Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Campinas
Fevereiro de 2009
Presidenta
Lucia Carvalho Pinto de Melo
Diretor Executivo
Marcio de Miranda Santos
Diretores
Antônio Carlos Filgueira Galvão
Fernando Cosme Rizzo Assunção
Edição e revisão /
Projeto gráfico e diagramação /
Gráficos /
Capa /
32 p.; Il.; 21 cm
Esta publicação é parte integrante das atividades desenvolvidas no âmbito do Contrato de Gestão CGEE/MCT/2008.
Todos os direitos reservados pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Os textos contidos nesta publicação
poderão ser reproduzidos, armazenados ou transmitidos, desde que citada a fonte.
Impressão
Comitê Executivo
Fernando Cosme Rizzo Assunção (CGEE, Supervisor)
Horacídio Leal Barbosa Filho (ABM)
Rudolf Buhler (IBS)
Gilberto Luz Pereira (ABM)
Lélio Fellows Filho (CGEE)
Elyas Ferreira de Medeiros (CGEE)
Sumário
Resumo 6
Introdução 7
Produtos e matérias-primas 7
Reciclagem 18
Consumo de energia 19
Autoprodução de eletricidade 21
Eficiência energética 23
Resumo
A s usinas siderúrgicas constituem um dos grandes pilares da indústria brasileira, com forte
presença tanto no mercado interno quanto nas exportações do país. Sua elevada impor-
tância econômica e seus significativos impactos ambientais as tornam, com frequência, objeto de
debates, nos quais políticas públicas são sugeridas no sentido da sua expansão ao mesmo tempo
em que organizações sociais fazem restrições de cunho ambiental às suas atividades.
Esta nota técnica procura mostrar que, de um lado, houve grandes progressos na gestão
dos principais insumos energéticos, mas, de outro, ainda há elevados limites de conservação de
energia, tanto térmica como elétrica, que podem ser atingidos, com substanciais benefícios em
termos de competitividade e sustentabilidade ambiental. Bem verdade que tudo isso dependerá
da adoção de estratégias empresariais adequadas e da formulação de políticas públicas de fomen-
to apropriadas.
Introdução
P mas, também, novos arranjos gerenciais e melhores hábitos de consumo têm sido adota-
dos na indústria siderúrgica de inúmeros países. Tais programas visam otimizar o perfil e a
qualidade do consumo, de forma a diminuir os gastos e os impactos ambientais associados ao
consumo de energia.
Nas primeiras seções desta nota técnica são descritas, de uma forma sucinta, os produtos,
matérias-primas e etapas do processo produtivo da indústria siderúrgica no Brasil. São apresenta-
das, também, informações e dados que comprovam o início, nos últimos anos, de uma nova fase
de expansão deste importante ramo industrial no país.
Esta nota técnica desenvolve uma rápida caracterização energética setorial, que inclui um
relato da atual situação da autoprodução de eletricidade no setor. Em seguida, apresenta algumas
estimativas dos potenciais de conservação de energia térmica e elétrica, segundo etapa do pro-
cesso produtivo e grupo homogêneo da indústria siderúrgica nacional. Tais estimativas foram
elaboradas pelo Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (NIPE), da Universidade de
Campinas (Unicamp).
Por fim, na última seção, são apresentadas algumas propostas de novas estratégias em-
presariais e de políticas públicas essenciais, as quais buscam a “materialização” dos elevados po-
tenciais de conservação de energia indicados para esta indústria.
junto de usinas integradas e não-integradas, que produzem produtos laminados (placas, barras,
tubos) e produtores independentes, que produzem unicamente ferro-gusa.
No Brasil, ocorre uma forte concentração da produção de aço em usinas integradas a co-
que, seguido das usinas integradas a carvão vegetal e das usinas semi-integradas. A produção de
aço por redução direta é pequena e concentrada em uma única unidade do grupo Gerdau, na
usina de Pains, localizada na Bahia.
1
. Bajay, S. V., Leite, A. A. F., Beismann, A., Simões, A. F., Rocha, C. R., Dorileo, I. L., Modesto, M., Berni, M.
D. e Sant’Ana, P. H. M. Relatório da etapa II.d: Caracterização técnica dos setores industriais. Projeto: Análi-
se e desenvolvimento de metodologia visando a implementação de projetos de eficiência energética na
indústria. Contrato CNI/Funcamp/Unicamp, Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – NIPE,
Universidade Estadual de Campinas, junho de 2008, 139 p.
