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E SCOLA EB 2,3/S DE M ELGAÇO

TESTE DE AVALIAÇÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA - 7º ANO - ANO LECTIVO DE 1998/99

(...) Certa noite, numa taberna, teve Wang-Fô por companheiro de mesa. O velho bebera para ficar em condições
de pintar mais capazmente um bêbedo; a cabeça pendia-lhe de lado, como se procurasse medir a distância que separava a
sua mão da chávena.
A aguardente de arroz soltava a língua daquele artesão taciturno, e nessa noite Wang falava como se o silêncio
fosse um muro e as palavras cores destinadas a cobri-lo. (Graças a ele, Ling conheceu a beleza das caras dos bebedores
esbatidas pelo vapor das bebidas quentes, o moreno das carnes desigualmente acariciadas pela língua das chamas e o
delicado rosicler das nódoas de vinho que salpicavam as toalhas como pétalas murchas. Uma rabanada de vento rompeu a
janela; a tempestade entrou pela sala. Wang-Fô esgueirou-se para dar a contemplar a Ling o lívido zebrado do relâmpago,
e Ling, maravilhado, perdeu o medo à trovoada. Ling pagou a despesa do velho pintor: como Wang-Fô não tinha
dinheiro nem hospedaria onde ficar, ofereceu-lhe humildemente abrigo. Saíram juntos, Ling segurava uma lanterna; o
clarão projectava nas poças inesperados lampejos. Nessa noite, Ling soube com surpresa que os muros da sua casa não
eram vermelhos, como julgara, mas sim da cor de uma laranja prestes a apodrecer. No pátio, Wang-Fô apontou a forma
delicada de um arbusto em que ninguém reparara até então, e comparou-o a uma rapariga deixando secar os cabelos. No
corredor, acompanhou com enlevo a hesitante caminhada de uma formiga ao longo das fendas da parede, e o horror de
Ling por esses animalejos desvaneceu-se. Então, ao compreender que Wang-Fô acabara de lhe ofertar uma alma e uma
percepção novas, Ling deitou respeitosamente o velho no quarto onde seu pai e sua mãe tinham morrido. Havia anos que
Wang-Fô sonhava fazer o retrato de uma princesa de outrora tocando alaúde debaixo de um salgueiro. Não havia mulher
suficientemente irreal para lhe servir de modelo, mas Ling podia fazê-lo, porquanto não era mulher. Depois, Wang-Fô
falou em pintar um jovem príncipe disparando o arco ao pé de um enorme cedro. Não havia mancebo do tempo presente
suficientemente irreal para lhe servir de modelo, mas Ling pediu a sua própria mulher para posar debaixo da ameixeira
do jardim. Mais tarde, Wang-Fô pintou-a vestida de fada por entre as nuvens do poente, e aquela mulher jovem chorou,
pois aquilo era um presságio de morte. Depois que Ling preferia a ela própria os retratos que Wang-Fô dela fazia, o seu
rosto esmaecia como a flor à mercê do vento quente ou das chuvas cie Verão. Certa manhã, encontraram-na enforcada
nos ramos da ameixeira rosa: as pontas do xaile que a afogava flutuavam entrançadas nos seus cabelos; parecia mais
delgada ainda que habitualmente, e pura como as donzelas dos poemas de tempos idos. (...)

Excerto de «A Salvação de Wang-Fô»


I

Lê com atenção o texto e responde às seguintes perguntas:


1 – Identifica as duas personagens com mais relevo na acção.
2 – Refere o espaço que permitiu o conhecimento das duas personagens.
2.1 – Como é que Ling se torna discípulo de Wang-Fô?
2.2 – Que transformações se operam na vida de ambos?
3 – Cita as várias situações que ocorreram dentro da taberna e a influência que exercem sobre Ling.
4 – Indica os factos que vão ocorrendo depois da saída de Wang-Fô e Ling da taberna.
5 – O que sucede depois do suicídio da mulher de Ling?
6 – Refere o recurso estilístico com o qual o narrador caracteriza a esposa de Ling.

II

1 – Tenta encontrar no texto um exemplo de palavras derivadas por sufixação, derivadas por prefixação e por
aglutinação.
2 – Retira do texto dois substantivos próprios e um substantivo comum.
3- “ No pátio, Wang-Fô apontou a forma delicada de um arbusto...”
3.1 – Descobre na frase acima transcrita o adjectivo nela presente.
3.2 – Coloca-o no grau comparativo de igualdade e no grau superlativo absoluto sintético.
4 – Conjuga o verbo apontar no presente, no pretérito imperfeito e no futuro do indicativo.

Bom trabalho! A professora,_________________________________________________ (Eduarda Juliana Magalhães)

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