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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

O Impacto das Emissões


de Carbono na
Construção Civil:
Contexto Global e
Diretrizes de
Redução

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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

ÍNDICE
APRESENTAÇÃO 03
A METODOLOGIA APLICADA AOS GRUPOS DE TRABALHO 04
1. A ERA DO CARBONO: METODOLOGIA 09
E TENDÊNCIAS NA CADEIA DA CONSTRUÇÃO
As mudanças climáticas
Estratégias de precificação de carbono
Inventários de carbono
Metodologia Programa Brasileiro GHG Protocol
A construção civil em um novo contexto
Net Zero Carbon

2. AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA E 28


ESPECIFICAÇÃO DE BAIXO CARBONO
Avaliação de Ciclo de Vida (ACV)
Pensamento ACV
Benchmarking Votorantim Cimentos
Bechmarking ArcelorMittal

3. DESENVOLVIMENTO DE EMPREENDIMENTOS 36
VOLTADOS À REDUÇÃO DA PEGADA DE CARBONO
Como funciona a ACV aplicada a edificações?
Contabilização de carbono
O mercado de crédito de carbono
Case HTB: e-Wood
Case Fundação Espaço Eco: Museu da Língua Portuguesa

4. RUMO AO NET ZERO CARBON 44


Caminhos para zerar emissões na operação dos edifícios
Desenvolvimento imobiliário com foco no net zero

CONCLUSÃO 49
CRÉDITOS 50
Co-autores
Equipe CTE enredes

2
Cada vez mais debatida em diferentes o Grupo de Trabalho (GT) “O impacto
esferas, a redução de emissões de car- das emissões de carbono na constru-
bono ainda desperta muitas dúvidas. ção civil: contexto global e diretrizes de
Por um lado a comunidade científica já redução”. Composto por 18 profissio-
formou consenso sobre a importância nais de empresas associadas à RCS, o
de deter o acúmulo de CO2 na atmos- grupo se reuniu virtualmente ao longo
fera para manter o aquecimento global de pouco mais de quatro meses no
abaixo de 1,5 °C, condição para redu- segundo semestre de 2021.
zir a exposição do planeta aos efeitos
catastróficos resultantes das mudan-
ças climáticas. Por outro, governos e Nas próximas páginas você terá a opor-
empresas ainda buscam saber como tunidade de conferir o resultado dos
viabilizar projetos economicamente debates deste Grupo e compreender um
sustentáveis e ambientalmente ade- pouco mais sobre um assunto que cer-
quados a esse contexto. tamente promoverá profundas transfor-
mações em um setor determinante para
a construção de um planeta mais sau-
Percebendo a necessidade de aprofun- dável e resiliente.
dar o debate e de disseminar conhe-
cimento, o Enredes, por meio da Rede
Construção Sustentável (RCS), criou Aproveite e tenha uma excelente leitura!

Roberto de Souza
CEO CTE/enredes
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

A METODOLOGIA DE TRABALHO

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CONTRIBUIÇÕES APLICAÇÃO

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Con
PRÁTICA

5 4
Desenvolvimento Desenvolvimento
da competência da conciência

Rodas do Aprendizado: Metodologia GT CTE Enredes

Com metodologia consolidada, o Enredes diferentes backgrounds de dez empresas


já promoveu a realização de 11 Grupos de associadas à RCS.
Trabalho, um programa colaborativo de
palestras, debates e compartilhamento de O GT foi estruturado em alinhamento à
experiências oferecido às empresas que Roda do Aprendizado, um instrumento
fazem parte do ecossistema de transfor- de educação andragógico que estimula o
mação digital, industrialização e sustenta- uso do pensamento sistêmico e promove
bilidade da construção civil. Este em espe- a mudança do modelo mental a partir de
cífico, agrupou as empresas focadas em uma visão compartilhada. Muito aplicada
sustentabilidade, sendo realizado para a na formação de líderes empresariais, a
Rede Construção Sustentável (RCS). metodologia foi utilizada para a elabora-
ção dos roteiros dos quatro encontros vir-
Idealizado para reunir os principais elos tuais do GT, que totalizaram doze horas de
da cadeia produtiva, o GT “O impacto trabalhos.
das emissões de carbono na constru-
ção civil: contexto global e diretrizes de Ao longo da jornada foram realizadas
redução”, contou com a participação de rodas de conversas, compartilhamentos
representantes de empresas fabrican- de dores empresariais, assim como pales-
tes, construtoras, incorporadoras, proje- tras com profissionais especialistas refe-
tistas,consultores e administradoras. O rências no assunto. O objetivo foi levar
Grupo foi composto por profissionais com aos participantes conceitos sólidos sobre

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os temas abordados para ampliar a visão adquirido e gerar negócios. Para os pro-
das oportunidades de melhoria da susten- fissionais, o plano foi auxiliar o desenvol-
tabilidade no setor da construção vimento de carreiras, melhorar a empre-
gabilidade e a construção de autoridades.
A geração e a troca de conhecimentos não
Por fim, o GT teve como ambição agregar
se esgotaram nos encontros on-line. Elas
benefícios para a sociedade, produzindo
estenderam-se via ferramentas de comu-
conteúdo relevante aplicável às organiza-
nicação digital, criando comunidades nos
ções, capaz de contribuir para a perpetui-
aplicativos WhatsApp e Slack.
dade dos negócios.
Todo o trabalho foi conduzido para garan-
tir os objetivos finais do GT para dife-
rentes stakeholders. Para as empresas
participantes, a iniciativa procurou capa-
citar talentos, tangibilizar conhecimento

DIRETRIZES DO GRUPO DE TRABALHO

Assumir o papel de Adotar o tripé da Atuar em economia


empresa na tríplice sustentabilidade como compartilhada, dividindo
hélice da inovação e um valor coletivo. o conhecimento.
empreendedorismo.

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EMPRESAS FORMADAS

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TEMAS E ESPECIALISTAS
TEMAS E ESPECIALISTAS

A era do carbono: Guilherme Lefèvre,


gestor de projetos na FGVces
ENCONTRO metodologia e e coordenador do Programa
tendência na cadeia Brasileiro GHG Protocol
da construção Adriana Hansen,
gerente de sustentabilidade
do CTE

Avaliação de Ciclo de Sonia Karin Chapman,


ENCONTRO secretária-executiva na
Vida e especificação Rede ACV
de baixo carbono Fábio Cirilo.gerente de
sustentabilidade e energia na
Votorantim Cimentos
Luis Augusto Pupin,
Especialista em P&D na
ArcelorMittal

Desenvolvimento de Caio Alencar,


ENCONTRO analista de sustentabilidade
empreendimentos na Etool
voltados à redução da Max Silva, coordenador de
pegada de carbono sustentabilidade aplicada na
Fundação Espaço Eco
Vitoria Lanes, analista de
sustentabilidade aplicada na
Fundação Espaço Eco
Adriana Machado,
superintendente de
desenvolvimento de negócios
na HTB

Rumo ao Net Zero Luciana Arouca,


ENCONTRO Carbon diretora de sustentabilidade
na JLL
Nelson Faversani,
diretor de Design &
Construction na Autonomy
Investimentos

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GUILHERME LEFÈVRE ADRIANA HANSEN SONIA KARIN FÁBIO CIRILO


Gestor de projetos na Gerente de CHAPMAN Gerente de
FGVces e coordenador sustentabilidade do Secretária-executiva sustentabilidade e
do Programa Brasileiro CTE na Rede ACV energia na Votorantim
GHG Protocol Cimentos

LUÍS FILIPE ARAÚJO CAIO ALENCAR MAX SILVA VITORIA LANES


Especialista na área Analista de Coordenador de Analista de
de Engenharia e sustentabilidade na sustentabilidade sustentabilidade
Inovação na Arcelor Etool aplicada na Fundação aplicada na Fundação
Mittal Espaço Eco Espaço Eco

ADRIANA MACHADO LUCIANA AROUCA NELSON FAVERSANI LUÍS PUPPIN 


Superintendente de Diretora de Diretor de Design Especialista em P&D
desenvolvimento de sustentabilidade & Construction na ArcelorMittal
negócios na HTB na JLL na Autonomy
Rumo ao Net Zero Investimentos
Carbon

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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

1 — A ERA DO CARBONO: METODOLOGIA


E TENDÊNCIAS NA CADEIA DA
CONSTRUÇÃO

TÓPICOS ABORDADOS NESTE CAPÍTULO:


Contexto histórico Metodologia Programa Brasileiro GHG
Protocol
As mudanças climáticas
A construção civil em um novo contexto
Estratégias de precificação de carbono
Net Zero Carbon
Inventários de carbono

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CONTEXTO HISTÓRICO
Ao longo dos anos, diversos eventos e acordos internacionais refletiram a evolução dos
compromissos e das ações para controlar as mudanças climáticas.

ENTRE ELES DESTACAM-SE:

Protocolo de Quioto, 1997 — COP 15, Copenhague, 2009 — Rio+20, Rio de Janeiro,
Tratado internacional Durante o evento na 2012 — O evento sediado
assinado no Japão. Foi o Dinamarca, os cientistas no Brasil deu destaque
primeiro acordo a apontaram que a para o conceito de
estabelecer metas de temperatura da Terra não economia verde, que
redução de gases de poderia aumentar mais do significa o crescimento
efeito estufa. que 2 °C em relação aos econômico aliado à
níveis pré-industriais, até o redução da emissão de
final do século. Caso gases poluentes.
contrário, se alcançaria um
ponto irreversível das
mudanças climáticas.

