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MÚLTIPLOS
BENEFÍCIOS DA
EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA
NA INDÚSTRIA
03/2022
CRÉDITOS
Como empresa federal de utilidade pública, a Deutsche Gesellschaft für
Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH apoia o Governo Federal da
Alemanha em seus objetivos na área de cooperação internacional. O foco
do trabalho da GIZ no Brasil são as energias renováveis e a eficiência
energética, a proteção e o uso sustentável das florestas tropicais, além de
temas como formação técnica, transformação urbana e oportunidades de
financiamento para investimentos em prol do clima.
Publicado por:
Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH
Sede social
Bonn e Eschborn, Alemanha
Endereço
GIZ Agência Brasília 70711-902 - Brasília/DF - Brasil
T +55 61 2101-2170
E giz-brasilien@giz.de
I www.giz.de/en/worldwide/12055.html
Coordenação:
Marcos Schiewe (GIZ), Carolyna Crepaldi (GIZ)
Design/layout, etc.:
Yara Baylão
Programa PotencializEE:
www.programa-potencializee.com.br
contato@programa-potencializee.com.br
Mapas:
Os mapas impressos neste documento destinam-se apenas a fins de
informação e não constituem reconhecimento de leis internacionais de
fronteiras e territórios.
A GIZ não se responsabiliza por esses mapas estarem completamente
atualizados, corretos ou completos. Fica excluída toda a responsabilidade
por quaisquer danos, diretos ou indiretos, resultantes da utilização dos
mapas.
Março de 2022
LISTA DE TABELAS 03
LISTA DE FIGURAS 03
LISTA DE SIGLAS 03
RESUMO EXECUTIVO 04
1. INTRODUÇÃO 06
2. CLASSIFICAÇÃO DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS 10
2.1 Benefícios de produtividade 12
2.2 Benefícios de Operação e Manutenção 12
2.3 Benefícios no ambiente de trabalho 13
2.4 Benefícios ao meio-ambiente 14
2.5 Benefícios com relação a competitividade 15
3. INCENTIVOS E BARREIRAS À IMPLEMENTAÇÃO DE PROJETOS DE EE 16
4. PASSOS PARA AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE EE SOB A ÓTICA DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS 20
4.1 Análise da empresa 22
4.2 Análise de Energia e Operações 22
4.3 Análise de impactos estratégicos 24
4.4 Análise de impactos financeiros 24
4.5 Apresentação de resultados 25
5. ESTUDOS DE CASO 26
5.1 Mudanças no sistema de montagem e substituição de compressores de palhetas por
compressores de parafuso mais eficientes, na empresa Lafarge Cement 27
5.2 Alteração no fornecimento de água quente para fresadoras 28
5.3 Substituição de Retificadores de corrente na empresa First Industries, na Suíça 33
6. CONCLUSÕES 36
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 37
LISTAS
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Classificação dos múltiplos benefícios. 11
Tabela 2: Classificação dos benefícios quanto a facilidade de se quantificar e o prazo. Fonte: Rasmussen [11] 18
Tabela 3: Economias relacionadas a medidas de EE na empresa Lafarge. Fonte: Lilly e Pearson 28
Tabela 4: Descrição da economia total esperada do projeto 32
Tabela 5: Indicadores financeiros do projeto de substituição de retificadores, sem BNE's e com BNE's. 34
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Ferramenta para avaliar um investimento em termos estratégicos. Fonte: Cooreman [3] 19
Figura 2: Esquema de análise de investimento em EE. Fonte: Multiple Benefits of Energy Efficiency [1] 21
Figura 3: Esquema do processo do estudo de casos 6.2. Fonte: 29
https://www.mbenefits.eu/news-resources/library/industrial-high-precision-mechanical-example/ (acessado em 16/12/2021)
Figura 4: Medida de Eficiência Energética proposta no estudo de caso. Fonte: 31
https://www.mbenefits.eu/news-resources/library/industrial-high-precision-mechanical-example/ (acessado em 16/12/2021)
LISTA DE SIGLAS
ASD Automatic Shutdown Relay (Relé de Desligamento Automático) O&M Operação e Manutenção
