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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
ÍNDICE
APRESENTAÇÃO 03
A METODOLOGIA APLICADA AOS GRUPOS DE TRABALHO 04
1. A ERA DO CARBONO: METODOLOGIA 09
E TENDÊNCIAS NA CADEIA DA CONSTRUÇÃO
As mudanças climáticas
Estratégias de precificação de carbono
Inventários de carbono
Metodologia Programa Brasileiro GHG Protocol
A construção civil em um novo contexto
Net Zero Carbon
3. DESENVOLVIMENTO DE EMPREENDIMENTOS 36
VOLTADOS À REDUÇÃO DA PEGADA DE CARBONO
Como funciona a ACV aplicada a edificações?
Contabilização de carbono
O mercado de crédito de carbono
Case HTB: e-Wood
Case Fundação Espaço Eco: Museu da Língua Portuguesa
CONCLUSÃO 49
CRÉDITOS 50
Co-autores
Equipe CTE enredes
2
Cada vez mais debatida em diferentes o Grupo de Trabalho (GT) “O impacto
esferas, a redução de emissões de car- das emissões de carbono na constru-
bono ainda desperta muitas dúvidas. ção civil: contexto global e diretrizes de
Por um lado a comunidade científica já redução”. Composto por 18 profissio-
formou consenso sobre a importância nais de empresas associadas à RCS, o
de deter o acúmulo de CO2 na atmos- grupo se reuniu virtualmente ao longo
fera para manter o aquecimento global de pouco mais de quatro meses no
abaixo de 1,5 °C, condição para redu- segundo semestre de 2021.
zir a exposição do planeta aos efeitos
catastróficos resultantes das mudan-
ças climáticas. Por outro, governos e Nas próximas páginas você terá a opor-
empresas ainda buscam saber como tunidade de conferir o resultado dos
viabilizar projetos economicamente debates deste Grupo e compreender um
sustentáveis e ambientalmente ade- pouco mais sobre um assunto que cer-
quados a esse contexto. tamente promoverá profundas transfor-
mações em um setor determinante para
a construção de um planeta mais sau-
Percebendo a necessidade de aprofun- dável e resiliente.
dar o debate e de disseminar conhe-
cimento, o Enredes, por meio da Rede
Construção Sustentável (RCS), criou Aproveite e tenha uma excelente leitura!
Roberto de Souza
CEO CTE/enredes
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A METODOLOGIA DE TRABALHO
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Desenvolvimento Desenvolvimento
da competência da conciência
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os temas abordados para ampliar a visão adquirido e gerar negócios. Para os pro-
das oportunidades de melhoria da susten- fissionais, o plano foi auxiliar o desenvol-
tabilidade no setor da construção vimento de carreiras, melhorar a empre-
gabilidade e a construção de autoridades.
A geração e a troca de conhecimentos não
Por fim, o GT teve como ambição agregar
se esgotaram nos encontros on-line. Elas
benefícios para a sociedade, produzindo
estenderam-se via ferramentas de comu-
conteúdo relevante aplicável às organiza-
nicação digital, criando comunidades nos
ções, capaz de contribuir para a perpetui-
aplicativos WhatsApp e Slack.
dade dos negócios.
Todo o trabalho foi conduzido para garan-
tir os objetivos finais do GT para dife-
rentes stakeholders. Para as empresas
participantes, a iniciativa procurou capa-
citar talentos, tangibilizar conhecimento
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EMPRESAS FORMADAS
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TEMAS E ESPECIALISTAS
TEMAS E ESPECIALISTAS
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CONTEXTO HISTÓRICO
Ao longo dos anos, diversos eventos e acordos internacionais refletiram a evolução dos
compromissos e das ações para controlar as mudanças climáticas.
