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Reunificação da Alemanha

Vinte anos depois, diferenças ainda dividem o país


José Renato Salatiel*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação

Durante quase três décadas, a Alemanha viveu uma condição tão surreal que parecia digna de roteiro dos
filmes alemães dos anos 1920, como O Gabinete do Dr. Caligari ou Nosferatu. Após os nazistas
perderem a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o país foi dividido em dois, com nomes, bandeiras,
moedas, hinos, tudo diferente. 

Direto ao ponto: Ficha-resumo 

E, pior, quem estava de um lado da fronteira não podia atravessar para o outro para rever os parentes ou
amigos. Os alemães do lado Leste, o "primo pobre", eram impedidos de sair por um muro de 155 km de
extensão que cortava a capital, Berlim, ao meio. 

O lado Oeste, rico e democrático, recuperou-se do fim da guerra, mas no outro, a situação ficou bem
diferente. Faltavam artigos de primeira necessidade e o povo era oprimido por uma das polícias secretas
mais eficientes do mundo, a Stasi. 

A queda do Muro de Berlim (construído em 1961 e derrubado em novembro de 1989) foi um dos maiores
eventos do século 20. Em uma noite, os alemães derrubaram o muro que cindia o país em dois, dando
fim à Guerra Fria e início à queda dos regimes comunistas no Leste Europeu e ao mundo globalizado. 

Onze meses depois, em 3 de outubro de 1990, ocorreu a reunificação da Alemanha, por meio de acordos.
Nesta data, a antiga República Democrática Alemã (RDA), ou Alemanha Oriental, foi dissolvida e o
território anexado à República Federal da Alemanha (RFA), ou Alemanha Ocidental, pondo fim à divisão
do país. 

Nascia, ali, a maior potência econômica da Europa, que, apesar disso, ainda luta para se reconciliar com
o passado. Após 20 anos, a Alemanha permanece dividida econômica, social e politicamente. O Leste, da
antiga RDA, continua defasado em relação ao Oeste, o que mostra que o processo de reunificação ainda
não terminou. 

Império Alemão
A Alemanha não existia antes de 1871. Após a derrota do imperador francêsNapoleão Bonaparte , em
1815, o antigo Sacro Império Romano-Germânico foi dividido pelo Congresso de Viena em 39 Estados
soberanos. 

Em comum, esses povos compartilhavam a mesma raiz cultural e língua alemã, além da economia
predominantemente agrária e política feudal. Os reinos dominantes eram a Prússia, governada pelos
Hohenzollern, e a Áustria, dos Habsburgos. 

A primeira tentativa de unificação dos reinos aconteceu em 1848. Neste ano, ocorreram revoltas
populares por toda a Europa contra as monarquias absolutistas. Contudo, os monarcas da Prússia e da
Áustria conseguiram se manter por mais tempo no poder, adiando a unificação. 

Nos anos seguintes, foi o próprio governo da Prússia, mais desenvolvida e industrializada que a Áustria,
que liderou o movimento de unificação. Para isso, foi fundamental o apoio de setores da burguesia. 

Quando o rei Guilherme 1º assumiu o trono, em 1862, ele nomeou o primeiro-ministro Otto von
Bismarck para iniciar o processo. Mas foram necessárias três guerras contra a Dinamarca, Áustria e
França, ao fim das quais, em janeiro de 1871, Guilherme I foi coroado primeiro kaiser (imperador) do
Império alemão (1871-1918). 

O império unificou a Alemanha em um Estado moderno, como exceção da Áustria. Seguiu-se um período
de expansão colonialista e crescimento econômico, que terminou com a Primeira Guerra Mundial (1914-
1918). Derrotada na guerra, a Alemanha sofreu uma revolução que depôs o imperador Guilherme II e
proclamou a República de Weimar (1919-1933). 

Porém, a situação do país era precária no pós-guerra, principalmente pelas condições impostas pelo
Tratado de Versalhes. O ambiente, por outro lado, era propício para inflamar o sentimento nacionalista
dos alemães, e, assim, levar ao poder o partido nazista de Adolf Hitler , que desencadearia a Segunda
Guerra Mundial. 

Muro de Berlim
O fim da segunda guerra, mais uma vez, deixou a Alemanha derrotada e em ruínas. Em 1949, a nação foi
dividida em duas áreas de regimes políticos e econômicos diferentes. O lado ocidental era controlado
pelos Aliados, enquanto o lado oriental ficou com a antiga União Soviética. Berlim, a capital, também tinha
seu lado ocidental e oriental. 

Logo as divergências sociais entre as duas Alemanhas se tornaram evidentes. O Oeste capitalista
progredia, ao passo que no Leste havia escassez de produtos e liberdade. Por isso, eram constantes as
fugas de alemães para a parte ocidental. 

Para conter as fugas foi construído, em 13 de agosto de 1961, um muro dividindo o país, transformando a
RDA numa prisão para 17 milhões de alemães. 

Já ao final dos anos 1980, a situação dos regimes comunistas era insustentável no Leste Europeu.
Prevendo isso, o líder soviético Mikhail Gorbatchev (1985-1991) iniciou duas reformas, uma política (a
glasnost), e outra econômica (a perestroika). As duas juntas levaram à dissolução da União Soviética em
1991. 