BNE Benefícios Não Energéticos ME Micro Empresa
EE Eficiência Energética MME Ministério de Minas e Energia
EPP Empresa de Pequeno Porte OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
EPI Equipamento de Proteção Individual PEE Programa de Eficiência Energética
GEE Gases de Efeito Estufa PME Pequenas e Médias Empresas
IEA Agência Internacional da Energia (International Energy Agency, em inglês) TIR Taxa Interna de Retorno
KPI Indicadores Chave de Desempenho (Key Performance Indicators, em inglês) VPL Valor Presente Líquido
RESUMO
EXECUTIVO
RESUMO EXECUTIVO
05
RESUMO EXECUTIVO
Nos próximos capítulos, serão desmistificados alguns mais ampla a respeito destes benefícios, bem como
destes ganhos, de modo a fornecer uma metodologia de apresentar uma metodologia de análise de
análise sistemática dos múltiplos benefícios de medidas investimentos em eficiência energética e maneiras de
de eficiência energética. No capítulo 1, é feita uma breve quantificar alguns destes benefícios. Também serão
introdução sobre medidas de eficiência energética na apresentados alguns estudos de caso, para mostrar
indústria e seus benefícios. O capítulo 2 apresenta uma como a consideração destes ganhos muda
classificação dos múltiplos benefícios em 6 diferentes significativamente a avaliação de investimentos em
categorias. O capítulo 3 apresenta alguns incentivos e medidas de EE (eficiência energética).
barreiras encontrados em estudos de caso na indústria,
para implementação de programas de eficiência
energética. O capítulo 4 apresenta uma metodologia
passo a passo para a avaliação de projetos de eficiência
energética. O capítulo 5 apresenta alguns estudos de
caso publicamente divulgados sobre implementação de
medidas de eficiência energética e os múltiplos
benefícios em decorrência destas medidas.
Ao não se considerar todos os benefícios envolvidos na
implementação de medidas de eficiência energética, o
gestor pode ser induzido a erros na tomada de decisão,
deixando de fazer um investimento que seria bastante
rentável e benéfico para a organização.
Assim, espera-se, neste trabalho, fornecer uma visão
06
1
INTRODUÇÃO
1- INTRODUÇÃO
A eficiência energética frequentemente é relacionada economia de energia e o tempo cai para 1,9 anos ao
apenas à redução de custos com energia. No entanto, serem considerados e quantificados todos os
existem uma série de outros benefícios que vêm como benefícios, sendo os ganhos não energéticos maiores
consequência da implementação de um plano de em 63% dos casos [16].
eficiência energética. A melhora do rendimento energético na indústria pode
A estimativa de quanto os benefícios não energéticos trazer melhor aproveitamento das instalações e
(BNE’s) representam em termos financeiros varia equipamentos elétricos, melhoria na qualidade do
bastante de acordo com o tipo de indústria e da produto, redução no consumo energético e aumento de
tecnologia utilizada na busca de melhoria de eficiência produtividade sem afetar a segurança e redução das
energética, mas existem estudos consistentes na despesas com eletricidade [4]. A avaliação dos
literatura que apuram números bastante significativos, benefícios de implementação de um programa de
onde alguns benefícios não relacionados diretamente eficiência energética é dada através de análises
com economia de energia representaram entre 20% e financeiras a respeito da estimativa do valor
50% do total de dinheiro economizado com um economizado pelo programa de eficiência energética
determinado projeto de melhoria [7]. Há casos em que [12]. Um exemplo é o cálculo da taxa interna de retorno
benefícios não relacionados à energia são ainda mais (TIR) de um investimento, através da estimativa do
relevantes, chegando a até 140% do valor da economia custo inicial e da expectativa de retorno financeiro ao
[10].
