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Estratégias

Corporativas
de Baixo
Carbono:
Gestão de
Riscos e
Oportunidades

Brasília
2011
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI

PRESIDENTE
Robson Braga de Andrade

1º VICE-PRESIDENTE
Paulo Antonio Skaf

2º VICE-PRESIDENTE
Antônio Carlos da Silva

3º VICE-PRESIDENTE
Flavio José Cavalcanti de Azevedo

VICE-PRESIDENTES
Paulo Gilberto Fernandes Tigre
Alcantaro Corrêa
José de Freitas Mascarenhas
Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira
Rodrigo Costa da Rocha Loures
Roberto Proença de Macêdo
Jorge Wicks Côrte Real
José Conrado Azevedo Santos
Mauro Mendes Ferreira
Lucas Izoton Vieira
Eduardo Prado de Oliveira
Antônio José de Moraes Souza

1º DIRETOR FINANCEIRO
Francisco de Assis Benevides Gadelha

2º DIRETOR FINANCEIRO
João Francisco Salomão

3º DIRETOR FINANCEIRO
Sérgio Marcolino Longen

1º DIRETOR SECRETÁRIO
Paulo Afonso Ferreira

2º DIRETOR SECRETÁRIO
José Carlos Lyra de Andrade

3º DIRETOR SECRETÁRIO
Antonio Rocha da Silva

DIRETORES
Alexandre Herculano Coelho de Souza Furlan
Olavo Machado Júnior
Denis Roberto Baú
Edílson Baldez das Neves
Jorge Parente Frota Júnior
Joaquim Gomes da Costa Filho
Eduardo Machado Silva
Telma Lucia de Azevedo Gurgel
Rivaldo Fernandes Neves
Glauco José Côrte
Carlos Mariani Bittencourt
Roberto Cavalcanti Ribeiro
Amaro Sales de Araújo
Sergio Rogerio de Castro
Julio augusto miranda filho

CONSELHO FISCAL
TITULARES
João Oliveira de Albuquerque
José da Silva Nogueira Filho
Carlos Salustiano de Sousa Coelho

SUPLENTES
Célio Batista Alves
Haroldo Pinto Pereira
Estratégias
Corporativas
de Baixo
Carbono:
Gestão de
Riscos e
Oportunidades
© 2011. CNI – Confederação Nacional da Indústria.
Qualquer parte desta obra poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.

CNI
Gerência Executiva de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

FICHA CATALOGRÁFICA
C748g

Confederação Nacional da Indústria.


Estratégias Corporativas de Baixo Carbono: Gestão de Riscos e
Oportunidades/ Confederação Nacional da Indústria. – Brasília, 2011.
76 p.:il.

ISBN

1. Gestão de Riscos 2. Economia – Carbono I. Título

CDU: 67

CNI Serviço de Atendimento ao Cliente – SAC


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Fax: (61) 3317- 9994
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Governança sobre Mudanças Climáticas no Ministério da
Ciência e Tecnologia 22
Figura 2 Governança sobre mudança do clima no Ministério de
Meio Ambiente 23
Figura 3 Selos do Programa GHG Protocol – Brasil 54
Figura 4 Evolução do número de signatários brasileiros 61

LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Diferença entre redução absoluta de emissões e redução de
emissões projetadas 25
Gráfico 2 Definição da Linha de Base 32
Gráfico 3 Retorno total – FTSE CDP Carbon Strategy 350 Index VS FTSE
350 Index 40
Gráfico 4 Evolução do Valor de Mercado do ISE 51
Gráfico 5 Ilustração do Funcionamento do ICO2 52
Gráfico 6 Evolução do número de signatários brasileiros 55

5
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Atuação do Setor Governamental 16
Quadro 2 Atuação de Instituições Financeiras Privadas 16
Quadro 3 Atuação do Setor Produtivo 16
Quadro 4 Principais Referências para Inventários de GEE 30
Quadro 5 Carbon Disclosure Project Global 500 35
Quadro 6 Índices Relacionados às Emissões de GEE 35
Quadro 7 Iniciativas da WSA 42
Quadro 8 Iniciativas da CSI 43
Quadro 9 Iniciativas 43
Quadro 10 Atividades do Carbon Trust 45
Quadro 11 Critérios Considerados pelo ISE 48
Quadro 12 Índice Carbono Eficiente 51
Quadro 13 Participação de Empresas Convidadas Para Responder o CDP 55
Quadro 14 Oportunidades de melhoria nas respostas 56
Quadro 15 Participação de Empresas Convidadas 57
Quadro 16 Riscos 62
Quadro 17 Tipos de Regulamentação 63
Quadro 18 Benefícios Econômicos – Financeiros das Oportunidades associadas
às Mudanças Climáticas 66
Quadro 19 Projetos de Redução de Emissão previstos na Linha de
Financiamento Economia Verde 68

LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Resoluções da Comissão Interministerial na condição de Autoridade
Nacional Designada do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo 20
Tabela 2 Iniciativas Estaduais no âmbito das Mudanças Climáticas 27
Tabela 3 Empresas do Global 500 com as maiores pontuações
no CPLI e CDLI 38
Tabela 4 As 10 empresas com melhor pontuação no FTSE CDP Carbon
Strategy 350 Index 39
Tabela 5 As 10 empresas com melhor pontuação no Markit Carbon
Disclosure Leadership Global Index 41
Tabela 6 Composição dos Setores no ISE nos períodos 2008-2009 e
2009-2010 50

6
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
LISTA DE SIGLAS
ABRAPP Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência
Complementar
AND Autoridade Nacional Designada
APIMEC Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do
Mercado de Capitais
APP Asia Pacific Partnership
BNDES Banco Nacional para o Desenvolvimento
CBI Confederation of British Industry’s
CDLI Carbon Disclosure Leadership Index
CDP Carbon Disclosure Project
CEBDS Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
CEE Cadastro Estadual de Emissões
CEMA Coordenação de Energia e Meio Ambiente
CEO Chief Executive Officer
CERES Coalition for Environmentally Responsible Economies
CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
CIDES Comissão Interministerial de Desenvolvimento Sustentável
CIM Comitê Interministerial de Mudanças Climáticas
CIMGC Comissão Interministerial de Mudança Global do clima
CLG Corporate Leaders Group on Climate Change
CMCS Coordenação de Mudança do Clima e Sustentabilidade
CNI Confederação Nacional da Indústria
CPLI Carbon Performance Leadership Index
CPRS Carbon Pollution Reduction Scheme
CQNUMC Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas
CRC Carbon Reduction Commitment
CSI Cement Sustainability Initiative
DEMC Departamento de Mudanças Climáticas
DJSI Dow Jones Sustainability Index
EU ETS European Union Emissions Trading Scheme
FBMC Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas
FBS Fundo Brasileiro Sustentabilidade
FGV Fundação Getulio Vargas
GEE Gases de Efeito Estufa

7
GEx Grupo Executivo
GHG Greenhouse Gas
GHGRP Greehouse Gas Report Program
GNR Getting the Numbers Right
GRI Global Report Initiative
IBGC Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
ICO2 Índice Carbono Eficiente
IFC International Finance Corporation
INPE Instituto Nacional de Pesquisa Espacial
IPCC International Painel for Climate Change
ISE Índice de Sustentabilidade Empresarial
ISO International Standardization Organization
LI Licença de Instalação
LO Licença de Operação
MCT Ministério de Ciência e Tecnologia
MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
MMA Ministério do Meio Ambiente
NAMA’s Nationally Appropriate Mitigation Actions
ONG Organização Não-Governamental
P&D Pesquisa e Desenvolvimento
PBMC Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas
PEMGC Plano Estadual de Mudança Global do Clima
PNMC Plano Nacional de Mudanças Climáticas
RAN1 Primeiro Relatório de Avaliação Nacional
REC Redução de Emissões Certificadas
REDD Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal
RPE Registro Público de Emissões
SMCQ Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental
USCAP United States Climate Action Partnership
WBCSD World Business Council for Sustainable Development
WCI Western Climate Initiative
WRI World Resource Institute
WSA World Steel Association

8
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
sumário

1 INTRODUÇÃO 11

2 TRANSIÇÃO PARA UMA NOVA ECONOMIA DE BAIXO CARBONO 15

3 AVALIAÇÃO DA GOVERNANÇA PÚBLICA NAS QUESTÕES RELACIONADAS À


MUDANÇA DO CLIMA 17
3.1 O Que Está Sendo Feito no Mundo 17
3.2 O Que Está Sendo Feito no Brasil 18
3.2.1 Estrutura Institucional Nacional 18
3.2.2 Evolução da Estrutura Brasileira 18
3.2.3 Políticas Nacional e Estaduais sobre Mudanças Climáticas 23

4 DESDOBRAMENTOS DO ARCABOUÇO LEGAL SOBRE O SETOR INDUSTRIAL 29

5 AVALIAÇÃO DA GOVERNANÇA PRIVADA NAS QUESTÕES RELACIONADAS


À MUDANÇA DO CLIMA 33
5.1 Iniciativas Internacionais 34
5.1.1 Carbon Disclosure Project (CDP) 34
5.1.2 GHG Protocol 36
5.1.3 ISO 14.064 36

9
5.1.4 Global Reporting Initiative (GRI) 37
5.1.5 Pacto Global das Nações Unidas (Un Global Compact) 37
5.1.6 Índices 37
5.2 Iniciativas Internacionais Setoriais 41
5.2.1 World Steel Association (WSA) 41
5.2.2 Cement Sustainability Initiative (CSI) 42
5.3 Outras Iniciativas Internacionais 43
5.3.1 América do Norte 43
5.3.2 Estados Unidos 43
5.3.3 Canadá 44
5.3.4 Reino Unido 44
5.3.5 Ásia 47
5.4 Iniciativas no Brasil 47
5.4.1 Índices 48
5.4.2 Medidas/ Programas 52

6 JUSTIFICATIVA PARA A INSERÇÃO DA VARIÁVEL CLIMA NO PLANEJAMENTO


ESTRATÉGICO DAS EMPRESAS 59
6.1 Riscos 61
6.1.1 Riscos Físicos 62
6.1.2 Riscos Regulatórios 63
6.1.3 Riscos Reputacionais e Competitivos 64
6.1.4 Riscos Financeiros 64
6.2 Oportunidades 65

7 CONCLUSÕES 71

REFERÊNCIAS 73

10
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
1

INTRODUÇÃO

Consumidores de produtos finais e in- te (ICO2) e do Índice de Sustentabilidade


termediários, em sua maioria europeus, Empresarial (ISE), da participação das
tem solicitado informações referentes às empresas em iniciativas como GHG Pro-
emissões de gases de efeito estufa (GEE) tocol e Carbon Disclosure Project (CDP),
no processo de fabricação de produtos bem como por meio da implementação
brasileiros. A pegada de carbono dos de novas regras/normas e estabeleci-
produtos nacionais cada vez mais tem se mento de compromisso de mitigação das
mostrado um item considerado por algu- emissões de gases de efeito estufa (GEE)
mas empresas no momento da tomada pelo governo brasileiro, especialmente a
de decisão por fornecedores. Política Nacional de Mudanças Climáticas
(PNMC) e as Ações Nacionais de Mitiga-
No Brasil, essa tendência pode ser ilustra- ção Apropriadas (Nationally Appropriate
da pela criação do Índice Carbono Eficien- Mitigation Actions - NAMAs).

11
1
INTRODUÇÃO
Ao mesmo tempo, consumidores europeus (principalmente), de produtos finais e intermediários têm
solicitado informações referentes às emissões de gases de efeito estufa (GEE)no processo de fabricação
de produtos brasileiros. A pegada de carbono dos produtos nacionais cada vez mais tem se mostrado
um item considerado por algumas empresas no momento da tomada de decisão por fornecedores.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reconhece as Mudanças Climáticas como uma parte essen-
cial da visão de médio e longo prazo da indústria nacional e, por esse motivo, entende que é de sua res-
ponsabilidade auxiliar o setor a tomar medidas de resposta a esse desafio. São inegáveis os benefícios
associados à incorporação da variável clima na estratégia corporativa. Tão cedo as empresas comecem
a investir nessa questão e a aproveitar as oportunidades dela advindas, maiores as chances de respon-
derem a contento à nova economia de baixo carbono que se estrutura a ritmo acelerado.

As empresas hoje reconhecem a necessidade de agir em resposta ao desafio das Mudanças Climáticas.
Mas, a pergunta que se faz é: qual deve ser a medida de resposta a ser tomada? Sabe-se que medir as
emissões de GEE, criar mecanismos internos para lidar com esta nova variável, criar sinergia nas unida-
des de negócios, educar a força de trabalho, envolver-se com governos e outras entidades são proces-
sos morosos, trabalhosos e muitas vezes associados a um alto custo de operação. De um modo geral, a
identificação de possíveis projetos de redução de GEE, o estabelecimento de prioridades com base em
uma avaliação ‘custo x benefício’ e o financiamento dos projetos até a sua implementação e operação
demanda bastante tempo.

Ressalta-se que não há como entender se um determinado modelo de negócios será impactado sem:
I. Identificar a origem, os tipos e a magnitude das emissões de GEE que a empresa gera;
II. Avaliar a vulnerabilidade das linhas de negócios a eventuais restrições nos limites de emissão;
III. Avaliar as possibilidades de participação das empresas numa economia de baixo carbono;
IV. Identificar as alternativas de gestão estratégica de carbono.

Desta forma, é relevante que o empresariado tenha conhecimento dos riscos e oportunidades sobre a
variável clima para a elaboração de sua estratégia corporativa global (e.g. comercial, de sustentabilida-
de). Algumas questões-chave devem ser avaliadas:

Qual é o grau de exposição da empresa ao risco carbono (e.g. risco mercadológico, institucional, regu-
latório)?

I. Deve ser tomada alguma atitude para reduzir a pegada de carbono da empresa?
II. Devem ser buscadas oportunidades de crescimento em produtos e serviços que resultem em baixa
emissão de carbono?
III. Como participar do processo de decisão das diversas esferas do Governo pelo estabelecimento de
regulamentações futuras (e.g. metas de redução de emissão, definição da linha de base), de modo
a conciliar distintos interesses (e.g. governo, consumidor, empresa)?
Essa avaliação prévia é o ponto de partida do processo de gestão de riscos e da identificação de oportu-
nidades na nova economia de baixo carbono, de acordo com a estratégia de negócios e o mercado no

12
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
qual a empresa atua. Nesse contexto, inserir a variável clima nos negócios é uma maneira de também
agregar valor à estratégia corporativa, seja no desenvolvimento de novos produtos, seja na proteção à
reputação ou mesmo na melhoria da posição competitiva da empresa.

Pelos motivos mencionados anteriormente, a CNI contratou a ICF para desenvolver um Relatório e um
Guia de Referência cujo principal objetivo é servir como instrumento de referência para que estrategis-
tas das empresas (tomadores de decisão / Diretores Executivos – CEOs, do inglês Chief Executive Offi-
cer) incorporem questões relacionadas à mudança do clima no desenvolvimento de suas estratégias.

O desenvolvimento deste estudo contemplou a condução das seguintes atividades:

• Revisão da literatura nacional e internacional sobre o tema


• Consulta aos especialistas da ICF nos escritórios do Brasil, EUA, Canadá, Reino Unido, Índia e China
• Consulta às empresas para desenvolvimento dos Testimonials
• Consolidação dos resultados

Este Relatório é composto de sete seções. A primeira seção, i.e. Introdução, inicia a discussão sobre a
questão e apresenta alguns dos motivos para sua consideração no planejamento estratégico das em-
presas. A segunda seção, i.e. Transição para uma Nova Economia de Baixo Carbono, apresenta pontos re-
levantes que influenciam a mudança nas relações econômicas, em função da consideração da variável
climática, assim como as principais formas de atuação de diversos setores (governo, instituições finan-
ceiras e setor produtivo). Nas terceira e quarta seções, i.e. Avaliação da Governança Pública nas Questões
Relacionadas à Mudança do Clima e os Desdobramentos do Arcabouço Legal no Setor Industrial e na quinta
seção, i.e. Avaliação da Governança Privada nas Questões Relacionadas à Mudança do Clima, respectiva-
mente, são colocados em pauta pontos de destaque da atuação dos setores público, e seus impactos
no setor industrial, e privado concernentes às Mudanças Climáticas. A sexta seção, i.e. Justificativa para
a Inserção da Variável Clima no Planejamento Estratégico das Empresas, consolida os principais riscos e
oportunidades às empresas. A sétima seção, i.e. Conclusões, reúne as principais conclusões e recomen-
dações deste estudo.

13
2

Transição
para uma nova
economia de
baixo carbono

Para alcançar a meta de não elevar a tem- A transição para uma economia de baixo
peratura média do planeta acima do limite carbono é um desafio que exigirá mu-
de segurança de 2oC, estabelecido pelo danças profundas nos modelos atuais de
IPCC, a concentração de gases de efeito produção, gestão, usos da energia/insu-
estufa (GEE) na atmosfera deverá se estabi- mos e consumo. Entretanto, o processo
lizar por volta de 450 ppm1. Para esse fato de transição cria oportunidades para
ter uma maior probabilidade de ocorrer, as investimentos em inovação tecnológica,
emissões de GEE terão de entrar em uma desenvolvimento de novos processos
curva descendente a partir de 2015. Isso produtivos mais eficientes e criação de
implicará em um enorme esforço tanto por novos produtos. As principais formas de
parte das instituições privadas quanto por atuação dos diferentes setores em uma
parte das públicas , o que levará, segundo economia de baixo carbono, segundo o
o estudo Pathways to a low-carbon eco- estudo Mudanças Climáticas: Oportuni-
nomy2, a investimentos anuais da ordem dades e desafios para um Novo Desenvol-
de US$ 100 bilhões até 2030. vimento3 são apresentadas no Quadro 1,
Quadro 2 e Quadro 3.

1 ppm (partes por milhão) é a relação do número de moléculas de GEE sobre o total de moléculas do ar seco. Por exemplo: 200 ppm
significa que há 200 moléculas de determinado GEE por milhão de moléculas de ar seco.
2 Mckinsey & Company (2009)
3 IEDI (2009)

15
2
Transição para uma nova economia de baixo carbono

Quadro 1 - Atuação do Setor Governamental


Governo – incentivos fiscais, políticas de compras sustentáveis, políticas de apoio a negócios sustentáveis pelas
instituições financeiras públicas, execução eficaz da política de comando e controle na legislação ambiental,
incorporação transversal da sustentabilidade nas políticas de governo; orientação das empresas estatais para
investimentos em energias renováveis, eficiência energética, diminuição da geração de resíduos, aproveitamento de
resíduos como subprodutos para a indústria, uso racional da água e compras sustentáveis.

Quadro 2 - Atuação de Instituições Financeiras Privadas


Instituições financeiras privadas – políticas de sustentabilidade que premiem projetos com bons indicadores de
responsabilidade socioambiental com reduções no custo dos empréstimos e ampliação dos prazos de amortização;
linhas socioambientais de estímulo a investimentos limpos; preferência por fornecedores que atendem a padrões
de excelência socioambiental; criação de indicadores climáticos para as operações financeiras; apoio ao mercado
de carbono; criação de produtos financeiros que valorizem negócios sustentáveis em suas carteiras; integração com
seguradoras e resseguradoras para o desenho de cenários climáticos e suas implicações na economia.

