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GUIA TÉCNICO

MÚLTIPLOS
BENEFÍCIOS DA
EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA
NA INDÚSTRIA
03/2022
CRÉDITOS
Como empresa federal de utilidade pública, a Deutsche Gesellschaft für
Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH apoia o Governo Federal da
Alemanha em seus objetivos na área de cooperação internacional. O foco
do trabalho da GIZ no Brasil são as energias renováveis e a eficiência
energética, a proteção e o uso sustentável das florestas tropicais, além de
temas como formação técnica, transformação urbana e oportunidades de
financiamento para investimentos em prol do clima.

Publicado por:
Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH

Sede social
Bonn e Eschborn, Alemanha

Endereço
GIZ Agência Brasília 70711-902 - Brasília/DF - Brasil

T +55 61 2101-2170
E giz-brasilien@giz.de
I www.giz.de/en/worldwide/12055.html

Coordenação:
Marcos Schiewe (GIZ), Carolyna Crepaldi (GIZ)

Autores e Equipe Técnical:


Autores: Marcelo Dias e Hamilton Ortiz, Hamilton Ortiz, Giovana Gonçalves,
Madson Batista, Marcelo Dias, Rafael Katsurayama, Victor Branco da Luz,
Ana Beatriz Santos, Pedro Henrique Gomes, Sabrina Oliveira.

Design/layout, etc.:
Yara Baylão

Crédito das fotos/fontes:


Segundo indicado

Programa PotencializEE:
www.programa-potencializee.com.br
contato@programa-potencializee.com.br

Mapas:
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Março de 2022

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escrito da GIZ.
SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS 03
LISTA DE FIGURAS 03
LISTA DE SIGLAS 03
RESUMO EXECUTIVO 04
1. INTRODUÇÃO 06
2. CLASSIFICAÇÃO DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS 10
2.1 Benefícios de produtividade 12
2.2 Benefícios de Operação e Manutenção 12
2.3 Benefícios no ambiente de trabalho 13
2.4 Benefícios ao meio-ambiente 14
2.5 Benefícios com relação a competitividade 15
3. INCENTIVOS E BARREIRAS À IMPLEMENTAÇÃO DE PROJETOS DE EE 16
4. PASSOS PARA AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE EE SOB A ÓTICA DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS 20
4.1 Análise da empresa 22
4.2 Análise de Energia e Operações 22
4.3 Análise de impactos estratégicos 24
4.4 Análise de impactos financeiros 24
4.5 Apresentação de resultados 25
5. ESTUDOS DE CASO 26
5.1 Mudanças no sistema de montagem e substituição de compressores de palhetas por
compressores de parafuso mais eficientes, na empresa Lafarge Cement 27
5.2 Alteração no fornecimento de água quente para fresadoras 28
5.3 Substituição de Retificadores de corrente na empresa First Industries, na Suíça 33
6. CONCLUSÕES 36
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 37
LISTAS

LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Classificação dos múltiplos benefícios. 11
Tabela 2: Classificação dos benefícios quanto a facilidade de se quantificar e o prazo. Fonte: Rasmussen [11] 18
Tabela 3: Economias relacionadas a medidas de EE na empresa Lafarge. Fonte: Lilly e Pearson 28
Tabela 4: Descrição da economia total esperada do projeto 32
Tabela 5: Indicadores financeiros do projeto de substituição de retificadores, sem BNE's e com BNE's. 34

LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Ferramenta para avaliar um investimento em termos estratégicos. Fonte: Cooreman [3] 19
Figura 2: Esquema de análise de investimento em EE. Fonte: Multiple Benefits of Energy Efficiency [1] 21
Figura 3: Esquema do processo do estudo de casos 6.2. Fonte: 29
https://www.mbenefits.eu/news-resources/library/industrial-high-precision-mechanical-example/ (acessado em 16/12/2021)
Figura 4: Medida de Eficiência Energética proposta no estudo de caso. Fonte: 31
https://www.mbenefits.eu/news-resources/library/industrial-high-precision-mechanical-example/ (acessado em 16/12/2021)

LISTA DE SIGLAS
ASD Automatic Shutdown Relay (Relé de Desligamento Automático) O&M Operação e Manutenção
BNE Benefícios Não Energéticos ME Micro Empresa
EE Eficiência Energética MME Ministério de Minas e Energia
EPP Empresa de Pequeno Porte OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
EPI Equipamento de Proteção Individual PEE Programa de Eficiência Energética
GEE Gases de Efeito Estufa PME Pequenas e Médias Empresas
IEA Agência Internacional da Energia (International Energy Agency, em inglês) TIR Taxa Interna de Retorno
KPI Indicadores Chave de Desempenho (Key Performance Indicators, em inglês) VPL Valor Presente Líquido
RESUMO
EXECUTIVO
RESUMO EXECUTIVO

O PotencializEE – Programa Investimentos redução de emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa),


Transformadores de Eficiência Energética na Indústria contribuindo para o combate às mudanças climáticas.
– tem o intuito de promover Eficiência Energética em Este Guia faz parte das atividades do PotencializEE em
PMEs (Pequenas e Médias Empresas) industriais. A relação à conscientização e disseminação. A publicação
implementação tem foco na região de São Paulo, visa apoiar na identificação e quantificação de múltiplos
considerando a maior concentração de indústrias e os benefícios que podem ser obtidos através da adoção de
altos índices de consumo de energia, e contará com medidas de eficiência energética na indústria.
estratégias a fim de alavancar os potenciais de A eficiência energética normalmente é associada apenas
Eficiência Energética na Indústria em nível nacional. à economia de custos que se obtém ao se gastar menos
O PotencializEE é um Programa de Cooperação dinheiro com energia, seja ela elétrica, térmica ou outras
Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, relacionadas. No entanto, uma série de outros benefícios
liderado pelo MME (Ministério de Minas e Energia) e existem como decorrência da implementação de
coordenado por meio da GIZ (Deutsche Gesellschaft medidas de eficiência energética na indústria e
für Internationale Zusammenarbeit), Agência Alemã de promovem ganhos tanto tangíveis e mensuráveis, como
Cooperação Internacional. O PotencializEE conta com intangíveis que contribuem para a organização
recursos do Ministério Alemão do Meio Ambiente, indiretamente.
Conservação da Natureza e Segurança Nuclear da Dentre estes benefícios, é possível incluir, além da
Alemanha e da União Europeia. A iniciativa é uma redução de custos, ganhos de produtividade, melhorias no
contribuição das duas instituições para a NAMA Facility, ambiente de trabalho, melhorias da imagem corporativa,
um mecanismo de financiamento que tem como redução de emissões de poluentes, melhoria na qualidade dos
objetivo ajudar países em desenvolvimento e produtos e melhoria nos indicadores chave (KPIs – Key
economias emergentes em seus esforços em direção à Performance Indicators).

