Você está na página 1de 22

VIRTUDES DEMOCRÁTICAS DA INTERNET*

Por Dominique Cardon

Resumo: Como caracterizar as formas políticas da revolução


internet? Nesse ensaio o autor coloca em evidência as tensões que
transpassam a rede das redes, notadamente a igualdade radical
dos internautas, a visibilidade extrema das subjetividades, a
produção das novas solidariedades, a construção da legitimidade.

Observação: Este texto é o esboço de uma apresentação feita na


mesa redonda “Internet e renovação democrática” (com Daniel
Bourgnoux e Patrice Flichy), conduzido por Caroline Broué no
fórum “Reinventar a democracia” (organizado pela ‘Republique dês
idées em Genebra, 9 de maio de 2009)

Com relação à questão do lugar da Internet na renovação das


figuras da democracia muitas respostas, diversas e contraditórias,
podem ser dadas. Então, considerando a internet como um todo,
seja objeto técnico, mídia, espaço público, suporte ou instrumento
político, assume-se o risco de reunir coisas tão diferentes que se
produz uma enorme generalização sobre esse improvável objeto
sem, contudo, chegarmos a especificá-lo. Gostaria, contudo, de
assumir o risco adiantando, sem muitas precauções, seis
proposições relativas à experiência da democracia na internet.

De fato por história, as escolhas tecnológicas que direcionaram sua


concepção, na maneira como as comunidades de desenvolvedores
imaginaram sua governança, os tipos de uso que foram
desenvolvidos, a internet incorporou um código político particular,
uma forma de escolha democrática que lhe é, se não for própria,
pelo menos suficientemente idiossincrática para lhe estar
associada. Daí que a diversidade das práticas políticas que se
desenrolam na rede das redes impede a produção de um único
modelo. Mas nos parece que no seio dessa multiplicidade podemos
divisar uma infraestrutura de união, um horizonte normativo comum
e esse exercício de pensamento não será vão se pudermos ajudar
a identificar as características mais virtuosas da forma política da
internet frente às mudanças em curso.

1
Sendo assim destacaremos seis virtudes democráticas
caracterizando elas em função das críticas que lhe são feitas por
conta das categorias do espaço da política representativa. Opondo
à forma política da internet à forma política representativa
tradicional esperamos expor as virtudes e as armadilhas.
Numerosos trabalhos já colocaram em evidência a ideologia “liberal-
libertária” da rede das redes, apoiando-se notadamente sobre as
biografias e representações dos pioneiros da internet(1). Outras
implantaram, com perspectivas múltiplas, a metáfora da rede-
rizoma para desenhar os contornos de uma outra política de web,
feita de subjetividades, de exílios e de novas formas do comum.
Aqui pretendemos sobretudo nos determos sobre o tratamento
particular que a internet reserva à quem toma a palavra em público.

As seis virtudes políticas da internet


Virtudes Armadilhas
1 A pressuposição da igualdade A exclusão dos imóveis
2 A liberação das subjetividades A despolitização narcisística
3 O espaço público em suas bases O fim da vida privada
4 A força da cooperação fraca A fragilidade dos engajamentos
5 A auto-organização A burocracia processual
6 A legitimidade ex-post A quebra da diversidade

As três primeiras virtudes democráticas da forma política na


Internet, sobre as quais nos debruçamos, são consequência do
processo de ampliação radical do espaço público que as favoreceu.
Há muito tempo este papel da Internet é o mais considerado. Ela
acabou desestruturando o espaço firmemente controlado e o
conteúdo da expressão pública ao abri-lo em favor de novos
postulantes. A web liberou a palavra, dando a impressão de
contestar a autoridade daqueles que monopolizavam o acesso ao
espaço público – jornalistas, homens de política e experts. Podem
ser tirados três ensinamentos desse alargamento que toca
respectivamente na definição dos públicos (pressuposição da
igualdade), a diversidade de expressões (a liberação da
subjetividade) e a porosidade entre a conversação ordinária e a
discussão pública (o espaço público em suas bases).

1. A pressuposição da igualdade

2
A Internet manifesta, no seu nível mais elevado, a “pressuposição
da igualdade” que o ideal democrático visa quando ele reivindica,
contra toda partilha, “a parte sem parte” no espaço da palavra
pública(2). A autoridade do estatuto, como tal, não recebeu mais
que uma fraca legitimidade quando ela não é mais que o objeto de
um processo de liberação pendente ou de uma contestação
implícita. Entretanto essa pressuposição de igualdade não é, como
no processo eleitoral, uma ficção útil destinada a manter isoladas as
características sócio-econômicas dos indivíduos afim de produzir
uma contagem igualitária de opiniões.
A pressuposição de igualdade na Internet – desse ponto de vista a
Wikipédia é exemplar - visa não valorizar, nem hierarquizar as
pessoas senão pelo que fazem, produzem e dizem, e não a partir
do que elas são. A Internet incorporou de uma maneira
particularmente sensível essa idealização democrática que convida
todos e cada um a colocar na prática uma ou outra de suas
competências, tão diversas quanto sejam. É a primeira lição
democrática que devemos à experiência da Internet. Na
pressuposição de uma igualdade de todos ela leva o mais longe
possível e refutação de examinar as qualidades e posição das
pessoas , instaurando mecanismos de socialização e correção, afim
de integrar, sem concessões nem paternalismo, as novas
personagens no espaço de expressão da rede das redes.