Quadro 3 - Atuação do Setor Produtivo


Setor produtivo (indústria, comércio e serviços) – incorporação do conceito de ciclo de vida dos produtos
e serviços nas estratégias de sustentabilidade corporativa; indução dos fornecedores a práticas sustentáveis;
implementação de políticas de eficiência energética e ampliação do suprimento de energias renováveis; uso
racional da água; gestão sustentável dos resíduos; investimento em P&D para o desenvolvimento de tecnologias
limpas; gestão climática (inventário de emissões, políticas de corte nas emissões, projetos de créditos de carbono,
programas de adaptação).

A crescente preocupação de governos e empresas com as Mudanças Climáticas e os impactos


socioambientais de suas operações tem provocado incremento substancial nos investimentos em
tecnologias limpas. Apesar das difíceis condições do mercado financeiro em 2008, sobretudo no
segundo semestre, em 2009 foram investidos mundialmente US$155 bilhões em projetos e companhias
de energias limpas (sem incluir grandes hidrelétricas), segundo o relatório Global Trends in Sustainable
Energy Investment4. Investiu-se US$13,5 bilhões em novas tecnologias e US$117 bilhões em energias
renováveis, e.g., em fontes eólicas, solar, geotérmica e biocombustíveis. O valor foi quatro vezes maior
do que o de 2004 e 5% superior ao de 2007, em grande parte como resultado dos investimentos no
Brasil, China e outras economias emergentes (PNUMA/SEFI/New Energy Finance, 2009).

Considerando o acima exposto, constata-se que o momento é propício para que o setor privado aja de
maneira estratégica visando adequar-se da melhor forma para inserir-se num ambiente de negócios
sustentáveis voltados tanto para o mercado interno como para mercados externos.

4 PNUMA/SEFI/New Energy Finance (2009)

16
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
3

Avaliação da
governança
pública nas
questões
relacionadas à
mudança do clima

3.1 O Que Está Sendo Feito no Mundo estão introduzindo novas legislações para
reduzir emissões de GEE. Na Europa, o
O ano de 2009 foi testemunha de um pro- pacote de Energia e Mudanças Climáticas
gresso significativo na abordagem para foi aprovado em dezembro de 2008. Este
Mudanças Climáticas. A administração pacote estabelece o arcabouço político
Obama iniciou uma nova era na política de e as medidas necessárias para reduzir as
Mudanças Climáticas no EUA. A China está emissões de GEE por meio da continuação
trabalhando para cumprir metas ambicio- e expansão do European Union Emissions
sas de energia renovável e eficiência ener- Trading Scheme (EU-ETS)5 – o Esquema de
gética. O Brasil começou 2010 com uma Comércio de Emissões da União Européia
nova Política Nacional sobre Mudanças - metas para setores até então não cober-
Climáticas e governos nacionais em paí- tos pelo EU-ETS e novas metas para a pro-
ses desenvolvidos, e.g., Japão e Austrália, moção de energia renovável.

5 Construído com base nos mecanismos definidos pelo Protocolo de Quioto no âmbito da Covenção Quadro das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas – Implementação Conjunta (IC), Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e mercado de créditos de car-
bono – a EU desenvolveu o maior esquema de comércio de emissões de GEE em nível corporativo. Esse Esquema entrou em vigor
para 25 membros da EU dia 1º de Janeiro de 2005. Um aspecto chave do EU-ETS é que ele permite que empresas usem créditos de
carbono provenientes de projetos baseados nos mecanismos propostos pelo Protocolo de Quioto para ajudá-las com o cumprimento
das suas metas de redução de emissões. Isso significa que o sistema não só fornece um meio custo-efetivo para as indústrias base-
adas na UE reduzirem suas emissões como também cria incentivos adicionais para as empresas investirem e projetos de redução de
emissões em outros lugares como, por exemplo, em países em desenvolvimento.

17
3
Avaliação da governança pública nas questões
relacionadas à mudança do clima

Nos EUA, a administração Obama moveu-se para declarar suas ambições em torno da mitigação das
Mudanças Climáticas. O projeto de lei The American Clean Energy and Security Act foi debatido no Con-
gresso e, se aprovado, comprometerá os EUA a reduzirem as emissões de GEE em 17% abaixo do nível
de 2005, até 2020, por meio de um sistema de cap-and-trade que poderá ser iniciado a partir de 2012.
Na Austrália, os detalhes sobre o Carbon Pollution Reduction Scheme (CPRS) progrediram, apesar dos
desafios políticos sobre possíveis impactos competitivos na economia.

Desta forma, fica claro que os governos possuem um papel essencial na instituição de um arcabouço
regulatório tanto na escala nacional como em acordos multilaterais como, por exemplo, o EU-ETS.

3.2 O Que Está Sendo Feito no Brasil


3.2.1 Estrutura Institucional Nacional
O Brasil possui duas principais instituições na governança da mudança do clima. Primeiramente, o Minis-
tério de Ciência e Tecnologia (MCT) que historicamente vem atuando na governança climática, principal-
mente em relação aos mecanismos de mercado como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

Em seguida, tem-se o Ministério do Meio Ambiente (MMA) que, desde o ano 2000, vem assumindo um
espaço cada vez maior no que se refere ao tema da Mudança do Clima, contribuindo para a implemen-
tação da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima no Brasil (CQNUMC), com
foco no contexto ambiental.

Esse papel ganhou ainda mais importância com a criação da Secretaria de Mudanças Climáticas e Qua-
lidade Ambiental (SMCQ), a partir da reestruturação do MMA, ocorrida em 2007. Na estrutura da SMCQ
está o Departamento de Mudanças Climáticas (DEMC), que abrigava o Núcleo de Energia e Mudanças
Climáticas. Em fevereiro de 2008, o Núcleo deu origem a duas Coordenações: a Coordenação de Energia
e Meio Ambiente (CEMA) e a Coordenação de Mudança do Clima e Sustentabilidade (CMCS). A CMCS
fornece os subsídios técnicos à SMCQ, voltados à formulação das políticas públicas de competência do
MMA no que diz respeito ao tema das Mudanças Climáticas.

3.2.2 Evolução da Estrutura Brasileira


O Brasil foi o primeiro país a assinar a CQNUMC, em 4 de junho de 1992, e o Congresso Nacional a rati-
ficou em 28 de fevereiro de 1994.

A Coordenação Nacional da implementação da CQNUMC foi atribuída ao Ministério da Ciência e Tecno-


logia, por Decreto Presidencial (Decreto nº 1160 de 21 de junho de 1994) que estabeleceu a Comissão
Interministerial de Desenvolvimento Sustentável - CIDES.

O Decreto que criou a CIDES foi revogado por outro Decreto, de 26 de fevereiro de 1997, estabelecendo
a Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda XXI Nacional. A finalidade desse
novo decreto era propor estratégias de desenvolvimento sustentável coordenar, elaborar e acompa-
nhar a implementação da “Agenda XXI”

18
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
A Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda XXI Nacional é integrada por:

I. Um representante do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal,


que a presidirá; do Ministério do Planejamento e Orçamento; do Ministério das Relações Exteriores;
do Ministério da Ciência e Tecnologia; da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da
República;
II. Secretário de Coordenação da Câmara de Políticas Sociais;
III. Cinco representantes da sociedade civil, de livre escolha do Ministro de Estado do Meio Ambiente,
dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal.

A Comissão poderá instituir grupos de trabalho temáticos, integrados por representantes de órgãos e
entidades governamentais da administração federal, estadual e municipal e da sociedade civil.

De acordo com o Artigo 2, do Decreto de sua criação (Decreto de 26 de fevereiro de 1997), a Comissão
de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda XXI Nacional tem as seguintes atribuições:

• Propor à Câmara estratégias, instrumentos e recomendações voltadas para o desenvolvimento


sustentável do País;
• Elaborar e submeter à aprovação da Câmara a Agenda XXI Nacional;
• Coordenar e acompanhar a implementação da Agenda XXI Nacional.

Por meio do Decreto Presidencial, de 7 de julho de 1999 (alterado pelo Decreto de 10 de janeiro de
2006), foi criada a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima (CIMGC), com a finalidade
de articular as ações de governo decorrentes da CQNUMC e seus instrumentos subsidiários dos quais
o Brasil seja parte.

Este decreto estabelece que o Ministro da Ciência e Tecnologia presidirá a Comissão cabendo ao MMA
a Vice-Presidência. O MCT exercerá, ainda, a função de Secretaria Executiva.

O tratamento das emissões de gases de efeito estufa nas atividades humanas, por força da Convenção,
deve incluir os setores de energia, transportes, indústria, agricultura, silvicultura e tratamento de resíduos,
razão pela qual integram igualmente a Comissão os Ministérios - de Minas e Energia, dos Transportes, do
Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio, da Agricultura e do Abastecimento e do Meio Ambiente
(a quem coube a Vice-Presidência da Comissão) - que tenham tais áreas sob sua responsabilidade. O en-
tão Ministério Extraordinário de Projetos Especiais (atualmente incorporado parcialmente ao Ministério
da Ciência e Tecnologia), o Ministério do Orçamento e Gestão, bem como a Casa Civil da Presidência da
República, também foram incluídos por suas competências relativas à visão do Brasil a longo prazo, assim
como o Ministério das Relações Exteriores, pelas negociações internacionais que continuarão a ocorrer.

Além disso, o Decreto faculta à Comissão solicitar a colaboração de outros órgãos públicos ou órgãos
privados e entidades representativas da sociedade civil na realização de suas atribuições.

São atribuições da Comissão:


I. emitir parecer, sempre que demandado, sobre propostas de políticas setoriais, instrumentos legais
e normas que contenham componente relevante para a mitigação da mudança global do clima e
para a adaptação do País aos seus impactos;

19
3
Avaliação da governança pública nas questões
relacionadas à mudança do clima
II. fornecer subsídios às posições do Governo nas negociações sob a égide da Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e instrumentos subsidiários de que o Brasil seja parte;
III. definir critérios de elegibilidade adicionais aos considerados pelos Organismos da Convenção, en-
carregados do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), previsto no Artigo 12 do Protocolo
de Quioto da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, conforme estraté-
gias nacionais de desenvolvimento sustentável;
IV. apreciar pareceres sobre projetos que resultem em reduções de emissões e que sejam conside-
rados elegíveis para o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), e aprová-los, se for o caso.
V. realizar articulação com entidades representativas da sociedade civil, no sentido de promover as
ações dos órgãos governamentais e privados, em cumprimento aos compromissos assumidos pelo
Brasil perante a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e instrumentos
subsidiários de que o Brasil seja parte.
VI. aprovar seu regimento interno.

Tabela 1 - Resoluções da Comissão Interministerial na condição de Autoridade Nacional


Designada do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
Resolução
Data

Estabelece os procedimentos para aprovação das atividades de projeto no âmbito do Mecanismo
1 11/9/2003
de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quioto e dá outras providências.
Altera a Resolução nº 1 de 11 de setembro de 2003, que estabelece os procedimentos para aprovação
das atividades de projeto no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Quioto, aprova
2 10/8/2006
os procedimentos para as atividades de projetos de florestamento e reflorestamento no âmbito do
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quioto e dá outras providências.
Estabelece os procedimentos para aprovação das atividades de projeto de pequena escala no âmbito
3 24/3/2006
do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Quioto, e dá outras providências.
4 6/12/2006 Altera as resoluções nº 1 e nº 3 desta mesma Comissão, e dá outras providências.
Revisa as definições das atividades de projetos de pequena escala no âmbito do Mecanismo de
5 11/4/2007
Desenvolvimento Limpo e dá outras providências.
Altera a Resolução nº 2, de 10 de agosto de 2005, em relação à versão do documento de concepção
6 6/6/2007
de projeto do Conselho Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
Altera as resoluções nº 1, nº 2, nº 3 e nº 4 desta mesma Comissão em relação aos convites de
comentários enviados pelos proponentes do projeto aos agentes envolvidos, interessados e/ou
7 5/4/2008
afetados pelas atividades de projeto no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e dá
outras providências.
Adota, para fins de atividade de projeto de MDL, um único sistema como definição de sistema
8 26/5/2008
elétrico do projeto no Sistema Interligado Nacional.
9 20/3/2009 Dispõe sobre o Programa de Atividades no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
Fonte: MCT, 2010.

20
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
A CIMGC é a Autoridade Nacional Designada (AND) para aprovação de projetos no âmbito do Mecanis-
mo de Desenvolvimento Limpo (MDL), conforme disposto no art. 3º, inciso IV, do Decreto Presidencial
de 7 de julho de 1999 que instituiu a referida Comissão. A Tabela 1 apresenta as Resoluções definidas
pela AND.

Tendo por objetivo conscientizar e mobilizar a sociedade para a discussão e tomada de posição sobre
os problemas decorrentes da mudança do clima por GEE, bem como sobre o Mecanismo de Desenvol-
vimento Limpo (MDL), foi criado pelo Decreto nº 3.515 de 20 de junho de 2000, o Fórum Brasileiro de
Mudanças Climáticas (FBMC).

O FBMC deve auxiliar o governo na incorporação das questões sobre Mudanças Climáticas nas diversas
etapas das políticas públicas.

O FBMC é composto por 12 ministros de Estado, o diretor-presidente da Agência Nacional de Águas


(ANA) e de personalidades e representantes da sociedade civil com notório conhecimento da matéria
ou que sejam agentes com responsabilidade sobre a mudança do clima. O presidente do Fórum é o
Presidente da República.

No âmbito da divulgação de informações cientificas sobre as Mudanças Climáticas, foi estabelecido o


Painel Brasileiro sobre Mudanças Climáticas (PBMC) seguindo os moldes do Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês). O papel do PBMC é reunir, sintetizar e avaliar informações
científicas sobre os aspectos relevantes das mudanças climáticas no Brasil.

O PBMC irá disponibilizar informações técnico-científicas sobre mudanças climáticas a partir de ava-
liação integrada do conhecimento técnico-científico produzido no Brasil ou no exterior, sobre causas,
efeitos e projeções relacionadas às mudanças climáticas e seus impactos, de importância para o país.

As informações serão divulgadas por meio da elaboração e publicação periódica de Relatórios de Ava-
liação Nacional, Relatórios Técnicos, Sumários para Tomadores de Decisão sobre Mudanças Climáticas
e Relatórios Especiais sobre temas específicos.

Em abril de 2010 o PBMC iniciou o processo de composição dos Grupos de Trabalhos e Força-Tarefa,
a partir da Chamada Pública de Autores para elaboração do Primeiro Relatório de Avaliação Nacional
(RAN1) do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas.

O Primeiro Relatório de Avaliação Nacional está previsto para ser concluído em 2012. O Relatório será
composto de três volumes, correspondentes aos trabalhos de cada Grupo de Trabalho, e um volume
sobre Metodologias de Inventários de Gases de Efeito Estufa, a ser elaborado pela Força Tarefa.

Além do PBMC, foi instituída também a Rede Clima, sediada no Instituto Nacional de Pesquisa Espacial
(INPE) e que tem como objetivo gerar e disseminar conhecimento e tecnologia para que o Brasil possa
responder às demandas e desafios impostos pelas Mudanças Climáticas.

A Figura 1 apresenta a governança sobre Mudanças Climáticas no Minitério da Ciência e Tecnologia.

21
3
Avaliação da governança pública nas questões
relacionadas à mudança do clima

Figura 1 - Governança sobre Mudanças Climáticas no âmbito do MCT

Comissão Interministerial
de Mudança Global do Clima
(CIMGC) e Autoridade Nacional
Designada (AND)

Secretaria Executiva da
Comissão Interministerial

Fórum Brasileiro Painel Brasileiro


de Mudanças Climáticas de Mudanças Climáticas Rede Clima
(FBMC) (PBMC)

Fóruns Estaduais
de Mudanças Climáticas

Além de ligada ao MCT, a governança da mudança do clima também aparece junto ao MMA por meio
da Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental.

As ações específicas da Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental incluem a proposi-


ção de políticas e a definição de estratégias relacionadas às diferentes formas de poluição, degradação
ambiental e riscos ambientais; aos resíduos danosos à saúde e ao meio ambiente; à avaliação de impac-
tos ambientais e ao licenciamento ambiental; à promoção da segurança química; ao monitoramento da
qualidade do meio ambiente; e ao desenvolvimento de novos instrumentos de gestão ambiental e de
matriz energética ambientalmente adequada.

Compete ainda à SMCQ a formulação de políticas para a promoção da qualidade ambiental do ar, do
solo, do mar e da zona costeira; e a formulação, proposição e implementação de políticas de prevenção
e atendimento a situações de emergência ambiental.

A Secretaria é a responsável também pela definição de estratégias e a proposição de políticas refe-


rentes à mitigação e à adaptação às mudanças do clima; e pela coordenação do Grupo Executivo do
Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima, encarregado da elaboração do Plano Nacional sobre
Mudança do Clima.

22
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
A SMCQ está estruturada em três departamentos: Departamento de Licenciamento e Avaliação Am-
biental; Departamento de Qualidade Ambiental na Indústria e Departamento de Mudanças Climáticas.
É possível perceber que existe uma parceria de governança entre os dois Ministérios.

A Figura 2 ilustra a governança sobre mudança do clima no Ministério de Meio Ambiente.

Figura 2 - Organograma da Governança relacionada à mudança do clima


no Ministério de Meio Ambiente

Secretaria de Mudanças
Climáticas e Qualidade
Ambiental

Gabinete

Departamento de Departamento de
Departamento de
Licenciamento e Qualidade Ambiental
Mudanças Climáticas
Avaliação Ambiental na Indústria

3.2.3 Políticas Nacional e Estaduais sobre Mudanças Climáticas


Em novembro de 2007, foi promulgado o Decreto n° 6.263, pelo qual o governo criou o Comitê Intermi-
nisterial sobre Mudança do Clima com a função de elaborar a Política Nacional sobre Mudança do Clima
e o Plano Nacional sobre Mudança do Clima.

O CIM é coordenado pela Casa Civil da Presidência da República, sendo composto por dezessete órgãos
federais e o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas - FBMC. Os órgãos federais que o compõem são:
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Ministério da Ciência e Tecnologia; Ministério da
Defesa; Ministério da Educação; Ministério da Fazenda; Ministério da Integração Nacional; Ministério
da Saúde; Ministério das Cidades; Ministério das Relações Exteriores; Ministério de Minas e Energia;
Ministério do Desenvolvimento Agrário; Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;
Ministério do Meio Ambiente; Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; Ministério dos Trans-
portes; e Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.

A responsabilidade pela elaboração, implementação, monitoramento e avaliação do Plano Nacional


sobre Mudança do Clima ficou a cargo do Grupo Executivo sobre Mudança do Clima (GEx), no âmbito
do CIM, que é coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente.

Como resultado do trabalho do GEx sendo posteriormente referendado pelo CIM, encaminhou-se ao
Poder Legislativo, no dia 5 de junho de 2008, a proposta da Política Nacional sobre Mudança do Clima,
por meio do Projeto de Lei n.º 3.535/2008.

