perdi que eu aporei
antre as gentes dafrica c dasya, e me tu prendiste cm tempo que ainda eu poderá ui
ngar e cobrar mea onra.
E por mais pouco talhei eu poucos dias ha as cabeças aos que forom com o infante a
bomelique meu filho en a
lide que fez com os andaluzes porque nom morerom com cl.» Respondeulhi alcarac «senh
or se tu a mim talhas a
cabeça eu nom recebo gram perda porque a mea uilhicc lie grande e tenho pouco de u
iuer. E mais me praz da
morte ca ueer eu a tua que oie nom se poderá escusar.» Disc cl Rei «como sabes lu que
eu recebera morte?» Dise
el «senhor si porque cu ui cousas estranhas e tarn marauilhosas que por hornees no
m se poderia pensar.» «Que
cousas forom esas tam estranhas?» dise el Rei «dizedemeo.» Respondeu alcarac, disc «senh
or cu andando par-
tindo e resfrescando caualeiros en as lides hu entendia que faziam mester uy mi
mil caualeiros porluguceses fazer
por guanhar prez e honra de caualaria sobre todolos que cu uy e ouuy falar. Ga a
huma meya legua das aazes
tendudas os mandei comeler pela dcanlcyra e coslaneyras e caga ha oito mil caual
eiros de genetes e darqueiros,
c bem tiinha que aqueles acabariam a lide a gram présa e que como fosem uençudos que
logo uos acoresem com
todalas outras gentes que estauam antre as montanhas c o campo, e eles en lidand
o com estes vin mil uiinham
quanto podiron c ferirom nas un aazes tendudas. E porque estas mi azes eram dest
remados caualeiros, tirei
afora dos vm mil mogotes que ali ueerom os v mil pera uolos mandar. E uy estes p
ortoguceses asi reuolucr a lide c
ferir Iam estranhamente que scmelauam diaboos do inferno. Estes v mil que tirei
afóra, e seis mil que tiinha folga-
dos todolos mandei cometer. A lide era tam dura c tam espesa dos muitos que nós er
amos, que parecia que os cri-
stãos non podiam iá reger os nembros. E por a lide aucr de uiir mais aginha ácabamenlo
por acorer a uós, man-
dei a az da coinha que estaua naquel direito que feriscili cm eles. E como esta
aaz da coinha entrou antre eles
partios os huuns a huma parte c os outros aa outra, c com o gram aficamcnlo que
Ibis fezerom vyos Iam cansa-
• llcsiiunçailo
Page 6
OS LIVROS DE LINHAGENS 189
dos eles e os caualos como quer que lhis os corações nom falecesem, que mandei por o
s mi mil mogotes que da
primeira posera pera os matar e catiuar. E quisera-os poer com eles pera os estr
oyr e yrme pera uós com toda
a outra companha. Estando asi desbaratados como uos mostro, entrou per antre os
uosos huum gram caualeiro
antresinado de sobresinaaes uermelhos el e o caualo de prata. E tragia em sas m
aãos huma muy
fremosa e grande asta, en cima dela huma cruz que esprandecia como o sol e lançaua
de si rayos de fogo. Esta
foi mazelada de coita de door e de présa descorodoe a todas uosas gentes, ca en co
mo nos foi mostrada, esa
ora forom os portugueeses em toda sa força, e seguirom aquel caualeiro por hu ya.
Os caualeiros eram tarn uiuos
e tarn esforçados e os caualos tam ligeiros que hu queria chegar e ferir logo hi e
ram. Os golpes deles eram taaes
que o poynham sas espadas nom auya hy mais mester meestre. Eramos os que lidauam
os com eles xxxviii mil, em
pequena ora nom sarom do campo xn mil, os quaes os cristaãosyam seguindo e destroi
ndo alen da gram montanha
que estaua en cima de nós, quando quiserades tornar a lidar. E porque senhor eu uy
estas cousas todas teniéndo-
me se fosedes lidar asi como quiserades que ueescm os portugueeses da outra part
e a que uós nom poderades
auer defensom, metiuos em poder de uoso fdho. E se eu crei aqui teedes meu corpo
fazede corno uos prouuer.»
Diso el Rei almofacem, «Alcarac nom poso creer taaes cousas como me dizes ca som c
ontra natura, quatro mil
caualeiros manteer lide a tantos e tam boos como os meus eram! En acabamento per
huum paao auerem de uen*
cer!» Respondeu alcarac, «Senhor nom douidedes na uerdade, e ainda mais sabede que c
omo aquel caualeiro
pareceu com aquela grande asta en o cabeço que estaua acima donde lidauades á uista
dos uosos, que logo a esa
ora forom uençudos, e deus uos quis bem porque nom deceu a fondo, ca sy asi aconte
cera, forades perdudo uós
e a aaz do coral. E ainda mais sabede que os caualeiros pareciam grandes gigante
s e os caualos mayores que
grandes camelos. E se douidades desto perguntat estes caualeiros muytos que aqui
estam que pasarom todo.» E
os caualeiros diserom que aquela era a uerdade. Dise cl Rei albofacem «alcarac, as
oluote esa cabeça porque ueeste
de longas terras a meu seruiço com gram poder de caualaria que oie perdiste.» Nembro
use el Rey albofacem de
sas molheres e de seus filhos e da caualaria e donas e donzelas e auer sen conta
que trouuera pera conquerer a
espanha. E deceu de scu caualo e pos os geolhos en terra e o alcoram ante si e o
s olhos ao ceo, e dise a gram
uoz que o ouuyam todos, «Senhor deus poderoso do ceo e da terra e nom ay outro sin
on tu soo, Senhor deus que
per ti foy escrito este alcoram que deste a mafomede teu mescieyro que nos mostr
ase por cl a nosa uiuenda e o
seruiço que te auiamos de fazer, porque desemparaste e mouiste mea nobreza mea hon
ra que eu auia sóbrelos
Reis dafrica! Senhor porque desemperasle o meu senhorio que era temedo e guardad
o c todos meus Reinos e
prouincias e principados! Senhor porque desemperasle a mea boa uentura que sempr
e por li ouue em todalas
lides que fiz! E porque desemperasli meus filhos que me escusauam nas fazendas q
ue eram iá melhores que mim,
e a mea nobre caualeria que eu auia prouada cm muylas fazendas, e partiste de mi
m meas molheres e meas
filhas que eu muy to amaua sobre todalas cousas! E senhor por se esto perder por
alguum pecado que tu tecs
que te eu fiz nom ouueraa tu porque estroyr tam alias donas e donzelas de sangue
c tam alta fremosura e me-
terlas em poder dos cristaãos! Ora me farás uiuer cm presa em coita em tresteza em p
esar, peçote pois cu tanto
mal recebi que me des conselho c esforço como eu esto posa uingar.» O seu doo e a sa
manzela e coy ta era tam
grande que todos aqueles que o uirom ouucrom por eslranho como aquela ora nom mo
rco. E o porque se mais
manzelaua si era por a lide que lhi partira alcarac e o infante boçaynne seu filho
quando o prenderom ca cl hi
quisera morer, logo em aquela hora ouue conselho com os seus altos hornees que l
hi ficarom e forom todos cm
acordo que se pasase alem mar a demandar caualarias e se uiir com elas outra uez
sobre a espanha por se uin-
gar. El fezeo asi foise aalem mar c juntou cento e xx mil caualeiros e grande au
er que poserom que seeria viu
ceñios e l camelos caregados douro. Estando em esto uecromlhi meseieiros que aboem
ar Rei de túnico c da ber-
bería lhe filhara uilhas c castellos e que profaçaua dei porque fora uençudo de tam po
ucos cristaãos. El filhou
desto gram sanha e daqueles caualeiros que liinha pera uiir sóbrela espanha, apart
ou deles cinquoenta mil dos
melhores e foise a el. E de tremecen hu cl era ata hu era el Rei aboamar ha melh
or de quatrocentas legoas, c
fez com el sa lide e uenceo e filhoulhe o reino de tonixe c gram parle da berbería
e moreu hy el Rey aboamar.
E tornándose albofacem pera seus reinos com gram prazer pera uiir conquerer a espa
nha e mandara iá gram
parte dos seus pera sas terras pera os achar folgados, huum senhor dos alaraues
que chamaron anza a que el fc-
zera muito deserdamento sobe como uiinha e ouue seu conselho com os boos daquela
terra que estauam dei man-
zelados porque os tiinha soiogados e per muytos dos seus parentes que lhi desper
ecerom em esta gram lide de
tarifa. Forom cm acordo que lidasem com el. E juntarom gram companha e sairom a
el e uenecrono. E ali se
perderom todos os seus que com cl uiinham. El Rei albofacem uiose malandante ent
rou no mar em tres galees
e portou em huma uila sua que chamam almadia, en a uila estauam gentes do Infant
e aboanem sou filho que
el leyxara cn seu logar por guarda dos reinos. E aquelas gentes pelciarom com cl
e mataromlhy huum seu filho
que auia nome o Infante nazar. E uyndose el Rey albofacem sem uentura com compan
has poucas que podo auer
ca as outras eram iá tornadas com seu filho o Infante boanem chegou ao Rio de marc
e que lie no Reyno de suiu-
rumeça que el guanhara. E sayo a cl este enfante aboenem seu filho c lidou com el
e o padre foy uençudo. E co-
Jhouse aa gram montanha de aazayra de que era senhor cecio que cl nunca poderá con
querer. E cecio lhi fez hy
muy ta honra, e uiose muy desbaratado de todo e dos Reinos c moreu com pesar. E
asi mostra ihezu chrislo seus
milagres contra os que querem yr contra a sa fe. Dos que acharom mortos e catiuo
s dos mouros en os campos e
seras destas grandes lides de tarifa forom lvii mil c trezentos.
Aqui nom falamos dos fidalgos caslellaãos e portugueeses ca os feitos estremados f
ezerom poios corpos em
estas lides, porque todos faziam tam bem e tarn ygual o que a cada huum pertecci
a, ca fea cousa semelharia de
louuar os huuns c outros nom, e se alguns ouucsem contar as marauilhas e bondade
s que faziam seeria o liuro
tam grande que os que o leesem com a grande escritura se anoiariam, e os outros
de que aqui nom falasem ficariam
reprehendudos.
http://purl.pt/12270/2/cg-2698-a_s-v1-f2/cg-2698-a_s-v1-f2_item1/cg-2698-a_s-v1-
f2_PDF/cg-2698-a_s-v1-f2_PDF_01-B-R0300/cg-2698-a_s-v1-f2_0008_184-191_t01-B-R03
00.pdf
http://www.scribd.com/doc/5710147/FInf-LitPort-Textos-Medievais-Batalha-do-Salad
o