Nos altos-fornos se produz gás de alto-forno, que é importante no balanço energético das
usinas integradas.
Figura 1 - Diagrama de produção de aço em uma usina integrada usando coque como agente
redutor e com a redução direta
A produção de aço na usina integrada a coque se inicia com a coqueificação do carvão mi-
neral e a sinterização ou pelotização do minério de ferro. A coqueificação é um fenômeno que
ocorre quando o carvão é aquecido a temperaturas elevadas com ausência de oxigênio, o que
provoca a liberação de gases e a formação de um resíduo sólido, poroso, com alta concentração
de carbono, chamado coque.
O carvão mineral usado na coqueificação deve ter baixos teores de cinzas e de enxofre,
além de baixa incidência de materiais voláteis, para não prejudicar a produtividade e o consumo
energético nos altos-fornos. O carvão que possui estas características é chamado de metalúrgico.
O tempo total requerido para a coqueificação da carga varia de 13 a 24 horas, sendo fun-
ção, essencialmente, da largura do forno, temperatura de operação e densidade do carvão. Após
o desenfornamento, o coque é levado para extinção da queima, o que pode ser feito com o uso
de água, ou a seco.
Coque
Em muitas jazidas de minérios de ferro, uma parte do minério é constituída por material
friável, que se desagrega facilmente, produzindo finos que não podem ser usados diretamente no
alto-forno ou na redução direta. Tais finos são aglomerados em processos de sinterização, ou de
pelotização, produzindo material de granulometria controlada e excelente rendimento nos altos-
fornos.
Há várias vantagens quanto ao produto obtido, tais como alto teor de ferro, uniformidade
dimensional e da composição química em faixas rígidas preestabelecidas, alta resistência mecâni-
ca, maior redutibilidade e melhor aproveitamento metalúrgico dentro do alto-forno.
O processo de redução direta, no qual os óxidos metálicos sofrem redução no estado sóli-
do, é uma alternativa ao processo de redução em altos-fornos. O produto desse processo é o fer-
ro esponja, isto é, o minério de ferro do qual foi retirado, em grande parte, o oxigênio combinado;
ou seja, o minério é enriquecido em ferro sem a incorporação de elementos estranhos à sua cons-
tituição original.
Uma das principais vantagens operacionais dos processos de redução direta é viabilizar a
instalação de mini-usinas, menores do que as usinas convencionais com altos-fornos. É necessá-
rio, entretanto, dispor-se de redutor/combustível em quantidade suficiente e baixo custo no local.
• Refino do aço
(ii) A metalurgia de panela ou refino secundário, que visa melhorar as características estrutu-
rais do aço e reduzir o tempo de corrida da aciaria;
Aciaria
usinas integradas a coque, ou a carvão vegetal. O segundo é mais usado em usinas semi-
integradas, cujo processo começa na aciaria, ou em usinas integradas que empregam a redução
direta.
O forno elétrico de arco é o instrumento mais versátil de produção de aço e, nas últimas
décadas, vem se tornando um dos mais eficientes. Suas principais vantagens são:
(i) Ele permite produzir praticamente todos os tipos de aços: carbono, baixa-liga, ferramen-
ta, alta-liga, inoxidáveis, entre outros;
(ii) É um equipamento extremamente versátil no que se refere à carga, podendo ser operado
com 100% de sucata;
(iv) Dos fornos de aciaria, ele é o que permite obter valores mais baixos de fósforo e enxofre
no aço produzido;
Escória fundida e gás de aciaria, este último destinado ao sistema de gases da usina, são
subprodutos da produção do aço.
pregar um processo chamado de lingotamento contínuo, com ganhos na qualidade do aço produ-
zido, com perdas de aço inferiores e um menor consumo de energia.
• Laminação
Os produtos laminados a frio são geralmente recozidos antes das etapas finais do proces-
samento, ou embarque. Os fornos de recozimento não são equipamentos que respondem por
parcelas elevadas do consumo global de uma instalação integrada. Normalmente, eles utilizam
gás de coqueria, óleo combustível e gás natural como insumo energético.
tria siderúrgica brasileira iniciou em 2006 um novo ciclo. Os investimentos desta indústria salta-
ram de US$ 1,894 bilhão, em 2005, para US$ 3,055 bilhões, em 2006. Com o objetivo de atingir o
mercado externo, as empresas preveem investir US$ 23 bilhões até o final de 2012, com a pers-
pectiva de aumentar a capacidade instalada de 37,1 Mt anuais para 59 Mt. Se o mercado interno
responder aos incentivos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, a
projeção de investimentos, segundo projetos em estudos, pode aumentar para US$ 37,6 bilhões,
elevando a capacidade instalada para 78 Mt2.