23
3
Avaliação da governança pública nas questões
relacionadas à mudança do clima

No âmbito do Congresso Nacional, foi criada, por meio do Ato Conjunto nº 1/2007, a Comissão Mista
Especial de Mudanças Climáticas com o objetivo de monitorar, acompanhar e fiscalizar ações referentes
às Mudanças Climáticas no Brasil.

O principal resultado dos trabalhos da Comissão Mista, até o momento, foi a elaboração e divulgação
do seu Relatório Final, o qual foi encaminhado e analisado por diversos Ministérios que compõem o Co-
mitê Interministerial sobre Mudança do Clima. As recomendações constantes do Relatório Final foram,
na medida do possível, levadas em consideração neste Plano Nacional.

Destaca-se que o Relatório Final contém em seu item IV.3.2. algumas proposições legislativas referentes
à mudança global do clima, as quais tramitam no Senado Federal e na Câmara dos Deputados.

No final de 2009 foi sancionada a Lei Nº 12.187, que institui a Política Nacional sobre Mudança do
Clima (PNMC). A PNMC corrobora o alinhamento do Brasil com iniciativas internacionais que buscam
enfrentar as Mudanças Climáticas, indicando que medidas de promoção de redução de emissões de
GEE serão incentivadas no país. Merece destaque o Art. 12:

Para alcançar os objetivos da PNMC, o País adotará, como compro-


misso nacional voluntário, ações de mitigação das emissões de ga-
ses de efeito estufa, com vistas em reduzir entre 36,1% (trinta e seis
inteiros e um décimo por cento) e 38,9% (trinta e oito inteiros e nove
décimos por cento) suas emissões projetadas até 2020 (PNMC, 2009).

O compromisso nacional voluntário deverá ser regulamentado, possivelmente definindo metas seto-
riais de redução de emissões de GEE.

Diversos são os instrumentos incluídos para promover a redução de emissões mencionadas no PNMC,
dentre os quais destacam-se: linhas de crédito e financiamento específicas e criação de indicadores de
sustentabilidade. Para atender os compromissos propostos pelo governo federal, as leis/regulamenta-
ções estaduais devem alinhar-se às regras nacionais. São apresentadas, a seguir, informações a respeito
de iniciativas estaduais no Brasil.

a) São Paulo
O estado de São Paulo instituiu em 2009 a Política Estadual de Mudanças Climáticas, que foi regulamen-
tada, em junho de 2010, pelo Decreto Estadual n.º 55.947. A política do estado de São Paulo estabelece,
inter alia, uma meta de redução das emissões de GEE de 20% em todos os setores da economia até
2020, em relação às emissões de 2005.

O Gráfico 1 ilustra a diferença entre redução absoluta de emissões, o caso da meta da política estadual
de São Paulo, e redução de emissões projetadas, como por exemplo, o compromisso adotado pelo
PNMC.

24
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
Gráfico 1 - Diferença entre redução absoluta de emissões e redução de emissões projetadas

350

300

250
MtCO2e

200
Emissões
150
de GEEs
100

50

0
2005 2010 2015 2020

12000

10000
Emissões
8000 Projetadas
MtCO2e

6000
Emissões
4000 Cenário
Baixo
2000 Carbono

0
2008 2010 2012 2014 2016 2018 2020
Fonte: ICF International

Dentre as principais diretrizes da política estadual de São Paulo, destacam-se a elaboração e atualização
periódica de inventários de GEE com metodologias comparáveis nacional e internacionalmente e a
implantação de programas de redução de emissão e adaptação às Mudanças Climáticas. Como instru-
mento gerencial dos resultados das medidas de redução de emissão, o estado criará o Registro Público
de Emissões (RPE) e fornecerá incentivos para adesão de agentes públicos e privados, como incentivos
fiscais, fomento para redução de emissão de GEE e ampliação do prazo de renovação de licenças am-
bientais. Os critérios de obrigatoriedade de certificação por terceira parte das emissões informadas no
RPE serão definidos pela CETESB.

O processo de licenciamento ambiental também passa a ter a influência da variável climática, uma vez
que a redução nas emissões de GEE deverá ser integrada ao controle da poluição atmosférica e ao ge-

25
3
Avaliação da governança pública nas questões
relacionadas à mudança do clima

renciamento da qualidade do ar e das águas. Já no âmbito econômico, o Poder Executivo criará instru-
mentos para mitigação de emissões de GEE e estimulará a implantação de projetos do MDL no estado.

b) Rio de Janeiro
No estado do Rio de Janeiro, a Lei 6.590, de 14 de abril de 2010, instituiu a Política Estadual sobre Mu-
dança Global do Clima e Desenvolvimento Sustentável (PEMGC), que estabelece diretrizes e princípios
de prevenção e mitigação das Mudanças Climáticas norteando a implementação do Plano Estadual de
Mudança do Clima.

Na PEMGC, são previstas algumas iniciativas como metas e programas específicos para os setores de
energia, transporte, resíduos, edificações, indústria, ambiente florestal e agricultura e pecuária. No caso
do setor de transportes, por exemplo, serão estimulados o uso de veículos novos e eficientes e a expan-
são do sistema de transporte sobre trilhos e aquático.

Outro instrumento da PEMGC é o Cadastro Estadual de Emissões (CEE), um banco de dados criado com
o objetivo de acompanhar os resultados das medidas e políticas de redução de emissão implantadas por
agentes públicos e privados. O CEE deverá ser implantado em até 180 dias após a entrada em vigor da lei
e as emissões registradas devem ser medidas e verificadas por instâncias certificadoras independentes.

Segundo a nova lei estadual, o processo de licenciamento dos empreendimentos também passará por
alterações. Com a PEMGC, a emissão ou renovação de Licenças de Instalação (LI) ou Operação (LO) para
empreendimentos com significativa emissão de GEE está condicionada à apresentação de um Inventá-
rio de emissões de GEE e um plano de mitigação de emissões e medidas de compensação. Na mesma
linha, a emissão de Licenças de Instalação, após a entrada em vigor da Lei, poderá ser condicionada
à assunção da obrigação de neutralizar total ou parcialmente as respectivas emissões de GEE. Cabe
ressaltar que, como a política não define o conceito de “emissão significativa”, esse limite ainda será
estipulado para o desenvolvimento do plano estadual.

Em resumo, a PEMGC determina os princípios e objetivos do Plano Estadual de Mudanças do Clima,


ainda por ser criado e que estabelecerá os valores para metas e restrições que serão efetivamente im-
postas no estado.

c) Mato Grosso
No estado do Mato Grosso foi disponibilizada a minuta do projeto de lei da Política Estadual de Mu-
danças Climáticas, estabelecendo premissas, conceitos e diretrizes para estabilização das emissões de
GEE através da criação de instrumentos econômicos, financeiros e fiscais. Tal qual a PEMGC, a política
do Mato Grosso ainda será regulamentada, de forma que serão definidas, inter alia, a necessidade de
quantificação das emissões e algumas restrições para o processo de licenciamento, a autorização para
desmatamento e o uso do solo. Adicionalmente, são previstos incentivos fiscais, reduções de impostos,
compensações financeiras e financiamentos para promover a redução de emissão no estado, além do
incentivo e promoção dos projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD).

26
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
d) Pernambuco
O estado de Pernambuco, por sua vez, aprovou em 17 de junho de 2010 a Lei 14.090, que também
instituiu uma política estadual de combate às Mudanças Climáticas, com diretrizes e programas muito
semelhantes àqueles estipulados no estado do Mato Grosso. Isso mostra que as iniciativas, ainda que
sejam locais, tendem a estar alinhadas, visando a integração entre as políticas estaduais, assim como
com a política federal.

e) Outros Estados
Outros estados, como, e.g., Rio Grande Sul, Paraná e Santa Catarina, aprovaram ou estão em processo
de aprovação das suas respectivas legislações no tocante à questão das Mudanças Climáticas. Vale des-
tacar os selos de certificação criados pelo governo de Santa Catarina - o Selo de Certificação de Protetor
do Clima e o Selo de Protetor do Clima Gold. O primeiro selo tem a prerrogativa de assegurar, perante
terceiros, que pessoa física ou jurídica detentora do selo exerce suas atividades produtivas, comerciais,
de investimento financeiro ou de prestação de serviços em conformidade com a legislação. O segundo
selo é atribuído às pessoas físicas ou jurídicas que contribuam com o Fundo Catarinense de Mudanças
Climáticas, sendo que seus detentores também poderão realizar projetos de redução de emissões de
GEE no estado, exercendo ou não atividades econômicas. A Tabela 2 resume as iniciativas Estaduais no
âmbito das Mudanças Climáticas.

Tabela 2 – Iniciativas Estaduais no âmbito das Mudanças Climáticas

ESTADO PL PEMC PEMC Fórum Clima


Acre NÃO NÃO NÃO
Alagoas - - -
Amapá SIM - NÃO (prevista criação na PEMC)
Amazonas - Dec. 26.581/07 e Lei 3.135/07 Dec. 28.390/09
Bahia 18.630/2010 - Dec. 9.519/2005
Ceará NÃO NÃO Dec. 29.272/08
PL 172/07 (Dec.31.071/09 cria o Comitê
Distrito Federal 636/07 -
Distrital - COMCLIMA)
Espírito Santo - Lei 9.531/10 Dec. 1651-R de 2006
Goiás - Lei 16.497/09 NÃO
Maranhão NÃO NÃO Dec. 22.735/06
Lei 9.111/09 e Dec. 2.197/09 (dispõe sobre
Mato Grosso SIM NÃO
a composição do Fórum)
Mato Grosso do Sul NÃO NÃO NÃO
Minas Gerais 1.903/2007 e 1.261/2007 - Dec. 44.042/05
Pará SIM - Dec.1900/09
Paraíba - - -
Paraná S/N (junho 2010) Não Lei 16.019/08
Dec.33.015/09 e Dec. 31.507/08 (Comitê
Pernambuco - Lei 14.090/10
Estadual de MC)
Decreto 12.612/07 cria GT
Piauí - Dec.12.613/07
para elaboração da PEMC
Rio Grande do Norte Proposta - NÃO
Rio Grande do Sul 81/2010 - Dec. 45.098/07
Rio de Janeiro - Lei 5.690/10 Dec. 40.780/07
Rondônia NÃO NÃO NÃO
Roraima - - -
Santa Catarina - Lei 14.829/09 Dec. 3.273/10
São Paulo - Lei 13.798/09 e Dec. 55.497/10 Dec. 49.369/05
Sergipe NÃO NÃO NÃO
Tocantins - Lei 1.917/08 Dec. 3.007/07
Fonte: CNI, setembro de 2010.

27
4

Desdobramentos
do arcabouço
legal sobre
o setor
industrial

Após a avaliação do arcabouço legal, en- Apesar de não existir obrigatoriedade de


tende-se que setores-chave da economia qualquer ação imediata quanto a essa
enfrentarão algum tipo de cenário restriti- questão, é recomendável que as corpora-
vo em termos de emissões de GEE, como ções iniciem sua preparação para o cená-
se constata a partir da aprovação de Leis rio de restrição de emissões por meio da
Estaduais. gestão estratégica de carbono, cujo ponto
de partida é a quantificação e verificação
A maioria das Leis Estaduais prevê a im- das emissões de GEE de suas atividades,
plantação de mecanismos legais que obri- em especial de empreendimentos em
gam os principais empreendimentos a processo de obtenção das licenças men-
quantificarem e verificarem suas emissões cionadas (LI e LO).
para obtenção de Licença de Instalação
(LI) ou Licença de Operação (LO) junto ao Tão logo sejam disponibilizadas infor-
órgão ambiental competente. Há indícios mações adicionais sobre os requisitos do
de que a compensação de emissões (total processo de neutralização da pegada am-
ou parcial) poderá ser envolvida no pro- biental dos empreendimentos (i.e. de suas
cesso de licenciamento, de acordo com emissões de GEE), as empresas devem
exigências ainda em formulação. buscar a melhor forma de compensar as
29
4
Desdobramentos do arcabouço legal
sobre o setor industrial

referidas emissões. Tal iniciativa deverá ser considerada de modo a minimizar a exposição a críticas no
mercado, assim como a possíveis penalidades ou, como se observa hoje em mercados mais avançados,
fragilizar-se frente a concorrentes que ofereçam junto aos seus produtos benefícios relacionados ao clima.

Outro programa previsto por algumas legislações estaduais é a criação de um banco de dados que será
utilizado para monitorar a evolução das emissões de GEE. No Rio de Janeiro, por exemplo, a Lei nº 5.690
prevê que as emissões inseridas no banco de dados devem ser quantificadas e verificadas com o auxílio
de uma terceira parte independente com o objetivo de trazer credibilidade para o resultado informado.

Diante desse cenário, as empresas terão que realizar um Inventário detalhado das emissões de GEE tanto
em nível corporativo, o que inclui todas as unidades da empresa, atendendo às exigências e diretrizes
desse banco de dados, como desagregado por unidade de produção atendendo às exigências do proces-
so de licenciamento, como por exemplo, renovação de unidades existentes ou obtenção de licença para
novas instalações.

Apesar da metodologia exigida para quantificação das emissões ainda não ter sido disponibilizada, re-
comenda-se que as empresas desenvolvam seus inventários com base nas diretrizes dos padrões mais
conceituados e reconhecidos mundialmente, apresentados no Quadro 4.

Quadro 4 - Principais Referências para Inventários de GEE


• GHG Protocol - Corporate Accounting and Reporting Standard, World Resources Institute / World Business
Council for Sustainable Development
• IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories, Intergovernmental Panel on Climate Change
• ISO 14064-1:2006 Greenhouse gases - Partes 1, 2 e 3, International Organization for Standardization

Ainda que as legislações não exijam o uso desses protocolos, as corporações estão sujeitas ao surgimento
de outras obrigações legais mais restritivas. Nesse sentido, entende-se que a maneira de estar preparado
para diferentes cenários é ter um Inventário desenvolvido com base em metodologias que representem
o estado da arte do que existe atualmente.

Ressalta-se que Inventários nacionais e estaduais têm sido desenvolvidos utilizando metodologias e nível
de detalhamento diferentes, principalmente quando comparados aos inventários corporativos. Inventá-
rios nacionais e estaduais costumam utilizar uma abordagem top-down, fazendo uso de dados setoriais,
muitas vezes agregados, em nível macro para estimar as emissões de GEE, enquanto inventários corpo-
rativos costumam utilizar uma abordagem bottom-up, fazendo uso de dados primários, e.g. de seus con-
sumos (de combustível, insumo ou outros) e produção, desagregados, para estimar as emissões de GEE.
Ao mesmo tempo, um inventário pode apresentar diferentes níveis de detalhamento, de acordo com a
disponibilidade de informações. Um inventário pode ser desenvolvido seguindo tais metodologias:

30
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
• Tier 16: é a metodologia mais simples, e inclui parâmetros padrão que demandam o mínimo de dados
nacionais específicos.

• Tier 2: essa metodologia é mais dado-intensiva visto que envolve a aplicação de parâmetros nacio-
nais mais específicos, como por exemplo fatores de emissão ajustados de acordo com a tecnologia
encontrada nos parques industrias etc.;

• Tier 3: é a metodologia mais complexa, e envolve a coleta de conjuntos de dados detalhados a nível
local.

Está claro que os Planos Estaduais relacionados à questão climática ainda são recentes e que suas regu-
lamentações, possivelmente, demandarão discussões com, sobretudo, intuito de estabelecer metas de
redução de emissões factíveis e um possível teto setorial de emissões que não comprometa o desenvol-
vimento econômico do país7. Por isso, é de extrema importância que empresas de todos os setores da
indústria brasileira participem dos grupos de trabalho responsáveis pela elaboração dos Planos Estaduais
de Mudanças Climáticas e estejam atentas às políticas estaduais criadas em todas as regiões do país.

A definição do ano referência para emissões (i.e. a linha de base), a partir do qual se estabelecem as metas
de redução de emissões, é ponto crítico para qualquer atividade sujeita a uma meta de emissões. Caso a
linha de base para determinado setor produtivo seja estabelecida em ano posterior a, e.g., um grande es-
forço por aumento na eficiência energética com consequente redução de emissões de GEE, haveria uma
dificuldade maior em se reduzir emissões do que em uma linha de base anterior a tal esforço. Da mesma
forma, uma empresa que já substituiu (parcial ou totalmente) seus combustíveis por combustíveis menos
carbono-intensivos terá menos alternativas para reduzir emissões de GEE, caso se estabeleça a linha de
base após a implementação da alternativa mencionada.

6 Tiers são “níveis” que fornecem metodologias com critérios e especificidades diferentes, de acordo com a disponibilidade de informações para o
desenvolvimento do Inventário de GEE.
7 Neste caso pode-se propor a redução da intensidade de emissões, ou seja, a quantidade de emissão de GEE por unidade ou tonelada de um
determinado produto. Cada setor industrial, por exemplo, possui uma intensidade de emissões por produto diferente. Dessa forma podem-se adotar
metas setoriais para redução da intensidade das emissões.

31
4
Desdobramentos do arcabouço legal
sobre o setor industrial

Gráfico 2 - Definição da Linha de Base

330
A B

290
MtCO2e

250

210

170
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Fonte: ICF International

O Gráfico 2 busca ilustrar o impacto que a definição da linha de base poderá ter sobre o esforço de uma
organização na busca pela redução de suas emissões de GEE. Considerando uma hipotética evolução das
emissões de GEE desta organização, contabilizada em seu Inventário de GEE ao longo dos anos, o ano de
2005 pode ter sido o ano no qual a organização implementou uma série de medidas para reduzir suas
emissões globais. Desta forma, se um possível cenário de restrição considerar o ano de 2005 como linha
de base (B), i.e., referência a partir da qual uma meta será estipulada, a organização provavelmente terá
grande dificuldade para reduzir ainda mais suas emissões e as alternativas deverão ser mais custosas.
Por outro lado, caso a linha de base seja definida como o ano de 2004 (A), a organização terá mais faci-
lidade em atingir suas metas. Estes exemplos buscam ilustrar alguns dos possíveis impactos em função
da definição da linha de base, ano referência para corte de emissões, assim como ressaltar a importância
da participação das indústrias dos mais diversos setores na elaboração/tomada de decisão a respeito da
regulamentação das leis existentes.

O posicionamento pró-ativo das empresas, por meio da gestão estratégica de carbono, será fator deter-
minante para que este conjunto de novas regras que regem a economia de baixo carbono se revele uma
ameaça ou oportunidade aos setores econômicos nos quais se inserem.