longo do tempo de vida do projeto, ou do cálculo do
A avaliação de investimentos de EE é distorcida se não
Valor Presente Líquido (VPL) de um investimento. Alguns
forem considerados os múltiplos benefícios. Em 2003,
uma avaliação de casos de medidas de EE na indústria cálculos feitos desta forma levam em conta benefícios
em países membros da OCDE identificou que o tempo adicionais, como o valor presente líquido do ganho de
de payback médio de intervenções de EE na indústria é produtividade que os investimentos em eficiência
4,2 anos, considerando apenas os benefícios em energética trazem para o processo industrial [8].
08
1- INTRODUÇÃO
Um relatório elaborado pela Confederação Nacional da eficiência energética, enquanto outros potenciais
Indústria [5], apresenta um estudo de caso de medidas benefícios ainda não fazem parte dos KPIs (Key
de eficiência energética em diversos setores, e é Performance Indicators) [6].
baseado no cálculo de custo da energia economizada, Diante da expressividade destes números obtidos, é
em R$/MWh, para comparar as alternativas de importante que se consiga identificar e quantificar
investimento. Para isso, é feita uma estimativa da possíveis benefícios adicionais advindos da
energia economizada, e o valor monetário é calculado implementação de projetos de eficiência energética, de
utilizando uma taxa de desconto de 12% ao ano, modo a fornecer uma visão sistemática que possa
estimando a vida útil do projeto em 10 anos, contribuir com a tomada de decisão a respeito destes
apresentando resultados bastante promissores para projetos.
diversos segmentos da indústria.
Ao se avaliar apenas o benefício financeiro em termos
de economia de energia de um investimento em
eficiência energética, pode-se estar negligenciando
outros benefícios fundamentais para o processo de
tomada de decisão. A falta de informação sobre
benefícios pode levar à perda de oportunidades
efetivas em termos de custo [15]. Gestores de energia
normalmente negligenciam a importância de benefícios
como a criação de valor e a mitigação de riscos ao
avaliar uma decisão de investimento em um projeto de
09
2
CLASSIFICAÇÃO
DOS MÚLTIPLOS
BENEFÍCIOS
2- CLASSIFICAÇÃO DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS
A respeito dos múltiplos benefícios dos programas de eficiência Para facilitar a compreensão destes aspectos de maneira
energética: qualitativa, os múltiplos benefícios são classificados em
Algumas tecnologias identificadas como eficientes em termos de categorias específicas. A Tabela 1 mostra um resumo das
energia por reduzir o consumo de energia acabam trazendo classificações destes benefícios, que serão descritos ao
vários benefícios adicionais ao processo de produção. Estas
melhorias, entre elas menores custos de manutenção, aumento longo deste capítulo, segundo uma metodologia de
de produtividade, condições de trabalho mais seguras e muitas trabalho da IEA[6].
outras, são referidas como benefícios de produtividade, ou
benefícios não relacionados a energia (Non-energy benefits).
Worrell et al. [16]
Tabela 1: Classificação dos múltiplos benefícios. Fonte: IEA[6]
11
2- CLASSIFICAÇÃO DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS
12
2- CLASSIFICAÇÃO DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS
13
2- CLASSIFICAÇÃO DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS
15
3
INCENTIVOS E BARREIRAS
À IMPLEMENTAÇÃO DE
PROJETOS DE EE
3- INCENTIVOS E BARREIRAS À IMPLEMENTAÇÃO
DE PROJETOS DE EE
Os fatores que motivam projetos de eficiência energética correlação entre estes fatores [16]. Diante disso,
no mundo são diversos. Surpreendentemente, apenas embora os ganhos econômicos sejam relevantes, é
30% dos trabalhos entre 1978 e 2016, tiveram fatores necessário conduzir a análise para além dos aspectos
econômicos como principais motivadores [14]. puramente econômicos. Uma matriz de classificação a
44% tiveram motivadores organizacionais (como maior respeito da facilidade de se quantificar os benefícios e
controle sobre uso de energia, cooperação entre setores do horizonte temporal é apresentada na Tabela 2[11].