A exclusão dos imóveis

Essa pressuposição de igualdade valoriza, entretanto, de maneira


excessivamente liberal, as responsabilidades individuais dos atores.
Como em toda a forma de rede a promoção dos que agem é
extraordinariamente excludente. Os móveis desqualificam os
imóveis. Os ágeis contornam os enraizados. Os farsantes ocupam o
espaço dos artesões conscientes e modestos. Própria ao universo
das redes (3) essa tensão ataca tão profundamente a própria
infraestrutura dos engajamentos na Internet que seus efeitos são
raramente abordados. O que dizer se cada convite à participação
ativa contém, ele próprio, a desqualificação dos silenciosos e dos
passivos? Atrás do horizonte democrático do “todo-participativo” se
reproduz as inegualdades que têm por origem a desigual
distribuição dos capitais sócio-culturais de nossa sociedade.
Torna-se, entretanto, possível obter correções dessas inegualdades
ocultas se aceitamos expandir a noção de participação em formas
de expressão menos exigentes social e culturalmente. Nesse olhar

3
a lição democrática a que nos convida essa pressuposição de
universalidade das competências é a reabilitação das formas
ínfimas, incompletas, fúteis e murmurantes, de participação. O que
a Internet nos mostra é que é possível fazer emergir uma grande
variedade de definições de qualidade das pessoas, sem, entretanto,
lhes organizar imediatamente sob as asas de uma legitimidade
produtora de desqualificações simbólicas.

2. A liberação das subjetividades

Nos espaço público tradicional, o da imprensa, do livro, do rádio e


da televisão, a restrição do distanciamento é tão forte que pode se
transformar num instrumento de exclusão à luz de numerosas
formas de tornar as palavras mais subjetivas, mais interessadas,
mais irresponsáveis, mais brincalhonas ou mais violentas (4). A
ampliação do acesso ao espaço público na Internet é de alguma
forma “paga” pela ausência de restrições no distanciamento que
estabeleceram formas do discurso público (político, jornalístico,
intelectual) estabelecidas no horizonte regulador da razão, do
autocontrole, da argumentação e do desapego frente aos interesses
particulares. Sem romper com os ideais regulatórios (ao contrário,
eles se encontram às vezes reforçados e reafirmados por certas
formas de debate na Internet), a rede das redes também cria
armadilhas, torna visível e encoraja a expressão de todo tipo de
subjetividades. É uma nova “partição do sensível”, falando
novamente como Jacques Rancière, que estima a Internet tornar
visível de repente, para o desgosto de muitos, uma pluralidade e
uma diversidade expressiva antes invisível. A Internet nos ensinou
que para expandir o círculo da expressão pública é necessário
tolerar os enunciados na primeira pessoa, os pontos de vista
assumidos, as vozes irrisórias, os pontos de vista, as afirmações
peremptórias, comentários arriscados, poéticos, malucos,
engraçados e vibrantes.
A web não é, assim, um espaço público unívoco, transparente e
suave. Em razão de sua grande plasticidade os usuários acabam
promovendo inúmeras maneiras de associar sua identidade à
informação. A interação “distanciada” entre identidade civil e
informação de interesse geral que constitui a forma legítima de
expressão pública na nossa concepção de espaço público não
ocupa mais que um lugar muito específico, mesmo que bem visível.
E será perigoso e redutor considerar a web apenas dessa
perspectiva que a transforma em não mais que um espaço de
informação, de circulação da idéias e avaliação crítica. Expostas,

4
as formas de participação cidadã na web são submetidas a uma
vigilância crítica permanente, submetidas pela manipulação dos
atores públicos.
Mas os internautas também apreenderam que certas propostas
devem ficar ocultas nas zonas obscuras e fechadas da Internet e
que outras podem florescer nos espaços intermediários, num tom
cinza, onde, por estarem públicas fica difícil imaginar que têm um
caráter semi-clandestino (5). O que nunca se comentou é que essa
plasticidade das formas de visibilidade está na origem da
diversidade, da vitalidade e da criatividade dos jogos de
conversação que os internautas souberam demonstrar depois da
invenção da World Wide Web; sem dívida abrigaram nas zonas
cinzas as experimentações estilísticas e narrativas mais ricas.
Assim uma transparência completa da própria Internet, abolindo os
espaços cinza a fim de trazer luz aos motores da pesquisa constitui-
se em real ameaça para os que detêm a palavra e que souberam se
afirmar e proliferar por conta daqueles que tem sua visibilidade
limitada.

A despolitização narcisística

A abertura na direção de uma diversidade de detentores da palavra


que o anonimato, útil instrumento de desinibição, agora reforça,
parece abrir uma Caixa de Pandora e libertar os conteúdos de
status incerto, desconhecido, proibido e sem precedentes no
espaço público tradicional. Mas essas subjetividades têm lugar no
espaço público? Não abrimos o espaço de visibilidade comum às
propostas privadas, pessoais ou familiares, geralmente dentro da
sociabilidade daqueles que são próximos e que não têm pertinência
no espaço público? A descompartimentalização dos detentores da
palavra fez aparecer expressões onde a forma, a qualidade e o
interesse parecem muito afastados de toda preocupação pública. A
efervescência subjetiva da web não é, portanto, a marca de uma
forma de desengajamento político no sentido de um culto
narcisístico e consumista de individualidades triunfantes?
De mais a mais essas interrogações servem frequentemente como
ponto de entrada ao desenvolvimento de uma crítica pontuando a
normalização das produções amadoras e o desvio de suas
potencialidades na direção de uma proposta, em si própria,
anestesiante. A massificação da expressividade popular na web
contribuirá de um lado, na alienação da subjetividade dos indivíduos
sob a cobertura de uma expressividade conformista, estratégica e
exibicionista e, de outro lado, na transformação das produções

5
individuais benévolas em mercadoria, em decorrência dos novos
vetores do capitalismo internacional (6). Portanto, rompendo a
barreira entre expressão privada e pública, essas críticas
testemunham uma concepção muito restringente e homogeneizante
da participação cidadã, transformando o espaço público num
simples prolongamento do espaço representativo do governo e das
mídias frente a um círculo escolhido de cidadãos esclarecidos.
Então as novas formas de expressão da Internet não buscam
apenas abrir o espaço público “oligárquico” a uma periferia de
novos locutores. Elas pluralizam e distribuem diferentemente as
formas de palavra política, apurando as linguagens e ocupando os
espaços que política convencional não sabe reconhecer.

