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IBPEX – Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão

LUÍS DOMINGOS RIBEIRO DE SÁ

INCIDÊNCIA DE LEISHMANIOSE VISCERAL NO MUNICÍPIO DE


IMPERATRIZ/MA, NO PERÍODO DE 2007 A 2009

SAÚDE PÚBLICA

IMPERATRIZ/MA

2010
RESUMO
A importância da Leishmaniose Visceral encerra-se na sua alta incidência e ampla
distribuição, além da possibilidade de assumir formas graves e fatais quando
associada ao quadro de má nutrição e infecções concomitantes. A crescente
urbanização desta doença ocorreu nos últimos 20 anos e colocou em discussão as
estratégias de controle empregadas. Em 1991, a leishmaniose visceral foi notificada
pela primeira vez em Imperatriz. Apartir de então, casos humanos e caninos da
doença têm sido sistematicamente notificados. Neste artigo procurou-se observar a
incidência da leishmaniose visceral neste município. De janeiro de 2007 a dezembro
de 2009, foram registrados 119 casos humanos, predominando o sexo masculino,
que representou 71 do total de ocorrências. As crianças na faixa etária de 0 a 9
anos representaram 60 dos casos neste período. As condições socioeconômicas e
ambientais encontradas no município assemelham-se às descritas por vários
autores para a ocorrência e manutenção da doença, podendo destacar-se a intensa
migração da população, a degradação ambiental resultante da invasão do homem
ao biótopo do vetor, a abundância do agente transmissor e a grande exposição das
populações a este, acompanhadas de insuficientes condições sanitárias em zona
urbana. Embora existam vários estudos acerca da leishmaniose visceral humana e
canina, há que se valorizar e incentivar novas pesquisas para subsidiar o controle
desta doença.

Palavras-chave: Leishmaniose visceral humana, incidência, Imperatriz.

ABSTRACT

The importance of Visceral Leishmaniasis closes on its high incidence and wide
distribution, and the opportunity to take serious and fatal when associated with
malnutrition and concomitant infections. The increasing urbanization of the disease
occurred in the last 20 years and raised the question of the control strategies
employed. In 1991, visceral leishmaniasis was first sent to the Imperatriz. From that
moment on, human and canine cases of the disease have been systematically
reported. This article sought to observe the incidence of visceral leishmaniasis in the
city. From January 2007 to December 2009, there have been 119 human cases,
males predominated, representing 71 of the total occurrences. Children aged 0 to 9
years accounted for 60 cases in this period. The socio-economic and environmental
conditions found in the municipality are similar to those described by other authors,
with regard to the disease occurrence and maintenance. The main factors to be
considered are the intense population migration, the environmental degradation that
follows the human invasion of the vector ecosystem, the widespread exposure of
susceptible individuals to the vector, coupled with inappropriate sanitary conditions.
Although there are several studies on human visceral leishmaniasis and canine, we
must appreciate and encourage new studies to support the control of this disease.

Key Words: human visceral leishmaniasis, incidence, Imperatriz.