No início de 2007, o Grupo Votorantim confirmou seu plano de construção de uma nova
unidade no Rio de Janeiro, a Siderúrgica Resende, com valor atualizado de R$ 1,2 bilhão e capaci-
dade de produção de 1,05 milhão de toneladas de aço.
A Gerdau pretende investir US$ 277 milhões com o objetivo de ampliar a capacidade de
produção da Açominas de 4,5 milhões para cinco milhões de toneladas de aço em 2010.
Além do foco nas exportações, o atual ciclo se caracteriza, também, por uma busca de
verticalização e por uma diversificação dos produtos semiacabados oferecidos ao mercado. E-
xemplo disto são as empresas que só produziam aços planos que passaram também a produzir
aços longos e vice-versa. Outro exemplo: o Grupo Arcelormittal, maior conglomerado siderúrgico
do mundo, que atualmente controla a CST, a Belgo e a Acesita, demonstrou interesse em adquirir
minas de ferro no Brasil e, desta forma, diminuir sua dependência da mineradora Vale do Rio Do-
ce. O Grupo pretende transformar o Brasil em um pólo exportador, principalmente para os Esta-
dos Unidos, devido à facilidade logística. Para tanto, tem planos de investir cinco bilhões de dóla-
res no país até 2012.
A Companhia Vale do Rio Doce, por seu turno, procura atrair novos investimentos na in-
dústria siderúrgica brasileira. Sua intenção é participar, temporariamente, desses investimentos
como sócio minoritário, de modo a garantir o suprimento de minério de ferro e oferecer sua exce-
lente estrutura logística de transporte do minério no país. Este arranjo está sendo adotado em
uma planta siderúrgica com a Thyssenkrupp Steel. Ela deve começar a operar em 2009, no Rio de
Janeiro, e produzir cinco milhões de toneladas de aços planos por ano. Está prevista, ainda, uma
2
. Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). Investimentos e expansão da produção. Rio de Janeiro: 2008.
3
. Paula, G. M. de. Nota técnica sobre Siderurgia: Estudos prospectivos setoriais e temáticos – Módulo
4/Estudo da dimensão territorial do PPA. Brasília: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), 2006.
parceria da Vale com a Pecém Steel Dongkuk com o objetivo de instalar uma planta em Pecém, no
Ceará, com uma capacidade de produção de 2,5 milhões de toneladas por ano, que deve ser co-
missionada também em 2012. Em agosto de 2008, a Vale anunciou um plano para construir a
siderúrgica de Marabá, no Pará, orçada em US$ 3,3 bilhões, com previsão para começar a operar
em 2013.
Mt Mt %
4
. Paula, G. M. de. Op. cit.
5
. Superada, evidentemente, a atual crise financeira e a recessão nos EUA e em diversos outros países.
xo, ilustra como evoluiu, no período 1996-2005, a participação da indústria siderúrgica na forma-
ção do PIB nacional6. Pode-se observar que houve um aumento nesta participação de 0,46%, em
1996, para 0,95%, em 2005, com uma média de 0,63% na década analisada.
1,40
1,20
1,20
1,00 0,95
(VA/PIB)*100
0,80 0,71
0,60 0,62
0,60
0,46 0,46 0,49
0,44
0,40
0,40
0,20
0,00
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Anos
6
. Bajay, S. V., Beissmann, A., Simões, A. F., Rocha, C. R., Dorileo, I. L., Modesto, M., Berni, M. D. e Sant’Ana,
P. H. M. Relatório da etapa II.f: Caracterização econômica dos setores industriais. Projeto: Análise e desen-
volvimento de metodologia visando a implementação de projetos de eficiência energética na indústria.
Contrato CNI/Funcamp, Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – NIPE, Universidade Estadual
de Campinas, 2008, 51 p.
