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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Desempenho e
Industrialização de
Sistemas Prediais

1
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

ÍNDICE
APRESENTAÇÃO 03
A METODOLOGIA APLICADA AOS GRUPOS DE TRABALHO 04
1. CONCEITOS GERAIS, DESEMPENHO E 09
PRODUTIVIDADE DE SISTEMAS PREDIAIS INDUSTRIALIZADOS
Construção civil e a Indústria 4.0
Projeto com foco no usuário real
A visão do construtor na Industrialização: Sinco Engenharia

2. A IMPORTÂNCIA DO PROJETO NA EXECUÇÃO 19


DE OBRAS E NA OPERAÇÃO DOS SISTEMAS PREDIAIS
A evolução dos projetos de sistemas prediais
BIM em sistemas prediais
Visão do construtor na Industrialização: Gafisa
Visão da Administradora Imobiliária: JLL

3. INDUSTRIALIZAÇÃO COM KITS DE SISTEMAS PREDIAIS 26


Por que investir em kits?
Obstáculos à industrialização

4. A IMPORTÂNCIA DO COMISSIONAMENTO 32
NO DESEMPENHO DE SISTEMAS PREDIAIS
Contexto das instalações prediais no Brasil
O que é comissionamento?
Tipos de comissionamento
Visão do Operador do Edifício: WeWork

5. BANHEIROS PRONTOS 42
A evolução da tecnologia de banheiros prontos no Brasil
Processo de instalação
Recomendações para estimular a industrialização de sistemas prediais

CONCLUSÃO 47
CRÉDITOS 48
Co-autores
Equipe CTE enredes

2
Altamente dependente da qualificação da É nesse contexto que o Enredes, por meio
mão de obra, exigindo a gestão de uma da Rede Construção Digital e Industriali-
enorme quantidade de itens, as instala- zada (RCDI), criou o Grupo de Trabalho
ções prediais representam, tradicional- “Desempenho e Industrialização de Sis-
mente, uma etapa crítica na construção temas Prediais”. Composto por 43 profis-
de edifícios. Tanto é que falhas na exe- sionais de empresas associadas à RCDI,
cução desses sistemas estão entre as o grupo se reuniu virtualmente em cinco
principais causas de problemas no pós-o- encontros, no segundo semestre de 2021.
bra, gerando ao construtor custos extras,
retrabalhos e desgastes à sua imagem A seguir você terá a oportunidade de con-
perante o cliente. ferir o resultado das discussões promovi-
das por esse time que trabalhou com um
Para complicar, a engenharia de instala- objetivo principal: identificar rotas para
ções deu um salto de complexidade nos levar o setor a um grau maior de industria-
últimos anos. Hoje, além de hidráulica e lização e obter edificações com sistemas
elétrica, integram o escopo dos sistemas prediais com maior desempenho, eficiên-
prediais disciplinas como drenagem, ar cia e sustentabilidade.
condicionado, gás, proteção contra incên-
dios, dados e captação de energia fotovol-
taica, entre outros. Aproveite e tenha uma excelente leitura!

Roberto de Souza
CEO CTE/enredes
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

A METODOLOGIA APLICADA AOS


GRUPOS DE TRABALHO
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4 REFLEXÕES E 3 DEBATE

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CONTRIBUIÇÕES APLICAÇÃO

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Con
PRÁTICA

5 4
Desenvolvimento Desenvolvimento
da competência da conciência

Rodas do Aprendizado: Metodologia GT CTE Enredes

Os Grupos de Trabalho consistem em um na formação de líderes empresariais, a


programa colaborativo de palestras, deba- metodologia foi utilizada para a elabora-
tes e compartilhamento de experiências ção dos roteiros dos cinco encontros vir-
oferecido às empresas da Rede Constru- tuais do GT, que somaram mais de quinze
ção Digital e Industrializada (RCDI). horas de trabalhos.
Idealizado para reunir os principais elos Ao longo da jornada, foram realizadas
da cadeia produtiva, o GT “Desempenho rodas de conversas, compartilhamentos,
e Industrialização de Sistemas Prediais”, assim como palestras com especialistas
contou com a participação de represen- referências no assunto. O objetivo foi levar
tantes de empresas fabricantes, constru- aos participantes conceitos sólidos sobre
toras, incorporadoras, projetistas e con- os temas abordados e boas práticas das
sultores. O Grupo foi composto por 43 empresas líderes no assunto.
profissionais com diferentes backgrounds
de 35 empresas associadas à RCDI. A geração e a troca de conhecimentos não
se esgotaram nos encontros on-line. Elas
O GT foi estruturado em alinhamento à estenderam-se via ferramentas de comu-
Roda do Aprendizado, um instrumento nicação digital, criando comunidades nos
de educação andragógico que estimula aplicativos WhatsApp e Slack, além de
o pensamento sistêmico e promove a serem registradas por meio do preenchi-
mudança do modelo mental a partir de mento de formulários concebidos para
uma visão compartilhada. Muito aplicada estimular a reflexão dos participantes.

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Todo o trabalho foi conduzido para garan- de carreiras, melhorar a empregabilidade


tir os objetivos finais do GT para diferen- e a construção de autoridades. Por fim,
tes stakeholders. Para as empresas par- o GT teve como ambição agregar benefí-
ticipantes, a iniciativa procurou capacitar cios para a sociedade, produzindo conte-
talentos, tangibilizar conhecimento adqui- údo relevante aplicável às organizações,
rido e gerar negócios. Para os profissio- capaz de contribuir para a perpetuidade
nais, o plano foi auxiliar o desenvolvimento dos negócios.

DIRETRIZES DO GRUPO DE TRABALHO

Assumir o papel de Adotar o tripé da Atuar em economia


empresa na tríplice sustentabilidade como compartilhada, dividindo
hélice da inovação e um valor coletivo. o conhecimento.
empreendedorismo.

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EMPRESAS REPRESENTADAS

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

TEMAS E PALESTRANTES
TEMAS E PALESTRANTES

ENCONTRO Conceitos gerais, Eduardo S. Yamada,


gerente de sistemas prediais
desempenho e da unidade de sustentabili-
produtividade de dade no CTE

sistemas prediais Jorge Chaguri


diretor na Chaguri Engenharia
industrializados de Projetos
Eder Bocutti
engenheiro civil na Sinco
Engenharia

ENCONTRO A importância Fabio Pimenta


do projeto na diretor na Projetar

execução de obras Fabio Garbossa


diretor de engenharia na Gafisa
e na operação dos
sistemas prediais Fabio Martins
head na área de gerenciamento
de propriedades na JLL

ENCONTRO Industrialização Alexandre Miranda


com kits de sistemas gerente de vendas técnicas
na Astra
prediais
Luciana Delfino
gerente de projetos e
inovação na Ambar
Erick Viegas
sócio/diretor na Sanhidrel
Engekit

ENCONTRO A importância do Eduardo S. Yamada


comissionamento gerente de sistemas
prediais da unidade de
no desempenho de sustentabilidade no CTE
sistemas prediais Bruno Cannas
senior facilities operations
lead na We Work
Rennan Prete
engenheiro de instalações
na Toledo Ferrari

ENCONTRO Banheiros prontos Leandro Fangel


especialista em projetos
offsite na CMC Modular
Luiz Henrique Ceotto
CEO na Urbic

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

EDUARDO S. YAMADA JORGE CHAGURI EDER BOCUTTI FABIO PIMENTA


gerente de sistemas diretor na Chaguri engenheiro civil na diretor na Projetar
prediais da unidade Engenharia de Sinco Engenharia
de sustentabilidade Projetos
no CTE

FABIO GARBOSSA FABIO MARTINS ALEXANDRE MIRANDA LUCIANA DELFINO


diretor de engenharia head na área de geren- gerente de vendas gerente de projetos e
na Gafisa ciamento de proprie- técnicas na Astra inovação na Ambar
dades na JLL

BRUNO CANNAS RENNAN PRETE LEANDRO FANGEL


senior facilities opera- engenheiro de instala- especialista em pro-
tions lead na We Work ções na Toledo Ferrari jetos offsite na CMC
Modular

ERICK VIEGAS LUIZ HENRIQUE HEITOR


sócio/diretor na Sanhi- CEOTTO VASCONCELOS
drel Engekit CEO na Urbic Head de inovações na
Ambar

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

1 - CONCEITOS GERAIS, DESEMPENHO


E PRODUTIVIDADE DE SISTEMAS
PREDIAIS INDUSTRIALIZADOS

TÓPICOS ABORDADOS NESTE CAPÍTULO:


Construção civil e a Indústria 4.0
Projeto com foco no usuário real
A visão do construtor na Industrialização: Sinco Engenharia

