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O efluente suinícola, por mais privilegiado que seja seu potencial de uso como fertilizante, é um resíduo,
um esgoto poluente e que, ao ser disposto na natureza sem os necessários cuidados, causará impacto ambiental
significativo no solo, ar, águas superficiais e subterrâneas, assim como a toda e qualquer forma de vida que habite
este ecossistema. O uso de resíduos suinícolas pode alterar as propriedades físicas, químicas e biológicas do
ecossistema em que é gerado. Algumas destas alterações são benéficas, enquanto outras são indesejadas
local;
solo, principalmente nitratos e fosfatos, que, por serem cancerígenos, tornam a água não potável,
Volatilização de compostos, que constitui outra forma de dispersão e poluição ambiental com a emissão
de gases de efeito estufa, além de trazer inconvenientes como odores e atração de insetos.
Biodigestores
A tecnologia de biodigestores já tem pelo menos duas décadas no Brasil. Iniciou-se com modelos
provenientes da China e Índia. No entanto, o Brasil teve algumas dificuldades na sua implementação, fazendo
com que esta tecnologia caísse no descrédito no meio rural. Gaspar (2003) citado por Palhares (2007) destaca
que se encontram dois extremos da utilização de biodigestores. Chineses buscam, nessa tecnologia, o
biofertilizante necessário para produção dos alimentos necessários ao seu excedente de população. A energia do
biogás não conta muito frente à autosuficiência em petróleo. Indianos, precisam dos biodigestores para cobrir o
imenso déficit de energia. Com isso, foram desenvolvidos dois modelos diferentes de biodigestor: o modelo chinês,
mais simples e econômico, e o modelo indiano, mais sofisticado e técnico, para aproveitar melhor a produção de
biogás.
De acordo com Gaspar (2003), o modelo chinês é mais rústico e completamente construído em alvenaria,
ficando quase que totalmente enterrado no solo. Funciona, normalmente, com alta pressão, a qual varia em
Barrera (1993) considera que a produção de biofertilizante é a mesma nos dois modelos. Tecnicamente,
para as condições climáticas da maior parte do Brasil, a menor capacidade de aproveitamento da produção de gás
do modelo chinês é insignificante. Por isso, os órgãos brasileiros de extensão rural optaram pelo modelo chinês
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Processos envolvidos
Os biodigestores e outros sistemas anaeróbios apresentam limitações. São uma solução parcial ao
problema, tendo em vista que não removem nutrientes dos efluentes e, portanto, não reduz significamente a área
necessária para sua deposição no solo como fertilizante. Carecem de incrementos tecnológicos que permitam
maior controle de processo, sobretudo nas condições térmicas das diferentes estações do ano no Sul do Brasil que
acarretam uma produção inconstante de biogás (em termos de quantidade e de qualidade), com menor
disponibilidade de energia para aquecimento no inverno (período no qual ela se faz mais necessária) e frustração
De acordo com Pereira (2008), a biodigestão de resíduos é uma prática conhecida há muitos anos, sendo
muito utilizada para tratar resíduos da pecuária. O principal motivo da ampla utilização e aceitação deste processo
o biogás, além do baixo esforço necessário para operar o sistema. Um biodigestor é uma reprodução em tamanho
fermentada e reduzida a gases e outros compostos agressivos ao meio ambiente. Algumas condições são exigidas
para tornar o biodigestor um ambiente favorável aos microrganismos que realizaram a fermentação. São elas:
Ausência de ar
0
Temperatura adequada (entre 30 e 45 C)
Na falta de alguns destes requisitos pode ocorrer uma redução da produção de biogás. A prática diária de
avaliação do sistema é essencial para garantir um ótimo rendimento do biodigestor. O biodigestor aplicado nas
propriedades do Sul do Brasil (região de maior número de biodigestores implantados em propriedades rurais) é o
do tipo Canadense (Figura 1a), constituído por uma caixa de entrada, para onde são canalizados os dejetos
