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Agradecimentos.................................................................................................................4
Introdução..........................................................................................................................5
1.Problemática...................................................................................................................8
1.1 Descrição do conceito de Shopping........................................................................8
1.2.Tempo e espaço.....................................................................................................10
2.2.O tempo de trabalho e o tempo de não-trabalho..................................................13
2.3.Tempo ocupado, tempo livre e tempo de lazer.....................................................16
2.4.Conciliação da vida profissional com a vida pessoal/familiar.................................17
2.5.Questões de género e o papel social da mulher....................................................19
2.6. A relação entre as habilitações literárias e a herança cultural e as influencias nos
percursos profissionais.................................................................................................22
2.7.Modelo de análise..................................................................................................24
3.Metodologia..................................................................................................................25
3.1.Descrição do espaço de análise..............................................................................26
3.2. Definição da amostra............................................................................................27
3.3. Caracterização dos entrevistados..........................................................................28
3.4.Breve descrição dos entrevistados..............................................................................30
3.5.Caracterização da situação profissional dos indivíduos..............................................32
3.6. A estruturação da entrevista.................................................................................32
3.7.Obstáculos encontrados.........................................................................................34
4.Análise de dados...........................................................................................................35
4.1.Conciliação da vida profissional com a vida familiar..............................................35
4.1.1.Tempo de trabalho..........................................................................................43
4.1.2.Os horários atípicos e o trabalho ao fim de semana.......................................45
4.1.3.Tempo de não trabalho e de lazer...................................................................46
4.2.Nível de satisfação no trabalho..............................................................................49
4.3.Percursos profissionais e expectativas futuras.......................................................55
3.4.Tipologias de trabalhadores...................................................................................65
Conclusão.........................................................................................................................70
Referências bibliográficas................................................................................................78
ANEXOS.........................................................................................................................84
1
Operacionalização dos conceitos 1...................................................................................88
Operacionalização dos conceitos 2...................................................................................89
Guião de entrevista...........................................................................................................90
Grelha de análise de conteúdo..........................................................................................95
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Agradecimentos
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que mesmo a 365km de distancia nunca deixou de me dar palavras de incentivo e
conforto. Agradeço também aos meus verdadeiros amigos dos quais me afastei de
há uns meses para cá, e mesmo assim compreendem as razões e continuam a
torcer por mim.
Introdução
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abstraímos da rotina do dia-a-dia, e nos dedicamos a nós próprios. Este tipo de
empreendimentos, para além de contribuírem para o lazer da população, é
relevante pelo facto de serem também locais onde podem ser observadas relações
sociais.
Os centros comerciais, bem como o trabalho no sector dos serviços, como
o comércio, não têm sido alvos de reflexão por parte dos sociólogos no nosso país.
Existem apenas alguns estudos sobre centros comerciais das zonas metropolitanas
do Porto e Lisboa, embora não direccionadas para o âmbito da sociologia. Uma
investigadora que teve um grande contributo no estudo dos aspectos relacionados
com estes espaços, e mais especificamente com o contexto laboral, é Sofia
Alexandra Cruz. Esta socióloga realizou alguns trabalhos no sentido de retratar os
principais traços identitários dos trabalhadores de superfícies comerciais, dando
ênfase à precariedade laboral e às experiências vividas.
Os Shoppings Centers podem ser considerados como um marco
inovador no comércio a retalho. Torna-se particularmente importante dar relevo
aos trabalhadores destes locais, pois são eles que dão tudo de si para tornar
possível a grandiosidade deste local. Este tipo de empreendimento comporta
horários bastante alargados, para permitir uma maior oferta e comodidade ao
cliente, daí obrigando os que trabalham neste espaço a um modelo de vida
assíncrono. Os horários nocturnos, fins-de-semana, feriados e turnos rotativos
tornaram-se a realidade destes indivíduos. Por isso, é importante identificar que
estratégias utilizam para gerir o tempo atípico no quotidiano. É certo que todos os
indivíduos que trabalham em horários ditos normais efectuam um grande esforço
no sentido de conciliar a vida pessoal com a vida profissional. Mas, e um
indivíduo que trabalha num Shopping? Trabalhando noites, fins-de-semana,
feriados, como organiza a sua vida? Que tempo tem para dedicar aos seus entes
mais próximos? Se, enquanto todos se divertem no Shopping, ele tem de
trabalhar, sentir-se-á satisfeito? Será que a sua remuneração compensa os
sacrifícios que faz? Quem são estes indivíduos? O que esperam para o seu o seu
futuro? Estas são algumas questões que surgiram ao longo deste trabalho. Assim,
o presente trabalho de investigação é centrado na vida dos trabalhadores de
centros comerciais, focando sobretudo a atipicidade dos horários e a gestão do
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tempo destes indivíduos. Inerente à gestão do tempo, encontra-se também a
conciliação da esfera profissional com a familiar. É das dimensões fulcrais neste
trabalho, pois implica compreender de que forma os indivíduos trabalhadores de
Shopping gerem a atipicidade do tempo e do espaço a que estão sujeitos no seu
quotidiano.
Considerou-se necessário conhecer um pouco mais acerca da vida destes
trabalhadores, para que fosse possível analisar mais profundamente. Deste modo,
foram explorados aspectos como os contextos socioeconómicos, os percursos
profissionais e as respectivas expectativas futuras, condições de trabalho e nível
de satisfação com o mesmo, passando também pelas implicações na saúde.
O presente trabalho de investigação realizou-se num Shopping Center na
cidade de Guimarães. Foram realizadas 21 entrevistas a trabalhadores deste local,
19 mulheres e 2 homens, sendo que desse total de mulheres 4 são casadas, 5
vivem em união de facto, 8 são solteiras e 2 são divorciadas. Em relação aos
homens, foram apenas entrevistados 2: 1 casado e 1 solteiro, para evidenciar a
questão das diferenças de género, que se consideram importantes, visto que é uma
profissão essencialmente dominada pelas mulheres.
Após a realização das entrevistas, foi elaborada uma análise de conteúdo
aos depoimentos dos entrevistados, possibilitando conhecer os contextos laborais
e sociais onde se inserem, bem como outros aspectos essenciais, com vista a
concluir os objectivos a que me propus.
Fazendo uma breve apresentação deste trabalho, podemos então dividi-lo
em três capítulos: o primeiro capítulo é relativo à problemática, contendo um
pequeno enquadramento teórico, onde são apresentados os conceitos e as
dimensões fundamentais desta investigação: em primeiro lugar, é feita a
abordagem do conceito de centro comercial, procedendo-se a um enquadramento
histórico sobre o seu surgimento e evolução, bem como as suas definições. De
seguida, são apresentados os conceitos de tempo e de espaço. Ao falar-se em
tempo torna-se necessário fazer a divisão do mesmo em tempo de trabalho e
tempo de não-trabalho, onde são descritos os tipos de tempo e de lazer. Neste
ponto, é também referida a rotina e a relação do tempo com a produtividade,
dando o exemplo da divisão do trabalho. Outro dos pontos referidos é a
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importância da conciliação da vida familiar e profissional e considerando sempre
as diferenças de género, finalmente outra dimensão importante será abordar a
importância da herança cultural e relacionar com os percursos profissionais.
No segundo capítulo é descrita a metodologia utilizada. O método
escolhido foi o indutivo e a técnica utilizada a da entrevista semi-estruturada.
Desse capítulo consta uma caracterização da amostra, bem como a explicação de
todos os passos realizados para a concepção desta investigação, não descurando os
obstáculos encontrados.
No terceiro capítulo, é feita a análise dos resultados das entrevistas. Esta
análise foi também dividida três dimensões, que se consideram as mais
importantes deste trabalho: em primeiro lugar, a conciliação da vida familiar com
a profissional, onde o tema dos horários é fortemente abordado; em segundo
lugar, o nível de satisfação no trabalho, que implica as condições de trabalho
subjacentes e em terceiro lugar, outra dimensão fulcral, que será a dos percursos
profissionais e expectativas futuras, onde um dos temas mais fortemente
abordados será a relação da profissão com as habilitações literárias.
Após a análise das dimensões encontradas nas entrevistas, são
apresentadas a descrição e explicação das tipologias encontradas. A concluir o
trabalho, são apresentadas as conclusões obtidas, onde são relembrados os
objectivos que conduziram esta investigação, deixando inclusivamente algumas
sugestões de aspectos que poderiam ser melhorados, no âmbito nesta profissão.
1.Problemática
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1.1 Descrição do conceito de Shopping
O termo centro comercial começou por ser usado para descrever as ruas e
zonas urbanas onde se concentravam grande número de estabelecimentos
dedicados ao comércio. A expressão centro comercial é uma tradução de um
termo que surgiu nos Estados Unidos “ Shopping Center” (Cachinho, 2000).
Cachinho num estudo sobre centros comerciais em Portugal, publicado no
Observatório do Comércio, descreve assim este conceito: “Empreendimentos
comerciais planeados, constituídos por um conjunto diversificado de lojas de
venda a retalho e serviços, localizados num ou mais edifícios contíguos,
promovidos pela iniciativa privada ou pública e associados às novas formas de
urbanismo comercial” (Cachinho, 2000:8).
Os centros comerciais distinguem-se dos centros de comércio
tradicional do ponto de vista genético, fisionómico, cartográfico e funcional. Do
ponto de vista genético, pois são concentrações de estabelecimentos concebidos
enquanto uma unidade. Do ponto de vista fisionómico, porque todos os
estabelecimentos têm traços uniformes de imagem que diferem do comércio
tradicional e topológico porque enquanto o comércio de rua se encontra no rés-do-
chão e se alinha ao longo de uma rua ou avenida. Nos centros comerciais as lojas
são instaladas em edifícios construídos para o efeito. Do ponto de vista funcional,
os centros comerciais têm a vantagem de, no mesmo local, ofereceram uma
grande variedade de serviços, além das facilidades de estacionamento (Cachinho,
2000).
Nesta linha de pensamento, consideramos que a maior vantagem dos
Shoppings é realmente o facto de neles podermos usufruir de um grande número
de serviços, ou seja, podemos encontrar lojas de vestuário, bijutarias, sapatarias,
lingerie, ourivesarias, lojas de malas de viagens, livraria, lojas de
electrodomésticos, de desporto, de brinquedos, para além da oferta de serviços
como um sapateiro, lavandaria, florista, serviços de costura, agência de viagens,
cabeleireiro, farmácia, hipermercado, quiosque, loja de animais, salas de cinema,
para além de uma grande variedade de restaurantes e até um local onde os pais
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podem deixar os seus filhos enquanto fazem as suas compras comodamente.
Existem também alguns centros que dispõem de ginásios e parques de diversões
no seu interior. Resumindo, no Shopping podemos encontrar e fazer de tudo,
desde comprar um cordão até marcar uma grande viagem, comprar um
medicamento para um filho doente, deixar a roupa na lavandaria enquanto se
arranja o cabelo ou as unhas, ou fazer um programa recreativo, como jantar em
família e terminar numa sessão de cinema.
Contextualizando historicamente o conceito de centro comercial, alguns
autores defendem que nasceram na Europa, enquanto outros atribuem a sua
origem aos Estados Unidos. No entanto, provavelmente, será uma criação norte
americana, que se expande especialmente a partir dos anos cinquenta, e começa a
evidenciar-se na Europa, na década seguinte. Depois da segunda guerra mundial, a
Europa ficou bastante destruída, vivendo uma fase de reconstrução que não
favorecia o investimento na venda a retalho. Nesta fase, a prioridade foi
reconstruir as fontes produtivas, criar emprego, resolver problemas das famílias
desalojadas e reabilitar sectores da cidade afectados pelos bombardeamentos. Face
à conjuntura económica, o mercado consumidor ficou em graves dificuldades de
desenvolvimento, e uma vez que a população não tinha poder de compra, seria
difícil os centros comerciais atingirem sucesso.
Os Estados Unidos foram pouco afectados pela guerra, quer em danos
físicos ou económicos. O aumento do consumismo, que atingiu este país,
propiciou então o sucesso destes empreendimentos. (Cachinho, 2000)
Embora os centros comerciais, da forma como os conhecemos hoje em dia,
tenha sido difundida nos Estados Unidos, a ideia de concentrar no mesmo espaço
o conjunto diversificado de estabelecimentos vem do século passado. Exemplos
vivos disso são as galerias Vittorio Emanuelle em Milão , a Royal Opera Arcade
de Pall Mall em Londres ou as galerias Vivieenne em Paris. Podemos então
afirmar que, apesar de o conceito de centro comercial se ter expandido nos
Estados Unidos, é nas arcadas e antigas galerias comerciais europeias do século
passado que remontam as suas origens (Cachinho, 2000).