CONSTRUÇÃO CIVIL E A INDÚSTRIA 4.0


A Indústria 4.0, como ficou conhecida a os métodos construtivos se beneficiem
revolução industrial proporcionada pela mais profundamente dessas soluções.
introdução massiva de sistemas de auto-
mação, dados e inteligência artificial nos Do lado oposto, a indústria automobilística
processos produtivos, tem se apresentado tem estabelecido processos de produção
de maneira mais disruptiva em alguns seg- extremamente avançados no que diz res-
mentos do que em outros. peito às tecnologias da Indústria 4.0. Tais
inovações agregaram altíssima produtivi-
O setor da construção, tradicionalmente dade, inclusive no Brasil. Um exemplo é a
marcado por um relativo conservado- fábrica da Jeep inaugurada em 2015 em
rismo, tem gradualmente assimilado as Pernambuco. No parque de 260 mil m2 na
potencialidades trazidas por tecnologias cidade de Goiana, o grau de robotização,
como Internet das Coisas (IoT, na sigla digitalização, conectividade e de produti-
em inglês), automação, computação em vidade são tão elevados que permitem a
nuvem, Big Data e Inteligência Artificial. fabricação de 250 mil carros/ano.
Mas ainda há muitos passos a dar até que

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

1784 1870 1969 HOJE


INDÚSTRIA 1.0 INDÚSTRIA 2.0 INDÚSTRIA 3.0 INDÚSTRIA 4.0
Sistemas
Producão em Automação, Ciberneticos,
Mecanização Escala, linha robotica, internet das
Tear e força De montagem, computadores. Coisas, redes,
a vapor. eletricidade e Internet e e inteligência
combustão. eletrônicos. Artificial.

Em palestra realizada aos participantes estocagem e agiliza a gestão de compo-


do GT, Eduardo Yamada*, gerente de sis- nentes. Tal prática, porém, ainda parece
temas prediais do CTE, traçou paralelos estar distante da realidade dos canteiros
entre a produção automobilística e a rea- de obras, onde ainda predomina a estoca-
lidade da construção civil, visando traçar gem in loco e falhas de fornecimento.
rotas para melhorar a produtividade, a efi-
ciência e a competitividade. Segundo ele, Mas se por um lado o setor da construção
uma característica das indústrias mais ainda se mantém distante dos padrões da
eficientes é contar com fornecedores inte- Indústria 4.0, por outro, é fato que a cons-
grados ao parque industrial principal. Na trução civil vem evoluindo gradualmente
construção civil, contudo, fornecedores em direção a patamares mais elevados
e canteiro ainda estão muito distantes, de produtividade, particularmente com a
comprometendo a eficiência logística. introdução de novos sistemas e materiais.

Além disso, fábricas como a da Jeep tra- No caso dos sistemas prediais, em espe-
balham com o conceito just in sequence1, cial, destaca-se o uso de kits de sistemas
em que o fornecedor produz o kit neces- prediais, como elétricos e hidráulicos, os
sário para determinado veículo, levado banheiros prontos e a construção modular
à montagem na hora certa. Isso reduz a off-site.

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Paralelamente, algumas startups têm sur- Outro passo importante na direção da


gido com a proposta de colaborar com Indústria 4.0 é a digitalização de projetos,
etapas executivas com o uso de robôs, gerenciamento e controle da construção
outro pilar da Indústria 4.0. por meio da metodologia BIM (Building
Information Modeling). O BIM, porém,
Na parte de planejamento e controle, a ainda é usado no setor da construção
Indústria 4.0 utiliza conceitos como o new como ferramenta de projeto para detec-
plant landscape2, sistema de mapeamento ção de compatibilização física. É necessá-
de qualidade aplicado sobre cada etapa rio aproveitá-lo melhor como ferramenta
concluída. Na construção civil, segundo para obra.
Yamada, isso poderia trazer resultados
positivos, por exemplo, na fase de pro-
jetos, de compras, contratação, testes,
entregas e recebimento.


Cada vez mais, tais soluções propiciam a fabricação
em indústrias e a montagem no próprio canteiro.
No caso de alguns sistemas prediais, também já
observamos a montagem de pequenas fábricas de
componentes onsite”.
Eduardo S. Yamada, gerente de sistemas
prediais do CTE

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

COMO APROXIMAR A CONSTRUÇÃO CIVIL DA INDÚSTRIA 4.0?


Como aproximar a construção civil da Indústria 4.0?

Na etapa de projetos: Na etapa de Durante a


planejamento e obra montagem
◗ Uso mais amplo do BIM
como ferramenta de ◗ Antes da montagem do ◗ Necessidade de profissionais
planejamento na obra. canteiro, planejar a logística de obras com visão sistêmica;
de execução e montagem
◗ Maior aproveitamento dos dos sistemas, sejam eles in ◗ “Just in Sequence” — peça
softwares de modelagem e ou kit certo para o equipa-
loco e/ou offsite;
simulação (energética, mento/obra/local certo;
climatização, insolação, ◗ Mapear a qualidade em ◗ Pré-testar kits e sistemas
estrutural, iluminação todas as frentes;
prontos;
artificial, etc.) para
definição das melhores
◗ Desenvolver planejamento ◗ Explorar com fornecedores/
individualizado para
estratégias; fabricantes não somente os
cada obra.
diferenciais do equipamento,
◗ Melhorar a sinergia entre mas também as soluções
as disciplinas, não somente sistêmicas;
focar em compatibilização
física.
◗ Criar processos
industrializados (kits,
◗ Necessidade de sistemas pré-montados) nas
engenheiros/ arquitetos atividades de alta
“sistemistas” para complexidade de instalação;
compatibilização funcional
e integrada de projetos; ◗ Planejar a realização de
testes funcionais e
◗ Implementar processo de integrados;
comissionamento no início
e ao longo da cadeia da ◗ Explorar a aptidão dos
construção. funcionários;
◗ Capacitar funcionários para
as novas tecnologias e
processos;
◗ Atentar para as condições de
saúde, bem-estar e
ergonomia dos trabalhadores
para aumentar a qualidade, a
produtividade e a satisfação
de todos.

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

ZERO ENERGY
(1) Just in sequence (JIS) — Aprimoramento da filosofia Just in Time. Consiste
em um sistema de fornecimento em que os fornecedores estão instalados nas
mediações ou no site da empresa, e abastecem diretamente na linha de pro-
dução, em sequência estipulada e em tempo determinado.
(2) New plant landscape (NPL) — Conceito utilizado pela indústria automobilística,
consiste no mapeamento do produto em cada etapa da fabricação, com uma
gestão integrada e em tempo real dos dados de produto e processo.

(*) EDUARDO SEIJI YAMADA — Engenheiro civil, mestre em


Engenharia de Sistemas Prediais pela Poli-USP, é gerente da
Unidade de Sustentabilidade do CTE. Professor em cursos de
especialização e pós-graduação em diferentes instituições (USP,
FAAP e MACKENZIE), é LEED® AP, integrante do Comitê Executivo
da ASHRAE Chapter Brasil e membro do Comitê Diretor do Building
Commissioning Association (BCA) Chapter Brasil.

O Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) é uma empresa de


consultoria e gerenciamento especializada em qualidade, tecnologia,
gestão, sustentabilidade e inovação para o setor da construção. Por meio
da Unidade Sustentabilidade, oferece consultoria para o desenvolvimento
de empreendimentos sustentáveis de alta performance.

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

PROJETO COM FOCO NO USUÁRIO REAL


Em palestra realizada aos participantes tradicionalmente voltadas para o desem-
do GT, o engenheiro Jorge Chaguri Jr.*, penho da indústria, intensa consumidora
diretor na Chaguri Engenharia de Projetos, de recursos naturais. Contudo, esse setor
apresentou os desafios impostos aos pro- da economia se modernizou voltando o
jetistas de sistemas prediais em um con- foco para os edifícios, que também têm
texto de profundas transformações impul- um impacto grande no consumo de recur-
sionadas tanto pelo aumento da demanda sos naturais ao longo do seu ciclo de vida.
de energia pela sociedade, quanto pela Em 2021, conforme dados da Empresa de
necessidade de reduzir as emissões de Pesquisa Energética (EPE), os edifícios
carbono. residenciais e comerciais representaram,
respectivamente, 25% e 17,5% do con-
Ele contou que quando o tema é a busca sumo de energia do país.
por eficiência, as atenções estiveram

Por muito tempo, a cadeia produtiva da consumidor, logo, não haveria como con-
construção se exime de responsabilidades trolar o consumo final.
argumentando que quem constrói não é o

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS


Usar o argumento de quem constrói não é o consumidor
para justificar a baixa eficiência operacional de edifícios
no pós-obra já não se aplica mais. Precisamos ter
condições de, ainda na fase de projeto, estabelecer
indicadores de quanto cada usuário vai consumir de
água, gás e energia mensalmente”.
Jorge Chaguri, diretor na Chaguri
Engenharia de Projetos

Dados de consumo de água, gás e energia, com a disseminação das certificações de


quando processados por tecnologias digi- sustentabilidade, um empreendimento só
tais que estão cada vez mais acessíveis, será considerado sustentável se sua ope-
devem embasar o gerenciamento opera- ração também for.
cional dos empreendimentos. Até porque,


Não adianta entregar um edifício que é uma ‘Ferrari’
para um usuário sem garantir que ele terá bom
desempenho. Por isso é necessário projetar, prever e
monitorar a eficiência do uso, algo que já deve aparecer
desde a fase de concepção”.
Jorge Chaguri, diretor na Chaguri
Engenharia de Projetos

Para o diretor, além das novas exigências à frente do desenvolvimento de projetos


quanto ao desempenho, há outros desa- de sistemas prediais. Entre eles:
fios impostos aos profissionais que estão

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

A diversidade de sistemas, configurações e tipologias, que difi-


culta a industrialização;

A setorização da medição de água e energia visando uma gestão


mais eficiente dos sistemas;

A necessidade de atender a metas Net Zero e iniciativas como


o Procel Edifica.