05
RESUMO EXECUTIVO

Nos próximos capítulos, serão desmistificados alguns mais ampla a respeito destes benefícios, bem como
destes ganhos, de modo a fornecer uma metodologia de apresentar uma metodologia de análise de
análise sistemática dos múltiplos benefícios de medidas investimentos em eficiência energética e maneiras de
de eficiência energética. No capítulo 1, é feita uma breve quantificar alguns destes benefícios. Também serão
introdução sobre medidas de eficiência energética na apresentados alguns estudos de caso, para mostrar
indústria e seus benefícios. O capítulo 2 apresenta uma como a consideração destes ganhos muda
classificação dos múltiplos benefícios em 6 diferentes significativamente a avaliação de investimentos em
categorias. O capítulo 3 apresenta alguns incentivos e medidas de EE (eficiência energética).
barreiras encontrados em estudos de caso na indústria,
para implementação de programas de eficiência
energética. O capítulo 4 apresenta uma metodologia
passo a passo para a avaliação de projetos de eficiência
energética. O capítulo 5 apresenta alguns estudos de
caso publicamente divulgados sobre implementação de
medidas de eficiência energética e os múltiplos
benefícios em decorrência destas medidas.
Ao não se considerar todos os benefícios envolvidos na
implementação de medidas de eficiência energética, o
gestor pode ser induzido a erros na tomada de decisão,
deixando de fazer um investimento que seria bastante
rentável e benéfico para a organização.
Assim, espera-se, neste trabalho, fornecer uma visão

06
1
INTRODUÇÃO
1- INTRODUÇÃO

A eficiência energética frequentemente é relacionada economia de energia e o tempo cai para 1,9 anos ao
apenas à redução de custos com energia. No entanto, serem considerados e quantificados todos os
existem uma série de outros benefícios que vêm como benefícios, sendo os ganhos não energéticos maiores
consequência da implementação de um plano de em 63% dos casos [16].
eficiência energética. A melhora do rendimento energético na indústria pode
A estimativa de quanto os benefícios não energéticos trazer melhor aproveitamento das instalações e
(BNE’s) representam em termos financeiros varia equipamentos elétricos, melhoria na qualidade do
bastante de acordo com o tipo de indústria e da produto, redução no consumo energético e aumento de
tecnologia utilizada na busca de melhoria de eficiência produtividade sem afetar a segurança e redução das
energética, mas existem estudos consistentes na despesas com eletricidade [4]. A avaliação dos
literatura que apuram números bastante significativos, benefícios de implementação de um programa de
onde alguns benefícios não relacionados diretamente eficiência energética é dada através de análises
com economia de energia representaram entre 20% e financeiras a respeito da estimativa do valor
50% do total de dinheiro economizado com um economizado pelo programa de eficiência energética
determinado projeto de melhoria [7]. Há casos em que [12]. Um exemplo é o cálculo da taxa interna de retorno
benefícios não relacionados à energia são ainda mais (TIR) de um investimento, através da estimativa do
relevantes, chegando a até 140% do valor da economia custo inicial e da expectativa de retorno financeiro ao
[10].
longo do tempo de vida do projeto, ou do cálculo do
A avaliação de investimentos de EE é distorcida se não
Valor Presente Líquido (VPL) de um investimento. Alguns
forem considerados os múltiplos benefícios. Em 2003,
uma avaliação de casos de medidas de EE na indústria cálculos feitos desta forma levam em conta benefícios
em países membros da OCDE identificou que o tempo adicionais, como o valor presente líquido do ganho de
de payback médio de intervenções de EE na indústria é produtividade que os investimentos em eficiência
4,2 anos, considerando apenas os benefícios em energética trazem para o processo industrial [8].

08
1- INTRODUÇÃO

Um relatório elaborado pela Confederação Nacional da eficiência energética, enquanto outros potenciais
Indústria [5], apresenta um estudo de caso de medidas benefícios ainda não fazem parte dos KPIs (Key
de eficiência energética em diversos setores, e é Performance Indicators) [6].
baseado no cálculo de custo da energia economizada, Diante da expressividade destes números obtidos, é
em R$/MWh, para comparar as alternativas de importante que se consiga identificar e quantificar
investimento. Para isso, é feita uma estimativa da possíveis benefícios adicionais advindos da
energia economizada, e o valor monetário é calculado implementação de projetos de eficiência energética, de
utilizando uma taxa de desconto de 12% ao ano, modo a fornecer uma visão sistemática que possa
estimando a vida útil do projeto em 10 anos, contribuir com a tomada de decisão a respeito destes
apresentando resultados bastante promissores para projetos.
diversos segmentos da indústria.
Ao se avaliar apenas o benefício financeiro em termos
de economia de energia de um investimento em
eficiência energética, pode-se estar negligenciando
outros benefícios fundamentais para o processo de
tomada de decisão. A falta de informação sobre
benefícios pode levar à perda de oportunidades
efetivas em termos de custo [15]. Gestores de energia
normalmente negligenciam a importância de benefícios
como a criação de valor e a mitigação de riscos ao
avaliar uma decisão de investimento em um projeto de

09
2
CLASSIFICAÇÃO
DOS MÚLTIPLOS
BENEFÍCIOS
2- CLASSIFICAÇÃO DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS

A respeito dos múltiplos benefícios dos programas de eficiência Para facilitar a compreensão destes aspectos de maneira
energética: qualitativa, os múltiplos benefícios são classificados em
Algumas tecnologias identificadas como eficientes em termos de categorias específicas. A Tabela 1 mostra um resumo das
energia por reduzir o consumo de energia acabam trazendo classificações destes benefícios, que serão descritos ao
vários benefícios adicionais ao processo de produção. Estas
melhorias, entre elas menores custos de manutenção, aumento longo deste capítulo, segundo uma metodologia de
de produtividade, condições de trabalho mais seguras e muitas trabalho da IEA[6].
outras, são referidas como benefícios de produtividade, ou
benefícios não relacionados a energia (Non-energy benefits).
Worrell et al. [16]
Tabela 1: Classificação dos múltiplos benefícios. Fonte: IEA[6]