XXXXXXXX p. 43

XXXXXX p. 45
Casamento de Isaac (p. 48) SCANER
Abráam era ja velho, e chamou Eliezer procura^ dor de sua casa, e disse-lhe : poem
a tuá maáo so a minha coxa , e jura-the pelo Deus do Ceeo, que non tomes pera meu f
ilho Ysaac molher das filhas dos gentijos , antre que eu morro , mas irás a minha
terra, e aa minha geeraçom, e tomarás dela molher pera meu filho , e se nem huá quiser
víjr contegOj hon seerás tu teúdo a est juramento ; e jurou Eliezer teehdo a maão So á pe
rna de Abraam , e porem dezemos que ele jurou pela sement d Abraain, a qual avia
de ser em Jesu Christo , que sabia Abraam , que avia de nacer dele. E tomou Eli
ezer dez camelos , e foi-se , e levou de todos os beés j que avia Abraam seu Senh
or, e chegou a Mesopotamia a Caram Cidade de Nacor, qtie era irmaíio d Abraam , e
fez deitar os camelos pera folgarem a cerca duum-poço, que estava ant a Cidade. E
quando foi hora de vespeía vijnham as molheres da Cidade a tirar dugâ daquel poòo ; e
Eliezef fez oraçom a nostro Senhor , que lhe demostrase se alguá molher daquela gent
e avia de casar com Ysaac filho de seu Senhor, e que ele a podese conhecer em es
ta guisa, que el pidiría augua aaqtielas moínereí, e todas lhe nem quisessem dar augua
afora aquela, que ouvesse de seer molher de Ysaae. E ele dezendo esto a nostro
Senhor , aqtíe vem Rebeca filha de Batuel , que era sobrinho d Abraaín , filho de se
u irmaão Nacor , e ela enchera seu cantaro d*au* gua. E Eliezer pediu augua , e to
das a» outras noft lha quizerom dar , senon ela, que lha deu y e demais disse-lhe:
eu tirarei auga do poço pera os; tens camelos; e tirou augua, e deu de beber aos
eametos de Eliezer. E ele teve mentes em ela caladament seer a perteeneente pera
Ysaac seu Senhor , e preguntou-lhe cuja filha era , e se avía em casa de seu padr
e lo-gar, em que ele podese pousar ; e ela dise-lhe , que era filha de Batuel, f
ilho de Nacor, irmaáo d Abraam. Enton deu Eliezer a Rebeca vincos d ouro ppra as o
relhas , e argolas d ouro , que tragia , e ela foi-se correndo a casa de seu pad
re , e dise-lhe todo o que lhe disera Eliezer . Enton huu irmaão de Rebeca, que av
ia nome Labám , saiu a Eliezer , e trouve-o pera casa, e adestrou os camelos , e p
ose-lhe palha e feo, e lavou os; pees aoshospedes, e pose-lhe pam que comesem ;
e Eliezer non quísse comer ataa que contou todo aquelo por que veera. E disse-lhe
como era servo d Abraam seu parente, e louvou-o de muitas cousas, e dise-lhe* vo
ontade e a pitiçom d Abraam em feito do casamento pera seu filho Ysac , e o jurame
nto,. que lhe fezera, e como nostro Senhor exoviu a sua- oraçom estando a par do
poço , quando lhe mostrou Rebeca pera molher de Ysac , filho d Abraam , quando el» d
eu auga a el, e a seus camelos, como dito he».
http://books.google.com.br/books?pg=PA33&lpg=PA34&dq=%22quando%20lhe%20mostrou%2
0rebeca%20pera%20molher%2F%22&sig=oJrM-EWb_tpAANfC8poGQUACusY&ei=RpdxS6G1AceJuAe
nh8HTDA&ct=result&id=FokAAAAAYAAJ&ots=CeUQZIP7Eu&output=text
Como Eliezer levou Rebeca pera molher de Ysaac (p. 49) SCANER
Respondeu Batuel; padre de Rebeca, e I.abam, seu irmaúo ¿ e diserom a Eliezer: A pal
avra d Abraam veo de nostro Senhor Deus, e a tua oraçom , e nos non podemos dezer
nein huá cousa contra sua voontade ; ex Rebeca ant ti está, .toma-a, e seja molher d
e teu Senhor Ysaac. Quandd esto ouviu Eliezer, adorou nostro Senhor , e deu-lhe
graças ¿ porque asi aderencára o seu caminho : e tirou vasos d ouro e de prata, e vest
iduras, e deudas a Rebeca , e deu doas a sua madre , e a seu irmaáo. E levantou-se
pela mahháa Eliezer, e rrogou que o emviassem, cajá tardara muito eno caminho, e ci
emais que seu senhor Abraam era velho ; e eles rogarom-no que estevese com eles
ataa dez dias , e ele non quis, e diserom eles : pois asi he, chamemos a moca,
e saibamos dela qual he a sua voontade ; e chamarom Rebeca , e preguntarom-lhe
se queria ir coni Eliezer , e ela disse que lhe praziá. E levou Eliezer comsigo Re
beca, e chegarom a Geraris , hu morava Ysaac ..... E aveo asi que Ysaac andava p
ela carreira que vai pera o poco, ca el saíra enton pera andar cuidando pelo campo
, e chegou Eliezer, e Rebeca com ele 5 e quando ela viu Ysaac ¿ e soube que aquel
era o que avia de seer seu marido, deceu do camelo , em que hia , e tomou huíi vi
stidura , e huú manto alvo , e apostou-se o melhor que pôde , e Ysaac levou-a pera a
camera, em que soia morar sua madre Sarra , e tanto a amou , que temperou a doo
r , que avia da mort de sua madre com o amor dela.
http://books.google.com.br/books?pg=PA35&dq="veo de nostro senhor"&cd=1&id=FokAA
AAAYAAJ&output=text
O rato, a rã e o minhoto (p. 50)
[C]comta-sse que hu rrato, amdando sseu caminho para emderençar sseus neguoçios, ueo
arriba de ha augua, a quall ell nom podia passar. E estamdo assy cuydadoso arri
ba da augua, veo a ell hua rrãa e disse-lhe:
- Sse te prouuer, eu te ajudarey a passar esta augua.
E o rrato rrespomdeo que lhe prazia e que lho agradeçia muyto. E a rrãa fazia esto p
era emganar o rrato, e disse-lhe:
- Amiguo, legemos ha linha no pee teu e meu e ssube em cyma de mym.
E o rrato feze-o assy. E, depois que forom no meo da augua, a rrãa disse ao rrato:
- Dom velhaco, aqui morredes maa morte.
E a rrãa tiraua pera fundo, pera afoguá-lo de so a augua, e ho rrato tiraua pera çima.
E, estando em esta batalha , vios hu minhoto que andaua voamdo pello aar e tomo
u-os com as hunhas e comeos ambos.
Em aquesta hestoria este doutor rreprehemde os homes, os quaes com boas palauras
e doçes de querer fazer proll e homra a sseu proximo, (e) emganosamente lhes faze
m maas obras, porque all dizem com as limguoas e all teem nos sseus corações.
E esto sse demostra per a rrãa, a quall dizia que queria passar o rrato e tijnha n
o sseu coraçom preposito de ho afoguar e matar, como dicto he em cima.

O lobo e a grua (p. 51) SCANER


Comta-sse que hüa vez húu lobo avia gramde fame e achou carniça que avia muytos ossos.
E, comendo com gramdc pressa da dicta carniça, atrevessou.sse.Ihe húu osso na guarg
uamta, peila quall rrazom o llobo estava em pomto de morte e amdava buscamdo phi
sico que lhe tirasse ho osso e achou a grua e rrogou.lhe aficadamente que lhe ti
rasse o dicto osso, prometemdo.lhe que, sse o desse ssaão, que lhe faria muyto alg
uo. E a grua, ouvimdo sseu prometimento, prometeo de lhe dar ssaude e disse: «Abre
a boca». E o Ilobo abrio a boca e a grua lhe tirou o osso que trazia na guargamta
travessado. Depois a grua lhe rrogou que lhe desse o que lhe prometera e ho (1
lobo lhe disse: « Eu fize a ty mayor graça que tu fezeste a mym porque eu dey a vida
a ty, ca eu te podera talhar ho colio com os meus dcmtes quando tu meteste a ca
beça e o teu coilo na minha boca e nom te quys matar. Sseja descomtamemto do serviço
que tu me fezeste». E per esta guisa ficou emguanada a grua.
Per esta hestoria ho doutor nos demostra que nós nom devemos d.ajudar os maaos hom
ens porque os maaos nom agradeçem nem ssom conhoçemtes do bom serviço que lhe outrem f
az, mais muytas vezes dam maao grado a quem lhe faz bom serviço. No exemplo diz qu
e a emgratidoõe sseca a fomte da piedade.