da empresa, auditorias energética e melhoria em Esta matriz avalia a facilidade de se quantificar um
indicadores de desempenho, perfil socioambiental da benefício em termos monetários, isto é, alguns
empresa, sistema de gerenciamento ambiental, saúde e aprimoramentos, como níveis de ruído ou qualidade do
segurança, estratégia energética de longo prazo, ar, são facilmente mensuráveis, porém, é difícil
motivação e satisfação de colaboradores, inovação e converter estas medidas em valores monetários.
pesquisa e desenvolvimento)[14], o que mostra que Portanto, estes benefícios são classificados como de
projetos de eficiência energética têm uma importância difícil quantificação, em termos financeiros.
que vai muito além de economia de energia, sendo o
âmbito estratégico o principal motivador na tomada de
decisão [1].
Como tratado no capítulo 3, existem diversos impactos
positivos quando uma indústria adota medidas de
eficiência energética nas mais diferentes esferas. Alguns
dos benefícios não relacionados à economia de
energia são intuitivamente mensuráveis, como por
exemplo, ganhos de produtividade, ganhos com operação
e manutenção, economia de matéria prima, redução de
desperdício de água.
Já outros, como por exemplo, melhoria no ambiente de
trabalho que elevam a segurança e aumentam a
satisfação dos colaboradores, podem aumentar a
produtividade da empresa, porém, é difícil se fazer uma
17
3- INCENTIVOS E BARREIRAS À IMPLEMENTAÇÃO
DE PROJETOS DE EE
Tabela 2: Classificação dos benefícios quanto a facilidade de se quantificar e o prazo. Fonte: Rasmussen[11]
Facilidade de se
quantificar CURTO PRAZO LONGO PRAZO
(em termos
monetários)
• Aumento da produção, • Redução de custos com colaboradores,
• Redução no tempo de configuração de máquina, • Redução nos custos de manutenção,
• Melhor desempenho da operação, • Redução no desgaste de máquinas e equipamentos,
ALTA • Menor tempo de processamento, • Aumento na vida útil das máquinas e equipamentos,
• Redução de custos operacionais, • Redução nos custos com refugo e retrabalho,
• Redução de uso de matéria prima. • Aumento na confiabilidade.
Um investimento é estratégico se este contribui para criar, manter eficiência energética na esfera das 3 dimensões que envolvem a
ou desenvolver vantagem competitiva sustentável [1]. Neste estratégia da empresa. A Figura 1 mostra um exemplo de
sentido, diversos benefícios apontados no capítulo 3 contribuem, ferramenta que ajuda a analisar o impacto de um investimento
seja através da geração de mais valor para o cliente (por meio de nas 3 dimensões de estratégia competitiva. Outras ferramentas
inovação, melhoria na qualidade, melhor papel ambiental, entre para analisar os múltiplos impactos de investimentos em EE
outros), como na redução de custos que não agregam valor (como serão descritas no capítulo 5.
custos com desperdícios descritos anteriormente). Aterceira esfera
de geração de valor envolve os riscos. A análise de projetos de
18
3- INCENTIVOS E BARREIRAS À IMPLEMENTAÇÃO
DE PROJETOS DE EE
As principais barreiras para investimentos em eficiência energética são a falta de tempo e de recursos financeiros
para a realização dos investimentos, somada a possíveis custos não identificados (riscos) e perdas por
capacidade ociosa. Isso é especialmente relevante para as empresas de pequeno e médio porte, que relatam
maior dificuldade em ter acesso a crédito, ter tempo e pessoal especializado em mensurar esses valores [14]. Por
esta razão, o programa PotencializeEE oferece acesso a crédito e apoio às pequenas e médias indústrias na
implantação de projetos de eficiência energética.