3. O espaço público em sua base

Em numerosos usos participativos da Internet, notadamente nas


plataformas das redes sociais, não se dirigem a um agregado
anônimo unificados e uma ficção abstrata e destacada como figura
o público na arquitetura normativa do espaço público, mas a um
grupo mais ou menos circunscrito de próximos. Claro, eles falam
em público. Mas a seu ver, esse público, existindo uma fronteira
absolutamente instransponível, é limitado a uma zona de
‘interconhecimento’, um lugar mais ou menos fechado, um território
que conservará as proposições antes que evaporem. O espaço
público da internet é feito de uma multidão de conversações em
enxame, convergentes, que se articulam umas com as outras numa
lógica de aproximação em que ninguém pode prever até onde vão.
O embaralhamento dos níveis de visibilidade está no âmago das
práticas de expressão das pessoas na Internet. O que normalmente
vai por canais diferentes, a comunicação interpessoal, de um lado e
o assumir a palavra em público, de outro, é normalmente (de forma
prática) reunificado pelo indivíduos num processo de produção de
identidades que associa a relação a si e a relação ao mundo.
No seu Facebook, seu blog ou sua conta Tweeter, os usuários
falam eventualmente de eventos pessoais, próximos ou familiares e
comentam atualidades, fazem circular as informações e enriquecem
a discussão pública. Eles mesclam os níveis de linguagem, os tipos
de discurso e os públicos diferentes, o que contribui para tornar
mais visíveis, e certamente públicos, os centros de interesse, as
opiniões e os eventos, que não existem ou são mal percebidos pela
mídia dos profissionais. Essa porosidade entre os espaço de
conversação e o espaço público está na raiz das novas formas de
mobilização e organização da ação coletiva. A forma política da

6
Internet nos apresenta assim uma concepção heróica e unitária do
“público” e atenta a agregação dos públicos como uma dinâmica de
encadeamento de conversações que alargam e se somam para
abandonar seu isolamento e ganhar a atenção comum (7).

O fim da vida privada

Essa porosidade entre o espaço da sociabilidade e o espaço públco


tem, entretanto, o risco de expor informações pessoais a todos. À
“vigilância institucional” do Estado e das empresas, entorno da qual
se organiza o essencial do debate sobre informações pessoais, se
superpõe hoje uma “vigilância interpessoal” de um novo tipo(8).
Com a “democratização” dos instrumentos de observação que as
plataformas relacionais distribuem a seus utilizadores, o NewsFeed
do Facebook é, sem contestação, o emblema desse novo
panoptismo horizontalizado, a exposição de si é um risco que se
assume perante os próximos, a família, os colegas, os empregados,
os amantes ou os vizinhos.
A profecia ‘deluziana’ da passagem de uma sociedade disciplinar
para uma sociedade de controle assume aqui todo sentido, já que
,descentralizada e distribuída, a vigilância transforma-se num
controle que todos exercem sobre os outros e sobre si mesmo.
Assim, uma das dificuldades políticas dos que denunciam as
sociedades de vigilância é ter hoje conta do fato de que o controle
político do mercado de perfis se mistura cada vez mais
profundamente no ‘hubris’ curioso das auto-vigilâncias. Como se
assegurar da credibilidade dos cidadãos para denunciar os riscos
da vigilância institucional quando eles de forma deliberada e
consciente tornam públicas informações pessoais e desenvolvem
uma insaciável curiosidade pelas informações enviadas por outros?
Ao transformar as formas do “tomar a palavra” e torná-las mais
plásticas e porosas, a Internet favorece a circulação de
informações, visando basicamente uma “transparência” de nossa
sociedade. Contribui para colocar em evidência uma série de
conteúdos retidos por barreiras técnicas, jurídicas, institucionais ou
comerciais. Mas essa liberação de conteúdos que subverte as
fronteiras tradicionais da economia do conhecimento (9) e alarga os
espaços da crítica ao oferecer novos recursos para a verificação
“cidadã” é também inseparável de uma maior circulação de
informações sobre os indivíduos. Com efeito, uma das
particularidades das formas de troca alargadas na Internet é que as
pessoas e os conteúdos são cada vez mais anexados uns aos
outros e que são justamente as anexações que favorecem os

7
efeitos da circulação, da parceria e da difusão. Mesmo se,
contrariamente a certas crenças, as informações pessoais estão
visíveis na Internet, longe de revelar a intimidade das pessoas, são
muito mais revelação de sua atuação estratégica. É incontestável
que o espaço público alargado da Internet está num embate, por
sua vez, contra o segredo das informações e contra a invisibilidade
das pessoas.

A descoberta do comum

Servindo de apoio ao processo de alargamento do espaço público,


três outras virtudes democráticas de internet agregam pela maneira
como aparecem (a força das cooperações fracas), funcionam (a
auto-organização) e se legitimam (a legitimidade ex-post) as formas
coletivas na web. Com efeito, a Internet produz coletivos
sensivelmente diferentes daqueles que emergem no mundo real – o
que não significa que ela não as abrigue, reproduzindo-as na rede,
as formas coletivas tradicionais. Mas nosso objetivo aqui é expor as
especificidades da forma da Internet quanto aos seus limites. É
também por essa maneira de produzir as solidariedades num
contexto de individualização expressiva que a Internet pode
reivindicar uma forma política própria. Sua marca própria, a mais
inovadora, leva à inversão, quase sistemática, das etapas dos
processos de formação dos grupos. As operações de filtragem, de
seleção, de agregação, de coordenação, de incorporação dos
valores comuns pelos indivíduos e de legitimação no interior do
espaço público não se dão à priori, mas à posteriori (10). Esse
deslocamento, se quisermos ser bastante cuidadosos, tem efeitos
muito fortes sobre a economia da ação coletiva.