Planta Resíduos
Gases (NOx/VOCs)
Dioxinas
Metano
Coqueria
Benzeno
Fenóis
Compostos alifáticos
Material particulado
Sinterização Dioxinas
Gases (CO/CO2/SO2/NOx/VOCs)
Fenóis
Cianetos
Amônia
Altos-fornos Sulfetos
Gases (CO/CO2/NOx)
Refratários
Escória
Dessulfuração Material particulado
Material particulado
Metais (Zn)
Gases (CO/CO2/VOCs)
Aciaria LD BOF (refino primário) Metais solúveis
Material sedimentado
Escória
Refratários
Gases (CO/CO2)
Material particulado
Refino secundário Sucata
Escória
Refratários
Sucata
Material particulado
Lingotamento contínuo
Sólidos suspensos
Óleos
Óleos
Ácidos
Laminação Gases (CO/CO2/SO2/NOx/VOCs)
Material sedimentado
Metais solúveis
7
. International Energy Agency (IEA). Tracking industrial energy efficiency and CO² emissions. Paris: Organi-
zation for Economic Co-operation and Development, 2007.
bilhões de dólares por ano, é uma prática ambientalmente muito desejável, pois minimiza o gasto
energético e aumenta a disponibilidade de recursos naturais8.
8
. Bajay, S. V., Leite, A. A. F., Beissmann, A., Simões, A. F., Rocha, C. R., Dorileo, I. L., Modesto, M., Berni, M.
D. e Sant’Ana, P. H. M. Relatório da etapa II.e. Caracterização ambiental dos setores industriais. Projeto:
Análise e desenvolvimento de metodologia visando a implementação de projetos de eficiência energética
na indústria. Contrato CNI/Funcamp/Unicamp, Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético – NIPE,
Universidade Estadual de Campinas, 2008, 51 p.
10.000
Sucatas de ferro e aço
(1000 t) 8.000
6.000
4.000
2.000
0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Anos
1970-2007, dos consumos absoluto e relativo, respectivamente, dos insumos energéticos da in-
dústria siderúrgica brasileira.
20.000
18.000
Consumo (1000 tep)
16.000
14.000
12.000
10.000
8.000
6.000
4.000
2.000
0
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
Anos
A quantidade de carvão mineral empregada nesta indústria vem aumentando desde o iní-
cio da década de 1990. A maior parte é carvão pulverizado injetado nos altos-fornos, em substitu-
ição parcial do coque. A participação do gás natural no consumo total do setor vem crescendo
lentamente. Por outro lado, o óleo combustível vem sendo substituído por gás natural e por gás
de alto-forno.
100%
80%
60%
40%
20%
0%
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
Anos
tradicionais da eficiência energética dos altos-fornos são o consumo específico de coque, em kg/t
de ferro gusa, conhecido pela designação inglesa coke rate, e o consumo específico de finos de
carvão, também em kg/t gusa, conhecido pelo nome inglês Pulverized Coal Injection, ou simples-
mente PCI.
Pode-se diminuir o coke rate aumentando-se o PCI, com um ganho líquido na energia que
se economiza com o carvão que é injetado diretamente nos altos-fornos, sem a necessidade de
ser transformado em coque.
Há uma designação inglesa para a soma destes dois consumos específicos: fuel rate.
A evolução, de 1998 a 2007, dos valores médios destes três indicadores nos altos fornos
do país está indicada na Figura 6.
600
500
400
kg/t gusa
300
200
100
0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Anos
A análise desta figura permite constatar que, durante o período 1998-2007, aumentou o
“PCI” menos do que diminuiu o “coke rate”, resultando em um “fuel rate” decrescente, ou seja,
aumentou a eficiência média dos altos fornos brasileiros, sobretudo no triênio 2005/2007.
Tabela 3 - Capacidade instalada, em 09/2008, de usinas de geração de energia elétrica que ope-
ram com gases efluentes, em siderúrgicas
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) possui uma unidade geradora em sua usina de
Volta Redonda, no Rio de Janeiro, com uma capacidade de 235,2 MW, que consome gás natural.
9
. Anuário Estatístico. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), 2008.
avanços da indústria siderúrgica brasileira, desde a década de noventa, no consumo de seus in-
sumos energéticos e na produção de alguns deles. Há, no entanto, ganhos substanciais adicionais
a serem auferidos (essenciais para se vencer os desafios da competição e das pressões ambientais
crescentes), com a adoção de novas tecnologias e novos programas de eficiência energética, con-
forme demonstrado no restante da nota técnica.
setor industrial, é menor do que o potencial econômico e, este, é menor do que o potencial técni-
co, desde que as metodologias utilizadas em sua determinação sejam compatíveis.
A maior parte dos potenciais de conservação de energia apresentados nesta nota técnica
são potenciais técnicos.
fornos, conforme já é feito atualmente na Alemanha e no Japão, pode propiciar economias bem
maiores, segundo a Agência: 50% até 2015, 75% até 2030 e 90% até 205014.