INTRODUÇÃO

A leishmaniose visceral (LV) é uma doença infecto-parasitária causada por


várias espécies de protozoários, do gênero Leishmania. Desde a antiguidade essas
doenças vêm acometendo o homem. Na Índia era conhecida como uma doença que
tinha um alto índice de mortalidade e denominada de Kala-azar (doença negra) pela
presença de uma pigmentação escurecida na pele dos infectados (PASTORINO et
al., 2002).
A leishmaniose no Brasil acomete pessoas de todas as idades. Nas áreas
endêmicas 80% dos casos ocorrem em crianças menores de 10 anos, mas em
algumas localidades urbanas essa distribuição se modifica com ocorrência de altas
taxas também no grupo de adultos jovens. O Brasil é o país nas Américas que
possui a maior endemicidade para a LV, onde 97% dos casos do continente estão
localizados sendo que a região nordeste brasileira concentra 90% das notificações
(PASTORINO et al., 2002).
Nos últimos dez anos, a LV vem passando por um processo de urbanização,
aspecto esse que deve ser considerado na epidemiologia da doença. A endemia
vem passando de doença quase que exclusiva de áreas rurais para uma
distribuição maior em áreas urbanas. Exemplos deste fenômeno de expansão-
urbanização são surtos epidêmicos em diversos estados do Brasil (MONTEIRO et
al., 1994).
O Estado do Maranhão sofreu no passado um intenso processo de
colonização, tendo recebido um enorme fluxo populacional e experimentado uma
vertiginosa elevação nos seus percentuais de desmatamento. Como uma das
conseqüências sanitárias deste processo, observou-se uma enorme ampliação da
distribuição da LV no território estadual, tanto em termos numéricos como
geográficos. O deslocamento de grupos de pessoas vindas de outras regiões do
Nordeste em busca de empregos nas grandes cidades do Maranhão proporcionou,
portanto, a criação de aglomerados populacionais sem a mínima infra-estrutura
sanitária, possibilitando a disseminação da doença (REBÊLO, 1999). Envolveu um
grande número de indivíduos da periferia das áreas urbanas, tanto na capital do
estado, como no interior, nas zonas de cerrados e de contato caatinga/cerrado
(NASCIMENTO et al., 1996).
Em nosso meio, a invasão do calazar pode ser explicada pelo desmatamento
desordenado e condições geográficas, sobretudo climáticas representadas pela alta
pluviosidade, que favorece biologicamente os criadouros de flebotomíneos. Outros
fatores, tais como as profundas alterações que sofreu a cidade de Imperatriz com a
construção da rodovia Belém-Brasília e a implantação do garimpo de Serra Pelada,
no Pará, nas décadas de 1970 e 1980 e, com isso, deslocando milhares de famílias
que foram fazer assentamentos e se instalaram em condições inadequadas de
saúde e saneamento.
Os primeiros casos de leishmaniose visceral em pacientes humanos foram
notificados em Imperatriz há 17 anos. Em Imperatriz a incidência da leishmaniose
visceral humana em 2002 foi de 84,4 casos/100.000 habitantes (CASTRO, 2008).

Apesar de que investigações feitas em diferentes regiões das Américas


tenham contribuído para um melhor esclarecimento de diversos ciclos de
transmissão, estudos epidemiológicos sobre a leishmaniose são extremamente
necessários. Tais estudos são relevantes para um melhor conhecimento dos
diferentes elos da sua cadeia epidemiológica, uma vez que, mesmos nos dias
atuais, existem ainda lacunas importantes nesse campo.
Considerando-se a relevância da doença e a escassez de dados
epidemiológicos referentes a mesma no município de Imperatriz/MA, considera-se
oportuna a realização deste estudo.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A LV ou calazar é uma doença crônica grave, podendo levar o homem à