Apesar de todo o trabalho para projetar residenciais ou comerciais, os edifícios


edifícios eficientes e da introdução de mudam durante sua vida útil e as insta-
novas tecnologias, o usuário real con- lações prediais precisam, naturalmente,
tinua sendo o principal elemento para o acompanhar essa evolução. Para isso, o
sucesso das ações em prol da eficiência. primeiro passo para um projeto de retrofit
de instalações é a realização de um diag-
No caso dos edifícios existentes, ajustar nóstico para avaliar as características do
as condições projetadas ao uso real pode edifício e o comportamento dos usuários.
demandar a realização de retrofits. Sejam

(*) JORGE CHAGURI JÚNIOR — Engenheiro civil com mestrado


em energia pela Universidade de São Paulo. É diretor na Chaguri
Engenharia de Projetos e presidente do Conselho Deliberativo
da Associação Brasileira da Conformidade e Eficiência das
Instalações (Abrinstal), além de professor da disciplina de
instalações prediais no Liceu de Artes e Oficios de São Paulo.

A Chaguri Engenharia de Projetos desenvolve projetos termo-


-hidráulicos e de redes de gases combustíveis. O escritório também
faz o monitoramento dos sistemas prediais, visando a adequação
entre projeto e as características reais de uso.

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

VISÃO DO CONSTRUTOR NA
INDUSTRIALIZAÇÃO: SINCO ENGENHARIA
A visão de quem constrói é igualmente Na Sinco Engenharia, a industrialização
importante para alcançar o bom desem- das instalações prediais tem como prin-
penho da edificação. Além disso, se torna cipal objetivo a redução de mão de obra,
necessário o entendimento do construtor um componente altamente impactante no
sobre a racionalização da construção para custo final das obras.
a execução de uma obra que almeja indus-
trializar seus sistemas prediais.


A ideia é reduzir a quantidade de pessoas no canteiro,
bem como prazos de execução de etapas e sub-etapas
no canteiro”.
Eder Bocutti, engenheiro civil na Sinco Engenharia

A jornada de industrialização da constru- Para extrair o máximo de benefícios da


tora,utiliza diversas tecnologias, como kit industrialização, a Sinco investe em pro-
PEX (polietileno reticulado) para condu- cessos como o acompanhamento rigo-
ção de água quente, kit elétrico com ele- roso da terminalidade dos serviços e a
trodutos e cabos pré-montados e sistema realização de protótipos de instalações.
de acoplamento para tubulações de incên- Em algumas obras, para garantir o grau de
dio e sprinkler. personalização exigido pelo projeto sem
abrir mão da industrialização, a constru-
Além de diminuir a contribuição da mão de tora cria centrais de montagem no can-
obra nos custos do contrato, essas solu- teiro para a preparação de kits polvo.
ções permitiram simplificar o processo
de execução, agregar qualidade e, con- Apesar dos avanços, segundo Bocutti,
sequentemente, diminuir ocorrências no ainda há espaço para melhorias. Ele cita,
pós-obra. A industrialização das instala- como exemplo, a interface com outros
ções também ajuda a enfrentar problemas elos da cadeia e a falta de insumos no
como a alta rotatividade da mão de obra e mercado, que obriga as construtoras a
a empresa se tornar mais competitiva. aumentar o estoque no canteiro.

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS


O ideal seria se tivéssemos um fornecimento just in
time(1), assim como produtos com execução mais
intuitiva para diminuir a dependência da capacitação
dos instaladores”
Eder Bocutti, engenheiro civil na Sinco Engenhari

1
Just in time é um método de produção enxuta
que prevê a fabricação dos produtos de acordo
com a demanda exata, sem produção de estoque e
priorizando a entrega rápida ao cliente.

(*) Eder Bocutti — Engenheiro civil na Sinco Engenharia,


responsável pelo acompanhamento da execução dos serviços,
controle de prazo e de qualidade em obras.

Fundada em 1986, a Sinco Engenharia atua na incorporação e


construção de empreendimentos, tendo mais de 3 milhões de metros
quadrados em seu portfólio. Pioneira no uso do BIM, possui vasta
experiência em obras corporativas, residenciais, hoteleiras, industriais,
shoppings centers e telecomunicações.

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

2 - A IMPORTÂNCIA DO PROJETO NA
EXECUÇÃO DE OBRAS DE INSTALAÇÕES
E NA OPERAÇÃO DOS SISTEMAS
PREDIAIS

TÓPICOS ABORDADOS NESTE CAPÍTULO:


A evolução dos projetos de sistemas prediais
BIM em sistemas prediais
Visão do construtor na Industrialização: Gafisa
Visão da Administradora Imobiliária: JLL

A EVOLUÇÃO DOS PROJETOS DE SISTEMAS PREDIAIS


A industrialização dos sistemas prediais disciplinas se relacionam direta ou indire-
precisa ser pensada nas etapas iniciais tamente com tecnologias que ganharam
do desenvolvimento do produto imobiliá- mais relevância nos últimos anos, como
rio, antes mesmo do projeto. Embora essa veículos elétricos, geração fotovoltaica,
pareça uma afirmação óbvia, a verdade é geração eólica, aproveitamento de águas
que poucas empresas têm conseguido pluviais, reuso de esgoto, entre outras.
incluir, logo no início, as soluções tecnoló-
gicas e as metodologias que irão possibili- Os conhecimentos exigidos dos profissio-
tar a execução industrializada e a operação nais de projeto também têm sido determi-
racional dos sistemas prediais. nados pela introdução de novas normas e
legislação, como a lei de medição individu-
Fábio Pimenta*, diretor da Projetar, explicou alizada, de julho de 2021, e a consolidação
que as transformações nesse segmento de certificações específicas para sistemas,
têm sido amplas, com o envolvimento de como as instalações elétricas.
novas disciplinas e a introdução recente
de normas e leis com novos requisitos. Em Paralelamente, soluções técnicas emergen-
palestra realizada aos participantes do GT, tes têm se imposto, obrigando os projetis-
ele comentou que os projetistas passa- tas a acompanhar as inovações e a incor-
ram a ter que dominar uma ampla gama porá-las de maneira racionalizada desde a
de novos tópicos. A lista é longa: susten- concepção. Nesse grupo estão kits polvo,
tabilidade, acessibilidade, desempenho, pex e de montagem hidráulica, sistemas de
operação condominial, segurança patrimo- medição remota e de controle de demanda,
nial, conforto térmico e lumínico, estudo fábricas para pré-fabricação no canteiro,
de microbacia, BIM management, etc. Tais banheiros e cozinhas prontas.

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

COMO A DEMANDA DOS PROJETOS DE INSTALAÇÕES


PREDIAIS TEM MUDADO?