O vilão que recolhe a serpente (p. 51) SCANER


Comtasse que, rio tempo do imverno, húa sserpemte muy fremosa jazia a rriba dhta a
uga corremte. E jazia tamto fria com o rregelado que nom ssabia de ssy parte. E
hüu villaão, passamdo per o dicto rribeyro, vio a dicta serpente muyto fremosa com m
uytas diversas cobres. E ouve doo delia porque a via assy morta de frio e tomou.
a e meteo•a no seo. E Ievou.a a ssua casa e mandou fazer muy gramde foguo e tirou
a ser pemte do seo e pose.a açerqua deite e aqucemtava.a o milhor que elte podia.
E, quando a serpemte foy bem queemte, vio•sse poderosa e levamtou.sse cm pee comtr
a o vilaão, deytamdo comtra elie peçonha pelia boca e queria.ho morder. E o villaão, v
eemdo esto, fez quanto pôde ataa que a lamçou fora dc casa com gram trabalho.
Em aquesta estoria o doutor nos emsina que nom devemos ajudar os maaos homées quam
do os veemos em algüus priigos porque, sse algüu bem lhe fazemos, ssempre delies ave
remos maaos mereçimemtos, como fez esta coobra que deu maao gualardom àqucll que a l
ivrou do priigo da morte.

O rato da cidade e o da aldeia (p. 52) SCANER


Comta.sse que hüa vez hüu rrato que morava em hQa çidade, arndando a hüa aldea omde mora
va outro rrato sscu amiguo, quarndo este rrato da çidade chegou a aldea omde morav
a, este rrato sseu amiguo ouve corn elle grarnde prazer e dey.lhc a corner favas
e triiguo e erllvancos, corn outros mamjares. E, depois que assaz cornerom, o r
rato da cidade deu muytas gracas ao rrato da aldea de quarnta cortesia Ihe fezer
a. E rrogou.lhe que viesse aa cidade corn elle aa casa ornde morava, que aly Ihe
emtemdya de dar muytas delicadas higuarias. Tamlo o rrogou quc o dicto rrato ss
e veo corn cli aa cidade. E ievou.ho a hQa cozinha omde die morava, na qual avia
rnuytas galinhas e came de porco, corn outros boos comeres. E rrogou.Ihe que co
messe aa sua voomtade. E, estamdo elles assy comendo, sseguros, a sseu talamte,
chegou o cozinheiro e abrio a porta da cozinha. E o rrato da cidade, que ssabia
o custurne da casa, fugio Ioguo, e ho outro rrato, porque nom ssabia o custume,
ficou. E o cozinheiyro, amdamdo empos eli corn hüu paao na maão pera o matar, feri•o m
uy mali, empero fugio.lhe e partio.sse muy mali ferido. E o rrato da çidade, veemd
o.o, chamou•ho que outra vez viesse a comer com elie e nom ouvesse medo. E o outro
rrato lhe rrespomdeo: «Amiguo meu, ora fosse eu jajuum do comvite que me fezeste.
A mym praz mais de comer triiguo, favas e hervamços em paz que galinhas e capoões c
om temor e prilguo de morte. A paz, a quali eu ssemprc tenho comiguo, me faz a m
ym os meus comeres seerem delicados. E porem teus comeres guardaos pera ty, ca e
u me comtemto do que hey». E as palavras dictas, partirom.sse.
Em aquesta estoria o doutor louva a proveza e diz que, quamdo a probeza se toma
com alegria de coraçom, nom sse deve chamar probeza, mas rriqueza, porque a probez
a he a mays ssegura cousa que no mundo sseja, quc milhor he a pra‘eza que a rriquc
za, a qual rriqueza ssempre faz viver o homem com gram temor. E o probe que sse
comtenta da ssua proveza mais rrico he que ho rrico que nom sse comienta, mais s
sempre numca he farto.

A águia e o cágado (p. 53) SCANER


Comta.ssc que hüa vez hãa aguya levava hüu cáguado com os pees, no haar, e nom ssabia co
mo o comesse. E, assy estamdo, ssaltou peramte elia hüa gralha e disse aa dicta ag
uia:
«Queres que te dê hãu bom comsselho? Alevamta .te bem em çima no aar e abre as hunhas e
Icixa cayr esse cáguado, e cairá em terra e quebrarntar.sse.ha, e emtorn o poderás com
er, ca he muy ssaboroso de comer». E aguia feze.o assy. E peila Iirnguoa da gralha
morrco ho cáguado.
Em aquesta hestoria o doutor amccstra os homées que devem temperar ssuas iinguoas
e nom as devem teer ssem freo, poitas quaaes pode proçeder dapno e escamdalo a sse
u proximo porque da limguoa que nom he temperada sse sseguem arroydos e mortes d
e homëes e outros imfiimdos males. E hüu proverbio diz: A limguoa nom ha osso, mais
rrompe o dosso».

Os membros do corpo e o ventre (p. 54) SCANER


Comia este poeta este emxemplo e diz que os pecs e as maãos acusarom o ventre, diz
cmdo:
«Nós ssempre ssosteemos grande afam em andando dc ca e de lia cm muytos trabalhos e
todo nos este vemtre come e numca sse farta nem comtenta. E elie está ocçioso e nom
faz nem dura trabalho. Nom lhe demos dc comerw. E assy o fezerom. Ho vcmtrc começo
u a avcr [ame e disse aas maãos e aos pees: «Amygos, dade.me de comer, ajudade.mc, c
a eu mouro com ffames. Ás maãos e os pees diserom que lho nom queriam dar. E dizian.
Ihe: «Sse tu queres comer,
toma affam, assy como nós fazemos, doutra guysa nom queremos que comas quanto nós tr
abalhamos». E em esta perfia esteverom per espaço dc dias, tanto que os pees começarom
de enfraquecer e outrossy as maãos. E os pees diserom: «Nom podemos andar». E as maao
s di serom: Nom podemos trabalhar». Veemdo esto, as maãos tomarom do pam pera dá.llo a
a boca. E a boca e o corpo eram ja postos em tamta fraqueza que os demtes da boc
a nom sse poderom abrir. E per esta perfia o corpo morreo. E, cite morto, morrcr
om os pees e as maãos com todolos outros nembros.
Pom este poeta emxemplo per nosso amaestra mento e diz rreprehendendo os avaros,
os quaaes nom querem ajudar o sseu proximo nas ssuas neçessydades. Ainda diz que
nhúu homem sse deve reputar d.atanto, por muy poderoso e rrico que sseja, que algüas
vezes nom Lhe faça mester o serviço doutrem e doutros que ssorn de muy mays pequena
condiçom que cli, porque hüu amyguo ssenpre lhe conpre serviço doutro, e hãu amyguo ser
ve o outro amiguo. Outrossy diz que, bem que o homem sseja tanto maao que nom qu
eira perdoar a outrem, deve perdoar a ssy medes, por nom sseer rreputado crueil
e maao.

XXXXXXXXXXXXX S. Nicolau p. 55

Uma promessa cumprida (p. 57)