4. A força das cooperações fracas

As “comunidades” da Internet são eletivas. Não têm nada a haver


com a imagem de aldeia e tribo que certos pesquisadores querem
ressuscitar usando um vocábulo comunitário, a fim de fortalecer a
alma ou um enraizamento territorial nos coletivos de Internet. Elas
se apresentam muito mais como o resultado coletivo de uma soma
de ações individuais que, inicialmente, não foram ou foram pouco
orientadas pelo gênero de intenção geralmente pronto a se
empenhar ordinariamente com vistas a preocupação de se engajar
nos valores partilhados por uma comunidade. Elas, as
comunidades, não resultam então do modelo tradicional da
comunidade de destino, de identidade ou de pertinência o que

8
pressupõe a existência, nos indivíduos, de um valor ou atributo
incorporado a eles antes do seu engajamento.
As maiores partes dos coletivos de Internet são a consequência
emergente de interações oportunistas onde a premissa é a
exposição pelos indivíduos de sua identidade, de seus gostos, de
suas atividades e de suas obras. Os indivíduos começam por tornar
públicos seus interesses expressivos. Os outros capturam as
atrativas privacidades oferecidas pelos indivíduos expostos como
forma de iniciar uma interação entre eles. Dessa forma se dão as
cooperações “fracas” (11). É o tecido do engajamento nos qual as
pessoas se deixam prender que contribui para lhes revelar os
interesses e as intenções que elas não sabem ou podem formular
inicialmente. Elas se deixam assim redefinir pelas
interdependências suscitadas por terem exposto suas
individualidades. Não é senão em raras ocasiões que essas
“cooperações fracas”, ao fim de um longo trabalho de consolidação
e reforço das ligações em os participantes fazem aparecer as
normas e os valores que os atores adotam como atributos de
identidade se engajando explicitamente, envolvendo-se com as
tarefas coletivas (12). Então as cooperações “fracas” da Internet
poderão efetivamente se transformar em “fortes” e dotar-se de
recursos e instrumentos de ação, como os coletivos do mundo real.

A fragilidade dos engajamentos

Reconhece-se nesse modelo de ação coletiva o enfraquecimento


da capacidade de reação intencional da ação finalizada que inspirou
as críticas da racionalidade instrumental e alimentou a reabilitação
das dimensões criativas da atividade (13).
Atenuando a capacidades de reação instrumentais da ação no
benefício de componentes expressivos, as formas de engajamento
na web realçam as lógicas de realização do Eu, o mesmo tempo
que as articulam na formação do coletivo público. Dizer que os
atores descobrem na interação o sentido de seu engajamento e
produzem assim a sua identidade é o centro das éticas das
discussões e alimenta os debates atuais sobre o ato de
reconhecimento.
Mas isso que torna possível a Internet é uma soma original entre
afirmação expressiva e ação coletiva, que se percebe como a
atitude de se opor logo que se dá atenção as “cooperações fortes”.
Efetivamente este modelo de ação dá um papel importante a
afirmação expressiva que parece diminuir e deslocar a
intencionalidade coletiva das consciência dos sujeitos. A exibição

9
envolverá agora o esquecer do coletivo, como deploraram os
numerosos negadores da cultura individualista dos engajamentos
instáveis e líquidos (14). Esta moda de constituição de coletivos
voluntários, auto-organizados, horizontais pode parecer
essencialmente frágil e desorganizada. A pretensão, algumas vezes
ilusória, de produzir reagrupamentos ao acaso, sobre uma base
voluntária e eletiva, e em favor de uma mobilização autolimitada e
temporalizada, constitui o limite da maior parte dos processos de
ação coletiva que têm a web como suporte. E inútil, entretanto, opor
a expressividade e o projeto comunitário, dramatizando a oposição
entre o indivíduo e o coletivo. Parece, com efeito, mais pertinnente
insistir sobre a maneira como o “expressivismo” (15), bem longe do
narcisismo solipsista, incorpora sempre a interação e o
reconhecimento do outro no seu projeto. Assim, pode conduzir às
formas originais e novas, postas em comum.

5. Virtudes da auto-organização

Agora que o mercado e o Estado monopolizam a organização das


grandes formas de ação coletiva, com a internet, dado a drástica
baixa dos custos de colocar em ação os sistemas de auto-
organização em larga escala, autorizam os indivíduos a criar formas
coletivas onde nem o mercado nem o Estado assumem a iniciativa.
Clay Shirky sustenta que o mundo informático subverte a sequência
temporal da ação coletiva. Nos modelos tradicionais de formação do
coletivo os indivíduos que partilham os valores comuns
estabelecem entre eles os mecanismos de coordenação com o
intuito de partilhas os recursos. Nos modelos de “cooperação fraca”
a sequência é inversa: Os indivíduos partilham sistematicamente os
recursos, afim de descobrir pessoas com as quais possam se
coordenar para produzirem juntos valores comuns.
Então, sustenta Clay Shirky, esta inversão do processo de produção
dos coletivos permite coordenações em larga escala e sobre
temáticas que não serão percebidas, nem previstas no raio da ação
coletiva planificada. A coordenação, em primeiro lugar, muito mais
custosa que a parceria, pois reclama uma sincronização de ação,
obriga a um alinhamento de planos da ação e impõe restrições
temporais sobre o desenrolar das atividades associadas (16). A
formação de coletivos no mundo real instala a coordenação antes
de existir a parceria. O que será partilhado entre os membros
revelará exclusivamente os produtos das ações de cada um e que
foram planificados quando do trabalho prévio de coordenação. Na
internet encontrar a parceria é prévio à coordenação, quando isto