COP 21, Paris, 2015 — Por COP 26, Glasgow, 2021 —


meio do Acordo de Paris Durante o encontro
assinado por 196 nações, a promovido na Escócia
comunidade internacional se ficou claro que sem
comprometeu a limitar o comprometimento global
aumento da temperatura ao com metas de longo
máximo de 2 °C em relação prazo, o mundo enfrentará
aos níveis pré-industriais e a um aumento de 2,4 °C na
continuar os esforços para temperatura global até o
limitar o aumento da fim do século. A
temperatura a 1,5 °C. diminuição do uso de
carvão mineral e dos
subsídios aos
combustíveis fósseis
foram apontados como
fundamentais para reduzir
o aquecimento global.

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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
As mudanças climáticas e o efeito estufa Alguns dados do Painel Intergovernamen-
têm conquistado cada vez mais presença tal sobre Mudanças Climáticas (IPCC) (1)
nos debates do mundo corporativo em ajudam a entender a preocupação com
função do efeito devastador que estão relação a esse tema:
provocando.

Na década entre 2011-2020, Os últimos cinco anos foram A taxa de aumento do O aquecimento já está
a temperatura da superfície os mais quentes já nível do mar quase causando extremos
global foi 1,09 ºC superior registrados desde 1850 triplicou em comparação climáticos em todas as
em comparação ao período com o período entre regiões do globo, quer
entre 1850-1900 1901-1971 sejam ondas de calor ou
inundações

CONCEITO: Mudança climática é o nome dado ao conjunto de altera-


ções nas condições do clima associadas ao acúmulo de alguns tipos de
gases na atmosfera, os Gases do Efeito Estufa (GEEs), entre os quais
estão o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4).

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CONSEQUÊNCIAS
para
Humanidade e
Ecossistemas
Aquecimento Mudanças Frequência de Naturais
Global Climáticas Eventos Extremos
Climáticos

As mudanças climáticas podem se mani- maiores ameaças para a estabilidade eco-


festar de diferentes formas, sendo o aque- nômica. Um estudo de referência sobre o
cimento global a principal delas. Ele está tema é o Relatório Stern(2), financiado pelo
relacionado a uma frequência maior de Banco Mundial. Segundo o trabalho, base-
eventos extremos climáticos (tempesta- ado em modelos econômicos formais, se
des tropicais, inundações, ondas de calor, ações preventivas e corretivas ao aqueci-
seca, nevascas, furacões, tornados e tsu- mento global não forem implementadas,
namis) com graves consequências para a os custos totais e os riscos proporcio-
humanidade e ecossistemas naturais. nados pelas mudanças climáticas serão
equivalentes à perda de no mínimo 5% do
Além de seu grave impacto no meio PIB global em cada ano até 2050.
ambiente e nas pessoas, as mudanças
climáticas também representam uma das


Se não adotarmos medidas de caráter urgente, os
impactos causados pela mudança climática poderão
levar mais 100 milhões de pessoas à pobreza até 2030”.
Fonte: Relatório Stern

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Nesse contexto, medidas para combater Comissão Mundial sobre a Economia e o


o aquecimento do planeta são impres- Clima (3) publicado em 2018, a adoção de
cindíveis para garantir o desenvolvimento medidas climáticas ambiciosas poderia
sustentável e impulsionar o crescimento gerar um lucro econômico de 26 bilhões
econômico. De acordo com relatório da de dólares até 2030.

AQUECIMENTO ADOÇÃO DE MEDIDAS


CLIMÁTICAS
GLOBAL AMBICOSAS

- 5% DO PIB LUCRO USD


GLOBAL POR
ANO ATÉ 2050 28 BI ATÉ 2030

Ainda conforme este estudo, para cons- Desenvolvimento urbano mais


truir um modelo de crescimento mais resi- inteligente;
liente para a Terra são necessárias cinco
ações principais: Uso sustentável da terra;

Descarbonização dos sistemas de Gestão racional da água;


energia; Economia circular.

(1) IPCC é um órgão da ONU criado em 1988 para avaliar a ciência em


torno das mudanças climáticas.
(2) O Relatório Stern foi um documento encomendado pelo governo
britânico coordenado pelo economista do Banco Mundial Nicholas
Stern, divulgado no final de 2006.
(3) A Comissão Mundial sobre a Economia e o Clima (CMEC) é um
órgão da ONU que desenvolve estudos e recomendações para o com-
bate ao aquecimento global.

Todo o debate sobre as mudanças climáticas passa, inevitavelmente, pelas emissões de


gases do efeito estufa (GEEs).

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CURIOSIDADE: Os denominados Gases de Efeito de Estufa (GEE) passa-


ram a ser emitidos em quantidade excessiva especialmente a partir da
Revolução Industrial, no século XIX.

GASES DE EFEITO ESTUFA


Dióxido de carbono (CO2): responsável por cerca de 60% do efeito estufa, é
proveniente do uso de combustíveis fósseis, queimadas e desmatamentos
Metano (CH4): responde por 15 a 20% do efeito estufa. Trata-se de um
componente primário do gás natural, também produzido por bactérias no
aparelho digestivo do gado, em aterros sanitários, plantações de arroz inun-
dadas, mineração e queima de biomassa
Óxido nitroso (N2O): responde por cerca de 6% do efeito estufa, e é libe-
rado por microorganismos no solo por um processo denominado nitrifica-
ção. A concentração deste gás teve um enorme aumento por causa do uso
de fertilizantes químicos, da queima de biomassa, do desmatamento e dos
combustíveis fósseis.
Hexafluoreto de enxofre (SF6): usado como isolante em equipamentos elé-
tricos de grande capacidade, como chaves, disjuntores e transformadores.
Hidrofluorcarbonos (HFCs): emitidos tipicamente por fugas de aparelhos
de refrigeração
Perfluorcarbonos (PFCs): ocorrem na produção de alumínio

CONCEITO: O efeito de estufa é um fenômeno natural sem o qual a Terra


seria excessivamente fria inviabilizando a vida. Normalmente parte da
radiação solar que chega ao planeta é refletida e retorna diretamente
para o espaço. Outra fração é absorvida pelos oceanos e pela superfície
terrestre. Há, ainda, uma parte que fica retida por uma camada de gases
composta principalmente por gás carbônico (CO2), metano (CH4), N2O
(óxido nitroso) e vapor d água. Esta camada sobre a superfície terrestre
é que causa o efeito estufa.

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FONTES DE GEE
As mudanças climáticas podem ter causas naturais, como alterações na
radiação solar e dos movimentos orbitais da Terra. Elas também podem
ser consequência de atividades humanas, como:

Queima de combustíveis fósseis para geração de energia;

Atividades industriais e transportes;

Conversão do uso do solo;

Agropecuária;

Descarte de resíduos sólidos;

Desmatamento

O problema é que, em função da emissão na Terra, aumentando a temperatura da


de gases, esta camada tem ficado cada atmosfera terrestre e dos oceanos, oca-
vez mais espessa, retendo mais calor sionando o aquecimento global.

No Brasil, segundo Guilherme Lefèvre*, Amazônia. A partir de 2015, com o controle


gestor de projetos na FGVces - Centro de de desmatamento ilegal, a maior parte das
Estudos em Sustentabilidade da Fundação emissões passou a ser gerada pela agri-
Getúlio Vargas e coordenador do Programa cultura, mas ainda há possibilidade desse
Brasileiro GHG Protocol, a principal fonte cenário ser revertido, em função da baixa
de emissão de gases do efeito estufa sem- capacidade governamental de combater a
pre foi a mudança do uso da terra, espe- derrubada das florestas.
cialmente decorrente do desmatamento da

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Aos participantes do GT, Lefèvre lembrou que as mudanças climáticas são um PROBLEMA
GLOBAL COM IMPACTOS LOCAIS. Para controlá-las há duas abordagens principais:

ESTRATÉGIAS DE MITIGAÇÃO ESTRATÉGIAS DE ADAPTAÇÃO

A exemplo da troca de combustível, Visam tornar a sociedade mais resi-


reflorestamento, conservação de liente, usar produto que demanda
biomassa. menos recurso hídrico, etc.

As ações também podem ser resultado de políticas públicas (top-down) ou serem impul-
sionadas por ação da sociedade (botton-up).

POLÍTICAS
PÚBLICAS SOCIEDADE
(TOP-DOWN) (BOTTOM-UP)

* GUILHERME LEFÈVRE é formado pela Leiden University e


mestre em ciências ambientais pela Universidade de São
Paulo. Atualmente é gestor de projetos na FGVces (Centro de
Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas) e
coordenador do Programa Brasileiro GHG Protocol

O Centro de Estudos em Sustentabilidade (FGVces) da Escola de


Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas
trabalha no desenvolvimento de estratégias, políticas e ferramentas
de gestão pública e empresarial para a sustentabilidade, no âmbito
local, nacional e internacional.