Protocolo de Quioto, 1997 — COP 15, Copenhague, 2009 — Rio+20, Rio de Janeiro,
Tratado internacional Durante o evento na 2012 — O evento sediado
assinado no Japão. Foi o Dinamarca, os cientistas no Brasil deu destaque
primeiro acordo a apontaram que a para o conceito de
estabelecer metas de temperatura da Terra não economia verde, que
redução de gases de poderia aumentar mais do significa o crescimento
efeito estufa. que 2 °C em relação aos econômico aliado à
níveis pré-industriais, até o redução da emissão de
final do século. Caso gases poluentes.
contrário, se alcançaria um
ponto irreversível das
mudanças climáticas.
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AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS
As mudanças climáticas e o efeito estufa Alguns dados do Painel Intergovernamen-
têm conquistado cada vez mais presença tal sobre Mudanças Climáticas (IPCC) (1)
nos debates do mundo corporativo em ajudam a entender a preocupação com
função do efeito devastador que estão relação a esse tema:
provocando.
Na década entre 2011-2020, Os últimos cinco anos foram A taxa de aumento do O aquecimento já está
a temperatura da superfície os mais quentes já nível do mar quase causando extremos
global foi 1,09 ºC superior registrados desde 1850 triplicou em comparação climáticos em todas as
em comparação ao período com o período entre regiões do globo, quer
entre 1850-1900 1901-1971 sejam ondas de calor ou
inundações
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CONSEQUÊNCIAS
para
Humanidade e
Ecossistemas
Aquecimento Mudanças Frequência de Naturais
Global Climáticas Eventos Extremos
Climáticos
“
Se não adotarmos medidas de caráter urgente, os
impactos causados pela mudança climática poderão
levar mais 100 milhões de pessoas à pobreza até 2030”.
Fonte: Relatório Stern
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FONTES DE GEE
As mudanças climáticas podem ter causas naturais, como alterações na
radiação solar e dos movimentos orbitais da Terra. Elas também podem
ser consequência de atividades humanas, como:
Agropecuária;
Desmatamento
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Aos participantes do GT, Lefèvre lembrou que as mudanças climáticas são um PROBLEMA
GLOBAL COM IMPACTOS LOCAIS. Para controlá-las há duas abordagens principais:
As ações também podem ser resultado de políticas públicas (top-down) ou serem impul-
sionadas por ação da sociedade (botton-up).
POLÍTICAS
PÚBLICAS SOCIEDADE
(TOP-DOWN) (BOTTOM-UP)
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INVENTÁRIOS DE CARBONO
O primeiro passo para que uma empresa A realização do inventário de carbono (ou
possa contribuir para o combate ao inventário de GEE) também permite às
aquecimento global é a elaboração de empresas enxergarem oportunidades de
um inventário de carbono. A partir do negócios no mercado de carbono, atraírem
diagnóstico do inventário a organiza- novos investimentos, ou ainda, planejarem
ção conhece seu perfil de emissões e processos que garantam eficiência econô-
assim pode dar o passo seguinte, esta- mica, energética ou operacional. “Trata-se
belecendo planos e metas para gestão e de uma ferramenta de gestão”, comenta
redução das emissões de gases de efeito Lefèvre, ressaltando que os inventários cor-
estufa. porativos de carbono também:
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MetodologiaPROGRAMA
METODOLOGIA Programa Brasileiro
BRASILEIROGHGGHG
Protocol
PROTOCOL
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1. DOS
1. DEFINIÇÃO Definição dos limites
LIMITES DE UMde um inventárioDEdeEMISSÕES
INVENTÁRIO emissões deDE
GEE
GEE
Limites organizacionais:
define os limites da companhia, incluindo operações e subsidiárias que
compõem o negócio.
Limites operacionais:
diz respeito às operações nas quais se encontram as
fontes e sumidouros de GEE.