Em Portugal, os centros comerciais surgem um pouco mais tarde do que
no resto da Europa devido à instabilidade social, económica e politica. O baixo
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poder de compra das famílias e a pouca abertura do país a alargar horizontes para
o exterior, por influência da ditadura, conduziram a que o surgimento destas
superfícies só se desse no nosso país nos anos oitenta. Após o período conturbado
da revolução do 25 de Abril, a economia tornou-se mais estável, o que
proporcionou o desenvolvimento do comércio retalhista e um aumento do
consumo (Cachinho, 2000).
1.2.Tempo e espaço
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nos espaços de consumo, inovações tecnológicas e o surgimento do emprego
atípico.
O tempo é uma realidade complexa e susceptível de mutações. É
portanto um conjunto de conceitos, fenómenos e ritmos. Podemos considerar
existirem vários tipos de tempo, por exemplo, o tempo biológico e o tempo do
relógio. Entre estes dois tipos de tempo usualmente encontramos os maiores
conflitos. Um exemplo disso é quando efectuamos uma viagem para outro país,
onde o fuso horário é diferente, pois os nossos ritmos biológicos alteram-se
completamente (Hall, 1996). Se quisermos dar um exemplo que se adapte a esta
investigação, podemos referir o facto de grande parte dos indivíduos que
trabalham em centros comerciais não terem a possibilidades de fazer as refeições
em horários regulares. Segundo informações facultadas pelos lojistas, os horários
permitidos por lei são: das 10h às 19h, sendo que neste caso o horário de intervalo
é das 14h às 15h; para quem trabalha o turno da noite, o horário estipulado é das
13h às 22h, sendo o intervalo entre as 18h e as 19h- Se bem que nem todos
cumpram este horário, porque ainda existem muitas lojas onde o funcionário é
privado do seu momento de pausa. Alguns comem na loja e, caso surjam clientes,
param a refeição, e o mais provável é comer a comida fria ou ser obrigado a dar
por terminada a refeição. Muitas das lojas viram-se obrigadas a alterar os horários
para o exigido por lei, em resultado de fiscalizações da Autoridade para as
Condições do Trabalho. Os horários praticados impendem o indivíduo de fazer as
refeições a horas certas, o que origina o conflito de sistemas de tempo.
Segundo Einstein, referido por Edward Hall, o tempo é aquilo que o
relógio nos indica, e esse relógio pode ser qualquer coisa, desde um cronómetro,
um calendário, um programa de produção e até mesmo um estômago pelo meio-
dia. Isto significa que o nosso organismo tem mecanismos internos que nos
permitem medir o tempo, e pedir que necessidades como comer, dormir e acasalar
sejam satisfeitas (Hall, 1996).
Os relógios foram uma invenção da Europa no século XIV. Mas, só as
famílias com maior poder financeiro os possuíam. A sua difusão em mercados e
maior acesso à maioria dos cidadãos ocorreu só no século XVI.
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Na Idade Média, o tempo era medido em unidades religiosas: através dos
sinos das igrejas marcavam-se os tempos de comer, de trabalhar e até de rezar. No
entanto, com a invenção do relógio mecânico, foi possível saber as horas com
precisão, quer se estivesse perto de uma igreja ou não e assim o tempo deixa de
depender do espaço (Sennett, 2000). É através do relógio que temos uma maior
noção de que o tempo passa, foge ou se arrasta. Por vezes, os relógios não estão
em sincronia, isto é, o relógio interno com o externo. Isto significa, segundo
Edward Hall (1996), que quando estamos ocupados e satisfeito o tempo passa
depressa ou não nos apercebemos de ele passar. Em contrapartida, quando
estamos aborrecidos, contamos os minutos e esses mesmos minutos parecem uma
eternidade. Este autor refere também que o facto desse aborrecimento do “ tempo
parece que não passa” poder conduzir a estados depressivos.
Nesta investigação os tipos de tempo que são mais importantes são o
tempo a que chamamos de tempo de trabalho e o tempo de não-trabalho, e a
interacção deles resultantes.
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referência de tempo usada pelo individuo na ordenação da sua vida, isto é, tudo
gira em volta do trabalho e dos intervalos de tempo entre o exercício do mesmo
(Oliveira, 2004). No seguimento desta linha de pensamento, E.P. Thompson,
referido por Cruz, postula que as sociedades industriais apresentam um tempo
estruturado pelas relações sociais, fundado numa economia de tempo e na
importante separação do tempo de trabalho dos demais tempos sociais. Assim, o
tempo de uns não será o mesmo que o de outros (Cruz, 2003).
Ao falarmos de tempo de trabalho e de não-trabalho, podemos associar
facilmente a palavra rotina. Sennett diz-nos que “ a sociedade moderna está
revoltada contra a rotina, o tempo burocrático que pode paralisar o trabalho ou o
governo ou outras instituições.” (Sennett, 2000:51). Nas sociedades modernas, os
indivíduos queixam-se da rotina, de ter de se levantar todos os dias à mesma hora,
fazer diariamente o mesmo trabalho, ir buscar filhos á escola, fazer o jantar, fazer
os preparativos para o dia seguinte. É nossa convicção conceptual que o tempo
dos indivíduos trabalhadores está sujeito a este modo de vida, o que pode suscitar
uma necessidade de quebrar essa mesma rotina, é compreensível pois vivemos
numa época onde o fenómeno do lazer cada vez mais seduz os consumidores
(Oliveira, 2004). Podemos referir que Marx defendeu na sua obra “ o Capital”
(1973) e também referido por Borges (2004), que o trabalho é encarado como
causador de sofrimento e desprazer pois baseia-se na exploração do tempo de
trabalho do trabalhador. Marx refere que” o tempo que o operário trabalha, é o
tempo durante o qual o capitalista consome a força de trabalho que comprou. Se o
assalariado consumir para si próprio o tempo que tem disponível estará a roubar o
capitalista.” (Marx, 1973). Aliás, o homem, nesta perspectiva Marxista, é apenas
força de trabalho e, por isso, todo o seu tempo disponível é, por direito, tempo de
trabalho que pertence ao capital e á capitalização (Marx, 1973). É mediante o
tempo dedicado ao trabalho que se organizam as restantes esferas da vida, pois é
através do trabalho que se garante a subsistência. O trabalho deixa, assim de valer
por si mesmo e passa a valer pelo salário que permite auferir (Cruz, 2003). Marx
refere que para os capitalistas o tempo dedicados á instrução, ao desenvolvimento
intelectual, á realização de funções sociais, familiares e de amizade, é uma “mera
patetice”, ou seja, não é importante. O importante é trabalhar o mais possível e
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aumentar a produção para satisfazer o desejo do capitalista ao qual chega a
comparar com um “ vampiro sanguinário que só se anima quanto mais sangue
chupar” esta é uma ideia bastante forte que pretende demonstrar a superioridade
do trabalho. Mas este tempo explorado é considerado por Marx como “roubado”
pois poderia ser aproveitado a desfrutar da luz do sol e a respirar ar livre. Até o
tempo das refeições é contabilizado ao minuto e, por vezes incorporado no
processo de produção e até o tempo de sono é reduzido ao mínimo (Marx, 1973).
Com o surgimento do capitalismo industrial, tal como já aludimos, não
era tão evidente que a rotina fosse um mal. Contudo, no século XVIII, começa a
compreender-se que o trabalho rotineiro, para além de ter um aspecto positivo e
frutífero tem também uma faceta que poderá ser considerada destrutiva (Sennett,
2000).
Sennett faz referência a dois autores que mostram as duas faces da
moeda, ou seja, o que existe de positivo e negativo no trabalho rotineiro. Na
enciclopédia de Diderot publicada em 1776, este autor defende que a rotina no
trabalho podia ser uma forma como qualquer outra de aprendizagem. Por outro
lado, Adam Smith considerava que “ a rotina anestesiava a mente”, e na obra “ A
riqueza das Nações” descreve o lado negativo da rotina (Sennett, 2000).
Num dos capítulos da enciclopédia de Diderot referida por Sennett, é
descrita uma grande alteração no trabalho: a separação da casa do trabalho. Até
meados do século XVIII, o lar era o centro da economia uma vez que muitas
famílias produziam muito do que consumiam e praticavam muito trabalho no
local de residência, á qual o antropólogo Defert chama de economia do domus:
em vez da escravatura do salário, havia a conjugação do abrigo e o serviço ao
senhor (Sennett, 2000). Sendo assim, efectua-se a separação da casa do trabalho
no sentido em que na fábrica não há lugar para o alojamento e aufere-se um
salário. Beber deu grande destaque á divisão da esfera pública da esfera privada e
afirma que a separação do trabalho e da casa é primordial nesta sociedade
(Araújo, 2007).
São as rotinas precisas que ditam a ordem no capitalismo industrial, tudo
tem o seu lugar marcado e todos sabem o que têm de fazer. Sumiu considerava
que esta rotina podia tornar-se autodestruais no sentido em que o ser humano
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perde o controlo do seu próprio esforço, a falta de controlo do tempo de trabalho
significa “ que se morre mentalmente” (Sennett, 2000), por essas mesmas razões,
este autor considera que a rotina industrial ameaça diminuir o carácter humano,
Senecta continua a defender que a rotina depois de instalada não acrescenta nada á
história pessoal nem ao carácter de um indivíduo. Por isso, é necessário quebrar a
rotina para que isso aconteça (Sennett, 2000).
Neste trabalho de investigação, apesar de o contexto laboral não ser o dos
operários industriais dos tempos das lutas de Smith e Marx, será válido comparar
o tempo dos trabalhadores de centros comerciais com a do proletariado dos
tempos passados, pelo menos no sentido da rotina do dia-a-dia, e a falta de tempo
para o lazer. Tal como Marx e Smith referem, o Homem vale como instrumento
de trabalho (Marx, 1973). Por isso, o principal objectivo é produzir o máximo
possível, sendo neste caso concreto o essencial o volume de vendas. Enquanto nas
linhas de produção do passado “ a criatura estúpida e ignorante” de Smith se
tornava ignorante por realizar horas e horas seguidas a mesma tarefa, sem
acrescentar nada de novo á sua história pessoal e tornando-se assim depressiva e
consequentemente diminuindo a sua produtividade (Sennett, 2000), podemos
assumir que os trabalhadores do Shopping experimentavam estes sentimentos,
embora por motivos diferentes: têm bastantes horas mortas, passam muitas horas
sozinhos e a rotina é elevada. Esta actividade, só em raros casos permite uma
ascensão profissional, não acrescentando nada de novo à história pessoal. Tal
como se afirmou antes, no passado século XVIII, com a Revolução Industrial, o
horário de trabalho era mais alargado. Era comum a existência de cargas horárias
de 12,14 e 16 horas por dia e várias lutas se travaram em busca da diminuição do
horário de trabalho. No entanto, podemos assumir que existem várias
semelhanças, pois de facto também no Shopping existe uma inequívoca
dependência do tempo de vida face ao tempo de trabalho.
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No período pós-anos 70 constatou-se uma alteração de valores, sobretudo
no que diz respeito à crescente valorização dos tempos familiares e dos tempos
individuais, ou seja, acredita-se que o tempo de trabalho perde a sua centralidade,
face a um aumento do valor do tempo livre e do tempo de lazer (Araújo, 2007).
Araújo, na sua obra Introdução á Sociologia dos Estilos de Vida, refere alguns
autores como Rojek, Dumazedier e Rifkin os quais postulam que os indivíduos
estariam cada vez mais dispostos a trocar tempo de trabalho por mais tempo livre
(Araújo, 2007:34). Ora, claro está que isso não será assim tão linear, pois as
condições económicas são algo importante nesta escolha de tempo livre e tempo
de trabalho.Com efeito, aqueles que detêm maior poder financeiro têm a
capacidade de guardar para si mais tempo de lazer e mais tempo livre do que
aqueles mais carenciados economicamente (Araújo, 2007).