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ESTRATÉGIAS DE PRECIFICAÇÃO DE CARBONO


De acordo com Guilherme Lefèvre, um instrumentos de controle de emissões, a
exemplo de política pública (top-down) um custo menor. Ao mesmo tempo, eles
visando reduzir emissões de GEE é a pre- geram oportunidades de negócios para
cificação de carbono. Os instrumentos de mitigação e inovação tecnológica, redu-
precificação dão aos agentes econômi- zindo os custos no médio prazo.
cos a liberdade de escolher tecnologias
e tomar a decisão de pagar o preço pela A precificação de carbono como parte de
emissão de acordo com seus custos de estratégias de intervenção pública pode
controle e metas de produção e expansão. ser classificada em duas categorias: preço
implícito ou explícito.
Os instrumentos de precificação per-
mitem alcançar as mesmas metas dos

PREÇO IMPLÍCITO PREÇO EXPLÍCITO

Restrições de emissão estipuladas A precificação é direta e pode ser


pelo órgão competente representam, estruturada em dois principais
implicitamente, um custo sobre a formatos:
emissão, enquanto demandam alte-
rações em tecnologias, combustíveis Tributo sobre carbono aplicado
ou processos, que implicam um gasto diretamente às emissões de GEE
adicional para o responsável pelas ou ao carbono presente nos com-
emissões. bustíveis fósseis produzidos;
Sistema de comércio de emissões.

INVENTÁRIOS DE CARBONO
O primeiro passo para que uma empresa A realização do inventário de carbono (ou
possa contribuir para o combate ao inventário de GEE) também permite às
aquecimento global é a elaboração de empresas enxergarem oportunidades de
um inventário de carbono. A partir do negócios no mercado de carbono, atraírem
diagnóstico do inventário a organiza- novos investimentos, ou ainda, planejarem
ção conhece seu perfil de emissões e processos que garantam eficiência econô-
assim pode dar o passo seguinte, esta- mica, energética ou operacional. “Trata-se
belecendo planos e metas para gestão e de uma ferramenta de gestão”, comenta
redução das emissões de gases de efeito Lefèvre, ressaltando que os inventários cor-
estufa. porativos de carbono também:

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Geram oportunidades de redução de custos


decorrentes da melhoria da eficiência, otimização do
uso de energia e de matérias-primas e adoção de
fontes alternativas de energia.

BENEFÍCIOS Permitem criar benchmarking e explorar


oportunidades para melhorar a
CORPORATIVOS competitividade.

Produzem dados para melhorar a prestação de contas


aos acionistas e stakeholders.

Garantem oportunidades no mercado internacional. O mercado globalizado exige


cada vez mais das empresas boas condutas em termos de desempenho em
sustentabilidade

Entre as diferentes metodologias existen- Lefèvre conta que o Programa Brasileiro


tes para a realização de inventários de GHG Protocol também mantém o Regis-
GEE, a GHG (Greenhouse Gas Control) tro Público de Emissões (RPE), uma pla-
Protocol(3) é a mais utilizada por empre- taforma online que auxilia as organiza-
sas e governos para entender, quantificar ções na publicação de seus inventários
e gerenciar emissões. de emissões corporativas de GEE. Com
mais de três mil inventários disponíveis,
No Brasil, o Programa Brasileiro GHG Pro- esta é a maior base de dados pública de
tocol (PBGHG) foi desenvolvido pelo FGV- inventários corporativos de GEE da Amé-
ces e pelo WRI (4) em 2008, sendo res- rica Latina.
ponsável pela adaptação do método ao
contexto nacional.

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MetodologiaPROGRAMA
METODOLOGIA Programa Brasileiro
BRASILEIROGHGGHG
Protocol
PROTOCOL

Definição dos Definição Identificação


limites de um do limite da emissão
inventário temporal e de GEEs
de emissões ano-base
de GEEs

Coleta dos Apresentação


dados de dos
Emissões Resultados
GEEs de GEEs

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1. DOS
1. DEFINIÇÃO Definição dos limites
LIMITES DE UMde um inventárioDEdeEMISSÕES
INVENTÁRIO emissões deDE
GEE
GEE

Limites organizacionais:
define os limites da companhia, incluindo operações e subsidiárias que
compõem o negócio.

Limites operacionais:
diz respeito às operações nas quais se encontram as
fontes e sumidouros de GEE.

FIGURA 2: Limites
Figure 2: LIMITES organizacionais
ORGANIZACIONAIS E OPERACIONAIS
e operacionais DE UMA
de uma EMPRESA
empresa

}
ORGANIZACIONAIS
Empresa mãe

LIMITES
Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D

}
Frota de Unidade Edifício Frota Fábrica Edifício

OPERACIONAIS
barcos de geração próprio/ próprio/
de energia automóvel arrendada

LIMITES
controlado controlado

Empresa A Emissões diretas e indiretas

CLASSIFICAÇÃO DE EMISSÕES, SEGUNDO O GHG PROTOCOL:

EMISSÕES DIRETAS EMISSÕES INDIRETAS

Emissões de escopo 1 — São lib- Emissões de escopo 2 — São as


eradas para a atmosfera como emissões indiretas, provenientes
resultado direto das operações da da energia elétrica adquirida para
própria empresa. Todos os com- uso da própria companhia. Entram
bustíveis que produzem emissões nesse grupo todas as emissões
de GEE devem ser incluídos no de GEE decorrentes do consumo
escopo 1. de eletricidade, vapor, calor e
refrigeração.
Emissões de escopo 3 — São todas
as emissões indiretas não incluí-
das no escopo 2 que ocorrem na
cadeia de valor da empresa.

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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

2. DEFINIÇÃO DO LIMITE TEMPORAL E ANO-BASE

Limite temporal ou período de referên- Ano-base: diz respeito ao inventário uti-


cia: é o recorte temporal da quanti- lizado como referência para acompan-
ficação de emissões. Normalmente, hamento da evolução das emissões.
inventários de GEE têm recorte anual, Para permitir comparações, deve-se
com período de referência entre 1º de estabelecer um ano-base histórico para
Janeiro à 31 de Dezembro do ano de emissões e remoções de GEE. (Fonte:
reporte. Way Carbon)

3. IDENTIFICAÇÃO DA EMISSÃO DE GEE

Fontes de emissão de GEE: unidades Sumidouro de GEE: unidade física ou


físicas ou processos que liberam algum processo que remove um gás de efeito
gás de efeito estufa (GEE) para a estufa da atmosfera.
atmosfera.

4. COLETA DOS DADOS DE EMISSÕES GEE

Esta etapa é a que demanda mais a criação de uma equipe composta de


tempo e esforço da equipe responsável gestores de diversas áreas dentro da
pela elaboração do inventário de GEE. organização, representa ganhos con-
sideráveis em tempo de desenvolvi-
A presença de um sistema integrado mento e qualidade do inventário.
de gestão de informações, assim como

5. CÁLCULO DE EMISSÕES GEE

O uso de ferramentas é aconselhado, As empresas podem usar seus próprios


uma vez que elas foram revisadas por métodos de cálculo de GEE, desde que
peritos e líderes da indústria, são reg- sejam mais precisos ou que sejam, pelo
ularmente atualizadas, e são tidas menos, consistentes com as diretrizes
como as melhores disponíveis. As fer- do Programa Brasileiro GHG Protocol.
ramentas, no entanto, são opcionais.

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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

6. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DE GEES

A publicação dos inventários deverá pelo programa (template), também dis-


ser feita on-line por meio do Registro ponibilizado na página de metodologias
Público de Emissões de GEE (www. do site.
fgv.br/ces/ghg). A organização partic-
ipante terá acesso ao Registro Público
com o uso de login e senha exclusivos. Para mais detalhes, acesse a Especifica-
O Registro Público é baseado no for- ção do Programa Brasileiro GHG Protocol
mulário padrão ou no desenvolvido na íntegra clicando aqui

(3) O GHG Protocol é uma iniciativa estabelecida em 1999 pelo World


Resource Institute (WRI) e pelo World Business Council for Sustai-
nable Development (WBCSD) com o objetivo de construir programas
precisos e efetivos para o combate às mudanças climáticas.
(4) O World Resources Institute (WRI) é uma organização não gover-
namental ambientalista independente, sem fins lucrativos, fundada
em 1982 e sediada em Washington, nos Estados Unidos.

CONTEXTO NACIONAL
Em 2021, durante a COP 26 (Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climá-
ticas), o Brasil se comprometeu a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa
em 50% até 2030, usando como base as emissões de 2005. Outra meta divulgada
pelo governo federal foi a de obter a neutralidade de carbono até 2050, quando as
emissões são reduzidas ao máximo e as restantes são integralmente compensadas,
por exemplo, com tecnologia de captura de carbono da atmosfera.

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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

A CONSTRUÇÃO CIVIL EM UM NOVO CONTEXTO


As etapas de construção e operação de Em palestra aos participantes do GT,
edificações têm um impacto enorme nas Adriana Hansen*, gerente da Unidade de
emissões de gases do efeito estufa. Em Sustentabilidade do CTE, explicou que
todo o mundo, os edifícios são responsá- apesar de o consumo de energia ter per-
veis por 38% das emissões, segundo dados manecido estável em 2019, as emissões
da IEA (International Energy Agency). Esse de CO2 nunca atingiram um nível tão ele-
valor contempla tanto as emissões opera- vado. lembrando também que o mundo
cionais, quanto as oriundas do consumo trabalha para reduzir 1,3 giga toneladas
de materiais. Do total, 28% das emissões de GEE até 2025, valor longe do ideal
globais são exclusivamente relacionadas frente aos compromissos internacionais
à operação das edificações. já estabelecidos.