FIGURA 2: Limites
Figure 2: LIMITES organizacionais
ORGANIZACIONAIS E OPERACIONAIS
e operacionais DE UMA
de uma EMPRESA
empresa
}
ORGANIZACIONAIS
Empresa mãe
LIMITES
Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D
}
Frota de Unidade Edifício Frota Fábrica Edifício
OPERACIONAIS
barcos de geração próprio/ próprio/
de energia automóvel arrendada
LIMITES
controlado controlado
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CONTEXTO NACIONAL
Em 2021, durante a COP 26 (Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climá-
ticas), o Brasil se comprometeu a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa
em 50% até 2030, usando como base as emissões de 2005. Outra meta divulgada
pelo governo federal foi a de obter a neutralidade de carbono até 2050, quando as
emissões são reduzidas ao máximo e as restantes são integralmente compensadas,
por exemplo, com tecnologia de captura de carbono da atmosfera.
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“
Em 2019 chegamos a um patamar de emissões de CO2
da ordem de 10,1 giga toneladas. Um número tão alto
reforça a importância de avaliarmos nossas ações e
agirmos com compromissos setoriais para minimizar
essas emissões”.
Adriana Hansen, Gerente de Sustentabilidade do CTE
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De acordo com Adriana Hansen, diante O caminho para a redução passa por
do movimento para reduzir o consumo de prevenir as emissões, eliminar desper-
combustíveis fósseis e maximizar a efici- dícios, questionar o uso dos materiais e
ência energética dos edifícios, o carbono usar estratégias alternativas. Uma saída
incorporado deve se tornar cada vez mais é considerar a incorporação de resíduos
representativo na pegada de carbono do na produção dos materiais desde que eles
setor. Estamos nos referindo ao carbono sejam tecnicamente bons para a constru-
associado aos processos de transforma- ção civil. Na sequência, parte-se para as
ção dos materiais ao longo de seu ciclo de ações relacionadas ao desenvolvimento
vida, desde a extração da matéria-prima de projetos mais eficientes, com o apoio
até o descarte. de ferramentas como o BIM (Building
Information Modeling) e a Análise de Ciclo
Em um horizonte de dez anos, estima-se de Vida (ACV).
que as emissões de carbono incorporado
representem 72% do total de emissões de Também é fundamental incorporar mate-
edificações. Portanto, é urgente aumen- riais que declarem seus impactos de forma
tar os esforços para combater o carbono transparente. Além disso, o planejamento
incorporado em escala global. Isso pode deve ser realizado considerando cenários
se dar com o uso de materiais de baixo futuros, com a priorização de soluções fle-
carbono e com a adoção de fontes alter- xíveis que maximizem o reuso.
nativas de energia pela indústria de mate-
riais. Na rota para a redução de carbono, o A última etapa do processo consiste em
maior potencial de diminuição dos teores compensar o residual de carbono que não
de carbono incorporado está na etapa de foi possível eliminar a partir da inteligên-
projeto e planejamento. Nesse momento é cia de projeto e da aquisição de materiais
possível obter os menores custos com a de baixo carbono.
análise de diferentes alternativas constru-
tivas em função de seus impactos.
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ROADMAP
Roadmap paraPARA A DESCARBONIZAÇÃO
a descarbonização
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Definição de objetivo e Análise de inventário. Nesta Avaliação de impacto do ciclo Interpretação. Envolve
escopo. Nesse momento etapa são coletados os de vida. Os efeitos do uso de revisão crítica,
são definidos o produto a dados de materiais e de recursos e das emissões determinação da
ser avaliado e o nível de energia consumidos e as geradas são agrupados e sensibilidade dos dados e
detalhe necessário. emissões geradas pelo ciclo quantificados na forma de reporte das oportunidades
de vida de um produto. métricas como mudanças para redução de impactos
climáticas (pegada de ao longo de toda a cadeia
carbono), uso de recursos não de valor.
renováveis, acidificação,
pegada hídrica, entre outros. Os
resultados de cada indicador
podem ter sua importância
avaliada por normalização e,
eventualmente, por ponderação.
“
A ACV também serve para otimizar a gestão, promover
inovação mais sustentável e gerar aproximações
entre organizações de diferentes segmentos, além de
oferecer argumentos para prover uma comunicação
mais objetiva com vários públicos, especialmente os
críticos ao setor e às empresas”.
