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A SOCIEDADE EMPRESÁRIA ENTRE CÔNJUGES

Leandro Barcellos Moraes

Até a edição do Código Civil de 2002, era amplamente permitida


a sociedade comercial ou empresária entre cônjuges, independente do regime
de bens do casamento. Em franco retrocesso, a nova legislação vedou a
constituição de sociedades empresárias entre aqueles casados entre si pelos
regimes da comunhão universal ou separação obrigatória, nos seguintes
termos:

Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar


sociedade, entre si ou com terceiros, desde
que não tenham casado no regime da
comunhão universal de bens, ou no da
separação obrigatória.

Portanto, desde a entrada em vigor do novo Estatuto Civil, não


mais se permite que os cônjuges casados nesses regimes sejam sócios entre si
ou com terceiros. Embora travestida de faculdade de contratação de sociedade,
a lei, na verdade, restringe o regime anterior. Mas, ao mesmo tempo em que
cria uma limitação, fornece um mecanismo de ajuste, a inédita possibilidade de
modificação do regime de bens do casamento, prerrogativa sem precedentes
em nosso sistema jurídico. De fato, o parágrafo 2.º do art. 1.639 admite a
“alteração do regime de bens, mediante autorização judicial em pedido
motivado de ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas
e ressalvados os direitos de terceiros”.
Nesse sentido, havendo acordo entre os cônjuges, é permitida a
alteração do regime, fundado o pedido na necessidade de sua mudança como
condição para a constituição de sociedade empresarial. Tal justificativa já vem
sendo aceita por reiteradas decisões de nossos tribunais, inclusive, em que
pese opiniões em contrário, relativamente a casamentos celebrados antes da
entrada em vigor do novo Código Civil, como já reconheceu o Superior Tribunal
de Justiça.
Por fim, dois registros: o impedimento para criação de sociedades
entre cônjuges casados pelos regimes da comunhão universal ou da separação
obrigatória não se aplica àquelas constituídas anteriormente à entrada em
vigor da lei restritiva, protegidas que estão pelo instituto do ato jurídico
perfeito, nem àquelas em que apenas um dos cônjuges é sócio com terceiros.

Caxias do Sul, RS, 14 de outubro de 2005.


Leandro Barcellos Moraes, advogado em Caxias do Sul, sócio de
Nogueira, Schuh & Vanoni Advocacia Empresarial.
Quem pode ser sócio de sociedade limitada?

Para esclarecer dúvidas sobre a capacidade de ser sócio de sociedade


limitada, vamos observar o que dizem os subitens 1.2.10 e 1.2.11 do Manual de Atos de
Registro de Sociedade Limitada, aprovado pela Instrução Normativa DNRC n.98/2003.

Quem pode

O subitem 1.2.10 do Manual DNRC declara expressamente que pode ser


sócio de sociedade limitada (desde que não haja nenhum impedimento legal):

a) o maior de 18 anos, brasileiro ou estrangeiro, que se achar na livre administração de


sua pessoa e bens;
b) o menor emancipado, observando-se que a outorga de emancipação deverá constar de
instrumento público inscrito no Registro Civil das Pessoas Naturais e arquivado na Junta
Comercial;
c) desde que assistidos (uma vez que são relativamente incapazes para a prática de atos
jurídicos);
c.1) por seus pais ou por tutor: o maior de 16 anos e menor de 18 anos;
c.2) pelo curador: o pródigo e aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não
tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil; os deficientes mentais, os
ébrios habituais e os viciados em tóxicos; os excepcionais sem completo desenvolvimento
mental;
c.3) de acordo com a legislação especial; o índio (Código Civil/2002,art.4, parágrafo
único);
d) desde que representados (uma vez que são absolutamente incapazes de exercer
pessoalmente os atos da vida civil):
d.1) por seus pais ou por tutor: o menor de 16 anos;
d.2) pelo curador: os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o
necessário discernimento para a prática desses atos e os que, mesmo por causa
transitória, não puderem exprimir sua vontade.
e) a pessoa jurídica nacional ou estrangeira.

Menor emancipado

A prova da emancipação do menor de 18 anos e maior de 16 anos,


anteriormente averbada no Registro Civil das Pessoas Naturais, correspondente a um dos
casos a seguir, deverá instruir o processo ou ser arquivada em separado,
simultaneamente com o contrato de constituição (ou alteração) da sociedade limitada:

a) pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento


público, ou por sentença judicial;
b) pelo casamento;
c) pelo exercício do emprego público efetivo:
d) pela colação de grau em curso de ensino superior;
e) pelo estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de emprego,
desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha adquirido economia
própria.
Impedimentos

No subitem 1.2.11, o Manual DNRC destaca que não podem ser sócios de
sociedade limitada a pessoa impedida por norma constitucional ou por lei especial
(conforme Instrução Normativa DNRC n. 76/1998), observando-se ainda que:

a) português, no gozo dos direitos e obrigações previstos no Estatuto da Igualdade,


comprovado mediante Portaria do Ministério da Justiça, pode participar de sociedade
limitada, exceto na hipótese de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e
imagens;
b) os cônjuges casados em regime de comunhão universal de bens ou de separação
obrigatória não podem ser sócios entre si, ou com terceiros (veja subitem 3.1)
c) é vedada a participação de pessoa jurídica no capital social de empresa jornalística e
de radiodifusão sonora e de imagens, exceto partido político e sociedade cujo capital
pertença exclusiva e nominalmente a brasileiros, e desde que essa participação se efetue
com capital sem direito a voto e não exceda a 30% do capital social.

Sociedade entre marido e mulher

O vigente Código Civil (Lei n. 10.406/2002) assim dispõe:

“Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde
que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação
obrigatória”.
Portanto, como regra, o Código Civil permite a sociedade entre marido e mulher casados
sob o regime de comunhão parcial de bens (arts. 1.658 a 1.666) e da separação de bens
(arts. 1.687 e 1.688).
Segundo o dispositivo transcrito, somente em dois casos é proibida a sociedade entre
cônjuges: se eles forem casados no regime de comunhão universal de bens (art.1.667) ou
no da separação obrigatória de bens (art. 1.641).
Contudo, é importante sublinhar que o art. 977 estende a restrição à constituição de
sociedades (por ambos os cônjuges) com terceiros porque, em tal hipótese, os cônjuges
permaneceriam como sócios.

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