Você está na página 1de 5

Grafos Planares

Nesta aula queremos responder à seguinte questão:

Dado um grafo G, é possível encontrar uma representação geométrica para o grafo tal que

não haja cruzamento de arestas?

Considere por exemplo o grafo K4 representado graficamente nas figuras fig1, fig2 e fig3.:

fig. 1 fig. 2 fig. 3

Definição 1 – Um grafo G é dito planar se puder ser representado geometricamente no plano de tal
forma que não haja cruzamento de suas arestas. Caso contrário o grafo é dito não-planar. Usaremos
o termo grafo plano para uma representação planar de um grafo planar.

Exemplo:
o grafo da fig 1 é um grafo planar, e o grafo das fig. 2 e fig. 3 são grafos planos.

Se existir uma representação geométrica de um grafo em uma superfície sem que haja cruzamento
de arestas, dizemos que existe uma imersão do grafo na superfície.

Como determinar então se um dado grafo é planar?

Existem dois grafos não planares que são muito importantes no estudo de planaridade. Estes dois
grafos são chamados Grafos de Kuratowski s serão apresentados a seguir.

Grafos de Kuratowski

Teorema 1 – O grafo K5 é um grafo não planar.


Prova – para mostrar este teorema usaremos uma metodologia que pode ser bastante útil na
obtenção de uma representação planar de um grafo planar ou na prova de que tal representação não
pode ser encontrada.
Vamos considerar o grafo K5. Sejam v1,v2,v3,v4,e v5 os cinco vértices deste grafo. Como o grafo é
completo, podemos encontrar um circuito que inclua todos os vértices de G. Seja por exemplo o
seguinte circuito:

v1

v2 v3
Acrescentando as arestas
v4 v5 (v4,v1): (v4,v3) observamos que
não temos escolha e que é
necessário inclui-las
Acrescentando a aresta externamente:
(v2,,v5):
Vamos acrescentar
aresta (v2,v3):
Notas de aula – Teoria dos Grafos– Prof. Maria do Socorro Rangel – DCCE/UNESP
possível inclui-la sem que
haja cruzamento de arestas.
Portanto o grafo K5 é não
planar.

Ao tentarmos incluir a
última aresta do grafo (v5,v1)
verificamos que não é

Para apresentar o próximo grafo de Kuratowski vamos precisar definir o seguinte tipo de grafo.

Grafo Bipartido – Um grafo G(V,A) é bipartido quando o seu conjunto de vértices, V, puder ser
particionado em dois conjuntos V1e V2 tais que toda aresta de G tem uma extremidade em V1 e
outra em V2. Um grafo bipartido completo possui uma aresta para cada par de vértices v1 ∈V1 e
v2∈V2. Se n1 é o número de vétices em V1 e n2 é o número de vértices em V2, o grafo bipartido
completo é denotado por Kn1,n2.

Exemplos:
K3,3
K2,3
Teorema 2 – O grafo K3,3 é um grafo não planar.

Prova: É possível demonstrar este teorema usando o mesmo argumento da prova do teorema 1.

O que estes dois grafos possuem em comum?

1) São grafos regulares


2) Os dois são não planares
3) A remoção de uma aresta ou um vértice torna o grafo planar
4) K5 é não planar com o menor número de vértices
5) K3,3 é não planar com o menor número de arestas

Notas de aula – Teoria dos Grafos– Prof. Maria do Socorro Rangel – DCCE/UNESP
Fórmula de Euler
Observe que um grafo plano divide o plano em diversas regiões, chamadas de faces.

f4
f1
f2 f3 f2 f3 f1
f4

O grau de uma face fi d(fi ) é igual ao número de arestas contida no trajeto fechado que a define. O
número de faces (f) de um grafo planar é sempre o mesmo e independe da representação planar
obtida. Como cada aresta de G pertence a no máximo duas faces distintas, ou é incluída duas vezes
no trajeto fechado que a define, temos o seguinte resultado:
f

∑d ( f
i =1
i ) = 2m .