Sonia Karin Chapman*, secretária-executiva
na Rede ACV
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PENSAMENTO ACV
Segundo Chapman é fundamental que O processo continua, segundo Chapman,
empresas e sociedade adotem um pensa- com a mensuração dos impactos ambien-
mento de ciclo de vida na hora de abordar tais, sociais e econômicos de cada solu-
um empreendimento ou um material. Essa ção no ciclo de vida, bem como com a
mudança de mindset envolve um roteiro análise de inovações mais disruptivas.
que começa com o questionamento sobre “Pensar ciclo de vida é ter maior consci-
a função do objeto de análise. A função ência de toda matéria-prima necessária,
do carro, por exemplo. Para alguns esse incluindo o beneficiamento, o consumo,
objeto representa apenas uma forma de o descarte, a energia consumida, o trans-
locomoção. Para outros, é um símbolo porte e as emissões geradas em todo o
de status. Há quem veja o carro, ainda, processo. Ou seja, é ter uma orientação
como uma paixão, um hobby, por isso é mais integrada no processo ou cadeia de
necessário adotar uma visão sistêmica do valor, ser eficiente na aplicação de recur-
objetivo das coisas e do material que se sos e tornar esse uso cada vez mais efi-
propõe analisar. “Do contrário, caímos no ciente e duradouro”.
risco de realizar substituições muito sim-
ples e perdemos oportunidades de avan- Para a executiva da Rede ACV, as pessoas
çar”, alertou Chapman. frequentemente atribuem a governos e às
empresas a responsabilidade de avançar
Em seguida parte-se para busca de alter- em questões como a redução de emis-
nativas que atendam aquela função e para sões e a melhoria de condições de vida.
uma análise sobre o quão eficiente é cada
alternativa no atendimento da função.
“
Mas nós somos parte do problema. Portanto,
precisamos nos perguntar como podemos ser parte da
solução. Seja através da revisão de hábitos, de uma
maior atuação pública, da promoção de debates, do
compartilhamento de informações”.
Sonia Karin Chapman*, secretária-executiva
na Rede ACV
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Mindset de
ciclo de vida na
Mensuração dos impactos ambientais,
hora de abordar um sociais e econômicos de cada solução no
empreendimento ou ciclo de vida
um material
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
“
Substituir esse processo é um desafio grande para a
indústria porque não há nada tão abundante e barato
quanto calcário para fazer cimento”.
Fabio Cirilo, gerente de sustentabilidade e energia na
Votorantim Cimentos
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Em sua jornada para redução de emissões, Entre as estratégias que têm sido explo-
a Votorantim Cimentos tem apoiado suas radas pela Votorantim Cimentos está a
tomadas de decisão nas informações adição de escórias e cinzas para reduzir o
obtidas por ACV desde 2015. Esta meto- impacto ambiental do produto final, a utili-
dologia mede o impacto dos nossos pro- zação de resíduos como o caroço de açaí
dutos e serviços em todo o ciclo de vida, em substituição a combustíveis fósseis, e
apoiando as decisões do negócio para a a produção de argila calcinada para dimi-
aplicação contínua de práticas sustentá- nuir o teor de clínquer no cimento.
veis. Trata-se de uma ferramenta de diag-
nóstico, que ajuda a entender onde está Outra ação rumo à descarbonização é o
o impacto. Ela também funciona como desenvolvimento de produtos que gerem
um mecanismo de comunicação, trans- concretos mais duráveis ou que agreguem
parência e diferenciação perante o mer- benefícios ambientais e operacionais para
cado, Além disso, segundo Cirilo, a ACV a obra. Um exemplo é o concreto de traço
contribui com a obtenção de pontos em único Spectra®, que permite a redução de
certificações de edifícios LEED e Aqua, por 20% de emissão de CO2 quando compa-
exemplo e a comunicar para o mercado rado com um concreto de traço conven-
práticas de descarbonização. cional de mesma resistência.
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
BENCHMARKING ARCELORMITTAL
“
O objetivo é possibilitar o uso de aço de maneira mais
efetiva e inteligente. Queremos vender menos tonelada
e mais função e valor agregado do produto”.