Processos que integram a coqueificação com a redução do minério de ferro, tais como o
processo COREX, que utiliza finos de carvão e minério aglomerado e os processos FINEX e Hismelt,
que empregam finos do minério ao invés de seus aglomerados, têm potencial para economizar 5%
do consumo de energia na produção de aço no mundo até 2015, 15% até 2030 e 19% até 2030. Os
gases residuais produzidos nestes processos podem ser usados na redução direta do minério de
ferro, como está sendo feito na África do Sul15.
Duas tecnologias, denominadas near-net-shape casting para perfis, e thin-slab casting pa-
ra produtos planos, foram desenvolvidas, recentemente, no exterior com a finalidade de fundir,
em uma única operação, as etapas de lingotamento e laminação a quente. Com isto, são elimina-
dos os fornos de reaquecimento, o que propicia economias de capital na instalação das plantas e
economias de energia na sua operação. A Agência Internacional de Energia estima que tais tecno-
logias podem propiciar economias de energia nestas etapas do processo produtivo de 80% até
2015 e 90% até 203016. Estas tecnologias ainda não são utilizadas no Brasil, por conta dos pesados
investimentos feitos em lingotamento contínuo nos últimos anos.
Bernstein et alii17 citam que, com as tecnologias atualmente disponíveis no mercado, ha-
veria, em 2010, um potencial técnico de economia de energia de 24% e que, em 2010, mais 5%
poderiam ser alcançados empregando-se novas tecnologias, como os processos COREX, FINEX ,
near-net-shape casting e thin-slab-casting.
14
. International Energy Agency (IEA). Energy Technology Perspectives 2006 – Scenarios and strategies to
2050. Paris: Organization for Economic Co-operation and Development (OECD), 2006.
15
. International Energy Agency (IEA). Op. cit.
16
. International Energy Agency (IEA). Op. cit.
17
. Bernstein et alii. Op. cit.
18
. Martin, N., Worrell, E., Ruth, M., Price, L., Elliott, N., Shipley, A. M., Thorne, J. Emerging energy-efficient
industrial technologies. LBNL Report Number 46990, Energy Analysis Department, Environmental Energy
Technologies Division. Berkeley: Lawrence Berkeley National Laboratory, 2000.
servação de energia nesta indústria, embora, segundo a avaliação destes autores, têm menores
perspectivas de difusão nesta indústria.
Só a substituição dos equipamentos então utilizados por outros de eficiência mais eleva-
da, disponíveis no mercado, possibilitaria uma economia potencial de energia de 4,8% em 2006,
segundo o Balanço de Energia Útil do Ministério de Minas e Energia20. 81,1% desta economia o-
correriam no uso final aquecimento direto.
Nesta seção são apresentados alguns potenciais técnicos de conservação de energia, tér-
mica e elétrica21.
Os consumos, médio e mínimo, de energia térmica e energia elétrica, de cada etapa pro-
dutiva e, quando pertinente, de cada grupo homogêneo da indústria siderúrgica foram calculados
multiplicando-se a produção física anual do país pelos consumos energéticos específicos, médio e
mínimo, de energia térmica e eletricidade.
• Coqueificação;
• Sinterização;
• Produção de ferro gusa, separada em usinas integradas e produtores independen-
tes;
• Produção de aço, separada em conversores a oxigênio e em fornos elétricos;
• Laminação a quente;
• Laminação a frio.
19
. Moura, R. C. Resultado de eficiência energética na indústria. Visão da ABESCO – Seminário Internacional
de Eficiência Energética. Campinas: 2006.
20
. Balanço de energia útil 2005. Brasília: Ministério de Minas e Energia, 2005.
21
. Gorla, F. D. & Bajay, S. V. Relatório da etapa II.i: Simulação dos potenciais de conservação de energia na
indústria. Projeto: Análise e desenvolvimento de metodologia visando a implementação de projetos de
eficiência energética na indústria. Contrato CNI/Funcamp/Unicamp, Núcleo Interdisciplinar de Planejamen-
to Energético (NIPE). Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2008, 65 p.
O consumo específico médio representa a média nacional da energia consumida por uni-
dade física de produto dentro de um processo industrial. Por outro lado, o consumo específico
mínimo representa a quantidade de energia que seria consumida pelas empresas industriais se
todas elas adotassem tecnologias que correspondem ao estado da arte, em termos de eficiência
energética.
As diferenças entre os consumos, médio e mínimo, das energias térmica e elétrica forne-
cem os correspondentes potenciais técnicos de conservação de energia.