morte. Tem uma alta letalidade que pode alcançar 10% quando não se começa um
tratamento adequado (LAINSON, 1987). A principal forma de transmissão do
parasita para o homem e outros hospedeiros mamíferos é através da picada de
fêmeas dedípteros da família Psychodidae, sub-família Phebotominae, conhecidos
genericamente por flebotomíneos e popularmente como mosquito palha, tatuquiras,
birigui, entre outros. No Brasil, duas espécies, até o momento, estão relacionadas
com a transmissão da doença Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi. A primeira
espécie é considerada a principal espécie transmissora da L. (L.) chagasi no Brasil
e, recentemente, L. cruzi foi incriminada como vetora no Estado de Mato Grosso do
Sul (XXXXXXX).
Os agentes etiológicos da leishmaniose visceral são protozoários
tripanosomatídeos do gênero Leishmania, parasita intracelular obrigatório das
células do sistema fagocítico mononuclear, com uma forma flagelada ou
promastigota, encontrada no tubo digestivo do inseto vetor e outra aflagelada ou
amastigota nos tecidos dos vertebrados. No Novo Mundo, a Leishmania
(Leishmania) chagasi é a espécie comumente isolada em pacientes com LV. Na
área urbana, o cão (Canis familiaris) é a principal fonte de infecção. A enzootia
canina tem precedido a ocorrência de casos humanos e a infecção em cães tem
sido mais prevalente do que no homem. No ambiente silvestre, os reservatórios são
as raposas (Dusicyon vetulus e Cerdocyon thous) e os marsupiais (Didelphis
albiventris) (BRASIL, 2006).
Gontijo & Melo (2004) apud Penna (1934), afirmam que o primeiro caso
relatado de Leishmaniose Visceral no Brasil foi feito em 1934, quando foram
encontradas amastigotas de Leishmania em cortes histológicos de fígado de
pessoas que morreram com suspeita de febre amarela. Ao contrario de Alencar (et
al., 1991), que em seus estudos afirma que o registro do primeiro caso da doença
no Brasil ocorreu em 1913, quando Migone, no Paraguai, descreveu o caso em
material de necrópsia de paciente oriundo de Boa Esperança, Mato Grosso. Após
20 anos é que se veio registrar o primeiro surto da doença, ocorrido na cidade de
Sobral, no Ceará.
Em meados dos anos 80, constatou-se uma transformação drástica na
distribuição geográfica da LV. A doença, antes restrita às áreas rurais do nordeste
brasileiro, avançou para outras regiões ilesas alcançando inclusive a periferia de
grandes centros urbanos. Em 19 dos 27 estados brasileiros já foram registrados
casos autóctones de LV. A partir dos anos 90, os estados Pará e Tocantins (região
Norte), Mato Grosso do Sul (região Centro Oeste) e Minas Gerais e São Paulo
(região Sudeste) passaram a influir de maneira significativa nas estatísticas da LV
no Brasil (BRASIL, 2006).
Com a expansão da área de abrangência da doença e o aumento
significativo no número de casos, a LV passou a ser considerada pela Organização
Mundial da Saúde uma das prioridades dentre as doenças tropicais. A doença
atinge principalmente as populações pobres dos países. Embora existam métodos
de diagnóstico e tratamento específicos, grande parte da população não tem acesso
a estes procedimentos, elevando os índices de mortalidade.
Em 1982, foram diagnosticados seis casos de calazar em dois bairros do
município de São Luís (MA). Em seguida, um surto com 32 casos, apresentado ao
XIX Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical inaugurou a história do
calazar enquanto nosologia no Estado do Maranhão (SILVA et al., 1997).
O deslocamento de grupos de pessoas vindas de outras regiões do Nordeste
em busca de empregos nas grandes cidades do Maranhão proporcionou a criação
de aglomerados populacionais sem a mínima infra-estrutura sanitária, possibilitando
a disseminação da doença (REBÊLO, 1999). Envolveu um grande número de
indivíduos da periferia das áreas urbanas, tanto na capital do estado, como no
interior, nas zonas de cerrados e de contato caatinga/cerrado (NASCIMENTO et al.,
1996).

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa transversal quantitativa, cuja fonte foi a coleta dos
dados nas fichas de notificação dos pacientes que tiveram, no período de janeiro de
2007 a dezembro de 2009, o diagnóstico de leishmaniose visceral.

A pesquisa foi realizada no município de Imperatriz, pertencente ao estado do


Maranhão. A cidade localiza-se nas margens do rio Tocantins, dentro da Amazônia
legal, tendo uma área de 1.538,00 km². Sua distância em relação à capital São Luís
é de 640 km, tendo a BR 010 como via de acesso a este local. A população total do
município de Imperatriz é de 230.566 habitantes (IMPERATRIZ, 2010).

Os dados foram coletados na Secretaria Municipal de Saúde de Imperatriz,


especificamente no Departamento de Vigilância Epidemiológica no mês de janeiro
de 2010. Neste estudo, foram analisados os dados contidos no relatório de
atividades da Vigilância Epidemiológicas. As informações composta nos relatórios
foram obtidas das fichas de notificação compulsória preenchidas nos postos de
saúde, onde foram diagnosticados todos os casos.

Na pesquisa foram estudadas as variáveis: sexo, idade, faixa etária, bairro de


residência, relativas aos indivíduos acometidos por Leishmaniose Visceral. Foram
calculados os coeficientes de incidência das variáveis: sexo e faixa etária.

RESULTADOS

A tabela 1 refere-se ao número de casos de Leishmaniose visceral no


município de Imperatriz entre os anos de 2007 a 2009 e seus respectivos
coeficientes de incidência. Percebe-se uma elevação no ano de 2008 em relação ao
ano anterior e, com uma pequena redução em 2009. Os coeficientes de incidência
(10 mil) variam de 1,6 a 1,86 e mostram-se relativamente estáveis.

Tabela 1 – Número de casos de LV e coeficiente de incidência no município de


Imperatriz, por ano – 2007 a 2009
ANO CASOS CI
2007 37 1,6
2008 43 1,86
2009 39 1,7
TOTAL 119
Fonte: Vigilância Epidemiológica, 2010

Em relação ao sexo (tabela 2), os coeficientes mostram-se mais elevados


entre os homens. Nos anos de 2007 e 2009, o número de casos foi mais que o
dobro nos homens quando comparados aos notificados em mulheres, sendo que
em 2008 o coeficiente foi maior entre as mulheres. A razão, em 2008, chegou em
(homens 1,80 / mulheres 1,92) 0,94 sendo que em 2007 foi (2,25 / 1,00) 2,25 e em
2009 (2,34 / 1,08) 2,16.