CATEGORIA BENEFÍCIO INDICADOR

• Melhoria na capacidade produtiva • Tempo de Processamento/Custo de fatores de produção


PRODUTIVIDADE • Melhoria na qualidade dos produtos • Índice de Refugos e devoluções de consumidores
• Melhoria no valor dos produtos • Índice de satisfação dos clientes

OPERAÇÃO E • Operação Melhorada • Número de paradas por período


MANUTENÇÃO • Redução da necessidade de manutenção • Horas gastas em manutenção

AMBIENTE DE • Melhoria na qualidade do ambiente de trabalho • Índice de satisfação dos colaboradores


TRABALHO • Aumento na saúde e segurança dos colaboradores • Índice de afastamentos por acidente de trabalho

• Redução da emissão de poluentes • Emissões por período


• Redução de resíduos • Taxa de redução de resíduos
MEIO AMBIENTE
• Redução no desperdício de água • Consumo mensal de água
• Redução no uso de recursos naturais • Consumo de matéria prima por unidade de produto

• Capacidade de atingir novos mercados • Novos clientes


• Redução nos custos de produção • Custo unitário de produto
COMPETITIVIDADE • Redução nos riscos corporativos • Multas e despesas com processos
• Possibilidade de postergar investimentos em novos equipamentos • Vida útil de máquinas e equipamentos
• Melhoria na imagem e na reputação do negócio • Pesquisa de percepção sobre a imagem da empresa
• Valorização de ativos • Patrimônio ou capital

11
2- CLASSIFICAÇÃO DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS

2.1 Benefícios de produtividade 2.2 Benefícios de Operação e Manutenção

• Melhoria na capacidade produtiva: Os benefícios aqui • Operação melhorada: Novamente, o uso de


estão relacionados a ganhos de produtividade que são equipamentos mais modernos e eficientes melhora
obtidos através de um programa de eficiência significativamente a operação e confiabilidade, reduzindo
energética. A substituição de máquinas e o tempo de inatividade e o número de falhas. Além disso,
equipamentos por outros de maior eficiência reduzem outras medidas de eficiência, como por exemplo, a
os tempos de processamento, os custos de mão de otimização de processos pode reduzir a necessidade de
obra e materiais e aumentam o fluxo de produção [6]. operação manual e monitoramento, reduzindo custos
indiretos [6]. Máquinas modernas também tendem a ter
• Melhoria na qualidade dos produtos: A melhoria na menor necessidade de refrigeração e a sofrer menos
qualidade do produto é dada pela redução no número desgaste [11]. A adoção de programas de avaliação de
de defeitos, consumo energético também é importante do ponto de
em decorrência do uso de máquinas e equipamentos vista gerencial, já que auditorias de energia, importantes
mais modernos [11]. na implementação de um projeto de eficiência energética,
fornecem acesso à informação correta, melhores
• Melhoria no valor dos produtos: A melhoria no valor
atividades de gerenciamento, transparência e cálculos
do produto tem relação com a melhoria na qualidade
compreensíveis [14]. A implementação de ações de
e na consistência, que contribuem na agregação de
monitoramento do consumo é parte dos programas de
valor, se refletindo na avaliação da marca [3].
eficiência energética, o que permite um melhor
Estes casos de melhorias são relativamente simples de gerenciamento das operações e maior controle dos
se mensurar após a implementação de um projeto. custos.
• Redução da necessidade de manutenção: Equipamentos
mais modernos e eficientes, aliados a um plano
estruturado de manutenção preventiva, reduzem a
necessidade de manutenção (especialmente a corretiva,
ou extraordinária), reduzindo os custos.

12
2- CLASSIFICAÇÃO DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS

2.3 Benefícios no ambiente de trabalho

• Melhoria na qualidade do ambiente de trabalho: A


melhoria no ambiente de trabalho pode ser alcançada
através do impacto no conforto térmico, aprimoramentos
nos níveis de iluminação, na redução de ruídos e
ventilação. Intervenções de EE incluem melhor
aproveitamento de iluminação e ventilação natural, o que
beneficia a qualidade do ar [16]. Ademais, máquinas de
tecnologias mais avançadas emitem menores níveis de
ruído e menos calor. A melhoria na qualidade do
ambiente de trabalho é um benefício intangível que ajuda
na retenção e atração de funcionários qualificados [6].
• Aumento na saúde e segurança dos colaboradores:
Alguns aperfeiçoamentos nos processos de fabricação,
como a maior automação ou o uso de máquinas em
conformidade com normas de segurança no trabalho
como a ISSO 45001, implicam na redução nos riscos de
acidentes de trabalho e impactos negativos à saúde dos
colaboradores [6]. Benefícios citados anteriormente que
alteram, por exemplo, a temperatura e a qualidade do ar
impactam positivamente na saúde e segurança dos
colaboradores, o que, consequentemente, reduz despesas
com saúde.

13
2- CLASSIFICAÇÃO DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS

2.4 Benefícios ao meio-ambiente: • Redução no desperdício de água: A otimização e o


aprimoramento de processos produtivos, aliado a
• Redução da emissão de poluentes: A melhoria nos um uso mais racional da água, reduzem a
processos fabris e a redução no uso de energia pode quantidade do recurso necessária para limpeza e
reduzir a emissão de óxidos de enxofre (SOx), óxidos de para alguns processos produtivos. Ademais, também
nitrogênio (NOx), monóxido de carbono (CO), há ganhos financeiros com o processo de tratamento
Clorofluorcarbonetos (CFC), Hidrofluorcarbonetos (HFC) e de água antes do descarte.
dióxido de carbono (CO2) [6]. Este aprimoramento pode • Redução no uso de matéria prima: A otimização no
ocorrer tanto diretamente, como no caso de indústrias uso de matéria prima reduz a necessidade de
siderúrgicas, como indiretamente, já que a redução no compra destes insumos. Além do benefício
consumo pode diminuir a demanda por energia e econômico evidente desta otimização, o impacto
consequentemente por combustíveis fósseis. Neste ambiental é mitigado, uma vez que o processo de
sentido, mesmo ao se considerar o efeito rebote (efeito extração de matéria prima gera consequências à
de aumento no consumo de energia em consequência natureza.
de um aumento de eficiência), as emissões de poluentes
diminuem ao se implementar projetos de eficiência
energética [9].
• Redução de resíduos: O aperfeiçoamento nos
processos de produção e melhoria nas operações
contribuem para a redução na produção de resíduos
sólidos nocivos ao meio ambiente. Processos de
reciclagem também tem potencial para diminuir estes
refugos, e de potencialmente reduzir gastos com a
compra de matéria prima [6]. Os resíduos líquidos (como
óleos utilizados como lubrificantes e refrigerantes em
processos industriais) também são impactados com
aumento de eficiência de processos, assim como os
gastos com processamento destes resíduos, antes do
descarte.
14
2- CLASSIFICAÇÃO DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS

2.5 Benefícios com relação a competitividade • Possibilidade de se postergar investimentos com


novos equipamentos: Em algumas situações, a
• Capacidade de atingir novos mercados: Programas de melhoria dos processos produtivos por otimização e
eficiência energética reduzem a pegada de carbono de medidas de uso racional de energia elétrica pode
uma empresa, o que ajuda a superar barreiras de aumentar a vida útil de máquinas e equipamentos
entrada a novos mercados, como normas de chave, adiando o investimento que necessitaria ser
conformidade ambiental de potenciais clientes feito nestes equipamentos [6].
corporativos, legislação de outros países, e melhorar a • Melhoria na imagem e na reputação do negócio: A
percepção sobre a empresa [6]. A obtenção de imagem corporativa melhora ao se divulgar ações de
certificações como a ISO 14000 auxilia na captação de eficiência energética e sustentabilidade, o que é
novos clientes, que possuem como requisitos, por positivo em termos de marketing. Além disso, a
exemplo, que seus fornecedores tenham certificação empresa tem sua reputação melhorada através da
de gestão ambiental. melhoria da qualidade dos produtos que oferece [6].
• Redução nos custos de produção: A redução nos
custos permite que a empresa diversifique seus
investimentos, abrindo novas oportunidades de
crescimento [6].
• Redução nos riscos corporativos: A redução nos
riscos ocorre em diversas esferas. Sendo mais
eficiente, a empresa pode se proteger de riscos em
aumento nos custos de fornecimento de energia
elétrica, riscos regulatórios, riscos com acidentes de
trabalho, entre outros

15
3
INCENTIVOS E BARREIRAS
À IMPLEMENTAÇÃO DE
PROJETOS DE EE
3- INCENTIVOS E BARREIRAS À IMPLEMENTAÇÃO
DE PROJETOS DE EE

Os fatores que motivam projetos de eficiência energética correlação entre estes fatores [16]. Diante disso,
no mundo são diversos. Surpreendentemente, apenas embora os ganhos econômicos sejam relevantes, é
30% dos trabalhos entre 1978 e 2016, tiveram fatores necessário conduzir a análise para além dos aspectos
econômicos como principais motivadores [14]. puramente econômicos. Uma matriz de classificação a
44% tiveram motivadores organizacionais (como maior respeito da facilidade de se quantificar os benefícios e
controle sobre uso de energia, cooperação entre setores do horizonte temporal é apresentada na Tabela 2[11].
da empresa, auditorias energética e melhoria em Esta matriz avalia a facilidade de se quantificar um
indicadores de desempenho, perfil socioambiental da benefício em termos monetários, isto é, alguns
empresa, sistema de gerenciamento ambiental, saúde e aprimoramentos, como níveis de ruído ou qualidade do
segurança, estratégia energética de longo prazo, ar, são facilmente mensuráveis, porém, é difícil
motivação e satisfação de colaboradores, inovação e converter estas medidas em valores monetários.
pesquisa e desenvolvimento)[14], o que mostra que Portanto, estes benefícios são classificados como de
projetos de eficiência energética têm uma importância difícil quantificação, em termos financeiros.
que vai muito além de economia de energia, sendo o
âmbito estratégico o principal motivador na tomada de
decisão [1].
Como tratado no capítulo 3, existem diversos impactos
positivos quando uma indústria adota medidas de
eficiência energética nas mais diferentes esferas. Alguns
dos benefícios não relacionados à economia de
energia são intuitivamente mensuráveis, como por
exemplo, ganhos de produtividade, ganhos com operação
e manutenção, economia de matéria prima, redução de
desperdício de água.
Já outros, como por exemplo, melhoria no ambiente de
trabalho que elevam a segurança e aumentam a
satisfação dos colaboradores, podem aumentar a
produtividade da empresa, porém, é difícil se fazer uma

17
3- INCENTIVOS E BARREIRAS À IMPLEMENTAÇÃO
DE PROJETOS DE EE
Tabela 2: Classificação dos benefícios quanto a facilidade de se quantificar e o prazo. Fonte: Rasmussen[11]

Facilidade de se
quantificar CURTO PRAZO LONGO PRAZO
(em termos
monetários)
• Aumento da produção, • Redução de custos com colaboradores,
• Redução no tempo de configuração de máquina, • Redução nos custos de manutenção,
• Melhor desempenho da operação, • Redução no desgaste de máquinas e equipamentos,
ALTA • Menor tempo de processamento, • Aumento na vida útil das máquinas e equipamentos,
• Redução de custos operacionais, • Redução nos custos com refugo e retrabalho,
• Redução de uso de matéria prima. • Aumento na confiabilidade.

• Incrementos de produtividade, • Redução de desperdícios e custos com desperdícios,


• Aumento da eficiência, • Redução na emissão de poluentes,
• Aumento da qualidade, • Redução no custo com adequação a normas ambientais,
MÉDIA • Aumento da capacidade produtiva,
• Aumento do uso de capacidade,
• Postergação ou redução de investimentos,
• Aumento no valor de ativos,
• Melhora no controle de temperatura, • Redução de problemas legais,
• Redução na necessidade de refrigeração. • Melhoria no controle de processos.

• Aumento na segurança do trabalho, • Melhoria da imagem pública,


• Melhoria no ambiente de trabalho, • Melhoria da satisfação e motivação dos colaboradores,
• Redução no ruído, • Melhoria na competitividade,
BAIXA • Melhora na iluminação, • Melhoria na satisfação do cliente,
• Aumento no espaço, • Redução de riscos,
• Melhora na qualidade do ar. • Benefícios ligados a saúde.