Novas disciplinas

◗ Sustentabilidade
◗ Acessibilidade
◗ Desempenho Exigências
◗ Operação condominial normativas e
◗ Segurança patrimonial legislações
◗ Conforto térmico
◗ Conforto lumínico ◗ Edifícios de uso múltiplo
◗ BIM Manager ◗ Fachada ativa
◗ Estudo de microbacia ◗ Certificação de instalações Novas tecnologias
elétricas
◗ Eficiência energética ◗ Fiação elétrica (polvo)
◗ Segurança de ambientes ◗ Kit pex
◗ Medição individualizada ◗ Kits de montagem
◗ Novos textos normativos hidráulica
◗ Medição remota
◗ Controle de demanda
◗ Indústrias para
pré-fabricação
◗ Banheiros prontos
◗ Cozinha pronta


A atividade de projeto está de cabeça para baixo.
Transformaram-se o objeto, as exigências e a forma dos
projetos. Mudaram-se os parâmetros de dimensionamento.
As equipes precisaram se qualificar mais e contar com
estrutura de informática mais robusta. Os softwares se
tornaram indispensáveis e a capacidade de desenvolver
tecnologia in house passou a ser estratégica.”
Fabio Pimenta, diretor da Projetar

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

BIM EM SISTEMAS PREDIAIS


Nesse contexto, a modelagem da informa- sistemas prediais. Com a compatibiliza-
ção da construção (BIM) tornou-se condi- ção de diferentes sistemas e o gerencia-
ção necessária para o sucesso dos proje- mento contínuo da obra possibilitados
tos de sistemas prediais. Por meio desta pela modelagem, o BIM possibilita a fabri-
tecnologia de colaboração, é possível rea- cação digital dos componentes que podem
lizar uma das principais tarefas que envol- ser levados para a obra just in time, dimi-
vem as instalações: a detecção de possí- nuindo os estoques no canteiro, roubos e
veis interferências. A modelagem também perdas, bem como serem rastreados.
permite a extração automática das quan-
tidades de insumos e componentes, agre- O BIM é uma ferramenta base para implan-
gando precisão aos orçamentos, assim tação de novas tecnologias, entre elas, o
como o trabalho compartilhado com dife- design generativo (generative design1) e
rentes disciplinas, estudo e planejamento o pathfinding2 (busca de rota). Ambas as
da sequência de montagem (construção metodologias se baseiam em inteligên-
virtual) e apoio à execução no canteiro. cia artificial para solução de problemas
comuns no segmento.
O BIM também é uma ferramenta impor-
tante na fabricação de componentes para


Se tenho uma instalação elétrica com luminárias
comandado por cinco interruptores diferentes. Nesse
caso existem 120 alternativas de ligação desses
interruptores, mas qual delas é a melhor? Até então,
ninguém saberia responder essa questão. Agora, o
sistema analisa todas as opções e escolhe a de menor
custo ou a que exige menos cabos”
Fabio Pimenta, diretor da Projetar

No caso do pathfinding, os caminhos descritos pelas instalações elétricas, por exemplo, podem
ser calculados automaticamente, buscando-se economia de materiais ou maior eficácia.

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

PARA ENTENDER MELHOR


(1) Generative design — Fundamenta-se na exploração de alternativas
de projeto derivadas de certos pressupostos definidos pelo projetista, em
resposta a um dado objetivo. Na prática, o arquiteto/designer define parâ-
metros, enquanto o software realiza as simulações e a modelagem, permi-
tindo criar múltiplas soluções simultaneamente.
(2) Pathfinding — O termo aplica-se a uma série de softwares que podem ser utili-
zados em diferentes indústrias com o intuito de prover ganhos de eficiência. Muito
empregada no segmento logístico, a tecnologia se baseia em algoritmos específicos
capazes de calcular rotas mais curtas.

(*) FÁBIO PIMENTA — Engenheiro civil pela Escola Politécnica da


USP, com mais de 35 anos de atuação em engenharia de projetos.
Além de sócio-fundador e diretor técnico da Projetar Engenharia,
foi fundador, presidente e conselheiro da Associação Brasileira de
Sistemas Prediais (Abrasip).

Criada há 25 anos, a Projetar atua nos setores predial, comercial e


industrial, com foco principal em grandes obras, como conjuntos
de edifícios, centros comerciais e shopping centers, edifícios para
finalidades especiais e plantas industriais.

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

VISÃO DO CONSTRUTOR NA
INDUSTRIALIZAÇÃO: GAFISA

Para a Gafisa, a redução de juntas reali- É essa a filosofia seguida na Gafisa, uma
zadas na obra e a utilização de kits que das pioneiras na industrialização de sis-
chegam pré-montados reduzem o tempo temas e componentes em edificações A
de execução na obra e evitam erros de construtora tem feito uso amplo de kits
interpretação de projetos executivos. Na prontos, com chicotes elétricos, pex e sis-
comparação direta, o custo da solução tema polvo, conforme relatou Fábio Gar-
industrializada pode até ser mais elevado, bossa*, diretor de engenharia da constru-
mas a redução da mão de obra e das per- tora e incorporadora.
das podem compensar esse investimento.

23
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Aos participantes do GT ele citou uma série de motivos que justificam a mobilização de
uma construtora em direção à industrialização. Entre eles:

Eliminação
de desperdícios

Redução do Diminuição de
ciclo de obra problemas pós-obra
Logística
mais assertiva

Aumento da
produtividade

(*) FABIO GARBOSSA FRANCISCO — Engenheiro civil pós-


graduado em administração e economia da construção civil pela
FGV-SP. Especialista em planejamento e gestão de obras, é diretor
de engenharia na Gafisa.

Há 67 anos no mercado, a Gafisa é está presente em 40 cidades e


19 estados de todo o país. A construtora e incorporadora já entregou
mais de 1.200 empreendimentos e construiu 16 milhões de metros
quadrados.

24
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

VISÃO DA ADMINISTRADORA IMOBILIÁRIA: JLL

Assim como o projeto e a execução da das operações. A começar pela sustenta-


obra, o administrador e operador do edifí- bilidade ambiental e social que, no caso da
cio tem grande impacto na eficiência dos JLL, inclui a meta de reduzir emissões de
sistemas prediais instalados. O diretor de CO2 até 2040.
property management na JLL, Fábio Mar-
tins* levou aos participantes do GT a visão Todo esse movimento tornou imperativa a
de uma consultoria imobiliária comercial coleta de informações dos edifícios para
com atuação em mais de 80 países. Ele subsidiar a tomada de decisão da gestão
contou que nos últimos 25 anos, muitas operacional, maximizando a eficiência ao
mudanças foram promovidas na gestão longo da vida útil do empreendimento.


Quanto mais sistemas forem interligados e mais
informações estiverem disponíveis, mais efetividade
conseguimos atingir”.
Fábio Martins, diretor de property management na JLL

Os dados obtidos via sensoriamento de de chillers, a revisão de geradores e a


equipamentos e plataformas digitais são modernização de elevadores. O objetivo é
decisivos para justificar aos proprietários ter sempre um prédio atualizado, preser-
dos ativos melhorias estruturais que pro- vando o seu valor no mercado e a satisfa-
porcionem eficiência, como a substituição ção dos usuários.

(*) FABIO AUGUSTO MARTINS — Com atuação no mercado


imobiliário desde 1997, é engenheiro eletrônico formado pela
FAAP, com MBA concluído na Itália. Atua como head na área de
gerenciamento de propriedades na JLL.

Marca registrada da Jones Lang LaSalle Incorporated, a JLL é líder na


prestação de serviços imobiliários e em gestão de investimentos, com
receita anual de US$ 19,4 bilhões e operações em mais de 80 países.

25
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

3 - INDUSTRIALIZAÇÃO COM KITS DE


SISTEMAS PREDIAIS

TÓPICOS ABORDADOS NESTE CAPÍTULO:


Por que investir em kits?
Obstáculos à industrialização

POR QUE INVESTIR EM KITS?


A demanda por alternativas que elevem a No Brasil, esse movimento vem aconte-
produtividade no canteiro, associada ao cendo, pelo menos, desde a década de 1990.
desenvolvimento da indústria de materiais, Gradativamente novos métodos de constru-
fez com que a oferta de soluções indus- ção industrializada que foram se dissemi-
trializadas para instalações prediais fosse nando no país, como os fechamentos em
ampliada. Hoje, o construtor tem à sua dis- concreto e as vedações internas em drywall,
posição desde chassis e kits pré-fabricados convidam ao uso de componentes e siste-
a banheiros modulares prontos. mas prediais igualmente industrializados.