32
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
5

Avaliação da
governança
privada nas
questões
relacionadas
à mudança do
clima

O eixo central da governança corporati- para governos e empresários entende-


va internacional relacionada às Mudan- rem, quantificarem e gerirem emissões
ças Climáticas é dado, principalmente, de gases de efeito estufa.
pelo Conselho Empresarial Mundial para
o Desenvolvimento Sustentável (World Outras iniciativas ocorrem através das
Business Council for Sustainable Develo- associações internacionais de diversos
pment) e pelo Instituto de Recursos Mun- setores, como por exemplo, a Associação
diais (World Resource Institute). As orga- Mundial do Aço (World Steel Associa-
nizações estão trabalhando em conjunto tion), que também promovem diretrizes
com corporações privadas, governos e para as empresas associadas lidarem com
grupos ambientais, para construir uma a questão da mudança do clima. Todas
nova geração de programas de contabili- essas iniciativas estão em um plano in-
dade e redução de emissões de GEE mais ternacional. Em escala nacional existem
confiáveis e efetivos. A partir dessa parce- iniciativas, como a Coalizão para Econo-
ria nasceu o Protocolo de GEE (GHG Pro- mias Ambientalmente Responsáveis (Co-
tocol), que é a ferramenta internacional alition for Environmentally Responsible
de contabilidade de carbono mais usada Economies - CERES) dos Estados Unidos,
33
5
Avaliação da governança privada nas
questões relacionadas à mudança do clima

que é uma coalizão de investidores, organizações ambientais e outros grupos de interesse que tra-
balham junto com empresas e investidores para enfrentar os desafios da sustentabilidade, como as
Mudanças Climáticas.

Essas iniciativas, entretanto, não são mandatórias, ou seja, não têm o poder legal de obrigar as empresas a
adotarem suas políticas e instrumentos. Entretanto, cada vez mais iniciativas como estas vêm ditando o rit-
mo das ações corporativas e influenciando investidores, consumidores e outros stakeholders para que estes
observem quais são as empresas que estão na vanguarda deste movimento e quais estão deixando de lado
esse tema, que é de extrema importância para a sociedade.

As subseções 5.1 e 5.2 apresentam algumas das iniciativas internacionais e setoriais existentes.

5.1 Iniciativas Internacionais


5.1.1 Carbon Disclosure Project (CDP)
O Carbon Disclosure Project (CDP) é uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é criar uma re-
lação entre acionistas e empresas, focada em oportunidades de negócio decorrentes do aquecimento
global.

Trata-se de um requerimento coletivo, um questionário, formulado por investidores institucionais e en-


dereçado às empresas listadas nas principais bolsas de valores do mundo, visando obter a divulgação
de informações sobre as políticas de mudanças climáticas.

Aproximadamente 3.000 empresas, em 60 países, estão medindo e divulgando suas emissões através
do CDP. O CDP atua em nome de 534 investidores institucionais, que detêm mais de US$ 64 trilhões em
ativos sob gestão.

Desde então, o Carbon Disclosure Project (CDP) vem, em nome de investidores institucionais, desafian-
do as maiores empresas do mundo a medirem e reportarem suas emissões de gases de efeito estufa,
integrando os custos e valores da mudança do clima no planejamento financeiro de longo prazo e
projeções futuras de negócios.

Em 2010, o CDP lançou o relatório e índice de liderança 2010 Global 500. Foram enviados questionários
para mais de 4.700 empresas no mundo todo. Dentre as 500 maiores empresas do mundo, 410 respon-
deram ao questionário (82% dos participantes)8. Dos líderes de desempenho9, 85% reportaram que a
questão das Mudanças Climáticas está sendo tratada pela alta administração de suas empresas, sendo
que quase metade dessas empresas (48%) está incorporando iniciativas relacionadas à mudança do
clima na estratégia global de negócios e em toda organização.

8 CDP Global 500, 2010


9 As cinco empresas-líderes são: Siemens, Deutsche Post, BASF, Bayer e Samsung Electronics.

34
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
A pesquisa também evidenciou que, mesmo em um ambiente regulatório global incerto, nove entre
dez empresas que responderam os questionários mencionaram oportunidades comerciais advindas
das Mudanças Climáticas e oito entre dez empresas apontaram os fatores de riscos provenientes das
Mudanças Climáticas.

Quadro 5 - Carbon Disclosure Project Global 500


• 410 das 500 maiores empresas do mundo, i.e. 82%
• 85% dos líderes de desempenho reportaram que a questão das Mudanças Climáticas está sendo tratada pela
alta administração
• 48% estão incorporando iniciativas relacionadas à mudança do clima na estratégia global de negócios e em
toda organização

Ressalta-se que o processo de medição das emissões de GEE é imprescindível para a sua gestão e mi-
tigação. Com a implementação de instrumentos regulatórios a fim de determinar metas de emissão,
prevê-se que o papel do CDP se expandirá. Será de extrema importância o CDP trabalhar em conjunto
com corporações, governos e usuários das informações para produzir resultados práticos e robustos
que complementem as regras de divulgação dos relatórios de emissão.

Para continuar fornecendo o eixo central de preparação de comunicados de emissão de GEE, o CDP
está realizando uma melhoria dos sistemas, de modo a aperfeiçoar a comparabilidade entre os dados,
facilitar serviços de benchmarking e apresentar os dados de forma mais apropriada para análise de in-
vestimentos e submissões às agências reguladoras. Em países como os Estados Unidos e o Reino Unido,
onde comunicados de emissão mandatórios estão no horizonte, o sistema do CDP ajudará as empre-
sas a se prepararem para tais requerimentos e provavelmente irá se integrar com registros nacionais
existentes, o que permitirá que as corporações divulguem suas informações de forma mais detalhada
e padronizada.

Com a consolidação do CDP como um dos principais instrumentos de divulgação de iniciativas relacio-
nadas ao gerenciamento do carbono, e com o aumento da demanda por dados do CDP, em 2010 foi
lançado um índice de desempenho, o Carbon Performance Leadership Index (CPLI), que identifica as
empresas que exibem liderança com relação à gestão dos riscos impostos pelas mudanças do clima.
Além desse, outros dois índices foram lançados como produtos baseados nas informações do CDP –
FTSE CDP Carbon Strategy Index Series e o Markit Carbon Disclosure Leadership Index (Quadro 6)
Esses produtos expõem aos investidores as corporações melhor posicionadas na corrida para a nova
economia de baixo carbono.

Quadro 6 - Índices Relacionados às Emissões de GEE


• Carbon Performance Leadership Index (CPLI)
• CDP Carbon Strategy Index series
• Markit Carbon Disclosure Leadership Index

35
5
Avaliação da governança privada nas
questões relacionadas à mudança do clima

5.1.2 GHG Protocol


O GHG Protocol consiste em dois módulos:

• Contabilidade Corporativa (Accounting) e Padrões de Comunicação (Reporting): metodologias para


empresas e outras organizações inventariarem e reportarem todas as emissões de GEE geradas.

• Protocolo e Guidelines para Contabilidade de Projetos: voltado para o cálculo de redução de emis-
sões de GEE através de projetos específicos de redução de GEE.

O GHG Protocol fornece estrutura de contabilidade para quase todos os padrões e programas do mun-
do – como o International Standards Organization, o Carbon Discloure Project e o Climate Registry da
Califórnia, bem como inúmeros inventários de emissão preparados por diversas empresas.

Em 2006, a ISO adotou o GHG Protocol’s Corporate Standard como base para a ISO 14.064-1 – Guia com
Especificações em Nível Organizacional para a Quantificação e Comunicação de Emissões e Remoções de
Gases de Efeito Estufa. Esse fato chamou à atenção para o papel do GHG Protocol’s Corporate Standard
como padrão internacional para contabilidade e comunicação corporativa e organizacional de GEE.

Desde a primeira edição do GHG Protocol – A Corporate Accounting and Reporting Standard em 2001
– mais de 1.000 empresas e organizações no mundo inteiro desenvolveram seus inventários de GEE
usando o GHG Protocol. Algumas das maiores empresas do mundo estão usando o GHG Protocol’s Cor-
porate Standard. O relatório Corporate Climate Communications de 2007 das 500 maiores empresas,
segundo a Fortune, indicou que 63% dessas empresas utilizam o GHG Protocol.

5.1.3 ISO 14.064


Em 2006, a International Organization for Standardization criou a ISO 14.064 que fornece parâmetros
para monitoramento, quantificação e divulgação de redução de emissões de GEE em inventários e pro-
jetos.

A ISO 14.064 é dividida em três partes, a saber:

• Parte 1: Especificações e orientações, em nível organizacional, para quantificação e divulgação de


emissões e remoções de GEE.

• Parte 2: Especificações e orientações, em nível de projeto, para quantificação, monitoramento e


divulgação de redução e melhorias na remoção de emissões de GEE.

• Parte 3: Especificações e orientações para validação e verificação sobre as divulgações relacionadas


a GEE.

36
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
5.1.4 Global Reporting Initiative (GRI)
O Global Reporting Initiative é uma organização que desenvolveu o modelo de divulgação de sus-
tentabilidade mais utilizado no mundo. Esse modelo define uma série de princípios e indicadores que
organizações podem usar para medir e divulgar desempenho econômico, ambiental e social.

Ao utilizar o GRI como padrão de divulgação de desempenho, a corporação obtém uma série de bene-
fícios. Relatórios de sustentabilidade baseados nas diretrizes do GRI podem ser usados como padrão de
referência para o desempenho da empresa, no que diz respeito a marcos regulatórios, normas, códigos,
padrões de desempenho e iniciativas voluntárias, demonstrando que a empresa está comprometida
com o desenvolvimento sustentável, bem como comparando o desempenho da corporação ao longo
do tempo.

O GRI promove e desenvolve essas abordagens padronizadas para divulgar e estimular demanda por
informações sobre sustentabilidade, que beneficiará organizações que notificam tais informações e
aqueles que utilizam essas informações como parâmetro para, sobretudo, o investimento.

No tocante às Mudanças Climáticas, o GRI e o CDP concordaram em colaborar para o desenvolvimento


de Suplementos Setoriais e feedbacks entre os seus relatórios/questionários. Isso incentivará as orga-
nizações a procurarem oportunidades de alinhar as respostas entre os questionários do GRI e do CDP,
gerando melhor qualidade dos relatórios.

5.1.5 Pacto Global das Nações Unidas (UN Global Compact)


Lançado em 2000, o Pacto Global das Nações Unidas funciona tanto como uma plataforma política
quanto como uma estrutura prática para empresas que estejam comprometidas com questões relacio-
nadas à sustentabilidade e práticas de negócios responsáveis. Essa iniciativa busca alinhar as operações
e estratégias corporativas em dez princípios nas áreas de direitos humanos, mão de obra, meio ambien-
te, incluindo Mudanças Climática e anticorrupção.

O Pacto Global não é um instrumento regulatório e sim uma iniciativa voluntária que se baseia em
prestação de contas públicas, transparência e divulgação para complementar regulações e fornecer
um espaço para inovações.

No tocante às Mudanças Climáticas, em 2007, o Pacto Global e o Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente lançaram a iniciativa Caring for Climate.

Essa iniciativa tem como principal objetivo ajudar a prevenir uma crise devido às Mudanças Climáticas,
mobilizando líderes corporativos a implementar e recomendar soluções e políticas. Além disso, a ini-
ciativa incentiva empresas a promover soluções práticas, dividirem experiências bem como moldarem
as políticas e atitudes públicas. Empresas que dão suporte às declarações do Caring for Climate estão
preparadas para definir objetivos, desenvolver e expandir práticas e estratégias, e divulgar publicamen-
te suas emissões.

5.1.6 Índices
a) Carbon Disclosure Leadership Index (CDLI) e Carbon Performance Leadership Index (CPLI)
A pontuação para o CDLI é aplicada a quase todas as empresas que responderam ao CDP, que são
avaliadas pela qualidade das informações divulgadas. Uma alta pontuação relacionada à divulgação

37
5
Avaliação da governança privada nas
questões relacionadas à mudança do clima
de informações sobre estratégias de gerenciamento de carbono indica que a empresa respondeu de
forma substancial o questionário do CDP. As melhores respostas tendem a mostrar claramente as con-
siderações sobre os riscos específicos do negócio e as oportunidades potenciais ligadas às Mudanças
Climáticas e boas práticas de gestão interna para compreender as emissões de gases de efeito estufa.
Não obstante, a pontuação obtida no índice CDLI não reflete o desempenho da empresa com relação
às suas ações para reduzir as emissões de GEE, ou seja, na sua pontuação no índice CPLI.

Após ter sido um projeto piloto em 2009, o índice de desempenho (CPLI) foi introduzido em 2010 para
complementar o índice de divulgação e reconhecer as empresas que estão empreendendo medidas po-
sitivas para mitigar as mudanças do clima. A Tabela 3 apresenta as 10 melhores empresas no CDLI e CPLI.

Tabela 3 - Empresas do Global 500 com as maiores pontuações no CPLI e CDLI


PONTUAÇÃO CARBON PONTUAÇÃO CARBON
EMPRESA SETOR
DISCLOSURE PERFORMANCE
Siemens 98 A Industrial
Deutsche Post 97 A Industrial
Basf 96 A Químico
Bayer 95 A Farmaceutico
Samsung Eletronics 95 A Tecnologia
Lafarge 94 A Químico
Philips Eletronics 94 A Industrial
Praxair 93 A Químico
Fonte: CDP Global 500, 2010.

b) Dow Jones Sustainability Index


O Índice Dow Jones de Sustentabilidade consiste em um conjunto de índices: o Global, o Europeu, o
Norte Americano, o Pacífico – Asiático, e o Coreano. O índice global, o Dow Jones Sustentability World
Index (DJSI World), lançado em 1999, é um indicador de desempenho financeiro das empresas líderes
mundial em sustentabilidade. O DJSI World consiste em um índice abrangente, bem como subconjun-
tos de índices mais específicos:

• Subíndice que exclui empresas que geram receitas pela venda de bebidas alcoólicas, tabaco, jogos
de azar, armamentos e/ou entretenimento adulto.

• Subíndice que exclui empresas norte-americanas (i.e. como padrão de referência para portfólios
com empresas não norte-americanas).

Além disso, os benchmarks globais dentro da família DSJI incluem dois índices blue-chip, o Dow Jones
Sustentability World 80 e o Dow Jones Sustentability World ex US 80 que acompanham o desempenho
das 80 maiores empresas líderes de sustentabilidade do mundo, respectivamente incluindo e excluin-
do empresas norte-americanas.

38
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
O Índice Dow Jones de Sustentabilidade e seus respectivos subconjuntos acompanham o desempenho
de 10% das melhores empresas entre as 2.500 maiores corporações no Dow Jones Global Total Stock
Market Index (DJGTSM) que são líderes em sustentabilidade.

Com o avanço da questão climática, o Índice Dow Jones de Sustentabilidade poderá atribuir um peso
maior para as empresas que gerenciam os riscos impostos pelas Mudanças Climáticas e que realizam
medidas de mitigação, adaptação e redução das emissões de gases de efeito estufa.

c) FTSE CDP Carbon Strategy Index Series


O FTSE CDP Carbon Strategy Index Series visa apoiar os investidores a incorporar os riscos das Mudan-
ças Climáticas nas suas estratégias de investimento. Possui critérios orientados para o futuro que ava-
liam a exposição de empresas ao aumento dos custos futuros associados às emissões de GEE. A Tabela
mostra as 10 empresas mais bem posicionadas neste índice.

Tabela 4 – As 10 empresas com melhor pontuação no FTSE CDP Carbon Strategy 350 Index
PONTUAÇÃO FTSE CDP CARBON
EMPRESA SETOR
STRATEGY 350 INDEX
Unilever 2,49 Alimentos
BT Group 2,44 Telecomunicações
Morrison (Wm) Supermarkts 2,43 Alimentos
Rolls-Royce Group 2,40 Aeroespacial
Centrica 2,38 Petróleo & Gás
Vodafone Group 2,34 Telecomunicações
Reed Elsevier 2,31 Editoração
Tesco 2,29 Alimentos
Glaxo SmithKline 2,28 Farmacêutico
Marks & Spencer Group 2,24 Departamentos
Fonte: FTSE CDP Carbon Strategy 350 Index Results Report, 2010

Os índices do FTSE CDP Carbon Strategy Index Series são neutros, com relação aos setores, e são ver-
sões, com o rótulo risco-carbono, dos índices de referência estabelecidos pelo FTSE. As empresas cons-
tituintes continuam a ser as mesmas, mas os pesos das empresas do índice (com base em sua capita-
lização de mercado) são ajustados para cima ou para baixo dependendo de sua exposição aos riscos
impostos pelas Mudanças Climáticas e o seu desempenho para lidar com esses riscos. O peso total de
cada setor, por outro lado, são mantidos os mesmos, assim como para os seus índices de referência. O
Gráfico 3 apresenta o retorno total dos papéis do FTSE CDP Carbon Strategy 350 Index contra o FTSE
350 Index. Markit Carbon Disclosure Leadership Index

39
5
Avaliação da governança privada nas
questões relacionadas à mudança do clima

Gráfico 3 – Retorno total – FTSE CDP Carbon Strategy 350 Index VS FTSE 350 Index

Fonte: FTSE CDP Carbon Strategy 350 Index Results Report, 2010

d) Markit Carbon Disclosure Leadership Index


A família de índices Markit Carbon Disclosure Leadership acompanha o desempenho das empresas de
acordo com suas pontuações no Carbon Disclosure Project (CDP). A seleção e ponderação das ações
das empresas é baseada em dados do CDP Carbon Disclosure Leadership Index (CDLI). Os escores do
CDLI baseia-se em informações divulgadas na pesquisa anual. A metodologia deste índice classifica e
atribui pesos às empresas de acordo com (i) os critérios inovação fundamentais previstos pelo CDP; e (ii)
a capitalização de mercado e projeções de liquidez de acordo com índices padrão de ações.

A metodologia do índice incentiva as empresas a ser transparente e prestar contas sobre as suas emis-
sões de GEE e as estratégias com relação à mudança do clima, pois foi projetado para ver o desempe-
nho relativo de empresas que fazem bom gerenciamento com relação às Mudanças Climáticas. O índi-
ce permite que empresas e investidores avaliem o benefício financeiro das estratégias para enfrentar
as Mudanças Climáticas. A Tabela 5 apresenta as 10 empresas mais bem colocadas segundo o Markit
Carbon Disclosure Leadership Index.

40
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
Tabela 5 – As 10 empresas com melhor pontuação no Markit
Carbon Disclosure Leadership Global Index
PARTICIPAÇÃO NO MARKIT CARBON
EMPRESA SETOR
DISCLOSURE LEADERSHIP INDEX
Exxon Mobil Corp. 2,10 Petróleo & Gás
Microsoft Corp. 1,32 Informática
Johnson & Johnson 1,31 Farmacêutico
Procter & Gamble 1,30 Farmacêutico
Chevron Corp. 1,30 Petróleo & Gás
General Eletric Co. 1,26 Eletronicos
Wal-Mart Stores Inc. 1,25 Varejo
HSBC Holdings PLC 1,15 Financeiro
BP PLC 1,13 Petróleo & Gás
JP Morgan Chase & Co. 1,13 Financeiro
Fonte: Markit Carbon Disclosure Leadership Global Index, 2010.

5.2 Iniciativas Internacionais Setoriais


Tomando como base as políticas, iniciativas e instrumentos internacionais, as associações internacio-
nais setoriais também estão entrando em ação para combater as Mudanças Climáticas por meio de
políticas e instrumentos específicos para cada setor, como é o caso da World Steel Association, Cement
Sustentability Initiatives.