10
que fica visível, público e acessível à todos não fez parte de uma
deliberação inicial. É sobre o princípio das formas sociais mais
inovadoras da internet, o software de uso livre, que a Wikipédia, o
Creative Commons, os API (Appication Interface Protocol) abertos
etc. são desenvolvidos para produzir o comum a partir do
engajamento heterogêneo. Em segundo lugar, a consciência do
coletivo é mais custosa que a coordenação, na medida em que ela
supõe que uma instância de regulação sobreponha o interesse
coletivo sobre os interesses individuais (17). No mundo real, os
coletivos “possuem’ por conta de que as pessoas que reúnem já
possuem um sistema de valores e de interesses suficientemente
próximos para serem estimuladas a se coordenar. No mundo virtual,
os valores partilhados são uma produção resultante de interações
entre os participantes que incorporam progressivamente as
identidades e as crenças coletivas. Mas, sobretudo, em razão da
diversidade e da hetegenidade dos participantes, os coletivos de
internet se definem menos pelos valores partilhados do que pelos
procedimentos comuns.
De fato, as formas coletivas em rede desenvolvem os modos de
institucionalização e os sistemas de regulação que se distinguem
dos coletivos políticos ordinários por um alto grau de rotinização
(18). Em primeiro lugar, o perímetro dos coletivos é particularmente
impreciso e a variabilidade dos níveis de engajamento em seu
interior muito elevada. Esta inexatidão de fronteiras do coletivo é
consequência da heterogeneidade dos atores, da falta de
consistência dos custos de entrada e da diversidade dos critérios de
pertinência. Em segundo lugar, esses coletivos são (relativamente)
não-centrados e delegam muito raramente ao centro o direito de
falar em nome do coletivo e representá-lo. Enfim, as maiores partes
dos procedimentos decisórios envolvem alguma forma de consenso
ou compromisso.

Essas características conduzem a uma regulação essencialmente


rotineira, por ser geralmente difícil definir positivamente os valores
substanciais da comunidade. Sob esse olhar o caso da governança
da Wikipédia constitui uma forma a mais focada, refinada e sutil de
regulação rotineira (19). Mas esse modelo se encontra igualmente
no espaço das normalizações técnicas da internet (Icann, W3C
etc.), nas comunidades de software de uso livre e nas numerosas
formas comunitárias que apareceram na web.

A BUROCRACIA NORMATIVA

11
Rendendo-se ás evidências necessárias devido a obrigação de
respeito do pluralismo das identidades e das diversidades do
engajamento, as formas da auto-organização dos coletivos na
internet fazem, entretanto, aparecer os tipos de autoridade e de
governança eventualmente problemáticos e dificilmente
sustentáveis. Inicialmente eles criam uma instabilidade contunua
das regras de funcionamento e de decisão da comunidade. Eles
favorecem na sequência a constituição de inegualdades entre os
mais engajados na vida das comunidades e dos outros. Eles
engendram enfim uma burocracia normativa que pode parecer
dificilmente tolerável, sobretudo para os que entraram à pouco (20).
No mundo do software de uso livre particularmente, mas de maneira
mais geral na reunião das comunidades on-line, a ameaça do
“garfo”(fork), quer dizer da cisão da comunidade e seu
desdobramento em projetos paralelos, submetidos à formas de
governanças diferentes, constitui o horizonte onipresente de todas
as comunidades on-line da internet. A crítica da desordem da
internet, de sua natureza fundamentalmente dispersa, múltipla e
“proliferante”, dissimula sempre a nostalgia da ausência da
autoridade (21), a se considerar as reiteradas tentativas (Nupédia,
citizendium) e sempre dificultadas, de qualificar os artigos da
Wikipédia, demandando aos experts que coloquem fim à incessante
participação dos profanadores. De fato, a vocação dos dispositivos
normativos que se afirmam nos espaços coletivos da internet é de
substituir as formas de autoridade substanciais que regem a
parceria dos participantes e dos poderes pelo espaço público
”oligárquico”.
.
6. A legitimidade ex-post

O espaço público tradicional é o resultado de um longo processo de


profissionalização e de domesticação dos locutores que deram
origem ao nascimento da produção do status reservado àqueles
que “tomam a palavra” em público, em organização sindical da
imprensa e da edição e nos instrumentos jurídicos de proteção da
liberdade de expressão.As exigência reguladas da publicidade
administram um controle à-priori (o sacro-santo papel de defensores
-gate-keepers- das mídias e das edições) dos enunciados antes de
estarem visíveis. O espaço público tradicional se dá como público
porque as informações tornadas visíveis a todos foram objeto de
uma seleção prévia por profissionais submetidos às normas
deontológicas que se formam nos mesmos tempos que o direito

12
permite punir, transformando em invisíveis as propostas que se
contrapõem às regras. Esse modo de produção do espaço público
pelas mídias de informação modernas assegura então a visibilidade
e a publicidade dos enunciados, conjuntamente.

Então o que chega da Internet coloca em jogo, no sentido das


concepções tradicionais do espaço público, expõem justamente
uma separação entre as duas noções. Os enunciados podem ser
acessíveis (ou seja, potencialmente visíveis) sem entretanto se
verem dotados imediatamente e intrinsecamente, padronizados por,
se podemos dizer, um caráter público. Abolindo a dupla etapa de
seleção das qualidades dos enunciadores e do controle à priori de
seus enunciados, visibilidade e publicidade não são mais,
empiricamente, sinônimas.

A atribuição de um caráter de importância a um enunciado não


resulta de uma seleção prévia por um corpo especializado, mas é a
consequência de uma hierarquização ex-post efetuada pelos
internautas em função de sua posição na estrutura das reputações
expostas (22). É o trabalho efetuado pelo internautas para ligar as
propostas e lhes conferir a notoriedade que produz esta forma de
visibilidade particular na qual as propostas “legitimas” são aquelas
que aparecem “no alto” das hierarquias (motoras das pesquisas, da
classificação dos blogs, dos arquivos de atualidades dos portais de
informação, dos agregadores de news etc.). Os discursos
ostensivos que fiquem colados “em baixo” nessa hierarquia, pouco
ou nada vistos, não recebem o mesmo caráter público.

É, então, a leitura pelos internautas e sua decisão de se ligar e


fazer circular esta tomada da palavra, mais que a outra, ou seja a
recepção, que designa aos outros a proposta digna de ser
reconhecida como tendo um caráter público e partilhável.
Estabelecer uma ligação é emitir um voto (23). As classificações
produzidas por esse processo de “hierarquização pela multidão”
tem certa base estatística (24), mas essa estatística não é
precedida, como na audiência de televisão, de uma operação de
consulta à base representativa. Trata-se, de fato, de uma soma de
ações voluntárias, mais ou menos “refletidas’. As hierarquias
estatísticas da Internet somam operações ativas de apreciação e
julgamento e não de estímulo. Esse modo de produção de
avaliações coletivas na Internet constitui de qualquer forma , sua
razão prática é um de seus tesouros mais preciosos...e mais
ameaçados.