Não se trata de montarmos um componente que antes
era um produto vendido a granel, mas de prever a
melhor forma de instalação e economizar com mão
de obra, ganhar tempo no transporte e na montagem e
evitar retrabalho”.
Alexandre Miranda*, gerente de vendas
técnicas da Astra

26
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Nesse contexto, os kits, principalmente, unidades. Já no Gafisa Square Choice, em


conquistaram mais espaço e adquiriram São Paulo, os kits foram utilizados em 26
mais sofisticação. Desde 1996, por exem- tipologias diferentes para atender ao grau
plo, a empresa Astra já forneceu kits pex de personalização exigido pelo empreen-
(polietileno reticulado), hidráulicos e elé- dimento com 227 unidades.
tricos para 100 mil unidades habitacio-
nais. Mais recentemente, a empresa lan- Além da velocidade de execução, os kits
çou um kit de banheiro, para obras com prontos proporcionam outros benefícios
múltiplos pavimentos, com a proposta de relevantes para os construtores. A come-
eliminar furos na laje que criam maior sus- çar pela maior garantia de qualidade da
cetibilidade a manifestações patológicas, montagem, dado que os componentes são
dispensar instalações no forro e aumentar testados em fábrica. Além disso, há uma
o pé-direito. redução drástica no número de fornece-
dores, simplificando a gestão, bem como
Miranda, contou que, ao longo desta jor- menor dependência de mão de obra espe-
nada, kits de hidráulica e elétrica foram cializada. Os kits prontos, além disso, pos-
aproveitados em obras de diferentes sibilitam uma padronização intensa dos
padrões e localidades. No projeto Vida componentes e sistemas, de modo que
Nova Sobrado, da construtora Jotanunes, a repetitividade pode ser ampliada sem
em Nossa Senhora do Socorro, Sergipe, perda de qualidade. Eles ainda facilitam a
os kits foram importantes para contornar gestão logística à medida que diminuem o
a falta de mão de obra especializada local número de itens no estoque de materiais
no volume necessário, visto que o empre- da obra.
endimento era composto por quase 1.500

(*) ALEXANDRE MIRANDA — Engenheiro mecânico pós-graduado


em administração industrial, é gerente de vendas técnicas na Astra.

A Astra é uma indústria nascida no interior de São Paulo com mais de


seis décadas de atuação e seis fábricas no Brasil. Possui um portfólio
variado, composto por itens voltados para a construção, que vão da
fundação da obra ao acabamento, do item técnico ao de decoração.

27
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Em sua fala aos participantes do GT, em obras com paredes de concreto detec-
Luciana Hergo Delfino*, gerente de proje- taram que, em uma unidade habitacional
tos de inovação da Ambar, trouxe núme- de 45 m2 seria necessária uma equipe de
ros que comprovam as vantagens pro- seis pessoas somente para montar as
porcionadas pela industrialização das instalações elétricas. Com os kits, essa
instalações prediais. Estudos realizados equipe cai para duas pessoas.

Módulos hidráulicos da Ambar; Fonte: Ambar


Também é possível constatar redução média do custo
da obra de 15% e uma produtividade 70% superior. As
perdas e desperdícios caem a zero”. Contudo, para
atingir máxima precisão, a modelagem da informação
da construção (BIM) deve ser implantada, pois é uma
aliada de primeira ordem.”
Luciana Hergo Delfino, gerente de projetos de
inovação da Ambar

28
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Ela explicou que todos os kits vendidos são embalados em pacotes por pavimen-
pela Ambar são modelados e divididos em tos, seguindo preceitos da filosofia lean
peças para a produção na fábrica em São (produção enxuta).
Carlos, SP. Uma vez prontos, os módulos


Se o cliente permitir, ainda ajudamos a organizar a
central logística do canteiro, conforme a metodologia
racionalizada FIFO1 (first in first out)”
Luciana Hergo Delfino, gerente de projetos
de inovação da Ambar

(*) HEITOR VASCONCELOS —É Head de Inovações da Ambar. É


bacharel em Engenharia Elétrica, Especialista em Engenharia de
Instalações e graduando em Engenharia Civil. Possui experiência
de mais de 10 anos como Gestor Nacional do Departamento de
Instalações da MRV.

(*) LUCIANA DELFINO —Arquiteta e urbanista com MBA em


Administração e Negócios, é gerente de projetos e inovação na Ambar.

A Ambar foi concebida em 2013 para trazer mais eficiência para cada
canteiro de obra do Brasil. Com planta em São Carlos, SP, a empresa
incorporou empresas como a Polar, que faz componentes para
instalações de infraestrutura elétrica, hidráulica e climatização que
ajudam a elevar a produtividade dos canteiros.

29
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

OBSTÁCULOS À INDUSTRIALIZAÇÃO
Apesar das soluções disponíveis, o setor da Sanhidrel Engekit, enxerga falhas ao
ainda não conseguiu absorver ao máximo longo de todo o processo construtivo
as potencialidades dos sistemas prontos. que atrapalham o avanço das metodolo-
Segundo dados da consultoria McKinsey, gias racionalizadas. Em geral, os projetos
a construção tem crescido apenas 1% ao apresentam natureza apenas orientativa,
ano ao longo dos últimos anos. O desper- sendo inconsistentes para embasar uma
dício dos métodos de instalação tradicio- instalação industrializada. Na execução
nais chega a 15%, valor inadmissível em tradicional, os sistemas em geral não são
tempos de responsabilidade ambiental e padronizados, acarretando problemas de
de práticas ESG (Environmental, Social qualidade. O modelo gera desperdícios e
and Governance). retrabalho, além de gerar entulho e resí-
duos. A mão de obra empregada no pro-
São diversos os desafios para transfor- cesso acaba sendo cara e ineficiente.
mar essa realidade. Erick Viegas*, diretor


Também há falta de interface entre o projeto e outras
disciplinas. Em geral, você constata que o projeto
previu interfaces físicas, mas não as logísticas”.
Erick Viegas*, diretor da Sanhidrel Engekit

As soluções para esse quadro passam principalmente em obras de médio e alto


pela criação de parcerias entre clientes padrão, com kits que podem ser produzi-
e fornecedores. Viegas defende também dos em obra ou fornecidos prontos para
a adoção de mais modelos construtivos a montagem. Os ganhos proporcionados
que reduzam a dependência entre as dife- pela utilização de kits prontos são cons-
rentes etapas de serviço da obra, algo que tatáveis em diferentes níveis da execu-
pode otimizar a execução dos sistemas. ção. No entanto, eles são apenas uma
Para isso, é necessário promover esses parte do processo. Sem cuidado com o
temas nos meios teórico e acadêmico e fluxo de obra e com a interface com as
investir na capacitação dos profissionais. outras disciplinas, os benefícios podem
ser comprometidos.
Instaladora de sistemas elétricos e hidráu-
licos desde 1957, a Sanhidrel Engekit atua

30
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Em empreendimentos de alto padrão, à redução de ociosidade e de ineficiências,


quando há um grau menor de repetição, assim como a diminuição radical de gera-
a redução do efetivo de mão de obra é de ção de resíduos e a maior facilidade para
pelo menos de 30% com o uso de kits. a realização de serviços pós-obra.
Outros ganhos importantes dizem respeito

PARA ENTENDER MELHOR


(1) FIFO — Sigla para “First In, First Out”. Consiste em trabalhar com
filas de espera. À medida que os produtos novos são colocados na fila, os
antigos vão sendo retirados, obedecendo a ordem de chegada dos itens
no estoque. O ponto principal do sistema Fifo é evitar os desperdícios
causados por uma má gestão de estoques.

(*) ERICK VIEGAS — Engenheiro civil com MBA em economia e gestão


empresarial, é sócio e diretor da Sanhidrel Engekit.

Atuando no setor de instalações Hidráulicas e Elétricas desde 1957,


a Sanhidrel Engekit é uma instaladora certificada com ISO 9001,
ISO 14001 e OHSA 18001. A empresa, que atua principalmente em
empreendimentos de alto a médio padrão, possui um time formado
por engenheiros, tecnólogos, técnicos, encanadores e eletricistas,
especializados em instalações.

31
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

4 - A IMPORTÂNCIA DO COMISSIONAMENTO
NO DESEMPENHO DE SISTEMAS PREDIAIS

TÓPICOS ABORDADOS NESTE CAPÍTULO:


Contexto das instalações prediais no Brasil
O que é comissionamento?
Tipos de comissionamento
Visão do Operador do Edifício: WeWork

CONTEXTO DAS INSTALAÇÕES PREDIAIS NO BRASIL


A complexidade crescente dos sistemas no pós-obra são oriundos de falhas nos
prediais e sua diversificação ininterrupta sistemas prediais hidráulicos de água e
têm criado um descompasso entre os esgoto.
avanços das tecnologias dos equipamen-
tos/ sistemas e a falta de qualificação da A própria estrutura do setor da constru-
mão de obra da construção civil no Brasil. ção tem, de alguma maneira, permitido
O problema é especialmente preocupante que tais problemas se intensifiquem. A
já que boa parte das manifestações pato- questão é que, geralmente, os sistemas
lógicas são decorrentes dos sistemas prediais são delegados às instaladoras
prediais e não das obras civis. De acordo e projetistas, sem haver envolvimento de
com levantamento recente feito pelo Sin- equipe técnica especializada do lado do
dicato da Indústria da Construção de São cliente.
Paulo, Sinduscon-SP, 75% dos problemas