Hua santa uirgem, que auja nome Dorothea, era leuada pera degolar pella fé de Ihes
u Christo, e h u escolastico leterado, que auia nome Theofilo, escarnecendo dela,
disse-lhe:
— Tu, espossa de Christo, emvia-me do parayso do teu esposo rosas e pomas.
E a santa uirgem lhe respondeo:
— Certam te asy farey.
E ella, quando ueo ao luguar onde auja de seer degolada, fez oraçõ a Deus. E, acabad
a a oraçom a Deus, logo apareceu ante ella h u menjno, que tragia h u pano de linho mu
y aluo tres maçãas muy nobres e trem rosas muy fremosas. E disse-lhe a santa uirgem:
— Rogo-te que leues esto a Theofilo e di-lhe: Ex aquelo que pidiste a Dorothea que
te emviasse do parayso do seu esposo.
E a santa uirgem foy degolada e acabou seu marteyro. E Theo¬filo estaua recontando
e prometim to que lhe fezera a santa uirgem, escarneçendo della. E aque o menino ch
egou ante elle cõ o pano do linho aluo que tragia aquellas maçãas marauilhosas e as ro
ssas muy fremosas e dise-lhe:
— Iirmãao, ex aquj aquello que te prometeu a uirg muy santa Dorothea, que te emuija d
o parayso do meu esposo.
[58] E entõ Theofllo tomou as pomas e as rosas e braadou muy grande uoz, dizendo:
— Uerdadeiro Deus he Ihesu Christo.
E diseron-lhe os companheyros:
— Ensandeces ou dizes esso em jogo?
Respondeu Teofilo:
— Eu nõ soom sandeu, n ey talante de jogo, mais creo uerda¬deyram te que Ihesu Christo he
uerdadeyro Deus, ca agora he o mes de feuereyro e toda esta terra de Capadocia
he cuberta de geada e de friu o nõ ha em ella folhas verdes n flores neh as, pois don
de pensa¬des que ueerõ estas maçãas con suas folhas e estas rosas tam fremosas?
E elles diserom:
— Esso nõ sabemos nós.
E Theofilo lhes disse:
— Eu faley a Dorothea, quando a leuauã a degolar, e dise-lhe em escarnho: Molher, hu
te uaas? E ella me disse: uou-me para o meu amigo e meu esposo Ihesu Christo, q
ue me conujda pera muy santas uodas e muy solempnes manjares para o seu parayso.
E eu lhe disse como a sandia: Quando fores em esse parayso, uja-me das rosas e d
as maçãas. E ella me prometeu que o farya. E agora, tanto que foy degolada, ueeo a m
i h u menjno, que me parece que nõ he mais de idade de quatro ãnos, e chamou-me a de p
arte e falou-me tam perfectamente que a m parecia soer eu rustico ante el e amost
rou-me e deu-me este pano cõ estas tres rosas e tres maçãas e dise-mo: Aquella uirgem
santa Dorothea te uja esto, asy como o prometeu, estas doas do orto do seu esposo
. E, tanto que as eu tomey e começey de braadar, logo aquelle moço nõ pareçeu mais, e eu
creo que era angeo de Deus.
E logo Theofilo começou a braadar:
— Bem au turados som aquelles que creem em Ihesu Christo, e aquelle que dá a elle a su
a fé he uerdadeyro sabedor.
E degolarõ-no con outros e foy-se pera o parayso do deleyto, que he eno çeeo. E asy
mostrou este leterado a sua doutrina par paçiençia, ca, segundo diz h u santo padre,
a doutrina do barõ conheça-sse pela paci çia, ca, quanto o hom he meos paci te, tanto se m
stra por meos sinado.
http://www.google.com.br/url?sa=t&source=web&ct=res&cd=1&ved=0CA0QFjAA&url=http%
3A%2F%2Ftexsituras.files.wordpress.com%2F2009%2F02%2Fmaterial_litport.doc&ei=z6J
xS8_xCcKSuAeD86nTDA&usg=AFQjCNEh0P8CBgA8tN507v__AmAWin63qw

Um fisico prodigioso (p. 59)


“Exemplo. Riu hom? passaua per acerqua de huu edificio muy fremoso, ?no qual eram
todalas cousas que perteenciã pera deleitaçom, e achou tres donzellas estar chorando
acerqua dos ryos que sayam daquel castello, porque a senhora do castelio etaua
tam emferma que era chegada aa morte. E disse-lhe aquel hom? caminheyro: Ha espe
rança de uida em uossa senhora? E as donzelas responderõ: Os fisicos desse[s]perarom
da sua uida, mais elIa espera cõtinuadam?te huu [filho] de huu rey que ha em sy t
res condiçõões muy nobres, s. elIe he muy fremosso e grande fisico e he uirgem: E dise
-lhe o mããcebo: Eu sõõ esse que ella espera, que hay todas essas cousas muy conpridam?te
. E entõ leuaram aquellas donzellas aquelle mãcebo ao castello muy cortesm?te. E a s
enhora do castello o recebeo muy bem e con grande reuer?ça. E elIe começou a fazer s
ua cura e suas meezinhas aa senhora do castello, e ffez [uu banho de sangue do s
eu proprio braço deestro, que fez sair, e posse a senhora em aquelle banho. E tant
a foy a uirtude daquel sangue muy casto, que cõ a queentura do sangue foy tornada
a aquella senhora a qu??tura natural, em guisa que sayu sãã e curada daquel banho, d
epois que foy banhada em elIe sete uezes. E, quando elIa uiu tam grande benefici
o como este, rogou a aquel fisico que lhe prouguesse de curar quinhentos caualey
ros que forõ mortos de muy cruel morte e jaziam emçarrados em hua coua muy escura, e
o fisico veeo a aquella coua e braadou alta uoz: 00, caualeyros, leuãtade-uos e a
legrade-uos e cantade louuores ao uosso liurador. E os caualeyros forom logo tor
nados aa vida e começarõ braadar em hua uoz, dizendo todos: Hu he a mãão deestra daquell
e que assy ssaa, hu som os dõões bemau?turados? Vem trigossam?te e da a nos as doas
que perdemos em outro tempo.
http://www.bdtd.ndc.uff.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1863

O Beberrão (p. 60)


Hữu homẽ rico husaua muyto ẽ beuer ẽ nas tauernas ẽ tal gujsa que gastou o que auja. E dep
ois meteu-se a serujr os que beujã ẽnas tauernas, por tal que beuesse cõ eles. E dessy
per tempo auorrecerõ-no e lançarõ-no de ssy. E, elle estando desesperado, ueeo a elle
o diabo ẽ semelhãça dhữu homẽ uelho e disse-lhe:
- Vay tu aa tauerna he eu te darey dinheiros que te auõdem, por tal que des aazo a
os outros que beuã mais.
E elle assy o fez. E fazia muytas pelleyas ẽna tauerna e muytas beuedices, de que
se segujam mujtos pecados y mujtos maaos feytos. E elle fez hi hữu feito tal per q
ue o mãdarõ ẽforcar. E poserõ-no na forca per tres uezes u nữca pode morrer, porque o diab
o o guardaua e sostijnha. E hữu santo homẽ, que sabia a maa vida daquele homẽ, ueẽdo est
o, marauilhou-se e ẽtendeu que o diaboo o gurdaua. E fo[i]-sse hu ẽforcauã aquelle homẽ
e começou escõjurar o diaboo pela uirtude de Ihiesu Christo que lhe disse[sse] a uer
dade daquelle feito, porque nõ podia morrer aquelle homẽ maao. E o diaboo respondeu
e disse que, como quer que elle deseiasse a morte daquelle homẽ, porque morrya ẽ pec
ado, pero, porque elle fazia hir ao jnferno tantos homẽs que ya os diaboos erã cansa
dos ẽ os levar e receber, que porẽ o guardaua que nõ morresse.
http://www.filologia.org.br/filologo/pub_filologo31.html

XXXXXXXXXXXXX p.61

XXXXXXXXXXXXX p.64

XXXXXXXXXXXXX p.67

XXXXXXXXXXXXX p.68

Episódio cavaleiresco (p. 72)


Véspera de Pinticoste foi grande gente assuada em Camaalot assi que podera homem i
veer mui gram gente, muitos cavaleiros e muitas donas mui bem guisadas. el-rei,
que era ende mui ledo, honrouos muito e fezeos mui bem servir. E toda rem que e
ntendeu per que aquela corte seeria mais viçosa e mais leda todo o fez fazer.
Aquel dia que vos eu digo, direitamente quando querriam poer as mesas – esto era h
ora de noa – aveeo que ua donzela chegou i mui fremosa e mui bem vestida e entrou
no paaço a pee, como mandadeira. Ela começou a catar de ua parte e da outra polo paaço
e preguntavamna que demandava.
– Eu demando, disse ela, por dom Lançarot do Lago. É aqui?
– Si, donzela, disse uu cavaleiro. Veedelo: está a aquela freesta, falando com dom G
alvam.
Ela foi logo pera el e salvouo. Ele, tanto que a vio recebeua mui bem e abraçoua,
ca aquela era ua das donzelas que moravam na ínsoa da Lediça que a filha Amida delre
i Peles amava mais que donzela da sua companha.
– Ai, donzela! – disse Lançalot –que ventura vos adusse aqui, que bem sei que sem razom
nom veestes vós?
– Senhor, verdade é; mais rogo-vos, se vos aprouguer, que vaades comigo aaquela fore
sta de Camaalot; e sabede que manhãa, ora de comer, seeredes aqui.
– Certas, donzela – disse el – muito me praz; ca teúdo e soom de vos fazer serviço em tôdal
s cousas que eu poder.
Entam pedio suas armas. E quando el-rei vio que se fazia armar a tam gram coita,
foi a el com a raïa e disse-lhe:
– Como leixar-nos queredes a atal festa, u cavaleiros de todo o mundo veem aa cort
e, e mui mais ainda por vos veerem ca por al – deles por vos veerem e deles por av
erem vossa companha?
– Senhor, – disse el – nom vou senam a esta foresta com esta donzela que me rogou; mai
s cras, ora de terça, seerei aqui.
Entom se saío Lançarot do Lago e sobio em seu cavalo, e a donzela em seu palafrem; e
forom com a donzela dous cavaleiros e duas donzelas. E quando ela tornou a eles
, disse-lhes:
– Sabede que adubei o por que viim: Dom Lançarot do Lago se irá comnosco.
Entam se filharom andar e entrarom na foresta; e nom andarom muito per ela que c
hegarom a casa do ermitam que soía a falar com Gualaz. E quando el vio Lançarot ir é a
donzela, logo soube que ia pera fazer Gualaaz cavaleiro, e leixou sua irmida po
r ir ao mosteiro das donas, ca nom queria que se fosse Gualaaz ante que o el vis
se, ca bem sabia que, pois se el partia dali, que nom tornaria i, ca lhe convenr
ia e, tanto que fosse cavaleiro, entrar aas venturas do reino de Logres. E por e
sto lhe semelhava que o avia perdudo e que o nom veeria a meude, e temia, ca avi
a em ele mui grande sabor, porque era santa cousa e santa creatura.
Quando eles cheguarom aa abadia, levarom Lançarot pera üa camara, e desarmarom-no. E
vëo a ele a abadessa com quatro donas, e adusse consigo Gualaaz: tam fremosa cous
a era, que maravilha era; e andava tam bem vesådo, que nom podia milhor. E a abade
ssa chorava muito com prazer. Tanto que vio Lançarot, disse-lhe:
– Senhor, por Deos, fazede vós nosso novel cavaleiro, ca nom queriamos que seja cava
leiro por mão doutro; ca milhor cavaleiro ca vós nom no pode fazer cavaleiro; ca bem
crcemos que ainda seja tam bõo que vos acharedes ende bem, e que será vossa honra d
e o fazerdes; e se vos el ende nom rogasse, vó-lo devíades de fazer, ca bem sabedes
que é vosso filho.
– Gualaaz – disse Lançalot – queredes vós seer cavaleiro?
El respondeo baldosamente:
– Senhor, se prouvesse a vós, bem no queria seer, ca nom há cousa no mundo que tanto d
eseje como honra de cavalaria, e seer da vossa mão, ca doutra nom. no: queria seer
, que tanto vos auço louvar e preçar de cavalaria, que nenhüu, a meu cuidar, nom podia
seer covardo nem mao que vós fezéssedes cavaleiro. E esto é üa das cousas do mundo que
me dá maior esperança de seer homem bõo e bõo cavaleiro.
– Filho Gualaaz – disse Lançalot – stranhamente vos fez Deos fremosa creatura. Par Deos,
se vós nom cuidades seer bõo homem ou bõo cavaleiro, assi Deos me conselhe, sobejo se
ria gram dapno e gram malaventura de nom seerdes bõo cavaleiro, ca sobejo sedes fr
emoso.
E ele disse:
– Se me Deos fez assi fremoso, dar-mi-á bondade, se lhe prouver; ca, em outra guisa,
valeria pouco. E ele querrá que serei bõo e cousa que semelhe minha linhagem e aaqu
eles onde eu venho; e metuda ei minha sperança em Nosso Senhor. E por esto vos rog
o que me façades cavaleiro.
E Lançalot respondeo:
– Filho, pois vos praz, eu vos farei cavaleiro. E Nosso Senhor, assi como a el apr
ouver e o poderá fazer, vos faça tam bõo cavaleiro como sodes fremoso.
E o irmitam respondeo a esto:
– Dom Lançalot, nom ajades dulda de Galaaz, ca eu vos digo que de bondade de cavalar
ia os milhores cavaleiros do mundo passará.
E Lançalot respondeo:
– Deos o faça assi como eu queria.
Entam começarom todos a chorar com prazer quantos no lugar stavam.
http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaPortuguesa/IdadeMedia/Demanda_do_Sa
nto_Graal_trecho.htm