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA É IMPERATIVO


Grande parte da redução de emissões de GEE é resultante da eficiência operacional
dos edifícios. Isso traz benefícios não somente relacionados à redução do efeito
estufa, como também implica em diminuição de custos de operação condominiais.
Grande parte do movimento em prol da eficiência energética é impulsionada por
regulamentações nacionais. Em 2019, 73 países já possuíam códigos para tratar
de eficiência energética, alguns mandatórios, outros não. No Brasil, há o PBE Edi-
fica (Programa Brasileiro de Etiquetagem de Edificações), compulsório para prédios
públicos e voluntário para edifícios privados, com requisitos para garantir o desem-
penho energético nas edificações.
No mundo, 235 bilhões de metros quadrados construídos já precisam atender a códi-
gos de eficiência energética de forma mandatória. Para 2050, a expectativa é a de
que haja um salto para 461 bilhões de metros quadrados.


Em 2019 chegamos a um patamar de emissões de CO2
da ordem de 10,1 giga toneladas. Um número tão alto
reforça a importância de avaliarmos nossas ações e
agirmos com compromissos setoriais para minimizar
essas emissões”.
Adriana Hansen, Gerente de Sustentabilidade do CTE

23
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

NET ZERO CARBON


Uma estratégia diretamente relacionada Diversas certificações impulsionam o
à eficiência energética é a construção de movimento Net Zero Carbon. Entre elas,
edificações Net Zero Carbon operacional. o LEED, que possui uma versão Carbono
Estamos nos referindo a prédios que apre- Zero, o GBC Brasil Zero Energy, o Selo
sentam alta performance energética e con- Aqua e o Edge Zero Carbon.
seguem suprir o saldo da energia necessá-
ria para sua operação por meio de fontes
renováveis, preferencialmente onsite.

A JORNADA PARA ATINGIR TAL GRAU DE EFICIÊNCIA


PASSA
A jornadaNECESSARIAMENTE POR QUATRO
para atingir tal grau de eficiência ETAPAS: por
passa necessariamente
quatro etapas:

Medir e rastrear as Reduzir o consumo e Produzir energia por Melhorar continuamente


emissões para definir trazer eficiência meio de fontes e estabelecer planos de
ações efetivas para energética para reduzir a renováveis, por exemplo, descarbonização
atingir o balanço zero o desperdício de via instalação de placas profunda para remover
operacional zero energia fotovoltaicas quaisquer fontes
remanescentes de
emissões, incluindo o
carbono incorporado

24
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

De acordo com Adriana Hansen, diante O caminho para a redução passa por
do movimento para reduzir o consumo de prevenir as emissões, eliminar desper-
combustíveis fósseis e maximizar a efici- dícios, questionar o uso dos materiais e
ência energética dos edifícios, o carbono usar estratégias alternativas. Uma saída
incorporado deve se tornar cada vez mais é considerar a incorporação de resíduos
representativo na pegada de carbono do na produção dos materiais desde que eles
setor. Estamos nos referindo ao carbono sejam tecnicamente bons para a constru-
associado aos processos de transforma- ção civil. Na sequência, parte-se para as
ção dos materiais ao longo de seu ciclo de ações relacionadas ao desenvolvimento
vida, desde a extração da matéria-prima de projetos mais eficientes, com o apoio
até o descarte. de ferramentas como o BIM (Building
Information Modeling) e a Análise de Ciclo
Em um horizonte de dez anos, estima-se de Vida (ACV).
que as emissões de carbono incorporado
representem 72% do total de emissões de Também é fundamental incorporar mate-
edificações. Portanto, é urgente aumen- riais que declarem seus impactos de forma
tar os esforços para combater o carbono transparente. Além disso, o planejamento
incorporado em escala global. Isso pode deve ser realizado considerando cenários
se dar com o uso de materiais de baixo futuros, com a priorização de soluções fle-
carbono e com a adoção de fontes alter- xíveis que maximizem o reuso.
nativas de energia pela indústria de mate-
riais. Na rota para a redução de carbono, o A última etapa do processo consiste em
maior potencial de diminuição dos teores compensar o residual de carbono que não
de carbono incorporado está na etapa de foi possível eliminar a partir da inteligên-
projeto e planejamento. Nesse momento é cia de projeto e da aquisição de materiais
possível obter os menores custos com a de baixo carbono.
análise de diferentes alternativas constru-
tivas em função de seus impactos.

(*) ADRIANA HANSEN é engenheira ambiental, mestre em enge-


nharia química e gerente de consultoria da Unidade de Susten-
tabilidade do CTE. Atua como professora em cursos de pós-gra-
duação, além de ser vice-presidente no CSC do GBCI e membro
do Comitê Técnico de Uso Racional de Água do USGBC.

O Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) é uma empresa de


consultoria e gerenciamento especializada em qualidade, tecnologia,
gestão, sustentabilidade e inovação para o setor da construção. Por meio
da Unidade Sustentabilidade, oferece consultoria para o desenvolvimento
de empreendimentos sustentáveis de alta performance.

25
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

METAS SETORIAIS GLOBAIS


O setor da construção civil tem um compromisso global de neutralizar todas as emis-
sões de novas construções até 2030. Para 2050 o compromisso é ter um setor com
emissões zero de carbono.

ESTRATÉGIAS PARA MINIMIZAR O CARBONO


INCORPORADO
Estratégias para minimizar o carbono incorporado

Não construir — A única Construir menos — Construção inteligente — Construção eficiente —


forma de reduzir 100% do Maximizar o retrofit, Escolher materiais Embarcar novas
carbono incorporado é otimizar a operação e alternativos, agilizar tecnologias, adotar
não construir. Hoje não prolongar a vida útil do processos e minimizar o metodologias como o
há projeto com zero edifícios consumo lean construction e
carbono incorporado que eliminar resíduos
se viabilize apenas pelo
uso de materiais de baixo
carbono

26
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

ROADMAP
Roadmap paraPARA A DESCARBONIZAÇÃO
a descarbonização

Planejamento Novas edificações – Edifícios existentes — Operações de


urbano — Integrar a Desenvolver estratégias Implementar estratégias
construção —
eficiência energética Facilitar a manutenção e
de descarbonização, de descarbonização o gerenciamento do
nas políticas de implementar códigos de para reforma e retrofit,
planejamento urbano, edifício. Adotar ferra-
desenvolver planos eficiência energética aumentar as taxas de mentas, sistemas e
urbanos nacionais e obrigatórios e incentivar renovação e incentivar padrões de desempenho
locais e garantir a o alto desempenho. o investimento para energético que permitam
colaboração entre níveis aumento de desempe- a avaliação, o monitora-
nacionais e regionais. nho operacional. mento e gerenciamento
de energia

Equipamentos e Materiais — Resiliência — Energia limpa —


sistemas — Desenvol- Desenvolver bancos de Desenvolver estratégias Acelerar a descarboni-
ver, aplicar e fortalecer dados de carbono integradas de avaliação de zação da eletricidade e
ainda mais os requisitos incorporado, aumentar a risco e resiliência para de fontes de energia
conscientização e térmica. Desenvolver
mínimos de desempe- garantir a adaptação marcos regulatórios
nho energético em promover a eficiência
dos edifícios existentes claros, incentivos
dos materiais. Acelerar
equipamentos e priorizar e integrar a resiliência financeiros adequados,
a eficiência na fabrica-
a eficiência energética ção e reduzir o impacto em novas construções. promover a energia
nas compras públicas. ao longo do ciclo de renovável on-site, assim
vida. como a aquisição de
energia verde.

27
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

2 — AVALIAÇÃO DE CICLO DE VIDA E


ESPECIFICAÇÃO DE BAIXO CARBONO

TÓPICOS ABORDADOS NESTE CAPÍTULO:


Avaliação de Ciclo de Vida (ACV)
Pensamento ACV
Benchmarking Votorantim Cimentos
Bechmarking ArcelorMittal

DEFINIÇÃO: A Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) é uma ferramenta de


gestão ambiental estratégica que contribui com informações importan-
tes para a tomada de decisão.

Ela analisa aspectos ambientais e impac- a inclusão de modelos econômicos e de


tos potenciais positivos e negativos ao impactos ambientais. Atualmente, tam-
longo da vida de um produto ou serviço, bém podem ser inseridas variáveis sociais,
desde a extração da matéria-prima até formando completando os três pilares da
a destinação final. Criada na década de sustentabilidade.
1960, a ACV foi impulsionada pela crise do
petróleo na década seguinte por ser uma A metodologia ACV é regulamentada pelas
ferramenta capaz de analisar opções para normas ISO 14.040 e ISO 14.044 que defi-
redução de custos operacionais relaciona- nem os requisitos e as seguintes etapas
dos ao consumo de energia. Nas décadas do estudo:
de 1980 e 1990, a ferramenta evoluiu com

28
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

Definição de objetivo e Análise de inventário. Nesta Avaliação de impacto do ciclo Interpretação. Envolve
escopo. Nesse momento etapa são coletados os de vida. Os efeitos do uso de revisão crítica,
são definidos o produto a dados de materiais e de recursos e das emissões determinação da
ser avaliado e o nível de energia consumidos e as geradas são agrupados e sensibilidade dos dados e
detalhe necessário. emissões geradas pelo ciclo quantificados na forma de reporte das oportunidades
de vida de um produto. métricas como mudanças para redução de impactos
climáticas (pegada de ao longo de toda a cadeia
carbono), uso de recursos não de valor.
renováveis, acidificação,
pegada hídrica, entre outros. Os
resultados de cada indicador
podem ter sua importância
avaliada por normalização e,
eventualmente, por ponderação.