O tempo pode ser dividido em tempo ocupado e em tempo livre, sendo
que, este último pode ainda ser subdividido em tempo de lazer. O tempo de lazer
pode ser considerado em relação ao tempo livre como dono de uma maior
autonomia. É no tempo livre que incluímos sobretudo as nossas rotinas
fisiológicas, os cuidados com a casa e a família e o trabalho desenvolvido para si
mesmo ou para os que o rodeiam. Já o tempo de lazer é relacionado com tudo
aquilo que é feito para romper com a rotina (Araújo, 2007). Segundo Dumazedier,
referido por Araújo (Araújo, 2007:36), há três definições de lazer: a primeira diz-
nos ser possível existir lazer em todas as actividades. Refere os exemplos de
estudar, trabalhar e ouvir música ao mesmo tempo. No Shopping, podemos dar o
exemplo dos funcionários que enquanto trabalham, navegam na Internet ou têm
conversas pessoais com as colegas de trabalho e até mesmo lêem livros e revistas.
A segunda definição mostra o lazer no sentido oposto do trabalho profissional.
Neste caso, o lazer diz respeito a todas as actividades que não estejam
relacionadas com o trabalho. Para este mesmo autor, o lazer é dotado de três
funções: o repouso, o divertimento e o desenvolvimento da personalidade. Aliás, “
Num primeiro tempo, o repouso liberta-nos da fadiga que acumulamos durante
um dia” (Araújo, 2007:36).
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2.4.Conciliaçã o da vida profissional com a vida
pessoal/familiar
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substancial da oferta de emprego com esta atipicidade de horários, surgem novas
exigências no que toca à articulação do tempo para as suas necessidades
familiares, pessoais e profissionais. Pressupomos que os indivíduos que trabalham
por turnos ou em horários alternados sentem mais dificuldades em conciliar a vida
profissional com os compromissos familiares. Por conseguinte, uma vez que a
conceptualização de tempo é primordial na nossa investigação, torna-se
importante abordar o tema dos horários de trabalho regulares e irregulares,
nocturnos e diurnos, pois é através do horário de trabalho que se organiza todo o
quotidiano. O aspecto que nos interessa realçar ao formular esta assunção diz
respeito às consequências produzidas na vida familiar, isto é, à forma como os
indivíduos organizam a vida doméstica e as relações conjugais e parentais.
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Ao observarmos os resultados obtidos pelo Inquérito à ocupação do tempo do
INE sobre a divisão das tarefas domésticas, constatamos que a mulher é que se
encarrega da maioria do trabalho doméstico.
As mulheres estão mais condicionadas na organização e gestão do tempo,
comparativamente com os homens, uma vez que têm a maior parte das tarefas que um
agregado familiar necessita. Devemos perceber que, nas sociedades ocidentais, a
mulher é estereotipada como mãe, esposa e dona de casa. A sua identidade é sempre
vista como a cuidadora. Neste seguimento, podemos referir que Freud e Parsons,
defendiam que à mulher compete cuidar da família, realizar as tarefas domésticas e
manter o clima afectivo integrador dos seus membros. Ao homem, por seu turno,
compete sair do lar para ganhar o sustento, e assim estabelecer a ligação da família
com a sociedade exterior, sociedade que ele representa no seio da família através do
exercício da autoridade racional (oposta ao papel afectivo da mãe) (Silva, 2001).
Durante várias décadas, devido a toda uma corrente histórica subordinada
a determinismos conservadores, a sociedade portuguesa incutiu certos princípios,
valores, práticas e representações nos seus indivíduos, que se registaram como uns
dos principais entraves ao desenvolvimento e progresso do país. Contudo, é
possível traçar um ponto de viragem nesta matéria, recorrendo ao que é
considerado o maior e mais importante marco histórico da sociedade portuguesa –
o 25 de Abril de 1974 – ao qual se seguiu, em 1976, a aprovação da Constituição
da República Portuguesa, em que a igualdade entre homem e mulher foi
oficialmente estabelecida no seio do casal, anulando-se o, até então, modelo
vigente (em que o homem se apresentava como o chefe de família, responsável
pelo sustento dos membros do núcleo familiar, e a mulher, tal como os filhos,
subordinada à autoridade masculina, à qual cabia as responsabilidade da esfera
doméstica). Neste modelo, quer o homem, quer a mulher, eram agora pensados
como indivíduos que, no respeito pela sua liberdade, se queriam igualmente
activos, autónomos, contribuintes e interessados em ter e cuidar dos seus
descendentes.
Em Portugal, o fenómeno da entrada das mulheres na esfera profissional
aconteceu num período mais tardio, quando comparado ao de outros países
industrializados. Todavia, as várias transformações ocorridas não aconteceram de
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forma linear: “ se em países de crescente modernidade, as elevadas taxas de
actividade feminina acompanham um progressivo equilíbrio dos estatutos e papéis
atribuídos à mulher e ao homem no seio do grupo familiar, por outro lado, na
sociedade portuguesa, apesar de alguns avanços, verifica-se ainda
comportamentos bastante tradicionais.” (Guerreiro, 2006: 6). No mesmo âmbito, a
proporção de casais com filhos que trabalham a tempo inteiro, o prolongamento
da escolaridade nas gerações mais novas, com forte evolução nos níveis atingidos
pelas mulheres, a imergência de novas formas familiares decorrentes de divórcios
ou de nascimentos fora da conjugalidade, bem como a, ainda reduzida,
participação efectiva dos homens na esfera familiar, reflectem a dificuldade que as
actuais famílias têm em gerir o tempo entre a vida familiar e profissional. Na tese
de doutoramento de Biehl, a autora faz referência a uma investigação realizada no
sector dos serviços – Projecto Qualidade de Vida numa Europa em Mudança –
cujos resultados indicam que “ para uma média europeia de trabalho semanal
efectivo de 41h para o sexo masculino e de 34h para o feminino, em Portugal se
registam, respectivamente, perto de 45h nos homens e de 44h nas mulheres.
Dados deste mesmo estudo revelam, também, que as mulheres ocupam o dobro do
tempo dos homens com a vida doméstica (14h para 7h semanais) e quase metade
dos homens declaram sentir que fazem menos trabalho doméstico do que deviam,
enquanto apenas umas em cada 10 mulheres expressam idênticos sentimentos.”
De acordo com a autora, “estas formas de viver o quotidiano profissional têm
implicações no modo como se organiza a esfera doméstica e na desigual situação
profissional e familiar de mulheres e homens.”
Relativamente ao papel do homem nos cuidados afectivos da família,
constata-se que se encontra, ainda, bastante estereotipado devido a um preconceito
incutido na socialização, dominados por diferenciações de género. Para além
disso, as entidades empregadoras acabam por demonstrar algumas dificuldades no
que diz respeito ao reconhecimento da importância do papel do pai na prestação
de cuidados aos filhos. Toda esta conjuntura resulta, por um lado, do facto de as
mulheres ainda desempenharem uma espécie de “jornada de trabalho” e, por
outro, no dos homens estarem afastados da participação nas tarefas familiares,
resultado de um receio de estigmatização social. Tal situação, leva a que homens e
20
mulheres se vejam obrigados a tomarem opções entre a família e a carreira
profissional, tendo, por vezes, de abdicar de direitos que lhes são legalmente
definidos, para evitarem alguma exclusão e descriminação no emprego ou em
outros contextos sociais. Segundo um estudo, realizado sobre a temática da
paternidade, publicado na Revista de Saúde Pública (2009), “(…) os homens/pais
entrevistados apresentaram posições sociais reveladoras de algumas
transformações ocorridas no âmbito das responsabilidades masculinas. Contudo
mantém-se a hegemonia do modelo patriarcal. O homem continua a entender seu
papel de pai predominantemente como provedor material e moral da família,
contrapondo-se à necessidade da divisão de responsabilidades emergentes das
mulheres e ao princípio de que a educação dos filhos deve ser permeada pela
proximidade física e afectiva de pai e mãe. Sendo assim, entre os papéis sociais
de género, que acompanham mulheres e homens em todas as fases do seu ciclo
vital, persistem os do modelo tradicional orientando o trabalho masculino para a
produção e o feminino para a reprodução biológica. (…)
Deste modo, as necessidades de conciliação entre trabalho e família
tendem a reflectir-se com maior dificuldade de progressão profissional por parte
das mulheres, já que o modelo ideal-típico do profissional competente,
prevalecente na maioria das culturas organizacionais, continua a ser o do
indivíduo do sexo masculino, sem responsabilidades familiares que façam perigar
a sua disponibilidade (quase total) para o exercício de uma profissão. Os homens
têm dificuldades em ver reconhecidos os seus direitos nas responsabilidades
familiares, tanto a nível legislativo como a nível profissional, e mesmo no seio do
núcleo familiar, onde a importância dos seus contributos – ou da ausência deles –
é ainda minimizada. Neste sentido, uma das assunções decorrentes é de que as
mulheres têm mais dificuldades em gerir o tempo entre a vida familiar e
profissional, resultado das tarefas que lhes são impostas, profissional e
familiarmente.
21
2.6. A relaçã o entre as habilitaçõ es literá rias e a
herança cultural e as influencias nos percursos profissionais
22
Para Bourdieu, o indivíduo não é um ser isolado, nem dotado de
autonomia para agir individualmente. Os indivíduos são caracterizados pela sua
bagagem cultural, em que a escola terá um papel imperativo no sentido de definir
o seu curriculum (Nogueira, 2002). Essa preparação cultural inclui categorias
como o capital económico, pois o factor económico propicia mais facilidades a
bens e serviços. Outra das categorias igualmente importantes é o capital social,
que se refere aos relacionamentos influentes na sociedade, e por último, o capital
cultural conquistado basicamente por títulos escolares (Nogueira, 2002).
Segundo indicadores do Observatório das Desigualdades do Centro de
Investigação e Estudos de Sociologia, o abandono escolar precoce apresenta
níveis bastante elevados comparativamente ao resto da União Europeia. É nas
classes mais desfavorecidas que essa situação acontece com mais frequência,
embora nos últimos anos o número de casos tem vindo a diminuir.
Neste trabalho de investigação é pertinente considerar as habilitações
literárias dos intervenientes, pois é um dos factores que define largamente o seu
percurso profissional. Os trabalhadores de centros comerciais têm, em grande
maioria, origens sociais humildes, em que os pais têm níveis de escolaridade
baixos. Segundo a teoria de Bourdieu, o facto de os pais possuírem baixas
habilitações e serem carenciados economicamente influencia bastante o insucesso
escolar e, consequentemente, o abandono escolar precoce (Nogueira, 2002). Este
tema será abordado mais detalhadamente mais adiante, na análise dos resultados,
no ponto sobre os percursos profissionais e expectativas futuras.
2.7.Modelo de análise
23
podemos assumir como hipótese principal que as mulheres trabalhadoras de
centros comerciais casadas têm uma maior dificuldade em conciliar a vida
profissional com a pessoal do que as solteiras. Como segunda hipótese, considera-
se que o conformismo existente com a profissão exercida depende das habilitações
literárias e origens sociais.
existencia de
existencia de colaboração por
filhos parte de
familiares
organização
do tempo
idade
habilitações percurso
literárias profissional
conformismo habilitações
profissão dos
pais com a literárias dos
profissão pais
24
3.Metodologia
25
trabalhadores. Um dos maiores trunfos para o seu sucesso deve-se à sua boa
localização, no centro da cidade, junto à central de camionagem e em frente ao
Hospital. Isto para além da Repartição de Finanças, bem como inúmeros bancos
circundantes e outras infra-estruturas de relevo. Por todas estas razões, é um
Shopping que, diariamente, tem uma grande afluência de clientes. Mesmo com a
inauguração de outro Shopping, de uma empresa concorrente, o movimento no
Shopping onde se realiza este estudo não diminuiu. Resultante da sua centralidade
e do hábito que os clientes criaram nestes 15 anos de frequência deste espaço, é
possível observar que certos indivíduos se dirigem a este local diariamente com o
intuito de almoçar, comprar qualquer coisa, ir ao hipermercado e até para
unicamente estacionar o carro, uma vez que parque de estacionamento não é pago.
Sendo um Shopping com 15 anos, sofreu uma remodelação em Novembro
de 2009. Foram introduzidas novas lojas, com mais variedade para os clientes. Em
relação ao tipo de lojas existentes, são maioritariamente lojas de pronto-a-vestir,
sapatarias, lojas de acessórios, de desporto, de óptica, um hipermercado, bem
como algumas lojas de serviços como lavandaria, sapateiro, farmácia, agência de
viagens, quiosque e livrarias. A acrescer todas estas vantagens, dispõe ainda de 6
salas de cinema e uma ampla zona de restauração, onde existe uma zona de
fumadores.