13
A quebra de diversidade

De fato, o modo de legitimação “pela massa” não pode fazer


esquecer outra realidade mais complexa e interior na formação da
notoriedade na Internet. A estrutura de ligação entre os sites dá a
perceber uma paisagem extremamente desigual e hierárquica. Os
efeitos da concentração de autoridade (“hubs”), das estratégias de
visibilidade desenvolvidas pelos atores e da estruturação desigual
das ligações existentes têm um papel decisivo nas classificações do
universo estatístico (25). A implantação na tela dos computadores
de instituições do espaço público tradicional (agências de imprensa,
jornais on line, blogueiros influentes e próximos do mundo midiático,
portais dos atores da Internet) estrutura fortemente, pelas escolhas
das publicações e pelas operações de ligação, a hierarquia dos
enunciados mais visíveis. Em consequência, se não se presta
atenção aos resultados das hierarquias da informação, a agenda da
internet não apresentará resultados diferentes daquela da mídia
(26). A Internet participativa não fará mais que reproduzir os
espaços legitimados dos gate-keepers tradicionais.

Por outro lado os algoritmos de “filtragem colaborativa” que


constituem se podemos dizer os dispositivos eleitorais da Internet,
encontram-se, de forma crescente, submetidos às deformações
sistemáticas sob pressão dos interesses comerciais das
plataformas de pesquisa à procura de um improvável modelo
econômico. A riqueza da web é de haver sabido fazer existir, sob as
mensagens dominantes, um espaço intermediário onde é permitido
dizer, partilhar e discutir os sujeitos e os conteúdos que até então
não circulavam bem pelo espaço público. O risco de uma
“refeudalização do espaço público” (27) na internet é de se ver os
lideres da hierarquia do ranking excluírem a diversidade da web e
corromperem os instrumentos cooperativos que permitem assegurar
a visibilidade. Vítimas de sua inventividade e de seu refutar o
assumir os formatos standards de legibilidade que são impostos na
web, as propostas podem assim serem vítimas de um processo de
invisibilização. Uma das críticas que pode ser feita às tecnologias
produção de rankings na Internet é de não disporem de
instrumentos suficientemente sutis para enriquecerem a diversidade
dos critérios de avaliação e de não saberem levar avante os
enunciados que não correspondam à métricas dos algoritmos de
reputação. Assim, se pode esperar que se desenvolva uma análise
crítica dos funcionamentos dos algoritmos de classificação com o

14
fim de ajudar a “longa cauda”, o fenômeno mais radicalmente
“democrático’ da Internet, não se vê-la desagregar e desaparecer,
como é o caso de certos enunciados no espaço público tradicional,
mas a permanecer, se enriquecer e vibrar. A virada ideológica da
massificação da Internet está em via de se transformar sob o efeito
de um profundo e súbito movimento de massificação dos usos. O
desenvolvimento dos blogs e das redes sociais, a generalização
dos usos da web pelos jovens de todas as origens sociais, a
penetração dos instrumentos de informática num número cada vez
maior de esferas da vida social, a diversificação comercial, lúdica,
prática ou funcional da rede das redes, brevemente a rotinização
das práticas de internet, constituem uma virada importante e um
desafio intelectual decisivo.

As produções teóricas que pensaram a forma política da internet


estão voltadas para isolar as especificidades, generalizando as
propriedades de cooperação, de abertura e horizontalidade de sua
infraestrutura na prática dos usuários (28). Desenvolvedores de
softwares de uso livre, ativistas do bem comum imaterial, profetas
da inteligência coletiva, advogados dos downloaders de custo zero,
apóstolos da liberdade de expressão e das transformações de
identidade, militantes de uma informação alternativa foram os
primeiros teóricos da forma política da Internet. De uma maneira
particularmente original e sem dúvida muito rara na história das
grandes invenções tecnológicas, eles souberam articular um
protocolo técnico, um modelo de inovação coletiva, uma cultura de
trocas, um esquema de governança horizontal, formatos jurídicos
abertos, uma reivindicação de extraterritorialidade etc. num modelo
político e cultural que exerceu uma influência muito profunda no uso
e na trajetória da Internet.

Então essa configuração intelectual deve sua força a


correspondência que ela permite facilmente estabelecer entre a
valorização das normas de abertura e de criatividade e a realidade
das práticas dos usuários. Esta correspondência obtida
notadamente pelo fato de que os promotores de uma internet aberta
e cooperativa foram, assim, os primeiros (e os mais hábeis)
utilizadores da internet e que constituíram uma comunidade de
utilizadores com propriedades muito homogêneas (brancos,
homens, ocidentais e cultos), como é testemunhado com frequência
pelas enquetes sociográficas sobre aqueles que foram a avant-
garde, os desenvolvedores de programa livres.

15
Hoje a massificação dos usos da Internet impõe uma mudança de
escala que, mantido o resto sem mudanças, parecerá com a
maneira pela qual a democratização dos públicos escolares trouxe
tensão aos ideais educacionais “republicanos”. O espaço de prática
de um grupo com forte homogeneidade social e cultural é agora
objeto de investida de populações mais e mais heterogêneas social
e culturalmente. Elas se multiplicam em todas as direções,
transbordam em universos diferentes, se comprometem com
comerciantes em todo o mundo, exibem os indivíduos sob diversas
facetas, encorajam os comportamentos oportunistas, miméticos,
infantis, aceleram tanto as produções da alta cultura, tanto como a
mais trivial, absurda ou vulgar, facilitam a cooperação e o
calculismo, o original e o simulacro, a criatividade e a
standartização. As categorias políticas que serviram para definir a
Internet na origem se encontram retidas por uma barreira devido ao
processo de massificação dos usos da rede das redes.