Um investimento é estratégico se este contribui para criar, manter eficiência energética na esfera das 3 dimensões que envolvem a
ou desenvolver vantagem competitiva sustentável [1]. Neste estratégia da empresa. A Figura 1 mostra um exemplo de
sentido, diversos benefícios apontados no capítulo 3 contribuem, ferramenta que ajuda a analisar o impacto de um investimento
seja através da geração de mais valor para o cliente (por meio de nas 3 dimensões de estratégia competitiva. Outras ferramentas
inovação, melhoria na qualidade, melhor papel ambiental, entre para analisar os múltiplos impactos de investimentos em EE
outros), como na redução de custos que não agregam valor (como serão descritas no capítulo 5.
custos com desperdícios descritos anteriormente). Aterceira esfera
de geração de valor envolve os riscos. A análise de projetos de

18
3- INCENTIVOS E BARREIRAS À IMPLEMENTAÇÃO
DE PROJETOS DE EE

As principais barreiras para investimentos em eficiência energética são a falta de tempo e de recursos financeiros
para a realização dos investimentos, somada a possíveis custos não identificados (riscos) e perdas por
capacidade ociosa. Isso é especialmente relevante para as empresas de pequeno e médio porte, que relatam
maior dificuldade em ter acesso a crédito, ter tempo e pessoal especializado em mensurar esses valores [14]. Por
esta razão, o programa PotencializeEE oferece acesso a crédito e apoio às pequenas e médias indústrias na
implantação de projetos de eficiência energética.

Figura 1: Ferramenta para avaliar um investimento em termos estratégicos. Fonte: Cooremans [3]

• Valor percebido para


IMPACTOS os consumidores
NA PROPOSTA • Receita
DE VALOR

IMPACTOS IMPACTOS
Acréscimos na NOS CUSTOS NOS RISCOS
proposta de valor Que se correm para
da empresa se produzir a proposta
de valor

VANTAGEM COMPETITIVA

19
4
PASSOS PARA A AVALIAÇÃO
DE PROJETOS DE EE SOB
A ÓTICA DOS MÚLTIPLOS
BENEFÍCIOS
4- PASSOS PARA A AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE
EE SOB A ÓTICA DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS

Uma forma de se avaliar os múltiplos benefícios de medidas de EE é através da metodologia desenvolvida pelo
projeto m-benefits (www.mbenefits.eu), um projeto financiado pela União Europeia, que tem por objetivo disseminar
informações para auxiliar gestores na tomada de decisão em relação a investimentos em eficiência energética.
A Figura 2 mostra um esquema com os passos da metodologia. É importante que cada uma das etapas descritas
tenha um entregável.

Figura 2: Esquema de análise de investimento em EE. Fonte: Multiple Benefits of Energy Efficiency[1] (traduzido)

IDEIA DE
02
PROJETO Energia e 05
Operações Apresentação
de resultados

01
Análise da
empresa DECISÃO DE
04 INVESTIMENTO
Impactos
estratégicos

03
Impactos
financeiros

21
4- PASSOS PARA A AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE
EE SOB A ÓTICA DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS

Os passos serão brevemente descritos neste capítulo:

4.1 Análise da empresa: 4.2 Análise de Energia e Operações

O primeiro passo ao se pensar em realizar um Esta etapa pode frequentemente ocorrer sob a forma de
investimento em eficiência energética consiste na uma auditoria energética, mencionada em diversos
análise do negócio em si, e, para isso, há diversas trabalhos citados neste documento. Consiste em
ferramentas, como o business canvas, a análise do realizar um diagnóstico sobre toda energia utilizada na
investimento dentro da perspectiva estratégica (como planta, a fim de fazer um levantamento do consumo
mostrado na Figura 2 e os motivadores das decisões de atual, estabelecer métricas e indicadores e identificar
investimentos da companhia (o que guia a companhia medidas de eficiência energética que sejam viáveis e
na tomada de decisão). Durante esta etapa, é lucrativas.
fundamental identificar as atividades chave da O consumo energético avaliado deve envolver as fontes
empresa, os segmentos de consumidores, a proposta de primárias de energia (como carvão, gás, combustível,
valor, recursos, estrutura de custos e fontes de receita, entre outros), secundárias (eletricidade) e terciárias
de modo a poder visualizar como uma decisão de (como por exemplo, ar comprimido, vapor, água, entre
investimento em um projeto de EE poderá contribuir outros insumos que possuem energia “armazenada”) e,
nestes fatores. Algumas ferramentas úteis estão posteriormente, devem ser identificados meios de
disponíveis no endereço eletrônico [3]. reduzir o consumo energético de máquinas e
Também é importante avaliar se é de interesse da equipamentos. Uma análise operacional também deve
empresa obter algumas certificações relevantes neste ser realizada nesta etapa, de modo a identificar, além de
quesito, como ISSO 9001, por exemplo, e se isso traz possíveis reduções de custo, os Benefícios não
algum tipo de vantagem competitiva, como a empresa Energéticos (BNE’s) que vêm como consequência das
quer se comunicar com os clientes, entre outros fatores. medidas de eficiência energética, como melhora na
Em suma, a ideia desta etapa é identificar como o qualidade, confiabilidade, segurança, entre outros
projeto de eficiência energética poderia contribuir para citados no capítulo 3.
o modelo de negócios da empresa.

22
4- PASSOS PARA A AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE
EE SOB A ÓTICA DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS

Para auxiliar nesta tarefa, um mapeamento de processos visam a eliminação de custos que não agregam valor ao
pode ser feito, identificando sequencialmente cada cliente, ou aumento de produtividade (que pode se traduzir
operação que compõe o processo e analisando as em aumento de receita, se houver demanda). Outros
oportunidades de melhoria em cada uma delas. A benefícios são de natureza mais incerta. Melhores ambientes
excelência operacional deve ser analisada em 4 diferentes de trabalho, mais seguros e que deixam os colaboradores
dimensões, com métricas para cada uma delas [3]: mais satisfeitos podem aumentar a produtividade da
• Segurança. Métricas: número de acidentes por ano, empresa, além de colaborar para a aquisição e retenção de
percepção de segurança pelos colaboradores, dias de talentos, mas é difícil quantificar monetariamente este
afastamento benefício [16]. O benefício de maior percepção de qualidade
• Qualidade do produto e do processo produtivo. Métricas: por parte do cliente também pode ser de difícil mensuração
tempo de parada de operação, índice de refugos, analítica.
percentual de perda de matéria prima, índice de Idealmente, a análise operacional e energética deve ser feita
produtividade de maneira conjunta, identificando-se onde cada processo se
• Custo. Métricas: custo com matéria prima por período, relaciona com cada consumo de energia (primária,
custo de matéria prima perdida, custo de energia, água e secundária ou terciária), e qual a contribuição desta energia
outros insumos, custos com horas extra para o processo, para, assim, identificar pontos de melhoria.
• Tempo para o mercado (Time-to-market): consiste no
tempo que uma unidade de produto leva desde a
concepção até estar disponível para os clientes. Métricas:
tempo de preparação de máquina, produtividade diária,
tempo médio de parada de máquina por mês, novos
produtos desenvolvidos por ano
Como é possível observar, algumas métricas relacionadas
aos múltiplos benefícios são facilmente convertidas em
valores financeiros, como índices de produtividade, tempo
de parada, métricas relacionadas a custo, índices de
perdas por refugos, entre outras. Estes fatores são de
grande relevância estratégica para a indústria, já que

23
4- PASSOS PARA A AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE
EE SOB A ÓTICA DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS

4.3 Análise de impactos estratégicos

Como já descrito no capítulo 4, os aspectos • Risco: Investimentos em eficiência energética


estratégico e gerencial são grandes balizadores de normalmente incorporam uma significativa redução
investimentos de eficiência energética. O impacto nos riscos, como risco de acidentes de trabalho e
estratégico de uma medida de eficiência energética afastamentos, risco de doenças, de problemas na
está relacionado com a atividade chave da empresa e qualidade, quebra de máquinas, ou mesmo riscos
a vantagem competitiva é um fator crucial ao se regulatórios (relativos a emissão de poluentes) e de
analisar este investimento. Mesmo que a empresa não aumentos de custo de energia.
tenha uma diretriz estratégica claramente definida, é
possível identificar fatores que trazem vantagem
competitiva. Como mostrado na Figura 2, o impacto
estratégico pode ser dividido em 3 dimensões:
• Proposta de valor: Aqui, deve ser analisado como o
investimento irá agregar em termos de uso para o
cliente (valor de uso). Por exemplo, uma ação em EE
pode ter como consequência o aumento na qualidade
do produto, ou a redução no tempo de entrega,
melhoria no canal de distribuição, entre outros, que
irão, como consequência, aumentar o valor percebido
pelo cliente, aumentando assim a vantagem
competitiva da empresa.
• Custos: Aqui, analisa-se todos os custos que poderão
ser reduzidos com a implementação de medidas de
eficiência energética, incluindo aqueles que não estão
envolvidos diretamente com economia de energia
(por exemplo, redução de custos com manutenção,
horas extra, horas ociosas de máquinas, entre outros).
24
4- PASSOS PARA A AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE
EE SOB A ÓTICA DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS

4.4 Análise de impactos financeiros

Nesta etapa, devem ser calculados os indicadores


financeiros das medidas de eficiência energética.
Como indicadores, são usados o tempo de payback,
taxa interna de retorno (TIR) ou o valor presente
líquido (VPL). Estes cálculos deverão incluir estimati-
vas de todos os benefícios financeiros levantados
anteriormente e não apenas os ganhos em econo-
mia de energia.

4.5 Apresentação dos resultados

Aqui, devem ser levantados todos os resultados (em


termos estratégicos, de operações e financeiros)
obtidos nos passos anteriores, para que sejam apre-
sentados para análise dos gestores. Os resultados
que não são possíveis de serem apurados em
termos financeiros devem ser apresentados em
termos de métricas (KPI’s), como alguns exemplos
descritos na seção 5.2.

25
5
ESTUDOS DE
CASOS
5- ESTUDOS DE CASOS

Nesta seção, são apresentados alguns estudos de caso para eficientes. Após implementar o projeto, foram observados
ilustrar múltiplos benefícios de medidas de eficiência alguns benefícios não relacionados com energia, como:
energética.
• A qualidade da operação de moagem melhorou significativamente.
O consumo energético em uma máquina de moagem de acabamento
5.1 Mudanças no sistema de moagem e substituição de
(que não foi modificada) reduziu, graças a melhor qualidade do
compressores de palhetas por compressores de
cimento que vinha da primeira máquina de moagem (onde foi
parafuso mais eficientes, na empresa Lafarge Cement
aplicada a medida de eficiência energética).

Este estudo de caso foi publicado no trabalho de Lilly e • O tempo de secagem do cimento no forno rotativo também
Pearson [7], e consistiu na remodelação de um dos processos diminuiu, graças a melhoria na qualidade da operação de moagem,
de moagem de matéria prima de cimento. Inicialmente, a causando ganhos de produtividade
primeira moagem dos componentes do cimento era feita em • Foi reduzido o custo com substituição das esferas de moagem
câmaras cilíndricas, onde esferas de aço sólidas de diversos
tamanhos eram colocadas juntas para quebrar os ingredientes • A vida útil da bomba de descarga de lama aumentou, graças a
do cimento, o que causava ineficiência, já que nessas câmaras, instalação do ASD
esferas grandes acabavam se chocando contra cimento já • A melhor consistência do cimento melhorou a estabilidade do
pulverizado, enquanto esferas menores colidiam com material forno, reduzindo emissões de SO2 em 78%, reduzindo multas
ainda muito cru, causando pouco impacto. O projeto de ocasionadas por emissões de poluentes, por parte do órgão de
melhoria envolveu dividir o processo em diversas câmaras de controle da qualidade do ar. A emissão de óxidos de nitrogênio (NOx)
moagem, separando-as por etapas de processamento do reduziu em 40% (embora isso não se converteu em um benefício
cimento, ou seja, o cimento menos processado entrava na financeiro direto, devido ao fato de que a Lafarge não pagava multas
primeira câmara, com as esferas maiores, e a medida em que por emissões de NOx).
fosse sendo quebrado, passaria para as câmaras seguintes,
• Foi reduzida a frequência e os custos de manutenção dos
para fazer o processamento em grãos menores. Com isso,
compressores
esperava-se reduzir o consumo dos motores elétricos que
tocam as máquinas de moagem. Além disso, também foi • Foi reduzido o custo com óleo lubrificante e reduzida a carga no
instalado um relé de desligamento automático (ASD – sistema de refrigeração para arrefecimento dos compressores.
Automatic Shutdown Relay) na bomba de descarga de lama. A
última medida foi a substituição de compressores de palhetas A Tabela 3 representa um resumo da economia de custos da
de 200 HP por compressores do tipo parafuso, de 150 HP, mais Lafarge neste estudo de casos:

27
5- ESTUDOS DE CASOS

Tabela 3: Economias relacionadas a medidas de EE na empresa Lafarge.