Um episódio do Josep ab Aramatia (p. 74)


esta maneyra foy elrey na pena e cada dia ho omem bom da naao vinha ha ele e dep
ois ha molher, e o omem bom lhe dezia todas as palavras que ho podiam comfortar,
e a molher lhe dezia toda trayçam, qua ella ho descomfortaua em corpo e em alma.
E, quando veo aos sete dias, veo ho homem bom da nao e dise-lhe que se lhe acheg
ava ho prazo de ser lyvre, se se soubese guardar e ter-se comtra ho diabo. E elr
ey lhe dise:
— Senhor, como me saberya eu bem guardar?
E ele lhe dise:
— Se te oje toda via poderes guardar de asanhares teu Senhor, tuu seras lyvre de t
odos os penares e de todas estas más trevas que te am de vir, se te nom guardares
de crer comselho que seja comtra sua vomtade. E, quamdo d’aquy pasares, averás pasad
as as gramdes trebulações.
Emtam se foy o senhor da barca e elrey ficou muy ledo e pôs bem em seu coraçam que já,
por causa que visse, nom se partysse da pena. Asy esteue, até que foy ora de noa.
Entam oulhou por ho mar e via vyr h a muy gramde nao e muy rica, mas nam via hy h
omem nem molher. A nao era muy formosa e guarnyda de muy fer¬mosas cousas e veyo-s
e direyto a pena, e, tamto que chegou, comeou-se h mao tempo e (a nao chegou a pena
o tempo) começou a fazer trovõis, chuveiros tam fortemente que parecia que a pena q
uerya cair, e nom ouvera homem que ho vise que nom cuydase que se vinha afim.
Elrei estaua na pena e a chuva ha ferya de todas partes e nom sabia omde me foss
e escomder, que a parte da pena omde a coua era cayra e a tempestade cada vez er
a mayor, os coryscos muy ameude cayam e tam desamparado era ellrey que n nca d’aquel
e perygo cuydou escapar. Asy sofreu elrey ho tromento do vemto e da chuva e dos
coryscos no corpo e na alma, mas por yso nom se quys acolher a nao, nem leyxar a
pena; tamto sofreo, atá que o tempo estiou e o soll começou a esclarecer, e entam f
oy muy ledo.
E emtam veio h a tam grarnde quemtura que parecia que a pena querya arder, e, se a
nte elrrey sofreo pena, mjll tamto lhe foy esta. Via amte ey a nao toda aparelha
da de boas camaras, omde, se hy emtrasse, poderia bem sofrer a gramde quemtura,
mas ele duvidou tamto a sanha de seu Senhor que pôs em seu coraçam de amte sofrer mo
rte que leyxar a pena.
Com muyta paci çia sofreo elrey esta quemtura, atá que a cabeça lhe esuaeçeu e nom se pode
ter e caio esmorecido. E, quamdo hacor¬dou, ergeo h pouco a cabeça, pera ver se ho t
empo amamsara. E, quamdo via que era temperado, asy como avia de ser amte ora de
nona e besporas, foy muy ledo. Emtam prouou se se poderya herguer com a cabeça qu
e lhe esuaeçera e, quaindo se ouve de alevamtar, nom semtio mall nem dor. E, quamd
o se ergeo, maravilhou-se das gramdes avemturas que lhe acomteceram e sofrer tam
gramdes traba¬lhos e nom hos semtir, e as vezes lhe parecia que sonhara e tamto e
ra ledo. Nysto cuydou, atá que foy bespora, e oulhou e vio vir h a nao muy nuamente
aparelhada e vio-[a] muy rica, e, quamdo se foy chegamdo, vio no castelo d’avamte
hir dons escudos e conheceu que h u era ho seu e o outro de seu cunhado Naçeram e ma
ravilhou-se e começou muyto ha cuydar, tamto que se esqueçeo, e logo ouvio rimchar h
cavalo e escarvar com as mãos tamto que pareçia que bry¬tava a nao, ho que elrey ouvio
muj bem, e pareçeo-lhe no rimchar que haquele era ho seu cavalo, que ele guanhara
de Tolomer, na batalha de Orcanze.
Muyto se maravilhou elrey do cavalo e dos escudos que via em estranha terra e qu
e aventura poderya ser que ally os trouxese. E nesto a nao chegou tamto que emco
rou na pena e elrey se hergeo e vio muy fermosa gemte.
Emtam veo h homem fora, que mais parecia cõ h seu irmão que lhe mataram em h aa batalha.
E, quamdo ho vio, foy muy ledo comtra ele, mas vio-lhe fazer muy mao comtynemte
, em tamto que muyto fez perder a elrey de sua alegrya e toda via ho foy abraçar e
preg tou-lhe por que fazia tam triste gesto, e ele lhe disse:
— Senhor, nam posso fazer menos, qua vos perdestes dons ami¬gos, os mylhores que num
ca tyvestes no mumdo, eu e Naçeram, voso cunhado, que vede-lo aquy na nao en h a cam
a.
Quamdo elrey ysto ouviu, cayo esmorecido e, quamdo acordou, dise-lhe que lho mos
trasse e deu brados, como homem samdeu, e tornou outra vez a cair esmorecido. E
ho homem ho tomou por a mão esquerda e o levou a nao.
Quamdo elrey foy na nao, vio h leyto e ergeo h pano e vio hu corpo que bem cuydou
que era Naçeram, e caio emtam esmoreçido de sorte que, quem ho vira disera que nom e
scaparya. E, quamdo acordou, quys pregumtar ao cavaleiro em que forma Naseram mo
rrera e teve olho a pena e vio-se muy alomgado, tamto que hapenas a podia ver. E
, quamdo ysto vio, [caio] esmorecido e, quamdo acordou, bemzeo-se, e, tam azinha
como ouve feyto o synall da cruz, nam vio homem nem molher na nao, nem no leyto
.
E, quãdo vio como ho negoçio hia, começou muy feramente a chorar, e dise:
— Senhor Deus, ora me guardey mall comtra vós e agora sey que vos fize torto, e, se
me m² vier, bem ho mereçy.
E, tam azynha como ysto disse, vio na proa da nao aquele homem que ele vi[r]a na
barca fermosa da prata e que toda a semana lhe dissera as boas palavras. E, tam
to que o vio, dyse-lhe choramdo:
— Ay, Senhor, como me emganou haquele de que vós me mamdastes gardar!
E ho omem lhe dise:
— Nom chores, mas guar-te de fazeres pior.
E elrey lhe preguntou que poderya fazer e ele lhe disse:
— Muitas estranhas avemturas verás que te acomteçerám, mas jamais norn comerás nem beberás,
atá que nom aches Naseraw, teu cunhado. E virá a ti, como verdadeiro crystam, e, qua
mdo ho asy vires, emtam sabe que serás livre. E sabe bem que o anho que te eu diss
e omtem por a menham e o lobo que tu vias nesta nao ho podes ver, e este que te
disse como Naseram era morto, este he o diabo, que sempre he lobo comtra as ovel
has de Deus, tamto como comtra o povo de Deus, e este he o lobo que em tua visam
te tolhya os bõs mamjares que te ho anho dava, e aquele cordeiro saberás tu muy bem
que quer ser, mas esto non será seraá h a vez, e emtam te será descuberta sua visam e o
que pode seneficar. Bem sabe que aquele diabo que te meteo na nao foy aquela mo
lher que a ty vinha cada dia e te dezia as más palavras. Ora te vay e olha como te
guardes comtra ela ho mylhor que puderes e mylhor que atá’quy te guardaste, que, se
te nom souberes guardar, muy azinha verás cousas que te tornarám a morte perduravel
l.
Emtam se calou, que lhe nom disse mais, e elrey oulhou e nam ho vio e ficou só na
nao e o vemto deu na nao e toda a noute e dia a trouxe de quá pera lá. E a outro dia
, estamdo elrey na cadeira do mestre, oulhou e vio lomge da nao h homem, asy como
a pé, e, quamdo foi perto, vyo-lhe debaixo dos pés duas aves que os sostynham e o t
raziam tam lygeyramente como h a podia mais boar [voar]. E, quamdo veio a nao, emt
rou e começou a fazer ho sinall da cruz sobre ha nao e tomou agoa de demtro da nao
e lavou toda ha nao de demtro com ambas as mãos, sem cousa falar. E el-rey oulhou
e muito se mara¬vilhou que podia ysto ser e por que ho omem deytava ha agoa hasy
por a nao.
E, quamdo ho omem jsto teve feito, falou ha el-rey e dise-lhe:
— Mordaim.
Elrey se maravilhou muyto, quãdo se vio nomear por seu nome de bautismo, e lhe res
pomdeo:
— Senhor.
E ho homem bom lhe dise:
— Sabes quem sam [sou]?
— Nem, disse elrey.
E o homem bom lhe disse:
— Sam teu defemdedor por mamdado de Ihesu Christo; eu sam [sou] Salustes, aquele e
m cujo nome e em cuja omrra tu fizeste a rica ygreja na cidade de Sarrar, e vym-
te comfortar e acomselhar. E emvia-te dizer por mym ho anho, aquele que em tua v
isão te daua os bõs mamjares que o lobo te tolhia, que tu vemçeste ho lobo, e [78] yst
o foy por ho synall da cruz que tu fyzeste sobre ty, quamdo te viste halomgado d
a pena, e emtam te leixou ho lobo. Este foy ho diabo, que amtes te tolhia os bõs m
amjares que ho cordeiro te daua; estas sam as boas palavras que o omen bom da na
ve te dezia: aquele homen bom era ho cordeiro que em tua visam te dava os bõs mamj
ares. E sabe que ho anho de Deus, que por ha terreal lynhajem foy sacryfycado, q
ue veo tam mamso a cruz, como ho anho ha morte, este hé Ihesu Christo, filho da Vy
rgem. Aquele que cada dia te vinha comfortar, aquele me embiou a ty por te desco
bryr tua visam asy como te ele mostrou, pera que tu saybas que quer dizer. Tuu v
iste de teu sobrynho sair h laguo e dele sai[re]m nove rios e os oyto eram todos
ygaes, e o noveno, que derradeiro naçera, era tam formoso e tam gramde como todos
os outros, e o lago era muy fer¬moso e muy grande, e tuu oulhaste e vyste sobre ty
vir h omem que tynha semelhança do verdadeiro croxofixo, e, quamdo deçeo, emtrou no
lago e lavou nele os pes e as pernas e outro sy em todos os outros oyto rios, e
no nono se lavaua todo. Aquele lago e teu sobrynho em que Ihesu Christo banhara
seus pes e suas pernas tamto quer dizer que ele era de tam boa vida que sera ver
dadeyro na samta fé, do quall sairám os nove rios. Estes serã nove hom s que dele decem¬de
rám e nom serám todos seus filhos, amtes decemderárn de h u e do outro por geraçam e todos
oyto seram ygaes de bomdade e de vida, pero ho oytauo nom será no começo de tall vi
da, mas se-lo-ha depois, ho noveno sera de muy mayor alteza de vida que todos, e
, por que de todas bomdades vemcerá os outros, por ysso banhará Ihesu Christo nele t
odo o seu corpo, ysto nam vestido, mas nuu, que ele se espirá amte ele de tall man
eyra que lhe mostrará todas as suas porydades, que ele n qa ha omen descobryo. Aquel
e será cõprydo de todas as bomdades que em coraçam de homem deva d’aver e pasará de armas
todos aqueles que amte ele fora e serám; aquele será aquele de quem ho amygo falou e
m Sarrat, quamdo feryo Josefes com a lamça da vimgança, quamdo disse que jamais as m
aravilhas do Greall nom seryan descubertas senam a h homem soo; aquele será o noven
o dos que decemderám de teu sobrynho e será tall como te eu digo, mas ho gramde myla
gre e as gramdes vertudes que acomtecerám aly omde ho seu corpo jazerá nom seram sab
idas, porque naquele tempo saram muy poucos que saybam verdadeiros synaes de sua
sepultura. Agora te faley já de tua visan, ora te quero falar desta nao e porque
deytey por ela agoa, que esta naao foy do diabo, que tu por ho synall da cruz de
ytaste e, por que foy sua, nom podia ser que alg a vez ha ela nom viesse, senom fo
sse lympa, e agora sé lympaa por a agoa e por ho synal da cruz e por ho comjuramen
to da Samta Trymdade asy que nenh maao esprito nela emtrará, que elles nenh a cousa,
tamto temem como ho synal [79] da cruz (he bemzia no nome do Padre e do Filho e
do Esprito Santo) e por esta bemçam fica lympa de toda a sogidade [sujeira], e em
quall quer lugar que ysto com boa fé fycar ja o diabo nam será ousado que hy vaa. Em
tall maneyra faze e serás seguro que, no lugar omde ho fizeres, o diabo nom terá po
der de fazer mall a teu corpo, nem tua alma nom será perdida.
Emtam se calou ho samto homem e partio-se dele e elrey ficou na náo, asy como ouvy
des.