Com o emprego da ACV, é possível, por desempenho; e assegurar competitividade


exemplo, estimular a definição de indica- frente a políticas de compras sustentáveis
dores e metas de desempenho ambiental; e demandas de acionistas.
identificar oportunidades para melhoria de


A ACV também serve para otimizar a gestão, promover
inovação mais sustentável e gerar aproximações
entre organizações de diferentes segmentos, além de
oferecer argumentos para prover uma comunicação
mais objetiva com vários públicos, especialmente os
críticos ao setor e às empresas”.
Sonia Karin Chapman*, secretária-executiva
na Rede ACV

A realização da ACV já é exigida para de licitações, e referenciais como a ISO


exportação de alguns produtos. Também 20.400 (compras sustentáveis), e a ISO
há várias regulamentações e órgãos que 14.001 (sistema de gestão ambiental),
orientam para a realização deste estudo. além do ISE (Índice de Sustentabilidade
Entre elas, as leis de resíduos sólidos e Empresarial) e do Sistema B.

29
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

PENSAMENTO ACV
Segundo Chapman é fundamental que O processo continua, segundo Chapman,
empresas e sociedade adotem um pensa- com a mensuração dos impactos ambien-
mento de ciclo de vida na hora de abordar tais, sociais e econômicos de cada solu-
um empreendimento ou um material. Essa ção no ciclo de vida, bem como com a
mudança de mindset envolve um roteiro análise de inovações mais disruptivas.
que começa com o questionamento sobre “Pensar ciclo de vida é ter maior consci-
a função do objeto de análise. A função ência de toda matéria-prima necessária,
do carro, por exemplo. Para alguns esse incluindo o beneficiamento, o consumo,
objeto representa apenas uma forma de o descarte, a energia consumida, o trans-
locomoção. Para outros, é um símbolo porte e as emissões geradas em todo o
de status. Há quem veja o carro, ainda, processo. Ou seja, é ter uma orientação
como uma paixão, um hobby, por isso é mais integrada no processo ou cadeia de
necessário adotar uma visão sistêmica do valor, ser eficiente na aplicação de recur-
objetivo das coisas e do material que se sos e tornar esse uso cada vez mais efi-
propõe analisar. “Do contrário, caímos no ciente e duradouro”.
risco de realizar substituições muito sim-
ples e perdemos oportunidades de avan- Para a executiva da Rede ACV, as pessoas
çar”, alertou Chapman. frequentemente atribuem a governos e às
empresas a responsabilidade de avançar
Em seguida parte-se para busca de alter- em questões como a redução de emis-
nativas que atendam aquela função e para sões e a melhoria de condições de vida.
uma análise sobre o quão eficiente é cada
alternativa no atendimento da função.


Mas nós somos parte do problema. Portanto,
precisamos nos perguntar como podemos ser parte da
solução. Seja através da revisão de hábitos, de uma
maior atuação pública, da promoção de debates, do
compartilhamento de informações”.
Sonia Karin Chapman*, secretária-executiva
na Rede ACV

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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

MINDSET DE CICLO DE VIDA NA HORA DE ABORDAR UM


EMPREENDIMENTO OU UM MATERIAL

Busca de alternativas que atendam aquela função

Análise sobre o quão eficiente é cada alternativa


no atendimento da função

Mindset de
ciclo de vida na
Mensuração dos impactos ambientais,
hora de abordar um sociais e econômicos de cada solução no
empreendimento ou ciclo de vida

um material

Análise de inovações mais disruptivas

(*) SONIA KARIN CHAPMAN — Com formação em administração


e atuação em grandes companhias e consultorias, é secretária-
executiva na Rede Empresarial Brasileira de Avaliação de Ciclo de
Vida. Lançada em 2013, a Rede ACV é um ambiente de cooperação
entre organizações que visa promover diálogos e ações concretas
para a promoção da Avaliação de Ciclo de Vida no Brasil.

Lançada em 2013, a Rede Empresarial Brasileira de Avaliação de Ciclo


de Vida (Rede ACV) tem como missão mobilizar empresas, articular
governos e educar o consumidor, visando incorporar a ACV como uma
ferramenta para determinar a sustentabilidade dos produtos.

31
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

BENCHMARKING VOTORANTIM CIMENTOS

ANÁLISE DE CICLO DE VIDA produtivo, o cimento representa 7% das


emissões globais de CO2”, comentou Fábio
APLICADA À INDÚSTRIA DE Cirilo*, gerente de sustentabilidade e ener-
CIMENTO gia na Votorantim Cimentos. A empresa
divulgou 17 metas ambientais para 2030,
Globalmente 40% das emissões de gases entre as quais está a redução da emissão
do efeito estufa são atribuídos ao setor de carbono.
da construção. Parcela importante des- Aos participantes do GT, Cirilo explicou
sas emissões é derivada do concreto, que 50% das emissões de CO2 na produ-
substância manufaturada mais utilizada ção de cimento é resultado da calcinação,
no planeta. “Em função dos volumes que consiste no aquecimento do calcário
consumidos e, também pela intensidade nos fornos.
de energia demandada em seu processo


Substituir esse processo é um desafio grande para a
indústria porque não há nada tão abundante e barato
quanto calcário para fazer cimento”.
Fabio Cirilo, gerente de sustentabilidade e energia na
Votorantim Cimentos

32
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

Em sua jornada para redução de emissões, Entre as estratégias que têm sido explo-
a Votorantim Cimentos tem apoiado suas radas pela Votorantim Cimentos está a
tomadas de decisão nas informações adição de escórias e cinzas para reduzir o
obtidas por ACV desde 2015. Esta meto- impacto ambiental do produto final, a utili-
dologia mede o impacto dos nossos pro- zação de resíduos como o caroço de açaí
dutos e serviços em todo o ciclo de vida, em substituição a combustíveis fósseis, e
apoiando as decisões do negócio para a a produção de argila calcinada para dimi-
aplicação contínua de práticas sustentá- nuir o teor de clínquer no cimento.
veis. Trata-se de uma ferramenta de diag-
nóstico, que ajuda a entender onde está Outra ação rumo à descarbonização é o
o impacto. Ela também funciona como desenvolvimento de produtos que gerem
um mecanismo de comunicação, trans- concretos mais duráveis ou que agreguem
parência e diferenciação perante o mer- benefícios ambientais e operacionais para
cado, Além disso, segundo Cirilo, a ACV a obra. Um exemplo é o concreto de traço
contribui com a obtenção de pontos em único Spectra®, que permite a redução de
certificações de edifícios LEED e Aqua, por 20% de emissão de CO2 quando compa-
exemplo e a comunicar para o mercado rado com um concreto de traço conven-
práticas de descarbonização. cional de mesma resistência.

(*) Fábio Cirilo — Engenheiro mecânico pós-graduado em


gestão de negócios. É gerente de Sustentabilidade e Energia na
Votorantim Cimentos, além de co-chair do grupo de trabalho de
concreto sustentável da Associação Global de Cimento e Concreto
e co-líder Câmara de Clima e Energia do Conselho Empresarial
Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

Votorantim Cimentos: Presente em onze países, a Votorantim Cimentos


é a sétima companhia do setor cimenteiro em capacidade instalada do
mundo. A empresa é parte da Votorantim S.A., um dos maiores grupos
empresariais do Brasil, com mais de um século de existência.

33
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

BENCHMARKING ARCELORMITTAL

ABORDAGEM O primeiro deles são os impactos eco-


nômicos, que consideram o custo glo-
SISTÊMICA EM PROL DA bal do empreendimento, a velocidade e
RACIONALIZAÇÃO DO a qualidade da construção. O segundo
PROJETO pilar de estudo foca o impacto ambien-
tal, contemplando a análise de ciclo de
Luis Augusto Pupin*, especialista em P&D vida das soluções propostas, a eficiência
na ArcelorMittal, apresentou aos partici- energética e a economia circular. Por fim,
pantes do GT a aplicação do Steligence®. o Steligence® também se apoia na ava-
Trata-se de uma metodologia para atender liação de impactos sociais, considerando
as exigências da construção sustentável, questões relacionadas a conforto tér-
que avalia o ciclo de vida do empreendi- mico e acústico, design para flexibilidade,
mento partindo de três pilares. segurança e incômodos gerados durante
a realização da obra.