Fonte: Lilly e Pearson[7]
5.2 Alteração no fornecimento de água quente
Economia Economia
não
Percentual
representado
para fresadoras
Medida de custos relacionad por BNE’s no
com a energia total
energia (BNE’s) economizado
(R$/ano)¹ (R$/ano) (%)
Este estudo de caso foi publicado na plataforma
multiple benefits of energy efficiency e analisou a
Remodelagem 698.382,81 141.023,70* 16,8%
alteração no fornecimento de água quente para
do processo
de moagem
fresadoras de uma empresa que realiza trabalhos
mecânicos de alta precisão. Os clientes da empresa são
Substituição outras empresas (B2B) e a proposta de valor envolve
dos 79.068,69 108.196,83 57,7%
compressores entregar pontualmente produtos de qualidade e alta
confiabilidade. O nome da empresa não foi divulgado,
1
Os valores indicados na referência estão em dólares, que foram por razões de confidencialidade.
convertidos para reais, ao preço de R$ 5,13 por dólar, segundo cotação A Figura 3 mostra um esquema do processo antes da
do dia 17/02/2022. implementação da medida de eficiência energética:

*Observação: A remodelagem do processo de moagem


aumentou a capacidade produtiva desta operação. No
entanto, esse aumento não se traduziu em um benefício
financeiro imediato, pois o forno passou a ser o gargalo do
sistema. Por isso, o ganho financeiro não relacionado a
energia deste investimento poderia ter sido ainda maior.

28
5- ESTUDOS DE CASOS

Figura 3: Esquema do processo do estudo de casos 6.2. Fonte:


https://www.mbenefits.eu/news-resources/library/industrial-high-precision-mechanical-example/ (acessado em 16/12/2021)

LAVADORAS - SITUAÇÃO ANTES DA INTERVENÇÃO

TANQUES DE
ENXAGUAMENTO 20°C
ARMAZENAMENTO
75°C 75°C

ÁGUA FRIA DA REDE 20°C

LAVAGEM LAVAGEM LAVAGEM LAVAGEM ENXAGUAMENTO ÁGUA DESMINERALIZADA 20°C


°C
X: 50
A MÁ
DELT

75°C 75°C 70°C 20°C 50°C 20°C 45°C 45°C AIR


DRYING
AIR
DRYING

RESISTÊNCIA ELÉTRICA EFLUENTE

29
5- ESTUDOS DE CASOS

O processo original funcionava da seguinte maneira: • Abastecimento dos tanques de lavagem com água a
após o processo de fresamento, as peças metálicas 50°C, aquecida através de recuperação de calor
eram limpas, enxaguadas e secas, sendo 8 etapas de residual da produção de ar comprimido (por
lavagem e enxágue, seguido por duas etapas de compressores do tipo parafuso). Assim, as
secagem. As duas primeiras etapas eram feitas com resistências precisam elevar apenas a temperatura
água da rede, aquecidas até 75°C e mantidas à essas de 50°C para 75°C , reduzindo os gastos com energia
temperaturas por resistências elétricas. Os tanques • São eliminados os tanques de armazenamento,
de lavagem eram abastecidos por tanques de diante da recuperação de calor, eliminando-se a
armazenamento. Posteriormente, era feito o enxágue necessidade do ácido fórmico, e do uso de EPI’s
com água a 20°C relacionados ao ácido.
Seguido de uma nova lavagem com água mantida a
50°C, seguido de novo enxágue e mais duas lavagens • A limpeza dos tanques é feita com água a 44°C,
com água desmineralizada mantida a 45°C no tanque. vinda do sistema de recuperação de calor, o que
Duas vezes ao dia, os tanques eram esvaziados e elimina os choques térmicos e os riscos de trincas.
limpos com água fria, o que causava choques • O consumo de água é reduzido
térmicos, que implicam em risco de trincas nos
tanques, fazendo com que tivessem de ser
A Figura 4 mostra esta nova configuração:
substituídos. Depois de limpos, os dois primeiros
tanques eram enchidos com água mantida a 75°C nos
tanques de armazenamento, limpos uma vez por mês,
com o uso de ácido fórmico, que é tóxico.
Diante desta situação, foram propostas medidas de
melhoria, que incluíam:

30
5- ESTUDOS DE CASOS

Figura 4: Medida de Eficiência Energética proposta no estudo de caso. Fonte:


https://www.mbenefits.eu/news-resources/library/industrial-high-precision-mechanical-example/ (acessado em 16/12/2021)

LAVADORAS - SITUAÇÃO PROPOSTA

TANQUES DE
ENXAGUAMENTO 44°C
ARMAZENAMENTO

ÁGUA QUENTE DURA (AQS) 55°C


ÁGUA FRIA DA REDE 20°C
ÁGUA DESMINERALIZADA 20°C
°C
X: 25
A MÁ
DELT
CALOR RESIDUAL
75°C 75°C 70°C 20°C 50°C 20°C 45°C 45°C AIR AIR USADO NAS ÁGUAS
DRYING DRYING QUENTES SANITÁRIAS

ÁGUA UTILIZADA
O sistema de águas quentes sanitárias do local é aquecido a 55°C pelo calor residual
recuperado da produção de ar comprimido (por compressores parafuso).
Na nova configuração, os tanques das lavadoras são ligados ao sistema de AQS.

