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O conceito

O governo eletrônico pode ser entendido como um conjunto de ações modernizadoras


vinculadas à administração pública. Além de ser uma das principais formas de
modernização do Estado, o governo eletrônico está fortemente apoiado numa nova visão do
uso das tecnologias para a prestação de serviços públicos, mudando a maneira pela qual o
governo interage com o cidadão, empresas e outros governos. O Governo eletrônico não se
restringe à simples automação dos processos e disponibilização de serviços públicos por
meio de serviços online na internet, mas na mudança da maneira como o governo, pelo uso
da TIC, atinge os seus objetivos para cumprimento do papel do Estado. Isso inclui a
melhoria dos processos da administração pública, aumento da eficiência, melhor
governança, elaboração e monitoramento das políticas públicas, integração entre governos,
e democracia eletrônica, representada pelo aumento da transparência, da participação
democrática e accountability dos governos.
Além desses temas, o combate à exclusão digital é abordado como importante dimensão
dos programas de e-governo.

O que é o virtual?
No primeiro capítulo, Lévy define o que é o virtual, bem como apresenta conceitos associados ao
termo e concepções equivocadas sobre o tema. Assim, o virtual não se opõe ao real, mas lida
com um desprendimento do aqui e agora, com o não estar presente. Surgem velocidades
qualitativamente novas, tempos mutantes.
Nos três capítulos seguintes, Levy trata da virtualização do corpo, do texto e da economia, nos
quais os sistemas de realidade virtual transmitem mais que imagens, uma quase presença. "O
encontro é quase desnecessário, o corpo sai de si mesmo, adquire novas velocidades, conquista
novos espaços." Constitui-se, então, um corpo coletivo, mundializado pelas redes digitais do
planeta, abandona-se o chão e seus pontos de apoio, desliza-se nas interfaces, seres anônimos
e invisíveis são desterritorializados. A tela do computador é a nova máquina de ler, através da
qual são lidas, ouvidas e apreciadas as imagens dos hiperdocumentos, criados em rede e
transformados pelos leitores. O texto é instável, em constante mutação, uma janela sempre
aberta para novas interpretações; dentro do hipertexto, o leitor escolhe onde navegar, indo além
da linearidade dos textos em papel. A economia globaliza-se, os mercados tornam-se
virtualizados. "A informação adquire valor de troca e fala-se em infoestrutura, onde a informação
é a fonte ou a condição determinante para todas as formas de riqueza. Informação e
conhecimento configuram-se com bens econômicos, em um metamercado integrado ao
ciberespaço."
No quinto e sexto capítulos, o autor analisa a virtualização da linguagem, da técnica e do
contrato, nos quais toda construção social do ser humano passa pela virtualização. A linguagem
e a emoção são virtualizadas pela narrativa e voam de boca em boca, tendo como chaves para
sua virtualização ? gramática, dialética e retórica. "Mas em sua fronteira avançada, na interface
móvel da criação e do desconhecido, a atividade técnica abre mundos virtuais nos quais se
elaboram novos fins." Graças à técnica, a ação é virtualizada pela ferramenta que passa de mão
em mão, a informática sendo a mais virtualizante das técnicas. O contrato ou a virtualização da
violência, como designa o autor, faz sentido quando contratos e comportamento são
estabelecidos independentes das variações emocionais dos envolvidos, isto posto em rituais,
religiões, leis, normas que formam relacionamentos virtuais compartilhados no seio de uma
sociedade.
A virtualização da inteligência é analisada por Lévy nos dois capítulos seguintes; para o autor, os
seres humanos jamais pensam sozinhos ou sem o auxílio de ferramentas: toda uma sociedade
cosmopolita pensa - em rede - dentro de nós, resolvendo problemas em rede. A inteligência
coletiva é distribuída por toda parte e sincronizada em tempo real. Assim, o exercício de
capacidades cognitivas implica uma parte coletiva ou social; não apenas a linguagem, os
artefatos e as instituições que pensam dentro de nós, mas também os desejos, afetividades e
valores numa paisagem comum do sentido ou do saber. As significações são partilhadas e a
memória coletiva é dinâmica, emergente e cooperativa, isto aplicado em termos de redes de
comunicação digitais.