Luis Augusto Pupin, Especialista em
P&D na ArcelorMittal
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
A metodologia tem sido aplicada para a galpão com quase 100 mil m2. A aplicação
construção de galpões industriais, edifí- do Steligence®, nesse caso, permitiu com-
cios residenciais e edifícios garagem para parar uma solução de mercado baseline
comparar uma solução baseline com um (com os sistemas construtivos mais utili-
projeto otimizado com a inserção de dife- zados nessa tipologia de construção) com
rentes soluções ArcelorMittal, como lajes duas alternativas otimizadas que previram
bubbledeck e aços de maior resistência. a substituição de soluções construtivas
Facilitando a avaliação de ciclo de vida, visando maximizar o desempenho. Com
a companhia possui seis declarações uma das alternativas propostas foi possí-
ambientais de produto do tipo 3, sendo vel obter redução do custo da construção
três delas para aços longos e três para em torno de 19% aliada à diminuição de
aços planos. emissões de GEE de 74,6 kgCO2eq/m2 para
67,3 kgCO2eq/m2 considerando as etapas de
Para exemplificar os resultados proporcio- fundação, estrutura e fechamento.
nados pela nova abordagem, o especia-
lista apresentou um estudo de caso de um
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
3 — DESENVOLVIMENTO DE
EMPREENDIMENTOS VOLTADOS À
REDUÇÃO DA PEGADA DE CARBONO
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Como padrão, a ACV realiza a captura de impactos ao longo de 60 anos. Para prédios
comerciais a unidade de medida utilizada é o kgCO2/m2. Já para empreendimentos resi-
denciais, calcula-se a quantidade de kgCO2/habitante/ano.
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
CONTABILIZAÇÃO DE CARBONO
Em suas jornadas sustentáveis, as empre- “Antes de pensar em crédito de carbono,
sas encontram-se em diferentes graus é preciso ter uma gestão de carbono. Para
de maturidade. Mas independente disso, isso, o primeiro passo é ter informações
todas precisam adotar alguma estratégia consistentes que possam apontar os prin-
de mensuração de emissões de carbono. cipais contribuintes no seu processo e em
Isso é condição tanto para respaldar pro- sua cadeia”, destacou Max Silva*, coorde-
jetos de melhoria interna, quanto para nador de sustentabilidade na Fundação
comunicar as ações de descarbonização Espaço Eco.
para o mercado.
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
Em sua palestra aos participantes do GT, Silva listou três níveis de contabilização de emis-
sões de GEE:
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HÁ
HáTRÊS TIPOS
três BÁSICOS
tipos DE CRÉDITO
básicos DE CARBONO:
de crédito de carbono:
Emissões evitadas
(por exemplo,
abstendo-se de
cortar florestas
As de emissões tropicais).
reduzidas
(normalmente
medidas de
eficiência Emissões
energética) removidas
(captura de
carbono e plantio
de florestas)
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
“
Outros valores que detectamos nessa solução
estrutural foram a biofilia, benéfica para os usuários, a
industrialização proporcionada à etapa de construção
e a leveza estrutural”,
Adriana Machado*, superintendente de
desenvolvimento de negócios na HTB
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
O trabalho adotou como baseline um pro- 237 kgCO2eq/m2 para 125,10 kgCO2eq/m2 e
jeto de concreto moldado in loco com obteve-se redução significativa de 67% de
emissões da ordem de 380 kgCO2eq/m2. O carbono em relação ao baseline”. Vale res-
e-Wood, com madeira engenheirada, con- saltar também a importância de o projeto
creto e aço obteve índice de 237 kgCO2eq/m2. pensar no aproveitamento sustentável da
Mas a melhor performance foi conquis- madeira ao fim da vida útil do edifício.
tada com o projeto otimizado, produzido
após a constatação de que mudar a estru- Segundo Adriana Machado, em uma aná-
tura para a madeira cria a possibilidade de lise global, o aumento de custos decor-
revisar a parte de fundações, permitindo rente do uso da madeira engenheirada,
reduzir em torno de 20% do consumo de em comparação a uma estrutura conven-
concreto e aço nessa etapa. cional, girou em torno de 3% no e-Wood.