Figura 1: Ferramenta para avaliar um investimento em termos estratégicos. Fonte: Cooremans [3]
IMPACTOS IMPACTOS
Acréscimos na NOS CUSTOS NOS RISCOS
proposta de valor Que se correm para
da empresa se produzir a proposta
de valor
VANTAGEM COMPETITIVA
19
4
PASSOS PARA A AVALIAÇÃO
DE PROJETOS DE EE SOB
A ÓTICA DOS MÚLTIPLOS
BENEFÍCIOS
4- PASSOS PARA A AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE
EE SOB A ÓTICA DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS
Uma forma de se avaliar os múltiplos benefícios de medidas de EE é através da metodologia desenvolvida pelo
projeto m-benefits (www.mbenefits.eu), um projeto financiado pela União Europeia, que tem por objetivo disseminar
informações para auxiliar gestores na tomada de decisão em relação a investimentos em eficiência energética.
A Figura 2 mostra um esquema com os passos da metodologia. É importante que cada uma das etapas descritas
tenha um entregável.
Figura 2: Esquema de análise de investimento em EE. Fonte: Multiple Benefits of Energy Efficiency[1] (traduzido)
IDEIA DE
02
PROJETO Energia e 05
Operações Apresentação
de resultados
01
Análise da
empresa DECISÃO DE
04 INVESTIMENTO
Impactos
estratégicos
03
Impactos
financeiros
21
4- PASSOS PARA A AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE
EE SOB A ÓTICA DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS
O primeiro passo ao se pensar em realizar um Esta etapa pode frequentemente ocorrer sob a forma de
investimento em eficiência energética consiste na uma auditoria energética, mencionada em diversos
análise do negócio em si, e, para isso, há diversas trabalhos citados neste documento. Consiste em
ferramentas, como o business canvas, a análise do realizar um diagnóstico sobre toda energia utilizada na
investimento dentro da perspectiva estratégica (como planta, a fim de fazer um levantamento do consumo
mostrado na Figura 2 e os motivadores das decisões de atual, estabelecer métricas e indicadores e identificar
investimentos da companhia (o que guia a companhia medidas de eficiência energética que sejam viáveis e
na tomada de decisão). Durante esta etapa, é lucrativas.
fundamental identificar as atividades chave da O consumo energético avaliado deve envolver as fontes
empresa, os segmentos de consumidores, a proposta de primárias de energia (como carvão, gás, combustível,
valor, recursos, estrutura de custos e fontes de receita, entre outros), secundárias (eletricidade) e terciárias
de modo a poder visualizar como uma decisão de (como por exemplo, ar comprimido, vapor, água, entre
investimento em um projeto de EE poderá contribuir outros insumos que possuem energia “armazenada”) e,
nestes fatores. Algumas ferramentas úteis estão posteriormente, devem ser identificados meios de
disponíveis no endereço eletrônico [3]. reduzir o consumo energético de máquinas e
Também é importante avaliar se é de interesse da equipamentos. Uma análise operacional também deve
empresa obter algumas certificações relevantes neste ser realizada nesta etapa, de modo a identificar, além de
quesito, como ISSO 9001, por exemplo, e se isso traz possíveis reduções de custo, os Benefícios não
algum tipo de vantagem competitiva, como a empresa Energéticos (BNE’s) que vêm como consequência das
quer se comunicar com os clientes, entre outros fatores. medidas de eficiência energética, como melhora na
Em suma, a ideia desta etapa é identificar como o qualidade, confiabilidade, segurança, entre outros
projeto de eficiência energética poderia contribuir para citados no capítulo 3.
o modelo de negócios da empresa.