provenientes dos galpões; uma câmara de fermentação subterrânea revestida com lona plástica; uma manta
superior para reter o biogás produzido de modo a formar uma campânula de armazenamento; uma caixa de saída,
onde o já chamado biofertilizante é canalizado para uma esterqueira (Figura 1b); um registro para saída do
biogás e um queimador, conectado ao registro de saída do biogás. O biodigestor deve estar cercado e seus
arredores limpos, ou seja, deve-se proporcionar o menor risco de ocorrer furos na manta superior que venham a
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A principal razão para a grande capacidade de fertilização do biofertilizante se encontra no fato da digestão
da biomassa (no interior do biodigestor) diminuir drasticamente o teor de carbono presente na mesma. De acordo
com Sganzerla (1983), isto ocorre porque, na biodigestão, a matéria orgânica, perde exclusivamente carbono sob
a forma de CH4 (metano) e CO2 (gás carbônico). Além disso, há o aumento do teor de nitrogênio e demais
nutrientes, devido à perda do carbono e, conseqüentemente, diminuição na relação C/N da matéria orgânica. Com
isso, os microrganismos do solo (bactérias nitrogenadoras) conseguem um melhor índice de fixação do nitrogênio,
além do fato do próprio biofertilizante conter alguns nutrientes já solubilizados. Com seu elevado valor de pH, o
biofertilizante funciona como corretor de acidez, eliminando o alumínio e liberando o fósforo dos sais insolúveis do
Segundo Oliveira (1993), em condições anaeróbias, a matéria orgânica é degradada através de estágios
sucessivos formando gás como produto final. A decomposição anaeróbia compreende 3 estágios: hidrólise,
acidificação e formação de metano. O resíduo orgânico é composto por carboidratos, proteína e lipídeos. Estes
servirão de substrato para o primeiro estágio sendo reduzidos a compostos orgânicos solúveis por um grupo de
bactérias.
Os carboidratos são hidrolisados por enzimas extracelulares principalmente em glicose e parte em manose
e frutose. Estes monossacarídeos são posteriormente quebrados e transformados em ácidos orgânicos e álcoois e
no final do processo em metano e dióxido de carbono. As proteínas são hidrolisadas em peptídeos e aminoácidos e
estes são degradados pela ação das bactérias. Parte do nitrogênio existente é uréia, a qual sofre hidrólise
microbiana formando dióxido de carbono e nitrogênio. Lipídeos são hidrolisados a glicerol e ácidos graxos livres.
Ácidos graxos livres de cadeia longa são quebrados em ácidos graxos de cadeia curta formando primeiramente
acetato e propionato que são posteriormente convertidos em metano e dióxido de carbono (Magalhães, 1986). Os
processos de liquefação e gaseificação ocorrem simultaneamente, sendo necessário um balanço próprio para que o
O biogás proveniente desta atividade dos microrganismos é composto por uma mistura de diversos gases,
entre eles o metano (CH4), o dióxido de carbono (CO2), o hidrogênio (H) e o dióxido de enxofre (H2S). O biogás é
inflamável devido ao metano, gás mais leve que o ar, sem cor e sem odor; o que causa o mau cheiro no biogás é
o dióxido de enxofre, que mesmo em quantidades muito pequenas é perceptível pelo olfato e bastante corrosivo.
O biogás pode substituir vários combustíveis derivados do petróleo. Possui energia significativamente alta, queima
com uma chama praticamente limpa e não gera fumaça ou odores (Pereira, 2008). A Tabela 1 mostra a
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equivalência de 1m de biogás:
3
Tabela 1 - Equivalência de 1 m de biogás.
Fonte de Consumo Característica da Fonte Consumo Médio
3 -1
Cocção de Alimentos Por pessoa 0,40 m h
3 -1
Chuveiro Chuveiro a gás 0,074 m L
3 -1
Iluminação Lampião a gás 0,075 m hora
3 -1
Campânulas para pintos 1 queimador 0,250 m hora
3 -1
Gerar frio Geladeira a gás (280 litros) 0,1 m hora
3 -1
Gerar energia elétrica 1kw 0,95 m hora
Fonte: Manual de Operação de Biodigestores, segundo Demarco (2005) citado por Pereira (2008).