O objetivo é possibilitar o uso de aço de maneira mais
efetiva e inteligente. Queremos vender menos tonelada
e mais função e valor agregado do produto”.
Luis Augusto Pupin, Especialista em
P&D na ArcelorMittal

34
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

A metodologia tem sido aplicada para a galpão com quase 100 mil m2. A aplicação
construção de galpões industriais, edifí- do Steligence®, nesse caso, permitiu com-
cios residenciais e edifícios garagem para parar uma solução de mercado baseline
comparar uma solução baseline com um (com os sistemas construtivos mais utili-
projeto otimizado com a inserção de dife- zados nessa tipologia de construção) com
rentes soluções ArcelorMittal, como lajes duas alternativas otimizadas que previram
bubbledeck e aços de maior resistência. a substituição de soluções construtivas
Facilitando a avaliação de ciclo de vida, visando maximizar o desempenho. Com
a companhia possui seis declarações uma das alternativas propostas foi possí-
ambientais de produto do tipo 3, sendo vel obter redução do custo da construção
três delas para aços longos e três para em torno de 19% aliada à diminuição de
aços planos. emissões de GEE de 74,6 kgCO2eq/m2 para
67,3 kgCO2eq/m2 considerando as etapas de
Para exemplificar os resultados proporcio- fundação, estrutura e fechamento.
nados pela nova abordagem, o especia-
lista apresentou um estudo de caso de um

(*) Luis Augusto Pupin — É especialista em P&D na ArcelorMittal.

ArcelorMittal: Líder mundial na produção de aço, a ArcelorMittal


possui clientes em 160 países e conta com mais de 190 mil
empregados. No Brasil, a siderúrgica tem plantas industriais em seis
estados que, juntas, somam mais de 12,5 milhões de toneladas/ano
de capacidade instalada.

35
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

3 — DESENVOLVIMENTO DE
EMPREENDIMENTOS VOLTADOS À
REDUÇÃO DA PEGADA DE CARBONO

TÓPICOS ABORDADOS NESTE CAPÍTULO:


ACV aplicada a edificações
Contabilização de carbono
O mercado de crédito de carbono
Case e-Wood HTB
Case Museu da Língua Portuguesa

ACV APLICADA A EDIFICAÇÕES


Com uma abordagem sistêmica e essen- projeto para entender qual a relevância de
cialmente quantitativa, a Avaliação do cada ação para o aumento do desempenho
Ciclo de Vida (ACV) é aplicável a produ- do projeto”, disse Caio Alencar*, analista
tos de diferentes naturezas, inclusive para de sustentabilidade na eTool, empresa
edificações. No caso das construções, o de engenharia e desenvolvimento de sof-
ciclo de vida abarca todas as etapas de tware especializada em ACV de edifica-
produção e uso do produto, da extração ções e infraestrutura.
das matérias-primas que darão origem
aos materiais de construção, passando Em sua fala aos participantes do GT, Alen-
pelas fases de projeto, obra e operação, car explicou que um projeto de ciclo de
até chegar ao fim da vida útil, à disposição vida usa metodologia alinhada à norma
final, reciclagem e reuso. EN 15.978 para quantificar, comparar e
melhorar o desempenho de um produto
“A ferramenta permite conhecer os maio- ou serviço. Essa norma divide a análise de
res impactos e avaliar as melhorias de ciclo de vida em alguns estágios.

36
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

Nível A1-A3 — Nível A4-A5 — Nível B1-B7 —


Contabiliza os impactos Contempla o transporte Aborda a operação dos
ocorridos na etapa de dos materiais até o edifícios, incluindo
produção dos materiais, canteiro e o processo manutenções e
do “berço ao portão” da de construção, reparos.
fábrica. Nesse módulo incluindo maquinário
estão incluídos a
e instalações.
extração da matéria-
-prima, o transporte até a
fábrica e a fabricação.

Nível C1-C4 — Módulo D —


Inclui o processo de Além da fronteira
descarte, demolição e abarcada pela ACV,
desconstrução contempla a parte de
do edifício. reuso, recuperação,
reciclagem.

Como padrão, a ACV realiza a captura de impactos ao longo de 60 anos. Para prédios
comerciais a unidade de medida utilizada é o kgCO2/m2. Já para empreendimentos resi-
denciais, calcula-se a quantidade de kgCO2/habitante/ano.

(*) CAIO ALENCAR RIBEIRO — Bacharel em sistemas de informação


com formação em Tecnologia em Gestão Ambiental. É analista de
sustentabilidade e desenvolvimento de negócios na eTool.

A eTool é líder de mercado em consultoria e comercialização de


software para Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) de edificações e
infraestrutura. Com atuação global, a empresa auxilia equipes de
projeto a priorizar as melhorias mais relevantes para garantir o alto
desempenho ambiental.

37
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

POR QUE USAR A ACV?


São múltiplos os motivos que justificam a aplicação da ACV. Eles começam pela pos-
sibilidade de comparar o projeto proposto com a prática atual do mercado. Outro bene-
fício é permitir compreender e identificar quais são os maiores impactos ambientais
de um projeto para poder lançar mão de estratégias de melhorias. Na Europa, inclusive,
a ferramenta é muito utilizada durante as etapas de projeto para auxiliar o desenvolvi-
mento de soluções que já nasçam com impacto ambiental reduzido.
Há ainda, outros fatores que induzem o interesse pela ACV, como eventuais benefícios
regulatórios, a valorização do imóvel, a comunicação com a sociedade e a obtenção de
certificações ambientais. No caso da certificação LEED, apenas o fato de se calcular os
impactos via ACV já adiciona um ponto no processo de obtenção do selo.

CONTABILIZAÇÃO DE CARBONO
Em suas jornadas sustentáveis, as empre- “Antes de pensar em crédito de carbono,
sas encontram-se em diferentes graus é preciso ter uma gestão de carbono. Para
de maturidade. Mas independente disso, isso, o primeiro passo é ter informações
todas precisam adotar alguma estratégia consistentes que possam apontar os prin-
de mensuração de emissões de carbono. cipais contribuintes no seu processo e em
Isso é condição tanto para respaldar pro- sua cadeia”, destacou Max Silva*, coorde-
jetos de melhoria interna, quanto para nador de sustentabilidade na Fundação
comunicar as ações de descarbonização Espaço Eco.
para o mercado.

38
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

Em sua palestra aos participantes do GT, Silva listou três níveis de contabilização de emis-
sões de GEE:

Regional — Voltado para emissões de país, estado e


município. Utiliza como referência os IPCC Guidelines.

Contabilização Organizacional — Contabiliza as emissões


de GEE de todas as atividades da
de carbono organização e tem como referência os
escopos do GHG Protocol que classifica as
emissões em escopos 1, 2 e 3.

Produto — Contabiliza as emissões desde a extração


da matéria-prima, manufatura e disposição final.
Algumas normas de referência são a ISO 14.040/44, o
GHG Protocol para Produtos e a ISO 14.067.

(*) MAX WILSON SILVA — Engenheiro ambiental com


especialização em intraempreendedorismo e em eficiência
energética. É coordenador de sustentabilidade na Fundação
Espaço Eco.

Instituídos pela BASF, em 2005, como uma organização sem fins


lucrativos, a Fundação Espaço Eco atua como consultoria para
sustentabilidade, desenvolvendo projetos customizados para
organizações medirem e compreenderem impactos ambientais,
sociais e econômicos de seus produtos e processos – com base no
pensamento de Ciclo de Vida.

39
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

O MERCADO DE CRÉDITO DE CARBONO


O mercado de crédito de carbono é um uma bolsa de valores. Para viabilizar as
sistema que atribui um custo à poluição transações nesse mercado, há dois agen-
ambiental de CO2. As empresas que produ- tes importantes, além de compradores
zem dióxido de carbono além das metas e vendedores. O primeiro deles é o orga-
pré-estabelecidas, podem adquirir certifi- nismo certificador que dá validade aos
cados de empresas que produzem menos. projetos de captura de carbono. Há, ainda,
Dessa forma torna-se possível que empre- corretoras que disponibilizam o crédito de
sas sejam classificadas como carbono carbono para a companhia interessada
neutro, mesmo emitindo CO2. em comprá-lo.
A negociação entre compradores e ven-
dedores ocorre em uma plataforma, como


HáTRÊS TIPOS
três BÁSICOS
tipos DE CRÉDITO
básicos DE CARBONO:
de crédito de carbono:

Emissões evitadas
(por exemplo,
abstendo-se de
cortar florestas
As de emissões tropicais).
reduzidas
(normalmente
medidas de
eficiência Emissões
energética) removidas
(captura de
carbono e plantio
de florestas)

40
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

Case e-Wood HTB

ESTUDO DE CARBONO mais alinhado às suas metas ESG (Envi-


ronmental, Social and Governance). As
INCORPORADO NO pesquisas conduziram a companhia à
E-WOOD madeira engenheirada, capaz de seques-
trar 1 tonelada de CO2 durante o seu pro-
Com arquitetura de Kröner & Zanutto, o cesso de produção, enquanto a produção
e-Wood é um projeto que começou a ser de 1 m2 de concreto emite 1 tonelada de
estudado em 2019 como consequência da CO2 para a atmosfera.
busca da HTB por um sistema construtivo


Outros valores que detectamos nessa solução
estrutural foram a biofilia, benéfica para os usuários, a
industrialização proporcionada à etapa de construção
e a leveza estrutural”,
Adriana Machado*, superintendente de
desenvolvimento de negócios na HTB

Um pilar com 3 m de altura em madeira um sistema industrializado, não híbrido,


engenheirada pesa 60 kg e tem um con- personalizável e replicável em outros
sumo de energia de 60 Kwh. Um mesmo empreendimentos.
pilar em aço pesa 78 kg, mas consome
561 Kwh de energia. Quando comparamos Para medir a influência da madeira na
com o concreto, o peso salta para 300 kg redução de carbono incorporado no
e o consumo de energia fica na casa de e-Wood, o CTE fez um estudo partindo da
227 kwh. O estudo foi realizado também metodologia da Certificação LEED, com o
com o objetivo da HTB de desenvolver apoio de ferramenta da e-Tool.