Tanto os consumos específicos, como os dados de produção física para cada etapa produ-
tiva/grupo homogêneo foram obtidos da literatura técnica, de anuários estatísticos e de visitas
técnicas a algumas plantas industriais. Destacaram-se, dentre estas fontes de dados, o anuário
estatístico de 2008 do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), os anais dos XXVIII e XXIX Seminários
de Balanços Energéticos Globais e Utilidades22, o Anuário Estatístico de 2008 do setor
metalúrgico23 e um trabalho recente do Grupo de Prospecção Tecnológica da Agência
Internacional de Energia24.
A Tabela 4 mostra o potencial técnico estimado de conservação de energia nas usinas si-
derúrgicas brasileiras em 2007, dividido entre as oito etapas produtivas consideradas nas simula-
ções. Os maiores potenciais de conservação estão nas etapas de redução, tanto por usinas inte-
gradas como por produtores independentes, usando energia térmica nos fornos. Em seguida vêm
os potenciais associados às etapas de laminação a quente, coqueificação e refino com conversores
22
. Anais do XXVIII Seminário de Balanços Energéticos Globais e Utilidades. Vitória: Associação Brasileira de
Metalurgia e Materiais (ABM), 2007. Anais do XXIX Seminário de Balanços Energéticos Globais e Utilidades.
Porto Seguro: Associação Brasileira de Metalurgia e Materiais (ABM), 2008.
23
. Anuário Estatístico do Setor Metalúrgico. Brasília: Ministério de Minas e Energia, 2008.
24
. International Energy Agency (IEA). Tracking industrial energy efficiency and CO² emissions. Paris: Organi-
zation for Economic Co-operation and Development, 2007.
LD, nesta sequência, e com maiores potenciais de conservação de energia térmica do que energia
elétrica.
9000000
8000000
7000000
6000000
5000000
tEP
4000000
3000000
2000000
1000000
0
conversores
Refino - fornos
Coqueificação
Redução -
Sinterização
Laminação a
Laminação a
integradas
independentes
-1000000
Refino -
usinas
produtores
Redução -
quente
elétricos
LD
frio
Fonte: (Gorla e Bajay, 2008)
600.000
500.000
400.000
300.000
tEP
200.000
100.000
0
conversores
Refino - fornos
Coqueificação
Sinterização
Laminação a
Laminação a
Redução -
integradas
independentes
Refino -
usinas
produtores
Redução -
quente
elétricos
-100.000
LD
frio
Conclusões e recomendações
O que, apesar dos significativos avanços verificados nos últimos anos, ainda existem eleva-
dos potenciais de conservação de energia na indústria siderúrgica brasileira. Tais poten-
ciais podem ser, em grande parte, constituídos com grandes benefícios para a competitividade e
sustentabilidade ambiental desta indústria, desde que adequadas estratégias empresariais e no-
vas políticas públicas sejam adotadas. Comentam-se, brevemente, a seguir, algumas destas estra-
tégias e políticas que têm tido êxito no exterior e pouca ou nenhuma aplicação no Brasil25.
Uma estratégia essencial, pouco utilizada no Brasil, para se alcançar ganhos de eficiência
energética no longo prazo e se obter saltos sustentáveis de competitividade na indústria siderúr-
25
. Sant’Ana, P. H. M., Fernandes, R. M. e Bajay, S. V. Relatório da etapa I.a: Programas de eficiência energé-
tica industrial em países selecionados. Projeto: Análise e Desenvolvimento de Metodologia visando a Im-
plementação de Projetos de Eficiência Energética na Indústria. Contrato CNI/Funcamp/Unicamp, Núcleo
Interdisciplinar de Planejamento Energético – NIPE. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2008,
40 p.
Acordos voluntários entre governo e indústria têm sido comuns na constituição de pro-
gramas de eficiência energética na indústria siderúrgica em diversos países. Em geral, estes acor-
dos propiciam benefícios fiscais e/ou creditícios para as empresas participantes.
ANEEL, Atlas de Energia Elétrica do Brasil – 2ª edição, Agência Nacional de Energia Elétrica (ANE-
EL), Brasília, DF, 2005
EPE, Balanço Energético Nacional 2007, Empresa de Pesquisas Energéticas, Ministério de Minas e
Energia, Rio de Janeiro, RJ, 2007.
EPE, Balanço Energético Nacional 2008, Empresa de Pesquisas Energéticas, Ministério de Minas e
Energia, Rio de Janeiro, RJ, 2008.
http://www.aneel.gov.br, acessado em setembro de 2008.
CGEE
Fevereiro de 2009