32
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

fonte: https://tokenengenharia.com.br/

Para piorar, na maioria das vezes, as ins- é o risco gerado por instalações críticas,
talações são avaliadas e testadas por especialmente no caso dos sistemas elé-
empresas contratadas pelas próprias tricos, no qual a consequência de uma
instaladoras, estabelecendo um conflito má execução pode ser catastrófica, com
de interesses entre os responsáveis pela custo inestimável.
execução e os responsáveis pela valida-
ção de sua qualidade. Tal condição acaba Uma das formas que as empresas têm
ocasionando falhas não verificadas dos para certificar-se da qualidade dos proje-
sistemas prediais, que levam as constru- tos, execução e operação dos sistemas
toras a arcar com custos crescentes de prediais é implementar o processo de
assistência técnica, impactando nos seus comissionamento.
resultados. Problema ainda mais grave


Não estamos falando de contratar empresas para
fazer testes no final da obra. Afinal, de nada adianta
constatar diversas não conformidades no momento da
entrega se os erros já eram originados na concepção e
na etapa dos projetos”.
Eduardo S. Yamada*, gerente de sistemas prediais
da Unidade de Sustentabilidade do CTE

33
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Segundo Yamada, há uma série de inter- obras ou atividades relacionadas à proce-


pretações equivocadas entre as empresas dimentos de Start-up (partida) de siste-
de construção quanto ao papel que deve mas ou equipamentos. Comissionamento
ter uma empresa de comissionamento. tampouco se resume à realização de Tes-
Aos participantes do GT, ele esclareceu tes, Ajustes e Balanceamento (TAB) dos
que comissionamento não tem a ver com sistemas, como muitos supõem.
coordenação de projetos, fiscalização de

O QUE É COMISSIONAMENTO?

DEFINIÇÃO: Segundo norma da American Society of Heating, Refrige-


rating and Air-Conditioning Engineers (ASHRAE), ASHRAE Guideline
0 - 2013, comissionamento consiste em um “processo de controle de
qualidade” conduzido por profissionais habilitados para garantir que os
sistemas prediais sejam “concebidos, projetados, instalados, testados,
operados e mantidos conforme as premissas e necessidades do cliente,
normas e legislações técnicas vigentes, e boas práticas do mercado”.

O processo de comissionamento envolve, junto ao empreendedor, mais especifica-


portanto, todos os elos da construção, da mente, na definição dos requisitos do pro-
concepção inicial à entrega do empreendi- prietário ou o Owner Project Requirements
mento às equipes de operação, manuten- (OPR), antes mesmo da contratação da
ção e administração predial. Ele se inicia equipe de projetos.


É nesse momento que se estabelecem as premissas
de projetos e de desempenho, as premissas técnicas
visando as atividades de operação e manutenção
das instalações e os requisitos de sustentabilidade e
eficiência energética”.
Eduardo S. Yamada*, gerente de sistemas prediais da
Unidade de Sustentabilidade do CTE

34
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

1. FASE DE CONCEPÇÃO:
Desenvolvimento e definição dos requisitos e
necessidades do cliente para o desenvolvimento
do projeto (Owner Project Requirements - OPR);
Avaliação das premissas técnicas ou bases dos
projetos (Basis of Design) de sistemas prediais
em atendimento ao OPR;

2. FASE DE PROJETOS:
Análise crítica dos projetos para verificação de
conformidade com as necessidades do cliente
(OPR), normas técnicas e boas práticas;
Análise das tecnologias propostas com foco na
viabilidade técnica e econômica;
São apresentadas
Análise e orientação de contratação de
a seguir, de forma fornecedores, construtora e empresas instaladoras;
resumida, as principais
atividades do processo 3. FASE DE OBRAS:
de comissionamento ao
Acompanhamento de obras para verificação
longo da cadeia da qualidade de execução dos sistemas prediais;
da construção:
Validação das aquisições de equipamentos e
materiais dos sistemas;
Execução de testes funcionais e integrados
dos sistemas prediais para garantia da
funcionalidade e desempenho especificados
nos projetos;
Avaliação e validação dos treinamentos e da
documentação de entrega dos sistemas prediais
(Manuais de Operação e Manutenção, Data Book).

4. FASE DE PÓS-OBRA:
Inspeções e testes de recebimento de
sistemas prediais;
Implementação do processo de comissionamento
contínuo para acompanhamento e avaliação
de desempenho.

BENEFÍCIOS:
BENEFÍCIOS:
Com
Coma aimplementação do processo
implementação do processo de comissionamento,
de comissionamento, o cliente
o cliente (investidor, (investidor,
incorporador, incorporador,
construtora)
poderá obter diversos benefícios, sendo os principais:
construtora) poderá obter diversos benefícios, sendo os principais:
Orientação e auxílio, junto ao cliente, na definição das necessidades (premissas) e
expectativas antes do início dos projetos – explorar a “engenharia de valor” antes
das etapas de projetos e obras;

Melhorar a comunicação entre as etapas: o que o cliente quer junto às equipes de


projetos, obras e operação predial;

Reduzir erros de projetos, retrabalhos e aditivos contratuais;

Reduzir atrasos na entrega de projetos e obras;

Garantir a funcionalidade e desempenho esperado dos sistemas prediais.


O resultado é a valorização do imóvel, já que o empreendimento se torna mais
confiável, seguro e eficiente, resultando em menores custos e riscos operacionais.

O resultado é a valorização do imóvel, já que o empreendimento se torna mais confiável,


seguro e eficiente, resultando em menores custos e riscos operacionais.

35
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Embora os investidores, incorporadores Atualmente estão em curso diferen-


e construtores relutem em contratar o tes ações para disseminar as práticas e
processo de comissionamento para não conhecimentos relacionados ao processo
aumentar seus custos, é sempre acon- de comissionamento no Brasil. Entre elas,
selhável fazê-lo, principalmente, na etapa existe o capítulo da Building Commissio-
de projetos. Afinal, o processo de comis- ning Association (BCA) americana (www.
sionamento auxilia na redução de erros bcxa.org) no Brasil (www.bcxa.com.br),
ao longo da cadeia, logo quanto antes com a participação de empresas, profis-
ocorrer a sua implementação, menores os sionais e associações setoriais, com o
riscos técnicos e econômicos nas demais objetivo de disseminar o conceito desse
etapas. Vale lembrar que, qualquer modi- serviço, além de divulgar eventos (semi-
ficação que ocorra nas etapas mais avan- nários, workshops, etc.) e publicações de
çadas de um empreendimento, maior será materiais, práticas e experiências tanto no
o custo e risco necessário para as corre- âmbito do mercado nacional, e também,
ções e ajustes. do internacional.

(*) EDUARDO SEIJI YAMADA — Engenheiro civil, mestre em Engenharia


de Sistemas Prediais pela Poli-USP, é gerente da Unidade de
Sustentabilidade do CTE. Professor do curso de especialização e pós-
graduação em diferentes instituições (USP, FAAP e MACKENZIE), é
LEED® AP, Integrante do Comitê Executivo da ASHRAE Chapter Brasil e
membro do Comitê Diretor do Building Commissioning Association (BCA)
Chapter Brasil.

O Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) é uma empresa de


consultoria e gerenciamento especializada em qualidade, tecnologia,
gestão, sustentabilidade e inovação para o setor da construção.
Uma das atividades que realiza é o processo de comissionamento
de sistemas prediais, auxiliando na conformidade do atendimento de
requisitos técnicos e na minimização de riscos de insucesso durante
as etapas de desenvolvimento de projeto e instalação.

36
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

TIPOS DE COMISSIONAMENTO
Rennan Prete*, engenheiro de instalações ser comissionados os sistemas hidros-
da Toledo Ferrari, tem acompanhado todo sanitário, elétrico, combate a incêndio,
o processo de concepção, projeto e execu- ar condicionado e ventilação mecânica,
ção de sistemas prediais nas edificações automação e controle, energias renová-
da construtora e incorporadora que atua veis, arquitetura, sistemas estruturais e
nos segmentos residencial, comercial, acabamentos.
shoppings e hotéis. Segundo ele, podem


O importante é que uma empresa especializada realize
o processo e assegure que os requisitos do cliente
sejam plenamente compreendidos”.
Rennan Prete*, engenheiro de instalações
da Toledo Ferrari

37
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Em fala aos participantes do GT, Prete discorreu sobre três tipos de comissionamento
mais usuais:

1. Comissionamento físico:
consiste na certificação de que as instalações e
montagens físicas dos equipamentos e sistemas
estejam 100% concluídas e aptas para entrar em
operação. Esse comissionamento tem como
pré-requisitos o controle tecnológico de materiais e
equipamentos empregados nas instalações, assim
como inspeções de equipamentos em fábrica.