Tabela 2 – Número de casos e coeficiente de incidência no município de Imperatriz,


por sexo e ano – 2007 a 2009
FEMININ
ANO MASCULINO CI O CI TOTAL
2007 25 2,25 12 1,00 37
2008 20 1,80 23 1,92 43
2009 26 2,34 13 1,08 39
TOTAL 71 - 48 - 119
Fonte: Vigilância Epidemiológica

A tabela 3 mostra a população do município de Imperatriz por faixa etária nos


anos de 2007 a 2009, bem como o número de casos notificados de leishmaniose
visceral e seus respectivos coeficientes de incidência. Verificamos as diferenças
marcantes nas faixas 0 a 9 e 20 a 49 em relação as faixas 10 a 19 e > 50. Enquanto
os primeiros valores variam entre 1,44 a 5,2, as faixas 10 a 19 e > 50 oscilam entre
0 e 1,05. Os indivíduos < 9 anos são os mais atingidos com coeficiente chegando a
5,2 no ano de 2008, onde neste mesmo ano a faixa 20 a 49 que mais aproximou-se
com coeficiente 1,44. Em todas as faixas houve redução no número de casos no
decorrer dos três anos, excetuando-se a de 0 a 9 que no ano 2008, em relação ao
ano anterior, dobrou o coeficiente (2,6 para 5,2); e a faixa > 50 que não teve
nenhum caso notificado em 2008 aumentou consideravelmente em 2009 quando
comparado a 2007 triplicando o coeficiente de incidência ( 2007: 1; 2009: 1.05).

Tabela 3 – Número de casos e coeficiente de incidência de LV no município de


Imperatriz, por faixa etária – 2007 a 2009
ANO 0a9 CI 10 a 19 CI 20 a 49 CI > 50 CI
POPULAÇÃO 49998 - 55938 - 96740 - 27890 -
2007 13 2,6 3 0,53 20 2 1 0,35
2008 26 5,2 3 0,53 14 1,44 0 0
2009 21 4,2 1 0,18 14 1,44 3 1,05
TOTAL 60 - 7 - 48 - 4 -
Fonte: Vigilância Epidemiológica

A tabela 4 refere-se aos números de casos notificados de LV distribuídos por


bairros no município de Imperatriz. Os bairros Bacuri e Nova Imperatriz são os de
maior incidência. Nesses dois bairros, em 2009, houve uma redução considerável.
No bairro Vila Nova em 2007 e 2008, nenhum caso foi notificado. Já em 2009 houve
04 (quatro) notificações.

Tabela 4 – Número de casos de LV no município de Imperatriz, por bairro e ano –


2007 a 2009
BAIRROS 2007 2008 2009 TOTAL
CENTRO 2 2 3 7
CAEMA 1 0 0 1
BURITI 0 1 1 2
BACURI 5 6 1 12
MERCADINHO 0 1 1 2
MARANHÃO NOVO 1 1 2 4
NOVA IMPERATRIZ 6 3 1 10
SANTA RITA 2 2 4 8
SANTA INÊS 1 0 0 1
SÃO JOSÉ 2 1 0 3
BOCA DA MATA 1 4 0 5
IMIGRANTE 1 0 2 3
OURO VERDE 1 2 1 4
VILA CAFETEIRA 0 1 0 1
PARQUE AMAZONAS 1 0 1 2
JARDIM TROPICAL 0 1 0 1
VILA REDENÇÃO 1 1 3 5
VILA LOBÃO 1 2 0 3
VILA NOVA 0 0 4 4
PARQUE SANTA LÚCIA 0 2 1 3
VILA FIQUENE 1 3 0 4
VILINHA 0 4 0 4
CONJUNTO VITÓRIA 1 1 1 3
BOM SUCESSO 0 0 1 1
HABITAR BRASIL 2 1 1 4
RODOVIÁRIA 1 0 1 2
SÃO JOSÉ DO EGITO 1 0 1 2
SÃO SALVADOR 2 1 2 5
VILA AIRTON SENA 1 1 2 4
VILA INDEPENDENTE 1 0 1 2
VILA JK 0 1 1 2
VILA MACEDO 0 0 1 1
VILA PALMEIRA 1 1 2 4
TOTAL 37 43 39 119
Fonte: Vigilância Epidemiológica

DISCUSSÃO

O presente estudo procurou organizar as informações sobre a ocorrência de


LV no município de Imperatriz, entre os anos de 2007 a 2009 com abordagem
epidemiológica. Estas informações estavam disponíveis na Secretaria de
Saúde/Vigilância Epidemiológica. As Unidades de Saúde distribuídas no referido
município, procuradas pelos usuários quando necessitassem, originaram os dados
deste estudo.