26
privilegiado, que chegamos aos entrevistados. Esta selecção assentou nos
princípios de serem essencialmente mulheres, pelos motivos que já referimos
anteriormente, porque é nas mulheres que se regista maior dificuldade em gerir o
tempo. Procurou-se que o estado civil dos entrevistados fosse diversificado, com o
objectivo de criar um contraste entre os indivíduos solteiros e aqueles que têm
responsabilidades conjugais, tendo também em linha de conta a existência ou não
de filhos, já que é um factor bastante importante. O objectivo inicial seria o
entrevistar 5 homens, ao invés dos 2 aos quais foram efectivamente feitas
entrevistas. Pretendia-se que desses 5 pelo menos 2 fossem casados, com filhos e
os restantes solteiros. No entanto, em virtude seu reduzido número a trabalhar
neste local, tive dificuldade em encontrar, indivíduos com estas características.
Esta situação é considerada uma das desvantagens da amostragem por quotas, e é
denominada como afunilamento, ou seja a dificuldade em preencher determinada
quota.
Após entrevistar os homens, não se verificaram grandes diferenças no seu
discurso, apesar de um ser solteiro e o outro casado. As opiniões convergiam, as
rotinas tinham algumas semelhanças, de forma que as duas entrevistas realizadas
foram de encontro aos objectivos deste trabalho, que neste caso seria percepcionar
as diferenças de género, existentes na organização do tempo dos trabalhadores
deste tipo de área comercial.
27
centro comercial. Baseado em diversos estudos, bem como inquéritos realizados
pelo Instituto Nacional de Estatística, assume-se que as mulheres têm uma maior
carga de trabalho devido ao facto de acumularem com a sua profissão as tarefas
domésticas. Como o tema central é a organização do tempo, considera-se pertinente
a focalização no género feminino. Uma vez que a questão das diferenças de género
é pertinente neste trabalho, apenas foram entrevistados 2 homens, no sentido de
contrastar as visões respectivamente á profissão que executam.
Podemos caracterizar a amostra como sendo por conveniência, no sentido
em que o investigador é ao mesmo tempo um informador privilegiado, visto que
trabalha neste local há 8 anos, tendo a oportunidade de, todas as semanas, observar
lojas e trabalhadores diferentes.
Idade Número
De indivíduos
20-25 Anos 2
25-30 Anos 9
30-35 Anos 6
40-45 Anos 3
Mais de 50 anos a 1
Fonte: entrevistas realizadas
28
Caracterização do estado civil dos entrevistados
Estado Numero
Civil De indivíduos
Casados 5
Solteiros 9
União de facto 5
Divorciados 2
Existência de filhos
Filhos Número de
indivíduos
Sim 8
Não 13
29
a ama
Odete 51 União de 1 12ºano Loja Doméstica Camareir 4ª Classe 4ª Classe
facto Doces o
Deolind 45 Divorcia 2 6º Ano Pronto-a- Operária Bancário 6º Ano 4ª Classe
a da vestir têxtil reformad
reformada o
Sandra 34 casada 2 12º ano Óptica Doméstica Agente 4ª Classe 4ª Classe
da Gnr
Vanessa 21 Solteira 0 12ºano Loja de Costureira Emprega 4ª Classe 4ª Classe
unhas de do de
gel armazém
Idalina 25 Solteira 0 12º Ano Loja Operária Operária 4ª Classe 4ª Classe
acessórios têxtil têxtil
Maria 41 Casada 1 9º Ano Pronto-a- Doméstica Comercia 4ª Classe 4ª Classe
vestir nte
Susana 30 Solteira 0 Finalista café Limpezas Trolha 4ªclasse 4ªclasse
de reformada
licenciatur
a
Luísa 27 Solteira 0 11º ano Óculos de Operária Operário 4ª Classe 4ª Classe
sol têxtil têxtil
Nome Idad Estado Nº Habilitaç Tipo de Profissão Profissão Habilitaç Habilitaç
e Civil Filh ões loja Da mãe do ões ões
os Literárias Pai Pai Da
Mãe
Rosa 33 União de 0 Licenciad Interiores Doméstica Empresár 6ºano 4ª Classe
facto a io
Elsa 29 Solteira 0 11ºano Cosmética Costureira Artes 6ºano 6º Ano
desemprega gráficas
da
Marta 27 União de 0 12ºano Malas Empresária Empresár 4ª Classe 4ª Classe
facto io
Leonor 24 Solteira 0 Licenciad Pronto-a- Hotelaria Operário 4ª Classe 12ºano
a vestir têxtil
Alexand 30 União de 0 12ºano Pronto-a- Operária Serralheir 9ºano 4ª Classe
ra facto vestir têxtil o
Cláudia 33 Casada 1 12ºano Pronto-a- Auxiliar Comercia 4ª Classe 4ª Classe
vestir educação nte
reformada
Olívia 28 União de 1 9ºano Malas Dona de Vendedor 4ª Classe 4ª Classe
facto um café
Pedro 26 Solteiro 0 9ºano Relógios Costureira Talhante 4ª Classe 9º Ano
desemprega
da
Joaquim 27 Casado 0 12ºano Pronto-a- Auxiliar de Porteiro 9ºano 9ºano
vestir acção
educativa
30
Após esta descrição, estão apresentados os nossos entrevistados. As
habilitações literárias dos próprios e dos pais, tal como as profissões dos pais,
funcionam como indicadores de classe social.
Antiguidade no N
emprego
1 a 2 anos 4
2 a 5 anos 5
5 a 8 anos 5
8 a 10 anos 3
10 a 15 anos 2
15 a 20 anos 1
Mais de 20 anos 1
Total 21
31
entrevista é a técnica mais adequada, sendo que o tipo de entrevista
utilizado é a semi-estruturada, no sentido em que previamente foi
estruturado um guião. As questões poderão ser adaptadas a cada caso
concreto, já é algo estruturado, mas não rígido. O guião de entrevista
foi elaborado com base nas leituras exploratórias e nas assunções que
foram surgindo ao longo do projecto.
O guião da entrevista foi estruturado por categorias, ou seja, foi
dividido mediante as dimensões que nos propomos a analisar. A
primeira parte é um questionário de identificação, onde se pretende
conhecer os dados básicos e indicadores do contexto socioeconómico:
estado civil, nº de filhos, habilitações literárias, profissão e habilitação
literária dos pais, antiguidade no emprego, funções exercidas na loja,
tempo dispendido em deslocações casa/trabalho, tipo de habitação. A
segunda parte consiste numa caracterização sobre ambições
profissionais iniciais. A terceira parte é onde se pretende que se faça
uma descrição da actividade profissional, em relação aos horários e
tipo de contrato. De seguida é abordado o tema dos percursos
profissionais. Outro dos temas abordados, e bastante relevante no
âmbito de trabalho, é a descrição das rotinas destes trabalhadores.
Seguidamente, outro tema abordado no guião diz respeito ao nível de
satisfação do entrevistado com o trabalho. Mais adiante é ainda feita a
abordagem do tema da conciliação do trabalho com a família. Outro
aspecto levado em consideração é o das implicações do trabalho na
saúde, sendo a fase final direccionada para as expectativas
profissionais.
Uma vez que o tema é a conciliação entre a vida familiar e
profissional, foram elaboradas questões abertas, que possibilitem ao
entrevistado uma maior liberdade de resposta, evitando assim possíveis
constrangimentos. O papel como entrevistadora incidirá na condução
do entrevistado para o tema fulcral, com o objectivo de compreender
melhor a gestão do tempo que por eles é feita.
32
A técnica da entrevista proporciona a possibilidade de
encontrar novas dimensões no estudo. Por isso, para além de uma série
de questões-chave abertas, esta entrevista será uma conversa que fluirá
naturalmente. Estas entrevistas foram gravadas e posteriormente
transcritas para uma análise de conteúdo.
Todas as entrevistas foram posteriormente sujeitas a uma
análise de conteúdo, tendo como principal propósito encontrar pontos
concordantes e discordantes entre os vários testemunhos, para numa
fase posterior, ser possível efectuar comparações e relações mediante o
contexto do seu discurso. Esta análise consistiu na identificação,
segundo elementos do discurso, de categorias temáticas possivelmente
explicativas do fenómeno que nos propomos analisar. È de salientar
que também podem ser utilizadas como técnicas para este caso as
histórias de vida, que nos permitiam ainda um melhor conhecimento da
vida dos indivíduos em estudo.
33
Durante as entrevistas, os obstáculos encontrados estiveram
relacionados com o tempo que os indivíduos são obrigados a
despender para a entrevista, pois todas foram realizadas no local de
trabalho, o que limita o tempo. Como as entrevistas abordavam temas
que implicam entrar na esfera íntima do indivíduo, nem sempre as
pessoas se encontram à vontade para aprofundar certos assuntos.
Apesar do grande esforço do investigador em manter-se neutro e tentar
abstrair-se, torna-se difícil porque, ao mesmo tempo que conduz esta
investigação, é funcionário no mesmo Shopping há muitos anos e,
como tal, encontra-se familiarizado com ele. O facto de se encontrar
inserido no meio pode ser uma vantagem, no sentido de ter grande
conhecimento acerca do tema estudado, mas por outro lado, leva a que
possa ser influenciado e certos aspectos importantes possam ser
descurados.
34
2006). Nesta parte do trabalho pretende-se compreender como os trabalhadores do
Shopping conciliam os horários atípicos com as exigências da esfera familiar e
pessoal. É evidente que estes indivíduos têm dificuldades em conciliar as duas
esferas trabalho/família devido aos horários pouco convencionais. Registamos
diferenças na organização do tempo entre casados e indivíduos com filhos e
solteiros, que vivem com os pais, As mulheres mostram uma maior dificuldade e
encontram-se mais sobrecarregadas do que os homens.
Independentemente daqueles que têm melhores ou piores condições a
nível de horários, o importante nesta investigação é perceber os efeitos da
atipicidade dos horários. Este Shopping, tal como outros existentes no resto do
país, pratica um horário alargado, estando aberto ao publico desde as 9 da manhã
e encerrando às 23 horas, e aos fins-de-semana às 24 horas. O horário das lojas é
das 10 horas às 22 horas, durante os dias úteis e às 23 horas ao fim-de-semana.
Este horário obriga os indivíduos a praticar turnos rotativos e fora do usual do
resto do universo laboral, pelo que tem horários em que trabalha aos fins-de-
semana, feriados e noites. Assim, o seu tempo disponível para as actividades
extra-laborais tem de ser adaptado aos seus horários. Aliás, uma das queixas mais
comuns neste trabalho é mesmo o facto de os horários condicionarem alguns
elementos da vida privada.
A forma como percepcionam e aceitam estes horários varia segundo
alguns factores, como por exemplo a existência de filhos, o estado civil, a idade, a
antiguidade na loja e mesmo a própria personalidade do indivíduo.
Os horários de trabalho são um dos factores que afectam a saúde mental do
trabalhador. Segundo Amaro (2006), situações como períodos longos de trabalho,
a isenção de horário fixo, situações em que o trabalhador está sempre contactável
por telemóvel ou correio electrónico, são propícias ao stress. Amaro acrescenta
ainda que o trabalho por turnos pode causar alterações no metabolismo e afectar a
eficiência mental e criar relacionamentos problemáticos com a família (Amaro,
2006). Outro aspecto referido neste artigo é a sobrecarga de trabalho. Segundo o
autor, a sobrecarga de trabalho tem origem por vezes na má gestão que o
indivíduo faz do tempo. “ A sensação de que o tempo voa não se sendo capaz de
realizar todas as tarefas que nos estão distribuídas é uma importante fonte de
35
stress no trabalho, acontecendo o mesmo com as nossas tarefas familiares.”
(Amaro,2006:65).
A gestão do tempo e a organização espacial é uma tarefa árdua.
Comecemos por destacar a coordenação a nível de itinerários: trabalho-casa, casa-
trabalho, trabalho-escola dos filhos, isto, para além do tempo que um individuo
tem de despender para a organização do seu próprio trabalho (Cruz, 2003).