Resultados obtidos por Chara (2000) apresentados na Tabela 2 mostram, além do potencial de produção de
biogás, a produção de nitrogênio e fósforo a partir dos resíduos da suinocultura e suas respectivas equivalências
em diesel, uréia e superfosfato simples, utilizando-se dados obtidos na Colômbia com o tratamento de águas
O biodigestor apresenta uma tecnologia que oferece condições excepcionais para um arrojado plano de
(http://www.pr.gov.br/iap) para a região Sul, o dimensionamento dos biodigestores para granjas em fase de
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Fonte: (http://www.pr.gov.br/iap)
Com a divulgação do Plano Nacional de Energia 2030 (PNE, 2007), se tem um referencial da produção e
consumo para os próximos anos. O Plano Nacional de Energia – PNE 2030 é o primeiro estudo de planejamento
integrado dos recursos energéticos realizado no âmbito do Governo brasileiro. Os estudos do PNE 2030 foram
conduzidos pela EPE para o Ministério de Minas e Energia – MME e originaram a elaboração de quase uma centena
de notas técnicas. No desenvolvimento dos trabalhos foram consultados especialistas renomados nas diversas
áreas do setor energético e houve, ainda, a participação de importantes elementos da sociedade nos seminários
De acordo com o Ministério das Minas e Energia (Palhares, 2007), o plano conclui que: as energias
denominadas como outras (que incluem os resíduos agrícolas, industriais e urbanos) representaram em 2005 2%
do consumo energético do País, sendo que em 2030 representarão 3%; o consumo energético do setor
agropecuário que em 2005 representou 5% do total do País irá ter a mesma representatividade em 2030. O Brasil
conseguirá manter um grau relativamente baixo de dependência externa de energia, custos competitivos de
produção de energia e níveis de emissões de gases (um dos mais baixos do mundo) praticamente inalterados.
Distância mínima do biodigestor até a granja - ideal 30 metros analisando caso a caso;
Distância entre cerca e biodigestor – lado 1, saída dos canos do agitador com distância de 0,60
do Manual de Procedimentos de Instalação de Biodigestores segundo Demarco (2005), citado por Pereira (2008).
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Comentários Finais
capacidade de 100 m³, confeccionado em laminado de PVC tipo vinimanta obtido por processo de calandragem
com espessura de 1 mm, cor branco avesso preto, pré-confeccionada em fábrica para impermeabilização da parte
inferior e superior do biodigestor. Além disso, foram adquiridas também válvulas de segurança e alívio
O biodigestor será utilizado para o tratamento de dejetos oriundos de suínos e outros animais utilizados
em ensaios de pesquisa do próprio instituto. Este tratamento de efluentes é de suma importância para a
instituição, como também para a cidade de Nova Odessa, pois desta forma poderá ser estudado e melhor
analisado o poder poluente deste resíduo e ainda, a diminuição do odor deste material. Uma grande expectativa é
de que a utilização do biodigestor resultará na produção de biogás natural que poderá produzir energia elétrica a
ser utilizada no Setor de Suínos, acarretando em uma expressiva economia de energia para a Instituição.
Novos planos de pesquisa estão sendo desenvolvidos pelo Centro de Nutrição Animal e Pastagem, do
Instituto de Zootecnia, a fim de que se possa viabilizar o uso dos biodigestores em sistemas de produção da
bovinocultura (leite e carne) na área reservada para pesquisas em confinamento destes animais. Espera-se que
um novo programa de manejo de resíduos orgânicos da produção animal possa ser iniciado e com isso, haja um
maior enfoque nas necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras. Com estes
estudos, o Instituto de Zootecnia busca uma produção animal sustentável, e para isso, é fundamental que se
tenha uma visão sistêmica e holística, não permitindo maior predominância de uma dimensão do sistema sobre as
outras, ou seja, a produção animal deve gerar renda e divisas, empregos e qualidade de vida, mas também
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARRERA, P. Biodigestores: energia, fertilidade e saneamento para a zona rural. São Paulo: Ícone,
1993, 11p. CHARA, O. J. D. El potencial de las excretas porcinas para uso múltiple y los sistemas
de descontaminacion productiva. CIPAV, 2000, 11p. http://www.cipav.org.co/confr/chara1.htm.