Exemplo:
d(f1)= 8
d(f2)= 3
f2 f4 d(f3)= 9
f1 d(f4)= 4
f3

O número de faces de um grafo também esta relacionado como número de aretas e vértices do grafo
através do teorema abaixo.

Teorema 3 – Se G é um grafo conexo planar com m arestas e n vértices, então qualquer


representação planar de G possui f = m − n + 2 faces.

Exemplo – Quantas faces existem em grafo planar com 10 vértices, cada um com grau 3?

Inicialmente precisamos definir quantas arestas o grafo possui.


10

∑ d (v ) = 2m ⇒ m = 10∗ 3 2 = 15.
i
i =1
Aplicando a fórmula de Euler:
f = m − n + 2 = 15 − 10 + 2 = 7
sabemos que o grafo terá 7 faces.

Corolário 1 – Seja G um grafo conexo planar com m arestas e n vértices, então:


m ≤ 3n − 6 , m > 1 .
Prova.
Observamos anteriormente que o grau de cada face é definida pelo numero de arestas em um
trajeto fechado. Em um grafo simples G um trajeto fechado é composto por pelo menos três arestas.
Além disso, cada aresta pertence a no máximo duas faces de um grafo. Assim podemos estabelecer
a seguinte relação:
f f
2m = ∑ d ( f i ) ≥ ∑ 3 = 3 f
i =1 i =1

3 f ≤ 2m , ⇒ f ≤ 23 m
Notas de aula – Teoria dos Grafos– Prof. Maria do Socorro Rangel – DCCE/UNESP
usando esta relação na fórmula de euler temos:
m− n + 2 ≤ 3m
2 ⇒ m ≤ 3n − 6 .

Observe que o grafo K5 não satisfaz o corolário 1 e portanto não é planar. O grafo K 3,3 satisfaz o
corolário porém não é planar. Assim temos uma condição necessária mas não suficiente.

Como fazer então para determinar se um dado grafo é planar? O algoritmo de redução abaixo pode
auxiliar nesta tarefa.

Definição 2 – Duas arestas estão em série se elas possuem exatamente um vértice em comum e este
vértice tem grau dois.

Procedimento 8.1 – Procedimento de redução


Passo 1 – Determine as componentes do grafo. G = { G1, G2, ..., Gk}. Teste cada componente Gi do
grafo.
Passo 2 – Remova todos os loops
Passo 3 – Elimine as arestas paralelas, deixando apenas uma aresta entre cada par de vértices.
Passo 4 – Elimine os vértices de grau dois através da fusão de duas arestas. (Arestas em série não
afetam a planaridade.

Repita os passos 3 e 4 enquanto for possível.

Exemplo – Vamos aplicar o procedimento de redução ao seguinte grafo:

1 2
7

3 4 5

Passo 2 – G não possui Repetindo: Repetindo:


loops Passo 3, vamos remover as Passo 3 temos o seguinte
Passo 3 - G não possui arestas 1, 2 e 5,6. O grafo grafo reduzido:
arestas paralelas. resultante é:
Passo 4 – Vamos fazer a 7 4
fusão das arestas 1 e 2 e de
5 e 6: 3 4
1,2
7

3 4 5,6 Passo 4 temos:


3,7
4

Notas de aula – Teoria dos Grafos– Prof. Maria do Socorro Rangel – DCCE/UNESP
De uma maneira geral, após aplicar o procedimento 1 a cada uma das componentes Gi, qual será o
grafo reduzido, Hi?

Teorema 8.4 – O grafo reduzido Hi é:


a) um aresta; ou
b) um grafo completo com 4 vértices; ou
c) um grafo simples com n ≥ 5 e m ≥ 7 .

Se todos os grafo reduzido Hi satisfizerem os itens a) ou b), o grafo G é planar. Caso contrário é
necessário verificar se m ≤ 3n − 6 . Se o grafo reduzido não satisfaz esta inequação netão o grafo G
é não planar. Se a inequação for satisfeita, é necessário fazer testes adicionais.

Notas de aula – Teoria dos Grafos– Prof. Maria do Socorro Rangel – DCCE/UNESP

Você também pode gostar