31
5- ESTUDOS DE CASOS

A partir disso, diversos benefícios não relacionados a Tabela 4: Descrição da economia total esperada do projeto
energia foram levantados. Apontando-os em cada
aspecto estratégico:
• Riscos: Redução do risco de acidentes com ácido
fórmico, redução de riscos legais, redução no risco de
avarias e de parada de produção
• Proposta de Valor: Aumento da confiabilidade dos
equipamentos e instalações, aumento na satisfação dos
funcionários, contribuição para a visão estratégica da
empresa, aumento da produtividade devido à redução no
tempo de lavagem e paradas para manutenção.
• Custos: Redução no consumo de água, redução nos
custos de manutenção, economia com EPI’s e ácido
fórmico, redução nos custos de energia
Ao se analisar o projeto apenas pela redução nos custos 1
Valores em Euros na referência original, convertidos para real na cotação
de energia, considerando uma duração de 8 anos do de R$ 5,86 por Euro, segundo cotação do dia 17/02/2022
projeto, os autores encontraram uma taxa interna de
retorno de -7,5%, e um tempo de payback de 13 anos.
Porém, ao se considerar todos os benefícios trazidos pela
proposta de melhoria, o tempo de payback cai para 4,7
anos, e a taxa interna de retorno fica em 11,5%. A Tabela 4
apresenta os valores financeiros da economia estimada e
do investimento inicial:

32
5- ESTUDOS DE CASOS

Como se pode observar na Tabela 4, os benefícios não relaciona-


dos a energia são monetariamente maiores do que a economia • Redução no uso de matéria prima (zinco,
cromo), devido a menos desperdício
de energia em si, já que representam quase 60% do total econo-
mizado. Isso mostra que ao negligenciar estes benefícios, o proje- • Redução nos custos com refrigeração
to não parece viável, quando na realidade ele é. Há de se conside- • Redução nos custos com energia
rar ainda a melhoria em alguns indicadores da empresa, que não
• Redução nos custos com colaboradores,
estão monetariamente quantificados, como a melhoria no devido a menor necessidade de horas extras e
ambiente de trabalho, mitigação de riscos de segurança, entre retrabalho
outros já citados, que refletem melhoria nos KPI’s e no clima
• Melhor estabilidade e qualidade da produção
organizacional como um todo.
• Maior capacidade de produção
5.3 Substituição de Retificadores de corrente na empresa • Ganho de espaço
First Industries, na Suíça¹
• Menor risco de quebras e falhas

• Menor risco de emissões de CO2


Este caso é sobre um projeto de medidas de eficiência energética,
adotado na empresa First Industries, na Suíça. A empresa faz
diversos tipos de tratamentos superficiais em peças metálicas,
como galvanização a quente, eletrodeposição de zinco, revesti-
mentos de cromo, entre outros. A empresa operava com retifica-
dores de corrente com 35 anos de uso, baixo desempenho (50% a
60% de eficiência), com capacidade limitada e de manutenção
difícil. A ideia do projeto de melhoria foi realizar a substituição
destes modelos por modelos eletrônicos mais modernos, com
pelo menos 85% de eficiência. A melhora na eficiência reduz a
conversão de energia elétrica em calor, o que, por consequência,
reduz a necessidade de uso de energia com sistemas de refrigera
refrigera-
ção.
Após a instalação dos novos retificadores, uma série de benefícios
foram percebidos, entre eles:

33
¹Disponível em https://www.mbenefits.eu/news-resources/library/metal-surface-treatment-industry-example-2018/
5- ESTUDOS DE CASOS

Tabela 5: Indicadores financeiros do projeto de substituição


de retificadores, sem BNE’s e com BNE’s

Apenas considerando Considerando todos


Indicador energia economizada (R$)¹,² os benefícios (R$)¹,²

Valor Presente 58.843,29 10.684.110,36


Líquido (VPL)

Taxa Interna
de Retorno 6,9% 118%
(TIR)

Payback
Simples 6 anos 0,85 anos

2 Obs: A referência original apresentava os valores em Francos Suíços


(CHF), sendo convertidos para real à cotação de R$ 5,61 para cada
Franco Suíço, conforme cotação do dia 17/02/2022

Pode-se observar nos indicadores financeiros que o projeto se


mostra muito mais vantajoso ao serem considerados os múltiplos
benefícios. Se estes benefícios não fossem quantificados na análise
inicial do investimento, a empresa poderia ter sido induzida a erro
ao priorizar outro projeto menos rentável.

34
6
CONCLUSÃO
Os projetos de EE para pequenas e médias empresas industriais
vão muito além de economia de energia. Como visto nos
capítulos anteriores, negligenciar estes aspectos leva a perda de
oportunidades por parte de empresas. Intervenções de EE têm
inclusive um impacto estratégico para a empresa, tornando-a
mais competitiva, produtiva, melhorando diversos aspectos no
ambiente de trabalho, qualidade dos produtos, imagem
corporativa, gestão de ativos, operação e manutenção e
ambiente organizacional.
Intervenções de EE envolvem repensar estrategicamente todos
os processos produtivos e operacionais, de modo a racionalizar
os recursos, minimizando desperdícios e melhorando a
qualidade. Por isso, os processos devem ser continuamente
monitorados para que sejam identificadas oportunidades de
melhorias.
Para o caso de pequenas e médias empresas, as medidas para a
redução do consumo de energia possuem uma relevância ainda
maior, por conta da competitividade. Os benefícios de
intervenções de EE além da economia de energia devem ser
identificados e se for possível quantificados para capturar todo o
valor do empreendimento para as pequenas e médias empresas
industriais. Recomenda-se, portanto, que o gerente da empresa
defina com um especialista de EE os tipos de benefícios que são
mais relevantes para a empresa e os indicadores que serão
utilizados na elaboração de um diagnóstico energético.

36
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[8] B. Marchi, S. Zanoni, I. Ferretti, Energy efficiency investments in industry with uncertain demand rate: Effects on the
specific energy consumption, Energies. 13 (2019).
[9] R. Nishant, T.S.H. Teo, M. Goh, Energy efficiency benefits: Is technophilic optimism justified?, IEEE Transactions on
Engineering Management. 61 (2014) 476–487.
[10] D. Pearson, L.A. Skumatz, Non-Energy Benefits Including Productivity, Liability, Tenant Satisfaction, and Others: What
Participant Surveys Tell Us about Designing and Marketing Commercial Programs Introduction and Program Description, 2002.
[11] J. Rasmussen, Energy-efficiency investments and the concepts of non-energy benefits and investment behaviour
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[12] J. Rasmussen, The additional benefits of energy efficiency investments—a systematic literature review and a framework
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[13] R. Sauter, A. Volkery, Review of costs and benefits of energy savings, 2013.
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[16] E. Worrell, J.A. Laitner, M. Ruth, H. Finman, Productivity benefits of industrial energy efficiency measures, Energy. 28
(2003) 1081–10

37
PARCEIROS

MINISTÉRIO DE MINISTÉRIO DA
MINAS E ENERGIA ECONOMIA

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