2. Comissionamento
funcional: consiste na realização
de uma série de verificações e
testes funcionais dos
equipamentos para garantir que
as instalações atendam às
especificações de projeto,
normas técnicas aplicáveis e à
melhor prática de engenharia,
proporcionando as condições
necessárias para o start-up de
equipamento e sistemas.

3. Comissionamento integrado:
trata-se de um conjunto de técnicas e
procedimentos de engenharia
aplicados de forma integrada a um
empreendimento. A ideia é torná-lo
operacional segundo os requisitos
especificados em projeto. Para tanto,
são avaliadas as integrações
funcionais entre todos os sistemas do
empreendimento. A ideia é prover a
confirmação documental necessária
para garantir que os sistemas
satisfaçam as necessidades
operacionais, assegurando a
transferência da unidade do construtor
para o proprietário com confiabilidade e
rastreabilidade de informações.

38
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Segundo Prete, os custos do comissio- Mas os benefícios compensam, na visão


namento dependem de muitos fatores, do engenheiro. Ele cita ganhos como
como a idade do empreendimento. Como custo de operação entre 8% a 20% menor
referência, em edifícios novos, o custo é do que em prédios não comissionados,
de cerca de 0,5% do valor do empreendi- redução nos consumos de água e energia,
mento em instalações mais simples. Já maior vida útil dos equipamentos e redu-
em edifícios existentes, o número gira em ção de custos graças à detecção precoce
torno de 3% a 5% do custo de operação. de falhas.

(*) RENNAN PRETE — Engenheiro eletricista, atua como engenheiro


de instalações na Toledo Ferrari.

A Toledo Ferrari atua no segmento de construção e incorporação


há mais de 20 anos, com foco em empreendimentos residenciais e
comerciais de médio alto e alto padrão, além de edifícios corporativos,
malls e hotéis. São cerca de 100 empreendimentos já entregues,
somando mais de 2,7 milhões de metros quadrados construídos

39
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

VISÃO DO OPERADOR DO EDIFÍCIO: WEWORK

Bruno Cannas*, senior facilities opera- fundamental para nós e o processo de


tions lead na WeWork, apresentou alguns comissionamento é um dos instrumentos
problemas muito comuns que podem ser para conseguir isso”, explicou Cannas,
evitados com um bom trabalho de comis- ressaltando que cabe à equipe de comis-
sionamento. A We Work é uma das prin- sionamento garantir instalações corretas
cipais fornecedoras de espaços de tra- e o atendimento dos critérios de obra, de
balho global, com um portfólio que inclui forma que o projeto siga não apenas às
mais de 800 locais. “A garantia de bom normas e leis, mas também às boas práti-
funcionamento dos sistemas prediais em cas de engenharia.
cada um dos espaços de trabalho é ponto


O comissionamento é uma visão geral sobre todas as
etapas, por meio da qual se tenta resolver problemas
no pré-obra, durante a obra e no pós-obra”.
Bruno Cannas*, senior facilities
operations lead na WeWork

40
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Bruno explicou que o ideal é que a equipe precocemente. Entre elas, equipamentos
responsável pelo processo realize várias de ar condicionado com nível de ruído fora
visitas durante a obra e tente detectar e dos padrões estabelecidos pelo cliente e
prever diferentes problemas em todas as pelas normas, posicionamento errado
etapas, inclusive na fase de projeto. de sensores de temperatura e instala-
ção de dutos com layout que dificulta o
Para ilustrar, Cannas citou falhas que balanceamento.
podem custar caro à operação e que são
mais solucionáveis quando detectadas

(*) BRUNO CANNAS — Engenheiro mecânico com experiência em


gestão de facilities, é senior facilities operations lead na We Work.

A WeWork foi fundada em 2010 com a visão de criar ambientes onde


pessoas e empresas se reúnam e façam seu melhor trabalho. Desde
então, a companhia se tornou um dos principais fornecedores globais
de espaços flexíveis, comprometidos em fornecer soluções prontas
para uso com tecnologia, espaços flexíveis e experiências comunitárias.

41
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

5- BANHEIROS PRONTOS

TÓPICOS ABORDADOS NESTE CAPÍTULO:


A evolução da tecnologia de banheiros prontos no Brasil
Processo de instalação
Recomendações para estimular a industrialização de sistemas prediais

A EVOLUÇÃO DA TECNOLOGIA DE BANHEIROS PRONTOS


NO BRASIL
Empregados na construção civil europeia 120 itens, divididos entre subsistemas
desde a década de 1960, os banheiros como instalações, revestimentos, louças,
prontos foram uma das iniciativas pio- metais, impermeabilização e iluminação.
neiras de industrialização radical do pro-
cesso construtivo. No Brasil, eles se torna- Conforme destacou o engenheiro Luiz
ram ícones da construção industrializada Henrique Ceotto*, CEO na Urbic e contra-
e têm sido usados desde o fim da década tante das primeiras obras com banheiros
de 1990, sobretudo no setor hoteleiro. prontos no Brasil - há mais de duas déca-
das - os benefícios proporcionados pelos
Os banheiros prontos são uma resposta banheiros prontos são inegáveis, embora
a um processo de construção lento e muitos construtores tenham alguma resis-
oneroso que, em edificações residen- tência à solução.
ciais, pode envolver a gestão de mais de


Infelizmente, as construtoras brasileiras estão
habituadas a pensar em preço por metro quadrado. Mas
há uma série de componentes de custo que favorecem
o banheiro pronto na comparação com o executado de
forma convencional”.
Luiz Henrique Ceotto*, CEO na Urbic

42
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Entre os principais fatores que ele des- tempo em obra. Portanto, evitar isso é
taca, estão o prazo mais curto de execu- uma grande vantagem.
ção, a redução da ocorrência de manifes-
tações patológicas e questões logísticas. Os banheiros prontos tornam-se soluções
A parte mais demorada da obra interna é ainda mais desejáveis quando associados
a instalação de cerâmica nos banheiros. à industrialização de outros sistemas, como
A equipe de cerâmica passa um longo vedações e componentes estruturais.


O banheiro pronto tem que fazer parte do processo desde
o nascedouro do projeto construtivo, desta forma, é
possível prever soluções que favoreçam o posicionamento
do módulo quando ele chegar ao canteiro”.
Luiz Henrique Ceotto*, CEO na Urbic

É fato que a aplicação bem-sucedida desta de maneira muito fluida, sem a necessidade
tecnologia depende de um planejamento de desviar de vigas. No trecho de entrada
consistente de fabricação, transporte e mon- do banheiro é importante que não haja viga
tagem, assim como a compatibilização ade- de borda. Da mesma forma, a trajetória que
quada entre a obra e o projeto do banheiro deverá ser descrita pelo banheiro pronto
pronto. O objetivo deve ser evitar interferên- deve ser previamente planejada. Além disso,
cias, como vigas que bloqueiam a introdu- a compatibilização com fachadas pré-mol-
ção do banheiro na estrutura já construída. dadas tende a ser mais simples do que com
as moldadas in loco, uma vez que os banhei-
Nesse ponto, Ceotto recomendou trabalhar ros prontos exigem um grau de precisão ele-
com lajes planas, tipo cogumelo, para que vado para evitar arremates de última hora.
o deslocamento horizontal possa ser feito

(*) LUIZ HENRIQUE CEOTTO — Engenheiro civil com mestrado em


engenharia estrutural pela Universidade de São Paulo e Executive
Certificate in Strategy and Innovation pelo MIT (Massachusetts
Institute of Technology). Com mais de quatro décadas de atuação no
mercado imobiliário, é CEO da Urbic.

A Urbic é uma construtora e incorporadora que vem se consolidando


no mercado paulistano com produtos imobiliários projetados com um
novo conceito de morar, que prioriza a localização, e com o menor
ciclo de construção do segmento residencial de médio-alto e alto
padrões do país.

43
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

PROCESSO DE INSTALAÇÃO
O banheiro pronto não difere, no que diz as especificações do projeto arquitetônico,
respeito ao resultado final, do banheiro por uma única fabricante, ele apresenta
convencionalmente executado. Porém, qualidade superior, evita desperdícios, pro-
como ele é produzido em fábrica, seguindo porciona economia e reduz o prazo de obra.