Os horários são maioritariamente rotativos, ou seja, o trabalho ocorre das
10 às 19h com hora de pausa entre as 14h e as 15h e, na semana seguinte das 13h
às 22h com hora de pausa das 18h às 19h. Outras lojas praticam horários mais
repartidos, ou seja, das 10h às 16h, sem hora de intervalo, ou das 16h às 22h, sem
hora de intervalo. Quase todos trabalham 40 horas semanais e com duas folgas,
porém nem sempre isso acontece. Observamos alguns casos em que nem sempre a
integridade e os direitos dos trabalhadores são respeitados. Como é o caso de
Deolinda, responsável de uma loja de pronto-a-vestir: é divorciada, tem 45 anos e
trabalha naquela empresa há 23 anos, primeiro numa loja do grupo no comércio
tradicional e há 15 anos no Shopping. Deolinda trabalha 40 horas semanais e só
tem uma folga por semana e a hora de pausa para almoçar ou jantar é inexistente,
considerando que, devido a reduções de pessoal na loja se encontra sozinha, desde
as 10h até às 15h30, hora que chega a colega que faz o turno seguinte. Neste
regime, actos biologicamente necessárias a um ser humano, como ir à casa de
banho ou comer tornam-se muito complicadas. Geralmente tem de contar com a
colaboração das colegas da loja ao lado, para vigiarem, caso entre algum cliente
na loja enquanto vai à casa de banho. Assim se comprova que, mais uma vez, a
integridade do trabalhador não é respeitada. Deolinda explica-nos quais os
horários que faz e como funcionam as horas de pausa:
36
mãozinhas para atender o cliente, depois é que fui aquecer outra vez o que
tava a comer, para continuar a almoçar (…)
(entrevista de Deolinda responsável de loja de pronto a vestir,
entrevista nº 6)
Felizmente nem todos os casos são assim tão graves. Com excepção
dos estes exemplos referidos anteriormente, as situações mais usuais são
casos como o de Sílvia, solteira, de 33 anos, funcionária de uma sapataria há
6 anos. Quando questionada sobre os horários praticados na loja onde
trabalha responde que:
37
noite deito-me. E depois no dia a seguir a rotina é sempre a mesma. (…): Eu.
Sempre eu. Eu não divido nada com o meu marido porque ele não é nada
jeitoso, é muito bom rapaz, mas não é muito jeitoso. Qualquer coisa que lhe
peça diz não sei fazer, e portanto neste contexto eu faço.(…) O que gosto
menos neste trabalho é dos horários, porque é aborrecido para mim e para
todas as mães, fazer horários depois da 10 noite! É aborrecido, é
complicado, mas pronto é o que tenho. Não posso reclamar muito (…)
(entrevista de Fátima funcionária de loja de puericultura, entrevista
nº4)
Elsa de 29 anos, solteira a viver em casa dos pais, tem a sua vida
bastante mais calma, mesmo a nível das tarefas domésticas. Confessa que é a
sua mãe que faz tudo, tendo assim mais tempo para uma vida social. Quando
se pediu à Elsa para descrever um dia normal esta foi a sua resposta:
38
Shopping, no sentido de actividades que se encontra impedida de fazer devido
aos horários, respondeu o seguinte:
39
(…), e aquilo que penso é que há uma mãe mas também há um pai,
quando há, mas á partida se pensas em ter um filho é porque estás bem a
nível de relação, se houver alguns momentos que eu não possa o pai tem de
estar ali, vai-se tentar conciliar na vida de duas pessoas(…)
(entrevista de Luísa funcionária de loja de óculos de sol, entrevista
nº12)
Isto são apenas visões de quem nem sequer tem filhos, ou tem
compromissos conjugais. Aqueles que já constituíram a sua família já referem
as dificuldades devido aos horários, pouco tempo passado com a família e os
filhos, afastamento dos amigos e há também quem refira que existe um maior
afastamento do cônjuge, como é o caso de Odete, funcionária da loja de
doces, que vive em união de facto e que tem um filho já tem 30 anos. A
mesma refere que acaba por haver um afastamento entre si e o seu parceiro,
porque ao fim-de-semana, quando ele se encontra de folga, ela está a
trabalhar, ou seja, raramente as folgas coincidem. A Odete foi questionada
sobre as mudanças a que foi obrigada a fazer na sua vida por trabalhar no
Shopping esta foi a resposta:
40
devido aos horários, receia não lhe prestar o devido acompanhamento. Outro
aspecto pelo qual culpa o seu trabalho é pela diminuição das suas relações
sociais com amigos e familiares. Devido aos horários acabou por se afastar da
rede de amigos. Leonor, ao contrário de Catarina, é solteira e também refere
que se afastou mais dos amigos. Foi perguntado à Catarina qual a sua maior
preocupação no dia-a-dia e o que teve de mudar na sua vida devido a este
trabalho, tendo-se registado a seguinte resposta:
(…) O futuro dela (filha), por exemplo ela agora vai para a escola
primária, como é que vou acompanha-la? Ir busca-la, ver se tão os deveres
feitos, e na semana que vier fazer noite nem isso vou conseguir acompanhar.
Aqui no Shopping com estes turnos rotativos perdemos muito a infância dos
nossos filhos. Perder os melhores anos deles, quando dás por ela a criança
já não tem piada, a partir dos 8 acaba por ser uma menina normal, já perdeu
aquela piada das brincadeiras (…) As amizades foram-se diluindo, falamos
mas não é a mesma coisa que antigamente, tinha o domingo livre ou tinha as
noites livres dava para ir tomar café, agora é muito difícil ou tem que ser
dito com muita antecedência para poder marcar, senão às vezes é muito
complicado. (…)
(entrevista de Catarina sub-gerente de loja de pronto a vestir,
entrevista nº18)
41
buscar à escola, prepararam refeições para o marido e as crianças, entre outras
funções, que normalmente estão a cargo das mães, mas que este contexto
profissional específico a impede de fazer, devido ao trabalho durante a noite e
fins de semanas. Fátima refere que tem a mãe que colabora bastante com ela.
Quando lhe foi perguntado quem fazia as refeições para os filhos, quando
tinha de trabalhar à noite, respondeu que:
(…) Aí entra a minha fadinha do lar que é a minha mãe, porque sem
ela, eu não podia ter este tipo de emprego, porque o meu marido trabalha
das 10 da manhã às 10 da noite (…) Tinha de trabalhar numa outra área
qualquer, não sei muito bem o quê, mas tinha de arranjar outra coisa
qualquer, porque não podia trabalhar aqui no Shopping, era impossível, não
podia abandonar os meus filhos o dia inteiro, porque não posso contar com o
apoio do pai (…)
(entrevista de Fátima funcionária de loja de puericultura, entrevista
nº4)
4.1.1.Tempo de trabalho
42
pronto-a-vestir, refere esta questão quando questionada sobre como se sente
no final de um dia de trabalho:
(…) São todos iguais! Muita gente o dia que mais gosta é a 6ª porque
é o ultimo dia de trabalho e vem o fim-de-semana, nós não. Como as nossas
folgas não são sempre ao fim de semana nem são sempre nos mesmos dias, é
evidente que o dia da folga é sempre um dia desejado, quebra-se um
bocadinho a rotina, mas quando se tem filhos e temos de nos pôr a pé todos
os dias á mesma hora para os levar á escola acabamos por se calhar não
sentir isso, por exemplo eu já não me lembro de dormir até às 9h30 ou 10h,
não sei o que isso é há 6 anos, portanto acabam os dias por ser todos mais
ou menos parecidos (…)
43
(Sandra ,funcionária de loja de óptica, entrevista nº7)
(…) Triste! Por causa do meu filho porque eu antes não me importava
porque podia tar com o meu namorado noutra altura qualquer, mas com o
meu filho custa-me mais deixa-lo, agora ele esta a ficar maiorzinho, já
entende e não quer que eu venha e fico triste. (…): é o domingo. tá toda a
gente em casa e eu venho para aqui e sei que vou deixa-los a eles, não posso
tar com eles, não é que me faça diferença o dia, é por ser aquele dia em que
as famílias estão mais juntas e fico pensar que podia também estar com eles,
posso estar com eles nos outros dias das folgas, mas não sei é diferente(…)
(depoimento de Olívia funcionária de loja de malas, entrevista nº19)
Mesmo para aqueles que são solteiros, trabalhar nestes dias não é do
seu agrado. Apesar de não terem responsabilidades familiares, é nestes dias
44
que muitas das vezes se poderiam dedicar às suas relações sociais, bem como
a si próprios. Como o caso de Sílvia, que quando questionada a respeito das
mudanças que foi obrigada a fazer na sua vida devido ao trabalho nos diz que:
(…) Os encontros de família ao domingo, ao fim de semana, sem
dúvida que nos rouba mais tempo, os horários são mais complicados. Os
almoços ao domingo por exemplo já há muito que deixei de participar,
mesmo festas de anos, passeios que se fazem ao fim de semana e eu não vou,
não participo. (…)
(entrevista de Sílvia funcionária de sapataria, entrevista nº3)
45
perder bastante tempo com as tarefas domésticas, o que implica perda de
tempo para uso próprio. Fátima, funcionária de loja de puericultura e mãe de
dois filhos, quando questionada acerca do seu tempo livre dá uma resposta
muito caricata:
(…) Como não tenho, nunca pensei nisso. Agora se me disseres o que
é que te vem logo á ideia? Fazer uma limpeza mais aprofundada à minha
cozinha, é ridículo não é? Mas como tenho falta de tempo, enquanto há umas
que dizem “ ai eu ia relaxar para um SPA”, não me posso dar a esses luxos,
não tenho tempo, todo o tempo extra que eu consigo arranjar, ou vou limpar
as persianas, ou vou limpar os vidros, ou vou desarrumar as gavetas para
limpar melhor, é uma tristeza, mas é isso. Nem me vem à ideia dizer, tou de
folga ou tenho tempo livre vou passear, não. Ou tenho as camas por fazer ou
o pó por limpar, ou o chão por aspirar, sou uma triste entendes? Porque vivo
em função do meu trabalho, e dos meus filhos e do respectivo pai, portanto é
uma tristeza. (…)
(Fátima, funcionária de loja de puericultura, entrevista nº4)
(…) Durmo até tarde, levanto-me faço o almoço, arrumo o que tenho
para arrumar, uma percentagem grande do dia tou no sofá a jogar gameboy
(risos), há dias que vou fazer uma caminhada, vou tomar um café, mas por
norma os meus dias de folga é para eu tirar para eu estar em casa. Estou
cansada, mesmo da confusão, prefiro no meu dia de folga isolar-me e fazer
qualquer coisa diferente e que no dia-a-dia faço, que é conviver com as
pessoas no fundo. A minha folga é isso mesmo eu tirar um dia diferente, não
46
ir passear, ou ir para um Shopping ou confusão. É sim estar comigo própria,
dedicar tempo a mim própria (…)
(…) é assim: quando tenho folga ao fim de semana estou com o meu
marido e se estiver bom tempo gosto de sair e fazer um churrasco fora onde
tenha muito pouca gente, isto só ao sábado, porque ao domingo não saio de
casa (…) ir á praia, ir até a um jardim sossegado ler um livro, relaxar
porque gente já eu vejo todos os dias, mas não tenho tempo para isso (…)
(entrevista de Odete, funcionária de loja de doces, entrevista nº5)
47
4.2.Nível de satisfaçã o no trabalho
48
trabalhadores. Neste sentido, dá um exemplo das queixas dos trabalhadores
sobre ambientes artificiais, com base em sistemas de ar condicionado. Uma das
queixas durante as nossas entrevistas é mesmo o funcionamento do ar
condicionado e o ruído. Como refere Marta, quando lhe foi pedido para dar a sua
opinião acerca do ambiente do Shopping:
(…) Ar condicionado é uma boa questão! No Inverno parece que tamos
na Antárctida e de Verão parece que estamos no México ou em Cuba. A nível de
ar condicionado é uma porcaria. (…)
(entrevista de Marta, funcionária de loja de malas. Entrevista nº15)
49
entidade patronal e refere alguns. Fátima declara que quando faz horas
extraordinárias não é compensada, nem em tempo nem monetariamente,
como acontece com a maioria das entrevistadas. Trabalha 40 horas semanais
e só recentemente tem uma folga semanal, pois, anteriormente tal acontecia
apenas quinzenalmente. Não tem hora de almoço, nem de jantar, ou seja,
trabalha 6 horas sem pausas. São bastantes as irregularidades a que se sujeita,
porque tem dois filhos, 41 anos e apenas o 9º ano de escolaridade. Quando
lhe foi pedido para falar sobre algum confronto com o patrão refere o seguinte
episódio:
(…): o último foi porque fomos obrigados a trabalhar o domingo de
Páscoa, contra a vontade do meu patrão, mas tivemos de trabalhar o
domingo de Páscoa (…) A batalha anterior foi de reivindicar a minha folga
pois eu achava que tinha direito a ela todas as semanas e não estava a ter,
mas agora já tenho, por isso tá tudo mais ou menos controlado. (…) Diz que
sim, mas não tou a ter. Sei que sim, mas é o que há. (…)
(entrevista de Fátima, funcionária de loja de puericultura, entrevista
nº4)
Apesar de todas estas queixas da Fátima, quando lhe peço que dê uma
nota de 0 a 10 à sua satisfação no trabalho, esta atribui um nível elevado. Tal
é um pouco contraditório. Aliás, ao perguntar-lhe se recomendaria o trabalho
no Shopping a alguma das suas irmãs, responde que nunca o faria,
argumentando que:
50
Tal como tem vindo a ser evidenciado, as queixas mais frequentes
dizem respeito aos horários. Mas outro aspecto referido também como motivo
de insatisfação é a percepção sobre forma como são tratadas por alguns
clientes. Segundo alguns relatos estas trabalhadoras sentem-se rebaixadas por
alguns clientes, os quais a ignoram completamente, demonstrando na sua
óptica, falta de respeito pelo seu trabalho. Mas nem todas as entrevistadas se
mostraram tão melindradas com esta situação. Rosa, de 33 anos, por exemplo,
afirma o seguinte:
51
atender. Catarina, funcionária de sapataria, quando questionada a respeito do
aspecto que mais gostava no seu trabalho, responde:
(…) Recomendaria porque acho que o Shopping tem tudo, tem a carga
horária, mas a nível da carga horária também se vai conseguir tirar mais
dinheiro, e depois a nível de segurança, a nível de limpeza, a nível de pessoas
(…)
(entrevista de Luísa funcionaria de loja de óculos de sol, entrevista nº 12)
(…) neste momento sinto que não dou o meu melhor, acho que o meu
trabalho e o de algumas colegas minhas não está a ser valorizado. Não foi
valorizado ao longo destes últimos tempos, e acho que não me sinto
52
realizada por isso (…) Acabas por te desmotivar e desleixar nas tarefas que
tens. (…) Acho que já não tenho muita paciência mesmo para aturar os
clientes, acho que tou a ficar no limite (…)
(entrevista de Cláudia sub-gerente de loja de pronto a vestir,
entrevista nº18)
(…) Nunca pensei em vir a trabalhar em óptica, mas é de facto uma coisa
que eu gosto de fazer, porque acho que se nós fizermos o nosso trabalho bem
feito é uma área que pode contribuir para que as pessoas se sintam melhor (…) é
um ramo que tem a ver com o conforto, com a saúde, com a pessoa se sentir
confiante, porque muitas vezes as pessoas não gostam de usar óculos, muitas
vezes querem lentes de contacto e não podem usar e ficam desiludidas, e nós
temos aí talvez um papel a desempenhar no sentido de incentivar as pessoas (…)
(entrevista de Sandra, funcionária de loja de óptica, entrevista nº7)
53
A concluir este ponto, resta acrescentar que se constatou que os
aspectos destacados pelos entrevistados como mais positivos são o gosto
pelas vendas, o contacto com o cliente e a satisfação em ajudar os outros.