Muitas ações setoriais vêm sendo implementadas a nível nacional como, e.g. e ações voluntárias do se-
tor siderúrgico no Japão, incluindo cooperações técnicas para a pesquisa e desenvolvimento de apro-
veitamentos para os subprodutos da indústria siderúrgica, meta de redução do consumo de energia de
10% em 2010, comparado com os níveis de 1990. Tendo em vista que o problema das Mudanças Climá-
ticas é global e requer ações conjuntas globalmente, as associações setoriais internacionais entram em
cena para, e.g., criar padrões de referência, especificações e orientações comuns, de forma que essas
iniciativas possam ser comparadas e utilizadas por setores em outros países.

Os subitens 5.2.1 e 5.2.2 apresentam algumas iniciativas setoriais existentes atualmente.

5.2.1 World Steel Association (WSA)


O aço é amplamente usado em todos os setores da sociedade moderna. Além disso, é uma commo-
dity produzida e comercializada globalmente. Apesar dos níveis de produção estarem praticamente
estáveis nos países desenvolvidos, a demanda nos países em desenvolvimento aumentou vertigino-
samente. Segundo Lindroos (2009), a produção anual de aço ultrapassou 1 bilhão de toneladas pela
primeira vez em 200410. O autor também menciona que, entre 1999 a 2007, a produção mundial de aço
aumentou de 760 Mt para 1.350 Mt (Lindroos, 2009). Grande parte desse crescimento deve-se à China,
que expandiu a sua produção de 100 Mt/ano para 490 Mt/ano nesse período

10 Lindroos, 2009.

41
5
Avaliação da governança privada nas
questões relacionadas à mudança do clima

A tecnologia de produção do aço está madura e bem estabelecida. Nas últimas décadas não se ob-
servou muitas inovações ou modificações nos processos de produção existentes e é provável que a
próxima geração de tecnologias para a produção de aço leve mais de 20 anos em pesquisas. Entretanto,
mudanças significativas ocorreram nos últimos anos, dentre as quais ressalta-se o rápido crescimento
da demanda por aço, o início da regulação das emissões de gases de efeito estufa e a volatilidade dos
preços das commodities.

Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a indústria siderúrgica é res-
ponsável por 3 - 4% do total mundial de emissões de GEE. Em média, 1,9 toneladas de CO2 e são emiti-
das para cada tonelada de aço produzida11.

Dessa forma, a Associação Mundial do Aço aborda a questão das Mudanças Climáticas por meio de
cinco principais iniciativas, apresentadas no Quadro .

Quadro 7 - Iniciativas da WSA


• Expansão do uso de novas tecnologias mais eficientes e que emitam menos. Muitas indústrias ainda
utilizam plantas obsoletas que emitem grandes quantidades de GEE, portanto, a indústria siderúrgica está
comprometida com a transferência de tecnologias mais eficientes para essas regiões
• Realização de atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em novas soluções tecnológicas para reduzir
significativamente as emissões de GEE por tonelada de aço produzida.
• Otimização e maximização da reciclagem de sucatas de aço.
• Maximização do uso dos subprodutos do processo de produção de aço.
• Adoção de procedimentos de divulgação comuns e verificáveis que contabilizem e divulguem progressos das
reduções de emissões de GEE.
Fonte: A Global Approach to CO2 Emissions Reduction for the Steel Industry – World Steel Association 2010

5.2.2 Cement Sustainability Initiative (CSI)


A CSI é um programa de alcance global criado em 1999 por diversas empresas líderes no setor de ci-
mento. A Iniciativa opera sob a tutela do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD)
e tem como objetivo enfrentar os desafios da sustentabilidade na indústria de cimento. Atualmente,
a Iniciativa trabalha em conjunto com formuladores de políticas como uma importante parceira que
contribui com a geração de novas políticas internacionais sobre as Mudanças Climáticas.

Em 2003, os membros da CSI criaram um protocolo de divulgação e contabilização das emissões de


GEE, específico para o setor de cimento, o CO2 Accounting and Reporting Protocol. O Protocolo é uma fer-
ramenta analítica que permite o cálculo das emissões de GEE de forma confiável, precisa e padronizada,
considerando uma ampla variedade de fatores como, tipo de combustível, uso de materiais substitutos
e uso de biomassa. O propósito desta ferramenta é fornecer uma linguagem comum, um conjunto de
definições e metodologias para calcular, precisamente, as emissões de GEE e o uso de energia das ins-
talações de produção de cimento.

11 Global Approach to CO2 Emissions Reduction for the Steel Industry – World Steel Association 2010.

42
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
Por serem emitidos GEE em grandes quantidades, como uma consequência usual do processo pro-
dutivo do cimento, a gestão dessas emissões é uma prioridade para a CSI. Uma gestão eficaz requer
dados robustos que acompanhem alterações nas emissões como resultado de mudanças tecnológicas,
de combustíveis e outros fatores, tanto regionalmente como globalmente. A CSI lançou um sistema
chamado Getting the Numbers Right (GNR) para coletar precisamente dados históricos e recentes sobre
emissões e usos de energia para a produção de clínquer e cimento (Quadro ).

Quadro 8 - Iniciativas da CSI


• CO2 Accounting and Reporting Protocol
• Getting the Numbers Right (GNR)

Fonte: The Cement Sustainability Initiative Climate Actions – World Business Council for Sustainable Development 2008

5.3 Outras iniciativas internacionais


Além das iniciativas internacionais e setoriais, descritas no item anterior, será feita uma breve descrição
de ações e iniciativas em países nos mercados Norte Americano, Europeu e Asiático (Quadro )

Quadro 9 - Iniciativas
• CERES • PRINCES MAYDAY NETWOK
• US CLIMATE ACTION PARTNERSHIP (USCAP) • CRC ENERGY EFFICIENCY SCHEME
• CBI • ASIA PACIFIC PARTNERSHIP

5.3.1 América do Norte


a) Western Climate Initiative (WCI)
A Western Climate Initiative é uma colaboração a nível regional e trabalha para identificar e implementar
políticas para enfrentar as Mudanças Climáticas. A proposta da WCI é a implementação de um sistema
de cap and trade abrangente, que atue em todos os setores da economia das regiões participantes. As
indústrias inseridas nessas regiões deverão quantificar e reportar suas emissões de GEE com o objetivo
de harmonizar as regras de divulgação, e reduzir suas emissões de acordo com as metas reguladas
regionalmente.

A WCI é um programa regulatório mandatório, e irá implicar em penalidades para as corporações que
não cumprirem com suas obrigações

5.3.2 Estados Unidos


a) Coalition for Environmentally Responsible Economies (CERES)
A CERES é composta por uma rede de investidores, organizações ambientais e outros grupos públicos
que trabalham juntamente com empresas e investidores para enfrentar os desafios de sustentabilida-
de, como por exemplo, Mudanças Climáticas. Uma das principais iniciativas lançadas pela CERES foi o
GRI, supracitado.

43
5
Avaliação da governança privada nas
questões relacionadas à mudança do clima

No que diz respeito às Mudanças Climáticas, a CERES coordena o Investor Network on Climate Change
Risk (INCR) que, por sua vez, fornece ferramentas para investidores gerenciarem riscos e identificarem
oportunidades impostas pelas Mudanças Climáticas.

b) US Climate Action Partnership (USCAP)


O US Climate Action Partnership, iniciativa fundada pelo Pew Center on Global Climate Change, congrega
um grupo de empresas e organizações ambientais que atuam na esfera pública para que o governo
federal aprove a legislação nacional que exige redução de emissões de GEE.

Essa Parceria é formada por 25 grandes corporações e cinco organizações principais, como por exem-
plo, Alcoa, Duke Energy, DuPont, Shell, The Nature Conservancy e o Instituto de Recursos Mundiais
(WRI).

5.3.3 Canadá
a) Greenhouse Gas Emissions Reporting Program (GHGRP)
Em março de 2004 o governo canadense anunciou o lançamento do Greenhouse Gas Emissions Repor-
ting Program (GHGRP). Esse programa é aplicado apenas para as indústrias que mais emitem no Canadá.
Começando com dados de 2009, todas as instalações que emitem 50.000 toneladas de CO2 e (50 ktCO2
e) ou mais por ano deverão reportar suas emissões.

5.3.4 Reino Unido


a) CBI
A Confederação Britânica das Indústrias representa mais de 200 mil corporações, o que inclui cerca de
80% das empresas do FTSE 10012 e de 50% no FTSE 35013. Em 2007, o grupo lançou uma iniciativa para
enfrentar as Mudanças Climáticas, a CBI Climate Change Task Force.

Essa iniciativa é composta por 14 executivos das maiores empresas do Reino Unido, como por exemplo,
BT, Barclays, British Petroleum, Tesco, Rolls-Royce, dentre outras. O objetivo principal dessa iniciativa,
em nível público, é discutir com o governo medidas e políticas que ajudem as empresas a implementa-
rem ações para reduzirem suas emissões. Em nível privado, a iniciativa atua definindo condições para
as empresas realizarem a transição para uma economia de baixo carbono, como por exemplo, dividin-
do informações sobre as melhores práticas entre as empresas e divulgando os sucessos obtidos pelas
corporações britânicas.

Uma iniciativa interessante da CBI é o Climate Change Policy Tracker, o objetivo principal desta iniciativa
é acompanhar a criação e evolução das políticas relacionadas às Mudanças Climáticas adotadas pelo
governo do Reino unido e sua influência sobre diversos setores da economia. A CBI começou a acom-
panhar as políticas relacionadas à mudança do clima depois que o Climate Change Act foi aprovado em

12 Este índice inclui as 100 empresas blue chip mais capitalizadas, o que representa aproximadamente 81% do mercado britânico. É amplamente
utilizado como base para produtos de investimento, como derivativos e fundos negociados em bolsa.
13 O Índice FTSE 350 Supersetor proporciona aos investidores uma nova visão de um dos mais importantes mercados do mundo. Os 18 índices secto-
riais altamente comercializáveis são derivados das companhias blue-chip do índice FTSE 100 e das empresas que compõem o índice FTSE 250.

44
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
2008, e possui como foco os setores que necessitam de maiores cortes de emissões como, por exemplo,
energia, transporte, indústria. O 4º Relatório chegou à conclusão que incertezas em áreas chaves da
política sobre Mudanças Climáticas estão colocando investimentos na economia de baixo carbono em
risco.

b) Carbon trust
O Carbon Trust é uma corporação do Reino Unido sem fins lucrativos que tem como missão acelerar
a transição para uma economia de baixo carbono. A corporação provê suporte aos setores privado e
público na redução de suas emissões, na economia de energia e na comercialização de tecnologias de
baixo carbono. O Carbon Trust busca colaborar com ações tomadas para enfrentar as Mudanças Climá-
ticas, incluindo o fornecimento de financiamento para empresas que queiram reduzir as suas emissões
de GEE, criação de benchmarks, estímulos à demanda por produtos e serviços com baixa intensidade
de carbono.

As atividades do Carbon Trust cobrem cinco áreas complementares de negócios (Quadro 10):

Quadro 10 - Atividades do Carbon Trust


Área de Negócio ATIVIDADE Exemplos
• Análises inovadoras para investidores, CEO’s
• Explica os riscos e oportunidades das
e formuladores de políticas em tópicos,
Insights mudanças climáticas
incluindo, EU ETS, carbon footprint, eficiência
• Suporte para tomadas de decisão
energética
• Encontra soluções práticas para identificar
• Trabalha com metade das empresas do
as emissões de GEE e encontrar maneiras de
Soluções FTSE100 e mais de 50 mil empresas de
reduzi-las
pequeno porte
• Incentiva a adoção das melhores práticas
• Desenvolve tecnologias de baixo carbono
• Fornece suporte para mais de 145 projetos
promissoras
Inovações de Pesquisa & Desenvolvimento em
• Antecipa a entrada de novas tecnologias no
tecnologias de baixo carbono
mercado
• Cria novos e lucrativos negócios de baixo
carbono • Lançou parcerias para energias renováveis
Empreendedorismo
• Desenvolve novos mercados de baixo para catalisar £500m em investimentos
carbono
• Financia iniciativas de baixo carbono que
demonstram potencial comercial • 11 investimentos adquiridos que somam
Investimento
• Estimula investimentos por parte do setor £9.1m
privado
Fonte: Carbon Trust Analysis, Annual Report 2006/07.

c) Prince’s Mayday Netwok e Corporate Leaders Group on Climate Change (CLG)


Assim como o CBI Climate Change Task Force, o Prince’s Mayday Network foi lançado em 2007 pelo Prín-
cipe de Gales como um grupo de empresas e organizações para enfrentar as Mudanças Climáticas de
forma conjunta. O principal objetivo é mobilizar outras empresas dos mais diversos setores e tamanho,
empregados, fornecedores e clientes, através da divulgação das melhores práticas e informações rela-
cionadas às Mudanças Climáticas.

45
5
Avaliação da governança privada nas
questões relacionadas à mudança do clima

Ainda dentro das iniciativas criadas pelo Príncipe de Gales, o Corporate Leaders Group on Climate Chan-
ge (CLG) foi desenvolvido e é gerenciado pelo Programa de Liderança em Sustentabilidade da Univer-
sidade de Cambridge. Esse Grupo é composto por líderes das principais empresas do Reino Unido,
União Européia, e de outros países com o objetivo de desenvolver políticas novas e de longo prazo para
combater as Mudanças Climáticas.

No momento existem dois grupos de trabalho – o Grupo do Reino Unido, e o Grupo da União Européia.
Os grupos são formados por empresas de diversos setores, incluído os setores de energia, industrial,
financeiro, entre outros.

Em março de 2009, representantes dos Grupos da União Européia e do Reino Unido, assim como re-
presentantes regionais, se reuniram no Rio de Janeiro com líderes de empresas brasileiras. O objetivo
principal do evento foi capacitar as empresas brasileiras para formarem um Corporate Leaders Group on
Climate Change do Brasil. Esse Grupo está sendo estabelecido e fará parte da rede internacional do CLG.

d) Carbon Reduction Commitment (CRC) Energy Efficiency Scheme


O Carbon Reduction Commitment (CRC) Energy Efficiency Scheme é um sistema de eficiência energética
obrigatório que visa melhorar a eficiência energética e a redução das emissões em grandes organiza-
ções do setor público e privado. Estas organizações são responsáveis por cerca de 10% das emissões do
Reino Unido. Esse sistema entrou em vigor em abril de 2010.

O sistema apresenta uma tabela anual de desempenho, que classifica os participantes de acordo com
o desempenho em eficiência energética. Juntamente com as considerações de reputação, o regime
incentiva as organizações a desenvolver estratégias de gestão de energia que promovam uma melhor
compreensão do uso da energia.

O sistema é projetado para combater as emissões de CO2 que não estão abrangidas por acordos como,
por exemplo, o Climate Change Agreements (CCA’s) e o EU ETS.

As organizações são elegíveis para o CRC se eles (e suas subsidiárias) têm pelo menos uma medida de
consumo de eletricidade por meia hora (one half-hourly electricity meter (HHM)) liquidada no mercado
de energia. Organizações que consumiram mais de 6.000 megawatt-hora (MWh) por ano, de eletricida-
de medida para cada meia hora durante 2008, estão qualificadas para a participação plena e necessi-
tam se registrar com a Environmental Agency, que é o administrador do sistema.

As organizações que não se encontram no limiar de 6.000 MWh terão que divulgar informações sobre
o consumo de eletricidade medida a cada meia hora ao longo de 2008. As empresas qualificadas para
participar terão que cumprir legalmente com o esquema ou irão enfrentar sanções financeiras, admi-
nistrativas, entre outras.

46
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
5.3.5 Ásia
a) Asia Pacific Partnership
Lançada no ínicio de 2006, a Asia Pacific Partnership, também conhecida como APP, é uma organiza-
ção internacional voluntária que conta com uma parceria público-privada entre os governos e setores
industriais da Austrália, Canadá, Índia, Japão, República Popular da China, Coréia do Sul e os Estados
Unidos.

A iniciativa, na qual os governos dos países parceiros acordaram em cooperar no desenvolvimento e


transferência de tecnologia para a redução das emissões de GEE de forma coerente e complementar à
Convenção Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas e outros instrumentos internacionais relevan-
tes, e é destinada a complementar, mas não substituir o Protocolo de Quioto.

Os membros da iniciativa concordaram com um Plano de Ação para “delinear um modelo inovador de
novas forças-tarefa público-privadas para combater as Mudanças Climáticas, segurança energética e
poluição do ar”. Esse Plano mira em oito setores chaves, sendo:

• Energia fóssil mais limpa


• Energias renováveis e geração distribuída
• Geração e transmissão
• Siderurgia
• Cimento
• Alumínio
• Carvão
• Construções e equipamentos

5.4 Iniciativas no Brasil


Indo ao encontro das iniciativas internacionais voltadas para responsabilidade social e sustentabilidade
empresarial, incluindo Mudanças Climáticas, nota-se a crescente preocupação e atuação nesse tema no
Brasil, onde iniciativas já têm sido implementadas/defendidas por atores distintos, e.g., governo, ONGs,
empresas privadas, consumidor.

Grandes empresas brasileiras já estão buscando e consolidando modelos de negócios que levem em
conta conceitos de responsabilidade corporativa, sustentabilidade e, mais recentemente, Mudanças
Climáticas. Empresas como Vale, Suzano e Votorantim começaram adotar iniciativas voltadas para o
tema Mudanças Climáticas, não somente visando a gestão de riscos, mas também a identificação de
oportunidades que as posicionem como líderes na corrida para a nova economia de baixo carbono.
Nesse contexto, iniciativas como o CDP e o GHG Protocol estão sendo cada vez mais adotadas por em-
presas brasileiras, possibilitando seu destaque no cenário internacional como empresas que atuam de
forma consistente no âmbito das Mudanças Climáticas.

Além de iniciativas internacionais adotadas por empresas brasileiras, algumas medidas vêm sendo cria-
das em território nacional com o objetivo de, sobretudo, avaliar o grau de comprometimento com o
tema. Dentre as medidas já desenvolvidas, destacam-se o Índice Carbono Eficiente (ICO2) e o Índice de
Sustentabilidade Empresarial (ISE).

47
5
Avaliação da governança privada nas
questões relacionadas à mudança do clima

A Seção 5.4.1 apresenta a descrição dos índices ISE e ICO2. A Seção 5.4.2 apresenta os principais progra-
mas existentes, bem como medidas atualmente adotadas pelas empresas no Brasil, i.e., NAMAS, CDP e
GHG Protocol Brasil/Empresas pelo Clima.

5.4.1 Índices
a) Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE
Seguindo a tendência mundial de um ambiente de investimento norteado por preferências em empre-
endimentos/ações/ativos que incorporem conceitos de responsabilidade social e sustentabilidade em-
presarial, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) foi lançado em 2005 pela Bolsa de Valores, Mer-
cadorias e Futuros (BM&FBOVESPA), em parceria com a Associação Brasileira das Entidades Fechadas
de Previdência Complementar (ABRAPP), Associação Nacional dos Bancos de Investimento (ANBID),
Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (APIMEC), Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), International Finance Corporation (IFC), Instituto ETHOS e
Ministério do Meio Ambiente (MMA).