“
Contabilizamos extração das matérias-primas,
transportes, transformação, atividade construtiva, uso
e manutenção, processo de desconstrução e descarte
do material após 60 anos”.
Adriana Hansen, gerente de sustentabilidade no CTE
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
“
O comparativo também ajudou a comunicar melhor à
sociedade os benefícios ambientais proporcionados
pela reforma”
Vitoria Lanes*, analista de sustentabilidade aplicada
na Fundação Espaço Eco.
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
“
Quase 40% das emissões de carbono dizem respeito
às construções e aos edifícios. Portanto, temos todos
uma responsabilidade”.
Luciana Arouca, diretora de Sustentabilidade, Work
Dynamics, Diversidade & Cultura Brasil na JLL.
Em palestra aos participantes do GT, Luciana A executiva citou pesquisa realizada pela
contou que o risco climático também é um JLL globalmente que detectou que mais de
risco financeiro. Daí a necessidade de haver 25% dos ocupantes corporativos têm metas
investimentos e esforços para minimizá-lo. O de carbono zero. A expectativa é a de que
mundo entendeu que sustentabilidade não esse número dobre até 2025. O trabalho tam-
deve ser buscada apenas porque é o certo bém mostrou que mais de 84% dos líderes
a se fazer, mas também por uma questão de de real estate concordam que as soluções
negócio. digitais serão essenciais para atingir seus
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
ZERO WATER
O Zero Water aplicado a um empreendimento significa dizer que o edifício é autos-
suficiente em água, ou seja, não depende do abastecimento de concessionárias. Em
vez disso, esses prédios têm máxima eficiência, captam água das chuvas e de poços
artesianos e tratam seus resíduos por meio de estação de tratamento de efluentes
(ETE). Segundo Faversani, em empreendimentos projetados como triple A, não é tão
complicado atingir o Zero Water. Muito mais desafiador é atingir a condição de Zero
Energy e Zero Carbon.
ZERO ENERGY
A autossuficiência energética, depende de um combo que inclui geração de energia
limpa no próprio prédio (por exemplo, via placas solares), otimização do consumo
com o apoio de novas tecnologias e aquisição de energia oriunda de fontes renová-
veis. “Visando o Zero Energy, analisamos, inclusive, novas alternativas tecnológicas
como persianas capazes de gerar energia”, revelou Faversani.
O conceito Zero Energy se divide em dois subgrupos: o Net Zero Site Energy e o Net
Zero Source Energy. No primeiro, a edificação é autossuficiente. Já no segundo, o
edifício não consegue gerar tudo o que consome, mas cobre esse déficit adquirindo
energia de fontes renováveis externas.
A gestão da energia é, no momento, o ponto de maior impacto para a atenuação das
mudanças climáticas quando se fala na operação dos edifícios.
Nesse contexto, ganham cada vez mais protagonismo os edifícios Zero Carbon (car-
bono neutro), que têm suas emissões neutralizadas durante a operação.
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
ZERO CARBON
Para viabilizar esse tipo de empreendimento, além da energia, é preciso conside-
rar as emissões decorrentes da circulação das pessoas. Por isso, a localização do
empreendimento é um fator-chave para obter esse grau de eficiência.
A descarbonização tende a adquirir alta relevância na operação dos edifícios, até por
uma exigência dos usuários que querem estar em locais com custos de manutenção
mais baixos. “Hoje nenhum inquilino condiciona sua locação à redução de carbono.
Mas acreditamos fortemente que isso irá mudar e que o ESG (Environmental, Social
and Governance) terá grande valor para os nossos clientes em médio e longo prazo”,
comentou o executivo.