41
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

O trabalho adotou como baseline um pro- 237 kgCO2eq/m2 para 125,10 kgCO2eq/m2 e
jeto de concreto moldado in loco com obteve-se redução significativa de 67% de
emissões da ordem de 380 kgCO2eq/m2. O carbono em relação ao baseline”. Vale res-
e-Wood, com madeira engenheirada, con- saltar também a importância de o projeto
creto e aço obteve índice de 237 kgCO2eq/m2. pensar no aproveitamento sustentável da
Mas a melhor performance foi conquis- madeira ao fim da vida útil do edifício.
tada com o projeto otimizado, produzido
após a constatação de que mudar a estru- Segundo Adriana Machado, em uma aná-
tura para a madeira cria a possibilidade de lise global, o aumento de custos decor-
revisar a parte de fundações, permitindo rente do uso da madeira engenheirada,
reduzir em torno de 20% do consumo de em comparação a uma estrutura conven-
concreto e aço nessa etapa. cional, girou em torno de 3% no e-Wood.

Com o projeto otimizado, foi possível


diminuir ainda mais as emissões, de


Contabilizamos extração das matérias-primas,
transportes, transformação, atividade construtiva, uso
e manutenção, processo de desconstrução e descarte
do material após 60 anos”.
Adriana Hansen, gerente de sustentabilidade no CTE

(*) ADRIANA NUNES MACHADO — Engenheira civil, é


superintendente de desenvolvimento de negócios na HTB.

Com mais de 50 anos de atuação no mercado brasileiro, o Grupo HTB,


de origem alemã, acumula vasta experiência nos mercados privados
de edificações, industrial e infraestrutura e com atuação também nos
demais países da América Latina.

42
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

CASE MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA

COMPARAÇÃO DE Foram avaliados aspectos como desem-


penho energético, consumo de água e des-
DESEMPENHO AMBIENTAL tinação dos resíduos. O estudo detectou
NO MUSEU DA LÍNGUA que, após reforma, houve redução de 8,6%
no consumo de energia, índice semelhante
PORTUGUESA à redução de água, graças à instalação de
equipamentos e dispositivos mais eficien-
Quando o Museu da Língua Portuguesa, tes. Também deixaram de ser emitidas 47
em São Paulo, passou por uma reforma toneladas de carbono, o equivalente ao con-
em 2017, foi realizada uma avaliação de
desempenho ambiental para comparar a sumo energético anual de 54 residências.
performance da instalação antes e após a
intervenção. O trabalho contribuiu para a
obtenção do selo LEED na categoria Silver.


O comparativo também ajudou a comunicar melhor à
sociedade os benefícios ambientais proporcionados
pela reforma”
Vitoria Lanes*, analista de sustentabilidade aplicada
na Fundação Espaço Eco.

(*) VITORIA LANES — Com experiência em projetos de avaliação


de ciclo de vida e ecoeficiência, é analista de sustentabilidade
aplicada na Fundação Espaço Eco.

Instituídos pela BASF, em 2005, como uma organização sem fins


lucrativos, a Fundação Espaço Eco atua como consultoria para
sustentabilidade, desenvolvendo projetos customizados para
organizações medirem e compreenderem impactos ambientais,
sociais e econômicos de seus produtos e processos – com base no
pensamento de Ciclo de Vida.

43
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

4 — RUMO AO NET ZERO CARBON

TÓPICOS ABORDADOS NESTE CAPÍTULO:


Caminhos para zerar emissões na operação dos edifícios
Desenvolvimento imobiliário com foco no net zero

Uma das principais estratégias para redu- A neutralidade de carbono é alcançada


zir as emissões de gases do efeito estufa quando nenhum equivalente de dióxido
na atmosfera é a adoção, por parte de de carbono é adicionado à atmosfera por
governos, empresas e cidadãos, de um uma organização, empresa, edifício ou
compromisso net zero carbon emissions país. Isso pode envolver a eliminação de
(zero emissões líquidas de carbono). emissões, a compensação delas ou uma
Adotar metas net zero é, antes de tudo, combinação de ambas as ações. Alcançar
reduzir ao máximo a emissão de carbono o status Net Zero é um desafio, visto que
e, a partir daí, neutralizar as emissões envolve também a eliminação das emis-
residuais, ou seja, aquelas que não foi sões indiretas geradas por toda a cadeia
possível eliminar. de valor, incluindo fornecedores e clientes.


Quase 40% das emissões de carbono dizem respeito
às construções e aos edifícios. Portanto, temos todos
uma responsabilidade”.
Luciana Arouca, diretora de Sustentabilidade, Work
Dynamics, Diversidade & Cultura Brasil na JLL.

Em palestra aos participantes do GT, Luciana A executiva citou pesquisa realizada pela
contou que o risco climático também é um JLL globalmente que detectou que mais de
risco financeiro. Daí a necessidade de haver 25% dos ocupantes corporativos têm metas
investimentos e esforços para minimizá-lo. O de carbono zero. A expectativa é a de que
mundo entendeu que sustentabilidade não esse número dobre até 2025. O trabalho tam-
deve ser buscada apenas porque é o certo bém mostrou que mais de 84% dos líderes
a se fazer, mas também por uma questão de de real estate concordam que as soluções
negócio. digitais serão essenciais para atingir seus

44
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

objetivos de sustentabilidade. Contudo, divulgou alguns compromissos. Entre eles,


embora a maioria dos líderes afirme que a redução de 68% de emissões de escopo 1
a redução de emissões faz parte de suas e 2 até 2034, partindo do baseline de 2018.
estratégias corporativas, somente 18% deles Para escopo 3, o plano é diminuir as emis-
estão implementando ativamente alguma sões das propriedades gerenciadas em 53%
ação de sustentabilidade. Há, portanto, mui- até 2034. “Para cumprir essas metas, vamos
tas oportunidades para atuar junto a essas aumentar a eficiência energética dos nossos
empresas porque esses líderes não sabem prédios existentes, substituir combustíveis
como estruturar seus planos. fósseis por energia elétrica e ampliar o uso
de energias renováveis. Para o escopo 3, a
Com escritórios em 80 países, a consultoria ideia é estabelecer parcerias com os nossos
imobiliária comercial definiu ações alinhadas 50 maiores clientes para ajudá-los com a
com seis dos Objetivos do Desenvolvimento meta de reduzir 2% de emissões por ano”,
Sustentável (ODSs) da ONU. A JLL também concluiu Luciana Arouca.
trabalha com as Science Based Targets (1) e

PARA ENTENDER MELHOR


(1) As Science Based Targets (metas baseadas na ciência) são promo-
vidas pela Science Based Targets Initiative (SBTi), formada por organi-
zações como CDP, Pacto Global, World Resources Institute e WWF. Para
ser classificada como baseada em ciência, as metas empresariais para
redução de GEE precisam estar de acordo com o que a mais atual ciência climática
indica como necessário para atingir os objetivos do Acordo de Paris, ou seja, limitar o
aumento da temperatura global a 1,5 °C. com relação aos níveis pré-industriais.

(*) LUCIANA AROUCA — Arquiteta e urbanista, com mais de 22


anos de experiência no desenvolvimento e gestão projetos. É
diretora de Sustentabilidade, Work Dynamics, Inclusão, Diversidade
& Cultura Brasil na JLL.

Marca registrada da Jones Lang LaSalle Incorporated, a JLL é líder na


prestação de serviços imobiliários e em gestão de investimentos, com
receita anual de US$ 19,4 bilhões e operações em mais de 80 países.

45
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

DESENVOLVIMENTO IMOBILIÁRIO COM FOCO NO NET ZERO


Acompanhando o movimento dos gesto- ambientais. A Autonomy, por exemplo, tra-
res de fundos de investimentos em dire- balha com o olhar para o Zero Waste, Zero
ção ao ESG, algumas companhias têm Energy, Zero Carbon e Zero Water em seus
encontrado na certificação Net Zero um novos empreendimentos, conforme reve-
meio de sinalizar a seus stakeholders um lou seu diretor, Nelson Faversani (*).
comprometimento ambicioso com metas

ZERO WATER
O Zero Water aplicado a um empreendimento significa dizer que o edifício é autos-
suficiente em água, ou seja, não depende do abastecimento de concessionárias. Em
vez disso, esses prédios têm máxima eficiência, captam água das chuvas e de poços
artesianos e tratam seus resíduos por meio de estação de tratamento de efluentes
(ETE). Segundo Faversani, em empreendimentos projetados como triple A, não é tão
complicado atingir o Zero Water. Muito mais desafiador é atingir a condição de Zero
Energy e Zero Carbon.