Relativamente aos aspectos negativos mais frequentemente apontados,
destacam-se: os horários, a falta de educação e descaso dos clientes, a
desvalorização do próprio trabalho por parte das entidades patronais, a
remuneração e irregularidades nas condições de trabalho. O facto de esta não
ter sido a profissão de eleição, faz com que estes trabalhadores se sintam, na
sua grande maioria, pouco realizados.
Amaro (2006) refere que a falta de identificação com o trabalho a
realizar e o trabalho pouco estimulante são factores que afectam na saúde
mental, conduzindo ao stress. Noutros casos analisados, apesar de esta
profissão não fazer parte das suas ambições iniciais, referem que, com o
tempo, aprenderam a gostar dela e acrescentaram que existem cenários ainda
piores, tais como um emprego em condições ainda mais adversas, ou até
mesmo o não ter nenhum.
54
executam corresponde às suas ambições iniciais. Outro aspecto levado em
linha de conta foi a detecção da existência de casos de ascensão na carreira.
Efectivamente, apenas um caso respondeu que foi esta a profissão que
imaginou ter quando era mais novo. 99% dos entrevistados mencionou que na
adolescência pensava que teria profissões como médica, advogada, educadora
de infância, enfermeira, professora, hospedeira ou cantora, enquanto que, dos
homens entrevistados, um referiu que nunca tinha pensado nisso e o outro que
gostaria de ter sido futebolista. È pertinente o facto de as escolhas terem
recaído em maioria em profissões que requerem habilitações ao nível do
ensino superior. Porém, praticamente todos abandonaram os estudos bastante
jovens, quer por falta de incentivo dos pais, quer por força de vontade, mas
principalmente porque queriam atingir rapidamente a sua independência
financeira. Isto pode significar, e analisando as profissões e habilitações
literárias dos pais, que abandonaram os estudos e se entregaram ao trabalho
para puder ter aquilo que os pais não lhes poderiam dar. Note-se que a
adolescência é uma idade bastante complicada, onde ainda estamos a
construir a nossa identidade, e existe a necessidade de pertença a um grupo.
Certas roupas, acessórios ou estilos de vidas são uma forma de aceitação em
determinado grupo a que se procura pertencer. Nem sempre os pais têm
possibilidades financeiras para proporcionar determinado estilo de vida, o que
pode levar o adolescente a sentir-se inferior e até mesmo rejeitado. Logo, este
poderá constituir um motivo para se querer trabalhar e ter independência
financeira o mais cedo possível.
Pierre Bourdieu deu importância às questões da educação e herança
cultural. Este autor defendia que existia uma relação intrínseca entre o
percurso escolar e respectivo sucesso com a classe social de origem de cada
indivíduo, no sentido em que é a partir do processo de socialização inicial,
recebido do ambiente familiar e social, que se irá traçar o seu percurso escolar
e, previsivelmente, o seu futuro profissional (Nogueira, 2002). A herança
cultural, transmitida pela família inclui certos componentes que influenciarão
naquilo que denominamos de cultura geral, como por exemplo: gostos em
relação a arte, decoração, vestuário, desporto, literatura e vocabulário. Com
55
efeito, os indivíduos oriundos de classes mais altas teriam mais vantagens a
nível educacional do que os mais desfavorecidos economicamente, como
resultado do background sociocultural adquirido, o que faria com que a
escola funcionasse como a continuação da formação recebida no seio social e
familiar. Assim, as crianças mais pobres teriam, por exemplo, de se adaptar a
determinado nível de linguagem, pois não tinham sido socializadas segundo
aqueles valores. Tal pressupunha uma maior herança cultural, a qual
favoreceria então um maior êxito escolar. Por isso Bourdieu refere na sua
obra “ A Reprodução” que a escola funciona como reprodutora das
desigualdades sociais (Nogueira, 2002). O factor económico também tem
grande relevância na educação dos indivíduos, já que a educação dos filhos é
um investimento: enquanto o filho anda a estudar não pode contribuir para o
sustento da família e, para além dos gastos que isso envolve, aqueles que vêm
de classes sociais mais baixas, não têm oportunidades de aceder a
determinados estabelecimentos de ensino e mesmo a certos bens culturais.
(Nogueira, 2002). No Plano Nacional para a Inclusão de 2010, uma das
medidas do governo é no sentido de combater o insucesso escolar e o
abandono escolar precoce. Nos últimos anos tem sido feito um grande esforço
para combater as desigualdades. Entre essas medidas encontram-se o
reconhecimento, validação e certificação de competências, cursos e
formações modulares para jovens adultos, bem como aumento de apoios de
acção social para o financiamento dos estudos. Apesar deste esforço, a
escolarização dos jovens em Portugal continua a ser baixa, o que origina uma
posição de desvantagem no mercado de trabalho.
Segundo um estudo de Rodrigues, (2008), é nas classes mais baixas
que se verifica o maior número de insucesso e abandono escolar. Nesse
mesmo estudo, Rodrigues afirma que:
56
precocemente, prevenir e combater as situações de pobreza e de exclusão
social. Porém, a escola tende a reproduzir no seu funcionamento regular as
desigualdades económicas e sociais que a envolvem, sendo reflexo
tradicional da incidência de níveis mais elevados de insucesso e abandono
escolar precoce junto das crianças e jovens originárias de grupos sociais
mais desfavorecidos.
(Rodrigues, 2008:105)
57
Alexandra, de 30 anos, é também um caso de ambições que foram ceifadas
precocemente ou adiadas. Alexandra é da Covilhã e veio morar para Guimarães
porque conheceu o namorado quando este andava a tirar uma licenciatura na
Universidade da Beira Interior. Quando este terminou o curso e regressou à sua
terra natal, Alexandra abandonou a Covilhã. Como já trabalhava numa loja de
pronto-a-vestir há quatro anos num Shopping daquela cidade, pediu transferência
para a mesma loja no Shopping em Guimarães. Aquilo que gostaria de ter seguido
era algo relacionado com crianças, tal como educadora de infância. Contudo,
abandonou os estudos e foi trabalhar:
58
(…), Chegas a uma certa idade na adolescência em que queres saber
como é e mesmo ter a tua independência monetária, queres experimentar. E
comecei num part-time no Segafredo e também na Pizza Hut, tinha 17 anos.
E depois disso trabalhei na área de comércio como estou hoje ainda. (…) Na
altura já estava um bocadinho saturada do meu horário, porque lá está o
comércio de rua acabas por ter pouco tempo para fazer algumas coisas que
são importantes no dia-a-dia, porque era um horário das 9.30 até as 19.30,
só tinha o domingo (…) interessou-me principalmente a nível de horário e
independentemente de trabalhar num Shopping tenho folgas ao fim de
semana o que é muito bom. Porque no Shopping tem outras vantagens que
num comércio de rua não tem que é trabalhar á noite mas também o lado de
as receber, acaba por ser um vencimento superior, que mensalmente faz
muita falta, o dinheiro é muito importante. (…)
59
fábrica de sapatos e depois sempre trabalhou em comércio. Sílvia descreve
então o seu percurso profissional da seguinte forma:
60
tem vindo a aumentar de mês para mês, o que resulta no receio de mudanças
de emprego por parte dos entrevistados e, por esse motivo, como Catarina
refere “ (…) não sei o que vou fazer amanhã, mas isto também está mau e
tens de agarrar aquilo que tens (…).” Neste momento existem 12 lojas
encerradas no Shopping em análise. Num centro comercial é comum a
rotatividade de lojas. Os lojistas assinam contrato de seis em seis anos, que
pode ser renovado ou não pela administração. Este é um dos motivos pelo
qual os trabalhadores se sentem inseguros quando o movimento e fluxo de
vendas é menor, pois vêem o seu ganha-pão em risco. Como nos diz Sílvia no
seu testemunho a “ famosa crise instalou-se”
(…) Ser homem é mais difícil, nas lojas preferem mulheres sem
dúvida! A maior parte das lojas se vamos ver 80% ou até mais são meninas,
depende da loja mas no meu tipo de loja somos 6 e eu sou o único homem,
trabalhei na Springfield e chegamos a ser 11 e eu era o único homem (…)
61
(entrevista de Joaquim, funcionário de loja de pronto a vestir,
entrevista nº21)
(…) é claro que gostava de uma coisa melhor, mas por enquanto e
como estou efectivo aqui é mesmo por aqui que vou ficar, mas sempre atento
a alguma coisa que apareça melhor (…) neste momento o emprego ideal é
mesmo este (…) tenho 26 anos já não sou nenhum menino, neste momento
vou tentar manter-me aqui, porque neste momento isto está muito mau para
arranjar emprego, por isso penso ficar aqui algum tempo ainda (…)
(depoimento de Pedro, funcionário de loja de relógios, entrevista nº
20)
62
A Leonor, de 24 anos, licenciada em animação sociocultural, sempre
trabalhou no Shopping e conciliou este trabalho com os estudos. Mas
esperava encontrar logo após o término da licenciatura, colocação na área. No
entanto, isso acabou por não acontecer, pelos menos por enquanto. No seu
testemunho deparámo-nos com muita revolta e frustração, pois depois de
tantos anos de estudo a tirar um curso superior, acabar como vendedora numa
loja não lhe parece o melhor panorama. Nenhum ser humano gosta de ser
rejeitado e curriculum após curriculum entregue e sem sucesso, a entrevistada
refere que isso a “deita abaixo” e considera que a sua auto-estima é
constantemente posta em prova. Encontra-se ansiosa por sair do Shopping e
encontrar trabalho na sua área, mas confessa ter medo que tal não aconteça.