O ISE é um indicador que agrupa empresas com desempenho econômico-financeiro relevante asso-
ciado às ações de sustentabilidade social e ambiental. Segundo a BM&FBOVESPA14, o objetivo desse
índice é refletir o retorno de uma carteira composta por ações de empresas com reconhecido com-
prometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade empresarial, bem como atuar como
impulsionador das boas práticas no ambiente empresarial brasileiro.

A seleção da carteira (no máximo 40 ações) é feita anualmente15 por meio das respostas aos questio-
nários que são enviados às empresas pré-selecionadas, i.e. que estejam entre as empresas com as 200
ações mais negociadas nos últimos 12 meses que precedem a avaliação e que tenham sido negociadas
pelo menos em 50% dos pregões realizados no mesmo período. Um Conselho16 escolhe as empresas
com melhor classificação nas dimensões social, ambiental, geral e natureza do produto, econômico-
-financeira, governança corporativa e, mais recentemente, Mudanças Climáticas.

No que concerne às Mudanças Climáticas, em 2010 o questionário passou a incluir indicadores em


quatro critérios: política, gestão, desempenho e comunicação17 (Quadro 11).

Quadro 11 - Critérios Considerados pelo ISE


• POLÍTICA DA EMPRESA • DESEMPENHO
• GESTÃO • COMUNICAÇÃO

14 Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/Indices/download/ISE.pdf. Acesso em 5 de setembro de 2010


15 Uma nova carteira entra em vigor em primeiro de dezembro de cada ano.
16 O Conselho Deliberativo do ISE é formado por diversas instituições, como o Instituto Ethos, o MMA e a Associação Brasileira das Entidades dos
Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), cujo papel é gerir o índice. A BM&F Bovespa preside o Conselho, sendo responsável também pelo
cálculo e gestão técnica do ISE.
17 Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/Indices/download/Questionario-mudancas-climaticas-ISE-2010.pdf>. Acesso em: 5 set. 2010.

48
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
a.1) Critério 1– Política
Esse critério contempla a existência de política de combate às Mudanças Climáticas, os seus desdobra-
mentos no processo de planejamento e gestão da empresa. Também aborda os procedimentos para
comunicação, sensibilização e mobilização das partes interessadas em relação a essa política. Seu indi-
cador consiste em compromisso, abrangência e divulgação.

a.2) Critério 2 – Gestão


Os indicadores de gestão são:
I. Responsabilidades/gestão de riscos e oportunidades: esse indicador refere-se principalmente à
atribuição de responsabilidades para mitigação das emissões de GEE, bem como aos riscos e opor-
tunidades associadas às Mudanças Climáticas.
II. Planejamento/gestão de riscos e oportunidades: esse indicador trata fundamentalmente sobre os
procedimentos formais para avaliação dos riscos e oportunidades provenientes das Mudanças Cli-
máticas.
III. Inventário de emissões: esse indicador refere-se, dentre outros aspectos, à elaboração/atualização
de inventário de emissões de GEE.
IV. Sistemas de Gestão: esse indicador refere-se principalmente ao mapeamento de emissões de GEE
no processo de avaliação sistemática de aspectos e impactos ambientais das atividades da empre-
sa, bem como à determinação de metas de redução de emissões de GEE.

a.3) Critério 3 – Desempenho


Esse critério tem como indicador as emissões de GEE e uso de recursos, cujos principais elementos de
avaliação são:
• Caracterização das emissões de GEE no âmbito do Protocolo de Quioto.
• Procura por alternativas para a substituição de insumos ou processos por insumos ou processos
que gerem menor emissão de GEE nas atividades da empresa.
• Política e sistema de monitoramento para o aumento da qualidade ambiental na logística e gestão
da frota voltada para a redução de emissões de GEE.

a.4) Critério 4 – Comunicação


O quarto critério contempla a comunicação, cujo indicador é o diálogo com as partes interessadas,
avaliado por meio da:
• Participação da empresa em iniciativas públicas ou privadas voltadas para as boas práticas de ges-
tão de emissões de GEE.
• Existência de procedimentos formais para recebimento, registro e resposta às demandas de partes
interessadas sobre as emissões de GEE de seus produtos.
• Forma de divulgação do inventário de emissões de GEE.
• Nota-se que cada vez mais empresas de diversos segmentos buscam fazer parte deste índice devi-
do aos benefícios associados ao seu reconhecimento pelo mercado como:
• Empresa que atua com responsabilidade social corporativa.
• Empresa com sustentabilidade no longo prazo.
• Empresa preocupada com o impacto ambiental das suas atividades.
49
5
Avaliação da governança privada nas
questões relacionadas à mudança do clima

As atualizações do ISE são realizadas anualmente e as empresas passam pelo processo de avaliação
resultando em alterações nessa composição, com a saída de algumas empresas e entrada de outras.
Atualmente, o ISE reúne mais de 30 empresas. Com base em dados da BM&FBOVESPA, a última atuali-
zação do ISE, com vigência até novembro de 2010, é composta por 43 ações de 34 empresas, abrangen-
do 16 setores econômicos. Como se pode observar na Tabela 6, considerando o número de empresas
listadas, o setor de energia elétrica apresenta a maior representatividade, com 11 empresas listadas no
período 2009-2010. Em seguida, estão os setores de siderurgia e metalurgia, intermediários financeiros
e madeira e papel.

Tabela 6 - Composição dos Setores no ISE nos períodos 2008-2009 e 2009-2010


Setor ANTERIOR = 30 Atual = 34
Água e Saneamento 1 1
Alimentos Processados 2 1
Construção e Engenharia 0 1
Energia Elétrica 11 11
Intermediários Financeiros 4 4
Madeira e Papel 3 3
Máquinas e Equipamentos 0 1
Material de Transporte 1 1
Previdência e Seguros 0 1
Produtos de Uso Pessoal e Limpeza 1 1
Químicos 1 1
Saúde 2 1
Serviços Financeiros Diversos 0 1
Siderurgia e Metalurgia 2 3
Telefonia Fixa 1 1
Telefonia Móvel 1 2

Fonte: BM&FBOVESPA18.

Em valores de mercado, no período 2009/2010 o ISE atingiu cerca de 735 bilhões de reais, representan-
do um aumento de 46% em relação ao primeiro período de sua vigência (2006-2006). Em comparação
ao período anterior (2008-2009), o período atual representou um aumento de quase 100%, fato que
pode ser justificado pela propagação da crise financeira mundial, iniciada em 2008 (Gráfico 4). b) Índice

18 Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/Indices/download/ISE.pdf>. Acesso em: 5 out. 2010.

50
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
Gráfico 4 - Evolução do Valor de Mercado do ISE

1000

800

600

400

200

0
2005-2006 2006-2007 2007-2008 2008-2009 2009-2010
Fonte: BM&FBOVESPA 19

b) Carbono Eficiente (ICO2)


O Índice Carbono Eficiente (ICO2), recentemente lançado pela BM&FBOVESPA em parceria com o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é composto pelas empresas participantes
do índice IBrX 50 que lista as empresas brasileiras mais negociadas na Bovespa, tais como Petrobras,
JBS e MMX.

O IBrX-50 mede o retorno total de uma carteira teórica composta por 50 ações selecionadas entre as
mais negociadas na BM&FBOVESPA, ponderadas na carteira pelo valor de mercado das ações disponí-
veis à negociação, sendo atualizado a cada quatro meses. Atualmente, este índice possui 46 empresas,
das quais 14 já inventariaram suas emissões de GEE, segundo a BM&FBovespa. Em agosto de 2009, três
empresas que constam no IBrX-50 ¬– Vale, Grupo Pão de Açúcar e Natura – assinaram com outras 19
empresas a Carta Aberta ao Brasil sobre Mudanças Climáticas. Este documento reúne compromissos
voluntários para a mitigação dos impactos das Mudanças Climáticas.

O ICO2 visa mensurar o retorno de uma carteira teórica constituída por papéis do IBrX-50 reponderados
em função do grau de eficiência da emissão de GEE das empresas. O grau de eficiência é dado pela
relação entre emissões de GEE da empresa e sua receita (Quadro 12).

Quadro 12 - Índice Carbono Eficiente

ICO2 = Σ GEE
Σ RECEITA

19 Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/Indices/download/ISE.pdf>. Acessado em: 5 out. 2010.

51
5
Avaliação da governança privada nas
questões relacionadas à mudança do clima

A partir desse indicador, uma empresa é comparada com empresas do mesmo setor e com a média
geral das empresas do índice. Utiliza-se este benchmarking para redefinir o peso de cada ação dentro
do índice. Dessa forma, empresas com menor relação “emissões de GEE/receita” terão maior eficiência
em relação às demais no setor e, consequentemente, tenderão a aumentar seu peso no ICO2 compara-
tivamente à sua participação no IBrX-50.

Gráfico 5 - Ilustração do Funcionamento do ICO2

Índice IBrX-50 Índice Carbono Eficiente


Ex: índice com apenas 4 ações Participação Nova Participação

Empresa ICO2/receita Reduz participação (-1%) 31%


32%

Empresa A 5.000 16%


13% Aumenta participação (+3%)

Empresa B 200
17% Aumenta participação (+2%) 19%
Empresa C 100
38% Reduz participação (-4%) 34% Cálculo
Empresa D 10.000 emissão índice:
31% x 5.000 +
Cálculo emissão índice: 16% x 200 +
32% x 5.000 + 13% x 200 + 19% x 100 +
17% x 100 + 38% x 10.000 34% x 10.000
Repondera com base na eficiência
nas emissões de CO2
Emissão Índice IBrX-50: Emissão Índice de Carbono Eficiente:
5.443 tCO2/Receita 5.001 tCO2/Receita

Fonte: BNDES, 2010

Segundo a BMF&BOVESPA, a proposta é que o ICO2 seja um instrumento econômico de incentivo à


adoção de práticas de gestão ambiental com foco em Mudanças Climáticas. Nesse sentido, acredita-se
que o ICO2 incentivará as empresas a mensurar, gerir e reportar suas emissões de GEE, provendo mais
transparência aos acionistas e ao mercado, bem como gerando oportunidades de investimento para
investidores preocupados com as questões ambientais.

5.4.2 Medidas/ Programas


a) GHG Protocol – Brasil
A implementação do Programa Brasileiro GHG Protocol é uma iniciativa do Centro de Estudos em Sus-
tentabilidade, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do World Resources Institute (WRI), em parceria
com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento
Sustentável (CEBDS) e o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) - GHG Protocol
Brasil, 2010.

52
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
As organizações participantes do Programa Brasileiro GHG Protocol têm acesso a treinamento em con-
tabilização e elaboração de inventários de emissões de GEE, bem como ferramentas e metodologias de
cálculo de emissões de GEE internacionalmente reconhecidas, desenvolvidas no âmbito WRI/WBCSD.

O espaço proporcionado pelo Programa tem permitido também a troca de experiências, dilemas e
busca de soluções através de cooperação coletiva entre as instituições participantes. O objetivo princi-
pal do Programa é promover a cultura corporativa de mensuração, publicação e gestão voluntária das
emissões de GEE no Brasil, proporcionando aos participantes acesso a instrumentos e padrões de qua-
lidade internacional para contabilização e elaboração de inventários de emissões de GEE. O Programa
também se propõe a constituir uma plataforma nacional para publicação dos inventários de emissões
corporativos e organizacionais. Entre os seus objetivos específicos, destacam-se:
• Promover a base para a identificação, o cálculo e a elaboração do inventário de emissões de GEE
em nível organizacional, por meio do desenvolvimento e disseminação das Especificações do Pro-
grama Brasileiro GHG Protocol, baseadas nas melhores técnicas internacionais, tais como GHG Pro-
tocol e normas ISO;
• Identificar e, quando necessário, adaptar ou desenvolver metodologias e fatores de emissão para
o cálculo de emissões antrópicas por fontes de GEE e remoções antrópicas por sumidouros de GEE
no Brasil;
• Basear-se nas melhores técnicas internacionais, tais como GHG Protocol e metodologias do IPCC
para inventários nacionais;
• Promover a capacitação de empresas, organizações públicas, universidades e organizações não
governamentais que operam no Brasil para a formulação de inventários de emissões de GEE, em
caráter voluntário, baseados nas Especificações do Programa;
• Criar um registro público de fácil acesso para empresas e organizações públicas e privadas informa-
rem suas emissões de GEE, de acordo com as especificações do Programa;
• Criar oportunidades para o intercâmbio de instituições participantes, visando facilitar a transição
da economia brasileira para uma economia de baixo carbono.

O Programa Brasileiro GHG Protocol estabeleceu três selos para indicar o grau de aprofundamento dos
inventários corporativos.

(I) Bronze - Inventário Parcial


O Programa Brasileiro GHG Protocol entende que a elaboração de um inventário é um processo con-
tínuo e em constante evolução. Então, para estimular uma maior participação e capacitação, as orga-
nizações que aderirem ao Programa podem optar por participar do Programa Brasileiro GHG Protocol
publicando um relatório parcial.

Participantes que optarem por essa modalidade podem submeter um relatório de GEE de um subgru-
po de suas operações, fontes e/ou gases. No entanto, devem seguir as especificações para contabiliza-
ção, cálculo e publicação do relatório do Programa Brasileiro GHG Protocol.

As organizações que optarem por publicar um relatório parcial devem informar quais as unidades, fon-
tes e gases que não foram incluídos no relatório e que, de acordo com as especificações do Programa,
deveriam fazer parte do inventário completo.

53
5
Avaliação da governança privada nas
questões relacionadas à mudança do clima

Como forma de garantir transparência na publicação dos inventários, os relatórios parciais que forem
divulgados pelo Programa deverão ser claramente identificados como “Parciais”, diferenciando-se as-
sim dos relatórios completos de GEE.

Adicionalmente, a empresa que optar por publicar um inventário parcial terá este reconhecido como
inventário Bronze. Após a publicação do primeiro inventário completo, a empresa não poderá mais
apresentar ao Programa inventários parciais nos anos subsequentes, a menos que aprovado pelo Pro-
grama através da análise de cada caso.

(II) Prata – Inventário Completo


A integralidade é um princípio chave para contabilização e publicação do relatório no Programa Bra-
sileiro GHG Protocol. Um relatório de GEE deve fornecer a contabilização por completo de todas as
emissões de GEE da organização resultantes de fontes localizadas dentro dos limites geográficos esta-
belecidos pelo Programa e dentro dos limites organizacionais e operacionais do participante.

Quando o inventário contiver todas as informações demandadas pelo Programa este será reconhecido
publicamente como Inventário Prata.

Os membros do Programa devem publicar seus inventários de emissões seguindo o template proposto
pela equipe de coordenação do Programa. Neste template estão marcados em verde todos os requeri-
mentos obrigatórios para elaboração de um inventário completo segundo o Programa, bem como os
componentes do relatório que deverão ser disponibilizados para o público.

(III) Ouro – Inventário Completo, verificado por terceira parte


Será reconhecido como Inventário Ouro aquele que, além de cumprir todos os requisitos para o en-
quadramento na categoria prata, for verificado por uma terceira parte independente de acordo com as
regras do Programa Brasileiro GHG Protocol.

Em 2010, 35 empresas passaram a mapear suas fontes e o volume de gases de efeito estufa emitidos
direta e indiretamente por suas operações. Nove empresas obtiveram o selo bronze, 19 o selo prata e
sete o selo ouro.

Figura 3 - Selos do Programam GHG Protocol – Brasil

Fonte: Programa Brasileiro GHG Protocol

54
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
b) CDP – Brasil
Em 2009, 62 empresas brasileiras responderam ao pedido de divulgação (em inglês, disclosure) for-
mulado pelo CDP7, representando um percentual positivo de resposta de 78% (CDP Brasil, 2009). O
número de empresas que receberam este pedido este ano aumentou para 80. Assim como aumentou,
também, o número total de investidores globais que participa do projeto na qualidade de signatários
do pedido de divulgação, chegando a 475. No Brasil, foram 53 signatários, como pode ser observado
no Gráfico 6.

Gráfico 6 - Evolução do número de signatários brasileiros


60
53
50
41
40
30
30

20 15

10 5
0 0
0
CDP1 CDP2 CDP3 CDP4 CDP5 CDP6 CDP7
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Fonte: CDP Brasil 2009

O percentual de respostas de 78% confirma a liderança assumida pelo país no CDP, de tal forma que,
dos 29 grupos de empresas que receberam o pedido de divulgação nesta edição ao redor do planeta,
tanto por setor ou região geográfica, o índice percentual de respostas registrado no Brasil só foi infe-
rior ao do Reino Unido (95%), país de concepção do próprio projeto (Índice FTSE 100), da Europa (82%)
e do Global 500 (81%), conforme definido no Quadro 13. O Brasil, dessa forma, continua mostrando
atenção e participação ao projeto superiores às de países desenvolvidos com metas mandatórias de
redução de GEE, com base no Protocolo de Quioto (e.g. Canadá, Japão, Itália, França e Alemanha) [CDP
Brasil, 2009].

Quadro 13 - Participação de Empresas Convidadas Para Responder o CDP


• Reino Unido: 95% • Global: 81%
• Europa: 82% • Brasil: 78%

Segundo ainda o CDP Brasil (2009), entre os países que integram o bloco denominado “BRIC” (Brasil,
Rússia, Índia e China), a liderança do País torna-se ainda mais nítida, com Rússia obtendo 13%, Índia
18% e China 10%.
55
5
Avaliação da governança privada nas
questões relacionadas à mudança do clima

Apesar da alta participação, as respostas ainda oscilam entre uma boa compreensão sobre o tema e
uma inserção incipiente. Oportunidades de melhoria no que se refere ao conteúdo das respostas exis-
tem, em especial quanto a:

• Afinamento qualitativo das respostas das empresas nacionais: apesar do avanço observado
em várias empresas, ainda existe espaço para um aprimoramento do entendimento das questões
e das respostas oferecidas. Percebe-se em várias respostas ainda certa superficialidade no trata-
mento do tema;
• Mapeamento das emissões decorrentes da cadeia de suprimento, através do CDP SCLC
(Supply Chain Leadership Collaboration): este mapeamento não ocorreu na escala desejada e/ou
necessária, impedindo que as empresas brasileiras disseminassem o tema entre seus fornecedores
e parceiros e, com isso, identificassem novas oportunidades de negócios;
• Formulação de metas para a redução das emissões: as informações sobre os planos de redução
de emissão ainda continuam vagas, apesar das empresas terem identificado vários projetos e/ou
ações que podem contribuir para a redução das emissões. Cabe ressaltar que várias empresas afir-
maram que ainda estão elaborando suas metas de redução, ou seja, estão indicando uma intenção
futura de assumir metas de redução. Será importante acompanhar a evolução destas empresas nas
próximas edições do CDP para avaliar o resultado das intenções presentes;
• Maturação da governança climática das empresas brasileiras: o tema não parece ainda percor-
rer de forma transversal as organizações, com raras exceções;
• Incorporação das políticas de Mudanças Climáticas nas estratégias de sustentabilidade de
curto, médio e longo prazos: também foram poucas as empresas que demonstraram que estão
incorporando o tema das Mudanças Climáticas na agenda de sustentabilidade.