ZERO ENERGY
A autossuficiência energética, depende de um combo que inclui geração de energia
limpa no próprio prédio (por exemplo, via placas solares), otimização do consumo
com o apoio de novas tecnologias e aquisição de energia oriunda de fontes renová-
veis. “Visando o Zero Energy, analisamos, inclusive, novas alternativas tecnológicas
como persianas capazes de gerar energia”, revelou Faversani.
O conceito Zero Energy se divide em dois subgrupos: o Net Zero Site Energy e o Net
Zero Source Energy. No primeiro, a edificação é autossuficiente. Já no segundo, o
edifício não consegue gerar tudo o que consome, mas cobre esse déficit adquirindo
energia de fontes renováveis externas.
A gestão da energia é, no momento, o ponto de maior impacto para a atenuação das
mudanças climáticas quando se fala na operação dos edifícios.
Nesse contexto, ganham cada vez mais protagonismo os edifícios Zero Carbon (car-
bono neutro), que têm suas emissões neutralizadas durante a operação.

46
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

ZERO CARBON
Para viabilizar esse tipo de empreendimento, além da energia, é preciso conside-
rar as emissões decorrentes da circulação das pessoas. Por isso, a localização do
empreendimento é um fator-chave para obter esse grau de eficiência.
A descarbonização tende a adquirir alta relevância na operação dos edifícios, até por
uma exigência dos usuários que querem estar em locais com custos de manutenção
mais baixos. “Hoje nenhum inquilino condiciona sua locação à redução de carbono.
Mas acreditamos fortemente que isso irá mudar e que o ESG (Environmental, Social
and Governance) terá grande valor para os nossos clientes em médio e longo prazo”,
comentou o executivo.
Segundo ele, ainda que os maiores impactos ambientais aconteçam na fase de ope-
ração dos edifícios, a construção é um aspecto chave de sucesso. Um edifício efi-
ciente começa com um bom projeto, que se aproveita de estratégias passivas. Ele
também utiliza as melhores tecnologias visando a qualidade do produto. Prédios
mal concebidos e mal construídos rapidamente ficam obsoletos, consequentemente,
perdendo valor de mercado.

(*) NELSON FAVERSANI — Engenheiro civil pós-graduado em


engenharia de produção. É diretor de Design e Construção na
Autonomy.

A Autonomy é uma gestora de investimentos de Private Equity Real


Estate fundada em 2007. Com sede em São Paulo e presente nos
principais mercados do Brasil, mantém sob sua gestão mais de 1.9
milhão de metros quadrados.

47
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

10princípios
10 PRINCÍPIOS PARAao
para chegar CHEGAR
Net Zero AO NET ZERO
Maximize as reduções de
emissões para todos os
novos desenvolvimentos e
reformas importantes no
pipeline para garantir a
entrega de carbono líquido
zero (operacional e
incorporado) até o ano-alvo
final selecionado.

Meça e registre o carbono


incorporado de novos
desenvolvimentos e
reformas importantes.

Calcule uma pegada de


Impulsione a otimização de
carbono robusta de seu
energia tanto em ativos
portfólio no ano
Estabeleça uma meta existentes quanto em novos
representativo mais
de ano para alcançar o desenvolvimentos.
recente para informar
as metas. carbono líquido zero até
2050 o mais tardar, e
uma meta provisória
para reduzir pelo menos
50% dessas emissões
até 2030.

Maximize o fornecimento de
energia renovável no local.

Garanta que 100% da


energia externa seja
adquirida de fontes
renováveis, quando
disponível.

Realize compensações de
carbono de alta qualidade Envolva-se com as
para compensar as partes interessadas
emissões residuais. sobre as quais você tem
influência em sua cadeia
de valor para reduzir as
emissões do Escopo 3.

Envolva-se com as
partes interessadas para
identificar esforços
conjuntos e compartilhar
custos e benefícios de
intervenções de maneira
Fonte: JLL equitativa.

48
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

CONCLUSÃO
Embora incipiente, há um movimento con- a sustentabilidade, definir metas e, final-
sistente entre as empresas do setor da mente, desenvolver um ciclo virtuoso de
construção para estabelecer processos análise e melhoria dos processos.
de gestão de emissões de Gases de Efeito
Estufa (GEE). Isso ficou claro nos debates No campo das estratégias, maximizar a
realizados pelo GT “O impacto das emis- eficiência energética e substituir com-
sões de carbono na construção civil: con- bustíveis fósseis por fontes renováveis
texto global e diretrizes de redução”. são condições elementares para a cor-
poração preocupada em contribuir para
Ao longo dos quatro encontros, os parti- evitar os efeitos perversos das mudanças
cipantes puderam conhecer metodologias climáticas. Ao mesmo tempo, é necessá-
e referenciais, assim como exemplos de rio ampliar esforços e articulações para
empreendimentos e de novos materiais reduzir o carbono incorporado em escala
desenvolvidos com vistas à descarboni- global.
zação. Eles também puderam se aprofun-
dar em conceitos e ações para ajudar as A cadeia produtiva da construção,
empresas a se integrarem à economia de incluindo todos os seus elos, tem uma res-
baixo carbono. ponsabilidade enorme para a construção
de um planeta mais saudável e resiliente,
Uma constatação foi a de que uma jor- assim como um potencial de contribuição
nada rumo à redução de GEE começa gigante. Basta lembrar que os edifícios
com um diagnóstico da situação atual são responsáveis por 38% das emissões
da organização. Uma vez que riscos e globais de carbono, valor que pode aumen-
impactos estejam devidamente mapea- tar diante do crescimento populacional, da
dos, torna-se viável comparar alternati- migração para as cidades e de mudanças
vas, selecionar projetos que promovam de estilo de vida.

49
O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

CRÉDITOS

CO-AUTORES
Adriana Nunes Machado, superintendente de desenvolvimento de negócios na HTB
Beatriz Martins Amaral, coordenadora de sistema de gestão na Eztec
Camila Fachim, gerente de projetos na HTB
Charles Nunes, diretor na JLL

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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO

Cintia Valente, CMO na Noah


Débora Marcon Constantino, consultoria técnica na Cebrace
Eduardo Mascarenhas de Oliveira, engenheiro civil na Noah
Felipe Sgarbosa, engenheiro na Stamade
Julio Sguillaro, analista ambiental na Eztec
Luiza Lamas, analista ambiental na Gafisa
Maicol Miyagi, consultor técnico na Cebrace
Mariana Watanabe, analista de inovação e tecnologia no CTE Enredes.
Matheus de Brito Lucca, consultor técnico na Cebrace
Pedro Machado Virgolino, engenheiro civil na Amata
Rafael Lazzarini, diretor da Unidade de Sustentabilidade no CTE
Rafael Omoto, engenheiro na Stamade
Rebeca Kulik Gonçalves, analista ambiental na Eztec
Renato Inhasz Paiva, analista de sustentabilidade na Vedacit
Ricardo Loureiro, diretor de operações na Noah
Tainã Dorea, assistente de inovação e tecnologia no CTE Enredes

EQUIPE CTE ENREDES


Facilitadores: Mariana Watanabe, Rafael Lazzarini, Adriana Hansen
Revisão técnica: Mariana Watanabe, Roberto de Souza, Rafael Lazzarini, Adriana
Hansen
Equipe de apoio: Isabel Alexandrino, Cistina Mantovani, Tainã Dorea
Redação: Juliana Nakamura (MTB 46.219/SP)
Arte: Laboratório de Criação
Coordenação: Carolina Crepaldi e Gabriela Barreto de Souza

51
O Centro de Tecnologia de Edificações é uma
empresa de consultoria e gerenciamento especia-
lizada em qualidade, tecnologia, gestão, susten-
tabilidade e inovação para o setor da construção.
Exerce suas atividades desde 1990, desenvolvendo
metodologias e tecnologias para a melhoria da
gestão das empresas, dos empreendimentos e
das obras, estimulando e promovendo a produti-
vidade, a competitividade, a cultura diferenciada e
o crescimento sustentável da cadeia produtiva da
construção.

O CTE enredes é uma unidade de negócio do Cen-


tro de Tecnologia de Edificações (CTE), criado
para conectar profissionais e empresas, influenciar
mudanças e gerar negócios para a transformação
da indústria da construção. Com foco em inovação,
sustentabilidade e qualidade, oferece ao mercado
um pacote de soluções para criar redes de relacio-
namento, compartilhar conhecimentos e promover
movimentos para a melhoria do desempenho e da
produtividade do setor.

A Rede Construção Sustentável (RCS) é um ecos-


sistema de inovação e de relacionamento setorial
que tem como propósito exponenciar conceitos e
boas práticas de construção sustentável no Bra-
sil. A RCS é composta por 46 empresas líderes do
setor, incluindo fundos de investimento, escritórios
de projetos, incorporadoras, construtoras, contra-
tantes, indústrias de materiais e equipamentos e
fornecedores de tecnologia.
Rua Pascoal Pais, 525 - 13º andar
Brooklin Novo | São Paulo
CEP: 04581-060
(011) 2149-0300 | enredes@cte.com.br
www.enredes.com.br

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