22
4- PASSOS PARA A AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE
EE SOB A ÓTICA DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS
Para auxiliar nesta tarefa, um mapeamento de processos visam a eliminação de custos que não agregam valor ao
pode ser feito, identificando sequencialmente cada cliente, ou aumento de produtividade (que pode se traduzir
operação que compõe o processo e analisando as em aumento de receita, se houver demanda). Outros
oportunidades de melhoria em cada uma delas. A benefícios são de natureza mais incerta. Melhores ambientes
excelência operacional deve ser analisada em 4 diferentes de trabalho, mais seguros e que deixam os colaboradores
dimensões, com métricas para cada uma delas [3]: mais satisfeitos podem aumentar a produtividade da
• Segurança. Métricas: número de acidentes por ano, empresa, além de colaborar para a aquisição e retenção de
percepção de segurança pelos colaboradores, dias de talentos, mas é difícil quantificar monetariamente este
afastamento benefício [16]. O benefício de maior percepção de qualidade
• Qualidade do produto e do processo produtivo. Métricas: por parte do cliente também pode ser de difícil mensuração
tempo de parada de operação, índice de refugos, analítica.
percentual de perda de matéria prima, índice de Idealmente, a análise operacional e energética deve ser feita
produtividade de maneira conjunta, identificando-se onde cada processo se
• Custo. Métricas: custo com matéria prima por período, relaciona com cada consumo de energia (primária,
custo de matéria prima perdida, custo de energia, água e secundária ou terciária), e qual a contribuição desta energia
outros insumos, custos com horas extra para o processo, para, assim, identificar pontos de melhoria.
• Tempo para o mercado (Time-to-market): consiste no
tempo que uma unidade de produto leva desde a
concepção até estar disponível para os clientes. Métricas:
tempo de preparação de máquina, produtividade diária,
tempo médio de parada de máquina por mês, novos
produtos desenvolvidos por ano
Como é possível observar, algumas métricas relacionadas
aos múltiplos benefícios são facilmente convertidas em
valores financeiros, como índices de produtividade, tempo
de parada, métricas relacionadas a custo, índices de
perdas por refugos, entre outras. Estes fatores são de
grande relevância estratégica para a indústria, já que
23
4- PASSOS PARA A AVALIAÇÃO DE PROJETOS DE
EE SOB A ÓTICA DOS MÚLTIPLOS BENEFÍCIOS
25
5
ESTUDOS DE
CASOS
5- ESTUDOS DE CASOS
Nesta seção, são apresentados alguns estudos de caso para eficientes. Após implementar o projeto, foram observados
ilustrar múltiplos benefícios de medidas de eficiência alguns benefícios não relacionados com energia, como:
energética.
• A qualidade da operação de moagem melhorou significativamente.
O consumo energético em uma máquina de moagem de acabamento
5.1 Mudanças no sistema de moagem e substituição de
(que não foi modificada) reduziu, graças a melhor qualidade do
compressores de palhetas por compressores de
cimento que vinha da primeira máquina de moagem (onde foi
parafuso mais eficientes, na empresa Lafarge Cement
aplicada a medida de eficiência energética).
Este estudo de caso foi publicado no trabalho de Lilly e • O tempo de secagem do cimento no forno rotativo também
Pearson [7], e consistiu na remodelação de um dos processos diminuiu, graças a melhoria na qualidade da operação de moagem,
de moagem de matéria prima de cimento. Inicialmente, a causando ganhos de produtividade
primeira moagem dos componentes do cimento era feita em • Foi reduzido o custo com substituição das esferas de moagem
câmaras cilíndricas, onde esferas de aço sólidas de diversos
tamanhos eram colocadas juntas para quebrar os ingredientes • A vida útil da bomba de descarga de lama aumentou, graças a
do cimento, o que causava ineficiência, já que nessas câmaras, instalação do ASD
esferas grandes acabavam se chocando contra cimento já • A melhor consistência do cimento melhorou a estabilidade do
pulverizado, enquanto esferas menores colidiam com material forno, reduzindo emissões de SO2 em 78%, reduzindo multas
ainda muito cru, causando pouco impacto. O projeto de ocasionadas por emissões de poluentes, por parte do órgão de
melhoria envolveu dividir o processo em diversas câmaras de controle da qualidade do ar. A emissão de óxidos de nitrogênio (NOx)
moagem, separando-as por etapas de processamento do reduziu em 40% (embora isso não se converteu em um benefício
cimento, ou seja, o cimento menos processado entrava na financeiro direto, devido ao fato de que a Lafarge não pagava multas
primeira câmara, com as esferas maiores, e a medida em que por emissões de NOx).