Evidenciou-se, em relação à LV, no presente município nenhuma publicação


anterior impossibilitando comparações, mas destacando a relevância de se realizar
um estudo desta natureza. A carência de informações encerrou-se como a maior
dificuldade encontrada para a discussão dos resultados deste estudo. Levando-se
em consideração as alterações ambientais sofridas no município como
desmatamentos, intenso processo migratório e urbanização desorganizada e
cientes que estes fatores estão diretamente relacionados ao aparecimento e
agravamento da LV torna-se importante a obtenção de informações que
caracterizem epidemiologicamente a situação da LV neste município.

A ocorrência de LV em Imperatriz, no período de 2007 a 2009 mostrou que o


município apresentou um número significativo de casos confirmado (119) com
coeficiente de incidência atingindo 1,86 por 10 mil habitantes. Observou-se uma
queda na evolução dos coeficientes no ano 2009. Vale salientar que esta queda da
incidência possa ter ocorrido por problemas operacionais como a não notificação
dos casos.

Dos 119 casos notificados em Imperatriz durante os três anos abordados


pelo estudo, o sexo masculino correspondeu a 71 casos, ficando o sexo feminino
com 48 casos. Não obstante, os coeficientes de incidência foram mais elevados
entre os homens nos anos de 2007 e 2009 sendo quase o dobro de caso quando
comparado ao sexo feminino. Entretanto, em 2008 houve um surpreendente
aumento dos casos em mulheres não existindo nenhuma razão lógica para este
achado. A análise por faixa etária revelou riscos mais elevados em indivíduos com
idade entre 0 e 9 anos e 20 a 49 e riscos mais reduzidos na faixa etária 10 a 19 e >
50 anos, contudo esta doença se faz presente em todas as faixas etárias.

Em relação aos bairros do município de Imperatriz, a situação epidemiológica


mostrou-se mais dramática nos bairros Bacuri (12 casos) e a Nova Imperatriz (10
casos). Embora o município enfrente problemas como precariedade na rede de
esgotos, não podemos descartar que estes bairros apresentam além destas outras
condições classicamente descritas como desencadeadoras e mantenedoras de
transmissão de LV por serem mais numerosos e serem cortados por riachos.

CONCLUSÃO

A leishmaniose visceral é um crescente problema de saúde pública no país e


em outras áreas do continente americano, que pode levar ao óbito. Conforme os
resultados do presente estudo, a ocorrência da LV no município de Imperatriz
mostrou-se relevante, com a transmissão ocorrendo em praticamente todo o seu
território. A história da construção deste município e a migração populacional estão
atreladas a degradação ambiental fazendo com que a periferia surgisse em áreas
de mata nativa, o biótopo do mosquito. Estas modificações criaram condições
favoráveis a doença sendo associadas a falta de saneamento básico e esgoto
correndo a céu aberto.

Durante o estudo observamos que o sexo masculino mostrou-se mais


susceptível e as crianças entre 0 a 9 anos as mais atingidas. Os bairros que
mostraram maior incidência foram o Bacuri e a Nova Imperatriz que apresentam
além das condições precárias de saneamento riachos, predispondo o aparecimento
da doença.

Diante da magnitude desta doença e dos resultados encontrados neste


estudo, sugere-se analisar a eficácia dos serviços realizados, a fim de evitar ações
retardadas e/ou descontinuadas dos serviços, assim como a adoção de medidas
preventivas, valorizar e incentivar novas investigações e pesquisas aplicadas como
fontes importantes de informações para subsidiar o Programa de Controle da LV no
em Imperatriz e no Brasil.

REFERÊNCIAS

CASTRO, G.N.; Leishmaniose visceral humana e canina no município de


Imperatriz, Maranhão, Brasil. Universidade técnica de Lisboa. Faculdade de
medicina veterinária. Lisboa, 2008.

