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VINCULAÇÃO CONSTITUCIONAL DOS PODERES PÚBLICOS

Nota: os apontamentos apresentados foram recolhidos em aula teórica


de Direito Constitucional II, leccionada pela Exma. Professora Doutora
Cristina Queiroz.

 Vinculação constitucional dos poderes públicos


o Reconhecimento do exercício do poder de forma patológica,
transgredindo os limites que lhe são impostos, o que implica
a adopção de técnicas de limitação;
o Face ao poder exercido pelos órgãos de soberania e ao poder
exercido pela sociedade civil, o controlo recíproco de poderes
não serve para a imposição da limitação;
o Formas de controlo recíproco de poderes, por Montesquieu
(checks and balances, nos EUA) e de controlo autónomo de
poderes (tribunais);
o Numa perspectiva histórica, o primeiro instituto a surgir é o
da responsabilidade política, na passagem das Monarquias
tradicionais para as Monarquias constitucionais,
nomeadamente no Reino Unido, passando o Governo e
ministros a responder perante o Parlamento;
o Em Portugal, num sistema de base parlamentar, o Governo
assume a sua responsabilidade política perante a Assembleia
da República (AR), que o pode demitir, por diversos motivos e
recursos;
o As Constituições do século XIX são tendencialmente flexíveis,
não havendo separação entre a legislação constitucional e a
legislação ordinária, o que não sucede nos EUA, já em plena
República (artigo 6.º da Constituição Americana, que tem
como seu “guardião” o Supremo Tribunal Federal);
o Evoluímos, assim, de um controlo recíproco político para um
controlo autónomo;
o Recurso a um sistema jurisdicional para a resolução de
litígios, resolvidos por um “terceiro” imparcial (tribunais);
o Impõe-se formas de tutela e de jurisdição mais capazes de
garantir o cumprimento dos limites impostos:
 Princípio da constitucionalidade em sentido amplo
(artigo 3.º, n.º2 CRP);
 Princípio da constitucionalidade em sentido estrito
(artigo 3.º, n.º3 CRP);
 Definição de inconstitucionalidade (artigo 277.º, n.º1
CRP).

o Controlo e garantia
 «Controlo»
 Expressão utilizada e desenvolvida por Karl
Lowenstein, defendida por José Joaquim Gomes
Canotilho (Teoria do Controlo de Normas);
 Utiliza-se para qualificar a actividade
desenvolvida pelos órgãos do poder judicial
(controlo judicial).

 «Garantia»
 Utiliza-se para qualificar a actividade
desenvolvida pelos órgãos do poder político,
sendo o Presidente da República, por exemplo,
um instituto de garantia da constituição;
 Fala-se em «garantia da constitucionalidade pelo
Tribunal Constitucional», por força da noção
defendida por juristas italianos e por aqueles que
sofreram significativa influência do
constitucionalismo italiano, como Jorge Miranda.
o Interpretação do controlo de constitucionalidade
 1. Modelo britânico
 Sistema histórico inglês, que se faz por evolução
em que o Parlamento é soberano e a ele
compete pedir a responsabilidade do Gabinete e
garantir o cumprimento das competências;
 Ver artigo 162.º CRP (reserva absoluta de
competência de fiscalização da AR).
 2. Modelo francês
 No final do século XIX, é instituída uma República
efémera e chega-se a uma dada altura em que é
necessário que as pessoas possam agir contra
violações do poder (recurso por excesso de
poder);
 Preocupação em não ferir a soberania do
Parlamento, defensor dos Direitos, Liberdades e
Garantias Fundamentais;
 Controlo apenas do poder executivo e
administrativo.
 3. Modelo americano
 Data desde 1787, data da Constituição
Americana, à qual foi aditada a Declaração de
Direitos;
 Sempre afirmou a soberania da Constituição;
 Estabelece uma distinção entre o poder
legislativo e o poder constitucional;
 Estabelece formas de controlo da
constitucionalidade: leis provenientes do
Congresso contra abusos do poder legislativo;
 Regime republicano e democrático;
 O Supremo Tribunal Federal é responsável pela
fiscalização da constitucionalidade;
 Modelo americano difuso e desconcentrado.
Distingue-se do modelo austríaco de controlo da
constitucionalidade, concentrado, através de
Tribunais Constitucionais.

o Com o fim da I Guerra Mundial, são instituídos os tribunais


constitucionais austríaco e checoslovaco e nota-se o
contributo de Hans Kelsen, “pai” da Constituição Austríaca,
isto numa 1.ª vaga de criação de Tribunais de Justiça
Constitucional;
o Após a II Guerra Mundial, desenrolam-se as 2.ª e 3.ª vagas de
criação de Tribunais de Justiça Constitucional, verificando-se
formas de controlo autónomo, que fazem parte actualmente
do conceito de Estado de Direito.
 Restituição da Constituição Austríaca;
 1948 – Constituição Italiana;
 1949 – Constituição Alemã;
 1958 – Constituição Francesa (V República);
 1978 – Constituição Espanhola;
 1982 – Constituição Polaca;
 1984 – Constituição Húngara.

o A existência de Tribunais Constitucionais constitui um valor


constitucional;
o Um Estado de Direito depende de formas de controlo da
constitucionalidade, para garantir a inexistência de formas de
imunidade e privilégios;
o Importa referenciar a exposição de René Marcic sobre a
importância da instituição de Tribunais de Justiça
Constitucional num Estado de Direito;
o De igual modo, revela-se importante salientar a polémica
Hans Kelsen – Carl Schmitt sobre quem é o “guardião” da
Constituição: o Parlamento ou o Presidente do III Reich.
Ambos defendem a existência de um “guardião” da Lei
Fundamental, mas advogam diferentes perspectivas.

o Controlo da constitucionalidade no Direito Constitucional


Português
 Nos primórdios, apresenta uma forma de tutela política
para fiscalização da constitucionalidade;
 1911 – Constituição Republicana
 Prevê as leis de autorização legislativa;
 Consagra o controlo de constitucionalidade
(artigo 63.º) pelos tribunais para fiscalização de
inconstitucionalidade material;
 Não havia, ainda, Tribunal de Justiça
Internacional.

 1933 – Constituição do Estado Novo


 A fiscalização de inconstitucionalidade material
pode ser feita por todos os tribunais;
 Actos internacionais fiscalizados pela Assembleia
Nacional (artigo 132.º)

 1976 – Constituição Democrática


 O texto da Constituição de 1976 não podia ser
revisto no período transitório de 5 anos. Durante
este período, exerceu funções o Conselho da
Revolução, instituído pela Assembleia do
Movimento das Forças Armadas, no sentido de
regular a actividade do exército, sendo
coadjuvado por eméritos juristas que integraram
a Comissão Constitucional;
 1982 – Institucionalização do Tribunal
Constitucional (sistema concentrado de
fiscalização).

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