Amores de Breçaida (p. 79) Erros


Troylos a amava mays que assy méésmo. Et avia gra pesar et gra
coyta por que a queria levar pera aoste. que el avia en
eia posto todo seu amor et todo seu coydado. et eia outro
tal ael. Et fazia por eia tato que mays nò podia. Et esto
nò era cousa encuberta que todos ossabia. mays quando
eia soubo que en toda gisa Ile converria leixar avila et
yrsse peràà oste, ouvo ende gra pesar et gra coyta
èno coragò. qual naca ouvera des que nagera nòno podia
aver mayor. Et ta gra deseio avia de Troylos que nOca
quedava chorado et dando gnìdes sospiros. Et en quoixandosso dezia
«corno avòtura foy desmesurada et esquiva
còtra mi. en querer que eu seia desterrada da gidade en
que nagi. et partirne de aqueles co que foy criada. et da
cousa do mQdo que eu mays amo. Et yrme pera hu no co-
nosco rrey nò c5de né duque nò outro homen que me faga
onrra né ben. et des oie mays os meus ollos naca sse en-
xugarS chorado et senpre viverey triste et sen prazer. Ay
meu senòr et meu amigo Troylos et que sera [Col. 74 ro ]
da asperanga que en vos avia et do vosso amor moy grade.
Ca sen falla naca eno mQdo sera cousa que vos tato de
coragò ame comò eu. Et moyto devo desamar aelrrey Pria-
mos. Ca moy gra pesar me fezo quen me assy enviou da
vila. et seme os deuses dessen amorte ante da manda, en
esto seyria da coyta et do posar en quo sóó. »
Como Troylos et Bre$ayda fazia seu dóó
quando se partià.
Aquela noyte veo Troylos véér Bregayda et albergare
anbos. et cada ha queria cOfortar ao outro do pesar e da coyta
quelle viia aver et nò podia. Ca ben sabia en toda gisa que
sol que odia fosse claro. seria partidos pera senpre. En
gisa que naca jamays averyan dessy prazer. ne folgura assy
corno soyan. Mays toda aquela noyte passaro asseu talète.
Et c5 gr3t coyta que avià enos coragòes quando lles ne-
brava quesse avia a partir. Seyanlles as lagrimas pelas
fages. et aly nò avia orgullo nò vergonga nehOa. Ante mal-
dizia aquònos metera en tal coyta et en tal pesar, et o que
partirà t£ grade amor. Et des ay desamou Troylos mays
mortalmente os Gregos. Et lles fezo caramente còprar
assayda de Bregayda. Ca mays de mill cavai eyros tomarò
por ende morte co suas maos. Et nò rreceava al ja tato comò
véér viir amanàà. Et ben lles semellou quo des que na-
gerS naca vira noyte ta pequena.
Dos govnymentos de Bregayda.
Outro dia de manàà depoys que o dia foy claro. ouveron
sse anbos departir querendo ou n5. mays esto fezeron el-
les c5 moy gra pesar. Como aqueles quesso moy de co-
rano amava. Et adonzela sse gorneu moy ben omays apo-
stamente que podo. pera yrsse. pero moyto còtra sua vóón-
tade. Et poso eu suas maletas seu aver, et vesteusse moy
rricamente et quero vos dizer corno. Eia vesteu logo ha
brial moy nobre que era de ha moy fremoso panno aque
dezia diaspe c5 listas de ouro metido. Et era forrado en
penna armifia. et arrastravalle del per terra hQa moy gra
partida. et ta ben Ile estava, que esto era hQa gra mara-
villa. Depoys cobria ha mato de ha tal panno diz aestoria.
que este foy o pano mays maravilloso que eno mQdo foy
feyto. Et fezerono haas encatadores da torre de India per
ta gra maestria et per tal maneyra que sete vezes Sno
dia se tornava de outras colores moy diverssas. Ca el pa-
resgia hQa vez ta vermello comò hQa rrosa moy vermella.
Outra vez pares^ia ta braco comò hQa frol de lilio. Outra
vez amarelo. outra vez Indio, outra vez preto. Outra vez
color de qeo. outra vez de tamaìia mezcladura et ta fre-
mosa que gra maravilla era. Demays avia en el semellan-
Qas et feguras de quantas animalias et bestias eno mQdo
son. Et en todo o tenpo era fresco et fremoso tato quo n5
podia mays. Talera ornato da donzela qual vos eu dixe. Et
ha gra màéfstre de terra de India que ensynara adon Col-
cos ha gra tepo. Ile onviara este muto, et todos os queo
viian qual era et per qual manera et per qual engeìio fora
feito tiifiaho por gra maravilla. [fol. 74 T0 ] mays pero c5
todo esto apenita do mato mays pregada et mays maravil-
losa era que outra que naca homen visse. Ca eia era en
ssy enteyra que en eia toda n5 avia pe$a nS costura.
Et diz aestoria que era de hQa besta aque dezia védia-
los «t vive en terra de ouriente. Et corno quer que apel
dela moyto valia et seia de gra prez. moyto mays vai
o osso et do mayor prego he. Et apel he tal quendca
deus 6no mQdo fezo erva nS frol nS rrosa que 6110 mQdo
viva de color que en eia n5 achassen. sea catar quises-
sen. Et Ma gente salvagS que ha c5tra ouriete eu terra
de Qenofoli moy layda. et de feytura moy estraya. pren-
deii estas bestas a moy grade affan et a moy gra perigóó
et moy poucas vezes. Et dizervos ey eu qual maneyra.
En aquela terra en que elas vivS son as caSturas ta gra-
des et ta sen mesura. que aqueles que alo van apoucas n5
arden. et y nò ha arvol ne outra cousa hu possan achar
sodbra. Et aqueles que alo van toma rramos de bals3amo
et levanos de que faz3 cabanas en que sse asconden todos
moy ben. En gisa que quen éna cabana nò entrar nò vóóra
deles nada. Et a besta quando chega aly c5 cattura grade
que ha quando vóó aquela soòbra. nò ha eno mQdo morte
ne peligro ng danno que rrecéó nS vóéra cousa de quesse
tema. Et vaysse deytar en aquela soòbra por dormir et
por folgar. Et aquel que estende jaz ascondudo èna ca-
bana mata aquela besta. Et ààs vezes ve ende apeligro
por la caòtura que he grade. Et apenna do mato que he
grade desta donzela. he da pel desta besta. comò vos ey
c5tado. Sabede que Suo mado nò ha engengo ne frol nò
balssamo né outra cousa. que ta boa odor aia. Como està
penna. Et apenna he mays delgada que hda penna armila.
Et a ourela do mato era de hQa besta que vive òno pa-
rayso terreal. que he gotada de gotas indias e jalne3. Et
son ta caras et ta poucas. que diz aestoria que naca ende
foro achadas ata dez. Et os teixelos do mato forò de rro-
biis moy craros et moy pregados. et tan pregiosos ora que
nQca foy homen que ta nobres vise.
Como se Bregaida espedeu da cidade.
Bregayda assy guarnida et apostada assy corno vos ey
còtado. espedeusse da rreyna Ecuba et das outras donas.
et pesou moyto atodos de sua yda. et senaladamente por
queise quitava de sua copafìa. et a Elena mays qu8
atodas et ckorava moyto c5 gra coyta et c5 gra pesar,
que avia de sua partida. Ca moyto era adonzela cortesa
et ensynada. Et quantos aviian yr. todos avia tà gr2 pe-
sar que mayor nò podiOt. Desy cavalgou en Qima de ha
palafren moy bóó et t5 pregado que no foy quen mellor
visse. Et seyr5 c5 eia tres dos fillo3 del rrey. et seme algS
pregdtar quaes era eu llos dyrey. Ca era Troylos. et Dey-
febus. et Pares. Et Troylos atomou pela rredea sospirando
moyto. et foy falando c3 eia ataque topar<5 co os da oste,
quea viina rre^eber. Et quandosse eia ouvo a partir de
Troylo3. ben coydava amorrer c5 de3eios et c5 coydado
del. Et rrogoulle moy de coragò que n5 olvidasse osseu
amor. Et eia ja enmètre eno mldo vivesse n5 acharia outro