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MAGALHÃES, A. P. T. Biogás: Um projeto de saneamento urbano, 1986. NOBEL São Paulo. 120p.
MERKEL, J. A. In: Managing livestock wastes. AVI: Westport, Connecticut, 1981. 419p.
PALHARES, J.C.P. Biodigestores, a solução? Suinocultura Industrial, n.7, edição 208, p.12-22. 2007.
PEREIRA, E.R. Desenvolvimento de um sistema especialista para o manejo de efluentes das cadeias
avícola e suinícola. 2008. 82p. Relatório Final (Pós – Doutorado). Centro de Tecnologia.
Universidade Estadual de Campinas, 2008.
PNE - PLANO NACIONAL DE ENERGIA. Informe à imprensa. Plano Nacional de Energia – PNE 2030.
2007. Disponível em: http://www.portal2.tcu.gov.br. Acesso em março de 2009. 8p.
SGANZERLA, E. Biodigestores: uma solução. Porto Alegre. Agropecuária, 1983.
Resumo: A forma de utilização do efluente como fertilizante no solo não afetará somente os
agricultores que deles se utilizam, mas também os empreendimentos donde os mesmos se originam,
uma vez que dentro dos conceitos do agronegócio e das leis de proteção ambiental, os efluentes
devem ter uma forma de tratamento e disposição adequada, sob pena de inviabilizar a atividade
pecuária empresarial, principalmente aquela baseada em sistemas confinados. Tendo em vista a
complexidade das interações do agente poluidor com o ambiente, o desenvolvimento de estudos que
tornem possível a definição de taxas de aplicação de dejetos e a importância de se viabilizar um
sistema de tratamento dos resíduos, considerando-se as peculiares capacidades de suporte de cada
solo e resguardando a integridade dos recursos naturais, deve ser efetuado. Como alternativa de
tratamento, a tecnologia de biodigestores já tem pelo menos duas décadas no Brasil. Iniciou-se com
modelos provenientes da China e Índia. No entanto, o Brasil teve algumas dificuldades na sua
implementação, fazendo com que esta tecnologia caísse em descrédito no meio rural. Tecnicamente,
para as condições climáticas da maior parte do Brasil, a menor capacidade de aproveitamento da
produção de gás do modelo chinês é insignificante. Por isso, atualmente, os órgãos brasileiros de
extensão rural optaram pelo modelo chinês dado as suas facilidades de construção e tecnologia mais
simples.
Palavras-chave: suinocultura, sistema de tratamento, meio ambiente.
Abstract: The form of effluent use of as the fertilizing will not only affect the agriculturists whom of
them use, but also the enterprises of where the same ones if originate, a time that inside of the
concepts of the agronegócio and the laws of environmental protection, the effluent must be a form
of treatment and adjusted disposal, duly warned to make impracticable the enterprise cattle
breeding business, mainly that basing on confined systems. In view of the complexity of the
interactions of the polluting agent with the environment, the development of studies that become
possible the definition of taxes of application of waste and the importance of if carrying through a
system of treatment of the residues, considering themselves the peculiar capacities of support of
each soil and protecting the integrity of the natural resources, must be effected.
Key-words: swine production, treatment system, environment.
Dra Edilaine Regina Pereira Possui Graduação em Engenharia Agrícola pela Universidade
Estadual de Campinas-UNICAMP (1999), Mestrado em Agronomia - área de concentração
Irrigação e Drenagem, pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ/USP
(2002) e Doutorado em Agronomia - área de concentração Irrigação e Drenagem, pela
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - ESALQ/USP (2006). Pelo período de 2007
à 2008 foi Pesquisadora Colaboradora do Centro de Tecnologia da UNICAMP. Atualmente
compõe o quadro de Pesquisadora Colaboradora da Faculdade de Engenharia Agrícola -
FEAGRI da Universidade de Campinas - UNICAMP. É Pós doutoranda da mesma e apresenta
experiência na área de Engenharia Agrícola, atuando principalmente nos seguintes temas:
produção animal, zootecnia de precisão, construções rurais e ambiência, irrigação e
drenagem, engenharia ambiental, saneamento ambiental, qualidade da água, tratamento
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