Como conclusão geral pode-se afirmar que apesar dos altos índices de participação continuarem de-
monstrando o real interesse das empresas brasileiras sobre o tema, as respostas evoluíram modesta-
mente em relação às edições passadas. Isso não deve ser visto como um recuo da qualidade do proje-
to. O que ocorre é que as empresas brasileiras alcançaram certo patamar de conscientização e ainda
possuem condições de evoluir. O Quadro 14 resume as oportunidades de melhoria no conteúdo das
respostas.

Quadro 14 - Oportunidades de melhoria nas respostas


• Afinamento qualitativo das respostas das empresas nacionais
• Mapeamento das emissões decorrentes da cadeia de suprimento, através do CDP SCLC (Supply Chain
Leadership Collaboration)
• Formulação de metas para a redução das emissões
• Maturação da governança climática das empresas brasileiras
• Incorporação das políticas de Mudanças Climáticas nas estratégias de sustentabilidade de curto, médio e longo
prazos

56
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
c) Ações Nacionais de Mitigação Apropriadas (NAMAS)
No Acordo de Copenhague, estabelecido na 15ª Conferência das Partes (COP-15), em dezembro de
2009, as Ações Nacionais de Mitigação Apropriadas (em inglês, Nationally Appropriate Mitigation Ac-
tions - NAMAs) foram reconhecidas como forma de ampliar a participação dos países em desenvolvi-
mento no esforço de redução das emissões de GEE.

As NAMAs consistem nas ações nacionais que os países em desenvolvimento já possuem ou preten-
dem adotar para adaptação e mitigação das Mudanças Climáticas. Prevê-se que as ações de mitigação
realizadas por estes países estarão sujeitas a processos domésticos de mensuração, comunicação e
verificação (sigla em inglês MRV), cujos resultados serão informados por meio de suas comunicações
nacionais a cada dois anos (Acordo de Copenhague, parágrafo 5º). Ainda nesse parágrafo, prevê-se
que as NAMAs que busquem suporte internacional e o apoio recebido à tecnologia, às finanças e à
capacitação serão reiteradas. As ações que receberem apoio serão sujeitas a mensuração, divulgação e
verificação internacional conforme as diretrizes adotadas pela COP (CQNUMC, 200920).

No Acordo, definiu-se que o envio das contribuições dos países seria feito até 31 de janeiro de 2010; no
entanto, submissões posteriores também poderiam ser feitas.

No tocante aos países desenvolvidos, países da União Européia e cerca de mais 15 países, incluindo
os Estados Unidos, apresentaram suas metas. Em relação aos países em desenvolvimento, cerca de 40
países apresentaram ações, tais como o Brasil, a Índia e a China (UNFCCC, 2010a21, 2010b22).

Tratando-se do Brasil, em janeiro de 2010, o país encaminhou as NAMAs para o Secretariado da Con-
venção do Clima. As ações propostas são apresentadas no Quadro 15.

Quadro 15 - Participação de Empresas Convidadas


• Redução de 80% e 40%, respectivamente, do desmatamento na Amazônia e do Cerrado até 2020.
• Recuperação de pastos, cuja contribuição estimada é de 83 a 104 milhões de toneladas de CO2 até 2020.
• Integração lavoura-pecuária, cuja contribuição é estimada em 18 a 22 milhões de toneladas de CO2 até 2020.
• Plantio direto, cuja amplitude de contribuição estimada é de 16 a 20 milhões de toneladas de CO2 até 2020.
• Eficiência energética, cuja estimativa de redução é de 12 a 15 milhões de toneladas de CO2 até 2020.
• Expansão da oferta de energia por hidrelétricas, cuja amplitude de redução é estimada em 79 a 99 milhões de
toneladas de CO2 até 2020.
• Fontes alternativas: Pequenas Centrais Hidroelétricas (PCHs), bioeletricidade, eólica (amplitude de redução
estimada de 26 a 33 milhões de toneladas de CO2 até 2020).
• Siderurgia: substituição do carvão de desmatamento por carvão de floresta plantada, que apresenta redução
estimada entre 8 a 10 milhões de toneladas de CO2 até 2020.

20 Acordo de Copenhague. Disponível em: <http://unfccc.int/resource/docs/2009/cop15/eng/l07.pdf>. Acesso em: 6 set. 2010.


21 UNFCCC. Apendix II – Nationally appropriate mitigation actions of developing country parties. 2010a. Disponível em: <http://unfccc.int/home/ite-
ms/5265.php> Acesso em: 5 set. 2010.
22 UNFCCC. Appendix I – Quantified economy-wide emissions targets for 2020. Disponível em: <http://unfccc.int/home/items/5264.php> Acesso em: 5
out. 2010.

57
5
Avaliação da governança privada nas
questões relacionadas à mudança do clima

Como aponta Americano (2010)23, as NAMAs enviadas pelo Brasil serão reunidas na forma de planos
setoriais24, que estão previstos no Artigo 12 da Lei nº 12.187/200925 e englobam reduções de emissões
de GEE por meio das seguintes grupos de atividades:
• Redução do desmatamento na Amazônia e no Cerrado;
• Agropecuária;
• Siderurgia (neste caso não haverá mudança de processos, apenas aumento da participação do
carvão vegetal renovável, reduzindo as emissões pelo uso de carvão vegetal proveniente de des-
matamento)
• Setor energético.

23 Americano B., 2010. O Estágio Atual das Negociações sobre NAMAs: Implicações para o Brasil e para o Futuro das Negociações sobre Mudanças
Climáticas. Boletim Regional e Urbano. IPEA. Julho de 2010.
24 Outros planos setoriais serão regulamentados posteriormente.
25 Lei que instituí a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) e que adota ações de mitigação de emissões de GEE.

58
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
6

Justificativa
para a
inserção da
variável
clima no
planejamento
estratégico
das empresas

Atualmente, nota-se a difusão acelerada ser observado pela intensificação da


da preocupação, conscientização e atua- criação de políticas públicas, em âmbito
ção de diversos agentes como investido- local, demandando ações relacionadas a
res, governo, consumidores e empresá- restrições de emissões de GEE como, por
rios sobre o tema Mudanças Climáticas. O exemplo, a instituição da Política Nacio-
controle das emissões de gases de efeito nal sobre Mudança do Clima (PNMC) que
estufa não é uma questão meramente visa, sobretudo, à redução das emissões
ambiental imposta por atos regulatórios antrópicas de GEE em relação às suas di-
ou pressões sociais, também é uma ques- ferentes fontes.
tão imposta por pressões do mercado
que demanda redefinição de estratégias Da mesma forma, empresas com atuação
corporativas a médio e longo prazos. global já são afetadas fortemente pelos
desdobramentos das Mudanças Climáti-
Este item, de fato, entrou na agenda cor- cas, tanto do lado da oferta/demanda de
porativa para se tornar um dos mais im- seus produtos no comércio internacional
portantes fatores que afetam o ambiente como pela expansão geográfica dos seus
de suas operações. No Brasil, isso pode negócios. Também observa-se que as

59
6
Justificativa para a inserção da variável clima
no planejamento estratégico das empresas

empresas já se movimentam em direção ao tema como, por exemplo, o lançamento, em 2009, da Carta
Aberta ao Brasil sobre Mudanças Climáticas. Esse documento apresenta compromissos voluntários das
empresas signatárias (grandes empresas brasileiras26) voltados para esforços de redução dos impactos
das Mudanças Climáticas.

Paralelamente, medidas já vem sendo criadas em território nacional com o objetivo de, sobretudo,
avaliar o grau de comprometimento das empresas com as questões das Mudanças Climáticas. Dentre
as medidas já desenvolvidas, destacam-se o Índice Carbono Eficiente e o Índice de Sustentabilidade
Empresarial, que foram abordados nas seções anteriores deste Relatório. Similarmente, cada vez mais,
investidores estão começando a levar essa variável em consideração em suas decisões de investimento
e estão destinando recursos às empresas que integram completamente a variável clima nas suas estra-
tégias de negócios, cultura e operações como um meio de gestão de riscos, corte de custos e maximi-
zação das receitas.

Diversos são os benefícios oriundos da inserção do tema Mudanças Climáticas na estratégia corpora-
tiva das empresas. A tendência mundial é que empresas inovadoras e grandes corporações busquem
o desenvolvimento de estratégias com foco na proteção de seu valor por meio da mitigação de riscos
associados às Mudanças Climáticas e seus custos, vulnerabilidades e regulamentações. Paralelamente,
estratégias serão desenvolvidas para elevar o valor das empresas, aproveitando oportunidades emer-
gentes do engajamento mundial às questões ligadas às Mudanças Climáticas.

Nesse contexto de transformação para uma economia mundial de baixo carbono, tão logo as empre-
sas começarem a investir e a aproveitar as oportunidades associadas às Mudanças Climáticas, maiores
serão os ganhos nessa nova economia que se consolida a ritmo acelerado. E, dessa forma, o tema Mu-
danças Climáticas e Gestão Estratégica de Carbono deve estar cada vez mais inserido no modelo de
negócios das empresas.

Segundo Kolk & Pinkse (2004)27, o efeito da mudança climática sobre as empresas dependerá, princi-
palmente, do nicho de mercado em que estão inseridas. De um modo geral, empresas estão expostas
a riscos que são associados, principalmente, ao grau de dependência de combustíveis fósseis em seus
produtos e processos produtivos. A tendência é que mudanças sejam realizadas na produção, em espe-
cial no desenvolvimento de produtos e processos, de logística e de gestão da qualidade.

Já se pode observar a inserção das questões das Mudanças Climáticas no processo de inovação e busca
por tecnologias mais limpas de empresas do setor industrial (e.g. papel & celulose, mineração, petróleo
& gás, energia elétrica, siderurgia) nos mercados internacional e nacional. Instituições do setor financei-
ro também já demonstram nítida preocupação com o tema, evidenciada pela criação de indicadores de
emissão de GEE em seus processos de tomada de decisão sobre os investimentos.

26 Vale; Grupo Pão de Açúcar – Companhia Brasileira de Distribuição; Suzano Papel e Celulose; Vorantim Industrial; Fibria; Grupo Advento; Light; Na-
tura Cosméticos; CPFL Energia; Camargo Corrêa; Andrade Gutierrez; Construtora OAS; Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM);
Coamo Agroindustrial Cooperativa; Polimix Concreto; Aflopar Participações; Estre Ambiental; Odebrecht Engenharia e Construção; Grupo Orsa;
Samarco Mineração; Nutrimental; Walmart Brasil; Carrefour; Alcoa; Agropalma; Banco Bradesco; Amata.
27 KOLK, A.; PINKSE, J. Market strategies for climate change. European Management Journal, v. 22, n. 3, p. 304-314, 2004

60
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
Nesse sentido, a importância do tema para as empresas não reside apenas na preocupação em quan-
tificar as emissões de GEE e em estabelecer metas de sua redução, mas também na conscientização da
real necessidade de sua inclusão como variável crítica no modelo de negócios e na condução de uma
estratégia de ação a longo prazo.

Os fatores condicionantes à inclusão das questões das Mudanças Climáticas nos negócios consistem
nas oportunidades e nos riscos cuja natureza depende das seguintes dimensões: social, econômica,
política/institucional e técnica/tecnológica (Figura 9). Essas dimensões são interdependentes e com-
preendem as motivações que nortearão o planejamento estratégico e os planos de ações ligados à
nova economia de baixo carbono.

Figura 4 - Dimensões dos riscos e das oportunidades

Economia

Técnica Oportunidades Social


e riscos

Institucional

Nas seções 6.1 e 6.2 serão abordados tais oportunidades e riscos.

6.1 Riscos
Seja a partir de uma perspectiva científica, política ou econômica, as preocupações crescentes sobre o
consumo de combustíveis fósseis, outras atividades antrópicas, assim como seus efeitos sobre o siste-
ma climático global começaram a remodelar o ambiente de negócio onde as empresas operam.

I. O aumento da concentração de GEE na atmosfera pode ter como efeitos: mudanças nos padrões
de precipitação, secas extremas, derretimento do permafrost e outros glaciares, aumento de inun-
dações, aumento do nível do mar e outras mudanças que podem aftear ativos físicos de coropora-
ções, a cadeia de suprimentos ou a estrutura do negócio.

61
6
Justificativa para a inserção da variável clima
no planejamento estratégico das empresas

II. Os formuladores de políticas em todos os níveis de governo - global, nacional, estadual e local -
estão agindo na direção de limitar os níveis de emissões de GEE e encorajar a nova economia de
baixo carbono, ambos os quais podem ter repercussões significativas nas operações, nos ativos
fixos, na competitividade e na imagem de empresas carbono-intensivas.

III. Muitas corporações e investidores estão se movendo em direção à nova economia de baixo car-
bono em pelo menos algum aspecto das suas estratégias de negócio como, por exemplo, prote-
gendo contra algum tipo de responsabilidade legal ou dano físico, planejando novas fontes de
combustíveis, caso alguma legislação seja promulgada ou, em alguns casos, planejando respostas
a mudanças nas preferências dos consumidores e legislação, através do desenvolvimento de novas
tecnologias, produtos e serviços.

Essas mudanças podem estar criando um ambiente de novos riscos emergentes associados às Mudan-
ças Climáticas e que terão efeitos significativos na esfera empresarial. Podem-se distinguir diversos ti-
pos de riscos para os negócios incluindo, inter alia, riscos físicos, riscos regulatórios, riscos de reputação,
riscos competitivos e todos esses riscos levam ao risco financeiro (Quadro 16).

Quadro 16 - Riscos
• Físicos • Reputação
• Regulatórios • Competitivos

6.1.1 Riscos Físicos


As empresas, possivelmente, se depararão com os impactos físicos causados pelas Mudanças Climá-
ticas. Os riscos se devem ao fato do aumento de eventos climáticos extremos, como fortes tempes-
tades (incluindo furacões, tornados, tufões, entre outros) e inundações, devido a intensas precipita-
ções em algumas regiões. O número e a intensidade das secas, ondas de calor e incêndios florestais
também aumentarão.

A exposição das corporações perante tais riscos varia de acordo com a região de operação. Ativos físi-
cos, como instalações de produção, plantas industriais, escritórios que estiverem localizados no litoral,
estarão mais expostos às ameaças de tempestades extremas.

As empresas também deverão que estar preparadas para os riscos físicos de médio e longo prazos. Isso
inclui variações na disponibilidade de água e matérias-primas, mudanças nos padrões de precipitação
e aumento do nível do mar. As implicações desses riscos para as corporações nem sempre são óbvias.
As consequências mais aparentes são danos às instalação físicas, devido à eventos extremos, e aumen-
to no preço dos seguros. Os riscos menos óbvios incluem impactos na mão de obra, como por exemplo,
aumento de doenças tropicais, mudança da localização das instalações de produção, mudanças na
logística de transporte e distribuição de produtos e serviços, aumento do preço de commodities.

62
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
Enquanto as empresas estarão asseguradas contra alguns desses riscos, outros riscos podem surgir e
afetar as corporações. A melhor forma de estar preparado para estes riscos é avaliar qual é o grau de
exposição da empresa e planejar medidas de adaptação.

No Brasil, segundo dados do CDP Brasil 2009, das 62 empresas que responderam ao questionário 73%
enxergam que há riscos físicos às suas operações, logística e instalações.

6.1.2 Riscos Regulatórios


As alterações climáticas estão sendo cada vez mais vistas como uma grave falha de mercado que deve
ser corrigida por algum tipo de intervenção governamental. Como resultado, legisladores de todas as
partes do mundo estão introduzindo regulamentações para tentar corrigir essa falha. Em princípio, as
regulamentações podem ser divididas em dois tipos, conforme apresentado no Quadro 17.

Quadro 17 - Tipos de Regulamentação


• Legislações tradicionais, como permissões, limites de emissões e requerimentos de eficiência energética para
produtos e processos; e
• Regulações baseadas em mercados, como taxas sobre o carbono, esquemas de comércio de emissões,
impostos sobre produtos e serviços carbono-intensivos

Os dois tipos regulatórios estão sendo preparados e implementados cada vez mais, tanto no ambiente
internacional, quanto no nacional e estadual.

Os riscos regulatórios são mais pronunciados na Europa, onde o EU ETS entrou em operação em 2005,
com mais de 6.000 empresas de diversos setores encarando metas de redução de emissões mandató-
rias e rigorosas sanções por descumprimento. Nos Estados Unidos, um crescente número de empresas
acredita que algum tipo de restrição de emissões será implementado a nível federal dentro de pouco
tempo.

No Brasil, como visto na seção 3, em nível federal, as empresas ainda não se deparam com metas de
redução de emissões ou mecanismos de punição para o não cumprimento da legislação, as iniciativas
do governo brasileiro são voluntárias. Entretanto, com o novo acordo internacional para ser aprovado e
com as pressões de países desenvolvidos para que países em desenvolvimento, como o Brasil, tenham
metas de redução mandatórias, o governo brasileiro poderá começar a implementar regulamentações
mandatórias, com metas de redução, taxas sobre produtos, entre outros.

No nível estadual percebe-se um movimento intensivo em direção a criação de legislações com metas
obrigatórias de redução, como é o caso do estado de São Paulo. Além disso, muitos Estados brasileiros
querem implementar algum tipo de esquema de comércio de emissões.

No CDP Brasil 2009, cerca de 60% das empresas que responderam ao questionário enxergam algum
tipo de risco regulatório

63
6
Justificativa para a inserção da variável clima
no planejamento estratégico das empresas

6.1.3 Riscos Reputacionais e Competitivos


De acordo com o estudo Brand Value At Risk, produzido pelo Carbon Trust, as Mudanças Climáticas se
tornarão extremamente importantes nas preocupações dos consumidores nos próximos anos. Pesqui-
sas mais recentes mostram que, em países como a Inglaterra, os consumidores estão prestando mais
atenção ao comportamento das empresas com relação as suas iniciativas para combater as Mudanças
Climáticas. Dessa forma, as empresas estão correndo o risco de perder a confiança dos consumidores
e consequentemente ver a marca da sua empresa perdendo valor. Além desse fato, as corporações
podem perder reputação com outros stakeholders, como por exemplo, o setor financeiro, governo, em-
pregados e a mídia.

Uma empresa que faça melhor a gestão de todos os riscos descritos anteriormente - físicos, regulatório,
de reputação - que outras no seu setor pode ganhar uma vantagem competitiva. Por exemplo, se uma
empresa inicia com esforços contundentes para reduzir o consumo de energia e diminuir a intensidade
de carbono nos seus produtos, isso pode significar:
• Redução nos custos de energia, de matéria prima e operações,
• Descoberta de novos processos mais eficientes,
• Desenvolvimento e novos produtos,
• Aumento da confiança dos stakeholders,
• Projeção de uma imagem positiva.