amor ne sééria amiga [fol. 75 ro J doutro. Et que en nehQ
tenpo nQca outro dela poderia aver plazer ne solaz. mays
en esto mSteu corno aestoria còta adente. Et Troylos He
disso « amiga eu vos rrogo quanto posso que seme vos algl
tenpo ben quisestes que agora paresca. Ca eu n5 quero que
o vosso amor mlge ne desperesca. mays quero quo dessoy
mays toda via seia mayor. Et eu vos juro et prometo que
nilca mlgara por mi ne sera j a mays por outra canbeado. »
Et esto jurarò anbos ante quesse partisse. Et durou entre
elles està jura ata que eia foy fora da vila e quea rre$e-
berò os Gregos en seu podor.
Como Diomedes rrogou a Bregayda queo
Recébe[sse] por armgo.
Quando Bre^ayda foy fora da Qibdade. seyoa arreceber
Diomedes. et TalamS et Hulixas et Ajas. et Menesteus et
outros ben $èto et quareèta cavaleyros bóós. que os que
mays pouco valya eri! rreys et còdes et duque3. mays eia
ya tà de corano choràdo que n5 avia cousa quea pode3se
cofortar. Ca avia gru po3ar por que sse partia de Troylos.
Et Troylos de sua parte ya ta triste et ta coytado. que
esto era hda gra maravilla. Et quando sse anbos ouveron
apartir n5sse poder<5 falar. pero partirSsse de aly ssen
outro e3pedimeto. Diomedes foy logo tornar adonzela pela
rredea. Et depoys que foy indo comegoulle Diomedes tal
rrazò. « Par deus senòra gra dereito faz aquel que ha vosso
amor se3se del moyto prega. Et eu terria queme fazia deus
moyto ben. sse ovosso corag5 ouves3e assy comò vos ave-
des omeu. Et que eu senpre fosse vosso en todoslos dias
da mia vida. Et seflora rrogovos queme rre^ebades por
vosso caualeyro et por vosso amigo. et averedes en mi ha
leal vassalo. Et seo fazer n5 quiserde3 ben vos digo que
tato afan ey de sofrer por vosso amor ata que esto cobre
de vos. Mays de haa cousa ey gra pavor. que vos per avS-
tura desamades moyto anossa gente. Et vos amades moyto
os de Troya et fazedes gisado et fostes entre elles criada.
mays quanto por esto n5 devedes aséér sospeyta. Ca moy-
ta3 veze* oy falar de moytos que nQca sse vira nS sse
cofioscerS. quesse depoys quiser<5 gra ben. Et e3to moyto
agifta pode contener. Outra cousa vos dyrey. sabede que
nQca ja mays amey dona ne donzela en està rrazo. mays
agora ben veio et entédo que o amor me tira pera vos. et
quer que sei a eu vosso en toda gisa. et n5 he sen rraz5
que n5 sey èno mldo homen que avossa beldade veia que
n5 aia gra talète de vos servir et de vos amar et desse cha-
mar vosso. Et des oie mays todo meu amor et toda mia
asperanga poflo en vos. Et ja mays naca sera alegria en
meu corano ataque gerta seia de vosso amor, et de vosso
ben et pe^ovos mergéó que vos n5 pe3e nèmo tefiades por
mal. ne por villania esto quevo3 rrogo. Et seme rre^eberdes
por vos30 amigo naca vos ende verrà sen5 onrra. et eu
ben entedo que moy precado devo séér aquel que mere3$er
deve ovosso amor. Mays eu des aqui me outorgo por V03SO
cavaleyro et por vosso vassalo. et vos rre^ebede me por
V03SO. Ca vos sodes aprimeyra aque eu tal rrogo rrogey.
et seredos apostremoyra. Et ja deus naca queyra queme eu
traballo de amar n§ de servir outra Et assy sera sse
deus [fol. 75 T0 1 quiser. Et sabede que sse eu ovosso amor
poder aver, degisa ossaberey gardar que naca ja mays
rrecebades torto. nS oyredes dizer nS rretraher cousa
quevo3 despraza. Etporque vos eu agora veio triste, agi ila
coydo de fazer tato por tosso amor, por que vos seredes
moy leda et moy pagada. et todo meu coydado des oie
mays sera en fazer todas las cousas que enteder que sera
vosso servilo, mays sefiora traballo perdudo he. amar homen
et servir aquela que por el n<5 da nehda cousa. Et por
ende praza vos que seia eu vosso cavaleyro outorgada-
mente. »
Como Bregayda rrespondeu a Diomedes
Bregayda que era moy sisuda et moy pààgàà. rrespon-
deulle moy sisudamente. et dissolle assy. « Sefior cavaleyro
no he dereito ne rrazò de eu falar agora co vosco en
amor né co outro nehCL Ca V03 méésmo seriades aquel
queme terriades por aviltada et por màà. et outro tal fa-
ria quen quer que o oysse. Et eu ben oy et entSdi por
quanto vos prouvo de dizer. et sse assy he comò vos
dissestes esto nò sey eu. Et ja por està maneyra moytas
donas et donzelas rre^eben gra dilno por engano dos falssos
amadores. et grave cousa he de cofiosQer oleal amador. Ca
por ha sóó que seia verdadeyro. sson moytos outros en
que nò ha verdade. Et eu nò queria sse podesse séér por
vos enganada. Ca eu leixey moy bóó amigo et leal. Et naca
ja en quanto viva outro tal poderey cobrar. et querialle
gr& ben et el a mT. Et leyxey a terra et as gentes c5 que
fora criada et enque avia grade onrra et gr£ rriqueza et
todas las cousas en que avia prazer. Et agora estou fora
de todo esto. Et por ende nò he tepo de falar en amor.
Et domays ben vos digo e bSno entendedes V03. que n5 ha
dona ne donzela que sse t5 agiòa vengesse. que por ende
meos n5 fosse pregada. que veio eu que aqueles que tragen
seu feito amays (sordamente et mays encuberto que poden.
que aduro sse poden encobrir né gardar que ààs vezes
deles nò posfacò. Et por ende eu ben me gardarey sse
deus quiser. Et vos sodes t& bóó cavaleyro et ta pregado et
ta pààgao per comò me ami semella. que eu n5 queria
per nekQa maneyra que entòdessedes demi cousa desagi-
sada. Et ben veio que n5 ha òno mQdo donzela t5 fre-
mosa ne de t2 grS prez que amar quisesse ààlgQ que vos
leyxar quisesse. nò entendades que vos eu leixo por outra
rraz5. sen5 porque no ey talète nò vóóntade de tornar en-
tededor. Mays de hda cousa sééde ben seguro. que sse mia
vóóntade fosse de amar alga, quo n5 ha eno mQdo homen
que ante quisesse por amigo nò mays amasse que avos. »
Como Diomedes sespondeu a Bregaida.
Des que Bregaida sua rrazò ouvo acabada. ben entedeu
Diomedes que eia era de boa rrazò et dissolle assy. « Se-
fiora corno quer que vos nò plaz de falar en este pleito.
A vos dou meu coragò et pofLo en vos mia asperan^a. et
amarvos ey senpre de amor verdadeyro, asperando envos
mercéó. et que averedes de mi dòó. et me tomaredes por
vosso leal amigo. Ca eu por nehQa maneyra nò sey ne
posso contradizer. [fol. 76 ro ] ao amor que quer que eu
seia vosso quito daqui adente Et esto nò nego nò nega-
rey j amays et querrey servilo, de coragò et de vóóntade.
et el me darà galardon devos ca outra dona nò donzela
nòlle demado. Et sse desto nò oposso aver, ja mays en
quanto viva naca o servirey. Et sse devos ouvesse alga
synal de amor, ben terria que en toda està oste nò avia
mays rrico cavaleyro que eu. » Diomedes mays quisera di-
zer mays chegavasse ja tato ààs tèdas quelle nò podia
falar assua vóóntade. et quando veu que sse avia ja de
partir travoulle ena mSo et tomoulle haa luva. ta encu-
bertamente queo nò entedeu neha ne ossoubo. ne àela
nòlle pesou ne ponto. Et el ouvo ende tó grS prazer que
nò poderia mayor.
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Um milagre de S. António (p. 85) SCANER