Do wiki ao Facebook

A fenda que se abriu entre os ideais do militantes da Internet e as


atividades dos novos praticantes conduz os questionamentos, a
incertezas, em direção a um tipo de nostalgia conservadora,
remetendo ao inferno do comércio e do embrutecimento cultural os
novos usuários da rede. Alguns militantes mais ativos da internet
aberta, anteriormente prontos a ver na menor reviravolta técnica ou
semiótica o sinal de um devenir-sujet, e de uma resistência às
imposições políticas e culturais, deploram hoje a hetero-
determinação e a reificação dos indivíduos. Por uma estranha
pirueta intelectual eles trocaram Deleuze-Guattari em prejuízo de
Adorno-Horkheimer, sem se darem conta que esta mudança de
paradigma se deveu à transformação morfológica do público da
Internet, sob o efeito da chegada de jovens usuários do meio
popular (29).

Esse desajuste entre os ideais da Internet política e as práticas da


web não é novo. Ele faz de qualquer forma parte de sua história,
constantemente alimentada por uma conflitualidade fecunda entre a
Internet de mercado e a Internet que não é de mercado. Mas como
mostrou Jonathan Zittrain (30), tal mudança de escala nos usos leva
a tornar esses deslocamentos mais aparentes. Aumentam
consideravelmente os riscos de se ver certas escolhas tecnológicas
mais estruturantes na organização da Internet postas em causa em
nome da segurança e da obrigação de qualidade que devem ser

16
oferecidas aos novos usuários, menos competentes para enfrentar
as searas técnicas da rede. Uma tensão cada vez mais forte se faz
assim existir entre os militantes da Internet para primeira era e seus
filhos. Entre os parceiros do wiki e os apostadores do Face, entre os
que estabelecem códigos para as comunidades e os
costumizadores de página do My Space, etc.

Certamente a diferença entre gerações foi profundamente ampliada


pela chegada de empresas comerciais no universo das práticas de
trocas da Internet. Certamente elas aumentaram a diferenciação
entre os ideais de criatividade e inteligência coletiva e a dimensão
prosaica, às vezes narcisística e frequentemente conformista das
novas formas de expressão na web. Estas formas de exposição
pública da identidade pessoal dos novos praticantes, sem ser muito
diferente daquelas dos mais antigos, apresenta riscos em termos de
proteção da vida privada, em razão da mudança de escala dos
dados publicados e da monopolização dos dados por atores
privados.

Mas o argumento que insistimos em defender é que é preferível


reaprender e reafrimar os princípios da forma política da Internet
nas suas origens, com o fim de acolher a diversificação dos
públicos da Internet, ao contrário de se opor, assumindo uma
atitude reacionária, condescendente ou elitista. Então, corretamente
vistos, as práticas dos novos públicosda Internet não são sem
relação com as idéias dos pioneiros. Mas é preciso para sublinhar a
continuidade tirar alguns ensinamentos dos trablhos de estudo
cultural que já aparecem em outros domínios, a questão da avant-
garde e da cultura de massas. Mais que nunca o princial embate
político da Internet é o da democratização.

Notes
[1] . Ver, por exemplo, Flichy (Patrice), L’imaginaire d’Internet, Paris,
La Découverte, 2001 ou, mais recentemente: Turner (Fred), From
Counterculture to Cyberculture. Steward Brand, the Whole Earth
Network, and the Rise of Digital Utopianism, Chicago, The
University of Chicago Press, 2006.

[2] . Rancière (Jacques), La mésentente. Politique et philosophie,


Paris, Galilée.

17
[3] . Boltanski (Luc), Chiapello (Eve), Le nouvel esprit du
capitalisme, Paris, Gallimard, 1999.

[4] . Esta questão foi muito claramente posta em evidência pela


crítica feminista do L’espace public de Jürgen Habermas. Ver
Fraser (Nancy), “Rethinking the Public Sphere : A Contribution to
the Critique of Actually Existing Democracy”, in Calhoun (Craig), dir.,
Habermas and the Public Sphere, Cambridge, MIT Press, 1992, p.
109–142.

[5] . Sobre a web em tons cinzas, ver Cardon (Dominique), « Le


design de la visibilité. Un essai de cartographie du web
2.0 », Réseaux, n° 152, 2008, p. 93-137.

[6] . Como se percebeu nos debates sobre a qualidade das


produções culturais populares esta crítica pode assumir um caráter
conservador [Keen (Andrew), The Cult of the Amateur : How Blogs,
MySpace, YouTube and the Rest of Today’s User Generated Media
are Killing Our Culture and Economy, New York, Doubleday, 2007]
ou « progressista » [Petersen (Søren Mørk), “Loser generated
Content : From Participation to Exploitation”, First Monday, vol. 13,
n° 3, 3 march 2008].

[7] . Ver Latour (Bruno), « Le fantôme de l’esprit public. Des illusions


de la démocratie aux réalités de ses apparitions », prefácio a
Lippman (Walter), Le public fantôme, Paris, Demopolis, 2008.

[8] . Bradwell (Peter), Gallagher (Noël), We no longer control what


others know about us, but we don’t yet understand the
consequences, London, Demos, 2007.

[9] . Moulier-Boutang (Yann), Le capitalisme cognitif. La nouvelle


grande transformation, Paris, Editions Amsterdam, 2007.

[10] . Sobre esta inversão frente ao modelo “Publish, then filter”, ver
Shirky (Clay), Here Comes Everybody. The Power of Organizing
without Organizations, New York, The Penguin Press, 2008, chap.
4.

[11] . Aguiton (Christophe), Cardon (Dominique), 2007, “The


Strength of Weak Cooperation : An attempt to Understand the
Meaning of Web2.0”, Communications & Strategies, n° 65, 2007, p.
51-65. De maneira ligeramente diferente é o mesmo gênero de

18
modelo que constituição das « comunidades » da internet que
envolve o entendimento último da expressão “networked
individualism” em Wellman (Barry), “Physical Place and cyber
place : the rise of personalised netxorking”,Journal of Urban and
Regional Research, n° 25, juin 2001, p. 227-252 et Castells
(Robert), La galaxie Internet, Paris, Fayard, 2002.