Dessa forma, empresas que ignorarem os riscos impostos pelas Mudanças Climáticas poderão arcar
com maiores custos de energia, menor eficiência de produção devido, principalmente, ao uso de tecno-
logias ultrapassadas, com a pressão por parte dos stakeholders, e ser rotulado com uma empresa “suja”.

Todos esses fatos levariam a uma diminuição da competitividade da empresa com relação àquelas que
estão enfrentando as Mudanças Climáticas com seriedade, dentro das suas estratégias de negócios.

6.1.4 Riscos Financeiros


Os riscos financeiros surgem a partir do momento em que todos os outros riscos não são levados em
consideração no planejamento de uma corporação. Todos os outros riscos implicam, de alguma forma,
em custos adicionais para as empresas. Os custos com os outros riscos são:
• Riscos físicos: incorrem em custos devido ao reparo de estruturas danificadas por eventos climáticos
extremos, custos com o aumento dos seguros e resseguros, aumento dos preços de commodities;
• Riscos regulatórios: implicam em custos devido ao pagamento de taxas e impostos sobre produtos
e serviços carbono-intensivo, pagamento de multas caso as metas mandatórias de redução não
sejam alcançadas;
• Riscos reputacionais e competitivos: levam a custos pela perda da fatia de mercado, menor acesso
a fontes de capital, perda do valor da marca.

64
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
Alguns desses riscos são difíceis de serem incorporados no balanço financeiro da empresa, como por
exemplo, a perda de valor da marca. Entretanto outros podem ser incorporados, se uma minuciosa
análise de riscos for feita, de modo a evidenciar mais claramente que as empresas irão se deparar com
esses riscos em um futuro próximo.

6.2 Oportunidades
A preocupação com a mitigação das emissões de GEE representa uma transição de mercado: uma tran-
sição não parecida com aquelas ocorridas no passado, que foram impulsionadas pelas modificações
nas necessidades/preferências dos consumidores e/ou pelos avanços tecnológicos. Novas oportunida-
des estão emergindo, associadas ao processo de transição de uma economia intensiva em energia para
uma nova economia de baixo carbono, caracterizada por um ambiente fundamentado em processos
produtivos mais eficientes e adoção de tecnologias menos intensivas em combustíveis fósseis.

Nesse novo contexto, o bom desempenho da empresa não se associa à sua capacidade produtiva, de
inovação e participação no mercado. Elementos de sucesso, como diferencial de preço, qualidade e
fidelidade à marca podem ser impactados pelo não engajamento no tema Mudanças Climáticas. Por-
tanto, dentre os principais fatores condicionantes da necessidade de engajamento das empresas em
relação à nova economia, destacam-se: a continuidade de sua própria existência no mercado nacional
e internacional, obtenção de vantagem competitiva frente a seus concorrentes e a melhoria de sua ima-
gem. Estes fatores são associados à pressão crescente dos investidores, acionistas, das ONGs, governo
e dos consumidores.

As oportunidades para empresas são provenientes do aproveitamento de externalidades relacionadas


à nova economia de baixo carbono, resultando em vantagens competitivas devido à: economia de
custos, geração de novas receitas, maior facilidade a créditos e acesso a programas de financiamento
diferenciado.

O Quadro 18 apresenta as principais oportunidades provenientes do engajamento das empresas em


direção às ações de mitigação de emissão de GEE, que pode resultar em benefícios econômicos.

Na interface entre as dimensões econômica e técnica/tecnológica, as iniciativas voltadas para redu-


ção das emissões de GEE, geralmente, resultam em oportunidade de aperfeiçoamento operacional
por meio de reciclagem ou reutilização, melhoria da eficiência de processos e produtos (e.g. eficiência
energética). Essas melhorias tendem a gerar redução nos custos de energia pela substituição das fontes
usualmente adotadas por fontes mais limpas e renováveis. Por exemplo, iniciativas de substituição de
combustíveis fósseis intensivos em carbono (e.g. óleo combustível) por combustíveis fósseis menos
intensivos (e.g. gás natural), ou resíduos de biomassa (e.g. borra de café, resíduos florestais, bagaço de
cana-de-açúcar), para geração de energia térmica em caldeiras de recuperação, além de gerar redução
de emissão de GEE, representam oportunidades de redução de custos da energia.

65
6
Justificativa para a inserção da variável clima
no planejamento estratégico das empresas
Quadro 18 - Benefícios Econômicos – Financeiros das Oportunidades
associadas às Mudanças Climáticas

Benefícios associados às dimensões social, econômico, político/institucional e técnicas/tecnológicas


Maior eficiência no uso de energia e insumos produtivos.
Otimização na utilização de insumos – e.g. reaproveitamento de resíduos no sistema
Economia de custos
produtivo.
Maior eficiência operacional e logística.
Inovação tecnológica na produção de bens ou prestação de serviços.
Aumento da venda de seus produtos devido às preferências e demandas dos consumidores
por produtos menos carbono intensivos.
Geração de novas receitas
Participação nos mercados internacionais de carbono, mandatório e voluntário que
apresentam ritmo de crescimento acelerado, através de comercialização das reduções de
emissões de GEE.
Aumento do valor das ações Melhoria da imagem.
Maior acesso às linhas de financiamento, sobretudo, a programas de crédito diferenciado
Maior acesso ao setor
voltados para empresas que apresentem iniciativas de baixa emissão de GEE, e.g. eficiência
financeiro
energética e energia renovável.
Melhor gestão de recursos Criação de oportunidades de negócios, impulsionando planos de carreira, salários, entre
humanos outros aspectos.
Antecipação e influência sobre Atuação ativa com governos e setores econômicos para acompanhamento e contribuição
as futuras regulamentações. na formulação de regulamentações para o enfrentamento das Mudanças Climáticas.
Fonte: ICF

Ademais, empresas engajadas na mitigação das emissões de GEE também podem gerar inovações por
meio do desenvolvimento de novas tecnologias/produtos/processos em seu setor que podem possi-
bilitar, sobretudo, o acesso a novos mercados. Nesse contexto, Hoffman (2005)28 afirma que o engaja-
mento das empresas nesse tema pode propiciar à organização acesso a uma série de fontes de dados,
informantes, novas tendências e regulamentações até então desconhecidas. Tal acesso pode propor-
cionar a essas empresas a exploração de novas oportunidades em mercados, cujo sucesso associa-se ao
pioneirismo da estratégia de marketing e de gestão corporativa concernentes às Mudanças Climáticas.

Deve ser ressaltado também que a implementação de iniciativas de reduções de emissões de GEE pode
gerar benefícios financeiros às empresas provenientes da comercialização dessas reduções no merca-
do internacional de carbono. Este mercado teve significativa expansão nos últimos anos e atingiu, em
2008, valores superiores a US$ 126 bilhões, o dobro do valor negociado em 200729. A crise econômica
global impactou negativamente tanto o lado da demanda quanto a oferta. Entretanto, o mercado ain-
da cresceu, mesmo que a uma taxa significativamente menor a do ano anterior. O valor negociado no
ano de 2009 foi de US$ 144 bilhões (6% maior que o valor negociado em 2008). Ressalta-se que, neste
mesmo período, o PIB mundial recuou 0,6%.

28 HOFFMAN, A. J. Climate change strategy: the business logic behind voluntary greenhouse gas reduction. California Management Review, v. 47, n.
3, p. 21-46, 2005.
29 BANCO MUNDIAL. State and Trends of Carbon Market. 2010. Disponível em: <http://siteresources.worldbank.org/INTCARBONFINANCE/ Resour-
ces/State_and_ Trends_of_the_Carbon_Market_2010_low_res.pdf>

66
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
O mercado internacional de carbono foi inicialmente impulsionado pelo Protocolo de Quioto, por meio
do qual metas de redução de emissões de GEE foram estabelecidas para diversos países signatários30.
No caso de países em desenvolvimento, metas não foram estabelecidas e sua participação se dá pelo
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

O MDL estabelece que projetos localizados nesses países estejam habilitados a “vender” suas reduções
de emissões de GEE a países (e empresas) sujeitos a metas de redução de emissões de GEE, de modo a
contribuir para o cumprimento dessas metas. Os créditos de carbono gerados pelo MDL são transacio-
nados em unidades denominadas RECs (Reduções de Emissões Certificadas), sendo cada unidade de
REC igual a uma tonelada métrica de dióxido de carbono equivalente. O MDL movimentou, em 2009,
cerca de US$ 2,7 bilhões.

Outro importante mercado que compõe o mercado internacional de carbono é o mercado voluntário.
Este mercado foi criado por uma demanda voluntária de redução de emissões por parte de organizações
interessadas em reduzir e/ou compensar suas emissões de GEE. Em 2009, o valor associado aos créditos
de carbono transacionados no mercado voluntário foram de, aproximadamente, US$ 387 milhões.

Mesmo que algumas iniciativas não sejam bem sucedidas no mercado internacional de carbono, estas
representam oportunidades para empresas à medida que propiciam sua preparação para o cenário de
uma economia de baixo carbono.

No que tange ao acesso a recursos financeiros, instituições financeiras já estão incluindo a variável
Mudanças Climáticas como elemento de due diligence para a concessão de financiamentos. Também já
estão desenvolvendo programas de crédito diferenciado para empresas que apresentem iniciativas de
baixa emissão, e.g. eficiência energética e energia renovável. Nesse sentido, iniciativas de mitigação de
emissões de GEE podem propiciar às empresas oportunidades de acesso a fontes de recursos financei-
ros diferenciados.

Uma ilustração dessas oportunidades é a linha de financiamento Economia Verde, criada pela Agência
de Desenvolvimento Paulista – Nossa Caixa Desenvolvimento, que disponibiliza recursos com taxas
de juros e prazos diferenciados de financiamento a projetos de pequenas e médias empresas que pro-
porcionem reduções de emissões de GEE. O objetivo desta linha é financiar projetos de redução das
emissões conforme as metas estabelecidas pela Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC) e
contempla projetos nos seguintes segmentos: agroindústria, mudança de combustível, saneamento,
tratamento e aproveitamento de resíduos, energias renováveis, eficiência energética, transporte, pro-
cessos industriais, recuperação florestal, manejo de resíduos e construção civil. O crédito também é
voltado para a elaboração de inventários de emissões de GEE e projetos de MDL. O Quadro 19 destaca
os principais projetos por segmento.

30 Alemanha / Austrália / Áustria / Belarus * / Bélgica / Bulgária * / Canadá / Comunidade Européia / Croácia * / Dinamarca Eslováquia * / Eslovênia *
/ Espanha / Estados Unidos da América / Estônia * / Federação Russa * / Finlândia / França / Grécia / Hungria * / Irlanda / Islândia / Itália / Japão /
Letônia * / Liechtenstein / Lituânia * / Luxemburgo / Mônaco / Noruega / Nova Zelândia / Países Baixos / Polônia * / Portugal / Reino Unido da Grã-
-Bretanha e Irlanda do Norte / República Tcheca * / Romênia / Suécia / Suíça / Turquia / Ucrânia *
* Países em processo de transição para uma economia de mercado.

67
6
Justificativa para a inserção da variável clima
no planejamento estratégico das empresas
Quadro 19 - Projetos de Redução de Emissão previstos na Linha de
Financiamento Economia Verde
Linha de Financiamento Economia Verde
Segmento Tipos de Projetos
Substituição ou adaptação de equipamentos movidos a diesel por biodiesel, a gasolina por etanol, a
Agroindústria óleo por gás natural e a GLP por biogás;
Instalação de biodigestores para tratamento de resíduos que realizem o aproveitamento energético.
Saneamento, Adaptação de geração de energia elétrica ou térmica com biogás de aterro;
Tratamento e
Sistemas de tratamento de esgoto para processos anaeróbios com recuperação e queima do metano;
Aproveitamento de
resíduos Instalação de centrais de reciclagem de resíduos.
Mudança de Substituição de fontes de energia não renováveis por fontes renováveis; substituição dos combustíveis:
combustíveis carvão por gás natural; carvão por óleo; óleo por eletricidade; óleo por gás natural.
Compra e instalação de equipamentos para produção de energia renovável (e.g. placas solares,
Energias Renováveis aerogeradores, caldeiras a biomassa, equipamentos para pequena central hidrelétrica, biogás de
aterro).
Redução de perdas na produção e transmissão de energia elétrica;
Isolamento de tubulações;
Eficiência energética Sistemas de recuperação de calor;
Instalação de equipamentos que reduzam o consumo energético;
Melhoria de sistema de iluminação e refrigeração.
Troca combustível fóssil para combustível mais limpo para transportes públicos e privados (e.g. gás
natural, biodiesel, etanol, eletricidade);
Transporte
Renovação de frota de caminhões;
Troca de combustível da frota de ônibus de diesel para biodiesel, etanol ou elétrico.
Equipamentos e modos de produção que reduzam o uso e a geração de CFCs, HFCs, HCFCs, PFCs,
Processos Industriais SF6;
Retrofit de equipamentos de refrigeração, substituição de gases na produção, redução de perdas.
Recuperação Criação e recuperação de áreas verdes por aflorestamento ou reflorestamento com espécies nativas;
florestal em áreas recomposição de matas ciliares e nascentes com espécies nativas;
urbanas e rurais Reflorestamentos para compensação de emissões.
Queima de biogás em aterros;
Geração de energia a partir de resíduos;
Combustão de resíduos orgânicos;
Manejo de resíduos Gaseificação de resíduos; aeração de aterro;
Redução de geração de resíduos na fonte;
Tratamento de esgoto doméstico, industrial e de resíduos rurais;
Compostagem para produção de adubo; reciclagem.
Edificações com parâmetros de construção civil sustentável - reuso de água, eficiência energética;
Construção Civil
Retrofit de edifícios existentes.
Fonte: Nossa Caixa Desenvolvimento31.

31 Disponível em: <http://www.nossacaixadesenvolvimento.com.br/portal.php/linhas-financiamento>. Acesso em: 7 set. 2010.

68
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
Também se destacam os inúmeros fundos de investimento que estão sendo criados para financiar e
participar em empreendimentos de baixo carbono, como é o caso do Fundo Brasil Sustentabilidade
(FBS), implementado pelo BNDES. Segundo informações disponibilizadas no webiste do Banco, o capi-
tal comprometido do Fundo é de R$410 milhões e os seus investimentos serão destinados a projetos do
MDL. O Fundo tem prazo de duração de oito anos, prorrogável por até dois anos. O período de investi-
mento é de quatro anos, podendo ser estendido por até um ano.

A política de investimento do Fundo Brasil sustentabilidade terá como foco empresas com atividades
associadas a projetos com potencial de geração de Redução Certificadas de Emissões no âmbito do
MDL, tal como previsto no Protocolo de Quioto. Entre as características inéditas do novo fundo, des-
taca-se a vinculação entre a Taxa de Performance do Fundo e o sucesso na obtenção de créditos de
carbono pelas empresas associadas.

Finalmente, na dimensão econômica, o engajamento das empresas voltado para as questões das mu-
danças do clima e divulgação de suas iniciativas de mitigação podem também proporcionar melhoria
de reputação, imagem, conhecimento e propagação da marca/produtos.

Na interface entre as dimensões política/institucional e econômico-financeira, destacam-se oportuni-


dades associadas à antecipação e influência sobre futuras regulamentações nacionais voltadas para
as Mudanças Climáticas. A adequação a padrões globais de emissão de GEE permite que a empresa
opere e disponibilize globalmente produtos sem restrições. Empresas engajadas em ações relaciona-
das às Mudanças Climáticas poderão assumir um papel de liderança no seu setor, na medida em que
poderão exercer influência na formulação de regulamentações e políticas públicas sobre as restrições/
mitigações de emissões de GEE. E, dessa forma, criar um novo ambiente competitivo que favoreça seus
comportamentos e práticas ainda não adotados pela concorrência.

No que concerne à dimensão social, Hoffman (2005) aponta que o engajamento das empresas nas
questões referentes às Mudanças Climáticas pode impulsionar a empresa na liderança de processos
de inovação e criação de oportunidades de negócios, de modo a fomentar planos de carreira, salários,
benéficos, confiança e desempenho superior de seus funcionários.

69
7

Conclusões

É inequívoca a afirmação que as Mudan- Resumem-se, a seguir, alguns dos princi-


ças Climáticas afetam e afetarão cada vez pais drivers que justificam a inserção da
mais o ambiente de negócios, no Brasil e variável climática na gestão estratégica
no mundo, apresentando riscos e opor- das indústrias brasileiras:
tunidades às diversas atividades, nota- • Regulamentações nacionais e inter-
damente a industrial. Ao mesmo tem- nacionais relacionadas ao clima
po, a compreensão do real impacto que • Pressão dos consumidores/desen-
as mudanças rumo a uma economia de volvimento de novos mercados/dife-
baixo carbono terão sobre as atividades renciação de produtos
industriais no Brasil, assim como a avalia-
• Vulnerabilidade aos impactos físicos
ção das melhores estratégias de ação, de-
• Acesso ao financiamento internacio-
verão minimizar os impactos negativos e
nal por meio do carbon finance
potencializar os positivos, isso tudo torna
essencial a inclusão da variável climática • Melhoria na gestão operacional/ob-
no planejamento estratégico das indús- tenção de economia de custos
trias brasileiras, contemplando o médio e • Reputação
longo prazos. • Acesso a novas tecnologias
71
7
Conclusões

Como pôde ser visto ao longo do Relatório, existem inúmeras iniciativas, tanto por parte do setor públi-
co, como por parte do setor privado, cujo principal objetivo é orientar e incentivar empresas a tomarem
medidas para enfrentar as Mudanças Climáticas.

No Brasil, essas iniciativas ainda não permearam totalmente o ambiente corporativo, apenas algumas
empresas estão, de fato, adotando iniciativas como, por exemplo, Empresas Pelo Clima, contundentes
para combater as Mudanças Climáticas. Para que essas ações entrem no mundo dos negócios, inicia-
tivas como as Empresas pelo Clima, devem cada vez mais ser divulgadas e receber apoio de órgãos
importantes para ganhar maior visibilidade.

No tocante às ações públicas, o Governo Federal vem adotando medidas para a redução das emissões
brasileiras. Mesmo que voluntárias, estas medidas, em sintonia com a pressão por parte dos países
desenvolvidos, catalisarão a redução de emissões de GEE nos mais diversos setores dos países em de-
senvolvimento. Este efeito será notado, sobremaneira, no setor industrial.

O futuro reserva às empresas um aprofundamento e ampliação (em termos de impacto e abrangência)


dos tópicos tratados neste Relatório, o que reafirma a necessidade da inserção da variável clima no
planejamento estratégico de carbono da indústria nacional.

72
Gestão de Riscos e Oportunidades
Corporativas na Nova Economia de Baixo Carbono
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WORLD STEEL ASSOCIATION (WSA). A Global Approach to CO2 Emissions Reduction for the Steel
Industry. 2008.

75
CNI

DIRETORIA EXECUTIVA – DIREX


José Augusto Coelho Fernandes
Diretor

Carlos Eduardo Abijaodi


Diretor de Operações

Heloísa Regina Guimarães de Menezes


Diretora de Relações Institucionais

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Núcleo de Editoração - CNI


Supervisão gráfica

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