Segundo ele, ainda que os maiores impactos ambientais aconteçam na fase de ope-
ração dos edifícios, a construção é um aspecto chave de sucesso. Um edifício efi-
ciente começa com um bom projeto, que se aproveita de estratégias passivas. Ele
também utiliza as melhores tecnologias visando a qualidade do produto. Prédios
mal concebidos e mal construídos rapidamente ficam obsoletos, consequentemente,
perdendo valor de mercado.
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
10princípios
10 PRINCÍPIOS PARAao
para chegar CHEGAR
Net Zero AO NET ZERO
Maximize as reduções de
emissões para todos os
novos desenvolvimentos e
reformas importantes no
pipeline para garantir a
entrega de carbono líquido
zero (operacional e
incorporado) até o ano-alvo
final selecionado.
Maximize o fornecimento de
energia renovável no local.
Realize compensações de
carbono de alta qualidade Envolva-se com as
para compensar as partes interessadas
emissões residuais. sobre as quais você tem
influência em sua cadeia
de valor para reduzir as
emissões do Escopo 3.
Envolva-se com as
partes interessadas para
identificar esforços
conjuntos e compartilhar
custos e benefícios de
intervenções de maneira
Fonte: JLL equitativa.
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
CONCLUSÃO
Embora incipiente, há um movimento con- a sustentabilidade, definir metas e, final-
sistente entre as empresas do setor da mente, desenvolver um ciclo virtuoso de
construção para estabelecer processos análise e melhoria dos processos.
de gestão de emissões de Gases de Efeito
Estufa (GEE). Isso ficou claro nos debates No campo das estratégias, maximizar a
realizados pelo GT “O impacto das emis- eficiência energética e substituir com-
sões de carbono na construção civil: con- bustíveis fósseis por fontes renováveis
texto global e diretrizes de redução”. são condições elementares para a cor-
poração preocupada em contribuir para
Ao longo dos quatro encontros, os parti- evitar os efeitos perversos das mudanças
cipantes puderam conhecer metodologias climáticas. Ao mesmo tempo, é necessá-
e referenciais, assim como exemplos de rio ampliar esforços e articulações para
empreendimentos e de novos materiais reduzir o carbono incorporado em escala
desenvolvidos com vistas à descarboni- global.
zação. Eles também puderam se aprofun-
dar em conceitos e ações para ajudar as A cadeia produtiva da construção,
empresas a se integrarem à economia de incluindo todos os seus elos, tem uma res-
baixo carbono. ponsabilidade enorme para a construção
de um planeta mais saudável e resiliente,
Uma constatação foi a de que uma jor- assim como um potencial de contribuição
nada rumo à redução de GEE começa gigante. Basta lembrar que os edifícios
com um diagnóstico da situação atual são responsáveis por 38% das emissões
da organização. Uma vez que riscos e globais de carbono, valor que pode aumen-
impactos estejam devidamente mapea- tar diante do crescimento populacional, da
dos, torna-se viável comparar alternati- migração para as cidades e de mudanças
vas, selecionar projetos que promovam de estilo de vida.
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
CRÉDITOS
CO-AUTORES
Adriana Nunes Machado, superintendente de desenvolvimento de negócios na HTB
Beatriz Martins Amaral, coordenadora de sistema de gestão na Eztec
Camila Fachim, gerente de projetos na HTB
Charles Nunes, diretor na JLL
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O IMPACTO DAS EMISSÕES DE CARBONO NA CONSTRUÇÃO CIVIL: CONTEXTO GLOBAL E DIRETRIZES DE REDUÇÃO
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O Centro de Tecnologia de Edificações é uma
empresa de consultoria e gerenciamento especia-
lizada em qualidade, tecnologia, gestão, susten-
tabilidade e inovação para o setor da construção.
Exerce suas atividades desde 1990, desenvolvendo
metodologias e tecnologias para a melhoria da
gestão das empresas, dos empreendimentos e
das obras, estimulando e promovendo a produti-
vidade, a competitividade, a cultura diferenciada e
o crescimento sustentável da cadeia produtiva da
construção.