GONTIJO, C.M.F.; MELO, M.N. Leishmaniose Visceral no Brasil: quadro atual,


desafios e Perspectivas. Revista Brasileira de Epidemiologia – Vol. 7. Nº 3, 2004.

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In: Peters W, Killick- Kendrick R. The Leishmaniasis in Biology and Medicine.
Vol. 1. London: Academic Press; 1987. p. 1-120.

MINISTÉRIO DA SAÚDE.FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE.CENTRO NACIONAL


DE EPIDEMIOLOGIA. Leishmaniose Visceral no Brasil: situação atual,
principais aspectos epidemiológicos, clínicos e medidas de controle. Boletim
Epidemiológico, 2006.

NASCIMENTO, M. D. S. B.; COSTA, J. M. L.; FIORI, B. I. P. & VIANA, G. M. C.


Aspectos epidemiológicos determinantes na manutenção da leishmaniose
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Medicina Tropical., 1996.

PASTORINO, A.C.; JACOB, C.M.A.; OSELKA G.W.; CARNEIRO-SAMPAIO, M.M.S.


Leishmaniose visceral: aspectos clínicos e laboratoriais. Jornal de Pediatria -
Vol. 78, Nº2, 2002.

REBÊLO, J.M.M.; ARAÚJO, J.A.C.; CARVALHO, M.L.; BARROS, V.L.L.; SILVA,


F.S.; OLIVEIRA, S.T. Flebótomos (Diptera, Phlebotominae) da ilha de São Luis,
zona do Golfão Maranhense, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
Tropical, 1999.

SILVA, A. R.; VIANA, G. M. C.; VARONIL, C.; PIRES, B.; NASCIMENTO, M. D. S. D.


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Maranhão, Brasil: Evolução e perspectivas. Revista da Sociedade Brasileira de
Medicina Tropical, 1997.
RESUMO

A importância da Leishmaniose Visceral encerra-se na sua alta incidência e ampla


distribuição, além da possibilidade de assumir formas graves e fatais quando
associada ao quadro de má nutrição e infecções concomitantes. A crescente
urbanização desta doença ocorreu nos últimos 20 anos e colocou em discussão as
estratégias de controle empregadas. Em 1991, a leishmaniose visceral foi notificada
pela primeira vez em Imperatriz. Apartir de então, casos humanos e caninos da
doença têm sido sistematicamente notificados. Neste artigo procurou-se observar a
incidência da leishmaniose visceral neste município. De janeiro de 2007 a dezembro
de 2009, foram registrados 119 casos humanos, predominando o sexo masculino,
que representou 71 do total de ocorrências. As crianças na faixa etária de 0 a 9
anos representaram 60 dos casos neste período. As condições socioeconômicas e
ambientais encontradas no município assemelham-se às descritas por vários
autores para a ocorrência e manutenção da doença, podendo destacar-se a intensa
migração da população, a degradação ambiental resultante da invasão do homem
ao biótopo do vetor, a abundância do agente transmissor e a grande exposição das
populações a este, acompanhadas de insuficientes condições sanitárias em zona
urbana. Embora existam vários estudos acerca da leishmaniose visceral humana e
canina, há que se valorizar e incentivar novas pesquisas para subsidiar o controle
desta doença.

Palavras-chave: Leishmaniose visceral humana, incidência, Imperatriz.


ABSTRACT

The importance of Visceral Leishmaniasis closes on its high incidence and wide
distribution, and the opportunity to take serious and fatal when associated with
malnutrition and concomitant infections. The increasing urbanization of the disease
occurred in the last 20 years and raised the question of the control strategies
employed. In 1991, visceral leishmaniasis was first sent to the Imperatriz. From that
moment on, human and canine cases of the disease have been systematically
reported. This article sought to observe the incidence of visceral leishmaniasis in the
city. From January 2007 to December 2009, there have been 119 human cases,
males predominated, representing 71 of the total occurrences. Children aged 0 to 9
years accounted for 60 cases in this period. The socio-economic and environmental
conditions found in the municipality are similar to those described by other authors,
with regard to the disease occurrence and maintenance. The main factors to be
considered are the intense population migration, the environmental degradation that
follows the human invasion of the vector ecosystem, the widespread exposure of
susceptible individuals to the vector, coupled with inappropriate sanitary conditions.
Although there are several studies on human visceral leishmaniasis and canine, we
must appreciate and encourage new studies to support the control of this disease.

Key Words: human visceral leishmaniasis, incidence, Imperatriz.

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