Sem o apoio militar dos soviéticos para conter as revoluções, os governos comunistas na Europa
começaram a cair um por um. Primeiro a Polônia, por meio de eleições gerais em 1988. No ano seguinte
foi a vez da Hungria, com uma abertura promovida pelo próprio governo. 

Com as fronteiras sendo abertas aos poucos, ficou impossível para a Alemanha Oriental sustentar o muro
por mais tempo. Os protestos cresciam por todo país, até que, finalmente na noite de 9 de novembro de
1989, o muro veio abaixo. 

Dissolução
No ano seguinte, em 18 de março, foram realizadas as primeiras eleições livres na RDA, com o tema da
reunificação dominando os debates. A essa altura, o país já se esfacelava, o que obrigou o governo a
fazer uma equiparação monetária, tornando o marco a moeda oficial também no Leste. 

Foram assinados dois tratados antes da reunificação: um entre as Alemanhas e outro com as potências
estrangeiras de ocupação, o Tratado "2 + 4", que devolvia ao país sua soberania. Em 3 de outubro de
1990, após votação na Câmara Popular, o governo da RDA reconheceu a dissolução do país e sua
integração à República Federal da Alemanha. 

Depois das comemorações, os alemães começaram a enfrentar as dificuldades. Era preciso integrar a
população do lado oriental, que, sem qualificação, não conseguia emprego ou bons salários. Outro
problema foi a ascensão de grupos neonazistas. 

Hoje, o lado Leste ainda é mais pobre que o Oeste. De acordo com o governo, a renda anual per capta
dos alemães da antiga RDA é quase 5 mil euros (R$ 11.550) menor. As taxas de desemprego também
são maiores e os indicadores sociais, piores no antigo lado comunista. E mesmo a representação política
no Leste, que possui um quinto da população, é menos expressiva. A sensação é de que a reunificação
ainda não se completou. 

Direto ao ponto 
Há 20 anos, em 3 de outubro de 1990, ocorreu a reunificação da
Alemanha. Nesta data, a antiga República Democrática Alemã (RDA),
ou Alemanha Oriental, foi dissolvida, e o território anexado à República
Federal da Alemanha (RFA), ou Alemanha Ocidental, pondo fim à
divisão do país. 

Foram quase três décadas com o país dividido. O lado Oeste, sob
controle dos Aliados, era rico e democrático, enquanto no Leste, dos
comunistas, havia escassez de produtos básicos e vigilância pela
polícia secreta. Para impedir a fuga de alemães para o lado Ocidental,
foi construído o Muro de Berlim em 13 de agosto de 1961. 

No final dos anos 1980, o líder soviético Mikhail Gorbatchev (1985-


1991) iniciou reformas políticas e econômicas que levariam ao fim da
União Soviética em 1991. Com a abertura do regime, o muro foi
derrubado na noite de 9 de novembro de 1989. Em seguida, os
alemães começaram a negociar a reunificação do país. 
Passados 20 anos da reunificação, a Alemanha permanece dividida
econômica, social e politicamente. O Leste, da antiga RDA, continua
defasado em relação ao Oeste, o que mostra que o processo de
reunificação ainda não terminou.

Saiba mais

 1989: O ano que mudou o mundo  (Zahar): livro do jornalista Michael Meyer que defende a tese
de que a queda do muro foi precipitada mais por agentes individuais, como políticos do próprio Partido
Comunista. 
 O Muro de Berlim: um mundo dividido- 1961-1989 (Record): livro do historiador Frederic Taylor
sobre o panorama da política mundial que favoreceu a construção e queda do muro . 
 A reunificação da Alemanha (UNESP): análise do cientista político e historiador Luiz Alberto
Moniz Bandeira sobre a queda dos regimes comunistas no Leste Europeu. 
 Alemanha: da divisão à reunificação  (Ática): obra de Serge Cosseron que compreende a
Alemanha desde o fim da Segunda Guerra Mundial até a reunificação, no início dos anos 1990. 
 Um campo vasto (Record): romance de Gunter Grass, escritor alemão, ambientado na Alemanha
entre a queda do Muro de Berlim e a reunificação. 
 A Vida dos Outros (2006): ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro, expõe os bastidores
do esquema de vigilância e clima de desconfiança criado pela polícia secreta da RDA. 
 O segredo de Berlim  (2006): filme estrelado por George Clooney e Cate Blanchett sobre um
correspondente de guerra americano que reencontra a ex-amante em Berlim, logo após o fim da Segunda
Guerra. 
 Adeus, Lenin!  (2003): longa bem humorado sobre uma alemã que entra em coma antes da
queda do muro de Berlim e, quando acorda, com a Alemanha reunificada, a família tenta impedir que ela
descubra o fim do comunismo. 
 Funeral em Berlim  (1966): Michael Caine interpreta um agente secreto inglês que vai a Berlim
Oriental ajudar um general a desertar, usando como disfarce um falso funeral. 
 Cortina rasgada (1966): filme de Alfred Hitchcock sobre um cientista americano que tenta
desertar para a Alemanha Oriental, em busca de fundos para seu projeto.

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