TIC`s
As novas TIC, e a internet, têm provocado mudanças significativas em todas as dimensões da
vida, quais sejam, econômica, social, política, cultural, psicológica etc. A internet tem se
constituído em um ponto de inflexão na trajetória humana pelo potencial revolucionário que
encerra. Ainda que os interesses participantes na rede possam ter um conteúdo público e
coletivo, parece predominar a busca do interesse do indivíduo. As maiores promessas da
internet e que vêm sendo cumpridas residem na exponencial capacidade de comunicação,
disponibilização e circulação de informação nunca dantes experimentada na experiência
humana. A internet (e as TIC em geral) vem embebida de um potencial criativo, libertário e
emancipatório, mas, possivelmente, mais fortemente no plano individual. A internet tem o
potencial de quebrar estruturas de poder convencionais ao democratizar o acesso à informação.
Permite também uma desinstitucionalização ao possibilitar aos cidadãos se manifestarem
livremente e enquanto indivíduos ou grupos independentes da força e dos parâmetros do
capital.

Outro aspecto recorrentemente apontado seria a ausência de intermediário, o que permite aos
emissores falarem com um público amplo, em vários ramos da atividade humana, sem
intermediários, sem instituições. Ainda que essas mudanças, muito significativas, não estejam
ligadas à atividade política convencional, haveria a possibilidade de, como em um incêndio, as
chamas se propagarem pela atividade política explícita. A internet possibilitaria a emergência de
cidadãos ativos. Também se localiza o surgimento de uma postura colaborativa, cooperativa, na
produção na internet.

Existe uma tendência forte de se referir ao que está acontecendo na internet como uma
revolução. Se esta existe, é mais no sentido de o capitalismo revolucionar os meios de produção
e, assim, a tecnologia, a internet nela presente, estaria a favor do capital, e o movimento deste
colonizar a internet seria deflagrado tão logo fosse oportuno. Assim, a discussão da questão
digital passa necessariamente pelo contexto dos interesses do capital e das classes.

A internet comporta ainda um paradoxo, uma contradição. Por um lado, parece ser um território
de liberdade e igualdade; por outro, aponta um risco de aprofundamento do individualismo
convivendo com uma agregação de interesses de grupos, o que geraria guetos de interesses e
não um ambiente de ampla democratização. Como algo típico de uma sociedade de classes,
parece que temos e teremos um pouco de cada coisa. Quanto a resultados políticos
propriamente ditos, estes são pífios, desanimadores, mesmo no contexto de países mais
desenvolvidos. Na especificidade da situação brasileira, pelas nossas condições históricas e
pela presença de vastos grupos de analfabetos funcionais com problemas sérios de cognição.

Assim, o problema (e a salvação) não é da internet, deve ficar claro para não anular suas
conquistas e avanços, e sim da especificidade da situação sociopolítica brasileira, reforçada
ainda pela posição assumida pela política na sociedade global contemporânea, marcada pelo
fim das grandes narrativas, das utopias. Cabe observar que a ideia da ocorrência de uma
revolução, ou ao menos uma mudança, com a democratização do acesso à informação que a
internet efetivamente possibilita depende fundamentalmente do nível de cognição e formação
educacional dos cidadãos, o que pede uma decisão política nesse sentido. Não há, assim,
nenhum automatismo possibilitado pela tecnologia.

Trabalhando com a ideia de uma metáfora, vale a pena uma comparação com a experiência do
Speakers' Corner de Londres. Antes restrito a poucos lugares, poucos manifestantes, poucos
ouvintes, e falando sob uma relativa vigilância, agora a internet seria o Speakers' Corner
ampliado, muitos lugares (portais, sites, blogs, twitters, e-mails), muitos manifestantes, muitos
ouvintes, e falando, até agora, com muito mais liberdade. E funcionando 24 horas por dia, todos
os dias, tanto para a emissão como a recepção de conteúdos. Baseado em inserções rápidas,
fugazes, tópicas, que podem se desmanchar rapidamente. Essa seria a forma moderna de fazer
política após o esgotamento das grandes narrativas, que implicam grandes lutas, mobilizando
grandes contingentes por longos períodos de tempo. Com a internet, a quebra das grandes
narrativas, o surgimento de demandas e lutas por questões mais específicas (feminismo,
ambientalismo etc.), as inserções são mais variadas e rápidas, durando enquanto se mantém o
interesse dos participantes. A internet tem um papel fundamental em viabilizar esse
direcionamento.

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