Basicamente, todas as etapas, tarefas e disciplinas
envolvidas na construção de um banheiro são
executadas em fábrica”.
Leandro Fangel*, engenheiro e especialista em
projetos offsite da CMC Modular

44
DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Ele contou que os banheiros prontos O instalador recebe kits cerâmicos já


podem ter sua célula estruturada em steel cortados para a instalação. Também são
frame, fibra de vidro, concreto ou painéis realizados os acabamentos projetados,
leves. Na CMC, utiliza-se uma base de incluindo a instalação de mobília, e os
concreto armado de 4 a 6 cm, em que acessórios, que podem incluir até mesmo
um perfil de aço galvanizado perimetral espelhos. Ainda na fábrica, todas as célu-
é reforçado por um vergalhão antes da las são testadas, sendo avaliados itens
concretagem. “As paredes são feitas em como estanqueidade, continuidade, pres-
perfil de aço dobrado ou steel frame com são hidráulica, vazão e inclinação do piso.
fechamento em gesso acartonado. Após
executados os painéis, montamos a célula Uma vez concluído, o banheiro é transpor-
tridimensional com ligações soldadas”, tado em carreta até o canteiro de obra.
descreveu Fangel. Para facilitar essa etapa, os projetos ten-
dem a limitar dimensionalmente o módulo
A seguir, a equipe da fábrica leva a célula para sua menor medida tenha, no máximo,
para a linha de produção, onde ela recebe 2,50 m. O módulo é, então, içado por um
os diversos sistemas e componentes: exe- guindaste ou grua que o coloca em uma
cução da parte hidráulica e elétrica, imper- plataforma no patamar em que ele será
meabilização e revestimento cerâmico. implantado.

(*) LEANDRO FANGEL — Engenheiro civil, é especialista em projetos


offsite na CMC Modular.

Especializada em soluções construtivas de espaços modulares, a


CMC conta com parque fabril com 13.600 m2 localizado em Mirassol,
interior de São Paulo, para atender os setores da construção civil,
petróleo e gás, recursos naturais, entre outros.

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

TABELA
12 RECOMENDAÇÕES PARA ESTIMULAR A INDUSTRIALIZAÇÃO DE
SISTEMAS PREDIAIS EXTRAÍDAS DOS DEBATES DO GT “DESEMPENHO E
INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS”

A adoção de soluções Para impulsionar a A industrialização na área É preciso desenvolver


industrializadas deveria industrialização, tanto as de instalações prediais maior sinergia entre os
ser tomada antes ou logo equipes de projeto quanto poderia ser mais ampla se elos da cadeia e ajustar o
no início do processo de as de execução de obra houvesse, na construção timming do ciclo de
desenvolvimento do precisam conhecer essas civil brasileira, alguma produção imobiliária com
empreendimento. inovações com padronização de projetos. o da indústria.
profundidade.

A comunicação entre Logística e armazenamen- A qualificação da mão de O uso de componentes


construtor e fornecedor, to são pontos a serem obra é um gargalo a ser pré-testados, pré-monta-
bem como o planejamen- trabalhados para extrair resolvido para alavancar a dos e pré-performados é
to são fundamentais para ainda mais vantagens dos industrialização de crucial para garantir o
o sucesso da industriali- sistemas industrializados. sistemas prediais. desempenho dos
zação de sistemas sistemas prediais.
prediais.

É fundamental comunicar É preciso incluir o tema Os modelos BIM precisam O processo de comissio-
melhor aos clientes finais industrialização na ser utilizados em todo o namento é a metodologia
as vantagens da industria- formação acadêmica e seu potencial, sobretudo ideal para certificar que as
lização. encurtar distâncias entre integrando-se melhor com premissas do contratante,
universidades e empresas. a obra. normas e leis foram
plenamente observadas
na obra, de maneira
tecnicamente embasada e
com independência.

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

CONCLUSÃO
De forma muito oportuna e bem-vinda, a o uso de tecnologias digitais para reduzir
indústria vem ampliando a disponibilidade incompatibilidades, assim como a ado-
de soluções pré-montadas para sistemas ção do comissionamento para garantir o
prediais, acompanhando a maior demanda atendimento às melhores práticas foram
das construtoras por alternativas que ele- alguns pontos de atenção destacados
vem a produtividade no canteiro. Tanto é pelos membros do GT.
que já há uma oferta razoável de produtos
Eles também enfatizaram que a obten-
para quem quer industrializar essa etapa
ção de sistemas prediais mais eficientes
construtiva, tanto componentes, kits e
e sustentáveis requer uma colaboração
chassis, quanto módulos prontos. mais ampla entre contratantes, projetis-
Contudo, a rota para o aproveitamento mais tas, instaladores e fornecedores. Isso
amplo da industrialização ainda é longo, enfatiza ainda mais o papel do Grupo e
como mostraram as apresentações e os do Enredes, que busca criar e ampliar as
oportunidades de relacionamento setorial
debates promovidos no GT “Desempenho
visando promover a industrialização, a
e industrialização de Sistemas Prediais”.
transformação digital, a sustentabilidade
Projetos mais consistentes e que conside- e a inovação no setor da construção.
rem a industrialização desde o princípio,

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

CRÉDITOS

CO-AUTORES
Adson Eduardo de Souza Almeida, gerente comercial na Projelet Projetos de Sistemas Prediais
Alexandre Miranda, gestor de vendas técnicas e desenvolvimento de negócios na Astra
Aline Caroline Lopes da Rocha, arquiteta na Cubicset
André Luis de Campos Bicudo, estagiário de Inteligência e Processos BIM na Ambar Tech
Bianca Codognato Tahara, analista de inovação na Ambar Tech
Daniel Pallos Barbosa, coordenador de obras na Habiarte Barc
David de Castro Berti, analista de inovação na Ambar Tech
Denise Sato Fukuda, engenheira civil na Stamade
Eder Bocutti, engenheiro na Sinco Engenharia
Elisa Aparecida dos Santos Farah, engenheira na Amanco Wavin
Fabio Pimenta, diretor na Projetar Engenharia
Fabrício Marotta Terciotti, gerente de operações na Método Engenharia
Francisco Lenilson Lima dos Santos, gerente de projetos na Toledo Ferrari
Gabriel Francisco dos Santos, analista de Engenharia Júnior na Ambar Tech
Hugo Albuquerque, coordenador na MRV
Jorge Luiz de Aquino Lima, gerente técnico na Viapol
Liliana Vergamini Luna de Sá, diretora de projetos no Königsberger Vannucchi
Luiz Felipe Prata Ribeiro, engenheiro de instalações na Eztec
Paulo Luiz Silveira Coelho, engenheiro na RKM Engenharia
Paulo Oliveira, CEO na Aratau Construção Modular
Pedro Veríssimo Soulé, engenheiro civil na RPS Engenharia
Phelipe Allan Silva de Jesus, engenheiro de obra na Gafisa

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DESEMPENHO E INDUSTRIALIZAÇÃO DE SISTEMAS PREDIAIS

Rafael Felipe Teixeira Rodrigues, especialista de marketing na Gerdau


Rennan Rodrigues Prete, engenheiro de instalações na Toledo Ferrari
Talita Almeida Minelli Martins, coordenadora de desenvolvimento de projetos e orçamen-
tos na Prestes Construtora e Incorporadora
Thais Dantas Del Picolo Bolonha, engenheira de obras no CTE
Thaís Vieira Pereira, analista de produto na Autodoc

EQUIPE CTE ENREDES


Facilitadores: Mariana Watanabe e Roberto de Souza
Revisão técnica: Mariana Watanabe, Roberto de Souza e Eduardo Yamada
Equipe de apoio: Isabel Alexandrino, Cristina Mantovani, Tainã Dorea
Redação: Juliana Nakamura (MTB 46.219/SP)
Arte: Laboratório de Criação
Coordenação: Carolina Crepaldi e Gabriela Barreto de Souza

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O Centro de Tecnologia de Edificações é uma
empresa de consultoria e gerenciamento especia-
lizada em qualidade, tecnologia, gestão, susten-
tabilidade e inovação para o setor da construção.
Exerce suas atividades desde 1990, desenvolvendo
metodologias e tecnologias para a melhoria da
gestão das empresas, dos empreendimentos e
das obras, estimulando e promovendo a produti-
vidade, a competitividade, a cultura diferenciada e
o crescimento sustentável da cadeia produtiva da
construção.

O CTE enredes é uma unidade de negócio do Cen-


tro de Tecnologia de Edificações (CTE), criado
para conectar profissionais e empresas, influenciar
mudanças e gerar negócios para a transformação
da indústria da construção. Com foco em inovação,
sustentabilidade e qualidade, oferece ao mercado
um pacote de soluções para criar redes de relacio-
namento, compartilhar conhecimentos e promover
movimentos para a melhoria do desempenho e da
produtividade do setor.

A Rede Construção Digital e Industrializada (RCDI)


é um ecossistema de inovação e de relaciona-
mento que conecta os principais agentes da cadeia
produtiva com soluções tecnológicas inovadoras.
Atua desde 2018 para exponenciar a digitalização
e a industrialização da construção brasileira.
Rua Pascoal Pais, 525 - 13º andar
Brooklin Novo | São Paulo
CEP: 04581-060
(011) 2149-0300 | enredes@cte.com.br
www.enredes.com.br

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