[12] . Esse processo é muito bem descrito com relação à maneira


como o engajamento individual na escrita de artigos na Wikipédia
se numa toma crescente de responsabilidade e interesse coletivo
da comunidade dos enciclopedistas. Ver Bryant (Susan), Forte
(Andrea), Bruckman (Amy), “Becoming Wikipedian : Transformation
of Participation in a Collaborative Online
Encyclopaedia”, Proceedings of GROUP 2005, ACM Press, New
York, NY, 2005, 1-10.

[13] . Joas (Hans), La créativité de l’agir, Paris, Cerf, 1999.

[14] . Bauman (Zigmunt), La vie liquide, Rodez, Le


Rouergue/Chambon, 2006.

[15] . Allard (Laurence), Vandenberghe (Frédéric), « Express


Yourself ! Les pages perso entre légitimation techno-politique de
l’individualisme expressif et authenticité réflexive peer-to-
peer », Réseaux, n°117, 2003, p. 191-219.

[16] . Shirky (Clay), Here Comes Everybody…, op. cit., p. 45.

[17] . Essa ligação entre institucionalização de uma governança


coletiva e interiorização dos valores comunitários foi bem colocada
em evidência no debate sobre a tragédia dos comuns.

[18] . Sob esse olhar os coletivos políticos que estão muito próximos
do modo de regulação das cooperações na Internet são estruturas
políticas inventadas por militantes alteromundistas por meio dos
processos de fóruns sociais. Ver: Aguiton (Christophe), Cardon
(Dominique), « De la cooptation à l’agglutination. Culture
participative et formes organisationnelles des forums
sociaux », in Neveu (Catherine), Cultures et pratiques participatives.
Perspectives comparatives, Paris, L’Harmattan, 2007, p. 55-74.

19
[19] . Cardon (Dominique), Levrel (Julien), « La vigilance
participative. Une interprétation de la gouvernance de
Wikipédia », Réseaux, n° 154, 2009, p. 51-89.

[20] . O’Neil (Mathieu), Cyberchiefs. Autonomy and Authority in


Online Tribes, London, Pluto Press, 2009.

[21] . Weinberger (David), Everything is miscellaneous. The power


of the new digital disorder, New York, Times Book, 2007.

[22] . Para uma análise detalhada deste mecanismo ver: Benkler


(Yochai), The Wealth of Networks : How Social Production
Transforms Markets and Freedom, New Haven, Yale University
Press, 2006.

[23] . Loveluck (Benjamin), « Internet, vers la démocratie


radicale ? », Le Débat, n° 151, septembre-octobre 2008 ; Origgi
(Gloria), « La passion d’évaluer », La vie des
idées[http://www.laviedesidees.fr/Sagesse...].

[24] . Sobre a ligação entre o ´numero e a qualidade na Wikipédia


ver : Wilkinson (Dennis), Huberman (Bernard), “Assesssing the
value of cooperation in Wikipedia”, First Monday, volume 12,
number 4, April 2007.

[25] . Sobre as estas questões : Halavais (Alexander), Search


Engine Society, Cambridge, Polity Press, 2009 ; Ippolita, La face
cachée de Google, Paris, Manuels Payot, 2008.

[26] . Ver Hindman (Matthew), The Myth of Digital Democracy,


Princeton, Princeton University Press, 2009 et Rebillard (Franck), Le
web 2.0 en perspective. Une analyse socio-économique de
l’Internet, Paris, L’Harmattan, 2007.

[27] . Esta expressão é empregada por J. Habermas para designar


o momento onde, na segunda metade do século XIX, os interesses
comerciais e a massificação do eleitorado restringiram,
racionalizaram e « mercantilizaram » os princípios de publicidade
que surgiram no século XVIII. Ver Habermas (Jürgen), L’espace
public : archéologie de la publicité comme dimension constitutive de
la société bourgeoise, Paris, Payot, 1997.

20
[28] . Benkler (Yochai), The Wealth of Networks. How Social
Production Transforms Markets and Freedom, New Haven, Yale
University Press, 2006 ; Lessig (Lawrence), The Future of Ideas.
The Fate of the Commons in a Connected World, New York,
Random House, 2001.

[29] . Boyd (Danah), “Viewing American class divisions through


Facebook and MySpace”, Apophenia Blog Essay, 24 juin 2007
[http://www.danah.org/papers/essays/...].

[30] . Zittrain (Jonathan), The Future of Internet. And how to stop it,
New York, Yale University Press, 2008.

Alguns site sugeridos pelo autor :

Wikipédia : http://fr.wikipedia.org/wiki/Accueil

Fórum Social Europeu : http://www.fse-esf.org/

Observatório cidadão da atividade


parlamentar: http://www.nosdeputes.fr/

La quadrature du net, organização de defesa da cidadania na


net : http://www.laquadrature.net/

OpenStreetMap:um mapa do mundo com licença


livre :http://www.openstreetmap.fr/

Global Voices seleciona, traduz e difunde em 18 línguas blogs de
todo o mundo : http://fr.globalvoicesonline.org/

Samizdat, empresa política de comunicação


alternativa :http://www.samizdat.net

Vecam dá aos cidadãos do mundo meios de compreender e se
apropria da quantificação crescente da
informação: http://vecam.org/

Visa promover e defender o software de uso
livre : http://www.april.org/

21
Centro coletivo, reagrupador, de mídias
independentes : http://www.indymedia.org/fr/

Agoravox, mídia cidadã » : http://www.agoravox.fr/

Nettime divulga as listas de difusão para constituir um discurso
internacional na rede : http://www.nettime.org

*Tradução livre de matéria publicada no site La vie dês


idées

Original em :

http://www.laviedesidees.fr/Vertus-democratiques-de-l-
Internet.html?lang=fr

Demetrio Carneiro

22

Você também pode gostar