Muitas vezes acomteceo que o barom -de deus samto Antonio cobiçamdo a saúde das alma
s, dizia aos pecadores os remedios que podia por que saíssem de pecados. E ainda m
ais que he cousa maravilhossa aparecia de noite a muytas perssõas que dormiam cham
ando-as por nome segundo que elas o deziam depois aos fraíres. E dizia-lhes estas
cousas levanta-te. e vay a tall fraire ou a tali sacerdote. E comfesa-lhe taì peca
do que em tall tempo e em tall lugar foy por ty cometido. O quail pecado nom sab
ia outro alguutn señora deus E asy por esta maneira forom muitos alim-
pados dos pecados por o sacramento da comfisom. Os quaes pe-
cados nom ousavam os hornee tis por vetgomça comfesar em ai-
guua maneira E acomteceo outro sy huüa vegada que huum barom
de Pádua que avia nome Lionardo se comfessou a samto Amtonio.
E amtre os outros pecados confessou qne avia ferido com seu pee
a sua madre, asy que a lamçara em terra com huum empuxom
feo A qual cousa avorreçemdo ao barom de deos. em fervor do
spritq amtre as outras palavras de repremsom, disse-lhe esto. Oío)
pee que fere, o padre ou a madre devia logo seer cortado. E
aquelle homeem nom no entemdeo dereitamente. E aquell baroni
simple[zj por a culpa sua e por a reprenssom aspara de samto An-
tonio foy feito triste e foy-sse loguo a sua cassa e cortou logo o
pee. E as novas desto forom Sabidas por toda a cidade, e vierom
aas 2ISÍhas de sua madre. Aqual yndo-sse a pressa a sua cassa.
achou o filho com o pee corto. E quamdo soube a rrazom por que
avia cortado o pee. foy damdo vozes adomde estavam os fraires.
querelamdo-sse de samto Amtonio que avia morto a seu filho por
esta caussa. E samto Amtonio viindo a ella e comsolando-a escu-
sou-sse Jigitimamente. E veeo elle aquelle barom que cortara o
pee e fazemdo sua oraçom devotamente e com angustia, ajuintou-
lhe o pee aa perna e feze sobrelle o sinall da cruz e untou alguum
tamto com aquelas maãos samtas. E logo aqueîle pee 2 emxerido.
asy foy soldado e afirmado com a carne da perna, que aquele ho-
meem se alevamtou logo sobre ella andando a hua parte e a ou-
tra. Alegrando-se muyto. e damdo graças a deus e ao .Samto padre
Amtonio.
http://64.233.163.132/search?q=cache:b2lWylU2G-cJ:cvc.instituto-camoes.pt/bdc/et
nologia/revistalusitana/15/lusitana15_pag_177.pdf+%22muitas+vezes+acomte%C3%A7eo
%22&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&client=firefox-a

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX p. 86

Alveitaria e Aves de caça (p. 87) SCANER


Muytas vezes aqueeçe cajom nas pernas do cauallo de couce
doutra besta ou de ferjda ou dalgúu estrepe que lhe entra per
ella.// E esta doença chamam em Satym lesiofaleis e em nossa
linguagem ferjda da perna. .7 E a cura desta doença he tall.// Se ib.
o jnchaço flor de d an amento ou de ferjda rrayamlhe todo muj
bem.// E desy ffilha a losna.// E alfauega da cooura que chamam
parjtarja./ E o gigante e malha todo com hunto velho de porco
em boa cantidade e deytalhe do meli e do azejte e da farjnha do
trijgo e faze todo feruer e meixio todo ataa que seia coyto e pon- 3o.
lho assy queente sóbrelo lo (FI. 3i) gar tenperadamente e legaiho
e assy lho põe tres ou quatro vezes ou majs se conprir e tolherlha
a door e adoçarlha os neruos.// E pera esto he boom outrossy.//
O çumo da alosna e do aaypo, e da cera e do hunto velho tanto _
de hüu como de outro e hûu pouco de vjnho branco e dazeite 35.
e deytalhe da farjnha do trijgo e cozer todo e meisello bem e poer-
Iho queente assy como dicto he da outra meezjnha.//Outrossy
presta pera esto o çumo daìosna e do aypo m esturado com azeite
e com manteiga e devtarlhe da farjnha do trijgo e cozer todo er
poerlho comò ja parece.// E se este dapnamento fior dalgúu paao 40.
ou dalgüua espinha que xe lhe meta per ela e lhy vem a jnchar
rrayamîhe aquell jnchaço como dicto he. // E ponhamìhe tres cabe-
ças de lagartas malhadas em cima.//
Outrossy lhe presta pera esto a rrajz da canavea e da erua
tunjz se as malharem com manteiga e lhas poserem.// Outrossy
5. lhe prestaram as lesmezes malhadas com manteiga e coy tas se lhas
poserem em cima.// Ca estas meezjnhas todas am virtude daljnpar
as chagas e tirar ende espinhas ou que quer que ¡asea dentro.//
E depois que todo ffor tirado cureña chaga como outras.//
E se pella ventura se naquelì lugar fezer vurmo furono em
io. fundo delle corn hua lancoo e depois que for Imre cureno conio
as outras chagas.
E se pela ventura se desto fezer sobre osso queyrna o com
fferro feruente conujnhauelmente
http://64.233.163.132/search?q=cache:rJCVyY7M4v4J:cvc.instituto-camoes.pt/bdc/et
nologia/revistalusitana/12/lusitana12_pag_1.pdf+%22lhe+presta+pera+esto%22&cd=1&
hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&client=firefox-a

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