Quando questionada sobre a sua maior preocupação e quanto tempo acha que
vai continuar neste emprego, responde o seguinte:
(…)é pensar que vou ficar sempre nesta vidinha medíocre, a sério isto
assusta-me ene e tou a entregar um curriculum e olho para a cara das
pessoas e me dizem , “vamos ver os recursos que temos disponíveis e não sei
quê,”… fogo isso deita-te logo abaixo, tas a entregar um curriculum e já tas
a ouvir um não, e nem sequer viram o curriculum, tipo ninguém precisa de
uma licenciatura para trabalhar numa loja de roupa, muito menos num
Shopping! Tenho medo de ficar aqui para sempre! Não vou ficar, sei que
não, não quero isso. Mas é o que mais me assusta é isso, não conseguir
arranjar nada na minha área.(…) este trabalho mísero! Deixar o Shopping
para sempre! Vir aqui só de passagem, nem para fazer compras vir aqui.
(…). Estou sempre a entregar curriculuns, mando pela internet, por correio
ou mesmo às instituições (…) No máximo mais meio ano, 1 ano. Ou dois que
é o tempo de fazer o mestrado. Mas se arranjar um emprego na minha área
vou logo.(…)
(Depoimento de Leonor, funcionária de loja de pronto a vestir,
entrevista nº16)
63
Rosa, de 33 anos, como já terminou o curso há 9 anos e nunca
trabalhou na sua área específica, apesar de ter tentado inúmeras vezes, refere
que o emprego ideal para si seria num hotel ou num aeroporto, e termina a
entrevista com a seguinte frase sobre o seu futuro:
Podemos subentender com esta frase da Rosa que de nada adianta fazer
muitos planos, pois nem sempre a vida corre como esperamos. Depois de se ter
licenciado, criou expectativas de encontrar trabalho na sua área e acabou no ramo
do comércio.
Em síntese, os percursos profissionais dos entrevistados são influenciados
pelas suas origens sociais, que acabam por se repercutir nas habilitações literárias
e forma como encaram a vida. Estes indivíduos transformaram a sua vida num
destino ao qual se resignaram. Sentem-se felizes por terem um emprego, visto a
conjectura económica do país ser desfavorável em que o desemprego não para de
aumentar. Daí que “tens de agarrar aquilo que tens” seja uma frase comum a
algumas das entrevistas.
3.4.Tipologias de trabalhadores
64
pela falta de ambição pessoal; indivíduos realizados no trabalho e indivíduos com
elevado grau de saturação.
A construção desta tipologia foi elaborada através da análise e cruzamento
das dimensões do nível de satisfação no trabalho, percursos profissionais e
expectativas e ainda do contexto familiar. Considera-se que indicadores como as
habilitações literárias, estado civil, idade e existência de filhos, influenciam na
forma como os indivíduos encaram a sua profissão.
Na dimensão do nível de satisfação no trabalho, os entrevistados efectuam
o balanço positivo e negativo sobre a sua profissão. Assim, nem todos a encaram a
da mesma forma, por isso é possível dividi-los em grupos, através de um conjunto
de características comuns.
Relativamente à dimensão das expectativas profissionais, verifica-se a
mesma situação. Por isso, através das respostas obtidas, e após o cruzamento das
dimensões do nível de satisfação, percursos e expectativas profissionais, foi
possível traçar uma tipologia, com bases em traços comuns.
Podíamos dividir todos estes testemunhos em apenas dois grupos:
o grupo dos casados e o grupo dos solteiros, pois é principalmente no estado civil
que se verificam as maiores diferença. Contudo, foi possível ir mais além, e
dentro desses grupos, proceder a uma subdivisão mais minuciosa.
65
trabalho como algo temporário. Com efeito, anseiam sair deste ramo e finalmente
trabalhar na área à qual dedicaram anos de estudo, receando nunca arranjar outro
emprego que lhes permita mudar de vida. São casos de ambições frustradas ou
adiadas. Recorrendo à análise das dimensões dos percursos e expectativas e nível
de satisfação, e após agrupar as características comuns às entrevistadas, foi
possível criar esta tipologia, inserindo-se neste grupo as entrevistas de Rosa,
Leonor e Susana.
66
procura de um novo emprego. Nesta tipologia podemos inserir as
entrevistas de Alexandra e de Cláudia.
Indivíduos Susana(E11)
“Inconformados Detentores de licenciaturas Rosa(E13)
” Encaram este trabalho como temporário Leonor(E16)
Com a profissão Anseiam encontrar emprego na sua área
Têm receio de não conseguir mudar de
vida
Ambições cortadas ou adiadas
Indivíduos Jovens Catarina(E1)
Condicionados Baixas habilitações Paula(E2)
pelas Não conhecem outra realidade Sílvia(E3)
Habilitações profissional Idalina(E9)
literárias Têm contratos efectivos Marta(E15)
Acostumaram-se aos horários Olívia(E19)
Contam com a ajuda dos pais Pedro(E20)
Falta de ambição pessoal
Medo da mudança
67
Conclusã o
68
profissionais, condições de trabalho, conciliação da actividade profissional e vida
familiar e contexto socioeconómico.
Foi utilizada uma metodologia apropriada, com instrumentos adequados
para conseguir atingir o objectivo proposto. Assim, a metodologia consistiu, para
além da pesquisa empírica, na análise de entrevistas semi-estruturadas, na
observação participante e também na análise de documentos estatísticos.
Para uma melhor compreensão do objecto em análise, considerou-se
relevante efectuar uma contextualização relativa ao conceito de Shopping, bem
como da sua evolução ao longo dos anos. É também de destacar a importância dos
conceitos de tempo e espaço, principalmente no que concerne ao tempo de
trabalho.
Um dos aspectos verdadeiramente importantes é a identificação dos traços
identitários dos trabalhadores de Shopping. Este perfil é traçado através de várias
variáveis, a saber: funções profissionais que desempenha, tipo de loja, habilitações
literárias, contexto socioeconómico, antiguidade no trabalho e estado civil.
Tornou-se fulcral explicar neste trabalho de investigação, as experiências
profissionais dos entrevistados, reflectindo a organização do tempo de trabalho e
do tempo para actividades extra-trabalho. Para tal, foi necessário a pesquisa
concentrar-se na análise de dimensões decisivas para a compreensão desta
problemática: o retrato do contexto social e rotinas de vida da população
entrevistada, o nível de satisfação no trabalho, descrição da actividade e situação
profissional, conciliação da esfera profissional e familiar, descrição dos percursos
profissionais e considerações sobre expectativas para o futuro.
Podemos definir a mão-de-obra deste centro comercial como sendo
relativamente jovem, maioritariamente do sexo feminino, com baixos níveis de
escolaridade, com origens sociais humildes, em que os progenitores são
igualmente detentores de baixa escolarização. Neste caso concreto, a maioria dos
entrevistados tem um contrato efectivo com a empresa. À excepção de um ou dois
casos, todos os indivíduos têm apenas esta actividade profissional.
Nesta pesquisa, em que tornou primordial conhecer a realidade social e
profissional dos trabalhadores, a precariedade laboral foi algo fortemente
observável. Para além das entrevistas efectuadas, contactámos também Sandra, a
69
dirigente do Sindicato do Comércio, Escritórios e Serviços do Minho. Pedimos-
lhe que nos elucidasse a respeito das maiores reclamações com que se depara.
Sandra declarou o seguinte:
(…) Portanto, as principais queixas vão nesse sentido de a categoria
profissional não ser respeitada, não ser feita a actualização da tabela
salarial, de não ser feita a progressão na carreira. As pessoas passam 5 e 6
anos na mesma categoria profissional, sem ver o ordenado aumentado, sem
serem respeitadas as diuturnidades. As diuturnidades são um acréscimo ao
salário que a pessoa tem direito ao fim de determinados anos na mesma
categoria profissional. (…) Os subsídios de alimentação não são feitos
conforme a tabela. Acontece muito com o pessoal que trabalha nas lojas, os
chamados caixeiros, não recebem o abono de caixa, o subsídio de caixa, e as
pessoas muitas vezes nem sabem os seus direitos. Os horários de trabalho, o
trabalhar aos feriados sem serem remunerados, os feriados têm de ser pagos
a 150%. (…) Existem reclamações de cargas horárias excessivas e
incumprimento da lei em relação ao pagamento do subsídio de turno, das
horas extraordinárias, dos feriados (…) começa agora a ser de conhecimento
que existe uma pessoa no Shopping que é dirigente sindical, e que representa
um sindicato ao qual as pessoas se podem dirigir. Mas as pessoas têm medo,
muitas vezes. As pessoas vêm-me perguntar e ficam a saber, mas depois não
agem. Quando o patrão diz quem não quer há mais lá fora à espera, a porta
é larga e qualquer um cabe, mas isso também vale para o contrário, porque
nós estamos a trabalhar e o patrão não pode despedir só porque eu estou a
exigir os meus direitos, e se o fizer vai ter de ser penalizado por isso, e as
pessoas têm de tomar consciência que de facto quando nós deixamos de fazer
valer os nossos direitos não nos estamos a prejudicar só a nós: estamos se
calhar a prejudicar também os nossos filhos, porque a maioria das pessoas
que trabalha no Shopping é casada e tem filhos. Se concorda em estar a
levar para casa menos - à volta de 150euros- todos os meses, dinheiro que
podia ser utilizado no seu bem-estar para ela, para a família, para os filhos.
Temos de pensar que cada vez que nós não reclamamos os nossos direitos
estamos a contribuir para que os patrões achem que afinal estão a fazer uma
70
coisa que é certa. (…) Que sacrifícios é que podemos pedir? Nenhuns.
Ganhar o ordenado mínimo num sítio onde tem uma folga por semana, os
feriados não são pagos como deve ser, eu não sou respeitada, pronto vou
para lá encher o horário, Quem paga ordenados mínimos tem trabalhadores
mínimos. (…) O que acontece é que a pessoa é vista como um instrumento de
trabalho e não como um ser humano que está ali (…)
(depoimento de Sandra, funcionária de loja de óptica e dirigente
sindical, entrevista nº7)
71
sincronia com os restantes membros da comunidade em que se encontra inserido.
Este trabalho centrou-se, sobretudo, nos usos do tempo, tendo-se confirmado que,
para aqueles que têm responsabilidades conjugais, existe uma maior dificuldade
em gerir esse mesmo tempo, principalmente quando existem filhos. Para os
indivíduos solteiros, as dificuldades em gerir o tempo prendem-se sobretudo com
a vida social, como amigos, namorados e actividades relacionadas com a
formação académica e profissional.
É facilmente perceptível que, como resultado dos motivos já referidos, os
indivíduos trabalhadores nestas áreas comerciais tenham grandes dificuldades em
gerir o seu tempo. As rotinas são descritas de forma simplista através do “roteiro”
Casa-Shopping-Casa.
As mulheres encontram-se ainda mais sobrecarregadas em virtude das
tarefas domésticas. Nos dias de folga referem que se dedicam essencialmente a
actividades do lar, pelo que acabam por não fazer nada que considerem
“prazeiroso”, pois para além disso, acresce ainda o facto de frequentemente se
encontram sozinhos nos seus dias de folga, (pois os familiares ou amigos
encontram-se a trabalhar, não sendo as folgas coincidentes. A única vantagem dos
entrevistados é habitarem perto do local de trabalho, não sendo assim obrigados a
gastar tempo em deslocações.
Uma das conclusões desta investigação é o facto de esta profissão não
proporcionar uma ascensão em termos de carreira. Os indivíduos pouco
acrescentam à sua carreira ao longo dos anos. Pode considerar-se uma profissão
que exige pouca autonomia e que conduz a uma elevada rotina.
Um dos temas abordados nesta investigação foi a dinâmica dos percursos
profissionais e relação com as habilitações literárias e origens sociais. É relevante
o facto de todos os entrevistados serem oriundos de meios familiares em que os
pais possuem baixos níveis de escolaridade e profissões com baixos rendimentos.
A falta de condições económicas e baixa escolaridade dos pais terá possivelmente
influenciado o precoce abandono dos estudos.
Um centro comercial é um local que absorve um grande número de mão-
de-obra e que não exige grandes habilitações, facilitando assim o acesso a este
emprego, como referem os entrevistados. Estamos perante indivíduos que estão no
72
ramo do comércio há vários anos. Alguns não conhecem sequer outra realidade
profissional e outros não se imaginam sequer a ter outra actividade profissional.