fosse sendo quebrado, passaria para as câmaras seguintes,
• Foi reduzida a frequência e os custos de manutenção dos
para fazer o processamento em grãos menores. Com isso,
compressores
esperava-se reduzir o consumo dos motores elétricos que
tocam as máquinas de moagem. Além disso, também foi • Foi reduzido o custo com óleo lubrificante e reduzida a carga no
instalado um relé de desligamento automático (ASD – sistema de refrigeração para arrefecimento dos compressores.
Automatic Shutdown Relay) na bomba de descarga de lama. A
última medida foi a substituição de compressores de palhetas A Tabela 3 representa um resumo da economia de custos da
de 200 HP por compressores do tipo parafuso, de 150 HP, mais Lafarge neste estudo de casos:
27
5- ESTUDOS DE CASOS
28
5- ESTUDOS DE CASOS
TANQUES DE
ENXAGUAMENTO 20°C
ARMAZENAMENTO
75°C 75°C
29
5- ESTUDOS DE CASOS
O processo original funcionava da seguinte maneira: • Abastecimento dos tanques de lavagem com água a
após o processo de fresamento, as peças metálicas 50°C, aquecida através de recuperação de calor
eram limpas, enxaguadas e secas, sendo 8 etapas de residual da produção de ar comprimido (por
lavagem e enxágue, seguido por duas etapas de compressores do tipo parafuso). Assim, as
secagem. As duas primeiras etapas eram feitas com resistências precisam elevar apenas a temperatura
água da rede, aquecidas até 75°C e mantidas à essas de 50°C para 75°C , reduzindo os gastos com energia
temperaturas por resistências elétricas. Os tanques • São eliminados os tanques de armazenamento,
de lavagem eram abastecidos por tanques de diante da recuperação de calor, eliminando-se a
armazenamento. Posteriormente, era feito o enxágue necessidade do ácido fórmico, e do uso de EPI’s
com água a 20°C relacionados ao ácido.
Seguido de uma nova lavagem com água mantida a
50°C, seguido de novo enxágue e mais duas lavagens • A limpeza dos tanques é feita com água a 44°C,
com água desmineralizada mantida a 45°C no tanque. vinda do sistema de recuperação de calor, o que
Duas vezes ao dia, os tanques eram esvaziados e elimina os choques térmicos e os riscos de trincas.
limpos com água fria, o que causava choques • O consumo de água é reduzido
térmicos, que implicam em risco de trincas nos
tanques, fazendo com que tivessem de ser
A Figura 4 mostra esta nova configuração:
substituídos. Depois de limpos, os dois primeiros
tanques eram enchidos com água mantida a 75°C nos
tanques de armazenamento, limpos uma vez por mês,
com o uso de ácido fórmico, que é tóxico.
Diante desta situação, foram propostas medidas de
melhoria, que incluíam:
30
5- ESTUDOS DE CASOS
TANQUES DE
ENXAGUAMENTO 44°C
ARMAZENAMENTO
ÁGUA UTILIZADA
O sistema de águas quentes sanitárias do local é aquecido a 55°C pelo calor residual
recuperado da produção de ar comprimido (por compressores parafuso).
Na nova configuração, os tanques das lavadoras são ligados ao sistema de AQS.