Isto porque simplesmente se sentem condicionados devido à falta de habilitações
académicas, falta de formação profissional noutras áreas, mas também, em alguns
casos, devido à idade avançada. O facto de o concelho de Guimarães registar uma
taxa de desemprego elevada e a própria conjuntura económica que o país
atravessa, causa um maior receio quando se fala em mudar de emprego ou mesmo
de ramo. Estes indivíduos conformaram-se com os seus empregos e agradecem o
facto de os ter. Aqueles que encaram a profissão como algo temporário são
aqueles que possuem habilitações superiores. De forma que se conclui que as
habilitações literárias e a idade são dois aspectos que condicionam a mudança.
Em relação ao nível de satisfação, verificou-se que os aspectos apontados
como positivos neste trabalho são o contacto com o cliente e o gosto pelas vendas.
Em relação aos pontos negativos, foi referido que consideram alguns clientes
difíceis e mal-educados, no sentido em que são muitas vezes ignorados por estes.
Sentem que estão a ser inferiorizados como pessoas e que o seu trabalho está a ser
desvalorizado.
O espaço do Shopping é atípico, no sentido em que é um local fechado,
onde não existe a percepção do anoitecer. Os trabalhadores entram de dia e muitas
vezes quando terminam o turno já anoiteceu. É um espaço bastante artificial,
devido às fortes luzes existentes e ao ar condicionado, para além de que o ruído já
faz parte da vida destes trabalhadores. Apesar de este aspecto ter sido pouco
frisado pelos entrevistados, o facto é que se trata de um local com bastante ruído
devido à música ambiente, que se mistura com a música das próprias lojas, bem
como o ruído de fundo dos próprios clientes. Assim, as condições físicas do local
de trabalho interferem com a saúde mental dos trabalhadores (Amaro, 2006). Por
isso, vários entrevistados referem ou demonstram sinais de cansaço psicológico. É
de ressalvar ainda que actividades como estar ao ar livre e o isolamento em sítios
calmos, são referidos como coisas que gostam e procuram fazer quando têm
oportunidade.
Após a análise das entrevistas, foram encontrados cinco tipos de
trabalhadores: indivíduos “conformados” com o trabalho, indivíduos
73
“inconformados”, indivíduos condicionados devido às habilitações literárias,
indivíduos realizados e indivíduos “saturados”. A construção desta tipologia foi
possível após o cruzamento das dimensões do nível de satisfação, percursos
profissionais e expectativas.
Os indivíduos conformados com o trabalho são aqueles que já se
resignaram com a profissão, devido à idade avançada e baixas habilitações, e que
consideram que não têm outra opção de vida.
Os indivíduos inconformados são aqueles que apenas têm este emprego
enquanto não encontram uma situação profissional melhor. São detentores de uma
licenciatura e esperam que esta situação seja temporária e consideram que as suas
ambições estão estagnadas.
Os indivíduos condicionados não diferem muito dos conformados,
encontrando-se a diferença no factor idade: são jovens e, para além de baixas
habilitações literárias, não têm grandes ambições. No entanto, consideram que ter
mais escolaridade lhes abriria outras portas a nível profissional.
No que concerne aos indivíduos realizados, estes têm boas condições de
trabalho, quer a nível de remuneração, quer a nível de folgas, e têm
personalidades com forte poder de adaptação.
Relativamente aos indivíduos saturados, estes trabalham há vários anos
naquele local e consideram ter pouco tempo para si e para a família. Sentem-se
desvalorizados no seu trabalho, face aos sacrifícios que fazem.
Revelou-se curioso o facto de os entrevistados terem referido não esperar
ter esta profissão, já que todos aspiravam a profissões para as quais são
necessárias habilitações académicas superiores. Estamos assim perante vários
casos de sonhos ceifados, verificando-se que as habilitações literárias tiveram um
papel fundamental no trajecto destes indivíduos.
No âmbito deste trabalho, foi possível verificar e reflectir sobre os vários
sacrifícios a que estes trabalhadores estão sujeitos, nomeadamente a dificuldade
em articular a esfera pessoal e a esfera profissional e o trabalho aos fins-de-
semana, feriados e noites, o qual não é, muitas vezes, compensado como deveria.
Um outro sacrifício apontado, relaciona-se com o facto do próprio espaço de
trabalho ser bastante artificial, tornando-se incómodo e pouco saudável para quem
74
lá passa tantas horas do dia. A isto junta-se ainda a precariedade laboral a que
frequentemente estão sujeitos, tendo particularizado o factor dos horários
rotativos, uma vez que estes podem alterar todo um metabolismo, em virtude de
refeições que são feitas extemporaneamente.
Todos os motivos supracitados são focos de insatisfação para estes
trabalhadores, mas que, no entanto, poderiam ser contornados, de forma a,
futuramente, ser possível um decréscimo do grau de insatisfação existente.
São várias as medidas que podem ser tomadas para reverter a situação
anteriormente apontada, algumas das quais já são prática corrente em alguns
países. Seria o exemplo do encerramento dos centros comerciais aos Domingos,
prática que já é usual, por exemplo, na vizinha Espanha. Poderiam, e deveriam,
existir, por parte da Autoridade para as Condições do Trabalho, fiscalizações mais
rigorosas, no sentido de combater a precariedade laboral, principalmente no que
concerne aos descansos semanais e remunerações. Deveriam igualmente ser
criadas estratégias, no sentido de possibilitar uma melhor e mais eficaz
conciliação da esfera profissional e familiar.
A terminar, resta acrescentar que, apesar de, ao longo desta investigação,
se ter verificado a existência de indivíduos realizados com o trabalho, o facto é
que muitos mais poderiam, e deveriam de facto existir, se as condições de trabalho
oferecidas fossem melhores e que, no mínimo, respeitassem integralmente os
direitos fundamentais dos trabalhadores.
75
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Abril de 2010]
Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social –
http://www.mtss.gov.pt/left.asp?01.07.01.03 [consultado em Junho de
2010]
Observatório das Desigualdades do Centro de investigação e
estudos de Sociologia - http://observatorio-das-
80
desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=indicators&id=17
[consultado em Maio de 2010]
81
ANEXOS
82
Índice de quadros
Quadro nº1
População média anual
residente (N.º) por Local de
residência, Sexo e Grupo etário
(Por ciclos de vida); Anual
S Período de referência dos
Grupo etário (Por ciclos de vida)
exo dados
2009
Local de residência
Guimarães
N.º
Total 162 614,0
0 - 14 anos 26 398,5
H
15 - 24 anos 21 606,5
M
25 - 64 anos 94 823,5
65 e mais anos 19 785,5
Total 79 957,0
0 - 14 anos 13 644,5
H 15 - 24 anos 11 112,5
25 - 64 anos 46 835,0
65 e mais anos 8 365,0
Total 82 657,0
0 - 14 anos 12 754,0
M 15 - 24 anos 10 494,0
25 - 64 anos 47 988,5
65 e mais anos 11 420,5
População média anual residente (N.º) por Local de residência, Sexo e Grupo etário (Por ciclos de vida); Anual -
INE, Estimativas Anuais da População Residente
Fonte: www.ine.pt
83
Quadro nº2
Divisão das tarefas domésticas (%) pelos agregados domésticos
privados por Sexo, Frequência de realização das tarefas domésticas e Tipo
(tarefas domésticas); Não Periódica
Período de referência dos dados
1999
Local de residência
Frequên Portugal
Tipo (tarefas domésticas)
Scia de realização
C C C
exo das tarefas C Co
ostuma Costuma Costu ostuma
domésticas ostuma stuma
realizar a ostuma realizar ma realizar realizar
preparar realizar
limpeza cuidar da trabalhos serviços as
as compras
regular roupa de administrativos compras
refeições esporádicas
da casa jardinagem habituais
% % % % %
% %
3 3 3 20 3 24,
Sempre 27,1
5,7 3,2 3,6 ,4 3,4 4
Com 1 1 8 14 2
14,9 8,1
frequência 3,7 1,8 ,7 ,0 1,0
H Alguma 1 1 8 12 1 13,
15,7
M s vezes 7,3 1,2 ,4 ,4 6,0 9
Raram 7 6 5 5, 6 17,
10,1
ente ,5 ,7 ,4 5 ,2 8
2 3 4 47 2 35,
Nunca 32,3
5,9 7,1 4,0 ,7 3,4 9
H 6 4 3 18 1 26,
Sempre 31,4
,0 ,6 ,6 ,6 6,0 1
Com 1 5 3 14 2
17,6 8,5
frequência 1,2 ,5 ,6 ,9 0,6
Alguma 2 1 5 13 15,3 1 14,
s vezes 2,4 0,9 ,6 ,4 9,9 9
84
Raram 1 9 6 3, 7 16,
7,4
ente 2,0 ,8 ,0 9 ,5 6
4 6 8 49 3 33,
Nunca 28,3
8,3 9,3 1,2 ,1 6,0 8
6 5 6 22 4 22,
Sempre 23,1
2,5 9,1 0,6 ,0 9,2 8
Com 1 1 1 13 2
12,4 7,7
frequência 6,0 7,5 3,2 ,2 1,4
Alguma 1 1 1 11 1 12,
M 16,0
s vezes 2,7 1,5 0,9 ,4 2,6 9
Raram 3 3 4 7, 5 18,
12,6
ente ,3 ,9 ,9 0 ,0 9
5 8 1 46 137,
Nunca 35,9
,6 ,0 0,4 ,5 1,9 7
Divisão das tarefas domésticas (%) pelos agregados domésticos privados por Sexo, Frequência de
realização das tarefas domésticas e Tipo (tarefas domésticas); Não Periódica - INE, Inquérito à Ocupação do Tempo
Fonte: www.ine.pt
85
Operacionalizaçã o dos conceitos 1
Família TRABALHO
A familiares
Habilitações literárias
86
Operacionalização dos conceitos 2
Tempo STRESS
E
S Género Distribuição das
tarefas domésticas
Estado civil Distancia casa/trabalho Género
Guião de entrevista
87
Nome
Idade -----
Estado civil: ------
Número de irmãos:
Habilitações literárias da mãe:
Habilitações literárias do pai:
FORMAÇÃO ACADÉMICA
1. Grau académico mais elevado:
--------------- ---------------
2. SITUAÇÃO PROFISSIONAL
3. Local de trabalho:
4. Antiguidade no emprego:
5. Funções na loja: Tempo médio (em minutos) no percurso
entre casa e o trabalho (ida e volta)
7. Como se desloca para o trabalho:
8. Contexto profissional:
9. Nº médio de horas de trabalho por semana:
10-Fora o trabalha no Shopping tem mais alguma actividade
profissional? Ou estuda?
88
Caracterização
Descrição da actividade
Percurso profissional
1-Qual foi o primeiro emprego que teve? Pode contar-me como começou o
seu percurso profissional? (idade, motivo, local)
2-E no shopping? Como surgiu esta oportunidade?
3-Considera o facto de ser mulher/homem este trabalho lhe traz vantagens?
89
Rotinas do dia-a-dia
1-Pode contar-me como é um dia normal de trabalho seu? Desde que se
levanta até deitar? Por exemplo conte-me o seu dia de ontem. ( horas a que se
levanta , tentar obter o máximo de informação por horas )
2-Como é feita a gestão familiar ao nível das tarefas domésticas, como o
cuidado dos filhos (ir levar e buscar á escola) ou mesmo gestão do orçamento
familiar? (casados e com filhos)
3-Por norma como se sente no final de um dia de trabalho? Porquê?
4-Se tiver que trabalhar ao domingo, como se sente ao final do dia?
Porquê?
5-Com que frequência falta ou se atrasa e porque motivos?
6-Como reagem os seus patrões quando tem a necessidade de sair mais
cedo ou mesmo faltar?
7-Qual é o momento do dia que mais gosta e porquê?
8--Qual o dia da semana que gosta mais?
9--E o que gosta menos? Porquê?
10-Qual é o momento do dia que custa mais a passar?
11-Qual o dia da semana que lhe custa mais a passar?
90
Conciliação da vida pessoal com a vida profissional
Expectativas futuras
91
1-Encontra-se á procura de outro emprego? Qual seria o
emprego ideal atendendo às suas habilitações no momento?
92
Grelha de aná lise de conteú do
93
deslocações trabalha/casa
O trabalhar no Shopping
Horários
Trabalhar aos fins-de-
semana
94