31
5- ESTUDOS DE CASOS
A partir disso, diversos benefícios não relacionados a Tabela 4: Descrição da economia total esperada do projeto
energia foram levantados. Apontando-os em cada
aspecto estratégico:
• Riscos: Redução do risco de acidentes com ácido
fórmico, redução de riscos legais, redução no risco de
avarias e de parada de produção
• Proposta de Valor: Aumento da confiabilidade dos
equipamentos e instalações, aumento na satisfação dos
funcionários, contribuição para a visão estratégica da
empresa, aumento da produtividade devido à redução no
tempo de lavagem e paradas para manutenção.
• Custos: Redução no consumo de água, redução nos
custos de manutenção, economia com EPI’s e ácido
fórmico, redução nos custos de energia
Ao se analisar o projeto apenas pela redução nos custos 1
Valores em Euros na referência original, convertidos para real na cotação
de energia, considerando uma duração de 8 anos do de R$ 5,86 por Euro, segundo cotação do dia 17/02/2022
projeto, os autores encontraram uma taxa interna de
retorno de -7,5%, e um tempo de payback de 13 anos.
Porém, ao se considerar todos os benefícios trazidos pela
proposta de melhoria, o tempo de payback cai para 4,7
anos, e a taxa interna de retorno fica em 11,5%. A Tabela 4
apresenta os valores financeiros da economia estimada e
do investimento inicial:
32
5- ESTUDOS DE CASOS
33
¹Disponível em https://www.mbenefits.eu/news-resources/library/metal-surface-treatment-industry-example-2018/
5- ESTUDOS DE CASOS
Taxa Interna
de Retorno 6,9% 118%
(TIR)
Payback
Simples 6 anos 0,85 anos
34
6
CONCLUSÃO
Os projetos de EE para pequenas e médias empresas industriais
vão muito além de economia de energia. Como visto nos
capítulos anteriores, negligenciar estes aspectos leva a perda de
oportunidades por parte de empresas. Intervenções de EE têm
inclusive um impacto estratégico para a empresa, tornando-a
mais competitiva, produtiva, melhorando diversos aspectos no
ambiente de trabalho, qualidade dos produtos, imagem
corporativa, gestão de ativos, operação e manutenção e
ambiente organizacional.
Intervenções de EE envolvem repensar estrategicamente todos
os processos produtivos e operacionais, de modo a racionalizar
os recursos, minimizando desperdícios e melhorando a
qualidade. Por isso, os processos devem ser continuamente
monitorados para que sejam identificadas oportunidades de
melhorias.
Para o caso de pequenas e médias empresas, as medidas para a
redução do consumo de energia possuem uma relevância ainda
maior, por conta da competitividade. Os benefícios de
intervenções de EE além da economia de energia devem ser
identificados e se for possível quantificados para capturar todo o
valor do empreendimento para as pequenas e médias empresas
industriais. Recomenda-se, portanto, que o gerente da empresa
defina com um especialista de EE os tipos de benefícios que são
mais relevantes para a empresa e os indicadores que serão
utilizados na elaboração de um diagnóstico energético.
36
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] C. Cooremans, Make it strategic! Financial investment logic is not enough, Energy Efficiency. 4 (2011) 473–492.
[2] C. Cooremans, MBs Identification and Evaluation Tools, 2019.
[3] C. Cooremans, Training Tools, 2019.
[4] COPEL, Manual de Eficiência Energética na Indústria, 2005.
[5] E. Guardia, J. Haddad, L. Nogueira, R. Akira, Oportunidades de eficiência energética para a indústria, 2010.
[6] IEA, Capturing the Multiple Benefits of Energy Efficiency, 2014.
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[8] B. Marchi, S. Zanoni, I. Ferretti, Energy efficiency investments in industry with uncertain demand rate: Effects on the
specific energy consumption, Energies. 13 (2019).
[9] R. Nishant, T.S.H. Teo, M. Goh, Energy efficiency benefits: Is technophilic optimism justified?, IEEE Transactions on
Engineering Management. 61 (2014) 476–487.
[10] D. Pearson, L.A. Skumatz, Non-Energy Benefits Including Productivity, Liability, Tenant Satisfaction, and Others: What
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